É sempre bom afirmar: essa fic foi inspirada em Santuário Times, de Calíope Amphora. Leiam! Vale muitíssimo a pena!


Cap. 2 – Lembre-se, Milo. Bebida e celular não combinam!

Milo passou o resto do dia quieto, meio amuado. Se o cavaleiro era sempre brincalhão, bem disposto, dono das melhores tiradas da turma, ultimamente algo vinha mudando seu temperamento.

Tudo começara uns dois meses antes da reunião daquela manhã. Naquele dia, Milo estava com uma ressaca fenomenal. A balada tinha sido um desastre! Máscara da Morte e ele haviam ficado com duas mulheres simplesmente maravilhosas, eventualmente trocando os pares no meio da noite, mas a bebedeira impedira-os de ir além de alguns amassos mais afoitos. Aiolia tinha sido um chato, permanecendo no bar enchendo a cara o tempo todo.

Milo repassou mentalmente o diálogo que tivera com Aiolia naquela fatídica noite.

– Oh, Leão, que que é isso? Vai ficar aí nesse bar a noite toda? Olha, essa daqui é Cécis! – disse Milo, apresentando-lhe uma linda garota, de olhos e cabelos negros, pele branca e seios fartos. – Ela quer muito te conhecer, sabia?

Aiolia, já meio bêbado, lançou para Milo um olhar assustador, nem sequer olhando para a menina. Cécis entendeu o recado, piscou cúmplice para Milo, e saiu em busca de algum outro com quem passar a noite.

– Vai, Leão, fala aí o que ta te deixando assim, vá! – Milo perguntou. Preocupava-se com o amigo, afinal, os dois gregos eram o terror do Santuário. Divertiam-se e muito aprontando com Máscara da Morte, trocando os produtos de beleza do Afrodite por genéricos falsificados made in Paraguai, mandando bilhetes de amor para Shaka assinados por Mu e vice-versa. O único que sempre escapava das brincadeiras era Camus, pois os gregos, no fim das contas, tinham e muito amor à vida, o que fazia com que a visão deles enterrados para toda a eternidade num esquife de gelo soasse um tanto quanto aterrorizante.

Além disso, Milo e Aiolia eram protótipos do jovem bonito (melhor dizendo, estonteante) e mulherengo. Saíam sempre juntos na noite grega, esbaldando-se, e dificilmente terminavam a noite sozinhos. Eram conhecidos (biblicamente, diga-se de passagem) e cobiçados por muitas garotas, isso sem contar com as turistas, sempre em busca de diversão na sensual noite de Atenas. Exatamente por isso, o comportamento do cavaleiro de Leão naquela noite assustava e deprimia o escorpiano.

– Ai, Milo, me responde uma coisa... – disse Aiolia, fitando o amigo nos olhos – você acha que um dia essa vida que a gente leva vai perder a graça? Quero dizer, veja bem... – e os olhos de Leão ficaram marejados – você já se pegou pensando somente numa pessoa? Que a vida sem essa pessoa perderia a graça? E aí você simplesmente não consegue olhar para mais ninguém... como se ninguém mais importasse além daquela pessoa?

Milo olhou abobalhado para o amigo leonino. Não, nunca tinha passado por aquilo. E não, nunca iria passar por aquilo. Se bem que àquelas palavras surgiu a imagem de um certo alguém muito rapidamente por sua mente, mas Escorpião estava demasiadamente preocupado com Aiolia para se preocupar com aquela lembrança surgida do nada naquele instante.


– Milo? Miloooooooo! – chamou uma voz conhecida, tirando o grego de suas recordações.

– Valha-me Atena! Que eu fiz pra merecer isso? – pensou alto o cavaleiro de ouro da oitava casa, maldizendo a bendita voz. – Fala, Shura, que foi, espanhol de mierda?

O espanhol em questão já nem se dava mais ao trabalho de bater na porta do amigo. Simplesmente entrava, ventando, exibindo o temperamento mediterrâneo típico. Que não diferia do temperamento do próprio Escorpião, pra falar a verdade.

– Ah, vai te catar, oh, Escorpiãozinho – Shura disse, já se sentando ao lado do grego, em sua cama. – Então, cabrón, hoje à noite o Aiolia, o Saga, o Afrodite, o Máscara, eu, o Shaka, o Mu e o Deba vamos sair pra jantar. Restaurantezinho bacana, tranquilinho, lá no centro. Nós nos encontramos às 20:00h., lá no Deba. Beleza?

