Cap 3 – Sobre pratos sofisticados e descobertas intensas

Milo desacreditou quando ouviu baterem à sua porta. Olhou para o relógio a seu lado, que marcava 22:00h. "Ai, Zeus, por que eles voltaram tão cedo do raio do restaurante? E será que esse pobre cavaleiro não pode ter um minuto de sossego para sofrer em paz?", pensou.

– Entra, seja lá quem for! – gritou o Escorpião, tendo certeza absoluta que seriam Mu e Shaka, afinal, só os dois ainda se dignavam a bater na porta antes de entrar. Foi para a cozinha tomar um copo d'água e se preparar para dar desculpas esfarrapadas sobre seu comportamento esquisito, e então ouviu alguém chegando, passos leves. "Com certeza, Mu ou Shaka", murmurou para si.

– Sabe, eu acho que vou colocar um anúncio na minha porta: "Não entre, cavaleiro descansando!" (1), pra ver se as pessoas param de vir aqui me encher o saco! – ele disse da cozinha, e então foi para a sala.

Ao ver a figura que o esperava ali, na sua sala, o coração de Milo disparou, a ponto do Escorpião pensar que teria um ataque cardíaco. Esfregou os olhos para ver se estava sonhando, mas ao abri-los novamente lá estava ele, Camus, a mesma expressão séria e impassível de sempre. O aquariano vestia uma calça de brim grafite, sapatos da mesma cor e uma camisa azul turquesa, que contrastava com os cabelos longos, lisos e verdes caindo em seus ombros. Os olhos, também verdes, pareciam frios e distantes, como sempre. Camus segurava um embrulho nas mãos.

– Desculpe-me, Milo, não sabia que você estava ocupado. Bem, vou embora então. Desculpepelo incômodo! – disse o cavaleiro da décima primeira casa, e então virou-se sobre os calcanhares e partiu em direção à porta.

Milo, boquiaberto, ficou alguns minutos parado, como que digerindo o que tinha acontecido. Então, ao perceber que Camus estivera ali, em sua casa, e que ele o tinha colocado pra correr, quase surtou. "Milo, definitivamente, você é o ser mais idiota do mundo!", pensou e saiu correndo, a fim de alcançar Camus.

Este, por sua vez, já se encontrava subindo as escadas em direção à nona casa. Entretanto, o ruído de passos apressados na escada, de uma respiração esbaforida e gritos de "Camus, Camus, espere!", denunciavam a chegada de um certo cavaleiro. Camus virou-se e encarou Milo. Os longos cabelos de safira do amigo caíam sobre seus ombros, e os olhos da mesma cor reluziam à luz da lua, num brilho intenso que era típico do olhar do amigo. Escorpião trajava uma camiseta branca básica e um short azul claro: um pijama, melhor definindo. E sim, Camus achava a figura de Milo espetacular! Não conteve um sorriso quando o outro tocou em seu ombro e, ofegando, dobrou-se sobre o estômago, tentando recuperar o ritmo normal de sua respiração.

– Desculpe, Camus... – disse Milo, ainda ofegante – mas é que... uuuuf... eu pensava que era... uuuuf... um dos outros! – conseguiu completar a frase, não sem algum esforço. Olhou então para cima, fitando o amigo, que – pasmem! – sorria. Milo pensou seriamente em fazer alguma piadinha a respeito do sorriso do outro, mas achou que já tinha dado mancada o suficiente com o aquariano, e guardou o comentário jocoso sobre o sorriso (e que sorriso!) para si. – Enfim, vamos, Camus, vamos voltar pra minha casa. Lá poderemos conversar melhor.

Os dois não haviam subido tanto assim, e a caminhada de volta foi relativamente curta. E silenciosa. Camus tentava entender o porquê do amigo estar tão ofegante, se treinavam tanto e a subida nem tinha sido tão longa. Milo maldizia as sensações que seu corpo impunha-lhe: paralisia, rubor, respiração entrecortada. Mas não conseguia evitar. Afinal, Camus, o Homem de Gelo, não estava ali, a seu lado, caminhando em direção à sua casa? Como se controlar nessa situação?

Chegaram finalmente à oitava casa, Milo fazendo as honras e convidando o francês a se sentar. Depois de se acomodar, Camus disse, sem demonstrar qualquer tipo de emoção:

– Milo, você já jantou?

O grego balançou a cabeça em negação. E seus batimentos cardíacos, já acelerados, aceleraram ainda mais. Seria possível que o francês iria convidá-lo pra sair?

– Pois bem, menos mal. Isso que eu trouxe – disse, apontando para o embrulho que segurava – é coq au vin, prato francês, tradicionelle cuisinne. Por que você não põe a mesa enquanto eu desembrulho isso para comermos, hein, Milo?

Milo mal acreditava no que estava acontecendo. Então Camus tinha cozinhado pra ele? Não, não era possível. Dirigiu-se para a cozinha, indicando o mesmo caminho a Camus. Enquanto Milo pegava pratos, talheres, guardanapos, copos, e tudo o mais, Camus desembrulhava o sofisticado prato.

– Hã, Camus – disse Milo, ainda um tanto bestificado com tudo aquilo – vou até a adega pegar um vinho. Tinto, branco ou rosê?

