O Escorpião Escarlate

Capítulo Anterior – No capítulo anterior, Kamus pega o depoimento de Jabu e Seiya e ele e Shaka fazem algumas deduções. Milo consegue seduzir o investigador e o leva para cama, porém em um momento de dúvida, o abandona antes que o ato se consume. O francês sente-se muito mal por ter sido abandonado.

...Dor... Dor... DOR.

Uma lágrima correu solitária por seu rosto. Kamus se sentia um objeto. Usado e descartado. Sujo e desprezível. Desprezível e enganado.

Enganado... e sozinho.

A dor por ter sido usado pelo ladrão doeu mais que o abandono de Shura. Levantou-se, pegou seu distintivo, sua arma reserva no criado mudo, vestiu rapidamente uma calça, uma camiseta e voou escada abaixo

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O Escorpião Escarlate – Capítulo XI – O terceiro crime

O Escorpiniano saiu do elevador com raiva. "BURRO, BURRO, BURRO !" pensava de si mesmo.

Era ÓBVIO que Kamus não estava apaixonado. O preso tinha ouvido parte da história sobre o que aconteceu na festa, cochichada durante o dia pela equipe do Aquariano. Tudo indicava que Aioros fizera um escândalo e por isso o investigador se afastara de Shura.

"Você é BURRO Milo. Não vê que ele não está apaixonado coisa nenhuma ? Agora que o espanhol não está mais tão próximo, o seu "querido" francesinho só quer mesmo "aliviar" com você. E você achando que ia agradecer pelo sexo... Humpf ! Provavelmente era ELE quem ia fazer isso. O Kamus NÃO gosta de você, Milo. ACORDA. É só desejo. Ele só quer com você o que não conseguiu ter com o "Senhor Perfeitinho". É só isso. É APENAS sexo. A única pessoa apaixonada nesta história, SEU ESTÚPIDO, é você mesmo." – sua mente recriminou-o e o ladrão sentiu o coração pesar. Os olhos marejarem um pouco, mas não... Não ia chorar. Não ia chorar por ter sido usado pelo policial.

O criminoso chegou correndo até a portaria e pediu para o segurança abrir o portão.

- Por favor, estou com pressa, esqueci uma coisa muito importante e preciso fazer AGORA.

O rapaz abriu o portão e o grego ganhou a rua, correndo para a direita.

-o-

Enquanto descia os onze andares, correndo pela escada de emergência, os pensamentos do francês se atropelavam e as lágrimas surgiam sem que conseguisse controlá-las. Seu coração doía imensamente. Sentia-se vazio, pequeno, inferiorizado e descartável.

A sensação de perda destroçava seu interior. Não perdera apenas o profissionalismo, a noção e a razão. Perdera também a si próprio. Tal como no dia em que foi abandonado pelo ex-. Inevitável trazer as lembranças à sua mente.

-oooo-

O Aquariano abriu a porta de casa e viu duas malas no corredor.

- Shura ? – chamou o namorado.

O francês adentrou o quarto e viu o Capricorniano segurando um porta-retratos na mão. Era de uma foto que tiraram em um dia que foram velejar. Kamus sorria na foto.

- Você vai mesmo viajar ? – perguntou desapontado.

- Você não ouviu uma palavra do que eu disse ontem, não é ? – o espanhol perguntou tristemente enquanto colocava o porta-retrato no lugar.

- Claro que ouvi, mas eu já te disse que isso não vale a pena.

- Ok, então me dê um bom motivo para ficar. – replicou melancólico.

- Nós dois. Nosso amor.

O Capricorniano suspirou.

- Kamus, nós vivemos de restos de sentimentos. Migalhas de amor. Eu sei que você gosta da minha companhia, mas amar ? Você só ama o seu trabalho.

- Shura, isso não é verdade.

- A única coisa que te importa é ser Superintendente. Há uma semana e meia eu te disse que eu estava pensando em aceitar uma vaga na representação da IPF na Inglaterra e em nenhum momento você sentou comigo para discutirmos se isso seria bom ou ruim para a minha carreira. Eu esperei você vir falar comigo, mas você simplesmente ignorou o assunto, assim como você faz com todos os problemas que tem. Seu grande mal é achar que pode resolver os problemas se não der importância a eles. Você pode até conseguir viver assim, mas eu não.

- Shura, eu comentei que isso não valia a pena.

- É. Comentou. Foi a ÚNICA frase que você disse sobre o assunto, antes de entrar no banho e me deixar falando sozinho. – deu uma pequena pausa – Eu já cansei de mendigar atenção, Kamus.

- Shura, você sabe que estou no meio de um caso importante. Estou para desbaratar uma grande quadrilha de traficantes, mas quando isso acabar...

- Kamus, já estamos juntos há oito meses e não agüento mais esperar você mudar. Não quero ser seu namorado entre um caso importante e outro. Não quero ser seu namorado só no sábado à noite ou apenas da boca para fora. Talvez você não sinta falta de carinho e atenção, mas eu sinto. – deu uma pequena pausa - Esta semana o Aioros está aqui e a gente se encontrou. Eu conversei bastante com ele. – deu uma pausa - Não me entenda mal. Você sabe que eu nunca te trairia se a situação fosse diferente e...

- Você me traiu ? – perguntou surpreso.

- Eu estou indo para a Inglaterra. Aceitei trabalhar na representação da IPF em Londres e vou morar com o Aioros.

- COM O AIOROS ? – perguntou ainda descrente do que tinha ouvido e para tentar colocar os pensamentos em ordem - Shura, eu duvido que você consiga morar na casa dele. – tentou dissuadi-lo a ir - Você sabe como o Aioros é desorganizado e...

- Kamus, você não entendeu. – disse cortando o outro - Eu vou morar COM o Aioros. – deu uma pausa - Como namorado. – disse enfim.

