A/N: Esse capítulo contém cenas lemon. Se você não gosta ou não se sente à vontade com isso, por favor, não leia!
Cap. 7 – Bem vindos a São Paulo! O trânsito é cortesia da casa!
O vôo 347 da Greece Airlines (1) era pra ser um vôo super tranqüilo. E realmente foi, nada fora do normal aconteceu. Ao menos em termos de vôo. O céu estava "de brigadeiro", como os comandantes costumam dizer. Não houve nenhuma turbulência. Por fora. Porque por dentro, o bicho pegou.
Foram tantas as confusões que pensaram em chamar a polícia no aeroporto pra prender aquelas pessoas esquisitas. Especialmente um com cara de bobo que viajava na primeira classe junto a uma menina que se vestia muito mal e que parecia ser extremamente apaixonada por ele. Isso porque Seiya, tentando evitar Saori mais uma vez, reciclou o truque do banheiro. Só que saiu correndo em disparada rumo à classe econômica, berrando por Shiryu. Claro que tropeçou no carrinho de bebidas que estava no meio do corredor, derrubando a pobre comissária e ainda por cima ganhando um galo enorme na cabeça.
O tombo de Seiya não assustou os cavaleiros, que nem se mexeram. O que os assustou foi a cena que se seguiu. Pois atrás de Seiya Saori vinha correndo, tropeçou no menino, no carrinho, na comissária e espatifou-se nas bebidas que tinham quebrado quando da queda de Pégasus. Resumo da ópera: empapuçou-se de whiskey e vodka. Voltou pra primeira classe correndo e chorando.
– Ai, caramba, Seiya, não faz nada certo, tá louco! – disse Hyoga dando um "pedala" no amigo, no meio do corredor do avião. O russo estava com cara de poucos amigos e de repente o avião tornou-se frio demais.
Ikki fez menção de se levantar e dar uma porrada em Cisne, enquanto Shun chorava baixinho encorajando Hyoga e desencorajando Fênix, as duas coisas ao mesmo tempo, deixando Andrômeda desesperado.
– Olha, Saga, isso já está começando a me irritar, sabia? – disse Camus para Gêmeos e, soltando um suspiro de resignação, deu a pilha de papéis que examinava para Saga segurar e levantou-se, caminhando até Hyoga, Ikki e Seiya, a confusão instaurada no vôo.
– Hyoga, por favor, queira dirigir-se ao seu lugar – disse Camus ao Cisne que, fitando o rosto de seu mestre, simplesmente obedeceu àquela ordem.
– Quanto a você, Ikki, por favor pare de uma vez com todas de implicar com Hyoga e entenda que quem se mete com meu pupilo se mete comigo, certo? – tornou a falar Camus, aquela voz impassível e racional de sempre que metia medo em todos os outros cavaleiros. Ikki ainda fechou as mãos em sinal de raiva, mas fechou os olhos e, murmurando alguma coisa incompreensível, retornou à sua poltrona.
– Já você, Seiya, cada dia que passa eu acho que você não tem mais solução mesmo... – ponderou Camus – entretanto, persistência é uma qualidade que eu tenho, mon enfant (2). Portanto, se eu continuar olhando pra essa sua cara aparvalhada em 3 segundos você será um Pégasus enterrado num esquife de gelo. Volte pra Atena já! – continuou. – Um... Dois...
Camus nem precisou contar até três, porque Seiya desaparecera dali. Resignado, o francês suspirou e revirou os olhos, voltando em seguida a seu lugar, mergulhando novamente nos papéis da Fundação.
Ao lado de Aiolia e Marin, Milo sorria abobalhado, todo admirado pela atitude do amante.
– Milo, fecha a boca e limpa a baba! – comentou Aiolia com o amigo, rindo gostosamente. Logo em seguida acomodou Marin em seu ombro novamente, já que toda a bagunça havia acordado a moça.
Alguns minutos depois da confusão que Seiya aprontara na classe econômica, a comissária veio conversar com Camus.
– Sr., pelo que vejo o Sr. é o mais sensato desse grupo... – começou, reclinada ao lado do francês mas encarando Saga com um olhar pra lá de maroto. – Assim sendo, vim aqui dizer-lhe que se acontecer mais alguma coisa com algum de vocês seremos obrigados a chamar a polícia quando chegarmos em terra...
Milo encarava a moça como quem quisesse matá-la, doido de ciúmes. Seu cosmos já se elevava e sua unha se tornava perigosamente escarlate. Seus olhos brilhavam num misto de ódio e raiva injustificáveis. Não agüentou quando viu Camus reclinar-se para falar com a moça mais de perto. Levantou-se correndo.
– Olha aqui, mocinha, você não acha que é muito errado dar em cima dos passageiros não? Ainda mais de um compromissado? – perguntou Milo obrigando a moça a levantar-se puxando-lhe os cabelos.
– Ah não, assim não dá. Sr., por mais sensato que o Sr seja, isso não posso aturar! – disse a moça para Camus. – Chamarei a polícia em terra e todos vocês serão levados a se explicar!
– Isso, mocinha, desvia mesmo o assunto... – continuou Milo sem nem pensar no que a moça havia dito.
"Mon Dieu!", pensou Camus. "Agora danou-se tudo!"
A situação ficou bem tensa, pois Milo continuava querendo brigar com a comissária, que já estava quase perdendo as estribeiras também. Mas todos ali não contavam com a astúcia de um certo cavaleiro de ouro.
