O Escorpião Escarlate
NOTA DA AUTORA: Oiê pessoal. Calma. O penúltimo capítulo sai em breve. Rsrs. Estou passando por aqui só para avisar que criei um fórum para o Escorpião Escarlate. Lá todos vão poder dar asas à imaginação, soltar o lado Sherlock Holmes, contar quem acha que é o Novo Escorpião Escarlate e porque desconfia desta pessoa.
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Capítulo Anterior - No capítulo anterior, Kamus chama Ikki, Jabu e Seiya para depor e consegue informações muito interessantes. Conversando com Shaka sobre motivações e suspeitos, o indiano sugere que há uma conspiração contra o chefe. O francês desdenha do comentário, mas depois de levar o grego para casa e ser dominado por ele, o investigador fica em dúvida.
O Aquariano ficou mudo.
- E então Kamus, como vai ser ? - o grego perguntou seriamente, destravando a arma e colocando o francês em sua mira - Não posso perder a manhã toda aqui com você. Precisamos resolver isso AGORA. O que me diz ? Vai colaborar ou serei obrigado a fazer o que não quero ? - indagou caminhando na direção da cama.
O francês engoliu seco e se espremeu mais ainda na cabeceira, enquanto o outro se aproximava lentamente.
O Escorpião Escarlate - Capítulo XIII – Milo versus Kamus
-oOo-
Apartamento do francês...
- O que você quer de mim ? – o investigador perguntou com a voz sumida, mesmo sabendo que odiaria saber a resposta.
O grego parou no meio do caminho.
- Pergunta fácil de responder, – deu um sorriso um tanto malicioso e desviou a mira do coração para a cabeça do francês - mas vou responder de outra forma. – replicou um pouco mais sério - Quero sua atenção. Quero apenas... conversar com você.
- Con...versar ? – o investigador perguntou temeroso.
- Está com medo, policial ? – perguntou sorrindo presunçosamente.
O Aquariano não respondeu. Nem precisava. Era óbvio que estava com medo. Seus olhos fixos no ladrão, a respiração alterada, o estremecimento involuntário do corpo a cada movimentação da mira do revólver. Tudo isso delatava sua apreensão.
- Sobre o quê você quer conversar ? – Kamus indagou baixinho, em tom quase suplicante.
Milo podia ver a angústia no olhar do francês, mas não podia desistir. Precisava ir até o final.
O criminoso continuou com a mesma expressão de frieza enquanto se aproximava mais ainda, chegando a encostar-se aos pés da cama. Viu que instantaneamente o investigador engoliu seco e espremeu-se um pouco mais na cabeceira.
O ladrão achou melhor ir um pouco mais devagar.
- Ok, Kamus, eu vou me sentar aqui. – falou sentando-se vagarosamente na beirada da cama – Não precisa ter medo de mim. Eu não quero te machucar. – disse cuidadosamente, como se falasse com uma criança assustada – Vê a arma ? – perguntou levantando o cano para o alto, – Ela não vai ficar apontada para você. Ela vai ficar aqui em cima da cama e travada, ok ? – sem tirar os olhos do Aquariano, travou o revólver e deixou-o sobre a cama, porém ao alcance da mão – Quero apenas que você colabore. Não quero atirar em você. Só quero conversar.
O francês continuava encolhido. Não confiava no Escorpiniano. Não sabia do que ele era capaz.
- Tudo bem, Kâ. Sei que desta vez exagerei na dose, mas tenho CERTEZA que se eu apenas pedisse para conversar, você não ia querer me ouvir. – deu uma pausa – Olha só o que você fez. – deu um sorriso e colocou a mão no supercílio que ainda estava um pouco inchado - Me fez ficar com a cabeça doendo.
Ouviram um barulho na janela, talvez fosse um pássaro ou apenas o vento, mas o investigador virou o rosto para prestar atenção aos ruídos.
- EU JÁ DISSE QUE QUERO SUA ATENÇÃO, KAMUS ! – disse em tom ríspido - Sou POSSESSIVO. – disse com seriedade, cerrando os olhos e colocando a mão sobre o revólver - Se eu precisar te apontar uma arma para você me ouvir, então vai ser assim. – praticamente cuspiu as palavras.
O Aquariano encarou o grego. Permaneceu mudo e engoliu seco.
- Ok, meu francesinho. – falou em tom bem mais ameno - Desculpa se eu fui grosso com você e te machuquei quando te coloquei as algemas. Você sabe que eu sou carinhoso e este estilo não combina comigo, mas eu preciso que você esteja quietinho para ouvir. Por isso tive que te prender. - explicou.
- O que você quer ? – indagou secamente - Não adianta me pedir a sua liberdade. Não tenho poderes para isso e mesmo que tivesse...
- Eu já te disse, Kâ. Eu não quero minha liberdade. Eu quero VOCÊ. – deu uma pausa – Só quero sua atenção. Só quero que você me ouça. Mais nada.
O investigador fez uma cara incrédula.
- Ok, Kamus. Eu sei. Você não acredita em mim. Mas é sério. Eu só estou te pedindo um tempo. – olhou para o relógio que ficava próximo a cabeceira da cama e apontou para ele. – Dez minutos. – deu uma pausa - Depois que você me ouvir por dez minutos, eu te solto, você pode pegar a sua arma e me levar de volta para a Clairvaux, onde eu vou cumprir a minha pena direitinho.
O celular do Aquariano, que tinha caído no chão por causa da briga, começou a tocar. Os dois ficaram olhando para o aparelho.
- Posso atender ? – o policial pediu.
- NÃO. – o Escorpiniano disse rispidamente e pegou a arma, destravando-a e apontando para o francês. Depois foi até onde estava o celular e desligou-o. – Você vai prestar atenção APENAS em mim. – falou em tom seco e aproximou-se da cabeceira, ainda mirando o investigador.
O Aquariano gelou e ficou petrificado, mas o presidiário apenas levantou o telefone, extensão do que estava na sala, e deixou-o ligado. Certamente se alguém tentasse ligar para a casa do francês, não conseguiria falar.
Depois disso Milo voltou a se afastar do policial e sentou-se novamente aos pés da cama, com a arma travada e perto de sua mão.