– Não há necessidade, Milo, eu também trouxe o vinho. Um Bordeaux, tinto, safra de 1999, um dos melhores!

Milo sorriu, meio sem graça. O francês era um homem extremamente elegante e sofisticado. Conhecia os melhores restaurantes, os melhores pratos, os melhores vinhos, os melhores filmes, as melhores músicas. Tinha um gosto apuradíssimo! E Milo sabia que nunca seria tão melhor quanto ele...

Sentaram-se à mesa. Camus levantou-se e começou a servir o amigo. Milo estava extasiado, no céu. Era a segunda vez em sua vida que o Escorpião se sentia como uma donzela de contos-de-fada, maravilhada com seu príncipe encantado. A primeira vez havia sido no dia seguinte àquela noite terrível... E ali mesmo, à mesa, Milo entregou-se novamente às suas recordações.


O Escorpião acordara sentindo-se o pior dos seres. Seu corpo todo doía, sua cabeça latejava de dor, e em sua boca aquele característico gosto de cabo de guarda chuva deixava muito claro que ele havia bebido demais na noite anterior.

Levantou-se muito a contragosto, entrou no banheiro, despiu-se e deixou-se molhar, debaixo do chuveiro, a água gelada ajudando-no a se despertar. Tarefa difícil para ele naquele dia! Sentia-se fraco, extremamente fraco. Nem tanto fisicamente, mas moralmente. Havia dado um showzinho para Camus, justo para Camus! E o que era pior: a última coisa da qual se lembrava era de ter desejado, com todas as suas forças, terminar a noite nos braços do francês.

Lembrou-se do bilhete de Camus. "Lembre-se, Milo. Bebida e celular não combinam!" O que o outro estava tentando dizer? Era um tipo de brincadeira? Estava pisando ainda mais na fraqueza dele?

Desligou o chuveiro e se secou, resignado. Estranhara o banheiro limpo, aliás, seu quarto todo limpo. Com exceção do balde que jazia ao lado da cama. Respirou fundo e levou o balde para os fundos, rezando para que sua serva chegasse o mais rápido possível para livrá-lo daquele incômodo.

Olhou para o relógio. Duas e meia da tarde. "Droga, mil vezes droga! Perdi o treino, perdi o almoço, perdi tudo...", pensou o cavaleiro de ouro da oitava casa, maldizendo-se por ter se deixado dominar assim tão facilmente pela bebedeira.

Dirigiu-se para o guarda-roupa e escolheu uma roupa leve: camiseta branca, uma das muitas que ele tinha, e calça jeans. Prendeu os cabelos azuis num alto rabo de cavalo, e calçou um par de tênis all star brancos. Um visual jovem, simples e clean, como ele gostava de estar em dias normais (leia-se: dias em que não tinha de brigar com os de bronze ou guerrear contra Hades, entre outras coisas abomináveis, tudo para salvar aquela insuportável adolescente mimada em que Atena resolvera reencarnar).

Sentou na cama e suspirou. "Zeus, por que eu não paro de pensar no Homem de Gelo?" Resolveu sair. Subiu as escadas instintivamente. "Vou ver Afrodite", pensou. "Háh, quem estou tentando enganar? Eu quero ver Afrodite para poder passar pela Casa de Aquário, isso sim!", Milo pensou, embora racionalmente ainda não entendesse o porquê. Queria ver Camus, precisava ver Camus. Saiu e começou a subir os degraus rapidamente. Passou apressadamente pela nona casa, sem nem tomar fôlego. Continuou sua caminhada, Santuário acima.

– Hey, mira, o bêbado número 1! – Shura gritou ao ver o amigo passar por sua casa. Milo parou e sorriu.

– Ah, vai, espanhol de mierda, vai me dizer que nunca bebeu até cair, vai?

– Já bebi e não nego, amigo. Mas eu nunca recorri ao geladinho aí de cima, não... – disse Shura, e soltou uma gargalhada gostosa.

– Aaaaaaah, isso é porque nenhum dos meus outros amigos dispôs-se a me ajudar... – retrucou Milo, fingindo-se de ofendido. Mas corara, e sentia-se ridículo por isso. – Mas Shura, me diz uma coisa: como estão Aiolia e Máscara?

– O Aiolia, ah, é melhor você perguntar pra ele, mas te adianto que ele está muito bem... – disse Shura – Quanto ao Máscara, sabe... ele está bem, está sendo muito bem cuidado... O Afrodite correu mundos e fundos pra cuidar dele... aí tem! – riu-se Capricórnio.

– Bom, menos mal, então... – Milo parecia mais calmo. – Vou subir, quero falar com o Dite.

– Aaaaaah, Milo, me engana que eu gosto! Você quer é agradecer meu vizinho de cima, vá?

O grego teve ímpetos de esganar seu amigo. "Zeus, como Shura está inconveniente hoje!", pensou. Mas então deu-se conta de que a brincadeira do espanhol tinha sido inocente, algo que ele mesmo diria ao amigo se o capricorniano estivesse na situação em que ele se encontrava. "Ok, Atena, te pergunto: o que raios está acontecendo comigo?", pensou Milo, antes de se despedir do amigo.

