Cap 5 – Sobre reflexões, planos de ação e uma declaração de amor
No salão do Grande Mestre, Atena encarava três dos seus melhores cavaleiros. Mu, cavaleiro de ouro da casa de Áries, um dos remanescentes de uma raça antiga e sábia, os únicos que detêm o poder de consertar as sagradas armaduras. Shaka, cavaleiro de ouro da casa de Virgem, o indiano que era o homem mais próximo de Deus, e em face disso nada mais se faz necessário declarar. Saga, cavaleiro de ouro da casa de Gêmeos e protótipo de Grande Mestre, creditado por alguns como a "reencarnação de Deus", o poder absoluto, maldade e bondade juntas num só corpo, num só cosmo. Todos os três ali, em sua melhor forma, encarando Atena, aquela à qual juraram servir e proteger acima de tudo, acima da própria vida.
Dentro de si, cada um dos três cavaleiros travava uma guerra interna. Pois enfrentavam ali o pior dos inimigos que já haviam enfrentado na vida. E se pensarmos que um desses inimigos foi ninguém mais e ninguém menos do que Hades, isso significa muito. Estavam ali, os três, enfrentando... o mau. O mau encarnado. Encarnado nos desejos estapafúrdios de Saori Kido. Que agora, como que por magia, havia proibido o envolvimento amoroso-sentimental entre seus cavaleiros.
– Minha deusa, poderosa Atena – Shaka adiantou-se – Mu e eu estamos aqui a fim de pedir por sua misericórdia. Gostaríamos que a Srta. revogasse a lei que promulgou hoje de manhã. – completou o cavaleiro, quase tremendo. Shaka definitivamente não era o tipo de pessoa que se abalava com situações mundanas ou problemas pequenos, mas a proibição o estava tirando do sério. Então tinha ele se acertado finalmente com Mu há dois meses para que de repente seu romance se tornasse proibido?
– Shaka de Virgem! – quase gritou Atena, saindo de sua pose até então estática e começando a se mexer em seu trono – Eu não fui bem clara quando escrevi que não aceitaria nenhum tipo de reclamação acerca de meu decreto? – completou a garota, e sua expressão demonstrava indignação.
"Ai, Buda! Dai-me forças!", pensou o indiano antes de prosseguir. – Mas oh, Grande Atena – disse com voz pausada e calma – sei que a Srta é cheia de compaixão e misericórdia. Não as teria então justo com seus servos mais fiéis?
– Pois sim! – tornou Saori olhando com desdém para Saga, que de repente parecia extremamente interessado nos ladrilhos do chão do salão em que habitava há já alguns anos. – Desculpe-me, Shaka, mas não me pronunciarei mais sobre esse assunto. Minha palavra é lei!
"Zeus, não bastassem os surtos do Saga, agora a Saori também vai ter ataque de estrelismo...", pensou Mu. O sempre tranqüilo cavaleiro de Áries tinha permanecido quieto, de olhos fechados, ao lado do namorado. Como que meditando. O lemuriano era um dos seres mais elevados do Santuário. Sua serenidade transmitia calma a todos que procurassem seus conselhos, ou mesmo àqueles que simplesmente olhassem-no mais demoradamente. No entanto, quando o assunto era Shaka ou qualquer coisa que envolvesse o namoro dos dois, o ariano não media forças e se permitia perder as estribeiras (ao menos para o padrão Mu e Shaka de ser). E não era agora, quando tudo se tornava sombrio, que seria diferente. Respirou fundo e deu um passo à frente.
– Atena, deusa da sabedoria e da guerra – disse o ariano, esforçando-se pra não mandar Atena às favas – acredito, humildemente, que essa decisão não seja sábia – Mu não conseguiu dizer essa última palavra sem uma entonação irônica. – Seus cavaleiros a servem fielmente há muitos anos, e não há indício de que o envolvimento entre eles tenha atrapalhado alguma missão.
– Claro que não, Mu! Que eu saiba – Saori disse, também enfatizando ironicamente a última palavra – ninguém namorava aqui nesse Santuário há dois meses. Ou estou enganada?
"Xeque-mate!", disseram-se Mu e Shaka ao mesmo tempo, telepaticamente. "Háh, a convivência tem dessas coisas", Virgem tornou na mente do companheiro, o qual apenas sorriu um sorriso triste. Estavam ali, diante de sua deusa, que agora sem mais nem menos proibira o relacionamento amoroso deles e de todos no Santuário. É claro que poderiam renunciar a seus postos, mas tinham treinado a vida toda para servirem Atena. Dedicaram suas infâncias, suas vidas, à deusa. E agora ela queria algo muito maior que suas próprias vidas: queria que renunciassem um ao outro. E isso os dois, por mais que transbordassem serenidade, não iriam suportar.
Saga, que até então permanecera quieto, não mais se conteve. – Oh, Grande Atena, dá-nos um único motivo para proibir que nos relacionemos entre a gente! – inquiriu fitando Saori nos olhos, ameaçadoramente. E esforçando-se muito para não rir daquele jeito que só ele sabia.
– Saga de Gêmeos! Você, como Grande Mestre desse Santuário, deveria me apoiar. E mais, deveria saber meus motivos! – a menina parecia realmente impaciente. – O motivo é um só: numa batalha, onde residiria a lealdade de vocês? Em Atena ou no companheiro?
