Capítulo Anterior - No capítulo anterior, Kamus consegue recapturar o grego, mas a dor em seu interior é tão grande que não consegue trabalhar. Acontece o terceiro crime e para se desculpar, Milo entrega um quadro que conseguira tempos atrás. O francês chama novamente os três garotos para depor e uma vizinha de Saori dá um depoimento muito interessante.
- ...bem, senhora Agatha, esta é uma informação muito importante e certamente avaliaremos. Para sua segurança peço que não conte isso a ninguém. - levantou-se - Obrigado por colaborar com a polícia e preservar o bem estar da comunidade francesa.
- Eu é que me sinto feliz em colaborar, policial. - disse sorrindo.
"Interessante, muito interessante" - pensou assim que a mulher saiu.
O Escorpião Escarlate - Capítulo XII - Conjecturas
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Na IPF...
Kamus se preparava para ir até a sala de depoimentos, quando a mulher voltou apressadamente.
- Desculpe policial. - a senhora recomeçou - Esqueci de mencionar um pequeno detalhe. Não quero que pense que sou uma má vizinha e abandonei a jovem, mas pouco depois que eu cheguei, uma jovem loura conhecida da menina Kido, apareceu. Parecia uma garota muito distinta, mas era bem má educada, - fez uma careta - porque assim que chegou, me DISPENSOU dizendo que cuidaria da amiga. - recriminou-a - Para falar a verdade, eu não sei como foi que ela descobriu que a menina Kido estava com problemas, pois não vi a pobre garota ligar para ninguém. - disse em tom de fofoca - Bom, era só isso que eu tinha para dizer. - deu uma pequena pausa - Se bem que não foi tão ruim a loura aparecer pois só assim a menina Kido soltou a faca e parou de ameaçar os criados. - tentou amenizar o que disse e depois se calou, esperando que o investigador concordasse com ela.
Como o francês permaneceu impassível, a mulher aborreceu-se.
- Bem, era só isso mesmo, policial. Boa tarde. - disse com uma certa indignação.
- Obrigado mais uma vez senhora Agatha.
A mulher se afastou contrariada.
"Então uma jovem loira apareceu, SEM ser chamada e BEM na hora do crime ? June. Humm... Agora está cada vez mais interessante." - meditava.
- Shaka ? - chamou o funcionário que acabava de chegar - Levante nos depoimentos obtidos pela polícia na casa da Senhorita Saori a declaração da senhorita June. Infelizmente eu não creio que a polícia local tenha dado a devida importância a todos os depoimentos das pessoas presentes, já que supostamente a senhorita June não estava na hora do crime. - deu uma pequena pausa - Shaka, faça me um favor. - falou um pouco baixo - Converse com seus contatos e rastreie, com muita discrição, os gastos das duas universitárias no Japão. Quero saber o que fazem e por onde andam.
O loiro sabia que para pedir uma quebra de sigilo bancário ou de avaliação de finanças era necessária uma autorização formal do chefe da IPF.
- O que está acontecendo, Kamus ?
- Nossa amiguinha loira apareceu pouco depois do crime, sem ser chamada e apenas para consolar a amiga.
- Já entendi. - assentiu - Se você me der dez minutos eu tento algum rastreador. Você me espera para começar a tomar os depoimentos ?
- Com certeza. - respondeu.
Como os três jovens prestariam esclarecimentos em horários diferenciados, porém não era bom que se encontrassem, foram direcionados às salas de espera diferentes. Kamus preferiu manter a mesma ordem de depoimentos da vez anterior.
Assim que Shaka informou ao chefe que já estava na sala de vídeo, Ikki foi chamado.
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Na sala de depoimentos...
- Boa tarde, senhor Amamiya. - o policial cumprimentou-o.
- Boa tarde, investigador. Em que posso lhe ser útil ?
- Gostaria de saber onde você estava ontem à noite, no período de seis e meia às oito e meia.
- Jogando futebol.
- Respondeu tão rápido. Já esperava que eu te perguntasse isso ? - disse em tom levemente sarcástico.
O jovem não se abalou. Abriu a carteira, pegou um cartão e entregou ao policial.
- Esse é o lugar. Cheguei por volta das seis e quarenta.
- E alguém pode confirmar essa sua história ?
- Claro. O porteiro e todos os caras que jogaram comigo.
- E quem são "os caras" ?
- O Chris, o Jeff, o Shun, o Hyoga, o Shiryu, o Jabu e o Seiya.
