O ESCORPIÃO ESCARLATE

Capítulo Anterior - No capítulo anterior, Kamus e Milo conversam e trocam mentiras e verdades. O Aquariano é duro com o grego e o magoa. Shaka e o francês levam o Escorpiniano de volta ao presídio. O investigador de belos olhos azuis endurece o coração.

-o-

...Kamus apenas acompanhou, em silêncio, o outro ir embora. Quando a porta se fechou, o francês chorou por dentro. Teve medo de tocar o grego e sucumbir. Medo de denunciar o que sentia através do olhar. Medo de sentir o calor das mãos do outro e falar o que não devia.

Agora tudo tinha acabado. Aquela porta o separava da pessoa que MAIS desejava ter ao seu lado, mas que por ironia do destino, também era a pessoa mais proibida de todas.

Kamus tinha sido duro. Não. Tinha sido DETESTÁVEL. Certamente Milo o odiava.

Infelizmente, era melhor assim.

-o-

O Escorpião Escarlate - Capítulo XIV – Resolvendo o mistério

-oOo-

Na estrada de volta para Paris.

- Kamus ? – o loiro chamou-o enquanto dirigia – Está tudo bem ?

- Está. – disse sem olhar para o outro.

- Quer conversar ? Acho que se você se abrir será...

- Não tenho nada a dizer, Shaka. – replicou inexpressivamente.

- Enquanto eu estava na cozinha, o que você e o Milo conversaram para ele ficar tão chateado ? – insistiu.

O Virginiano conhecia bem o chefe. Não podia esmorecer. Sabia que logo ele se fecharia como uma concha e seria difícil ajudá-lo.

Entretanto o francês não respondeu. Simplesmente ignorou a pergunta do outro, pegou o celular e começou a fazer uma ligação.

- Mu ? – perguntou assim que atendeu – Por favor ligue para Amsterdã e veja como está a avaliação do Van Gogh.

- Ok Kamus. Onde vocês estão ?

- Voltando da Clairvaux.

- Vou ligar agora. Talvez quando vocês chegarem eu já tenha novidades.

- Ótimo. – disse e desligou. Olhou para o Virginiano – Shaka agora que devolvemos o Milo ao presídio, o Dohko ficará em cima para saber se o crime foi solucionado. Preciso que você repasse todos os detalhes e também faça o relatório do caso do restaurante e do Banco Central.

O Aquariano começou a falar de todos os outros casos que precisavam dar continuidade. O loiro esperou o chefe acabar, mas não ia desistir.

- Kamus, você sabe que sou um profissional da psicologia. Nossa conversa será mantida em sigilo absoluto.

A reação do francês ao comentário foi o silêncio.

- Por que você levou o Milo até a sua casa ? – indagou.

- Ele se machucou no carro.

O indiano sorriu por dentro. Havia conseguido uma resposta. Isso já era uma evolução.

- E sobre o quê vocês conversaram ? – questionou com cuidado.

- Como foi a consulta médica, Shaka ? – perguntou mudando de assunto.

- Tudo bem, era apenas uma consulta de rotina. – deu uma pausa – Quer falar sobre o quê conversaram ?

- Apenas banalidades. Nada que interfira no caso.

- Mas vocês estavam...

- Shaka, você é um profissional. Deveria saber a hora de parar de insistir. – disse sem olhar para o loiro.

O Virginiano se entristeceu. Gostava muito do chefe. Era muito grato pelo que o francês fez por ele e por Mu (1), mas sabia que Kamus não era uma pessoa feliz. E pior: não queria ajuda para passar a ser.

-oOo-

Paris. Prédio da IPF

Pegaram um pouco de trânsito na estrada, chegando na IPF cerca de duas horas depois. Subiram até o terceiro andar e adentraram a sala. Mu prontamente os interceptou.

- Kamus, já tenho a resposta. O Milo estava certo. Mal o perito chegou para avaliar o quadro, o curador tentou fugir.

- Atestado de culpa.

- Exatamente.

- Queria saber como o Escorpião conseguiu descobrir que era um quadro verdadeiro. – Aioria levantou a dúvida.

- Parece que o moleque é melhor que pensávamos. – o loiro respondeu.

- É uma pena. – Mu disse com o olhar perdido - Pelo jeito ele seria um bom detetive.

- Ou museólogo. – a policial comentou lembrando-se dos desejos do grego.

- É. Não se pode ter tudo o que se quer... – o francês retrucou - ...infelizmente. – completou abrindo a porta de sua sala.

- Kamus, você vai reconsiderar e sugerir um abatimento na pena por causa da entrega do Van Gogh ?

- Vou pensar a respeito Marin. – deu uma pequena pausa - Gostaria de não ser incomodado, a não ser em caso de urgência. – pediu e entrou em sua sala particular.

-o-

O investigador sentou-se. Não sabia o quê fazer sobre o Escorpiniano. Não conseguia tirá-lo da cabeça.

Considerou uma conversa com Shaka. Será que seria uma boa ? O loiro além de psicólogo era seu amigo, poderia dar bons conselhos. Balançou a cabeça em negativa. Não. Não queria conselhos. Não precisava ouvir da boca do Virginiano que deveria esquecer o presidiário. Isso conseguiria fazer sozinho.

Respirou fundo e ligou o computador. Precisa voltar à vida normal. Abriu sua agenda e acessou o número de alguns telefones. Fez algumas ligações. Leu alguns e-mails. Não podia parar com seus casos.

Minutos depois parou o que estava fazendo e, novamente, respirou fundo.