– Olha, Milo, vai lá na casa do Dite, mas não sei se ele está lá não, viu? De repente ele ainda está lá com o Máscara, cuidando do Masquinha, como ele diz– Shura gritou soltando uma gargalhada gostosa, acompanhando com os olhos quando o amigo virou-se para ele e mostrou a língua, para a seguir continuar correndo escada acima.

O Escorpião nem se importou com a informação transmitida por Shura. O que importava era subir. Era passar pela décima primeira casa. Com sorte, o francês poderia convidá-lo para entrar. "Ah, certo, Milo, agora então você se acha o melhor amigo do homem...", pensou, balançando a cabeça em sinal de negação.

Ao passar pela Casa de Aquário, o grego diminuiu os passos. Mas, infelizmente, nem sinal de Camus. Continuou andando até a Casa de Peixes, e realmente, como Shura dissera, nada do Afrodite.

Resignou-se, então, e desceu. Tudo o que não queria era subir até a Casa do Mestre, onde encontravam-se os jardins. Tinha certeza de que os outros cavaleiros estariam todos lá, e não precisava ouvir uma série de gozações a respeito de sua noitada mal acabada. Assim sendo, a melhor opção era mesmo curtir a ressaca em sua casa. Ou então descer para conversar com Aiolia... não sabia ao certo.

Entretanto, ao passar pela sua casa, deparou-se com uma excelente surpresa. Lá estava Camus, calça social marrom escuro e camisa branca, mocassins também marrons, óculos escuros protegendo os lindos olhos esmeralda, cabelos semi presos. O aquariano estava encostado numa coluna,apoiando-se em um dos pés, o outroflexionado, apoiando-se naparede. Bela figura!Milo sorriu, e o francês retribuiu o sorriso com sua expressão impassível de praxe.

"Realmente o homem é feito de gelo, nossa!", pensou Milo. Mas optou por calar-se, a noite anterior falava por si própria, eo Escorpiãonão precisava passar-se por idiota mais uma vez.

– Hã, Milo, como você está? – perguntou Camus.

– Sentindo-me fraco, minha cabeça dói, e minha boca está com um gosto horrível. Enfim, tirando o que está ruim, está tuuuudo bem! – respondeu Milo, tentando ser leve, brincalhão e cordial ao mesmo tempo.

– Isso é o que dá essa irresponsabilidade de vocês! – disse Camus, fazendo um gesto de desaprovação com as mãos. E o Escorpião, ao ouvir essas palavras, abaixou os olhos, toda a vergonha da noite anterior voltando de supetão.

– Mas, enfim... – completou Camus – vim te chamar para irmos.

– Irmos aonde? – perguntou o grego com uma expressão abobalhada.

– Milo, eu posso estar redondamente enganado... – pontuou Camus – mas seu carro continua estacionado no centro de Atenas, e eu prometi levá-lo até lá para pegá-lo. Se é que ele ainda está lá.

– Queria Atena que sim! – foi a única coisa que Milo conseguiu balbuciar. Não conseguia acreditar que Camus estava ali, todo solícito, ajudando-no a consertar a burrada que havia feito. – Um minuto que vou pegar minhas coisas! – O Escorpião entrou em casa e pegou a chave e os documentos do carro, que milagrosamente não haviam se perdido na noite anterior.

Saiu da casa ostentando um sorriso amarelo. – Vamos, Camus?

Os dois partiram, descendo as escadas. Em silêncio. E Milo mal podia acreditar que estava ali, com o francês, indo para o centro de Atenas.


– Milo? Milo! – chamava Camus, tentando atrair a atenção do amigo, cujos olhos azuis-safira fitavam o nada, na clássica expressão de quem se perde em pensamentos. Não obtendo resposta ou qualquer tipo de reação do grego, Camus não se fez de rogado. – MILOOOOO, gritou.

O Escorpião assustou-se com o grito. A voz da pessoa que povoava seus devaneios gritando seu nome? O susto foi tão grande que Milo se agitou e caiu da cadeira, estatelado no chão, pernas para o alto, nádegas no chão, cadeira voando longe.

Camus, que nunca demonstrava suas emoções, correu, visivelmente preocupado, para socorrer o amigo. Levantou-se rapidamente da sua cadeira e abaixou-se ao lado do grego, tirando algumas mexas de cabelo do Escorpião da frente de seus olhos. – Tudo bem, Milo? – a voz do francês parecia realmente preocupada.

Milo sentiu aquela mão passando por seus cabelos e seu rosto. Como se não bastasse todo o ridículo da situação, toda a vergonha, agora vinha também todo o encantamento, todo o sentimento. O Escorpião, a essa altura sendo ajudado e se levantando pelas mãos do amigo, estava mais vermelho do que o vinho tinto que Camus servira. – Tudo bem, Camus, tudo bem... – disse Milo, esfregando com uma mãocerta parte do corpo, que doía por conta da queda.