– Ora essa, Atena, assim a Srta nos ofende! – disse Shaka, soando realmente ofendido. – É claro que jamais deixaríamos de ser leais a Atena! "Mas que eu te salvaria antes dela, não tenha dúvidas, Mu!", sussurrou telepaticamente para o outro, que corou.
– Não quero pagar pra ver. Minha decisão está tomada e pronto! – disse Saori, resolutamente.
– Não é possível, Atena! – Saga parecia inconsolável – a Srta não terá piedade de nós, pobres seres humanos que só desejamos amar e ser amados?
"Ai, não piora, Saga...", pensou Shaka. E, a julgar pelo olhar cúmplice do ariano ao seu lado, o outro também pensara a mesmíssima coisa.
– Gêmeos, que eu saiba os únicos casais, ao menos oficiais, aqui do Santuário, são os dois seres elevados aí (por essa eu não esperava), os que atendem por Mu e Shaka – Atena continuou, e parecia estar se divertindo, fitando sádica seus cavaleiros – e Aiolia e Marin. Você não está entre eles, não... por que toda essa preocupação?
– Ah, Srta Saori, por dois motivos: o primeiro é que eu sou solidário aos meus amigos... – ponderou Saga. – E o segundo, bem, não posso negar... já peguei meio Santuário e morro de vontade de pegar a outra metade...
"Ai, não piora, Saga...", pensou Mu. E, a julgar pelo olhar cúmplice do virginiano ao seu lado, o outro também pensara a mesmíssima coisa.
– SAGA! – gritou Atena, indignada. – Quer dizer então que se eu não manter –
– Mantiver, Atena! – corrigiu Mu.
– Não, Mu, pelo contrário, se eu não manter –
– Mantiver, Atena! – corrigiu novamente Mu.
– Ai, Mu, como você é burro! – a menina tornou, balançando a cabeça e estapeando levemente a testa – Se eu não manter –
"Tá, desisto!", pensou o tibetano, fitando o chão, resignadamente. "Se ela consegue me fazer perder a paciência, realmente é um caso sem solução!"
– Enfim, continuando – Saori disse, sorrindo, feliz por ter ganho a batalha verbal contra o burro do ariano – se eu não manter minha proibição, Saga, o Sr vai sair por aí pegando geral, é? Pois bem, proibição man-ti-da! – tornou a falar a menina, com cara de poucos amigos. – E agora saiam. E por favor, Saga, chame-me Mestre Camus, vou nomeá-lo Grande Mestre... tenho certeza absoluta de que ele concorda com minha nova lei!
– Hãn, se me permite, Atena – disse Shaka, disfarçando um meio sorriso – Camus de Aquário na verdade nos apóia!
– Zeus, se até ele é contra, eu estou perdida. Estou mesmo cercada por um bando de inúteis! Vá, Saga, então você continua Grande Mestre mesmo, pelo menos por enquanto! Agora vão, me deixem descansar, porque amanhã teremos uma grande festa e eu quero estar radiante!
Os três cavaleiros de ouro deixaram o salão do Grande Mestre cabisbaixos. Tinham perdido a batalha mais importante dos últimos tempos!
– Pois se é guerra que ela quer, é guerra que ela vai ter! – disse Saga e seus olhos flamejaram, ao passo que seu cabelo começou a reluzir em prata, mas em seguida voltando ao tom de azul normal de sempre.
Mu e Shaka apenas sinalizaram com a cabeça, em sinal de concordância. "Quer saber, eu não vou fazer nada se o Saga surtar...", cochichou Virgem para o amante. "Muito menos eu!", cochichou o ariano de volta. Atena conseguira mesmo tirar os dois seres mais calmos de todo o Santuário (quiçá do mundo) do sério.
– Colocaremos, pois, o plano de Camus para funcionar! – disse Mu aos dois amigos – Afinal de contas, ao menos no quesito burrice Seiya e Saori são compatíveis!
Mu teletransportou a si e ao namorado até a casa de Áries. Ao longe, ainda puderam ouvir as risadas maléficas de Saga.
No salão do Grande Mestre, Atena entregara-se às suas reflexões e pensamentos mais recônditos. "Háh, preocupação com batalha o quê! O lance é que enquanto eu não pegar ninguém, ninguém pega!", murmurou pra si mesma, rindo um riso maléfico, à la Saga mau.
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Na oitava casa, alguém também havia se entregado de corpo e alma às suas reflexões e pensamentos mais recônditos. Milo chegara da casa de Aquário e dirigira-se diretamente para o banheiro, a fim de tomar um banho gelado. "Háh, olha só, se ele estivesse aqui, o banho seria realmente gelado!", pensara.
Depois do banho, acalmou-se e jogou-se em sua cama. Abraçado ao travesseiro, deixou fluir todas as suas emoções. Maldizia-se por ter ido embora sem antes satisfazer seus desejos, não só os da carne, mas também – e principalmente – os da alma. Afinal, amava Camus e ponto final.
"Ai, Zeus, por que então não resolvi logo isso de uma vez? Por que tive que sair?", dizia para si mesmo, rolando de um lado para o outro da cama, o simples ato de pensar em Camus fazendo sua pele suar. "Porque você o ama e não quer que isso seja uma simples aventura, Milo!", pensou. "Mas até parece que Monsieur Glasse vai te trazer rosas e te jurar amor eterno... ele quer é te comer e ponto! E agora com essa sua ceninha de donzela de contos de fada, nem isso!", respondeu para si mesmo, levantando-se da cama e dirigindo-se à porta. "Ai, Milo, por Zeus, pára de pensar em Camus ou você enlouquece de vez! Tá até parecendo o Saga, já...", riu e voltou à cama. "Não vou voltar pra lá e pronto! Se ele me quiser, ele que invente alguma coisa!", disse e deixou-se cair sobre o leito. "Ah, Milo... mas e se ele não fizer nada, o que será de você?"