Pegou seu bloco de rascunho e desenhou círculo. Dentro escreveu "Clairvaux". À volta do círculo escreveu "lavanderia", "conserto de telefones", "troca de guarda". Amassou o papel e jogou fora. Ficou observando a tela do computador enquanto esfregava os dentes uns nos outros e pensava. Não. Precisava de algo melhor.

Abriu a pasta do Escorpião Escarlate e clicou em Presídio. Imprimiu a planta da cadeia e, com o desenho em mãos, fez alguns círculos em pontos estratégicos. Na entrada do presídio escreveu "lavanderia" e "telefonia"; no corredor que dava para as celas escreveu "troca de guarda". Parou e olhou bem para o papel. O que estava tentando fazer ? Seria mesmo louco o suficiente para armar um plano de invasão à Clairvaux e tirar o ladrão de lá ? Não. Rasgou o papel e jogou fora.

Ficou algum tempo olhando para o vazio.

Tomou novamente seu bloco de rascunho e escreveu um número. Acessou a calculadora do micro e começou a fazer algumas contas. A pena do Escorpiniano era de 11 anos e 8 meses ou 140 meses. Se o preso podia sair com um terço de pena cumprida, isso aconteceria cerca de 46 a 47 meses depois. Milo já cumprira 1 ano e 5 meses, ou 17 meses. Na pior das hipóteses ainda faltavam 30 meses. Mesmo que o Aquariano conseguisse para o criminoso um abatimento de 6 meses de pena, considerado excelente, precisaria esperar 24 meses para tê-lo fora da cadeia.

"Vinte e quatro meses ?" – pensou e começou a calcular – "24 meses. 2 anos. 730 dias. 17.520 horas."

Kamus olhou o relógio e respirou fundo. COMO conseguiria viver por 17.520 horas ?

Seria difícil.

-oOo-

Sexta-feira à noite. Na casa do francês.

O policial chegou e foi direto para o banho.

Seus pensamentos não conseguiam se afastar do grego. Colocou as mãos na cabeça e passou-as pelos cabelos em desespero. Não. Não dava mais para suportar. Precisava fazer alguma coisa ou enlouqueceria.

Entrou no escritório, sentou-se em frente ao computador, ligou-o, abriu um documento e começou a escrever.

"Mon Ange,

Depois de tudo que aconteceu entre nós, pensei em mil maneiras de começar esta carta, mas acho que a melhor se inicia com um pedido de desculpas.

Por favor me desculpe. Desculpe minhas palavras, minhas atitudes e principalmente o meu silêncio.

Sei que te magoei profundamente e seria uma insanidade acreditar em um perdão imediato de sua parte, porém prometa não ignorar este pedido de desculpas. Sua ausência já destrói meu coração, não me faça sofrer mais ainda com sua indiferença."

Deu uma pausa e suspirou. Sentiu o peito doer. Suspirou novamente e retomou a escrita.

"Ah, Milo, se eu pudesse fazer o tempo voltar... eu o faria retroceder até a "conversa dos dez minutos" e tudo seria diferente. Nada de mentiras ou falsidade; nós seríamos sinceros um com o outro e eu não só aceitaria suas faltas, como também lhe confessaria as minhas."

Seus olhos marejaram. Como queria voltar no tempo. Ah, se pudesse...

"Mon Ange, eu imploro: perdoe meus erros. Sei que são muitos, mas são frutos de um coração perturbado. Frutos de um coração em dúvida entre a razão e o amor."

Parou de escrever. Marcou todo o texto e deletou. Fechou o arquivo e não clicou em "salvar". Desligou o micro e levantou-se.

- Kamus, o que você está fazendo ? Está ficando louco ? Ia mesmo mandar esse LIXO para ele ? Ia querer que ele risse da sua cara ?

Suspirou.

- Ele gosta de mim. – disse a si mesmo – Não, ele não gosta. – replicou poucos segundos depois - Tenho CERTEZA que se esquecerá de você em menos de um mês.

Calou-se por algum tempo.

- Não. Ele NÃO vai se esquecer de mim em menos de um mês. – disse com firmeza e ficou quieto por algum tempo – Bem, se ele não vai esquecer, era o que VOCÊ deveria fazer se fosse um pouquinho mais profissional, Kamus. – recriminou-se.

Suspirou fundo.

- Milo, por favor me ajuda. – pediu em vão – Minha razão teima em dizer que devo te esquecer. Meu coração teima em dizer que devo te amar. Por favor, me diz: você ainda me odeia ? Você ainda pensa em mim ? – perguntou ao computador desligado.

-oOo-

Prisão de Clairvaux, na mesma hora...

O Escorpiniano permanecia no refeitório. Estava mudo no momento. Durante o dia, enquanto lixava uma grande porta de armário, contara aos companheiros que seu agente cinematográfico estava feliz com sua evolução e ia dar-lhe um seriado. Um filme abriria a série.

Claro que ninguém acreditou, mas riram bastante com as histórias absurdas do grego. Milo ainda aproveitou para descrever algumas coisas bizarras que afirmou ter visto em sua estadia fora da cadeia. Os presidiários riram muito.

Todos os seus relatos eram mentira, mas não importava. O que importava era tirar o Aquariano de sua mente. Seu coração doía ao pensar no francês. Era melhor esquecê-lo. Para sempre.

-oOo-

Sábado pela manhã. Apartamento do investigador...

O policial acordou com o corpo todo dolorido. A noite tinha sido péssima. O ladrão parecia gravado em sua mente. Precisava sair, ver gente, fazer QUALQUER COISA ou ficaria louco. Arrumou-se esportivamente e saiu de casa. Tinha endereço certo.