- NAMORADO ? – perguntou incrédulo depois de algum tempo.

- Desculpa Kamye. – pediu com sinceridade - Eu caí em tentação e o beijei. – o francês estava embasbacado – Eu sei que errei. Apesar da nossa relação estar desmoronando, eu não podia fazer isso com você.

- Eu não acredito. – disse em estado letárgico – Nossa relação NÃO está desmoronando – o Aquariano replicou irritado.

O espanhol suspirou e foi para a sala. Deixou a chave-cartão sobre a mesa e pegou suas duas malas.

- Adeus Kamus. Obrigado por tudo. Obrigado mesmo. De coração eu te desejo muita felicidade. Talvez você não goste o suficiente de mim para me dar a atenção que eu gostaria, mas espero que um dia você perceba o quanto me machucou, para que não faça isso com outra pessoa. E se é ser Superintendente o que você quer, tomara que você alcance. Só espero que você não se torne mais seco do que você já é. – replicou com pesar - Desculpa se estou te ofendendo, - pediu choroso - mas meu coração está doendo muito. Já cansei de fazer como você e fingir que está tudo bem e que nossa relação não tem problema algum. – deu uma pequena pausa – Ao menos agora não preciso mais fingir.

- Shura, por favor não diga isso. Você está enganado. Fique. Por favor.

- Ah Kamus ! Você não sabe o quanto eu esperei, o quanto eu DESEJEI que você falasse comigo e me pedisse para ficar. Eu faria isso na hora. Eu desistiria de tudo por você... - deu uma pausa – mas você não fez. – disse tristemente – Sinto muito. O tempo acabou. Não consigo apenas pegar os pedaços do coração, que você partiu, e juntar como se nada tivesse acontecido. – deu outra pausa - Talvez seja melhor assim. Eu também não sei se vai dar certo com o Aioros, mas para nós dois, – seus olhos estavam marejados - não dá mais.

- Mas Shura, você disse que me amava.

- Eu te amei Kamus. Amei imensamente, intensamente, completamente. – deu uma pausa e secou uma lágrima que insistiu em cair – Mas eu não tenho amor para nós dois. Desculpa. – pediu baixinho - Adeus.

O Aquariano ficou sozinho na sala olhando para a porta fechada. Foi apenas naquele momento que viu o quanto gostava do espanhol. Foi atrás dele, mas Shura estava irredutível. O francês tinha sido um péssimo namorado.

Kamus voltou para casa desolado. Não sabia o que fazer. Sentia-se perdido como se fosse uma criança largada em um lugar desconhecido.

No dia seguinte, em seu interior, o francês estava totalmente destruído, mas no trabalho ninguém percebeu o que houve. Infelizmente Shura tinha razão. Seu mundo era completamente falso. Vivia de aparências, fingindo que nada o afetava.

O Aquariano era mesmo apaixonado pelo que fazia e felizmente tinha seu trabalho, pois foi o que o manteve vivo depois que o namorado o deixou.

-oooo-

O policial secou as lágrimas e apertou o passo. Precisava alcançar o Escorpiniano.

-o-

O ladrão chegou na esquina, correndo feito louco, mas virou novamente à direita. O trânsito para atravessar era muito intenso e não dava para esperar.

-o-

Kamus chegou na portaria, mostrou o distintivo e apontou a arma para o segurança.

- Para onde ele foi ? – perguntou com ódio nos olhos.

O segurança apenas conseguiu apontar a direção. O policial pegou a direita e começou a correr.

-o-

Milo continuou em frente, atravessou a rua correndo e tomou uma buzinada. Correu mais um pouco e depois parou para respirar. Recomeçou a correr mais devagar. A imagem Afrodite veio atormentá-lo em seus pensamentos. "Estou te deixando livre, me deixe livre também".

Parou completamente. Um vazio tomou conta do seu ser. De nada adiantava correr. Era óbvio que o Pisciano não o queria. O sueco apenas o quis para tentar esquecer o italiano. E não adiantava matar o Máscara da Morte. O Peixinho poderia sentir gratidão pelo Escorpiniano, mas amor ?

-o-

Kamus tinha acabado de virar a esquina. O transito era muito intenso naquela rua, seria difícil para o ladrão atravessar, ou teria esperado, ou teria virado à direita, como o investigador arriscava.

-o-

Novamente o grego teve vontade de chorar. Seu coração estava em pedaços. Apaixonou-se por Afrodite, mas ele o usou para esquecer o ex-. Milo só servia para substituir Carlo di Angelis. Apaixonou-se pelo policial, mas ele também o usou para esquecer o ex-. Milo só servia para substituir Shura.

- Esqueça estes dois, Milo. Para eles você é reserva, não passa de um substituto.

O ladrão pensou em suas possibilidades. Tinha guardado o Van Gogh em um lugar seguro. Se vendesse o quadro conseguiria dinheiro e voltaria à Grécia. Pensou no francês e no biquinho sensual que fez, esperando ser beijado. Cerrou os olhos. Agora que o abandonara, estava vingado. Voltou a correr.

-o-

O policial viu alguém correndo cerca de um quarteirão à frente. Estava de noite e a iluminação não era boa. "Deve ser ele" - pensou enquanto aumentava o ritmo.

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Em seu interior, Milo ainda se perguntava sobre sua situação. "Será ? Será mesmo que só sirvo para isso ? Para ser sempre a segunda opção ?" – sentiu seu coração desmontar com esta revelação. Suspirou e fechou os olhos.

"Me beija, Mon Ange" – ouviu a voz do francês em seu ouvido e o coração doeu na hora. Ao menos, diferente do Pisciano, Kamus parecia tentar fazer dele a primeira opção. Desde o começo tinha visto os olhares do policial para si. E daí que não era paixão ? Ao menos era desejo. Já era um começo. Mas... e no dia do golfe ? O investigador não tinha dito que seria ótimo que pudessem escolher se apaixonar um pelo outro ? E se o francês estivesse realmente apaixonado ?