- Sabe Kamus, depois que eu cheguei na França e conheci o Afrodite minha vida mudou. Eu tinha saído com outros homens na Grécia, mas era só por sexo, ou aliviar (1), se você preferir. Mas depois que eu conheci o Dido, - deu um belo sorriso - eu sentia vontade de estar com ele o tempo todo. Ele foi o primeiro homem que eu beijei por vontade de beijar e não apenas beijar por querer fazer sexo com ele.
O investigador continuava mudo, apenas ouvindo.
- O Afrodite não era SÓ um garoto de programas. Ele era MEU namorado, MEU companheiro. Ele era MEU AMIGO. Ele era a ÚNICA pessoa com quem eu podia contar.
O francês já fazia algumas suposições sobre o porquê do presidiário estar falando sobre seu relacionamento com o Pisciano. Será que Milo culpava o policial por não estar junto com o sueco ?
- Sim, Kamus, – afirmou com a cabeça – o Dido era maravilhoso, - sorriu encantadoramente – maravilhoso, mas tinha um grande defeito. – o sorriso morreu em seus lábios – Ele não me amava. Eu SEMPRE soube que era do cafetão que ele gostava, mas sempre fingi que isso não era verdade. – deu uma pequena pausa, perdendo o olhar por alguns instantes – Mas não pense que o Dido era seco comigo. Não. Ele SEMPRE me tratava muito bem, SEMPRE se esforçava para me amar. – disse e fixou os belos olhos azuis no francês.
O investigador olhou para o relógio. Torcia para que fosse o indiano que tivesse ligado e que percebesse que havia um problema. Agora caia em si. Por que ao invés de deixar um recado para o Virginiano, simplesmente não ligara para Aioria e pedira para ele vir até sua casa ? "Arre Kamus, como você é BURRO !" - sua mente o recriminou.
- Aí, - o criminoso continuou - em um dia muito infeliz minha mãe morreu e eu fui preso. E não adiantou colaborar com a polícia, responder todas as perguntas, contar detalhes dos meus crimes ou dizer onde estavam os roubos. Eles não deram a mínima – disse em tom de mágoa – e me proibiram de ver minha mãezinha uma última vez. – respirou fundo. Não queria se emocionar - Mas apesar disso, investigador, eu estava bem, estava AMANDO o Afrodite e ACREDITANDO que ele estava tentando me amar. Eu estava bem, MUITO BEM. – disse cerrando os olhos – MUITO BEM, até que VOCÊ – levantou-se e apontou para o francês - apareceu e destruiu TUDO.
- Vai me matar por causa disso ? – o policial perguntou inexpressivamente.
O criminoso deu uma breve gargalhada.
- Kamus, Kamus. – disse ainda sorrindo - Eu vi o jeito que você me olhou quando saímos do presídio. Você ME COMEU com os olhos. - acusou-o como se isso fosse muito sujo - Só faltou pedir garfo e faca. Eu queria fugir e encontrar o Dido e quando eu vi seus olhos cheios de desejo, eu percebi que bastava te seduzir para tentar escapar. – falou e voltou a sentar-se.
O investigador ficou sério.
- Ora Kâ, eu sei que você não é burro e já tinha percebido meu joguinho de sedução. – deu uma pausa e sorriu maravilhosamente – Tudo bem. Eu confesso. Tentei mesmo te seduzir. E porque não ? Você é bonito, - falou olhando-o de cima a baixo - cheiroso, - aspirou o ar - tem uma voz deliciosa... hummm, meu francesinho. Não tem como não te querer. – disse em tom sedutor, saboreando as palavras, o que causou um arrepio no Aquariano.
- Você se esqueceu de dizer como eu sou agradável. - o francês comentou sarcástico para ganhar tempo. Se conseguisse manter o grego ocupado com a conversa, Shaka poderia chegar.
- Seu jeitinho agradável ? - questionou sorrindo - Humpf ! Você foi extremamente grosso quando você falou comigo na Clairvaux. Para falar a verdade, cheguei a achar que você era a encarnação do mal.
O investigador não comentou nada.
- Só mudei de idéia - o presidiário continuou – quando eu já estava fora da prisão e fui para a sua casa, no primeiro dia. Quando eu acordei e machuquei o pulso, parecia que eu estava vendo outra pessoa. Você foi TÃO doce em cuidar do meu machucado que me surpreendeu. Aliás, não sei o que me surpreendeu mais: se o seu jeito doce de cuidar de mim ou se o seu jeito grosso de cuidar de mim. Num minuto você era um anjo, no outro parecia um demônio. – queixou-se.
- Eu não sou burro, Milo. Tinha percebido seu joguinho para me seduzir. Eu já estava atento e fiquei MUITO aborrecido quando você tirou sarro de mim dizendo que minhas mãos eram suaves (2). Suaves como as mãos de um gay, não é ? – questionou secamente – Depois de me irritar com este comentário, o que esperava que eu fizesse ? Que te agarrasse e te desse um beijo ? – falou com desdém.
– Gay ? – questionou surpreso – Não. Em nenhum momento eu pensei isso. – replicou balançando a cabeça em negativa – Quando eu disse que suas mãos eram suaves era porque eu estava te elogiando.
- Jeito estranho de elogiar um homem.
- Bem... mas se você é gay, não deveria se ofender tanto assim.
- Sabia que o comentário era ofensivo. – o Aquariano emendou.
- Não. Não era não. – deu uma pequena pausa - Eu não queria te ofender. Eu queria que você me tratasse bem e sabia que se te aborrecesse, eu teria justamente o contrário. – deu outra pausa - Só que com você, Kamus, nada disso adianta. Você é um poço de contradição. Você é impredizível.
- Imprevisível, você quer dizer. - corrigiu-o.
- Impredizível, imprevisível, seja lá o que for. – deu uma pequena pausa - Como é que você pode me tratar TÃO BEM em uma hora e ter palavras TÃO DURAS em outra ? – questionou tentando entender o comportamento do policial – Você é frio demais. Como é que você pôde falar comigo DAQUELE JEITO depois que eu voltei do shopping com a Marin ? (3)
- Ora Milo, querer escolher o castigo que você ia receber foi demais, não ?
- Tudo bem, mas precisava ser TÃO duro ? – indagou - Você SABIA que eu estava me sentindo um lixo depois de ter falado com o Dido. Eu vi que a Marin gravou nossa conversa na praça de alimentação e sei que ela te contou tudo. Você SABIA como eu estava, mas mesmo assim, não pegou leve.