Uma das características mais proeminentes do Escorpião sempre fora a impulsividade. E, tendo a oportunidade de consumar seu amor com Camus pela primeira vez, optara por sair da casa de Aquário. Queria uma prova de amor do aquariano, queria que o homem demonstrasse de alguma forma que o amava. Mas ter se demonstrado tão vulnerável durante a reunião da manhã, na casa de Áries, não tinha sido o suficiente, levando-se em consideração que o homem em questão era ninguém mais, ninguém menos, do que Camus de Aquário, o cavaleiro mais frio entre os 88?
Tudo isso passava pela cabeça de Milo ao mesmo tempo, um turbilhão de sentimentos e idéias. E, no meio de tudo isso, um fato o preocupava mais do que todos. "Atena! Atena proibiu relacionamentos entre os cavaleiros. Logo agora! Mu, Shaka... que vocês sejam felizes em sua argumentação! A batalha não deve estar sendo nada fácil!", pensou num momento de coerência e lucidez, voltando logo em seguida novamente às reflexões desconexas típicas dos apaixonados.
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Camus andava de um lado para o outro em sua casa, catalogando seus DVDs pela quinta vez desde que chegara da casa de Touro: separando por gênero e entre o gênero, pelo diretor. Catalogava o que já estava catalogado, procurando escapar de ao menos tentar organizar na sua cabeça tudo o que havia ocorrido naquela manhã. Ou melhor, tudo o que havia ocorrido naqueles dois meses.
Milo. Todas as suas inquietações atendiam por esse nome simples, porém forte. Desde que o grego telefonara para ele naquela fatídica noite há dois meses atrás, bêbado, implorando por ajuda, que Escorpião não lhe saía da cabeça. Tinha até cozinhado pra ele, impulsivamente (e impulsividade certamente não era uma das características do francês). Camus todavia não havia compreendido o porquê até aquela manhã. Até ter quase enlouquecido ao ler a carta de Atena. Logo ele, que menosprezava o envolvimento de Aiolia e Marin, e mais ainda de Shaka e Mu. "Dois homens, Zeus! Dois servidores de Atena!", costumava pensar quando via o casal de Virgem e Áries passeando pelos jardins de mãos dadas. Pois logo ele, Camus, tinha se deixado cair em seu sofá, mudo, simplesmente desesperado, ao saber que Atena havia proibido o relacionamento entre seus cavaleiros.
Passado o susto da notícia, entretanto, Camus se refez, voltando à sua impassibilidade de sempre. Perguntava-se, porém, por que tinha dado toda essa importância para aquela lei que, a seus olhos, era a atitude mais racional que Saori tinha tomado nos últimos tempos. Naquela manhã, ainda surpreendeu ainda mais a si mesmo ao atender a convocação feita por Afrodite e comparecer à reunião na casa de Mu. E não só: fora Camus quem conduzira a reunião, fora Camus quem apresentara uma possível solução para o problema. E, durante aquela manhã, percebera o porquê de ter dado tanta importância à lei de Atena: Milo! Milo! Milo!
Num momento de fúria, tinha se deixado desarmar pelo cavaleiro de Escorpião, ali mesmo, na frente de todos, na sala de Áries. "Zeus, que poder tem o Milo, de me deixar sem palavras, sem armas!", pensou o francês. E a simples lembrança do toque do outro, de seu hálito quente e seus dedos brincando por suas costas o fazia suspirar. Deixara-se levar pelo abraço de Escorpião, totalmente enredado, envenenado. Percebera-se perdidamente apaixonado por Milo, naquela manhã, naquela reunião, na casa de Áries.
Pra completar aquela manhã bizarra em todos sentidos, não tinha Milo aparecido ali, em sua casa, algum tempo depois de não tê-lo convidado para ficar na oitava casa, finda a reunião? E ainda por cima brincando com coisa séria: aparecera tal qual ele mesmo dias antes, trazendo "comida"!
Haviam se beijado. E a lembrança daquela boca desde então estava a atormentar o francês. "Ah, Milo, pois te dou razão: quando você dizia nas reuniões que quem prova do veneno do escorpião se inebria, tinha razão. Inebriei-me de você, Milo!", pensou Camus, desistindo dos DVDs, deixando-se deitar em sua cama, sentindo o cheiro do grego que estivera ali pouco tempo antes. "E ainda assim você foi embora... deixando-me aqui, assim. Desejando sem ter!", murmurou o francês.
Em seu íntimo, Camus se maldizia por ter se mostrado, por ter se aberto, por ter recorrido à ajuda de Aldebaran, novo velho amigo. Mas estava disposto a fazer tudo para ter Milo, nem que fosse por apenas uma noite. E se era uma declaração que Escorpião queria, era uma que ia ter!
Sentou-se na cama e abraçou-se a si mesmo, não contendo mais as pequenas lágrimas que teimavam em formar-se em seus olhos esmeralda. Pois tinha certeza de que tudo aquilo não passava de um joguinho de sedução de Milo, mais uma conquista, mais um affair sem importância. Ou mesmo uma aposta com Aiolia. Podia até ver Leão rindo-se: "então, Milo, você se julga capaz de derreter o cubo de gelo?"