Se estivesse, o ladrão tinha acabado de abandoná-lo.

De repente o Escorpiniano sentiu-se perdido. "Milo, o que você está fazendo ?" – perguntou-se e parou novamente.

O arrependimento bateu. Matar o Carlo ? Sabia que não adiantava. Isso não faria Afrodite amar o grego e mesmo se fizesse, o presidiário sabia que não conseguiria. Nunca assaltou a mão armada. COMO conseguiria assassinar alguém ? Nem para fugir conseguiu matar o francesinho.

Francesinho. "Meu francesinho" – pensou. Ao menos ele o desejava. Precisava voltar. Voltar para os braços do francês. Voltar para os braços que realmente o queriam. Isso significava perder sua liberdade, mas que liberdade teria se fosse um fugitivo ? Roubara mesmo e tinha uma dívida com a sociedade. Deveria voltar para a Clairvaux e cumprir sua pena. E depois, se saísse de lá e o policial não o quisesse, aí sim venderia o quadro e voltaria para a Grécia.

Sim. Precisava voltar. Se Kamus estivesse mesmo apaixonado, o abandono teria sido um baque tremendo. Precisava voltar. AGORA. E não podia. Não podia machucar o SEU francesinho daquela forma.

O Escorpiniano ia virar-se para voltar quando ouviu uma ordem.

- POLÍCIA ! PARE SENÃO EU ATIRO !

O grego recomeçou a correr desesperadamente. Virou à direita. O francês estava em seu encalço.

- PARE, EU REPITO, OU VOU ATIRAR.

O criminoso nem olhou para trás. Ouviu o barulho de um tiro e correu mais ainda. As pessoas na calçada gritavam e corriam. Milo passou por entre elas e virou novamente à direita. Kamus tinha atirado para o alto, mas não gastaria a próxima bala desta maneira.

O ladrão parou. Estava em uma rua particular. Não tinha saída. Havia algumas lojas, mas todas fechadas. O Aquariano chegou e o preso tentou correr.

- PARE, POLÍCIA. - o francês gritou ao mesmo tempo em que disparava.

O projétil cortou o céu, seguindo em direção ao criminoso. O grego caiu no chão e permaneceu lá, imóvel.

Kamus se aproximou com ódio, desejando gastar todas as balas que restavam na alma daquele verme.

-oOo-

Distante dali...

A lágrima que corria por seu rosto não era de dor ou tristeza. A lágrima que corria era de ódio.

Agora estava feito. Não tinha como voltar atrás. Planejaram os crimes durante dias, e tudo tinha dado certo. Faltava muito pouco para conseguir o que queria. Primeiro sentiria dor, mas em breve sua vingança estaria iniciada.

Ainda bem que tinha ajuda. Uma pessoa sozinha não conseguiria fazer tudo aquilo. Sorriu. Pelo jeito a policia não tinha desconfianças de si. Sua interpretação tinha sido muito boa. Quanto a seu companheiro ? Teria que cuidar para que ele não fosse preso. Revelar toda a verdade seria péssimo. Aliás, muito pior para si que para o outro.

Suspirou. Apesar de tudo o que fez, não conseguia sentir alegria. O peito doeu. Uma profunda tristeza invadiu o seu ser.

-oOo-

Nas ruas francesas, próximo à casa do policial...

Os cachorros da rua latiam e as pessoas saíam às janelas para ver o que se passava.

- Levante-se e coloque as mãos na parede. – o Aquariano disse secamente enquanto se aproximava.

O investigador sabia que o outro não estava ferido. Tinha mirado acima da linha da cabeça do Escorpiniano. A bala tinha entrado na parede.

- Kamus, eu... – disse se voltando para o policial depois de se levantar.

- CALADO ! MÃO NA PAREDE ! – e o empurrou com força, machucando-o um pouco.

O outro obedeceu. O francês o algemou.

- Ai, Kamus, meu braço está doendo.

- Escute aqui. – virou-o de frente, pegou-o pelo braço e jogou-o na parede, pressionando a arma sobre seu corpo – Não vou ler os seus direitos, pois você já está preso... – o pior é que não dava para levá-lo para nenhuma delegacia, sem admitir que errara em deixar o outro seduzí-lo e fugir – ...mas vou falar apenas UMA VEZ então preste BASTANTE atenção. – disse colocando a arma na cabeça do presidiário – Se eu ouvir UMA letra saindo dessa sua boca imunda, eu vou esquecer esta pxxxx de direitos humanos e vou estourar os seus miolos. – e pressionou o revólver na cabeça do outro, machucando um pouco – Será que fui claro ? – disse com ódio.

O outro apenas assentiu positivamente.

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O policial não se preocupou em esconder o ladrão dos vizinhos. Felizmente não encontrou nenhum deles e o segurança estava tão assustado que não falou nada. Melhor assim. Kamus estava completamente fora de si.

O francês entrou em casa e arrastou o grego até uma das suítes. Jogou-o no chão e depois puxou sua mão para cima, soltando uma das algemas, passando em volta da barra da banheira e voltando a algemá-lo. O outro sentiu um pouco de dor por acompanhar os movimentos bruscos, mas não reclamou.

O Aquariano saiu da suíte. Pouco se importava se o outro ficaria desconfortável para dormir ou ir ao banheiro. Chegou em seu quarto e arrancou o lençol da cama, jogando no chão. Não queria deitar naquele tecido manchado pelo outro. Tirou toda a roupa e tomou um banho, esfregando bem o corpo. Tremia. Seu sangue parecia ferver. Saiu e trocou-se. Abriu o criado mudo para guardar a arma e pensou melhor. Poderia alegar legítima defesa. Era um policial. Todos acreditariam nele. Destravou a arma e foi até a outra suíte.