O policial ficou levemente surpreso. O criminoso era esperto. Percebera que estava sendo gravado naquele dia.
-oOo-
Um pouco longe dali...
- Estranho. - Shaka disse a si próprio - Parece que o Kamus desligou o telefone.
O loiro tentou ligar para a casa do chefe. Só dava ocupado. Ligou para a IPF.
- Bom dia, investigador Mu falando.
- Ucho, o Kamye está por aí ?
- Não Ucho, o Kamye não está. Como foi no médico ?
- Tudo bem, mas estou preocupado com o Kamus. Ele deixou um recado no meu celular dizendo que ia para casa e estava com o Milo.
- Você já tentou ligar para ele ?
- Celular desligado. Casa ocupada.
- Estranho... Vou ligar no prédio, só um minuto.
O indiano ficou esperando.
- Ucho ?
- Oi Mu.
- O segurança confirmou. O carro da IPF está na garagem. Ele subiu com o Milo há algum tempo. Parece que o grego está ferido.
- Não estou gostando disso, Mu. - deu uma pequena pausa - Vou para a casa do Kamus. Só espero que não seja nada grave e que não seja nenhuma armação do Milo. Eu não sei... estou com um mau-pressentimento. Acho que o Kamye corre perigo.
- Vou tentar ligar mais uma vez e te encontro lá.
- Ok.
Shaka entrou no carro e disparou pela avenida. Mu avisou Aioria e os dois também seguiram para lá. Marin ficou tentando ligar para o celular e para a casa do Aquariano. Sem sucesso.
-oOo-
Enquanto isso, no apartamento do francês...
- Sim, é verdade. Eu sabia como você estava depois de encontrar com o Afrodite. – disse tranqüilamente - Por isso não te enforquei quando você deu o troco na feira de artesanato.
- Ah ! Sim. Eu disse que você MERECIA ser abandonado, não é ? – o presidiário frisou bem a palavra e viu o Aquariano desviar o olhar e, depois de algum tempo, engolir seco. Pelo jeito aquilo ainda machucava muito o policial. Milo se compadeceu um pouco – Ok, Kamus, eu sei que eu te magoei e não deveria ter falado aquilo, mas COMO você acha que eu estava depois de TUDO o que você disse, quando eu voltei do shopping ? Você sabia EXATAMENTE como eu me sentia, mas mesmo assim, você me tratou PIOR que lixo (3). Eu te odiei, Kamus. – deu uma pausa – Como eu te odiei. Eu queria te matar. E eu sabia que você queria o mesmo. Ou você acha que eu não lembro que antes de comer a batata-frita (4) você disse que se eu ficasse morrendo você não faria absolutamente NADA ?
- Pois é. – replicou baixinho – Eu disse isso mesmo. – respondeu ainda com o olhar vazio.
O Escorpiniano se levantou e aproximou-se. Kamus nem se mexeu. Lembrar-se de como se sentia abandonado e sozinho na infância, lembrar-se de ter sido traído e abandonado por Shura, lembrar-se de ter sido traído e abandonado até pelo próprio grego; tudo isso doía muito. A solidão, por vezes tão sua amiga, agora era um veneno amargo que lhe descia pela garganta.
O criminoso parou ao lado do policial. O Aquariano continuava imóvel. Duvidava que qualquer coisa que o preso fizesse fosse pior que a dor que sentia em seu peito naquele momento. Milo tocou o rosto do outro e levantou-o suavemente, fazendo-o olhar para si.
- Mas você não agiu assim, não é ? – perguntou olhando fixamente os olhos azuis do francês – Eu fiquei doente, mas você me levou para a sua casa e cuidou de mim.
- Eu cometi um GRANDE erro. - o investigador disse rispidamente e tirou o rosto das mãos do criminoso.
- Grande o suficiente para salvar a SUA VIDA. – replicou secamente, cerrando os olhos.
O policial tornou a olhar para o presidiário, mas sem deixar o ar altivo de lado.
- Sim, Kamus. Eu tentei te matar naquele dia. – revelou - Eu tentei pegar o seu revólver. Eu já sabia o código da porta porque eu tinha visto você digitar. Era só te matar e fugir. Eu me aproximei bastante de você, mas quando eu te vi ali adormecido, eu simplesmente não consegui. – deu uma pausa - Eu cheguei bem pertinho de você e acariciei seus cabelos. Você estava dormindo tão lindo, tão doce. – deu uma pausa - Eu lutei contra mim mesmo para saber se te matava ou não. Eu sabia que só tentar fugir não seria suficiente. Sabia que você viria atrás de mim, então decidi te matar. - disse seriamente - Eu tentei pegar o seu revólver e poderia se quisesse, mas lembrando tudo o que você tinha feito enquanto eu estava doente, eu te dei uma chance. Antes de pegar a arma eu soltei a corrente da algema de propósito. Se você acordasse, eu não te mataria.
O investigador ficou um pouco surpreso com a revelação.
- Só que você acordou. – o presidiário continuou - E pior, apontou o revólver para mim.
- Eu poderia ter te matado.
- Você foi treinado para isso. Você teria muito mais controle com uma arma na mão que eu.
- Você arriscou demais.
- Primeiro achei que estava arriscando, mas depois da ligação do seu ex-, eu vi que não era arriscar. AHH ! GRRRR ! - rosnou - Como eu ODEIO aquele Shura imbecil. Todo certinho, bonitinho, perfeitinho. – disse em voz de falsete - Você não sabe como meu sangue FERVIA quando eu te via sorrindo para ele. Até no telefone você sorria !
O Aquariano estava mudo. Achou melhor não perguntar porque o outro odiava o Shura.
- Mas o pior de tudo que você já fez para mim, Kamus, foi o jeito que você me tratou no domingo. Se eu soubesse que você me trataria daquele jeito, eu teria mesmo te matado. - replicou seriamente.
- Eu te tratei mal no domingo ? - perguntou surpreso.
- Não. Pelo contrário. Você foi EXTREMAMENTE amoroso comigo no cemitério, me levou para jogar golfe, ficou preocupado e ATÉ PEDIU DESCULPAS enquanto eu FINGIA que chorava no banheiro. Sim. – comentou ao ver uma leve surpresa no rosto do outro - Eu estava fingindo. Eu queria te seduzir e queria que você sentisse pena de mim, então eu fingi que estava chorando.