O francês tentou disfarçar a surpresa. Era mesmo muita coincidência os outros dois estarem jogando lá também.
- E você tem amizade com todos ?
- Costumamos jogar a cada quinze dias, naturalmente que sim. - respondeu acidamente.
- Religiosamente a cada quinze dias ?
- Não exatamente. Algumas vezes não jogamos, mas tentamos manter a freqüência de quinze dias. Ontem alguns quase desistiram, mas no final todos foram.
- Bem, e qual foi o horário que cada um chegou ?
- Quando eu cheguei o Shiryu e o Jabu já estavam lá. Logo depois de mim chegou o meu irmão, o Shun, e um amigo dele, o Hyoga. Aí o Jeff chegou perto das sete e o Chris, sete e dez. Tenho certeza disso pois ele até brincou perguntando como é que tinha gente que se atrasava dez minutos e chegava com a cara mais lavada do mundo.
- E o Seiya ?
- Bom, ele chegou depois dos dois gols. Acho que uns dez minutos depois do Chris.
- Ele disse porque se atrasou ?
- Só disse que teve que fazer uma coisa antes.
O Aquariano ficou pensativo. Pelo endereço, a quadra ficava próxima da casa da senhorita Saori. Como o crime ocorreu entre sete e sete e quinze da noite, se o menino estivesse de bicicleta chegaria facilmente à quadra.
- O Seiya estava de bicicleta ?
- Estava sim.
O investigador voltou a ficar pensativo. Não podia mais segurar o jovem. Ele tinha um álibi que poderia ser facilmente confirmado pelos outros.
- Ok, senhor Amamiya. Agradeço seu comparecimento e devo alertá-lo que posso ser obrigado a intimá-lo novamente ou fazer uma breve visita para coletar mais informações.
- Fique à vontade, policial. - respondeu e se levantou para sair.
- Senhor Amamiya ? - perguntou ao jovem que se virava para atendê-lo - Tem alguma coisa que o senhor gostaria de me dizer ?
- Não policial. Já respondi tudo o que me perguntou. - disse e saiu.
O rapaz não era bobo. Deixou bem claro que só falava quando era perguntado.
Saiu e fechou a porta.
- Anotou esta, Shaka ? - perguntou olhando para uma das câmeras.
O funcionário apareceu.
- Muito dono de si, não ? - o indiano comentou.
- Ele está escondendo alguma coisa e eu vou descobrir o quê. - afirmou pensativo - Volte para o seu posto. Vou chamar o Jabu.
- Ok.
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- Boa tarde, senhor Kamus. - o menino entrou na sala e cumprimentou o policial.
- Boa tarde Jabu.
- Em que posso ajudar ?
- Gostaria que me dissesse o que fazia das seis e meia às oito e meia da noite de ontem. - perguntou objetivamente.
- Fui jogar futebol.
- Onde ?
- Em um campinho society que tem perto do supermercado Saint Eliseé.
- Você foi sozinho ?
- Sim senhor, mas encontrei vários amigos lá.
- Que amigos ?
- O Jeff, o Chris, o Seiya, Shiryu, o Ikki, o Hyoga e o Shun.
- E que horas você chegou no futebol ?
- Acho que era exatamente seis e meia.
- Tem alguém que pode confirmar esta sua informação ?
- O porteiro e o Shiryu. Ele chegou logo depois de mim.
- E os outros, a que horas chegaram ?
- Bem, primeiro chegou o Ikki, acho que foi no máximo dez minutos depois que eu cheguei. Logo depois chegaram o Hyoga e o Shun. Aí chegou o Jeff. Acho que isso foi por volta das sete... - disse pensativo - Aí chegou o Chris. O cara é uma figura. Ele chegou sete e dez. Tenho certeza porque ele fez um escândalo, dizendo que quem chegava depois das sete deveria ser proibido de jogar. Claro que TODOS olharam no relógio.
- E o Seiya não foi ao jogo ?
- Foi. Ele chegou uns cinco ou dez minutos depois do Chris.
- E ele disse porque chegou tão tarde ?
- Disse. Ele foi fazer uma visita.
- Uma visita ?
- Tem uma garota que ele gosta que mora ali perto. Ele foi até lá.
- Eles namoram ?
- Não. Infelizmente não.
- Quem é a garota ?
- O nome dela é Saori.
- Mas se eles não namoram, o que ele foi fazer lá ?