– Olha, Shura, agradeço o convite, mas eu não vou não – retrucou Milo, pela primeira vez na vida incomodado com o fato do espanhol não ter batido na porta antes de entrar. Milo queria ficar sozinho. Remoendo fatos e sentimentos. E maldizendo a vida. Afinal, tinha direito, oras! Embora fosse um cavaleiro de Atena, era um ser humano como outro qualquer. "Bom, talvez não como o Camus", pensou e riu um sorriso triste. Olhou para o lado e encarou um espanhol atordoado à sua frente.

Coño, Milo, usted nunca se nega a sair com a gente. Por Atena, o que está acontecendo com você? Já faz um tempo que você anda estranho, cabisbaixo... qué pasa?

Milo soltou um longo suspiro. Tudo o que ele não queria era ser interrogado do porquê da sua mudança recente de comportamento. "Zeus, era só o que me faltava. Eu não vou nesse jantar de jeito nenhum. E o pior é que, não indo, tenho certeza absoluta de que o tópico da reuniãozinha será o que fazer pra alegrar o Milo e o que raios está se passando com ele...", pensou o Escorpião. Tomou fôlego e disse a Shura:

– Olha aqui, Caprica, seguinte: não quero ir porque não estou bem disposto, só isso. Vão vocês, divirtam-se, façam um bolão pra ver se advinham o porquê da minha ausência, mas me deixem em paz, certo? – disse Milo, sorrindo verdadeiramente.

Shura riu. Esse era o Escorpião de sempre! Sarcástico e brincalhão. O espanhol simplesmente adorava o amigo. Admirava-o de verdade. O jeito leve de Milo, que sempre parecia levar tudo numa boa, encarando mesmo os assuntos mais sérios com uma leveza de dar inveja ao sisudo capricorniano, que sempre se preocupava exacerbadamente até com os assuntos mais levianos. E Shura sabia que, mesmo que o outro encarasse as coisas de modo tranqüilo, sempre brincando, não se negava ao trabalho, era leal, fiel a Atena e a aos amigos, e que podia sempre contar com ele. Bateu amigavelmente no ombro do grego, e contentou-se dizendo:

Muy bien, Milo, muy bien. Si así quieres... Pero tu sabes, nosotros estaremos con Deba por las ocho de la noche! Si te cambias de idea... (1)

Milo riu com gosto dessa vez. Adorava quando Shura esquecia-se que estava na Grécia e desandava a falar em espanhol. Milo sabia da admiração que o capricorniano sentia por si, e a recíproca era verdadeira. Escorpião sentia-se lisonjeado por ser admirado pelo cavaleiro mais leal a Atena. E adorava o jeito sisudo do amigo, mas como Milo gostava de definir, "sisudo de fachada". Porque Shura adorava dar idéias para Aiolia e Milo aprontarem com os outros. A melhor brincadeira de todas tinha sido idéia do espanhol: o dia em que trocaram os produtos de beleza do Afrodite. A cena hilária ficaria na cabeça de todos os cavaleiros – menos de Camus, obviamente – por muito tempo ainda. Claro que o espanhol se safou da bronca de Saori, toda a culpa caindo nos dois gregos. Mas assim era Shura: impagável humor britânico, senso de humor apuradíssimo, esquentado por seu temperamento mediterrâneo, mas calculista por ter nascido sob o décimo signo zodiacal. Figura espetacular!

– Ai, Shura, ok, pode deixar, que se eu mudar de idéia apareço por lá – disse, sorrindo, e o espanhol já se levantava para ir embora. – Mas olha, presta atenção: não é porque eu falo espanhol muy bien que os outros também falam, viu? Não esquece que você ainda está na Grécia, cabrón de mierda!

Shura deu uma gargalhada e balançou a cabeça. "Ai, esse aí não tem jeito mesmo", pensou o capricorniano. Deixou a casa de Milo pensativo, um tanto quanto melancólico, porque embora Milo tivesse se esforçado para brincar com ele, sabia que algo estava errado com o grego. "Ah, cabrón, tienes razón. Se não for ao jantar, com certeza o tópico será essa sua carinha triste...", murmurou para si mesmo quando já atingia as escadas do Santuário, subindo novamente rumo à sua casa.