Maldisse-se uma última vez, dessa vez por ter se apaixonado. Ele, que julgava Hyoga pelo amor que o discípulo sentia por sua mãe falecida, jazia agora perdidamente entregue a um amor proibido de várias formas: proibido pela natureza, proibido por não ser correspondido, proibido por Atena. "Ai, Mu, Shaka, Saga, que vocês consigam reverter essa situação... se não por mim, ao menos por vocês!", desejou o francês.
Ouviu duas batidas à sua porta, e correu para atender. Abriu a porta mais do que rapidamente.
– Ah, é você, Afrodite? – disse Camus, e sua voz e seu rosto demonstrando a mais pura decepção.
– Cruzes, será que o Coração Gelado realmente esquentou, é? Você nunca foi de demonstrar nenhuma emoção... – respondeu Afrodite. – Mas confessa, vai, você esperava o Escorpiãozinho, né, Cami?
Camus sentiu vontade de congelar Afrodite, enterrá-lo num esquife de gelo por toda a eternidade e dá-lo de presente a Máscara da Morte. No entanto, simplesmente sorriu. "Ah, l'amour...", pensou Peixes e sorriu de volta.
– Bem, Cami, vim aqui te buscar. Mu e Shaka estão convocando uma reunião lá na casa de Áries, de novo, pra discutir como foi a audiência com a Saori!
– Um minuto, Afrodite, me espere que eu já venho – respondeu Camus.
Pouco tempo depois, o francês surgiu vestindo uma calça jeans tingida de preto e uma camiseta vermelha (algo bem atípico pra ele). Os cabelos esmeralda presos num alto rabo de cavalo. Nos pés, usava tênis pretos. O perfume era cítrico e sensual.
– Uh-lah-lah, Cami, a quem queremos impressionar? – Afrodite praticamente gritou. – Deixa-me ver... Mi-ro! – completou, o nome do grego saindo praticamente num sussurro. – Mas vamos deixar de conversa que só falta você lá embaixo!
– Nossa, já estão todos lá? E por que não me avisaram antes? – Camus indagou.
– Porque tiramos no palitinho pra ver quem enfrentava a fera. Se eu soubesse que a fera em questão já tinha sido amansada, nem tinha me descabelado tanto... – riu-se Peixes, e Camus simplesmente balançou a cabeça em negação, gesto que tinha se tornado típico pra ele naqueles dias estranhos.
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Camus e Afrodite praticamente correram os dez andares de escadas que separavam a décima-primeira da primeira casa do Santuário de Atena. Não precisaram nem bater à porta, esta estava aberta. Entraram sob comentários de "nossa, como Aquário está diferente" e de "Tá louco, hein, Afrodite, precisava demorar tanto?" Peixes distribuiu olhares ameaçadores, procurando um certo canceriano com o olhar. Correu para Máscara da Morte e sentou-se em seu colo, fazendo um cacho no cabelo do amante com o indicador direito. Camus, ao entrar, também procurara um certo alguém com o olhar. E lá estava ele, Milo, elegantemente vestido com calça social e sapatos pretos e camisa de mangas compridas azul céu. O aquariano lançou-lhe um olhar quase neutro e foi se sentar do outro lado do salão.
Como na reunião de algumas horas antes, estavam os cavaleiros de ouro, alguns de prata e cinco dos de bronze sentados, em círculo, na casa de Áries. Alguns sentavam-se em sofás, outros em pufes e outros ainda no chão, mesmo.
– Muito bem, agora que estamos todos aqui – Shura começou – acho que Mu e Shaka podem finalmente dizer como foi a reunião!
Shaka adiantou-se e se levantou, colocando-se no meio do círculo formado pelos cavaleiros. – Pois bem, resumindo uma história longa, Atena não nos deu ouvidos. A proibição continua!
Nisso todo mundo começou a falar ao mesmo tempo, como acontecera mais cedo naquele dia. Entre protestos, gritos de "morra, vaca, morra" e mais idéias mirabolantes, todas as vozes, exceto três, podiam ser ouvidas. Duas das vozes que não se pronunciavam pertenciam a Milo e Camus. Os dois não mais se interessavam pela reunião e pareciam não fazer a menor idéia do que estavam fazendo ali. Apenas fitavam-se mutuamente, estudando-se, desejando-se. Num canto do salão, Milo pensava que Camus ficava extremamente sensual ao se vestir em roupas esporte. No canto oposto, Camus pensava em quão sexy era o grego trajado assim tão elegantemente.
E a terceira voz que não era ouvida de repente entrou correndo na sala da casa de Áries, bufando. Prostrou-se no meio do círculo formado pelos desesperados cavaleiros, elevando o cosmo e colocando-se em posição de ataque. – CALEM-SE TODOS! – gritou mas seu grito não surtiu o menor efeito. "Ok, vou ter de apelar...", pensou o dono da voz. Então seus olhos tornaram-se vermelhos feito fogo e seus cabelos, normalmente azuis, adquiriram uma tonalidade prateada, puxando para o cinza. E então Saga riu. Riu alto e loucamente.