- Ora policial, quem pode explicar o amor ? Ele se encantou desde que essa menina apareceu. Ele fez vários desenhos e até poesia para ela. Foi paixão à primeira vista. - deu uma pausa - E na verdade ele só foi até lá para vê-la. Duvido que teria coragem suficiente para falar com ela.
- E ele te contou se ele conseguiu vê-la ou não ?
O menino demorou a responder.
- Fale Jabu.
- Desculpe policial, sei que você também o intimou. Não quero prejudicar meu amigo.
- Se não falar o que sabe serei obrigado a te indiciar por obstrução.
- SENHOR KAMUS ! - exclamou. Jabu não sabia o que era obstrução, mas parecia algo terrível.
Kamus estava impassível. Claro que deveria agir dentro da lei e era assim que faria, mas uma pequena ameaça, bem colocada, sempre surtia algum efeito.
- Vou buscar uma água. - disse ao rapaz - Te dou dois minutos para pensar o que vai me dizer. - e saindo de lá, foi até a sala de vídeo.
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- O que acha, Shaka ?
- O garoto parece tenso e um pouco... - parou de falar ao ver o menino se levantar e começar a andar pela sala, murmurando coisas. Aumentou bem o som da gravação.
- Conto ou não conto ? Conto ou não conto ? Conto ou não conto ? - o garoto repetia sem parar.
- Vou voltar. - o Aquariano comentou e saiu.
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- E então, Jabu ? - o francês questionou.
- Ok policial. - suspirou - O Seiya me contou que viu a menia. Ele subiu em uma árvore que dá para o quarto dela. Parece que ela olhou no espelho, viu o Seiya e começou a gritar. - deu uma pausa - O senhor ainda vai me indiciar ?
- O que mais ele te contou ?
- Só isso, policial.
- E os detalhes ?
- Não deu tempo. Quando ele começou a me contar, o Shiryu apareceu. Hoje eu trabalhei para caramba e quase não nos falamos. Sai do serviço e vim direto para cá. Só fiquei sabendo que ele havia sido intimado quando o senhor Tatsumi reclamou que tinha que nos liberar um pouco mais cedo.
- Ok, Jabu. - o garoto também tinha um álibi então também não dava para mantê-lo ali. - Obrigado pelas informações. Se eu precisar de alguma coisa volto a te procurar.
- Ok senhor Kamus.
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O indiano ligou para o chefe.
- Você vai prendê-lo ? - perguntou ao telefone, antes do japonês adentrar.
- Não Shaka. Vou deixar o garoto solto. Vou deixar que pense que está tudo bem. - disse e desligou - Bem, Seiya, vamos ver o que você vai me contar. - pegou o telefone e ligou para a funcionária - Marin, por favor peça para o Seiya entrar.
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- Boa tarde policial.
- Boa tarde Seiya. Vou direto ao assunto: quero que me diga o que fazia ontem das seis e meia às oito e meia da noite.
- Jogava futebol.
- Durante as duas horas ?
- Não. Eu... demorei um pouquinho para chegar na quadra.
- Por quê ?
- Eu... tive que fazer uma outra coisa.
- Por que não encurta logo a história ? Já sei que esteve na casa da senhorita Saori Kido e que não foi convidado por ela para entrar. Preciso apenas me convencer a não te jogar na cadeia por uns bons anos. Quem sabe a verdade, com detalhes e desde o início, não amenize sua culpa ?
O garoto arregalou os olhos, surpreso, e engoliu seco.
- Policial...
- Acho bom ser convincente. Não vou repetir o que falei. Se eu desconfiar que você está mentindo, será MUITO PIOR. - ameaçou.
- Bem, - começou um tanto assustado - a primeira vez que nos encontramos foi na feira de artesanatos. Ela pediu para que eu a desenhasse. Eu fiz o desenho e ela levou embora. Ela é tão linda que parece uma deusa. Foi amor à primeira vista. Eu fiquei obcecado. Fiz vários desenhos e até poemas para ela, - sorriu e logo se entristeceu - mas ela não voltou mais na feira. Procurei muito, perguntando aqui e ali e descobri onde ela morava. Como sou tímido, pedi para o Jabu entregar os desenhos e as poesias que fiz, mas infelizmente ela devolveu tudo sem ao menos ver. - disse melancólico - Falou que namorava e não queria confusão. Eu enlouqueci e entrei nas drogas. Eu me afastei dela, mas não conseguia esquecê-la. Pensava dia e noite naquela menina, até que um dia em uma palestra no centro de recuperação, disseram que tínhamos que sair das drogas por quem a gente amava. Prometi a mim mesmo que sairia das drogas e que lutaria por ela.