Quando a porta foi aberta com violência e Milo viu a arma apontada para si, esperou o pior. Na verdade era o que merecia: morrer.

- Posso dizer uma última coisa ?

- Vá em frente. – o francês disse entre os dentes enquanto segurava a arma já destravada e tinha os olhos marejados de ódio.

- Quando eu falei que queria você, eu queria mesmo. Eu menti para fugir, mas te desejei de verdade. Eu sei que você não vai acreditar, mas eu me arrependi de ter fugido e tentei voltar. Voltar para você. - baixou o olhar por um instante - Espero que um dia você me dê o seu perdão. Desculpa. – pediu com sinceridade e baixou a cabeça, aguardando o tiro derradeiro.

Os olhos do investigador que já estavam marejados, verteram as lágrimas. Kamus mirou e segurou o gatilho, mas parou. A dor destruía seu peito, mas não podia fazer isso. Não pelo grego, mas por sua carreira. Saiu daquela suíte e foi para o seu quarto. As lágrimas já desciam em abundância.

Fechou a porta, encostou-se nela e chorou. Talvez o que estivesse passando fosse para pagar o que fez o espanhol sofrer. Chorou mais ainda. Kamus gostava do Capricorniano. Sempre gostou. Apenas não conseguiu demonstrar o quanto amava o outro. Sempre se manteve afastado, achando que assim conseguiria ficar bem quando Shura o abandonasse. Sim. Por mais incrível que parecesse, o Aquariano achava que não merecia estar com o espanhol e que sua amargura e frieza não combinavam com a vida ativa do outro. O grande erro do francês foi se preocupar demais em se fortalecer para a despedida e esquecer de aproveitar a felicidade cotidiana. Acabou mesmo por empurrar o Capricorniano nos braços do Aioros.

Agora se sentia pior que naquela época. Além de vazio, burro e incapaz, ainda se sentia imundo e desprezível. Acusava a si próprio por ter mendigado amor. O mesmo amor que rejeitou ao espanhol. Realmente era um castigo bem merecido para quem não tinha controle sobre as emoções.

Escorregou pela porta e deitou-se no chão. Tremia e chorava. Pensou no ex- e chorou mais ainda. Tinha sido ingênuo. Com Shura não estava preparado para amar. Os anos passados com os tios fizeram-no esquecer o significado desta palavra. O francês tornou-se frio e seco. Esperava sempre pelo pior sem aproveitar o que a vida lhe oferecia de bom.

E agora que se preparara melhor para aproveitar a vida, escolhera a pessoa errada. Apaixonara-se por alguém proibido e que ainda queria apenas usá-lo.

O francês permaneceu no chão, todo encolhido. Sentia-se envergonhado. Sentia-se sujo e o pior: sentia-se sozinho.

-o-

Na manhã seguinte, Kamus era o reflexo da dor. Olheiras profundas, rosto inchado, olhar vazio e coração em pedaços.

Entrou na suíte. Milo dormia todo torto. Puxou o braço do preso e soltou-o das algemas.

- Dois minutos para usar o banheiro. – disse com frieza.

- Você está bem ? Você chorou ? – o ladrão perguntou em tom de preocupação.

- Dois minutos. – respondeu secamente e saiu da suíte, esperando o outro com a arma em punho.

Sim. Tinha chorado a noite toda. Sentia-se desprezado como na época em que vivia com os tios, mas pior que nesta época, sentia-se mais humilhado e mais diminuído. Sentia-se um lixo, um homem-objeto usado apenas para um fim: uma fuga. Seu coração doía tanto que seu peito parecia que partiria em dois. Queria morrer. Seus olhos ardiam. Queria chorar, mas não podia. A dor lhe consumia a alma.

- Acabou o seu tempo. Saia. – replicou sem emoção alguma.

- Já acabei. – o ladrão respondeu um pouco abatido.

O grego estava se sentindo péssimo. Sabia que o policial estava naquele estado por sua culpa e sentia-se arrasado. Afrodite parecia estar a anos-luz de distância e tudo o que parecia importar era o perdão do Aquariano.

"Como fui cego. O Dido nunca me amou, fingia que me amava. Imagino a dor que sentiu quando eu fui preso, tentando adivinhar se o Carlo o aceitaria de volta ou não. AHHH ! Como você foi ESTÚPIDO, Milo ! O Kamus parou na sua desde o primeiro dia. Ele não te odiava. Ele FINGIA que te odiava. PARA QUÊ você tinha que querer se vingar dele ? Você não vê a dor que ele está sentindo por ter sido usado ? SEU IDIOTA ! Era tão ÓBVIO. Era tão óbvio que ele ESTAVA apaixonado. Ele não te chamaria de Mon Ange se não estivesse, sua BESTA !" – atacou a si próprio – "Parabéns Milo. Ao menos agora você tem certeza do sentimento que ele tem por você." – refletiu com ar de deboche – "Ódio." - pensou amargurado.

- Vista-se. – o francês replicou – Você vai voltar AGORA para a Clairvaux.

Olhou para o Aquariano. Devia ter chorado a noite toda. Aquilo fez o preso se sentir um lixo. Não queria ter feito o outro sofrer. Não queria, mas se tornou seu pior algoz. Vestiu-se sem pronunciar um único ruído. A nova informação também não o surpreendeu. Voltar para a Clairvaux. Era mesmo o que merecia.

O telefone do policial tocou.

- Kamus falando.

Ouviu em silêncio.

- Ok. Estou indo para a IPF agora. – disse mais abatido ainda.

Foram até a cozinha. Milo entrou na frente e Kamus atrás, com a arma em punho.

- Você tem três minutos.