Assim que o espanhol deixou sua casa, Milo voltou-se novamente àquela conversa que tivera com Aiolia naquela maldita noite. As palavras do amigo ecoando em sua cabeça: "e aí você simplesmente não consegue olhar para mais ninguém... como se ninguém mais importasse além daquela pessoa?".

"Droga, droga, droga, mil vezes droga", gritou Milo, abafando os gritos numa almofada. Continuou remoendo aquelas lembranças...

– Mas Aiolia, pelamordezeus! Você tá aqui, cheio de gata... aliás eu deixei minha gata ali num canto pra vir aqui ver você bebendo feito besta... e você aí, com essa cara de pazzo, como diria o Máscara, porque tá apaixonadinho... bem que eu te falei que essa sua amizade com o Seiya não ia dar certo! Tá vendo, se apaixonou pelo menino! Aiolia, não quero te decepcionar mas... isso não vai dar certo! Ele é muito burro pra você! – o Escorpião disse, tentando animar o amigo.

Aiolia sorriu um sorriso amarelo. Tinha achado graça na colocação do amigo, mas estava preocupado demais para sorrir de verdade. – Traz mais um whiskey, garçom. Cowboy e duplo! – gritou. À sua frente, alguns copos vazios denunciavam o tamanho da bebedeira do Leão.

– Zeus, Aiolia, você tá maus mesmo, hein, amigo? – Milo disse sorrindo. – Mas vai, me fala, quem é a felizarda?

– Vai me dizer que você não sabe, Milo?

– Sei sim, Leão. Marin. Mas olha, vai lá, fala com ela... dá pra notar que ela é a fim de você também... Pára de beber e toma uma atitude, homem!

– Ah, sabe, Milo? Eu sou capaz de chegar em qualquer mulher aqui. Mas com ela é diferente... é muito diferente! – Aiolia disse, esfregando a testa com a palma da mão, em sinal de puro desalento.


Em seu quarto, à luz daquela lembrança, Milo amaldiçoou as palavras do amigo. "Maldito Aiolia! Maldito! O desgraçado tinha razão. Toda a razão do mundo!" A seguir, continuou relembrando.


– Oh, garçom! – Milo gritou – Me traz o que você tiver de mais forte aí, por favor! E quanto a você, Aiolia, está fazendo tempestade em copo d'água. Tá é bêbado e fica aí, querendo ser o centro das atenções. Pensa que eu não te conheço, é?

O garçom chegou com um drink fumegando. – Chama-se o inferno de Hades! – disse o sorridente rapaz.

Milo soltou uma gargalhada sincera, e Aiolia estatelou dois olhos enormes quando ouviu aquela frase. "Se esse povo soubesse da missa um terço...", pensou Leão.

– Continuando... – disse Milo – se você quiser se divertir com a gente, estamos ali, ó, o Máscara e eu. Caso contrário, continua aí afogando suas mágoas na bebida! – e dizendo isso, o Escorpião foi ao encontro de seu amigo italiano, que conversava animadamente com duas garotas num canto do salão.

Naquela noite, Aiolia bebeu mais do que devia. Milo, então, nem se fala. Bebeu mais três "infernos de Hades", isso sem contar as quatro doses de vodka que já havia tomado. Máscara não ficou para trás, enchendo a cara de muita cerveja e muita vodka. Os três terminaram a noite na sarjeta, literalmente. Embora a noite tivesse rendido companhia para Milo e Máscara, os dois estavam bêbados demais para ir dali para algum outro lugar, e acabaram dispensando as meninas.

Estavam, então, com um grande problema nas mãos: como ir embora? Quem dirigiria naquele estado?

Milo sacou um celular do bolso e entregou-o a Máscara. – Vai, Câncer, disca pro Shaka e pede pra ele vir nos buscar! Pelamordezeus, agora! Antes que minha cabeça se exploda em duas!

Máscara discou um número e, dois toques depois, atendeu um Shaka sonolento do outro lado. Quando ouviu o pedido de Máscara, Shaka xingou os três com toda a força de seus pulmões, o que definitivamente não era do feitio do cavaleiro. Alguns dias depois, os dois descobriram que aquela era a primeira noite que Shaka e Mu passavam juntos, os dois se entendendo finalmente, e muito do entendimento devido não mais e não menos aos bilhetes de amor que os gregos enviavam aos dois, de "brincadeira".