Kamus apenas ouvia.
- Comecei a trabalhar na restauradora e logo nas primeiras semanas de trabalho encontrei o Shiryu na rua. É um rapaz para quem eu fiz vários desenhos no passado. Ele comentou que jogava futebol a cada quinze dias num campinho society e me convidou. No primeiro dia eu já vi que estava com muita sorte. Era bem pertinho da casa da minha deusa. - sorriu - No começo eu ficava de longe, observando-a, mas acabei descobrindo uma árvore que dava bem de frente para o quarto dela e ainda tinha alguma visão da sala. A cada quinze dias eu ia jogar futebol, mas antes passava na casa da minha deusa e fica admirando-a.
- E ontem ?
- Ontem eu subi na árvore e fiquei esperando. Ela sempre tomava banho naquele horário então eu sabia que passaria na frente da janela para ir até a suíte.
- E alguém apareceu no quarto ?
- Sim. Primeiro foi uma senhora de uniforme. Ela passou na frente da janela, demorou algum tempo e depois voltou com uma caixinha na mão.
- Que tipo de caixinha ?
- Uma de jóia. Talvez tenha algum cofre ali perto da suíte, eu não sei.
- E depois, o que aconteceu ?
- Instantes depois vi a mulher aparecer na sala. Eu percebi que a Saori estava experimentando um vestido e fiquei olhando. Não dava para ver muito, mas eu sou insistente. - sorriu - Depois de um bom tempo vi aquela senhora sair novamente da sala, mas não a vi entrar no quarto. Aí ela reapareceu minutos depois na sala e uma mulher, que acho que era a costureira, saiu da casa. Logo depois a Saori passou pelo corredor da sala, de onde dá para ver da árvore e algum tempo depois apareceu no quarto.
- Demorou muito esta ida da Saori da sala para o quarto ?
- Não sei. Acho que praticamente o mesmo tempo que a senhora levou.
- E você viu o que ela fazia ?
- Vi. Ela passou na frente da janela com uma caixinha na mão, que parecia ser a mesma que a senhora pegou. Aí ela parou, de costas para a janela e de frente para um espelho. Acho que ela ia abrir a caixinha, não consegui ver direito, mas aí ela começou a gritar. Eu pensei que ela tivesse visto minha imagem no espelho e desci rapidamente da árvore. Saí correndo até a bicicleta e não olhei para trás até chegar no jogo.
- Quando a menina passou na frente da janela, a caixinha estava aberta ou fechada ?
- Fechada. Se é que ela abriu, só abriu na frente do espelho.
- E você falou com ela ?
- Não. Foi bem como lhe disse. Ela gritou e eu saí correndo.
- Seiya, hoje trabalhei bastante e estou cansado, porque não me poupa de suas mentiras ?
- É verdade policial. Pode até vasculhar minha casa para procurar a jóia.
- Então sabe que a jóia sumiu ? - questionou com um sorriso.
- Claro. Está em todos os jornais. - disse prontamente.
Milhares de perguntas passaram pela mente do investigador.
- Você já falou alguma vez com a Saori ?
- Só na feira.
- Ela sabe que você gosta dela ?
- Bem, o Jabu disse para ela que eu era um admirador.
- Seiya, você sabe o que está fazendo ? Está acabando com sua vida. Eu não vou conseguir reduzir sua pena.
- Policial, você vai me prender ? - perguntou desesperado - Mas eu não roubei nada. Eu juro. Pode ver até as minhas digitais. Elas não estão na jóia.
- E quais digitais estão na jóia ?
- As do ladrão.
- E você sabe quem é o ladrão ?
- Claro que não policial, se eu soubesse diria para ficar limpo. Sei que desconfia de mim. - disse ainda em tom de urgência.
- Seiya, o que eu faço com você ?
- Por favor policial, não me prenda. Eu não fiz nada, não roubei nada e nem escondi nada. Eu juro. Só o que eu fiz foi pegar um escorpião do senhor Sòlon, mas eu joguei fora, nem ficou mais comigo. Eu juro. Por favor. - suplicou.
- Você não está autorizado a sair da cidade.
- Então, eu posso ir ? - perguntou devagar.
- Se eu precisar de mais informações, eu te procuro.