-o-

O investigador chegou no clube de golfe e foi direto ao restaurante. A mesa que queria estava vazia. Sentou-se. Foi exatamente naquele lugar que se sentara no último domingo. A diferença é que no final de semana passado um jovem de cabelos cacheados e lindos olhos azuis presenteava-o com um belo sorriso ao tocar sua mão.

Olhou a cadeira vazia à sua frente e suspirou. Não teria mais o charme, a beleza, a inteligência, o bom humor e o carinho do Escorpiniano. Acabou. Tudo tinha chegado ao fim.

Colocou a mão sobre a mesa e estremeceu. Parecia poder sentir a mão quente que o tocara no domingo.

"Ah, Milo. Por que tem que ser assim ?" – perguntou-se desolado – "Por que tenho que te fazer me odiar se quero justamente o contrário ?"

- Gostaria de um suco, senhor ? – o garçom questionou tirando-o do transe.

- Desculpe ?

- O senhor gostaria de um suco ou algum prato em especial ? Se preferir pode participar do buffet de pães, bolos e frutas.

- Pães e... bolos ? – questionou um tanto aéreo e de repente teve uma idéia. Olhou no relógio. Se corresse ainda dava tempo – Vocês fazem para viagem ?

- Certamente. O senhor gostaria de ver o menu ?

-oOo-

Clairvaux. Manhã de domingo...

- Preso número 14.978. MILO NEKALAOUS. – o guarda gritou.

O Escorpiniano se aproximou desconfiado. Era manhã de domingo. O que o agente de segurança poderia querer ?

- Sim senhor ?

- Entrega para você. – e deu-lhe uma caixinha.

O grego sorriu assim que a pegou em suas mãos. Apesar da caixa de isopor ser toda branca, exibia um golfista em relevo. Já sabia quem a enviara. Abriu. Continha um bolo de chocolate, todo furado - certamente obra da equipe de segurança - e um bilhete dentro de um saquinho plástico. Pegou o papel com avidez. Era uma bela caligrafia. Tão bonita quanto o dono.

"Mon Ange,

Talvez eu não devesse enviar este bolo, mas como sei que você gosta, imaginei que pudesse se transformar em um pedido de desculpas.

Eu errei. Confesso. Entretanto não tenho como voltar o tempo.

Gostaria apenas de fazê-lo compreender minha confusão sentimental em nossos últimos momentos juntos. Tive tanto medo de perder a racionalidade e me entregar à emoção, que preferi não te tocar.

Saiba que sinto imensamente por nossos caminhos serem tão diversos e nossas vidas tão distantes porém, como você mesmo disse, não há justiça no mundo. Se houvesse as exigências da sociedade seriam outras e eu, certamente, poderia escolher a pessoa por quem me apaixonar. É mesmo uma pena que eu não possa.

Sinceramente,

Fran."

Milo sorriu e os olhos marejarem um pouco. Sentiu uma ternura tão grande que esqueceu toda a dor que sentia. Releu novamente o bilhete, parando nos pontos que mais lhe tocaram. Kamus chamava-o carinhosamente de Mon Ange e pedia desculpas. Explicava também o motivo de não pegar sua mão antes do guarda levá-lo de volta a seus afazeres.

"Se me tocasse você se entregaria à emoção... Você perderia mesmo a razão por mim, Kâ ?" – perguntou em seu íntimo, ficando um pouco pensativo ao ler que era uma pena o Aquariano não poder escolher por quem se apaixonar.

"Você me escolheria, Kâ ? Se apaixonaria por mim ?" – questionou em pensamento.

Observando melhor a assinatura, de inicio não a compreendeu, porém agora entendia perfeitamente. Kamus assinara como Fran. O policial era esperto. Sabia que seu bilhete seria lido e por isso o escreveu de forma a ser tanto um homem quanto uma mulher os possíveis autores.

Isso mesmo. Se alguém descobrisse e lhe perguntasse quem era Fran diria que era uma moça. Poderia chamá-la de Francielle, Francine ou algum outro nome bonito. Guardaria segredo. Somente ele e o investigador saberiam que Fran era a inicial de Francesinho.

Suspirou de leve e fechou os olhos. Aproximou a pequena carta de si. Leu-a novamente e de novo. Leu mais quatro vezes. Leu uma quinta vez saboreando cada palavra, como se fosse o próprio policial a lhe falar.

Olhou para o bolo e sorriu. Respirou fundo. Agora tinha novos motivos para sair da Clairvaux.

-oOo-

IPF. Segunda-feira.

O francês pedira para Marin ligar no presídio e marcar um horário com o grego. Teve sorte. Pelo jeito o diretor da cadeia estava bem-humorado e liberou de prontidão a ida do Aquariano. O investigador resolveu ir de imediato.

- Quer que eu vá, Kamus ?

- Não Shaka. – disse rapidamente - Obrigado. Tenho apenas algumas coisas a esclarecer. Não precisa se incomodar.

- Como preferir.

-oOo-

Presídio de Clairvaux. Cerca de duas horas depois.

- Presidiário número 14.978, Milo Nekalaous. – o agente anunciou.

O Escorpiniano parou de lixar e aproximou-se do guarda.

- Sim senhor ?

- Venha comigo.

O preso tirou o gorro, recolocou a camisa e bateu um pouco a serragem. O agente penitenciário conduziu-o até a sala de depoimentos.

Milo arregalou os olhos e sentiu o coração parar quando viu quem estava lá dentro. O guarda avaliou a algema para garantir que o criminoso estava bem preso.

- Aqui está o presidiário, investigador. Deseja mais alguma coisa ?

O belo jovem que estava de costas, virou-se para responder.

- Não, obrigado. Não devo demorar muito.