O grego comeu duas torradas em silêncio e tomou um copo de capuccino. O investigador não colocou nada na boca. Estava sem fome.

-oOo-

IPF. Manhã de quarta-feira.

Shaka e Mu já tinham chegado.

- Aconteceu alguma coisa, Kamye ?

- Vamos adiantar bem o caso. Estamos nos últimos dias do Milo. Vamos aproveitar o que for necessário. – respondeu sem olhar nos olhos do indiano.

O loiro olhou para o grego. O Escorpiniano desviou o olhar. Shaka percebeu que tinha algo no ar.

- Como aconteceu ? – o francês perguntou.

- A senhorita Saori, neta do milionário Senhor Kido, estava experimentando o vestido que usará em seu aniversário de dezoito anos, e foi buscar o colar da família, que o avô lhe deu para usar no dia do noivado.

- Espera. A festa é de aniversário ou noivado ?

- Dos dois. Ela ficará noiva daqui a duas semanas. No dia primeiro de setembro, no exato dia em que completará dezoito anos.

- Ok. Prossiga.

- A garota foi buscar o colar no cofre do seu quarto. Depois desceu e colocou-o para ver o efeito de todo o conjunto. Após a costureira ter feito os ajustes no vestido, a jovem pediu para a empregada levar o colar de volta. Segundo a empregada, que trabalha com a família há mais de vinte anos, ela guardou a jóia na primeira gaveta, a gaveta de lingeries da menina, pois preferia que a própria jovem guardasse no cofre. A senhora desceu e avisou à menina onde estava a peça. A garota subiu para o quarto e abriu a gaveta. Viu a caixa e ia guardá-la no cofre, mas abriu-a mais uma vez para apreciar a peça. Os criados ouviram os gritos da menina e quando chegaram no quarto ela estava afastada, ainda em choque, a caixa da jóia aberta no chão e um escorpião de metal vermelho próximo a ela. Nenhum sinal do colar.

- Humm... o ladrão arriscou bastante.

- A menina ficou transtornada. Fez um escândalo e disse que NINGUÉM sairia da casa até a polícia chegar e fazer uma revista minuciosa. Disse que TODOS eram suspeitos. Acusou a costureira e a polícia também foi atrás da mulher. Nada foi encontrado com a costureira. Ainda segundo o relato de um policial, a jovem tremia muito e eles tentaram levá-la a um hospital, mas ela parecia estar enlouquecida. Gritou com todo mundo. Disse que se o colar não aparecesse ela demitiria todo mundo e colocaria a todos atrás das grades. O policial que tomou seu depoimento disse que a garota estava fora de si.

- Ok Shaka. Quero que você vá até lá e converse com a menina. Procure saber tudo o que aconteceu. – disse e dirigiu-se para sua sala.

- O que houve Kamus, você está bem ?

- Um pouco de dor de cabeça, só isso. – replicou fechando a porta.

-o-

A cabeça do Aquariano parecia que explodiria. Não conseguia pensar em uma palavra do que o indiano lhe tinha dito. Não estava em condições de trabalhar. Até poderia chamar o Virginiano e dizer-lhe que levaria o grego de volta para a Clairvaux, mas o que diria ao outro ? Como explicaria o que aconteceu ao subordinado ? Suspirou e ligou o computador, tentando se concentrar no trabalho.

Kamus permaneceu em sua sala até a hora do almoço, quando ligou para o Ariano e pediu que ele fosse comprar a comida do grego e acompanhá-lo no refeitório. O francês não aceitou o sanduíche que Mu lhe trouxe. Preferiu não comer nada.

Já era duas da tarde quando o Aquariano decidiu ir embora. Estava um lixo. Não tinha rendido nada e se sentia péssimo.

- Mu, você pode vir até aqui ? – chamou o tibetano pelo telefone.

Entrou na sala do investigador.

- Não estou me sentindo muito bem. Você pode deixar o Escorpião na delegacia e buscá-lo amanhã cedo ?

- Claro, Kamus.

- Obrigado. Do jeito que estou, acho que o melhor é mesmo ir para casa.

- Tem alguma que eu possa fazer ?

- Não Mu. É só uma enxaqueca. Obrigado. - deu um leve sorriso e voltou a ficar abatido – Apenas gostaria que não ligassem para a minha casa. Pretendo descansar um pouco para melhorar.

- Pode deixar.

-o-

- Até amanhã. – disse a todos saindo de sua sala.

- Já vai ? – o Leonino perguntou.

- Desculpa Aioria. Feliz aniversário. – o cumprimentou – Não estou me sentido bem e vou para casa. Não vou conseguir comemorar hoje com vocês, mas fico na dívida de um happy hour. Desculpa. – pediu sinceramente.

- Tudo bem, Kamye. Sua saúde em primeiro lugar.

O Escorpiniano ficou alerta.

- Você está bem ? – Milo perguntou.

O policial ignorou o outro e apenas foi embora. O preso percebeu que o Aquariano ainda estava muito abalado por causa da noite anterior.

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Kamus estava dirigindo quando a dor ficou mais intensa. Parou o carro.

Não estava se sentindo bem. Respirou fundo. Sentiu muita dor de cabeça, seu peito doía, sua garganta parecia fechar e suas mãos tremiam. Ligou o ar condicionado. Sentiu tontura e parou o carro novamente. Pensou em pegar um táxi, mas desistiu da idéia e passou a dirigir devagar. Demorou mais que o dobro do tempo para chegar em casa.

O investigador pediu ao segurança do prédio que não o incomodasse. Não receberia ninguém naquele dia.

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Assim que entrou em casa, despiu-se, tomou um banho, um remédio e se deitou. Sentia-se quente. Pegou o termômetro. 37,5. Estava levemente febril. Pegou o telefone. Pensou em ligar para Shura, mas desistiu. Não eram mais namorados e o outro estava acompanhando. Também tinha dito que não queria falar com ele nunca mais. Não podia mais recorrer a ele. Tinha que ficar sozinho.