O Aquariano estava decepcionado consigo mesmo e com sua falta de percepção. Ainda tinha muito a aprender sobre a mente criminosa. Agora sabia que tudo não passara de armação do Escorpiniano. Tudo mentira. Os sorrisos, os toques, as palavras no clube de golfe. (5) Tudo era apenas parte de um ardiloso plano de conquista. Agora sabia que Milo não o desejara e não o queria como namorado. Só o que o grego queria era usar o policial. Só mesmo um imbecil carente como o francês para cair nas garras de um sedutor mentiroso daqueles e ainda desejar ser tomado por ele.
Kamus balançou a cabeça em negativa, repreendendo sua atitude e suspirou. Como tinha sido tolo.
- Eu continuei fingindo no carro e até chorei. Então você propôs o teatro e depois fomos a um restaurante maravilhoso. Você até me deixou dormir sem algemas. Lembra-se ? – questionou sorrindo.
O francês sabia que errara feio. O coração doía por ter sido tão ingênuo. Como pôde ser tão estúpido ? Milo realmente jogara direitinho. Conseguira não só seduzir o policial, mas fazê-lo acreditar que havia algum sentimento envolvido. Que absurdo ! O Aquariano chegou a se imaginar com o ladrão !
O investigador suspirou. Sentia-se derrotado. Derrotado por si próprio por sua falta de capacidade de controlar os sentimentos diante do Escorpiniano.
- Kâ, eu não estou dizendo tudo isso para te machucar, mas para que você saiba toda a verdade.
O policial estava completamente decepcionado consigo mesmo. Agora estava tudo claro. Obviamente Milo estava falando tudo aquilo para zombar de si e mostrar o quanto o francês tinha sido idiota ao se deixar levar.
- E quando eu acordei naquela manhã de segunda, - o grego continuou - eu abri a porta da varanda e pensei em escalar o prédio, mas vi que não dava. Tentei na sala, mas também era impossível. Então eu fui até a cozinha e peguei uma faca. Eu entrei no seu quarto com a faca mão. Você virou de costas. Seria muito fácil te matar.
O investigador suspirou de leve, olhou para baixo e balançou a cabeça em negativa. "Kamus, como você pôde ser TÃO burro ?" – questionou-se, sentindo-se desprezível.
- Mas me diz Kâ, - o presidiário questionou amorosamente - Diz COMO eu poderia matar a pessoa por quem eu tinha me apaixonado ?
Um tremor passou pelo corpo do Aquariano, seguido de uma onda de calor. O francês arregalou os olhos, olhou para o ladrão e sentiu a garganta secar.
- Eu te desejei tanto, meu francesinho – disse carinhosamente - e quando você sorriu para mim na varanda, naquela manhã de segunda, (5) eu pensei que ia dar tudo certo. Eu ia propor ficarmos juntos durante a semana, – seu sorriso começou a se desfazer - mas aí aquele IDIOTA do Shura apareceu e estragou TUDO. Você passou a me ignorar não só nas palavras, mas também nas atitudes. – cerrou os olhos e olhou para o investigador com raiva - Ah, Kâ, você não sabe o quanto você me machucava quando sorria para aquele imbecil. Eu tive TANTA raiva de você e do seu comportamento que passei a noite na delegaria pensando em vingança. Meu amor foi deixado de lado e o ódio encheu o meu coração. Eu passei a querer te seduzir, mas era só para te experimentar e depois te abandonar. Eu ia fugir. Ia fugir SÓ para te machucar. Era bem o que você merecia. – disse em tom acusador.
O policial engoliu seco e desviou o olhar.
- Sim Kamus. Eu ia te provar. – aproximou-se mais do outro para falar - Eu ia te provar POR INTEIRO. Eu ia te fazer meu e ia ser grosseiro com você. Eu ia te fazer sofrer. – continuou a atacar o francês - Sofrer MUITO. Até pensei em deixar um bilhete depois que você dormisse. Eu ia dizer "Obrigado pela chave-cartão e pelo sexo. Eu estava precisando". Isso ia te machucar BASTANTE, não ia ? – questionou um tanto sarcástico.
O francês prendeu um suspiro. Sim. Isso machucaria bastante, mas ouvir tudo aquilo também machucava. Continuava olhando para o vazio.
- Mas aí – pegou firmemente o rosto do Aquariano e o fez olhar para si - quando você me chamou de Mon Ange, – seu tom passou para o suave e fez um leve carinho no queixo do policial - eu vi que você estava carente e que era de mim que você gostava. Você não estava me desprezando por causa do Shura. Talvez o que você quisesse era só me fazer ciúmes.
Não. Kamus não queria fazer ciúme. Naquela época seus sentimentos estavam totalmente fora de controle por isso ora tentava suprir sua carência com o espanhol, ora com o grego. Apaixonara-se pelo ladrão e por isso não conseguia destratá-lo completamente, mas ter sua mente atormentando-o a cada momento, recordando-o que eram água e óleo, deixavam-no confuso.
- E então Kâ, - soltou o rosto do francês pois percebeu que tinha sua atenção - quando você pediu para mim (6) não demorar enquanto eu ia buscar o gelo, eu simplesmente... perdi a razão. – o criminoso baixou o olhar e suspirou - Eu decidi fugir naquela hora. Era melhor fugir que te machucar. - deu uma pausa e ficou quieto por algum tempo - Eu sei que eu te machucaria muito mais se eu fosse até o final e te abandonasse. Por favor, entenda. – pediu ao policial em tom de súplica - Eu estava confuso. Nem sabia porque queria fugir. Talvez quisesse fugir de mim mesmo. Eu não sei. Só sei que não queira te machucar mais. – deu outra pausa – Eu corri pela rua, mas não me senti livre. Eu me senti vazio. Vazio por ter te usado e fugido. – falava uma frase atrás da outra, com receio que se parasse, o Aquariano não o ouviria mais - Aí de repente, eu caí em mim. Por que eu estava fugido ? Eu poderia muito bem ter o que eu queria. Eu poderia ter VOCÊ. Eu poderia ter passado uma noite com você e depois voltar para a Clairvaux. Quando eu saísse da cadeia, se você não me quisesse mais, era só por a mão no Van Gogh e voltar para a Grécia. Nem o Dido sabia do quadro. Era TÃO simples.