Assim, o sempre impassível Camus deparou-se com Milo, vermelho feito um pimentão, olhar cabisbaixo, soltando uma série de impropérios, resgatando a cadeira do outro lado da sala e reclamando de vergonha e de dor na bunda. E então toda a impassibilidade do francês se desfez e ele começou a rir. Primeiro um sorriso leve, que se transformou em risada, e por fim uma gargalhada homérica, dessas de tirar o fôlego e de fazer a gente chorar.

Milo assistia o francês rindo. Estava literalmente boquiaberto. Como assim, o Sr. Eu-Nunca-Esboço-Nenhum-Tipo-De-Reação, sorrindo? Lembrou-se de que Camus tinha sido o único de todos a não chorar de rir ao ver Afrodite com o cabelo todo duro empaçocado de creme made in Paraguai, correndo vestindo apenas um roupão cor-de-rosa, com uma rosa branca e outra negra bordadas e o monograma A embaixo delas, alucinado atrás dele e de Aiolia. Por Zeus, seria aquela cena que ele estava protagonizando ali, naquele momento, mais ridícula do que a do Afrodite? "Ou será que eu estou fazendo o Homem de Gelo perder as estribeiras?", pensou Milo, mas logo em seguida afastou esse pensamento. "Seria bom demais pra ser verdade..."

– Muito bem, Camus, Sr. Sensibilidade – disse Milo, ironicamente – não bastando ter assistido ao meu tombão, fica aí, gargalhando feito besta... eu mereço, viu, eu mereço... – O Escorpião, em pé, mãos na cintura, agindo como uma mulher ofendida pelo marido canastrão.

Pardon, Milo – ainda ria-se Camus – eu sei que não costumo esboçar esse tipo de reação... – completou o francês, já levantando a cadeira do amigo e ajudando-no a se sentar. "Zeus, por que eu não consigo me controlar quando estou perto dele? Por que ele me tira do sério desse jeito? Por que eu acho toda essa infantilidade, esse jeito de ser brincalhão do Milo, uma coisa maravilhosa? Eu jamais vou admitir isso, mas o jeito de Milo me fascina... aliás, Milo me fascina... Mas o que é isso? E afinal, por Atena, por que é que eu vim aqui?", era a vez de Camus perder-se em pensamentos, parado ao lado de Milo, que a esta altura já estava sentado.

Milo não se fez de rogado ao perceber que agora era o outro quem estava perdido em devaneios. – CAAAAAAMUS! – gritou. O francês deu um pulo, assustado.

– Hah, te peguei! – disse o Escorpião, as duas mãos entrelaçadas para o alto, numa pose de campeão. – Viu como é legal assustar os outros? – disse de modo irônico.

– Bom, mon ami, digamos que eu aprendi isso com você! – retrucou Camus, ainda em pé ao lado do Escorpião, fitando-no nos olhos, dobrando-se a fim de se aproximar seu rosto do do amigo. Teve ímpetos de acariciar o rosto do grego, alisar seus cabelos... "Zeus, o que é tudo isso?", pensou o francês. E, ao perceber que estava sendo ele o ridículo da vez, tentou arrumar a frase anterior. – E com o Aiolia também! – retrucou, afastando-se e indo sentar-se em seu lugar, à mesa.

Milo sentia-se no céu. Mal podia acreditar que estava ali, brincando com o Sr. Sério do Santuário, arrancando-lhe gargalhadas e deixando-no sem graça. Tudo aquilo era bom demais pra ser verdade. Alguma coisa não estava certa, não podia estar certa. Mas resolveu aproveitar a noite, deixando-se levar. Tomou um gole de vinho e só então olhou para o prato à sua frente. Coq au vin.

– O que é isso, Camus? Quero dizer, o que significa coq au vin? – perguntou Escorpião, olhando para o amigo à sua frente, tentando quebrar o gelo. Literalmente falando.

– Galo ao vinho, Milo. Experimente! – e Camus deu uma garfada. – Magnifique! – disse o francês, estalando os lábios num gesto que enlouqueceu Milo. "Ai, Atena, ele é sensual demais... uma sensualidade casual, despercebida, natural... mas extremamente sensual, hah!", pensou o cavaleiro da oitava casa, jogando a cabeça pra trás e lambendo os lábios instintivamente, como sempre fazia quando se excitava. E então processou a informação: galo ao vinho. "Galo ao vinho? Ai, caramba, justo galo? Não poderia ser faisão, galinha, frango, chester... tinha que ser justo galo?", pensou o grego.

Camus olhou para o outro e viu que o amigo passou a língua pelos lábios, umedecendo-os. "Ah, marveilleuse, acertei na escolha, ele está com água na boca!", pensou. Mal podia saber que o outro lambera os lábios pensando em si, em como o francês era naturalmente sensual. Milo estava com água na boca, sim, mas não pela comida que estava à sua frente. Estava com água na boca pelo cavaleiro de ouro de Aquário!

Milo olhava o prato num misto de agonia e êxtase. Êxtase pois tinha sido feito por Camus e, ao que parecia, especialmente para ele. Agonia pois se tinha algo nesse mundo que Milo temia, tinha trauma, não conseguia nem olhar, esse algo era galos em geral. Isso porque, quando criança, ainda em treinamento na Ilha de Milos, havia sido perseguido por um galo, que correu atrás dele por motivos que até hoje lhe eram desconhecidos. E Milo, ao invés de partir pra cima do galo, correu apavorado, gritando por seu mestre. Mesmo anos depois, seus colegas de treinamento o chamavam de "Milo, o galinho". Deplorável!