- Ok policial. Muito obrigado. Tenha uma boa noite. - disse e saiu rapidamente.
Shaka veio imediatamente.
- O que ele relatou bate EXATAMENTE com o que a garota informou sobre o ocorrido. - o Virginiano disse.
- Eu sei, mas não há outras testemunhas. Os dois podem estar juntos nessa e mentindo.
- E se for uma quadrilha e não uma dupla ?
- Isso explicaria porque o Ikki liberou um aparelho defeituoso. - Kamus comentou.
- Então talvez o Seiya ou o Jabu tenha sumido com o quadro.
- June pode ter escondido o escaravelho em um lugar que poucos procurariam.
- A não ser uma nova empregada. - o indiano completou - Além disso, a Saori pode ter entregado a jóia ao Seiya e gritado depois.
- Há outras questões intrigantes. A chegada da jovem de Camaleão BEM na hora do crime, aparecendo do nada.
- O Senhor Sòlon ou outra pessoa dando sumiço nos escorpiões.
- A ida das duas universitárias para o Japão... Isso é muito estranho, Shaka. Parece até que esta viagem já estava planejada, independente do sumiço da jóia.
- Sabe Kamus, a senhorita Saori ganha uma gorda mesada por mês e quando precisa de um valor mais alto basta reunir seu conselho tutelar e explicar a situação. Será que ela estava mesmo precisando de dinheiro a ponto de roubar a jóia da própria família ?
- Tem razão. Mesmo que ela quisesse sumir com a jóia para se vingar do avô, por ter que explicar até os quarenta anos o que está gastando, isso só prejudicaria a ela mesma. Certamente os jornais, revistas e todo mundo ficariam se perguntando se ela não faria nada para recuperar o colar.
- Eu acho que estes crimes são diferentes, Kamus. Eles têm uma motivação muito forte.
- Se não é dinheiro, o que seria este tipo de motivação ? Vingança ?
O loiro arregalou os olhos.
- Kamus, o escaravelho foi apenas escondido, talvez até o quadro e o colar estejam na mesma situação.
- O que você está querendo dizer ?
- Vamos dizer que alguém tivesse CERTEZA que este caso seria VOCÊ quem conduziria.
- O que você está tentando insinuar, Shaka ? - perguntou cerrando os olhos.
- O Radamanthys está preso ?
- Claro que está.
- E o Milo ? Ele é confiável ? Ele saiu de uma forma muito estranha da Clairvaux.
- Como assim ? - questionou sem entender.
- Ora Kamus, o Seiya não contou sobre os escorpiões. O Jabu não contou sobre os escorpiões. O grego só saiu de lá pois "teoricamente" tinha uma informação privilegiada.
O francês ficou mudo. "Como fui estúpido. Por que não pensei nisto antes ?" - recriminou-se.
- E isso não é tudo. - o Virginiano continuou - Você descreveu a atitude dele na cadeia como teatral, exatamente como você descreveu para mim a atitude do senhor Sòlon ao reconhecer o Escorpião Escarlate. - deu uma pausa - E você se lembra como foi que o grego se lembrou do Seiya, do Jabu e da Saori ? Sempre teatral.
- O que você quer dizer, Shaka ? - perguntou tentando esconder as emoções.
- O Milo é um presidiário. Você acha que ele pode, de alguma forma, ter tido algum contato com o Radamanthys ?
- Acho pouco provável. O Radamanthys está em uma prisão especial.
- Você tem mais contato com o grego que eu. Como ele é ? É agressivo ? Mentiroso ? Falso ?
- Não. Não é agressivo. Mentiroso, falso ? - ficou pensativo.
- O que aconteceu entre vocês na quarta-feira pela manhã ? - o indiano questionou diretamente.
- Por quê ? - perguntou receoso.
- Depois que você disse que não estava bem e foi embora, tentei interrogá-lo, mas ele ficou mudo. Você e ele estavam muito estranhos naquele dia.
- Não se preocupe, Shaka. - disse tranqüilamente.
- Kamus, você não o está levando para casa, está ?
- Sha, você se preocupa demais.
- Apenas estou zelando por você. Não quero que nada te aconteça. Prometa que não vai ficar sozinho com ele.
- Você está exagerando. - tentou parecer tranqüilo, mas por dentro estava em ebulição. Será que o funcionário estava certo ?
- Ok. Apenas evite-o.
- Pode deixar, papai. - o francês brincou com o Virginiano.