Máscara, atônito, contou aos outros dois a reação de Shaka. Aiolia começou a chorar desesperadamente, ao passo que Máscara fazia cara de quem iria vomitar logo, logo. Milo então tomou o celular das mãos do italiano e discou outro número. Do outro lado da linha, Peixes atendeu com voz de poucos amigos, não sendo possível entender nada do que o sueco dissera a não ser um "virem-se!", seguido de mais uma série de impropérios inintelegíveis.

Depois de discarem os números de Aldebaran, Saga, Mu (que obviamente não atendeu, espantando ainda mais os bêbados cavaleiros de Atena) e até mesmo de Shina e Marin (o que causou um desespero fora do normal a um já desesperado Aiolia), e ouvirem sempre a mesma resposta, Milo respirou fundo e foi até a letra "C" da agenda de seu celular. Camus. "Que Atena, Zeus e todos os deuses me protejam, mas essa situação é grave. E situações como esta requerem medidas drásticas. Mesmo que isso signifique ligar para o Camus no meio da madrugada!", pensou e discou, já se preparando para receber um execução aurora via telefone.

Ah, mama, s'il vous plaît, je suis très fatigué. Appellez-moi demain! (2) – atendeu um sonolento Camus.

– Camus, hum... – Milo não havia entendido nada, e estava quase sóbrio devido ao medo que o francês despertava nele – aqui é o Milo.

Milo ouviu algum barulho, como se o outro cavaleiro tivesse se mexido assustado na cama.

– Milo? O que foi? Aconteceu alguma coisa? – Camus respondeu num grego perfeitamente correto, já inteiramente desperto. – Foi algo com Atena? Diga-me, Milo!

– Não, não, Camus... – Milo nunca se sentira tão constrangido em sua vida quanto naquele momento – é que eu estou aqui, com Aiolia e Máscara, e nós, bem... sabe como é... ou melhor, você não sabe como é... mas enfim, nós bebemos um pouco demais... não podemos dirigir de volta pro Santuário... O Aiolia e o Máscara já estão passando mal, o Aiolia tá chorando feito um bebê aqui e o Máscara tá até verde...

Do outro lado da linha, Camus não resistiu e sorriu. Milo sentiu que o francês sorria, mas pensou que era efeito da bebida. "Sorrindo, o Sr. Fala-Comigo-Que-Eu-Te-Congelo-Num-Esquife-De-Gelo"? Jamais! E o que era pior: Camus não dizia uma única palavra. O silêncio no telefone estava constrangedor. E então Milo tomou todo o fôlego que ainda lhe restava e disse:

– Camus, vem buscar a gente, pelamordezeus?

Novamente, Milo pôde sentir que o outro sorria, e mais uma vez pensou ser o efeito da bebida.

– Milo, eu até iria – retrucou Camus, sua voz novamente demonstrando aquela impassibilidade que lhe era de praxe. Mas a frase do francês assustou Escorpião, que já se sentia até gelado por antecipação. – Mas pensa comigo – prosseguiu Aquário, sua voz transmitindo calma e racionalidade – eu iria até aí de carro, certo? Aí então seriam dois carros pra trazer de volta, não é mesmo?

Milo sentiu-se idiota. Burro. Estúpido. Como não havia pensado naquilo antes? E o que mais o irritava não era o fato de não ter pensado naquilo antes. Era de estar se sentindo um estúpido e de estar fazendo papel de palhaço justamente para Camus. Importava-se de maneira assustadora com o que Camus pensava. De fato, Milo era o único que pedia a opinião do francês para alguns assuntos. Como o dia em que subira até a décima primeira casa para perguntar ao francês se estava bem vestido para sair. E o francês, à sua maneira, fora-lhe solícito, dando até algumas dicas de combinações. Milo realmente achava Camus um cara legal, que deveria se soltar mais, lógico. Mas não entendia porque raios havia ruborizado ali, ao telefone, por se sentir idiota frente ao outro. Milo não era disso...

– Milo, você ainda está aí? – perguntou Camus, estranhamente solícito, quase demonstrando preocupação.

– Sim, estou sim, Camus – Escorpião respondeu, mais constrangido do que nunca.