Ainda assim, esforçando-se mais do que quando travava batalhas importantíssimas para salvar sua deusa, Milo deu uma garfada e surpreendeu-se: a comida era deliciosa! Mas aí pensava que era um galo e seu estômago embrulhava. Então pensava em Camus cozinhando para ele e dava nova garfada. E aí então lembrava que era um galo e seu estômago revirava... e aí então pensava em Camus... e assim sucessivamente.

Do outro lado da mesa, Camus estudava as feições do amigo. Uma hora parecia regozijar-se em júbilo, e logo em seguida seu rosto se contorcia numa careta. Camus fez menção de sorrir e dizer para o amigo que se ele não estivesse gostando da comida não precisava comer, mas lembrou-se da gargalhada que dera e decidiu que não podia mais descontrolar-se. "E afinal, isto tudo está é muito divertido...", pensou o francês.

– Milo, eu vim aqui – disse Camus, dando uma golada de vinho – porque tem algo que está me preocupando demais. E de repente pensei que você pudesse ter alguma opinião a respeito que valesse a pena ser ouvida... – completou.

"Sensacional", pensou o grego. "Camus vai se declarar pra mim agora mesmo e terminaremos essa noite juntinhos na minha cama", completou o pensamento, luxurioso. – Pois não, Camus – Milo retrucou, esforçando-se para parecer natural.

– Sabe, Milo, as palavras da Saori da última reunião estão ecoando na minha cabeça até agora... – disse Camus, já se esquecendo do amigo e interiorizando-se em suas próprias preocupações. – Não consigo nem pensar numa festa de fim de ano, quem dirá numa viagem ao Brasil... Imagina todos vocês lá, esbaldando-se, curtindo praias, enquanto eu e o Saga cuidamos dos papéis da fundação... e ainda por cima garanto que vai estar um calor infernal, um sol dos diabos, e eu lá, sofrendo. Como se não bastasse o verão da Grécia, vou ter de encarar o verão do Brasil!

Milo ouvia aquelas palavras como se estivesse sonhando. Então fora pra isso que o francês tinha cozinhado pra ele? Pra reclamar das decisões da Saori? E o que era pior, pra reclamar da única decisão agradável da birrenta?

– Ah, mas faça-me o favor, Camus! – disse Milo, levantando-se e atirando o guardanapo na mesa. – Eu não acredito que eu estou aqui, me esforçando pra comer o que você cozinhou (e Zeus sabe o quanto eu odeio galos, uh!)... – completou, fazendo uma cara de nojo – e você está aí pra reclamar de festa e de viagem pro Brasil? Não consigo acreditar! – e sua voz ia se exaltando cada vez mais. – Credo, Camus! Sério, sério mesmo, não acredito que você veio até aqui, fez toda essa super produção, só pra me dizer isso, pra reclamar das únicas coisas boas que já saíram da cabeça daquele bolo de noiva em forma de adolescente mimada, fala sério! – o Escorpião andava de um lado para o outro, gritando, quase fora de si.

Do outro lado da mesa, Camus assistia, impassível, à cena que o amigo estava fazendo. "Zeus, o que eu fiz demais? Por que ele se alterou desse jeito? E por que eu estou com vontade de chorar e pedir desculpas? O que está acontecendo comigo, Atena?", pensava. Esforçando-se para manter a expressão gelada de sempre, o francês recolheu o que restara do galo e embrulhou novamente.

– Bom, Milo, tendo em vista essa sua reação incompreensível, eu vou embora. Levo o coq au vin porque você, visivelmente, não gostou. Uma pena, um prato tão sofisticado! – disse o francês, enfatizando a última frase, numa atitude clara de desdém. – Deixo o vinho, no entanto, porque sei que de bebida você gosta e entende. Me desculpe por fazê-lo perder seu tempo com minhas preocupações idiotas. – completou Camus, e dessa vez sua voz já mostrava-se séria e clara, como de costume.

Saiu da casa de Escorpião passando por Milo sem dizer mais nada. Este, por sua vez, não conseguia esboçar nenhum tipo de reação. Viu o francês sair de sua casa e ouviu os passos resolutos do outro, subindo as escadas. Foi em direção à mesa,pegou a garrafa de vinho que estava quase cheia nas mãos, tomou uma enorme golada no gargalo mesmo. Deixou-se cair no chão, não mais contendo as lágrimas. Chorou desesperadamente, sentindo-se o último dos seres, o mais idiota e estúpido homem do mundo. "Que outro espantaria assim o homem que ama, meu Zeus?", ainda pensou ao arrastar-se para a cama. Lá, entregou-se novamente às suas recordações, relembrando como se percebera apaixonado pelo cavaleiro do Aquário, o Homem de Gelo, Camus, o cavaleiro mais insensível do Santuário.