Sozinho.

Abraçou o travesseiro e chorou. Chorou muito. Sentia dor. Muita dor em seu coração. Parecia que alguém o tinha arrancado de dentro de si e pisoteado, esmagando-o completamente.

O telefone ainda tocou, mas o francês não se importou. Seu peito parecia que ia abrir, tamanha era a dor. Encolheu-se na cama e chorou mais ainda. Molhou todo o travesseiro e era sacudido pelos soluços. Ficou assim, derramando lágrimas por um bom tempo, até que vencido pelo cansaço e ação do remédio, adormeceu.

-oOo-

IPF. Quinta-feira.

Quando Mu chegou com o grego e Shaka, o Aquariano já estava na sala.

- Bom dia. – disse com seu costumeiro ar impessoal.

Sua aparência ainda não era fantástica, mas estava infinitamente melhor.

- Bom dia Kamus, você está melhor ? – o indiano perguntou.

- Estou Shaka. – deu uma pequena pausa - Ouvi o depoimento que você coletou e estou traçando algumas possibilidades. Querem conversar ? – perguntou percebendo que Marin e o Aioria acabavam de entrar na sala.

Sentaram-se na mesa de reunião.

- Bem Kamus. O relato da menina foi muito semelhante ao que descrevi ontem. A empregada deixou o colar na gaveta e a Saori abriu a caixa e viu o escorpião. Foi feita uma revista na casa, nos criados e no quarto dos criados, mas nada foi encontrado. Na caixa só tem as digitais da jovem e da empregada. No escorpião não há nenhuma digital. A garota está desesperada pois como o avô não pode estar fisicamente no noivado, ele pediu que fosse sempre representado pela jóia.

- Ele vai estar viajando ? – o ladrão perguntou.

- Não. – Shaka respondeu – Na verdade o avô foi congelado há cerca de cinco anos. Ele está em estado criogênico.

- Como é ? – o Escorpiniano perguntou sem entender.

- Ele sobre de um mal do coração. – o loiro explicou - Pagou para ser congelado e despertado no aniversário de quarenta e cinco anos da neta. Até lá ele espera que a ciência já tenha descoberto uma cura para o seu problema.

- E um dia depois do avô despertar ele finalmente assinará a independência financeira da garota. – o Leonino completou.

- Você está brincando ? – o preso perguntou sorrindo.

- Não. – Mu respondeu – Isso causou um frisson no mundo todo quando aconteceu. Não só pela técnica de congelamento da época e pelo preço pago pelo congelamento, mas principalmente pela cláusula da "independência financeira.".

- Coitada da menina. – o criminoso comentou.

- Bem, retomando a conversa, – Shaka falou – a menina está enlouquecida e atormentando o seguro, pois QUER estar com o colar original ou com um novo, EXATAMENTE IGUAL, no dia do noivado. Apesar da garota ser adotada, ela vem de uma cultura japonesa e os japoneses são muito ligados aos antepassados. Como a jóia representará o avô, é natural que ache uma tremenda desfeita esperar o aparecimento do colar.

- Essa menina é boazinha demais. – o grego replicou em discordância com a atitude da jovem – O avô é sacana para caramba e ela fica doida para arrumar uma jóia SÓ para "fazer as vezes" de avô ? Humpf. Se ele fosse meu avô eu mandaria ele para aquele lugar.

- Realmente tudo parece muito absurdo, mas esse pessoal que tem mais grana tem mesmo um jeito estranho de viver. – Aioria comentou - A garota acredita piamente que se a jóia não estiver lá, é como se o avô não abençoasse o seu noivado.

- Então ela está fazendo isso por uma superstição boba ?

- Milo, não é superstição. É a cultura da menina. Temos que respeitar. – Marin deu uma pausa - Sem contar que qualquer comentário negativo da imprensa sobre o comportamento da jovem para com sua própria família, ainda que representada por um colar, também afetará diretamente o noivo.

- Quem é o noivo ? – o francês perguntou.

- Julian Solo.

- Humm... o herdeiro da família Solo. É. Parece que será uma bela união de posses.

- Com certeza.

- Bem, e em quanto o colar estava avaliado ?

- Avaliado e segurado em cento e vinte e nove mil euros.

Milo assobiou.

- Aliás, - o loiro continuou - isso me faz lembrar que o senhor Jack Remine, do seguro, ligou. Ele quer saber no que pode ajudar.

- Óbvio. Ele não quer perder cento e vinte e nove mil. – Mu observou.

- E então ? – Kamus perguntou – Vocês conversaram ontem ? Têm alguma pista ?

- Pelo jeito o ladrão está mesmo seguindo os meus passos. – o Escorpiniano respondeu – É uma jóia japonesa.

O francês praticamente ignorou o que o outro disse e chamou sua equipe na sala, deixando Marin vigiando o preso. Reunidos, fizeram algumas hipóteses e conjecturas, mas o Aquariano não apoiou nenhuma delas.

- Ok. Aioria. Muito boa sua iniciativa de chamar os suspeitos novamente. Vou conversar agora à tarde com os nossos três amigos e saber o que estavam fazendo no momento do crime.

- Certo Kamus.

- Precisaremos pensar. Pensar muito bem. – o Aquariano replicou, levantou-se e foi ao banheiro.

-o-

Kamus lavou o rosto. Estava se segurando para não chorar. Não estava sequer olhando nos olhos do Escorpiniano. Na verdade, a vontade que tinha era de devolver o outro imediatamente para a Clairvaux, mas sabia que para isso teria que justificar a antecedência do retorno do grego. Não. O melhor era mesmo suportar o problema e levar o Escorpiniano só no dia seguinte, como se nada tivesse acontecido.