"Ah, Deus," – o ladrão pensava – "que voz deliciosa este homem tem."

Ele estava lindo. Vestia um terno risca de giz, camisa branca e gravata em tom escuro. Os fios lisos, em tom petróleo estavam presos e elegantemente alinhados. Os olhos mostravam-se mais azuis que nunca.

O Escorpiniano aspirou o ar sentindo o perfume gostoso sair do corpo que tanto desejava.

- Bom dia senhor Milo Nekalaous. – disse tranqüilamente.

- Bom dia investigador Kamus Cartelié.

- Se precisar de alguma coisa, estarei lá fora. - o guarda saiu fechando a porta.

- Sente-se. – disse em tom impessoal apontando uma cadeira e sentando de frente para o preso.

Apenas uma pequena mesa ficou entre os dois.

- Obrigado pelo bolo e pelo bilhete. Eu adorei. – replicou sorrindo.

- Estou aqui para tomar o seu depoimento.

- Meu depoimento ? – questionou em dúvida, mas logo abriu um sorriso – Ah, claro. Sobre o Escorpião Escarlate. Pode perguntar o que quiser. – deu uma pequena pausa. Estava ansioso. Não conseguia calar-se ou controlar as emoções. – Senti saudades. – disse enquanto admirava o outro - Você... também sentiu saudades de mim ? – indagou e ficou esperando a resposta.

Aquilo doeu no policial. Ou o Escorpiniano gostava de si ou era um grande mentiroso. Observou bem os belos olhos azuis. Não. O grego não parecia estar mentindo. Kamus desviou o olhar. Isso era péssimo. Gostavam um do outro. Terrível. Terrível pois, pelas regras da sociedade, não poderiam ficar juntos.

- Milo, - disse tentando controlar o que sentia - vamos nos ater ao assunto que vim tratar.

O criminoso ficou sério.

- Assunto que você veio tratar ? Como assim ?

- Preciso saber onde você comprou o quadro do Van Gogh.

O Escorpiniano deu um sorriso vencedor.

- Eu não te disse que EU estava com o quadro legítimo ?

- De quem você comprou ?

- Só respondo se você responder minha pergunta.

- Milo, não torne as coisas mais difíceis.

- Mais difíceis ? Por quê ? Vai me torturar se eu não falar ? – perguntou debochado.

Silêncio. O francês não respondeu. Ficou apenas fitando o ladrão. Seu olhar não era de superioridade, como se mostrara outras vezes na Clairvaux, de frieza, como costumava ser, ou de indiferença. Era um olhar um tanto perdido, como se lhe faltasse esperança.

O Escorpiniano sentiu uma sensação ruim e um arrepio correu seu corpo. Engoliu seco. Kamus estava muito quieto, muito... estranho. Milo ficou com medo. Alguma coisa terrível estava para acontecer.

- Eu comprei de um cara chamado Isaak. Ele é conhecido como "O Caolho" pois tem uma feia cicatriz no olho... esquerdo, acho eu.

- Onde você comprou ? – continuou a perguntar com aquele mesmo tom vazio.

- Em uma das ruas que dá acesso ao estádio de futebol, o Stade de France. Só não lembro o nome da rua.

- E como conheceu o Caolho ?

- Tinha um cara que recebia meus roubos. Antes de ser preso o cara nos apresentou. Também foi para o Caolho que entreguei a espada samurai.

- Você pode descrevê-lo ?

Aquelas perguntas tão sem vida, sem nenhum comentário extra, estavam deixando o grego nervoso.

- Ele tem uma grande cicatriz que vai da testa, passa pelo olho e termina na bochecha. Ele é... uns dez centímetros mais baixo que eu, magro e está sempre com uma guitarra nas costas. A guitarra é falsa. É dentro dela que ele guarda os roubos.

- E como teve certeza que o quadro era verdadeiro ?

- Pedi a trena dele emprestada e fiz todas as medições necessárias. Aquele era um dos quadros que eu mais gostava. Eu sabia MUITO BEM onde as coisas deveriam estar. – deu uma pausa – E além disso eu contei os corvos (2) e analisei bem os detalhes.

Kamus ficou um pouco surpreso com a boa percepção do outro. Ia falar alguma coisa quando sua mente deu um estalo. O Escorpiniano ROUBAVA obras de arte. Que vantagem teria comprar uma ?

- Para quê você queria um quadro se precisava de dinheiro ? – perguntou em seguida.

- Investimento. Se alguma coisa desse errada na cirurgia aqui em Paris, eu poderia vender o Van Gogh e levar a minha mãe para Londres. – deu uma pequena pausa – E não pense que gastei qualquer centavo com o quadro. Eu troquei por um vaso Ming. O vaso era mais barato que o Van Gogh, mas parece que tinha um colecionador querendo e o cara ia pagar uma boa grana. Negociei com o Caolho e ele aceitou.

- Humm... – disse pensativo.

- Você vai encontrar com ele ?

- Provavelmente.

- Não vá. Ele anda armado.

- Sou um policial, Milo. – falou voltando a adquirir o tom frio – Obrigado pelas respostas. – e fez menção de levantar.

- Você já vai ? – perguntou decepcionado.

- Isso NÃO É uma visita.

- Eu não acredito que você me mandou aquele bolo por nada.

- Milo, por favor.

- Se era só para vir até aqui e me perguntar estas coisas, então por que você não mandou o Shaka ? Eu responderia do mesmo jeito. – disse com um pouco de indignação - Não acredito que você gastou tanto tempo dirigindo até aqui SÓ para me perguntar isso.

- Ok. – suspirou e voltou a sentar-se na cadeira – Eu pensei melhor depois que mandei o bolo. Eu reconsiderei.