Milo lembrava-se de ter entrado no carro de Camus, um Citroën C5 preto. "Sofisticado e belo como ele", pensara o Escorpião à ocasião. Camus deu partida e logo dirigiam rumo ao centro de Atenas. A viagem já durava cerca de 15 minutos, e nenhum dos dois havia dito sequer uma só palavra desde que se encontraram na casa de Escorpião. Aquele silêncio incomodava e muito a Milo, que passara esses 15 minutos remoendo os acontecimentos da noite anterior, tentando lembrar-se de como tinha ido parar em sua cama, se havia dito algo a Camus que lhe levara a escrever aquele bilhete.

Mais 5 minutos se passaram até que finamente chegaram ao centro da cidade. Linda Atenas, povoada por construções antigas e modernas, tudo ali, junto, numa harmonia que só os gregos eram capazes de conseguir! Milo irritava-se cada vez mais com o silêncio dos dois, e ainda mais com a falta de coragem que tinha que o impedia de dizer qualquer coisa coerente ao outro. Aliás, que o impedia de dizer qualquer coisa que fosse!

– Milo, você comeu alguma coisa? – perguntou Camus.

A essa pergunta, Milo sentiu o estômago roncar, uma dor grande. Não, não havia comido nada, somente tomado aquele copo de leite que o outro tinha lhe deixado.

– Não... – balbuciou. – só tomei o leite...

– Hah, como eu imaginava. Bem, vamos nós dois até aquele bistrôt – disse o francês, apontando um simpático restaurantezinho de cadeiras coloridas do outro lado da rua, já estacionando o carro. Desceram e tomaram o rumo do restaurante. Sentaram-se e Milo pegou o cardápio, já olhando apetitoso para muitas das opções. O garçom chegou para anotar o pedido, e Camus tomou à frente do amigo.

– Por favor, para mim o Sr. traga uma salada à parisiense e um steak de frango grelhado, sim? Para beber, uma água com gás. Para o meu amigo de ressaca ali, que deve estar doido para comer algo extremamente indigesto, embora tenha passado muito mal ontem à noite, o Sr. traga uma simples ceasar salad e uma água sem gás, por favor! – disse Camus. O garçom soltou um "pois não", olhando de soslaio para a careta de decepção de Milo.

– Ah, Camus, eu já estou bem... – retrucou Milo, parecendo uma criança emburrada. E viu ali a chance de perguntar pra Camus o que afinal tinha acontecido.—Aliás, Camus... eu aproveito já pra te agradecer por tudo e... também pra perguntar como eu fui parar na minha cama... quero dizer, não me lembro de nada...

Camus então começou a relatar, impassivelmente como de costume, o que acontecera na noite anterior.

– Bom, Milo, você acabou desmaiando – começou Camus – então eu te deixei deitado na porta do Mu, e subi correndo, carregando o Aiolia, que também estava desmaiado, e carregando o Máscara cambaleando pelo ombro. Deixei o Máscara na quarta casa, e depois o Aiolia na casa dele, deitado na cama. Voltei pra te pegar, e você estava meio acordado, meio desmaiado. Te peguei no colo e te levei até sua casa... – foi o que Camus disse. A face de Milo ardia de tão vermelha, e por dois motivos: a vergonha da situação, e a imaginação povoada pela imagem do cavaleiro de aquário carregando-no escada acima. Sentiu-se como uma donzela de contos de fada, maravilhada por seu príncipe encantado. E foi a primeira vez na vida que sentiu essa sensação de entrega e júbilo. Misturada com vergonha e aflição, claro. Mas ainda assim entrega e júbilo.

– E o que queria dizer aquele bilhete, Camus? – perguntou Milo.

– Ah, você ficou o tempo todo dizendo estar envergonhado, que jamais deveria ter me ligado, que se sentia um estúpido – Camus disse seriamente, mas em seu íntimo adorava ver o rosto do grego à sua frente se contorcendo de vergonha e culpa – então eu dizia pra você: "lembre-se, Milo, celular e bebida não combinam...". Resolvi deixar escrito, só no caso de você não se lembrar do meu conselho – completou Camus, e Milo pensou ter endoidecido de vez, porque pôde notar um semi-sorriso no rosto do amigo.

E assim os dois cavaleiros almoçaram (embora fosse mais de 15:00h) e voltaram ao carro. Camus indagara onde estava o carro de Milo, e este ia dando as indicações do caminho, enquanto o aquariano dirigia e prosseguia no relato do que tinha acontecido na noite anterior.

– Então, já na sua casa, você começou a passar mal, vomitou pela casa inteira. Eu te dei um banho, troquei suas roupas e te deixei na cama, daquele jeito que você viu...

Milo quase esqueceu de dizer para Camus virar à direita na próximarua ao ouvir essas palavras. Então Camus dera-lhe um banho e dizia isso como quem dissesse que havia tomado um copo d'água?

– Ah, mentira, Camus... – retrucou Milo – minha casa estava limpa! Não tinha nenhum resquício de vômito a não ser naquele balde...

– Milo, sabe, embora eu não goste muito de história escatológicas – prosseguiu Camus – foi isso que aconteceu. Sua casa e seu banheiro estão limpos porque eu os limpei.