O Escorpiniano suspirou e baixou a cabeça.
- Como eu fui burro, Kamus. Eu tive você em meus braços – olhou profundamente para o francês - e te deixei ir embora. Eu não devia ter fugido. Eu fui um estúpido. Eu não tinha motivo para fugir. Eu já tinha me convencido que o Dido não gostava de mim, então não adiantava voltar para ele. Era você quem eu queria. VOCÊ. E eu joguei tudo fora. Eu não sei porque fiz esta grande bobagem. – deu uma pausa – Me perdoa. Só o que me importa é o seu perdão. Por favor. - pediu e tentou tocar o rosto do outro.
Kamus se afastou um pouco, fechando os olhos e desviando o rosto. Respirou fundo.
- Kâ, por favor não faz assim, eu me arrependi tanto. – insistiu – Quando eu estava na rua eu pensei em voltar e tentei dar meia-volta, mas eu mal virei e você já foi dizendo "Polícia, pare senão eu atiro". O que mais eu podia fazer ? Eu sei que perdi a razão e saí correndo, mas não era para fazer isso. Por favor me perdoa. Eu fui um idiota, um burro, um imbecil. Eu vi o quanto você sofreu naquele dia. Tudo por minha culpa. – baixou momentaneamente a cabeça - Eu me senti um lixo por te fazer chorar. Um LIXO !
O Aquariano continuava com o rosto virado para o lado, mas agora perdia completamente o olhar no vazio e tinha uma expressão de tristeza. Milo ajoelhou-se junto à cama.
- Kâ, por favor me perdoa. Eu sei que você está magoado comigo e te dou toda a razão, mas eu estou aqui, ajoelhado, te pedindo perdão. Eu não quero minha liberdade, o quadro do Van Gogh ou o Dido. Eu só quero o seu perdão. Mais nada. Por favor. – implorou.
O investigador continuava encarando o vazio, sem olhar para o prisioneiro.
- Kâ, por favor não me ignora. – pediu colocando as mãos sobre as pernas do francês - Eu sei que só mereço o seu desprezo, mas eu me arrependi. Se eu pudesse fazer o tempo voltar... – fez um leve carinho na perna do Aquariano – Kâ, meu francesinho, por favor, eu sei que te dei todos os motivos para me odiar, mas eu estou te dizendo que foi uma loucura da minha parte. Eu não devia ter fugido. Eu não sei porque eu fiz isso. - deu uma pausa - Talvez você nem veja assim, mas quando eu te falei sobre o Van Gogh, foi uma forma de te mostrar que eu estava arrependido. Nem o Dido sabia, Kamus. Você está entendendo o que eu estou falando ? Eu te dei TUDO o que eu tinha. TUDO ! Só o que eu tenho agora é a roupa que estou vestindo. Isso não significa nada para você ? – questionou em tom de súplica, mas o policial continuava impassível – Kâ, eu não estou tentando fugir e nem quero te machucar. Quero voltar para a Clairvaux e cumprir toda a minha pena. Quero sair de lá limpo. Quero sair em dia com a sociedade. Não é mais pelo Dido que eu vou fazer isso. Eu vou fazer isso por você. Por nós dois. – deu uma outra pausa e ficou esperando – Kamus, você está me ouvindo ? Está ? Por favor fale alguma coisa.
O Aquariano lançou um olhar extremamente frio para o grego e depois olhou para o relógio.
- Seus dez minutos acabaram. – o policial sentenciou.
O preso olhou para o relógio e voltou a olhar para o outro.
- É só ISSO o que você tem para me dizer ? – o ladrão questionou incrédulo.
Alguns segundos se passaram, mas o policial permanecia mudo e com o semblante frio. Milo suspirou e se levantou.
- Vire-se - pediu ao investigador enquanto pegava as chaves da algema.
O criminoso soltou o francês e ofereceu os pulsos em seguida.
- Sabe Milo ? - o Aquariano começou a falar assim que levou o outro para a sala, já algemado, e ficava com a arma apontada para ele - Na verdade tenho algumas coisas para te dizer.
- Antes de atirar em mim ?
O policial afastou-se um pouco do preso e baixou a arma.
- Não vou atirar. Só vou te contar umas verdades.
- Que verdades ? - o grego fez cara de dúvida.
- Eu sabia que o Shaka tinha dado dinheiro a você no dia em que você encontrou com o Afrodite. (2) A Marin também sabia. Eu a avisei por uma mensagem no celular. Inclusive, ela não gravou apenas a conversa que teve com você na praça de alimentação, mas gravou, com uma câmera, seu encontro com o Afrodite. – o Escorpiniano fez uma cara de surpresa – Você não esperava mesmo que eu acreditasse que você não ia aprontar, não é ? Eu não sou tonto Milo. A Marin não estava sozinha. Um policial disfarçado seguia vocês o tempo todo. Tudo o que queríamos era localizar seu comparsa e prendê-lo. Você apenas nos levou direto a ele.
- Você prendeu o Dido ? - perguntou surpreso e entristecido.
- Ele era um suspeito em potencial e nós não apenas o prendemos, como prendemos o cafetão também.
- Por que você não me contou isso ?
- Eu precisava que você confiasse em mim. Foi tudo uma farsa, Milo. Deixar você me seduzir fazia parte do jogo. Eu fingi que começava a me interessar por você. Fiz isso só para descobrir mais pistas do novo Escorpião Escarlate. – disse bem seguro de si.
Era tudo mentira do investigador. Era óbvio que não planejara se apaixonar pelo grego.
- Então, você estava fingindo ? - o presidiário perguntou em tom de mágoa.
- A cada minuto. – respondeu – Tudo bem que eu me descuidei e você fugiu, mas se você estava pensando que ia me usar, você estava completamente enganado. – deu um sorriso um tanto sarcástico – Eu também queria sexo. Estava com tanta vontade de saciar minha carne quanto você.
O grego balançou a cabeça em negativa, sem acreditar no que o outro dizia.