- O que isso quer dizer ? – questionou sem entender.

- Que acho melhor pararmos com tudo isso. Você sabe MUITO BEM que não há futuro para nós dois.

- Foi para isso que você veio ? Para terminar comigo ?

- Milo, como se pode terminar uma coisa que nem começou ?

- Kamus, ao menos UMA VEZ me fala a verdade. Você sente o mesmo que eu ? Você gosta de mim ? RESPONDE !

- Milo, por que é TÃO difícil para você entender que não há justiça no mundo ? A distância que nos separa é muito maior que esta mesa.

- Responde. Por favor. – suplicou – Você gosta ?

- Vamos evitar sofrimentos desnecessários. Essa resposta não muda nada. – levantou-se – Aqui é o ponto final. – fez sinal para o guarda entrar.

- Responde, Kamus. – implorou.

- Obrigado pelas respostas senhor Nekalaous. Foi mesmo de grande ajuda.

O Escorpiniano observava, incrédulo, o outro caminhar em direção à saída.

- Você não pode ir embora, policial. Você me deve uma resposta ! – exclamou se levantando.

O francês, já perto da porta, olhou-o profundamente nos olhos, com ar superior.

- Eu não preciso responder o que você já sabe.

O presidiário tentou se aproximar, mas o guarda o segurou.

- Então me fala. Eu quero ouvir de você. Quero ouvir da sua boca. – suplicou.

- Não faça drama, senhor Nekalaous. – disse em meio tom de deboche.

- Por favor, Kamus. – implorou.

O Aquariano parou e respirou fundo. Olhou seriamente para o grego.

Milo aguardava ansiosamente. Seu coração parecia querer sair de seu corpo. Aquela sensação ruim ainda o dominava. Esperava, receoso, a temida palavra NÃO sair da boca do outro.

- Você sabe que sim. – respondeu e, virando-se, foi embora.

-o-

O presidiário deixava-se conduzir pelo agente enquanto refletia.

"Então era por isso que você estava estranho ? Estava fingindo mais uma vez ?" – respirou fundo. Seu peito doía – "Por que você faz isso, Kâ ? Se você gosta de mim, por que foi embora desse jeito ? Oh, meu francesinho, por que você sente tanto prazer em me machucar ?" – sentiu suas emoções aflorarem, mas se segurou. Estava na prisão

-o-

Kamus entrou no carro e começou a dirigir. Agüentou apenas o suficiente para ver a Clairvaux sumir em seu retrovisor.

As lágrimas contidas começaram a cair e molharam sua camisa. Parou o carro e suspirou. Doía demais. Doía demais ser obrigado a agir assim.

-oOo-

Paris. Cerca de duas horas depois...

O francês chegou em Paris. Não estava com vontade de ir para o trabalho, não estava com vontade de ir para casa. Não estava com vontade de nada.

Se pudesse mudaria tudo. Reescreveria sua história. Para começar os pais não teriam morrido. Certamente cresceria uma pessoa feliz e não seria tão amargo e exigente consigo mesmo. Riscaria a presença nociva dos tios de sua vida. Já estava cansado de ouvir tantos comentários negativos sobre sua pessoa. Milo ? Jamais seria criminoso. Sua mãe também não teria morrido. Os dois teriam se conhecido por acaso e se tornariam namorados. O grego passaria a morar em sua casa e seriam felizes para sempre.

"Belo conto de fadas, Kamus." – pensou e se emocionou. Estava muito fragilizado.

Secou as lágrimas e suspirou.

Se eram desejos impossíveis de serem alcançados, melhor esquecer tudo e se concentrar em seu trabalho. Quem sabe não reencontraria motivação para sobreviver ?

-o-

O Aquariano entrou na sala e sua equipe ficou atenta. Relatou o que conseguira do grego. Aioria foi incumbido de marcar um encontro com o Caolho e investigar quem estava por trás de tudo. Talvez desmascarassem um grande contrabandista.

- O que mais me surpreendeu - Mu comentou – foi ele dizer que CONTOU os corvos.

- Contar os corvos ? – o Leonino indagou - Isso não é NADA. PIOR é saber ONDE os corvos deveriam estar. Que espécie de LOUCO usa uma trena para avaliar um quadro ?

- Um louco muito técnico. – o indiano respondeu – O garoto é bom mesmo. Se ele não fosse um ladrão, tenho certeza que poderia ajudar a polícia nos crimes de autenticidade.

- Pena que ao sair da cadeia, não poderá usar suas habilidades. – Marin falou – Com antecedentes criminais ele JAMAIS poderá participar do quadro de peritos da polícia. - completou tristemente.

- Foi ele quem escolheu o que queria da vida. – Kamus disse rispidamente e se trancou em sua sala.

- Ué ? Que bicho mordeu ele ? – o grego questionou aos demais depois da atitude tempestiva do chefe.

"Talvez o bicho da paixão." – Shaka pensou consigo mesmo.

-oOo-

Apartamento do francês. À noite.

Ao chegar em casa a primeira coisa que Kamus fez foi acessar a internet. Entrou em um site de busca e procurou por Escorpião Escarlate. Todas as fotos encontradas foram devidamente copiadas para sua pasta pessoal.

Sua mente recriminou-o dizendo que isso era uma grande estupidez. Deu ouvidos à racionalidade. Desligou o micro e foi tomar banho.

Depois do jantar, voltou a ligar o computador. Tinha mandado sua razão às favas. Abriu a pasta que criara há pouco e começou a passar as fotos. Uma era especialmente bela. Possivelmente tirada no dia do julgamento do grego. Vários repórteres seguiam o Escorpiniano, que era levado por um policial. Tudo indicava que Milo virara o rosto para responder a um repórter, fazendo o fotógrafo captar seu rosto de frente.