"Pronto, Milo, é isso! O objeto de seu desejo e paixão limpou seu vômito! Que romântico!", pensou o Escorpião. "Mas espera um pouco...", Miro continuou pensando e chegou até a esfregar os olhos para ver se estava sonhando. "Objeto de desejo e paixão? Desejo até entendo, mas paixão? Ai Atena, tô ferrado..."

– Nem sei o que dizer pra agradecer, Camus – disse Milo, visivelmente embaraçado. A vergonha era tão grande que era quase física, se Camus se esforçasse poderia pegá-la com as mãos.

– Tudo bem, Milo, só não seja tão infantil assim. Você é um cavaleiro de Atena, afinal, não pode ficar se dando a esses desfrutes por aí... – disse o francês.

"Não, Milo, você definitivamente não pode estar apaixonado por esse homem que, embora tenha 20 anos, pensa e age como um de 86...", pensou o Escorpião. "Ah, mas não é exatamente esse seu jeito que eu amo?", Milo balançou a cabeça em negação, e tornou a pensar. "Ah, como gente apaixonada é estúpida... o cara poderia arrotar e coçar a bunda aqui e me mandar pegar um breja na geladeira que eu ainda assim acharia lindo... ai Atena, ninguém merece se apaixonar assim. Ainda mais pelo Camus! E ok, Milo, você venceu e é obrigado a admitir. Milo, repita consigo mesmo: você está perdidamente apaixonado pelo mocinho aí do seu lado. Camus, meu príncipe encantado? Ai, Zeus...", pensou revirando os olhos, no mais profundo desalento.

Camus estacionou o carro ao lado do carro de Milo, um Pontiac branco conversível ano 1986, em perfeito estado. "Só podia mesmo ser um desses carros possantes e estilosos...", o francês pensou. No pára-choque dianteiro, um adesivo de escorpião. "Típico", tornou a pensar Camus. O grego, entretanto, sentia uma necessidade absurda de estar com o outro, e não desceu do carro. Camus encarou-lhe e Milo, sem saber o que fazer pra prolongar aquela tarde com o amigo, olhou para os lados, nervosamente. Foi então que viu uma famosa loja de roupas, ao lado esquerdo da rua onde estavam estacionados.

– Sabe, Camus... – disse Milo, timidamente. E tímido era tudo o que o Escorpião não era – eu precisava comprar umas roupas sociais, para as reuniões com Atena. Ali ao lado tem uma loja. Você tem extremo bom gosto. Será que você se incomodaria em me ajudar?

O francês sentiu-se extremamente orgulhoso com aquele pedido, embora não tivesse esboçado nenhuma reação. Adorava quando era reconhecido pelo seu bom gosto e elegância!

Bien sûre, Milo! Claro! – disse, já manobrando o carro e estacionando atrás do Pontiac 86. Desligou o carro e olhou para oveículo do outro. Na placa, lia-se M.I.L.O. 1986. "Típico", pensou Camus, quase achando graça do jeito brincalhão e convencido do amigo.

Foram para a loja e começaram a escolher camisas. Enquanto olhavam algumas, Milo perguntou, desesperado para puxar assunto com o mudo francês ao seu lado.

– E eu perdi muita coisa hoje no treinamento?

– Não, o de sempre. Notaram a sua falta. – Camus respondeu.

– Mas é lógico, aquele bando de agourentos, lógico que devem ter feito um monte de piadas a meu respeito...

– Na verdade, nem tanto, Milo. Claro que inclusive eu agüentei algumas brincadeiras sem graça por sua causa... – Camus disse e Milo de repente interessou-se muito por uma camisa azul que se encontrava abaixo de todas as outras, abaixando a cabeça evitando assim de olhar para o outro– Mas na verdade, o assunto do dia foi o Aiolia.

– Ué, por quê? – Milo indagou, surpreso.

– Pois então você ainda não soube? – perguntou Camus e Milo sorriu-lhe e balançou a cabeça, em negação. Camus achou aquele sorriso encantador, mas não disse nada a respeito, nem mesmo para si próprio – Pois bem, enquanto eu cuidava da sua bebedeira lá na sua casa, o Aiolia, ainda sob o efeito da bebida, lógico, correu até a casa do Shura, invadiu o quarto do espanhol e roubou-lhe o violão. Saiu dali em disparada rumo à casa de Marin, e fez uma serenata pra ela, declarando-lhe amor eterno... – prosseguiu Camus, de costas para o amigo, pois olhava uma arara de camisas do outro lado do balcão. Milo comemorava, pulava atrás do outro, feliz por seu amigo. – E eis que, pelo que eu entendi do que o Afrodite falou, eles se entenderam e estão namorando. – continuou Camus, e Milo já fazia a dança da vitória atrás do amigo. – Vê se pode, Milo? Dois servidores de Atena, entregando-se assim a coisas tão fúteis... vergonhoso, n'est-ce pas?

Quando ouviu essas palavras de Camus, Milo sentiu-se como se tivessem lhe atirado um balde d'água. Oras, os dois que fossem felizes, se amando! E daí que eram servidores de Atena? Então os soldados não amam? Ia argumentar com o outro, cheio de indignação, quando pensou que se Camus pensava assim, nunca seria possível tê-lo por perto... como amante. Milo emudeceu, pois não conseguia conceber a idéia de estar desejando assim tão fortemente o francês.