- Milo, você acha mesmo que tinha alguma importância para mim ? Na sexta passada eu não quis te trazer para a minha casa. Você sabe por quê ? Porque no final de semana eu saí com uma pessoa. Não. Não era o Shura. Era um outro cara. Eu tinha um encontro. – mentiu. Não podia dizer que na verdade tinha ido atrás de um garoto de programa e chamara-o de Milo - Desculpa se a verdade te machuca, mas para mim – disse com desdém - você não passa de um belo corpo. Eu não sinto nada por você a não ser desejo. – deu uma pausa e sorriu novamente com sarcasmo – Mas é obvio que isso não é nada. Sexo é apenas sexo. Se ao invés de transar com você eu tiver uma noite de sexo com qualquer um, é a mesma coisa.
- Duvido. Duvido que tenha sido tudo fingimento. Eu não acredito em UMA palavra que você disse. – replicou se aproximando. O policial apontou-lhe a arma - Vai atirar, Kamus ? ATIRE. – disse e aproximou-se mais – Você é mentiroso. Você NÃO estava fingindo.
- Estava sim.
- Ah, é ? Então quando você me abraçou no cemitério, você estava fingindo ? – perguntou alterado - Quando me pediu desculpas no banheiro do campo de golfe quer dizer que também era fingimento ? E quando me beijou no escritório ? Você fingia ? - já estava perigosamente perto - Estava fingindo quando me chamou de Mon Ange ? Estava fingindo quando pediu para eu não demorar quando fui pegar o gelo ? FALA ! - replicou irritado e colou no francês, puxando o cano da arma que o policial segurava para seu coração – Fala, ou ATIRA ! – desafiou.
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Na portaria do prédio...
Shaka mostrou sua identificação na portaria do prédio e disse que estava em um caso especial e que o investigador Kamus poderia estar em perigo. Foi tão eloqüente que o segurança permitiu sua entrada sem questionar.
- Não interfone o apartamento e fique de olho nas câmeras. – o loiro pediu - Qualquer coisa fora do comum, chame a polícia. - disse e correu prédio adentro.
O segurança assentiu positivamente, sentindo uma grande responsabilidade pesar-lhe sobre os ombros.
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No apartamento...
O Aquariano estava surpreso e mudo.
- Fala Kamus. – pediu apertando-se contra o revólver - FALA que você fingiu quando entrou no banheiro com lágrimas no rosto e com vontade de me matar por ter te abandonado. FALA que fingiu que passou a noite toda chorando. FALA que fingiu que ficou TÃO MAL no outro dia que não conseguiu NEM trabalhar. FALA que está fingindo agora que vai atirar e que está fingindo que não quer que eu te beije. – disse olhando sedutoramente para os lábios do outro.
- Não. - disse baixinho.
- Não o quê ? - replicou sensualmente em um quase-sussurro e tocou o rosto do policial, acariciando-o.
Kamus abriu a boca para emitir um gemido abafado e tirou a arma do peito do outro.
- Fala. Fala que não quer sentir minha pele na sua. - o Escorpiniano disse baixinho e fechou os olhos, roçando a face no rosto do outro e aproximando-se de sua boca. - Fala que não quer sentir meu gosto. - beijou-lhe bem perto dos lábios. O policial estremeceu completamente – Fala, meu francesinho. – sussurrou.
- Não. - disse com a voz tremida e começou a fechar os olhos.
- Não ? - o grego perguntou e abriu a boca para beijar o policial.
O Aquariano avançou e colou nos lábios do ladrão, invadindo sua boca quente e passando os braços em volta do preso. Milo correspondia de forma intensa, mesmo com a pouca liberdade de movimentos por causa das algemas.
-o-
O elevador que tanto demorara finalmente chegou no décimo primeiro andar. Shaka saiu com a arma destravada. Apertou a campainha e bateu na porta, ao mesmo tempo, com força.
Os dois, que ainda se beijavam, levaram um susto e interromperam o beijo.
- Quem será ? - o grego questionou.
Kamus olhou na tela de identificação.
- É o Shaka. – disse e abriu a porta.
- MÃOS AO ALTO ! - o loiro gritou e apontou a arma para o Escorpiniano que levantou as mãos algemadas - Você está bem ? - perguntou para o francês sem tirar os olhos do preso.
- Estou. - Kamus respondeu - Pode abaixar a arma, Shaka. Está tudo bem.
Milo relaxou um pouco e fez menção de baixar as mãos. O indiano rapidamente posicionou-se na frente do Aquariano, como um escudo humano, e mirou bem o presidiário, preparando-se para atirar. O ladrão arregalou os olhos e ficou paralisado, ainda com as mãos levantadas.
- ÁGUIA 58, Shaka, ÁGUIA 58. - o investigador disse rapidamente ao subordinado.
O loiro baixou a arma e travou.
- Por que você disse o código de segurança SÓ AGORA ? - repreendeu o chefe - Eu achei que ainda tinha algum problema.
- Desculpa. Eu acho que me surpreendi tanto com a sua entrada TÃO repentina que acabei esquecendo o código para dizer que estava tudo bem.
- Posso baixar as mãos ?
- Por que você não atendeu o celular ? - o Virginiano indagou.
Kamus colocou a mão na cintura.
- Vai ver que ele caiu.
- E o telefone da casa ? – o indiano insistiu - Por que só dá ocupado ?
- Talvez a Nicolle não tenha desligado direito.
- Posso baixar as mãos ?
- O que vocês estavam fazendo aqui ? – Shaka questionou.
- O Milo veio trocar de roupa. Ele se machucou no carro. Depois a gente só conversou um pouco.
- Posso baixar as mãos ?
- PODE ! - os dois policiais responderam, irritados, ao mesmo tempo.
- Kamus, eu fiquei preocupado. Primeiro você deixa um recado e depois não atende o celular ? - pegou o telefone e ligou para o namorado - Mu ? Águia 58. Abortar a missão. Está tudo sobre controle. - deu uma pausa para ouvir - Ainda não sei. Eu te ligo. Beijos. – respondeu e desligou - Vamos para a Clairvaux agora ?
- Shaka, será que antes eu posso falar com o Kamus ? Três minutos. – o Escorpiniano pediu - Prometo que não passo disso. - olhou para o francês - Por favor. – suplicou.
- Três minutos, Shaka. - o Aquariano afirmou.
- Ok. Estou na cozinha se precisar de mim. - e saiu.
- O que você quer, Milo ? - perguntou secamente depois que o outro saiu da sala.