Ao ouvirem aquela terrível gargalhada, todos os cavaleiros retornaram a seus lugares, com medo e pensando em como agir pra livrarem-se do Saga mau. Mas eis que, finda a balbúrdia, o cavaleiro de Gêmeos retornou ao normal.
– Muito bem, agora vocês vão me ouvir, não! – perguntou Saga, calmamente. Todos balançaram a cabeça em concordância.
– Então, acabo de chegar do salão do Grande Mestre... a festa está sendo preparada e a decoração está um luxo! – Saga continuou.
– E quem quer saber de decoração de festa? – perguntou Máscara da Morte – que cazzo, vamos direto ao ponto!
– Ai, Masquinha, você tá parecendo o Cami! – disse Afrodite, adocicando sua voz, seu dedo indicador ainda fazendo um cacho no cabelo do canceriano.
– Dite, agora não que a coisa é séria! – ponderou Shura – Continua, Saga, mas sem desviar o assunto desta vez, hermano!
– Obrigado, Shura, pode deixar – continuou o cavaleiro de Gêmeos – o lance é esse mesmo que disse o Shaka: Atena está resoluta. E ficou ainda mais emputecida quando eu disse que já tinha pegado meio Santuário e queria pegar a outra metade...
– Dite, ele já te pegou? – perguntou Máscara da Morte, sua voz já se destemperando.
– Ah, Masquinha, isso foi antes de você... – respondeu Peixes, um tanto quanto desconcertado.
– Olha, gente, todo mundo aqui sabe que o Saga aí já pegou geraaaaaaal – disse Shina – nem mesmo eu escapei. E foi bom, né, Saguinha? – Saga mal cabia em si de tanto orgulho, mas Shura de repente parecia extremamente contrariado. Shina prosseguiu. – Então pra deixarmos tudo às claras pra não termos mais interrupções nessa maledeta reunião, vamos às pegadas do Saga: Marin, eu, Misty, Dite e Milo. Esqueci alguém, Saga?
– Não, querida, não esqueceu não! – tornou Saga, orgulhoso. Mas Aiolia estava vermelho feito um pimentão, Shura abobalhado, Máscara da Morte parecia que ia avançar em Saga a qualquer minuto. Milo por sua vez contava até dez mentalmente pra não instigar Máscara a avançar mesmo no Saga enquanto ele mesmo matava Shina com suas próprias mãos. "Pronto, quer ver que agora por causa dessa bobeira toda minha história com o Camus vai por água abaixo?", pensou Milo. Do outro lado do corredor, um aquariano tentava manter ao máximo o autocontrole, tentado a esganar Saga com suas próprias mãos. "Ele não merece nem a glória do esquife de gelo...", pensou. Mas conteve-se.
Camus então dirigiu-se ao centro da sala e deu um "pedala" em Saga. Todos olharam abobalhados para os dois cavaleiros ali no meio do círculo, depois soltaram umas risadinhas frívolas e por fim acalmaram-se. – Obrigado, Camus! – disse o geminiano.
– Disponha – retrucou Camus, lançando um olhar de reprovação para Milo, que se encolheu em sua cadeira.
Mu, que havia esperado e assistido a tudo pacientemente, tomou enfim a iniciativa de lançar um olhar mortal a Saga, que saiu do meio da sala, procurando um lugar pra se sentar. – Não piore a situação que já está ruim, Saga! – disse o ariano em tom de reprovação, e Saga de repente interessou-se por seus próprios sapatos.
– Queridos, só há uma coisa a ser feita – ponderou Mu – precisamos colocar o plano de Camus pra funcionar. O problema é: como?
– Que plano, Shiryu? – perguntou Seiya ao amigo.
– Nossa, Seiya, às vezes sua burrice me surpreende... – disse o Dragão para o amigo. – Você não lembra não?
– Noooooooooooooooooossa, vão me jogar na jaula dos leões! – murmurou Seiya, dois minutos depois, levando em seguida um croque de Ikki, que queria prestar atenção ao que estava sendo discutido.
– Olha, gente, eu acho que a coisa toda é muito simples... – disse Camus – Teremos uma festa amanhã, não é? É só o Pégasus ali levar flores e bombons pra Atena e pedi-la em casamento... duvide-o-dó que ela não se jogue no pescoço dele e tasque-lhe um beijão!
– Milo, fecha a boca e seca a baba! – Aldebaran cochichou pro amigo. E, com efeito, seu queixo teria caído no chão não fosse preso ao crânio, tamanha era sua admiração e desejo pelo francês que se pronunciava no meio do salão.
– Essa é boa! – disse Shura – a aprendiz de Tomás de Torquemada preparando um auto-de-fé pra gente e a gente aqui, arrumando namorado pra ela (1)... Pero alas, que dê certo o plano!
E com essas palavras todos se despediram e retornaram às suas casas. O dia tinha sido demasiadamente cheio, e amanhã haveria uma festa. Precisavam descansar. Saga puxou Seiya pela orelha, murmurando algo sobre ensiná-lo a cortejar uma dama (ou uma vaca, fosse o que fosse); Ikki e Shun correram para a quarta casa; Máscara da Morte e Afrodite, para a décima-segunda; Aiolia, sozinho, para a quinta casa; Marin e Shina, não se sabia se brigando ou conversando, rindo ou chorando, foram para seus alojamentos. E assim sucessivamente.
Milo foi para a oitava casa, sozinho. Camus, para a décima-primeira. E os dois não trocaram uma única palavra.