– Vamos embora, Camus, não tem nada aqui que me agrade – disse Milo, sua feição entristecendo de repente.

– Como não, Milo? Aqui tem camisas lindas, todas muito elegantes! – retrucou Camus.

– É que eu não estou me sentindo muito bem. Vou embora, Camus! Agradeço e muito por tudo. Por ontem e por hoje. Mas agora me vou. – despediu-se Milo do amigo. Saiu da loja e deixou Camus se perguntando o porquê daquela mudança repentina de humor do outro.

Milo entrou no carro e deu partida. Tomou o rumo do Santuário, sua cabeça explodindo de dor e da informação que lhe fora revelada durante aquela tarde, como que por magia. Estava perdidamente apaixonado por Camus! Não se tratava só de desejo... Não podia acreditar que seu coração, tão disputado por tantas moças por aí, tinha traído-lhe daquela maneira, apaixonando-se justamente pela pessoa mais fria que ele conhecia. Logo ele, Milo, um ser tão quente, tão vibrante! E o que era mais estranho: apaixonara-se por um homem. É claro que Milo já tinha tido relações homossexuais antes, mas pensava que era só por diversão. Jamais havia se imaginado amando um. Mas agora a única coisa em que pensava era em Camus, em sua pele branca, seus cabelos lisos e macios, sua boca bem desenhada, seu corpo firme e másculo. "Zeus, tira o Camus da minha cabeça! Atena, que eu fiz pra merecer isso?", pensou e chorou, a dor no peito forte demais para agüentar. Chegou ao Santuário e correu para sua casa, sem nem parar na casa de Aiolia para lhe dar os parabéns pelo namoro. Daquele dia em diante nunca mais fora o mesmo.

Camus, por sua vez, não entendera nada. Fora extremamente solícito com o amigo, cuidara dele na noite anterior, curara-lhe a bebedeira, e ainda por cima trouxera-lhe para a cidade. Almoçaram juntos, passaram uma tarde agradável. E então o amigo simplesmente saía assim, deixando-lhe sozinho? E por que ele se preocupava tanto com isso? Por que Milo não saía de sua cabeça, desde a noite anterior? Por que quando dera banho no amigo notara seu corpo bem definido, seus cabelos safira molhados sobre os ombros, a pele descontraindo ao receber a água morna. O contato com aquele corpo havia esquentado o frio cavaleiro de Aquário, e isso simplesmente não era possível. Não podia ser possível! E mesmo diante desta impossibilidade, importava-se com Milo como nunca havia se importado com mais ninguém. E não conseguia entender porquê. Ao chegar ao Santuário, passou por todas as casas muito rapidamente, embora tivesse passado mais devagar pela casa de Escorpião. Esperava ver Milo e perguntar se estava tudo bem, mas o cavaleiro não estava à vista. Resignou-se e subiu, pensando em quão bobos eram Aiolia e Marin, os quais tinha encontrado aos beijos nas escadas enquanto passava pela Casa de Leão.


Em sua casa, Camus mal podia acreditar que tinha sido praticamente expulso da casa de Escorpião. Então ele cozinhava para o outro, levava vinho, e Milo simplesmente não podia ouvir suas preocupações? "Ora, que audácia!", pensou Camus. Mas seu peito doía, ele queria estar com Milo, só não sabia porquê. Tinha vontade de chorar, ele, o grande Camus de Aquário, Mestre da Água e do Gelo, ele, que nunca sentia, que nunca chorava. Despiu-se e foi tomar um banho, e debaixo d'água, sem ninguém ver, chorou baixinho. "Deve ser a proximidade da festa e da viagem. Zeus, eu estou ficando maluco!", pensou Camus antes de desligar o chuveiro e sair do banho. Colocou um pijama e deixou-se ficar na cama, seus pensamentos estranhamente voltados ao morador da oitava casa do Santuário. Adormeceu sonhando com Milo.


(1) referência à fic Santuário Times, quando Camus coloca um cartaz semelhante em sua porta. Perdão, Calíope, mas não resisti.


A/N: Capítulo longo para meus padrões, espero que gostem. Gostaria muito de saber se vocês estão lendo e gostando. Assim, por favor, deixem-me suas impressões. Certo?

Um comentário sobre a última frase: dormiu sonhando com Milo. O que eu quis expressar é aquele estado do sono em que não estamos nem dormindo nem acordados: não diferenciamos sonho de realidade, fato de imaginação. Mas como não sabia se tinha ficado claro, fica aqui a explicação.

Ah, e claro... Conseguirão Milo e Camus finalmente se acertarem? Aguardem os próximos capítulos. Ah, sim, e peço desculpas, mas o ffnet anda "comendo" espaços e sumindo com acentos, isso sem contar o itálico que vai pro espaço em certas frases... alguém me indica outro site onde postar?

Bia, segue aqui o próximo capítulo, espero que tenha te agradado.

Tenko-no-miko, que bom que você, uma pessoa que não gosta de yaoi, está gostando... mas fala sério: esses dois não foram feitos um para o outro? ;0)