Sorriram um para o outro e o loiro surpreendeu o chefe quando se aproximou e lhe deu um forte abraço.
- Kamye, eu gosto muito de você. Não quero te perder.
- Shaka, - aproveitou o bom abraço - não se preocupe. Não vai me acontecer nada. - deu uma pequena pausa - E se acontecer, quem sabe você não ganha uma promoção ?
O loiro soltou o chefe e ficou sério.
- Não brinque com isso.
- Ok. Vou tomar cuidado. - e sorriu para o amigo.
Enquanto voltavam para o terceiro andar, Kamus refletia. "Será Milo ? Será que é tudo uma grande encenação "
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Algum tempo depois, não muito longe dali...
- Alô ? - o rapaz atendeu.
- Alô. - respondeu com voz abatida.
- Nossa, eu não esperava uma ligação sua nem aqui em casa e nem este horário. - deu uma pausa - Como você está ?
- Como foi a conversa com a polícia ? - questionou ignorando a pergunta anterior.
- Você já soube ?
- Imaginei. Você nos entregou ?
- Não. Está tudo bem. Aliás, acho que foi até um depoimento muito bom.
- Ótimo.
- Já está tudo pronto ? Quando vai ser ? Amanhã ?
- Sim. Antes do meio da manhã ele será morto. Antes do meio da manhã ele não existirá mais, - deu uma pequena pausa - e nem eu. - completou e desligou.
O jovem ficou olhando para o aparelho mudo. Apesar de não poder se envolver, não pode deixar de sentir uma tristeza. "Morto. Para sempre." - refletiu enquanto também desligava o telefone.
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Kamus combinara com Shaka de levar algum policial até a árvore e fazer as devidas medições. Queria saber EXATAMENTE o que o garoto conseguia ver dali de cima. Este não era o único propósito, mas também saber o quão perto os galhos ficavam e se seria fácil entrar e sair do quarto da menina sem ser notado.
O francês também pediu para Marin avisá-lo no primeiro horário sobre a resposta da polícia de Amsterdã. A garota enviara, por ordem do Aquariano, um e-mail explicando sobre o caso do quadro "Trigal com Corvos" de Van Gogh. Kamus ainda sugeriu muita descrição da polícia Holandesa ao validar a autenticidade do quadro. Sempre havia a possibilidade do Escorpiniano estar mentindo e não seria bom causar um mal-estar em outros países.
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Sexta-feira pela manhã...
Aquele seria o dia em que Milo finalmente voltaria para a Clairvaux. Como tinha combinado com o Virginiano, pegaria o grego na delegacia e o levaria até a IPF. De lá esperaria o indiano chegar do exame médico e seguiriam para o presídio.
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O Aquariano saiu de casa com a empregada, deixando-a no supermercado. Nicolle ia demorar. Ainda passaria na costureira, na casa de carnes e na boutique de frutas.
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Minutos depois, na delegacia...
O policial chegou na delegacia e pediu para trazerem o Escorpiniano.
Tratado grosseiramente pelo francês, mesmo depois de prestar informações sobre o quadro do Van Gogh que tinha em seu poder, Milo estava com cara de poucos amigos.
- Eu quero ir para a Clairvaux com a MINHA roupa. - o criminoso replicou enquanto o investigador parava no balcão para assinar a liberação do detento.
- Essa é a sua roupa. - disse com firmeza.
- Eu quero para a Clairvaux com A MINHA roupa e não com a roupa que você me mandou comprar.
- Não me aborreça, Milo. - respondeu sem olhar para o grego - Depois eu mando entregar sua roupa.
Enquanto Kamus virava-se para assinar a liberação, a recepcionista arregalou os olhos e soltou um gritinho abafado. O Aquariano olhou rapidamente para o preso e não acreditou no que viu. Apesar do criminoso estar algemado, ele abaixara a calça e preparava-se para se despir da cueca.
- VOCÊ ESTÁ LOUCO ? - o francês perguntou segurando-lhe a cueca.
- Eu já disse que vou para a Clairvaux com A MINHA roupa e não com a que você me deu. - replicou decidido.
- Ok. Vamos conversar lá fora. - disse um pouco assustado com a reação do outro e subiu-lhe a calça.
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- Kamus, eu quero A MINHA ROUPA. - exasperou-se no carro, enquanto o investigador dirigia.
- Eu entendi, mas já disse que você embora COM ESSA. - disse decididamente.