O grego olhava para a câmera e parecia atravessar a alma de quem lhe admirasse a foto. Os belos olhos azuis; os cachos azulados caídos sobre o ombro; a boca aberta em um meio biquinho, como se estivesse falando "Non"(3)

Kamus tocou a foto e fechou os olhos. Como queria que fosse o original.

-o-

O francês ajustava a imagem do Escorpiniano em um editor, deixando-o sozinho na cena, quando recebeu um e-mail.

"Kamye,

Envio o endereço de um fotolog muito interessante. Acho que você gostará particularmente das fotos 16, 28 e 35.

Bom divertimento,

Sha"

O policial clicou no link. Isso o levou a um tal Fotolog da Patty (4). Pelo jeito a menina era amiga da June, pois as fotos eram da festa à fantasia.

De fato as fotos 16, 28 e 35 eram bem interessantes. A foto 16 mostrava várias pessoas e, em segundo plano, Saori de costas para a entrada do escritório, aparentemente fechando-o ou simplesmente segurando a porta. A foto 28 mostrava várias meninas em pose e no canto esquerdo June entrando sorrateiramente no escritório.

- Ora, ora. Olha só quem estava mentindo. – disse e sorriu ao ver a foto 35. Ikki aparecia ao fundo da foto, mas ficava evidente que saía do escritório.

Viu as outras imagens e uma foto em particular chamou sua atenção. Era a foto de número 47. Havia um tema principal, mas Saori e June apareciam na lateral. Kamus circulou a mão e os olhos da loira e reenviou ao funcionário com uma observação.

"Sha,

Que tal este tipo de motivação ?

Kamye"

-oOo-

Clairvaux. Dentro da cela...

Deitado em sua cela, acompanhado de mais oito e já com a luz da cela apagada, Milo acariciava o bilhete do francês.

O policial deveria estar confuso. Só podia. Que outra explicação seria possível para enviar um bilhete, falar que sentia o mesmo que o Escorpiniano e depois fugir ?

Não. Era simplesmente inaceitável colocar um ponto final nisso tudo. Não. O investigador estava certo. Não dava para terminar o que nunca começou.

"Sinto muito Kâ." – refletiu em tom sério – "Se não começou... não acabou." – deu um sorriso maroto, fechou os olhos e dormiu um sono tranqüilo, sonhando com sua felicidade.

-oOo-

Manhã de terça-feira. IPF

- Kamye ?

- Oi. Shaka, bom dia.

- Bom dia. Podemos falar em sua sala ?

- Claro. Entre.

Os dois mal entraram e o telefone tocou.

- Só um minuto. – pegou o aparelho – Kamus falando.

- ...

- Sim, claro. É a empresa na qual o senhor Ikki Amamiya trabalha, não ?

- ...

- Sei. O senhor é o chefe dele ?

- ...

- Perfeito. Entendi perfeitamente. Não se preocupe senhor Alan, faremos uma avaliação. Estando tudo de acordo sua empresa não sofrerá as conseqüências. – enquanto falava, escreveu um bilhete e entregou ao loiro, explicando o porquê do telefonema. Shaka arregalou os olhos, surpreso.

- ...

- Bem, esta retratação fica a cargo da imprensa. Passarei à minha secretária Marin e o senhor poderá explicar a situação a ela.

- ...

- Por nada. Tenha um bom dia. – disse e transferiu o telefone.

Falou brevemente com a policial e desligou.

- Não acredito Kamus. Quando foi ?

- Ontem, no final do dia.

- Você irá chamá-lo para depor novamente antes de tomar qualquer ação ?

- Claro. Quero ouvir da própria boca dele.

- Bem, acho que hoje estamos no dia das surpresas. Você estava certo. – o loiro anunciou - A June usou o cheque eletrônico no Japão e fez uma grande movimentação financeira.

- É mesmo ? De quanto ?

- Cinqüenta mil euros.

- Cinqüenta mil ! – disse surpreso – Bem, e o que foi que ela pagou ?

- Consegui todos os registros com aquele meu contato. Aqui está. – disse colocando alguns papéis sobre a mesa – Ela pagou um aborto. Estas são as informações que consegui na clínica japonesa: nome completo da paciente, idade e período de gestação.

- Seis semanas completas. – deu uma pausa – Agora a ida ao Japão está explicada.

- Mais uma vez você estava certo. A viagem já estava programada.

- Com certeza. – disse observando a ficha médica.

- Agora pasme, Kamus. Olhe só isso. – disse apontando para a movimentação bancária da loira – Sessenta e cinco mil euros depositados no dia dez. ANTES do roubo da jóia.

- E de onde veio esta grana ? Da venda de um quadro francês roubado ? – questionou sorrindo sarcástico.

- Não. – respondeu sorrindo - Rastreei a origem do dinheiro. Veio de uma financeira.

- Um empréstimo ? – perguntou surpreso.

- Exatamente. E consegui uma cópia da solicitação com nome do titular, veja.

O francês olhou o contrato e sorriu.

- Que interessante, Shaka. Você prestou atenção ao nome do avalista ? (5). Eu disse que era trabalho de amador. Bem, - respirou fundo - parece que nosso mistério finalmente chegou ao fim.

- Quando você pretende expedir o mandado de prisão ?

- Antes, quero ouvir o que as garotas têm a dizer assim que retornarem da viagem. Coloque a polícia local de prontidão para prender o novo Escorpião Escarlate ao término dos depoimentos. Desta vez não haverá fugas.