– Olha, Milo... se eu fosse você, pegava os outros dois bêbados e tomava um táxi. Deixa o carro aí. Vocês têm dinheiro?

– Temos, sim, Camus – Milo sentia-se a cada minuto mais idiota.

– Então, deixe o carro aí mesmo, amanhã eu te levo até a cidade e você pega o carro de volta. Está bem? – era loucura, mas Milo poderia jurar que Camus estava com uma voz doce e preocupada ao mesmo tempo. "Ai, maldito inferno de Hades!", pensou Milo.

– Perfeito Camus. Não sei como não havia pensado nisso antes! – disse Milo.

– Ah, vocês três deveriam estar com a cabeça ocupada demais com coisas importantes para pensar em algo tão simples, n'est-ce pas, Milo? – Camus disse de modo irônico. Milo corou ainda mais.

– Bom, Camus, agradeço! Até logo! – respondeu Milo àquela provocação velada, e ao ouvir o francês se despedir do outro lado da linha, desligou o telefone.

Escorpião olhou para os lados. Podia sentir sua face quente de tão vermelha. "Que vergonha, Zeus! Que vergonha!", pensou para si mesmo, esfregando os olhos e balançando a cabeça em negação. Então não agüentou e vomitou, ali mesmo. Recuperou-se e fez sinal para um táxi. Carregou os outros dois da maneira que pôde para dentro do carro, e dirigiram-se ao Santuário.


Às 20:00h., todos se reuniram na casa de Aldebaran. Viram algumas fotos do Brasil, animando-se com a viagem que estavam para fazer. Em seguida arrumaram-se e foram para o restaurante, animadamente, divididos em três carros. – Para ter mais espaço – disse Aldebaran, e todos riram. Afinal, o tamanho do brasileiro era impressionante. Sem nada falar, todos notavam a ausência de um certo grego entre eles...

– Certo, cambada. Vamos lá. O que ta acontecendo com o Milo? – Shura perguntou, já não conseguindo mais se segurar.

– Ah, Shurinha. Isso tudo é ciuminho. Pode perceber: essa carinha de Maria Madalena arrependida do Milo se manifestou desde que o outro terror do Santuário, nosso amigo Aiolia ali, resolveu se declarar para a Marin. O amor da vida do Escorpião namorando e vocês ainda se perguntam o porquê da falta de ânimo do nosso amigo, hein? – Afrodite disse, brincando, pois no fundo sabia que aquilo não fazia o menor sentido.

– Iiiiih, Dite, antes fosse isso mesmo – retrucou Aiolia – porque se fosse isso eu até que convidava nosso amigo venenoso pra dividir a cama comigo e com a Marin – o grego completou, rindo. Então seu semblante fechou, e ele continuou. – Mas pelo que me consta, a coisa é mais séria. Até porque eu não passo 24 horas por dia com a Marin, e já cansei de convidar o Milo pra fazer altas coisas, até pra invadir sua casa e ter ver pelado, Dite – completou Leão, rindo um riso preocupado.

– Olha, uma coisa eu digo: taí algo que nunca eu quero ver na minha vida, o Dite pelado. Nheca! – riu Aldebaran com gosto. – Mas eu estou sim preocupado com o Escorpião, viu? Nem animado com a ida ao Brasil ele está. E olha que a gente vivia combinando essa viagem, ele sempre se demonstrou muitíssimo animado em conhecer meu país!

– Em conheceras regazzas do seu país, Deba!As regazzas! – riu Máscara, tomando um gole generoso de vinho.

Eco, Máscara! É vero! – riu-se Aldebaran.

E então eles continuaram discutindo o porquê da mudança repentina de Milo. Os únicos que permaneciam calados eram Mu e Shaka. Mu porque desconfiava – ou, melhor dizendo, tinha quase certeza – do motivo da tristeza do cavaleiro da oitava casa. E Shaka porque desconfiava – ou melhor, tinha quase certeza – de que o namorado sabia e muito bem o que estava tirando Milo do sério daquele jeito.