- Primeiro que você pare de fingir para mim.
- E o que você quer que eu faça ? Que grite bem alto para todo mundo ouvir que me apaixonei por você ? Esquece. Isso NUNCA vai acontecer.
- Por que você me trata tão mal, Kamus ?
- Para ver se coloco um pouco de juízo nesta sua cabeça oca. Você não entende ? Somos policia e ladrão. Não dá. É TÃO simples. - disse irritado.
- Kâ, daqui a dois anos e meio eu vou conseguir uma condicional. Eu já vou ter pago (6) parte da minha dívida com a sociedade e depois de onze anos eu...
- Você vai continuar a ser um ex-presidiário.
- Se eu sou tão ruim assim, por que você me beijou agora pouco ?
- Muitas vezes é difícil controlar a carne, mas eu sei controlar a razão. Pare de tentar me beijar, me seduzir, me tocar. E quando você sair da prisão, NÃO me procure, NÃO me ligue. ESQUEÇA de mim. Eu só quero apagar tudo o que aconteceu até agora. Foi tudo uma farsa e o que não foi uma farsa, foi um erro. Estamos em caminhos diferentes.
- Mas Kamus, você disse que seria perfeito se fossemos namorados.
- Acorda Milo. Acha mesmo que seria perfeito ? Seria um pesadelo para mim.
- Humpf. Também eu não sou tão ruim assi...
- Milo, é simples. Você NÃO cabe no meu mundo. Será que é TÃO difícil de entender ? É tão difícil entender que eu teria VERGONHA de dizer que estou com você ? – questionou com frieza.
O grego estava paralisado. Como o francês podia ser assim tão duro ?
O Aquariano tentava não pensar. Gostava do ladrão e o que mais queria era ficar com ele, mas era um romance impossível. A sociedade em que vivia jamais aceitaria o relacionamento de um investigador de futuro brilhante com um criminoso. Se insistisse, poderia até perder sua indicação para Superintendente ou perder a credibilidade como policial. Era um risco muito grande a correr. O melhor era acabar este relacionamento mal começado. Infelizmente a melhor forma de acabar era cortar o mal pela raiz. Tinha que afastar o preso e fazer com que ele o odiasse eternamente. Seu coração doía, mas sabia que seria melhor para ambos. Seria muito pior ver o grego ser desprezado pelas outras pessoas por ser ex-presidiário ou por não ter uma educação primorosa. Para a infelicidade de ambos, no mundo em que o francês vivia, carreira, formação, status social e educação eram ESSENCIAIS. Não dava para sacrificar o Escorpiniano desta forma.
O preso suspirou magoado.
- Claro, Kamus. Como fui burro. Burro, burro, burro. A questão não é apenas polícia e ladrão. É muito mais que isso não é ? - perguntou com os olhos marejados - Burro. Fui MUITO burro. Estúpido.
O Aquariano permanecia calado.
- Você é bonito, educado, inteligente e rico. É ÓBVIO que uma pessoa que joga golfe; que tem um carro para usar SÓ no final de semana; que mora SOZINHO em um apartamento de QUATRO suítes; que coloca guardanapo na perna para comer; que assiste peças (6) no camarote e que experimenta vinho antes de deixarem servir, não ia mesmo se interessar por um cara estrangeiro, pobre, sem faculdade, sem um pingo de bons modos e presidiário. – deu uma pequena pausa - É isso, não é policial ? Você não quer manchar a sua pele branquinha – disse em tom sarcástico - se esfregando com gente da minha laia, não é ? Não quer ficar com alguém que vai "no" banheiro ao invés de "ao" banheiro, não é ? - perguntou com a voz embargada – Dar um beijo escondido ou ter uma transa longe de todo mundo, tudo bem. Mas deixar alguém saber que se deitou com o ladrãozinho ? Deixar alguém descobrir que o estrangeirinho sujou o seu lençol com toda aquela pobreza ? Isso JAMAIS !
O francês não respondeu nada.
- Me desculpa policial. - replicou secando uma lágrima com força - Desculpa por tomar o seu tempo à toa e te fazer perder mais três minutos. - deu uma pequena pausa - Mas obrigado por tudo. Agradeço mesmo, pois algumas vezes você foi muito gentil comigo. Mesmo eu sendo "lixo estrangeiro" e "apenas um ladrãozinho" - secou outra lágrima - Posso ser burro, mas não sou mal agradecido. Obrigado e desculpa. - e foi em direção à cozinha - SHAKA ! - gritou - VAMOS !
O indiano apareceu e viu o ladrão secando as lágrimas, que caíam incessantemente, e o Aquariano, mudo. Certamente acontecera alguma coisa.
- Vou "NO" banheiro rapidinho. - disse com a voz chorosa e se dirigiu para a suíte da empregada.
- O que aconteceu ?
- Não existe justiça no mundo, Shaka.
- Por quê ? O Milo pediu justiça ? Ele queria ser libertado ? Ele te pediu para deixar ele fugir ?
- Não. Ele não me pediu isso. Ele quer realmente cumprir a pena e ficar em dia com a sociedade.
- E por que não existe justiça no mundo ?
- Por que não nos é permitido escolher. (7) - replicou com o olhar vazio.
-oOo-
A caminho da Clairvaux...
Fazia quase uma hora e meia que estavam na estrada. Milo estava encolhido no banco de trás do carro. Olhava a paisagem e segurava o choro. Algumas vezes secava uma ou outra lágrima que descia teimosa.
Shaka ligara o rádio para distrair e tentar aliviar o clima tenso que estava dentro do carro. O grego parecia trancado dentro de si mesmo e se o Aquariano não respirasse, poderia ser confundido com uma estátua.
Tocava uma música quando finalmente o francês se moveu, mudando o dial do rádio. O indiano conhecia a música rejeitada. Wicked Game de Chris Isaak (8). Jogos Perversos. Falava de uma pessoa apaixonada por outra que não lhe respeitava os sentimentos.
O loiro olhou rapidamente para o outro investigador. Kamus era bom em esconder o que sentia, mas era óbvio que estava triste. Wicked Game. Será que os dois tinham se envolvidos emocionalmente ? Não seria impossível, mas se fosse verdade, o chefe deveria estar louco. Milo era um presidiário e tinha um perfil social completamente diferente do francês. Se bem que, o que é isso comparado ao que se sente ? O próprio Shaka não se apaixonou por Mu, um suposto traidor (9) ? A sociedade que fosse às favas.