- EU QUERO MINHA ROUPA DE VOLTA ! - gritou.
- PARE COM ISSO. Sua roupa está na minha casa e se você acha que vou te deixar pisar lá, você está LOUCO ! Chega de história. Você vai com ESSA roupa e ponto.
Milo sabia que sua roupa estava na casa do policial, justamente por isso estava fazendo o escândalo.
- EU QUERO A MINHA ROUPA DE VOLTA AGORA ! - gritou irritado - Ou você faz isso ou...
- Ou o quê ? - perguntou ao preso que estava no banco de trás do carro da IPF, algemado e separado por uma grossa divisória de vidro à prova de balas.
- Ou vou me debater aqui atrás até sair sangue. - disse e deu uma pequena pausa - Já imaginou quando você chegar na Clairvaux com um preso completamente ensangüentado ? O que será que vão pensar de você, policial ? O que será que os Direitos Humanos vão dizer ?
O francês ficou mudo. Duvidava que o outro fizesse algo para se machucar.
- Vou contar até 10 para começar. - o grego ameaçou - 10... 9... 8... 7...
- CHEGA ! Ok. Você vai trocar de roupa. Mas vou te levar agora para a IPF e depois eu vou até em casa e pego sua roupa.
- EU QUERO AGORA ! 6... 5... 4... 3...
Kamus não acreditava que o Escorpiniano cumprisse o que prometera, por isso continuava a dirigir.
- 2... 1. - Milo mal terminou de falar e deu uma violenta cabeçada no vidro.
O policial não conseguia mais vê-lo pelo retrovisor, mas via uma pequena marca vermelha no vidro. Sangue.
- Droga. - parou o carro imediatamente.
Kamus abriu a porta e o grego se levantou do banco. Seu supercílio sangrava um pouco.
- Droga Milo, por que você fez isso ?
- QUERO MINHA ROUPA AGORA ! - esbravejou e começou a se debater.
- Ok, ok. Calma. Tudo bem.
O Escorpiniano parou. Estava ofegante.
- Eu não quero NADA que é seu. NADA ! - Milo vociferou - Eu quero A MINHA ROUPA !
- Ok. Tudo bem. Calma. Você já vai trocar de roupa. Vou te levar até em casa.
Kamus fechou novamente a porta. O investigador estava surpreso e um pouco assustado. Não esperava aquela atitude agressiva do ladrão.
O Aquariano ligou para o indiano, mas ninguém atendeu. Provavelmente o loiro ainda estava em consulta médica.
- Shaka, é o Kamus. - disse após o bip da secretária eletrônica - Tive que passar em casa. Estou com o Milo. - deixou o recado e desligou. Engoliu seco. Estava um pouco receoso. O criminoso tinha se mostrado agressivo e ficaria sozinho com ele. Isso não era bom. Só esperava não demorar muito em casa, mas se demorasse, esperava que o Virginiano entendesse o recado.
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Apartamento do policial...
Mal Kamus abriu a porta e o ladrão invadiu a casa, seguindo até a cozinha.
- Cadê a Nicolle ? - perguntou ao francês - Eu quero um copo de água. - NICOLLE ! - gritou pela empregada.
- Não a perturbe. Ela deve estar no quarto. Pode pegar a água.
- Nicolle ? - perguntou entrando sem cerimônia no quarto da empregada e constatando que estava vazio. Olhou para o investigador - Que coisa. Parece ATÉ que ela não está em casa. - replicou com um sorriso estranho nos lábios.
O policial engoliu seco e segurou mais firme seu revólver. O grego pegou um copo e bebeu a água. Depois, sem cerimônia alguma, abriu a geladeira, pegou um gelo e colocou sobre o machucado do rosto.
O Aquariano continuava atento.
Milo jogou o gelo fora e foi até o quarto de hóspedes pegar sua roupa.
- Será que você pode me soltar para eu me trocar ? - perguntou secamente.
O ladrão apresentou as mãos para que o francês o soltasse. Kamus estava alerta e o soltou com cuidado, mas o grego não fez nada. Apenas foi até o banheiro e lavou o rosto para tirar o sangue seco.
O presidiário voltou da suíte e, sem a menor vergonha, despiu-se completamente vestindo-se em seguida com sua própria roupa.
- Agora sim. Obrigado policial. - sorriu e estendeu as mãos para o investigador algemá-lo.