O indiano ficou um pouco na dúvida sobre o comentário "desta vez não haverá fugas". Quando tinha acontecido uma fuga ?

Obviamente Kamus traíra a si próprio pensando na fuga do grego de sua casa.

- E como você acha que os familiares vão reagir ? – o Virginiano indagou.

- Surpresos. Exatamente como estou me sentindo agora.

- Você errou o mandante. – o loiro piscou para o chefe.

- É. Acho que já não sou tão bom quanto antes.

- Brincadeira. Eu também errei. Você é ótimo, Kamye.

- Não seria se você não tivesse me ajudado.

- Mas eu não acertei a motivação e você sim.

- Ainda bem, senão agora eu estaria em um caixão. (6)

Os dois riram.

-oOo-

Terça-feira à noite. Apartamento do francês.

Depois da conversa com o indiano, Kamus repassou todos os depoimentos, agora olhando sobre um novo prisma. Nada. Não achou nada que pudesse dizer onde encontrar a primeira peça roubada.

Fechou os olhos. Voltou a pensar no grego. Suspirou.

- Ah, Milo. Então se o Shura não tivesse chegado você ia propor ficar comigo durante a semana ? – perguntou a si mesmo.

Suspirou novamente. Realmente tinha sido duro com o ladrão enquanto o Capricorniano estava lá. Ignorara-o completamente.

Repensava seu comportamento deste dia, quando de repente SE LEMBROU. Arregalou os olhos. O comentário fora feito nos primeiros dias em que o presidiário estava na IPF. No dia em que ele e a policial foram comprar roupas. Será que era isso ? Pegou o telefone e ligou para Marin. Se a garota estivesse certa, teria que ser mais maleável com a nova funcionária.

-oOo-

Quarta-feira. 23 de Agosto. Final da manhã. Aeroporto de Paris.

Assim que as duas garotas desembarcaram, dois policiais à paisana as seguiram. O francês não queria perdê-las de maneira alguma.

-o-

IPF, pouco tempo depois.

Kamus já expedira uma nova convocação para dois dos garotos e para as duas meninas. Ainda precisava fazer algumas perguntas antes de efetuar qualquer prisão.

-o-

O Aquariano tomava um café quando a funcionária ligou.

- Marin ? Você já está na casa da senhora ?

- ...

- Ótimo. – sorriu.

- ...

- Perfeito. – deu uma pequena pausa – Marin ?

- ...

- Desculpe não dar atenção ao que você me disse desde o início. – deu outra pausa – Com esta SUA descoberta, você só mostra que se tornará uma excelente investigadora. Parabéns.

- ...

O francês desligou. Agora sim.

Sorria de satisfação. Sua vontade era mandar fazer um carimbo escrito RESOLVIDO para carimbar sobre o caso do Novo Escorpião Escarlate. Era uma pena que agora era usado um campo em um programa de computador para isso. Tirava a alegria do investigador de bater com força sobre papéis e dizer "CONSEGUI. OLHEM. ESTÁ AQUI". Tudo bem, ainda assim Dohko teria seu momento de felicidade. Ainda mais por saber que praticamente todos os roubos foram resgatados.

Com a descoberta da funcionária agora só faltava UMA peça roubada. Entretanto esta, Kamus sabia muito bem onde estava. Tão logo os depoimentos terminassem a peça seria recuperada.

-oOo-

Quinta-feira. IPF. Sala de depoimentos.

- É interessante como a gente vê as coisas depois que sabe a resposta da pergunta. – o Aquariano disse a si mesmo enquanto aguardava o rapaz chegar e repassava as fotos da festa à fantasia.

Olhou novamente uma das fotos que, ficara particularmente bonita e, trazia várias meninas da festa. No centro estava June vestida de garota das cavernas. Uma espécie de Pedrita loira. Em uma das laterais, sorrindo, estava Saori fantasiada de bat-girl

O telefone tocou. Era Marin.

- Kamus, o primeiro depoente chegou.

- Ótimo. Faça-o entrar. – deu uma pausa – Avise a polícia local para ficar de prontidão. Depois dos depoimentos quero uma ação imediata. Não quero que o novo Escorpião Escarlate desapareça da cidade.

- Ok. – disse e desligou.

-oOo-

Clairvaux. Mesmo horário.

- Presidiário número 14.978. Milo Nekalaous.

- Sim senhor ? – perguntou aproximando-se.

- Estão te esperando na sala de depoimentos.

Milo abriu um sorriso imenso. Era ele. Sabia que era ele. Certamente Kamus havia reconsiderado e voltara, com alguma desculpa qualquer, apenas para lhe fazer uma visita.

Foi direcionado à outra sala de depoimentos. Essa sala tinha um grande espelho e óbvio, qualquer pessoa poderia estar atrás dele. Era uma típica sala de reconhecimento onde quem está na sala não vê quem está do outro lado, mas quem está na área de identificação, sim.

Estranhou. Kamus não costumava usar este tipo de sala.

"Será que ele quer me encontrar aqui para que eu não tente nenhuma gracinha ou fique pedindo para ele dizer que gosta de mim ?" – questionou-se um tanto tenso.

Instantes depois, uma jovem entrou na sala. A esperança do grego se esvaiu.

- Bom dia, senhor Milo Nekalaous. Meu nome é Cristine Pouset e sou agente de condicional.

- Bom dia. – respondeu com pouco ânimo.

- Sente-se, por favor.

Obedeceu.

- Bem, quero felicitá-lo pois por seus trabalhos prestados à comunidade por meio de depoimentos, indicação de suspeitos e entrega de bens de domínio público.