Wicked Game. Pela cara do superior, o Virginiano deduziu que brigaram feio. Pena que não tinha o mau hábito de ouvir a conversa alheia, ou saberia o que conversaram. Oh, dúvida cruel. O que será que eles falaram ? Será que o Aquariano deixara bem claro que ele e o ladrão não faziam parte do mesmo mundo ? Se fosse isso, estaria explicado o semblante carregado dos dois.
Um posto de serviços se aproximava. O indiano saiu da estrada e adentrando o posto, parou o carro no estacionamento.
- Milo, você não quer descer ? - o loiro perguntou - Esta é a última parada antes da Clairvaux. Você não quer ir ao banheiro ?
Apenas negou com a cabeça, continuando a olhar para fora.
- Você não quer que eu te traga nada ? - o francês questionou gentilmente e o ladrão fungou, respirou com dificuldade, secou uma lágrima e negou veementemente com a cabeça. - Nem um bolo de chocolate ? - o grego suspirou e colocou a mão no rosto, para esconder a cara de choro. Assentiu positivamente.
Kamus sentia-se um monstro. Tinha machucado muito o Seu Anjo. Exatamente como fez com Shura. Mais uma vez sua profissão ganhava prioridade na sua vida. Tinha sofrido por seis meses por causa do espanhol. Quanto tempo sofreria pensando no ladrão ? Era uma incógnita.
-o-
- Sinto muito. Não tinha bolo de chocolate. - entregou um bolo de cenoura com cobertura de chocolate e um chocolate para o preso.
- Obrigado. - disse com a voz embargada e sem olhar para o policial.
O coração do Aquariano parecia que se partira ao meio, tamanha era a dor em ver o sofrimento do outro. Milo estava nitidamente em pedaços.
-oOo-
No presídio.
Um dos guardas recepcionou o preso e o algemou.
- Só um minuto. - o grego pediu ao carcereiro e estendeu a mão ao indiano, sorrindo levemente. - Obrigado por tudo.
- Ande na linha. - o Virginiano replicou com um sorriso e cumprimentou o criminoso.
- Obrigado por tudo, Kamus. – Milo disse olhando para o policial e ficou algum tempo com a mão estendida para ele.
O francês olhava fixamente para a mão que lhe era oferecida pelo presidiário. O ladrão esperou, mas nada aconteceu. Os olhos do grego marejaram pela demora. Mais alguns segundos passaram, mas o Aquariano não lhe deu a mão.
O Escorpiniano baixou a própria mão. O investigador olhou para ele. Milo apertou os lábios e engoliu seco. Não podia chorar como uma garotinha. Deixou a raiva invadir seu coração. Antes o ódio que a tristeza. Estava na cadeia.
- Sucesso. – replicou secamente para policial e se virou.
Kamus apenas acompanhou, em silêncio, o outro ir embora. Quando a porta se fechou, o francês chorou por dentro. Teve medo de tocar o grego e sucumbir. Medo de denunciar o que sentia através do olhar. Medo de sentir o calor das mãos do outro e falar o que não devia.
Agora tudo tinha acabado. Aquela porta o separava da pessoa que MAIS desejava ter ao seu lado, mas que por ironia do destino, também era a pessoa mais proibida de todas.
Kamus tinha sido duro. Não. Tinha sido DETESTÁVEL. Certamente Milo o odiava.
Infelizmente, era melhor assim.
-oOo-
Próximo capítulo – Kamus entra em paranóia por causa do grego e acaba tomando uma atitude inusitada. O francês vai até a Clairvaux interrogar o ladrão e Milo estranha o comportamento do policial. O Aquariano obtém pistas esclarecedoras sobre o crime e desvenda o mistério.
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Notas da autora - explicações
( 1 ) Termo utilizado pelo francês para designar sexo no Capítulo VI – Verdadeiras Intenções
( 2 ) História relatada no Capítulo IV – Uma grande chance
( 3 ) História relatada no Capítulo V – Encontrando Afrodite
( 4 ) História contada no Capítulo VI – Verdadeiras Intenções
( 5 ) História contada no Capítulo VIII – Irresistível
( 6 ) Calma. Não me matem. Eu não assassinei o português. Não se esqueçam que é o Milucho quem está falando e além do mais, ele não é francês. Vamos dar um desconto para o garoto, ok ? XD
( 7 ) História contada no Capítulo VIII – Irresistível. Milo disse que se houvesse justiça, eles poderiam escolher se apaixonar um pelo outro.
( 8 ) Wicked Game de Chris Isaak (www letras terra com br – Wicked Game - Tradução ou www kboing com br) – PS: na verdade este cap foi escrito ao som desta música.
( 9 ) História contada no Capítulo II - Kamus versus Milo
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Notas da autora - Agradecimentos
Oiê ! Voltei de viagem e como prometi, segue mais um cap. Milhões de beijos ao carinho de todos os que lêem a fic. Vcs não sabem o quanto fico feliz, beijo a todos, mesmo os que ainda não sentiram vontade de mandar review. Agradeço por acompanharem.
Bem, claro que mando beijos especiais ao que enviaram reviews: Athenas de Aries; Litha-chan; Ophiuchus no Shaina; Margarida; Guilherme; Gabi Cotrim; Anjo Setsuna; Aries sin; XxLininhaxX ; Mila Boyd ; Srta. Nina ; Ilía Chan; Mila Nesa; Shakinha;; Miki-chan ; Camis; Lady Yuuko; Kagura; Nana Pizani; Lina Lunna; Virgo-Chan; Babi-deathmask; Sah Rebelde; Makie; Tsuki-chan (desculpe não conseguir responder, mas não tenho seu e-mail)
Dedico este cap especialmente a Lina Lunna que faz niver HOJE ! Parabéns girl e muitas felicidades. Aqui está o cap. Espero que goste.
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Nota da autora - contato
Podem me contatar, brigar, criticar, reclamar, dar dicas ou só escrever para bater papo no erika(ponto)patty(arroba)gmail(ponto)com (não tem o BR) ou via review neste site. Como já sabem, respondo a todos.
Bela Patty
- Abril / 2006 -