Shaka, acariciando levemente a mão direita do namorado, aproximou-se dele, como quem ia dar-lhe um beijo no pescoço. Era o que Mu esperava. Mas, ao invés disso, ouviu um sussurro em seu ouvido. – Presta atenção em mim, concentre-se, porque preciso lhe falar – disse-lhe Shaka. E a essa ordem Mu obedeceu. Desligou-se de todo o ambiente. Abstraiu as vozes dos amigos. Concentrou-se em Shaka e apenas nele. Este, por telepatia, perguntou-lhe:

– Querido, algo me diz que você sabe e muito bem o que está se passando com Milo...

– Saber eu não sei, mas que desconfio, desconfio.

– E você não vai me contar? Olha que pode haver retaliação... já pensou nisso? – e aí sim Shaka, que estava com a cabeça reclinada no ombro do namorado, deu-lhe um beijo no pescoço. Mu riu e alisou os longos cabelos loiros do amante, já pensando na noite maravilhosa que iriam ter. Não, não queria nem pensar na possibilidade de retaliação!

– Hum, não vou arriscar uma retaliação nesse sentido, não. Mas também não vou te contar tudo o que eu acho... vou te dar uma dica, está bem? Quando Dite disse algo sobre o fato de que Milo está assim cabisbaixo desde quando Aiolia declarou-se para Marin, ele não deixa de estar certo... só que, de repente, não é esse o evento deste fatídico dia que está causando essa reviravolta toda na vida do Escorpião... – disse Mu telepaticamente ao namorado.

A face de Shaka se iluminou repentinamente. Sim, Mu estava certo. Como não havia percebido? O cavaleiro de virgem então entoou uma prece a Buda, pedindo por seu amigo Milo. "Buda, como ele deve estar sofrendo...", pensou Shaka, visivelmente consternado.

– Olha, eu posso apostar com vocês como as duas moçoilas aí sabem exatamente o que está acontecendo com o venenoso da oitava casa... – Saga tirou os dois namorados de sua concentração.

– Eh, Saga, não tenho a menor dúvida disso – Shura concordou com o amigo.

– Sabe o que eu acho? – disse Mu, falando pela primeira vez naquela noite. – Que a gente deve deixar o Milo em paz e continuar com nosso jantar!

Todos soltaram um burburinho de descontentamento mas seguiram a ordem do cavaleiro de Áries. Se ele assim dizia, a coisa deveria ser realmente séria. Mas todos tiveram certeza de que Mu e Shaka sabiam e muito bem o que se passava com Milo...


Em sua casa, Milo continuava se torturando, trazendo à tona memórias que preferia esquecer. Coisas que aconteceram e que não deveriam ter acontecido. Palavras ditas que não deveriam jamais ter sido proferidas! Sentimentos que não deveriam nunca ter sido percebidos!

Naquela noite, há dois meses atrás, Milo desceu do táxi cambaleando, carregando um também cambaleante Máscara, que por sua vez arrastava um desfalecido Aiolia. "Ai, meu Zeus, carregar esses dois até suas casas não vai ser nada fácil. Que Atena me ajude!", pensou o Escorpião. Entretanto, parou de repente. "Zeus, Atena e todos os deuses, vocês ouviram minhas preces! Só não pensava que seria esse o mensageiro...", Milo disse para si mesmo, mas alto o bastante para que a esguia figura parada na frente da entrada do Santuário ouvisse.

Camus ouviu aquilo e pensou seriamente em virar as costas e subir novamente a interminável escada até a décima primeira casa. Então ele havia sido acordado no meio da noite por um bêbado e seus acólitos, tinha se dado ao trabalho de se trocar e descer a maldita escada até a entrada do Santuário, preocupado com os arruaceiros, e agora ele não era um bom mensageiro? Pensou em mandar Milo às favas, mas olhou o cavaleiro e se compadeceu. O amigo estava com cara de quem havia bebido o mundo, mas esforçava-se para não desmaiar ali mesmo. "Admirável, Milo!", pensou Camus. "Esforçando-se para ajudar os amigos, estando ele próprio numa situação nada melhor do que eles! Bobo, mas admirável!", o aquariano murmurou para si.

Milo, por sua vez, sentia-se ruborizar novamente. Não queria acreditar que justo Camus, o único que ele não suportaria que o visse naquela situação, estava ali, na sua frente, e com cara de poucos amigos. Provavelmente o outro ouvira a besteira que ele havia dito segundos antes. "Maldito seja você, Milo, que fala sem pensar!", o Escorpião pensou para si mesmo.