- Obrigado. – disse um tanto desconfiado.

- Vim até aqui para dizer que sua pena foi revisada.

O ladrão sorriu. Sim. Sua pena seria reduzida. Sairia da cadeia e ia se encontrar com Kamus.

- Quando posso sair ? – questionou animado.

- Bem, senhor Nekalaous, foi uma redução considerável.

- É mesmo ? – perguntou contente – Quanto tempo ?

- Uma redução REAL de seis meses !

- Seis meses ? – repetiu desapontado.

- Exatamente senhor Nekalaous. E isso significa que o senhor poderá pegar uma condicional, desde que seja um preso comportado, dois meses antes do prazo esperado. Não é uma ótima notícia ? – indagou com um belo sorriso.

O grego observava, incrédulo, a felicidade da menina.

"Se essa vaca estivesse presa, ia entender que seis meses para uma pena de quase doze anos não significam NADA"

- Preciso apenas que o senhor leia estes documentos atentamente e assine. Tudo bem ?

Milo pegou o papel que lhe era oferecido, leu e assinou.

- Muito obrigado senhor Nekalaous. Espero que o senhor possa se reintegrar à sociedade em breve.

O Escorpiniano não respondeu. Ainda bem que estava em uma sala vigiada. Se não estivesse, mandaria a garota para a pxxx qxx pxxxx.

-oOo-

IPF. Sala de depoimentos.

- Boa tarde, Senhor Amamiya. Sabe porque foi chamado novamente ?

- Não faço idéia.

- Foi chamado porque mentiu.

- Eu não menti.

- Não ? E por quê disse que não entrou no escritório ? – questionou jogando uma foto sobre a mesa.

O jovem ficou mudo.

- Será uma grande surpresa para a família quando a garota aparecer grávida. – o francês comentou.

- Sempre uso camisinha. Não há este perigo. – disse com total segurança.

Kamus deu um leve sorriso. O garoto ficou nervoso.

- Como sabe o que rolou lá dentro ? – Ikki questionou um tanto tenso.

- Não sabia. – sorriu - Você acabou de confirmar.

-oOo-

PRÓXIMO CAP: REVELAÇÃO DO NOVO ESCORPIÃO ESCARLATE. Como o próximo capítulo é o último, não haverá resumo.

(Não deixem de participar do fórum. Veja em "Nota da autora - Comentário extra" como fazê-lo.)

-oOo-

Notas da autora - Explicações

( 1 ) Mu foi acusado injustamente de ser um policial corrupto. Kamus acreditou em seu trabalho e chamou-o para trabalhar em sua equipe. História contada no capítulo II - Capítulo II - Kamus versus Milo.

( 2 ) O quadro pode ser visto acessando o Google, aba de imagens, escrever: Trigal com corvos Van Gogh

( 3 ) Não em francês

( 4 ) Eu TINHA que dar um jeito de aparecer nesta fic rsrsrs

( 5 ) Pessoa que honra os compromissos caso o contratante do empréstimo recuse-se ou não possa pagar.

( 6 ) No Capítulo XII – Conjecturas, Shaka cogitara a possibilidade dos crimes serem uma vingança de Radamanthys contra o chefe.

Nota da autora – Comentário extra

Oiê ! Fiz um fórum no Fanfiction para que todos possam dizer quem acham que é o novo Escorpião Escarlate e porquê acha isso. Eu criei há duas semanas e não havia outra forma de divulgar a não ser no capítulo XIII (que já estava no ar). Às pessoas que se sentiram frustradas por não ser um capítulo novo, peço desculpas. Acho que me empolguei demais.

Espero que agora vcs curtam a novidade, visitem o fórum e deixem suas impressões. O que vale é participar. (Para acessar basta, a partir do menu principal, clicar em Forums, Anime, Saint Seiya e procurar por "Fic O Escorpião Escarlate...")

Nota da autora - Agradecimentos

Agradeço a todos que acompanham a fic e principalmente às que deixaram mensagens no fórum e a quem escreveu: Lina Lunna; Miki-Chan; Ilía-Chan; Litha-chan; Gemini Kaoru; Guilherme; Arashi Kaminari; Kagura; Ophiuchus no Shaina; Makie; Nana Pizani; Camis; Margarida; Cardosinha; Lininha; Tsuki-Chan; Virgo-Chan; Shakinha; Srta Nina; Ana Paula; Anjo Setsuna; Mila Boyd; Nanda; Francine ; Babi-DeathMask; Lili-Psique; Persefone-San; Jade Netto ; Polarres; Gigi (Obrigada pela review. Infelizmente não respondi pois não tinha seu e-mail) ; Virgo-Chan;elfa (Obrigada pelo e-mail. Infelizmente não pude respondê-lo, pois eu não tinha seu e-mail); Hokuto-chan; Lady Yuuko; Sah-Rebelde

Nota da autora – Indicação de Fic

Indico, a todos que quiserem uma fic intensa, a Hell 75016 da Arashi Kaminari. O personagem principal é o Misty e mesmo para quem não é fã dele (como eu não era) a satisfação durante a leitura é garantida. Depois de ler passei até a gostar do francês ! Beijos Arashi e sucesso.

O link é http (dois pontos) (duas barras) www (ponto) fanfiction (ponto) net (uma barra) s (uma barra) 2728229 (uma barra ) 1 (uma barra)

Nota da autora - contato

Podem me contatar, brigar, criticar, reclamar, dar dicas ou só escrever para bater papo no erika(ponto)patty(arroba)gmail(ponto)com (não tem o BR) ou via review neste site. Como já sabem, respondo a todos.

Bela Patty XD

- Junho / 2006 -