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No dia seguinte, todos acordaram apreensivos. Afinal, era o dia da grande festa. O dia em que colocariam o grande plano em ação. Todos os cavaleiros espreguiçavam-se em suas camas, demorando-se a levantar, pois o dia, quer queira quer não, era de folga. Todos descansavam, dispostos a deixar o dia passar morosamente. Todos menos um.
Camus discou um número, sendo atendido por uma voz super amigável. – Cazzo, quem é o corno que resolveu me acordar logo de manhã? – Máscara da Morte atendera.
– Câncer, aqui é Aquário. Preciso falar com Peixes e é urgente. Vamos logo com isso que não tenho o dia todo! – Camus retrucou, impassível. Se não era Milo, a impassibilidade era a de praxe.
– Madonna mia! – exclamou o canceriano do outro lado. – Dite, é pra você.
Camus ouviu alguns muxoxos de descontentamento do outro lado da linha, mas enfim Afrodite atendeu ao telefone. – Pois não, Cami?
– Afrodite de Peixes, meu nome é Camus – respondeu o aquariano, calmamente – e eu preciso lhe falar. Posso subir aí?
– Claro, venha – tornou Afrodite. Desligou o telefone e olhou para Máscara da Morte, abobalhado. – O que será que ele quer comigo? – perguntou Peixes ao namorado. O italiano deu de ombros e, vestindo um short pequeno, dirigiu-se à cozinha para preparar o café-da-manhã.
Dois minutos depois Camus bateu à porta de Peixes, que o recebeu com um sorriso. – Venha, Camus, vamos conversar no meu jardim! – disse Afrodite, indicando o caminho ao outro cavaleiro.
O jardim era magnífico, cheio de rosas brancas, vermelhas e negras. Camus encarava as rosas negras com admiração. – Meu poder faz com que elas cresçam da cor que eu quero, Camus. – disse Afrodite, como que lendo o pensamento do francês à sua frente. Pôs-se a regar as rosas, olhando com curiosidade para o aquariano.
– Afrodite, era sobre rosas mesmo que eu queria falar! Será que você poderia preparar um buquê de rosas escarlates, lindo, pra mim essa noite? – o aquariano perguntou como quem perguntava se o outro queria um copo d'água.
Afrodite abriu a boca em sinal de puro espanto. Mas então se refez. – Claro, Camus. Com prazer.
Camus agradeceu e foi saindo. Parou à porta de Peixes e disse para Afrodite. – Se não fosse muito incômodo, gostaria que você me entregasse o buquê lá em casa, antes da festa. – pediu o aquariano e o sueco fez um sinal de ok com a cabeça. – São para o Milo, sabe? – tornou Camus, piscando, e saiu correndo escada abaixo. Conseguiu, entretanto, ouvir Peixes dizer ao amante, boquiaberto, que ele estivera ali para pedir um buquê de rosas para o Milo. "Pronto, o plano anda às mil maravilhas. Daqui a pouco todos, menos Atena e o próprio, saberão que eu gosto do Milo..."
Passou pela décima casa, onde Shura já o estava esperando. – Vamos, hombre, vamos que ainda temos muito o que fazer! – disse o espanhol. Desceram os dois correndo até a segunda casa, onde Touro os esperava com a mesa do café posta.
– Comam, amigos! – disse Aldebaran – Comam que hoje o dia há de ser loooongo... – continuou.
Os três comeram, rindo e brincando, quase se esquecendo da proibição de Atena. Na sala da casa de Touro, alguns CDs espalhados e um violão meio velho, caído. "Espero que tudo isso dê certo...", pensou o taurino comendo um enorme pedaço de pão com presunto e desarrumando os cabelos do aquariano que se sentava, comedido e pensativo, a seu lado.
É hoje! Olé! – disse Shura limpando a boca. Os três se dirigiram à sala, pois tinham muito trabalho a fazer.
Passaram os três o dia todo na casa de Touro, fazendo algazarra e se preparando para a festa. "Ah, Milo, você não perde por esperar!", pensou Camus.
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E assim as horas se passaram. Camus, Shura e Aldebaran envoltos em algum projeto secreto na casa de Touro; Afrodite e Máscara da Morte (quem diria?) colhendo rosas e preparando um buquê magnífico; Mu e Shaka meditando na casa de Áries; Aiolia e Marin assistindo a O Senhor dos Anéis: As Duas Torres, preguiçosamente no sofá da casa de Leão; Saga dando um intensivão sobre boas maneiras e conquista a Seiya; Hyoga e Shun abraçadinhos na casa de Câncer, enquanto Ikki maldizia a vida e lançava olhares fulminantes ao russo; Shina, Misty e Milo conversando sobre suas aventuras e desventuras amorosas na sala da casa de Escorpião, que telefonara aos amigos pedindo-lhes que lhe fizessem companhia, pois tudo o que não queria era ficar sozinho e morrer de ansiedade. E, nesse meio tempo, entre uma rosa e outra colhida, Afrodite ligava para todos os seus amigos (menos para Milo e Atena, claro), para contar que estava fazendo um buquê de rosas lindo para Camus dar pro Milo.
Touro desligou o telefone. – Era o Dite, Camus! Contando do buquê! – riu-se o brasileiro, no que foi acompanhado por Shura e Camus.
– Háh, tudo está indo conforme o planejado, então... – tornou Camus, sorrindo para os amigos. "Acho que eu perdi tempo demais da minha vida achando que emoções e sentimentos eram besteira...", pensou o aquariano e sorriu novamente.