– Camus, abençoado seja você! Foi Zeus quem te mandou! – Milo praticamente gritou. Camus pegou Aiolia no colo, que a esta altura já estava desmaiado no chão, e fez com que Máscara se apoiasse nele.

– Ah, achei que eu não fosse um bom mensageiro dos deuses... – Camus disse ironicamente, embora sua face permanecesse fria como sempre, sem demonstrar o menor sentimento.

"Pronto, Milo, agora é oficial: ele ouviu! E também é oficial: você é o maior idiota do Santuário!", pensou o Escorpião, sentindo-se corar ainda mais, e desejando do fundo do seu ser ver o Inferno de Hades, não o drink, o inferno mesmo. Desejava morrer por sentir-se tão estúpido, e ainda mais na frente de Camus. Olhou para baixo, e seus olhos marejaram. "Maldita bebida. Agora vou conseguir superar minha própria idiotice e chorar aqui, na frente do Sr. Eu-Não-Tenho-Emoções!"

Camus, ainda impassível, perguntou calmamente a um visivelmente embaraçado Escorpião:

– Milo, você tem condições de andar sozinho? Ao menos até a casa do Máscara?

– Sim, tenho sim. – Milo respondeu sem fitar o francês nos olhos.

– Ótimo! Se você precisar de ajuda, segura na minha cintura. E vamos logo, porque já está quase amanhecendo e é um longo e íngreme caminho até sua casa, Escorpião!

Começaram então a subir as escadas do Santuário. Milo andava atrás de um resoluto Camus, que carregava o desfalecido Aiolia e um pendurado Máscara da Morte, que tinha de parar de quando em quando para vomitar no meio do caminho. Atrás de Camus, Milo observava o jeito firme do francês, que vestia nada além do que um short preto e chinelos. Os cabelos verdes da cor do mar, presos no alto da cabeça, revelavam uma nuca maravilhosamente sensual. A pele branca não acostumada ao sol do aquariano reluzia à luz da lua, revelando um dorso extremamente belo, trabalhado por anos de treinamento árduo. As costas de Camus eram fortes e proporcionais. O francês era lindo! Suas pernas eram fortes e muito bem torneadas, e o short, embora largo, não deixava de revelar glúteos firmes e trabalhados. Milo cambaleou e agarrou-se na cintura do amigo.

Escorpião lambeu instintivamente os lábios, estudando cada detalhe da parte de trás do corpo do cavaleiro de ouro à sua frente, a cabeça encostada logo acima do short, seu corpo embriagando-se novamente, mas dessa vez do cheiro do francês coladoa si. "Céus, eu devo estar muito bêbado mesmo!", foi o último pensamento coerente de que ele se lembrou depois. Desfaleceu.

Acordou horas depois, de pijamas, deitado em sua cama. Um gosto horrível na boca, e uma dor de cabeça fenomenal lembravam-no do desastre da noite anterior. Ao seu lado, no chão, um baldecom umconteúdo nada bonito. Do outro lado, no criado-mudo, um copo de leite, onde embaixo via-se um bilhete. Fazendo um esforço sobre-humano, Milo pegou o copo e tomou olíquido num só gole. Pegou o pedaço de papel que estava embaixo do copo nas mãos e leu:

Lembre-se, Milo. Bebida e celular não combinam.

Camus


(1) Muito bem, Milo, muito bem. Se você quer assim... Mas você sabe, estaremos com o Deba às oito da noite. Se mudar de idéia...

(2) Ah, mamãe, por favor, estou muito cansado. Me liga amanhã!


A/N: Sei que o primeiro capítulo ficou super pequeno. Mas espero que esse compense. Não que esteja enorme, mas está maior, sem sombra de dúvidas.Ah, e os cavaleiros vão sim ao Brasil, afinal este é o plot da história. Mas isso vai demorar ainda alguns capítulos... espero que vocês tenham paciência para esperar até lá. Ainda estou retomando o ritmo da escrita, para quem ficou muito tempo sem escrever encarar um fic como essa é um desafio e tanto!

Lu-Hiei-Harumi, agradeço e muito seus comentários. Espero que goste da continuação

Calíope, nem preciso dizer. Muito obrigado pela disposição em ler minha história, e mais ainda pelas dicas super pertinentes. Espero ter melhorado um pouquinho.

A todos, até a próxima!