O francês mal aproximou as algemas do pulso do preso e foi violentamente empurrado para trás, batendo as costas com força na parede. Com o impacto da batida o revólver soltou-se de suas mãos e foi para o chão. Kamus ainda tentou se abaixar para pegá-lo, mas Milo avançou e subiu sobre o Aquariano, derrubando-o.
Os dois lutaram no chão, mas o Escorpiniano levou a melhor e conseguiu imobilizar o outro. O policial teve suas mãos puxadas com violência para serem algemadas. Kamus deu um gemido abafado por causa da dor e, retirado abruptamente do chão, foi jogado sobre a cama pelo criminoso.
O presidiário voltou até a entrada do quarto e se abaixou para pegar a arma.
- Pronto. Agora você está bem como eu queria. - o grego disse e se aproximou.
O francês soltou o ar pesadamente e se arrumou na cama, afastando-se da beirada e encostando o corpo na cabeceira.
O policial estava assustado. Depois do grego ter tentado tirar a roupa na delegacia, ter se jogado contra o vidro do carro e ter algemado o investigador, Kamus esperava qualquer atitude do outro. Não sabia direito o que pensar, mas recriminou-se por desdenhar do que Shaka disse, e agora temia por sua integridade física.
Milo aproximou-se mais um pouco. A respiração do investigador ficou bem pesada e o Aquariano se espremeu mais ainda na cabeceira da cama. Não conseguia esconder sua tensão.
O grego parou e ficou onde estava.
- O que você quer ? - o francês perguntou com a voz trêmula e a respiração alterada.
- O que eu quero ? Ora Kamus, que pergunta. Para quê eu te traria até a sua casa e me certificaria que estamos sozinhos ? - replicou sedutor enquanto olhava o Aquariano de cima a baixo - Eu quero VOCÊ. - disse e levantou a arma em direção ao policial.
O Aquariano gelou. Um arrepio correu por sua espinha. Provavelmente o presidiário ia forçá-lo a alguma coisa antes de matá-lo. Não. Não permitiria isso. Preferia a morte.
- Quer atirar ? - o investigador desafiou - ATIRA ! Você só terá o que quer depois que eu estiver MORTO. - vociferou com a respiração alterada.
- Você é quem sabe, Kamus. EU sou o dono do jogo. Estou com o queijo e a faca na mão. - disse com um belo sorriso - Você sabe que terei o que quero de qualquer jeito. - deu uma pausa - Então por que você não se faz de bonzinho e colabora ? Não me faça te machucar novamente para conseguir o que quero.
O Aquariano ficou mudo.
- E então Kamus, como vai ser ? - o grego perguntou seriamente, destravando a arma e colocando o francês em sua mira - Não posso perder a manhã toda aqui com você. Precisamos resolver isso AGORA. O que me diz ? Vai colaborar ou serei obrigado a fazer o que não quero ? - indagou caminhando na direção da cama.
O francês engoliu seco e se espremeu mais ainda na cabeceira, enquanto o outro se aproximava lentamente.
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Próximo capítulo - Kamus cede e Milo consegue o que quer. Shaka pega o recado do chefe e se desespera ao não conseguir contato. O francês tem uma atitude inesperada e o Escorpiniano fica muito triste com o que acaba acontecendo.
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Notas da autora - Agradecimentos
Oiê ! Vcs sabem como eu ADORO as reviews que vcs mandam, não ? Ao que ainda não mandaram, um beijo especial apenas por acompanharem e um beijo mais que especial para quem escreveu: Litha-Chan; Lininha; Miki-chan; Ana Paula; Hakesh-Chan; Camis; Cardosinha; Francine; Ophiuchus no Shaina; Shakinha; Margarida; Anjo Setsuna; Patin ; Virgo ; Makie; Nanda; Hokuto-chan; Mila Boyd ; Nana Pizani; Babi-deathmask; Srta. Nina; Mika Kamya; Sinistra Negra; Volpi e Yue-chan (como vc não deixou e-mail, um grande beijo e obrigada por comentar)
OBS: A partir do dia 07 de Abril faço uma viagem e só volto dia 26. Podem mandar as reviews, apenas tenham um pouquinho de paciência para a resposta. Bjos.
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Nota da autora - contato
Podem me contatar, brigar, criticar, reclamar, dar dicas ou só escrever para bater papo no erika(ponto)patty(arroba)gmail(ponto)com (não tem o BR) ou via review neste site. Prometo que respondo todos os e-mails e reviews.
Bela Patty
- Março / 2006 -