Lembrou-se das palavras do ex- "Seu grande mal é achar que pode resolver os problemas se não der importância a eles. Você pode até conseguir viver assim, mas eu não." A realidade era dura, mas infelizmente tinha mesmo que fazer aquilo. Essa atitude evitaria algumas perguntas desagradáveis.

De repente se lembrou de Afrodite.

Chegando na sala chamou o indiano discretamente.

- Shaka, onde a raposa estava ontem ?

- Em casa. O namorado saiu para comprar dois cachorros quentes e alugar alguns DVD's.

- Que bom. – disse com um meio sorriso – Enfim um suspeito a menos.

-o-

Saori ligou para IPF mais duas vezes, apenas para pressionar. A primeira vez ligou chorando. Era evidente o desespero da menina, à beira de ficar noiva e roubarem o colar da família que representaria o avô. A segunda vez foi no início da tarde. A garota deixou um número de celular. Estava embarcando para o Japão. Ia se encontrar com o neto do joalheiro que lhe fez a peça da família. Conforme acordo com o seguro, o colar deveria ser encontrado em quarenta e oito horas ou o sinistro seria efetivado e o segurado, no caso a menina, receberia o prêmio em dinheiro. Pelo jeito a garota não perdia tempo. Foi atrás de alguém para confeccionar novamente a jóia. Disse que não poderia chegar na festa sem "seu avô" e que isso seria um grande desrespeito à família. O que chamou a atenção foi sua companhia. Estava indo para o Japão com uma amiga: June de Camaleão.

- Interessante. A senhorita Saori estava na festa à fantasia, não ? – Kamus perguntou a Shaka.

- Sim. Estava. – o indiano respondeu ao chefe.

- Marin, - o Escorpiniano chamou-a com ar de dúvida – acabei de ler o artigo do velho japonês que foi congelado, mas estou achando uma coisa estranha aqui. Você tem uma foto desta menina como ela é hoje ?

- Venha aqui Milo. Tem na Internet. – chamou o grego para saírem do meio da conversa dos outros dois policiais

- Mas qual seria o envolvimento dela com a restauradora ? – o francês questionou.

- Difícil saber. Talvez nenhum. Talvez a restauradora serviu de ponto de partida para o novo Escorpião Escarlate iniciar os crimes.

Shaka e Kamus trocaram mais algumas observações. Milo olhou a foto de Saori Kido e fechou os olhos. Tinha CERTEZA que já tinha visto aquela garota antes. Mas onde ?

- Bem Shaka, precisamos mesmo saber onde nossos suspeitos estavam ontem na hora do crime.

- CXXXXXX ! – o Escorpiniano exclamou alto.

Todos olharam para ele.

- Desculpa. – pediu e ficou vermelho. Levantou-se e apontou para a tela do computador – Eu sabia que já tinha visto esta menina.

- A Saori ? – Aioria perguntou.

- Era ela. Era ela que estava em TODOS os desenhos que o japonesinho da feira desenhava. Eu nunca vi a menina na feira, mas o tal Pégasus tem vários desenhos dela. – o Escorpiniano comentou.

- Tem certeza ?

- Absoluta.

- Será que é uma obsessão ? – Mu questionou.

- Interessante. Mais uma vez o Seiya está envolvido neste crime. – o loiro observou.

- Pelo jeito este depoimento será bem interessante. - o leonino comentou.

- Bem, ainda temos mais de duas horas até os suspeitos chegarem. Estarei na minha sala se precisarem.

- Posso falar com você em particular, Kamus ? – o Escorpiniano pediu.

- Sobre o quê ? – questionou friamente.

- Sobre os crimes.

- Desde que seja rápido. Não tenho tempo a perder.

-o-

- Kamus, me desculpa. – pediu assim que o outro fechou a porta e sentou na sua frente.

- É isso que você quer falar ? – perguntou secamente.

- Eu me arrependi. Você pode até não acreditar, mas eu pensei em voltar e...

- Chega. Não gaste suas mentiras comigo. – levantou-se - Você volta amanhã para a Clairvaux. Não precisa mais se fazer de bonzinho. Aliás, você perdeu os quatro meses de redução de pena que eu ia sugerir, então não é necessário desperdiçar suas energias com o que não interessa.

- Que se dane a Clairvaux. Eu estou falando de você. De nós dois.

- Não seja imbecil. Não existe "nós dois". – deu uma pausa – Agora que já me disse o que queria, saia da minha sala. Some da minha vista. – replicou rispidamente.

- Por favor Kamus. – suplicou - Eu quero te pedir desculpas.

- Eu já disse para você desaparecer. – tinha ódio no olhar.

- Se você não quer minhas desculpas, eu imploro. – e se ajoelhou

- Eu já disse que você perdeu os quatro meses de redução de pena. Não precisa mais mentir. Saia.

- Quero que você me perdoe. Que se dane a pena.

- Chega de mentira. Cansei. Tenho mais o que fazer. – pegou o outro pelo braço e abriu a porta, empurrando-o para fora.

- Kamus, por favor, me ouve.

- Chega Milo. Estou cheio de você. – disse colocando-o para fora da sala.

A equipe do francês ficou quieta, apenas vendo os dois discutirem.

- Estou falando sério, Kamus.

- Claro que está. Você sempre fala a verdade, não é Milo ? – questionou sarcástico.

- CXXXXXX ! Você não acredita em PXXXX nenhuma que eu falo ? – disse aborrecido – Você quer provas que não estou mentindo ? Ok. Vou te dar provas. - pegou uma folha e escreveu alguma coisa – Toma. Vê agora se estou mentindo.

O francês não pegou, mas o Leonino pegou e leu.

- É um endereço. – Aioria replicou.