Algum tempo e trabalho depois, os três em Touro consideraram seu trabalho pronto. – Agora é só esperar o grande momento! – disse Shura aos outros dois. Os três se abraçaram e se despediram, amistosamente.
Camus e Shura subiram correndo até suas casas, respectivamente. E, ao chegar à casa de Aquário, Camus entrou correndo, pois o telefone estava tocando. Era Afrodite, dizendo que o buquê estava pronto. O aquariano subiu as escadas correndo.
– Por Zeus, Afrodite de Peixes, é o buquê mais lindo que eu já vi! – exclamou Camus, verdadeiramente estarrecido pela beleza do buquê, composto por 24 rosas vermelhas, maravilhosamente arranjadas, envoltas num celofane transparente e num lindo laço azul de cetim. – Muito, muito obrigado!
– De nada, querido! Espero que as pétalas dessas rosas cumpram seu intento! – disse Peixes, despedindo-se do amigo. – Vá, Camus, vá e se prepare. Quero você e o Milo lindos hoje à noite!
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Algumas horas e alguns preparativos depois, estava enfim na hora da tão esperada festa. Foram todos chegando, aos poucos, no salão, que estava realmente um luxo, como dissera Saga. As escadas e as mesas ostentavam tapetes e toalhas em prata, respectivamente. Os lustres reluziam, também em prata, ao passo que nas mesas havia um arranjo de flores brancas e amarelas. Tudo estava divinamente belo, exceto pela enorme estrutura de metal na porta, que parecia um dia ter sido uma tosca estátua de Atena (2).
Camus estava divino. Terno Armani preto, sapatos de couro italiano também pretos, camisa verde esperança. A gravata também era preta, e sóbria como ele próprio. Seus cabelos esmeralda, realçados pelo verde mais escuro da camisa, estavam soltos e refletiam toda a iluminação em prata do local. Os olhos, também esmeraldas, brilhavam num misto de ansiedade, medo e desejo. O perfume era cítrico e sensual.
Milo, por sua vez, não ficava atrás no quesito "desbunde". Pois vestia também um terno preto muito bem cortado, e uma camisa vermelha. Mas segurava o paletó, e a camisa não estava por dentro da calça. Fazia o estilo despojado, e dois botões da camisa estavam abertos, revelando uma pequena parte do dorso firme e bem trabalhado; e não usava gravata. Os cabelos safira levemente ondulados ele os trazia semipresos. Os olhos cintilavam feito duas safiras recém lapidadas, exalando desejo. E o perfume era doce, de rosas, muito sexy.
E enfim, todos estavam lindos e perfumados. E sexies, muito sexies. A não ser por Saori, que vestia um dos seus incontáveis vestidos branco estilão bolo de noiva bufante, um cinto dourado, fivelas douradas nos cabelos lavanda, sapatos também brancos estilo boneca. E Seiya tomara três croques na cabeças, respectivamente de Máscara da Morte, Ikki e Saga, por ter exclamado um "eca!" ao ver a garota. Saga então chutara-o discretamente, fazendo com que Pégasus caísse sentado em frente à deusa. E então saíram dançando e rodopiando pelo salão, enquanto todos os outros riam em cólicas.
E assim algumas horas se passaram. Todos dançavam e se felicitavam. Afinal, era uma comemoração de fim de ano. E estavam todos vivos! Quer motivo melhor pra comemorar?
Camus e Milo se olhavam, mas não se falavam. Se provocavam, mas não se falavam. Se desejavam, mas não se falavam.
Num canto do salão, Shura esfregava as mãos, nervosamente. Shina passou por ali e deu-lhe um beliscão num lugar não muito apropriado. Shura abriu dois olhos enormes, surpreso. – Sabe, espanhol, não fosse pela proibição do bolo de noiva dançante ali – e apontou pra Seiya e Saori, que ainda rodopiavam pelo salão – eu te agarraria aqui e agora!
– Mas não provoca, italiana sangue quente! – tornou Shura – então os espanhóis também não têm o caliente sangre mediterráneo?
Num outro canto, Aiolia e Marin conversavam alegremente com Mu e Shaka. Ao menos era o que parecia para quem olhava de longe. Na verdade, estavam ansiosíssimos pra que Seiya agisse logo e pegasse Saori de jeito.
Camus fez um sinal com a cabeça pra Shura. Este sorriu e dispensou Shina, dizendo-lhe que tinha algo muito importante a fazer, mas que retornaria para terminarem a conversa e continuarem se provocando. Pegou então, discretamente, um lindo buquê de rosas que estava na mesa de Camus. Aldebaran, por sua vez, já pedia para que a orquestra parasse de tocar, enquanto Camus subia ao palco e pegava o microfone. Shura entregou o buquê a Aiolia, e pediu que este o levasse discretamente para Milo, quando Camus começasse a cantar. Leão fez um gesto afirmativo com a cabeça, enquanto Shura corria para o palco com o violão velho de Aldebaran. "Quando o Camus começar a cantar? Desde quando esse homem canta? Zeus, que anedota!", pensou Leão, não entendendo mais nada. "Mas que assim seja!"