- É. - confirmou raivosamente, olhando para o Aquariano – É o endereço de uma clínica para pessoas CEGAS.

- Cegas ? Você me está querendo brincar comigo, moleque ? – questionou cerrando os olhos.

- Sala de música. – replicou ignorando a pergunta - Sobre uma poltrona verde. Quadro "Trigal com Corvos". Vincent Van Gogh. 1890

- Acha que sou imbecil ? O quadro Trigal com Corvos de Van Gogh está no Museu de Amsterdã.

O Escorpiniano riu.

- Sim está. – replicou – Uma CÓPIA do quadro Trigal com Corvos está lá, porque o VERDADEIRO QUADRO está nesta clínica. – apontou para o endereço que acabara de escrever.

- Mentira. A segurança, o curador, os especialistas teriam percebido.

- Não quando o PRÓPRIO curador é quem dá fim na peça.

- Você está mentindo.

- Ok. – replicou sorrindo – Continue pensando assim.

- Mu, verifique. – o francês pediu e virou-se para o Escorpiniano – Se você estiver mentindo, juro que além da sua pena aumentar, eu vou providenciar para que você fique na sua temida solitária por QUATRO MESES.

- Vamos ver então, policial. – disse enfrentando-o.

-o-

- Aioria, – o francês o chamou algum tempo depois - quando você estiver saindo você pode deixar o Milo na delegacia ? Amanhã cedo ele volta para a Clairvaux.

- E você vai buscá-lo amanhã de manhã na delegacia ?

A simples pergunta emudeceu o Aquariano. Se Kamus falasse que não, sabia que teria que explicar porquê não faria isso.

- Vou. Vou sim, Aioria. Só preciso que você o leve hoje.

-o-

Faltavam vinte minutos para os suspeitos chegarem quando uma senhora chegou na IPF pedindo para falar com o responsável pela investigação da jóia desaparecida.

- Kamus ? – Marin chamou-o – Esta senhora deseja falar-lhe.

O Aquariano foi com a senhora até sua sala. Discretamente ligou a gravação.

- Sim ?

- Quero dar um depoimento.

- Sobre o desaparecimento da jóia ?

- Exatamente.

- Como é o nome da senhora ?

- Agatha Bertrad. Sou quase vizinha da senhorita Kido.

- Bem, conte-me senhora Agatha o que a traz aqui.

- Eu tenho dois gatos e estava preocupada pois eles não voltavam para casa. Toda hora eu ia até a janela ver se eles estavam chegando. Em um determinado momento eu vi uma árvore se mexer e pensei que fossem os meus gatinhos, mas não eram. Era um rapaz. – disse arregalando os olhos - Ele pulou da árvore no chão e correu desesperadamente em direção oposta à casa da menina Kido. O mais interessante é que esta árvore fica de frente para o quarto da garota. – disse em tom de fofoca.

- Como sabe que era um rapaz ?

- Deduzi pela bermuda e cabelos curtos.

- A senhora viu o rosto dele ?

- Não. Só sei que o cabelo é escuro. Parece que ele estava com uma bermuda azul ou verde clara e camiseta preta. Infelizmente foi só o que vi porque foi nessa hora que o Freddie Mercury chegou.

- Freddie Mercury ?

- Meu gato. Mas o mais interessante policial, é que logo depois que isso aconteceu, a senhorita Kido começou a gritar. Fui até lá e vi a menina enlouquecida. Ela tinha sido roubada. Fui eu quem ligou para a polícia. A pobrezinha estava completamente fora de si. Pegou uma faca e disse que se algum criado tentasse sair de casa antes da polícia chegar, ela o mataria pessoalmente.

- Bem, senhora Agatha, esta é uma informação muito importante e certamente avaliaremos. Para sua segurança peço que não conte isso a ninguém. – levantou-se – Obrigado por colaborar com a polícia e preservar o bem estar da comunidade francesa.

- Eu é que me sinto feliz em colaborar, policial. – disse sorrindo.

"Interessante, muito interessante" – pensou assim que a mulher saiu.

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Próximo capítulo – Kamus conversa com os três suspeitos e toma uma decisão. No dia seguinte o francês vai buscar o grego na delegacia e Milo dá um show para convencer o policial a fazer o que ele quer. Depois de ceder o Aquariano se arrepende amargamente, pois passa a correr risco de vida.

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Notas da autora – Indicação de fic

Pessoal, creio que todos já conhecem as maravilhosas fics da Shakinha e como elas são divertidas. Pois é, a menina além de ótima escritora, anda fazendo discípulas. Sua prima, Babi-deathmask, uma iniciante em fics, começou uma fic muito legal intitulada Star Wars (nem precisa falar muito, não é ? Primeiro porque eu sou LOUCA por Star Wars, e segundo, porque tem um certo casalzinho que eu ADORO rsrs). Bem, quem puder, dê uma força para a Babi-deathmask e a incentive neste início de carreira deixando uma review. Acho que ela gostará muito : )

http (dois pontos) / www (ponto) fanfiction (ponto) net / s / 2803627 / 1 /

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Notas da autora – Agradecimentos

Gente, fico EXTREMAMENTE feliz com as reviews e o carinho de todos que acompanham. Mando beijos especiais aos que escreveram: Margarida; Litha-Chan; Hakesh-Chan; Guilherme;Anjo Setsuna; Ilia-Chan; Hokuto-Chan; Ophiuchus no Shaina; Lininha; Nanda; Arashi Kaminari; Ana Paula; Camis

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Nota da autora – contato

Podem me contatar, brigar, criticar (fiquem COMPLETAMENTE à vontade), reclamar, dar dicas ou só escrever para bater papo no erika(ponto)patty(arroba)gmail(ponto)com (não tem o BR) ou via review neste site. Prometo que respondo todos os e-mails e reviews.

Bela Patty : D

- Março / 2006 –