– Tenez, atention, s'il vous plaît! – disse Camus ao microfone. – Atenção, por favor! Não sei se vocês sabem, principalmente a Srta Saori, nossa amada deusa, mas eu canto. E gostaria aqui de cantar uma música brasileira, pra ir nos aclimatizando ao país para o qual vamos viajar dentro em breve! – continuou e todos olharam espantados quando Aldebaran entregou o violão a Shura, que se sentou e apoiou o instrumento em sua perna. Touro sentou-se ao lado do amigo, e tinha um microfone nas mãos. – Pois bem, enquanto eu canto, em português, nosso amigo Aldebaran traduzirá as palavras para o grego, para que todos vocês compreendam! – Camus prosseguiu. – E digo mais: este poeta dedicou essa música para alguém muito especial! – o francês disse essas palavras olhando fixamente para Milo, que já se esforçava pra não chorar.
Camus sabia que Milo apreciava boa música. Especialmente músicas de outros países, que para ele soassem exóticas. Por isso recorreu a Aldebaran, pedindo-lhe que lhe ensinasse a cantar uma música brasileira romântica. E Shura acompanharia no violão. E assim foi.
– Eu sei que vou te amar, por toda a minha vida vou te amar, a cada despedida eu vou te amar, desesperadamente, eu sei que vou te amar... – Camus cantava com a voz límpida, linda, enquanto Touro traduzia todas as palavras.
– E cada verso meu será pra te dizer que eu sei que vou te amar por toda a minha vida... – continuava Camus, olhos fixos em Milo, que a essa altura já não disfarçava as lágrimas. Nesse instante, Aiolia trouxe um buquê de rosas vermelhas maravilhosas pro amigo. Milo mal cabia em si de tanta felicidade ao ler o bilhete:
Milo, mon ange,
Se havia alguma dúvida de que eu te amo,
espero que agora seja dúvida desfeita.
Eu sei que vou te amar, Milo.
Por toda minha vida vou te amar!
Com amor,
Camus
PS – Essas rosas vêm do jardim do Afrodite.
Eu contei a ele que eram pra você.
Então olhe à sua volta: todos eles sabem
que eu sei que vou te amar...
Milo quase desmaiou. Era felicidade demais para uma noite só! Não raciocinava, não sentia mais nada, a não ser o amor por Camus que lhe apertava o coração. "Zeus, ele está se expondo assim por mim!". Olhou em sua volta e percebeu que muitos dos seus amigos olhavam pra ele sorrindo, felizes. Todos sabiam.
– Eu sei que vou chorar, a cada ausência tua eu vou chorar, mas cada volta tua há de apagar, o que essa tua ausência me causou. Eu sei que vou sofrer a eterna desventura de viver, à espera de viver ao lado teu, por toda a minha vida! – Camus parou de cantar, um nó na garganta se formando. Não seguraria as lágrimas por muito tempo.
Todos aplaudiram de pé. Fitavam Camus surpresos e admirados, pois não sabiam que o francês cantava tão bem. E muito menos concebiam a idéia de que ele cantaria para alguém. Mas ele estava lá, cantando para Milo. E só pra ele.
Aquário desceu e sua vontade era correr e atirar-se aos braços de seu amado, mas conteve-se. Atena vinha chegando, sorrindo, toda feliz. – Mestre Camus, que lindo! Não sabia que cantava assim tão bem... e que linda música escolheu. Abrilhantou a festa!
– Obrigado pelos elogios, Grande Atena – respondeu Camus, fazendo uma reverência – espero que essas lindas palavras tenham inspirado a Srta e aos outros apaixonados aqui.
Atena abaixou a cabeça e corou, olhando de soslaio para Seiya, que visivelmente não sabia o que fazer. Mas não era Camus quem iria dizer. Acenou com a cabeça e dirigiu-se para Milo.
Escorpião e Aquário olharam-se demoradamente, sem nada dizer. Palavras não seriam necessárias agora. Ao menos por enquanto. Não ousaram aproximar demais os corpos, a fim de não se entregarem um ao outro ali mesmo, no salão, em frente a todos. Mas sorriam. Sorriam! "Ah, Camus, também sei que vou te amar por toda minha vida!", pensou Milo. Os dois andaram, mudos, em direção ao jardim. Ali, sozinhos, sob as estrelas, entrelaçaram-se as mãos. Alisaram-se os cabelos. E beijaram-se demoradamente, sob a luz do luar.
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(1) Tomás de Torquemada (1420-1498): monge espanhol, tornou-se Grande Inquisidor em 1487 pelos reis católicos, Isabel e Fernando. Tornou-se conhecido por sua extrema crueldade e pela quantidade de pessoas que condenou à morte na fogueira (estima-se que cerca de 2000 pessoas, em sua grande maioria judeus, morreram queimados durante seu mandato). Organizava enormes atos-de-fé, cerimônias em que os condenados eram queimados. (É, Milo e Camus também é cultura!)
(2) Ver capítulo 4, em que Seiya tropeça com a estátua de Atena e rola escada abaixo pelo Santuário.
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A/N: Finalmente, um pedacinho do baile. E finalmente a declaração de Camus. Espero que vocês gostem.
Creditando: a música que Camus canta é Eu sei que vou te amar, de Vinícius de Morais e Tom Jobim. Uma das minhas preferidas (e creio que todos os brasileiros). Grandes poetas!
Cenas do próximo capítulo: O baile continua. Será que Seiya pega Saori de jeito? E sim, eles viajam pro Brasil no próximo capítulo.
A todos que lêem, muito obrigada. Aos que deixam reviews, um agradecimento todo especial.
Até a próxima!