Saga levantou-se e, sem chamar atenção, deu um bilhete para a aeromoça enquanto pedia-lhe licença para ir ao banheiro. A moça, meio embasbacada, leu o bilhete e, sorrindo, esqueceu-se de Milo de repente e partiu em direção ao banheiro. Alguns minutos depois ela e Saga estariam aos beijos na área do avião reservada à tripulação.
– Milo, você precisa aprender a se controlar e urgentemente! – disse Aquário, encarando o outro e novamente mergulhando nos papéis. – Ah, je ne mérite pas (3), tudo bem que o Saga salvou a situação, mas agora tenho o dobro de coisas para ler! – murmurou o francês para si mesmo, sem nem perceber que Milo continuava em pé no meio do corredor. Escorpião, envergonhado e fazendo biquinho, voltou para seu lugar. Não mais abriu a boca durante o vôo, olhando de vez em quando de soslaio para Aquário, que não levantava nem para ir ao banheiro, todo compenetrado em seu trabalho.
Nesse momento, Mu e Shaka chegaram. Vinham da primeira classe, tinham ido conversar com Saori e Seiya e ver se estava tudo bem.
– Vocês acreditam que chegamos lá e a Saori estava chorando no ombro do Seiya dizendo que a gente não a compreendia? – disse Shaka para Máscara da Morte e Afrodite, que estavam no banco de trás do seu e de Mu.
– Nossa, mas o que a gente fez pra ela, cazzo? – perguntou Máscara.
– Boa pergunta! Eu não entendo mais nada! – disse Mu.
– Por Zeus, se você não entende, Muzinho, imagina a gente, que não tem metade dessa sua "zenbudisse"! – exclamou Afrodite.
– Afrodite, você se enganou. O budista sou eu! – pontuou Shaka.
– Ai, Masquinha, esses dois não entendem uma piada, mesmo... – riu-se Peixes.
– Com certeza, Dite! – exclamou Máscara. Áries e Virgem encaravam-nos como se realmente não estivessem entendendo nada, com cara de ponto de interrogação mesmo. – Ah, mas deixa pra lá! – continuou Câncer. – O importante é que daqui a algumas horas vamos estar numa bela praia, daquelas bem paradisíacas, ouvindo boa música, tomando drinks diferentes e comendo comida gostosa. E tudo isso enquanto Camus e Saga trabalham. Tem coisa melhor nessa vida?
– Ai, essa idéia de praia me preocupa, Masquinha... Eu sou tão branquinho, né, neném? – disse Peixes, beijando a bochecha do amante.
– Neném, Máscara? Quem diria? Todo cuti cuti... – disse Aldebaran, que passava por ali para ir ao banheiro e ouvira a conversa. Nem parou para ouvir todos os palavrões dos quais Câncer lhe xingou, em pelo menos três línguas diferentes. "Será que eu conto pra eles que São Paulo não tem praia? Que é uma metrópole maior que Atenas?", pensou Touro. – Nããããão, deixa quieto! – disse alto para si mesmo, entrando no banheiro, gargalhando ao pensar na cara de decepção de Máscara da Morte ao ver o rio Tietê.
Longas horas depois chegaram finalmente ao aeroporto de Cumbica. O comandante queria de tudo quanto é jeito mandar prender os cavaleiros, mas a comissária convenceu-o do contrário. Despediu-se de Saga com uma piscada marota.
– Ae, Saga, salvando a pele da gente! Gostei de ver! – disse Shina espreguiçando-se já no saguão do aeroporto, esperando as malas chegarem.
– Eu sabia que um dia essa minha habilidade na pegação serviria pra alguma coisa! – exclamou Gêmeos, convencido, correndo para pegar sua mala que já surgia na esteira.
Os cavaleiros riram gostosamente. Até mesmo Atena deu graças a Zeus pela intervenção de Saga, caso contrário estaria tendo de usar de toda sua influência em alguma salinha escusa do aeroporto numa hora dessa. Milo e Camus, entretanto, não sorriram. Estavam ocupados demais num canto afastado do aeroporto, fingindo esperar pelas malas.
– Precisava ter falado comigo daquele jeito, Camus? – indagou Milo, visivelmente chateado.
– E você precisava ter armado um piti pra cima da coitada da comissária? – Camus tornou sem mudar o tom de voz.
– Achei que ela estivesse dando em cima de você! – Milo gritou, chamando a atenção de todos. Inclusive de Saori, que olhou para os dois muito desconfiada.
– Isso, Milo, grita mais alto. Acho que o policial do guichê da imigração não conseguiu ouvir! – Aquário estava saindo do sério.
– Ah, Camus, que culpa tenho eu se eu tenho ciúme de você? – Escorpião sussurrou gritando, levantando uma mala da esteira com uma força descomunal, claramente enraivecido.
– Nenhuma. Você tem culpa por ser impulsivo e escandaloso. – tornou Camus com desdém.
– E você por ser esse poço de insensibilidade! – Milo terminou a discussão assim e foi correndo carregando sua mala, colocando-se ao lado de Aiolia, fazendo biquinho e com os olhos cheios de lágrimas.
Saori providenciou um microônibus e finalmente tomaram a direção do hotel. Demoraram cerca de duas horas para atravessar os cerca de 30 km que separam o aeroporto Internacional de Guarulhos da Avenida Paulista.
– Bem vindos a São Paulo! – exclamou Aldebaran. – O trânsito é cortesia da casa!
– Tá doido, Deba, terra de maluco! – quase gritou Shura. – Nunca vi um trânsito desses. Coño!
– Ikki, eu quero fazer xixi! – pedia Andrômeda.
– O que você quer que eu faça, Shun? – perguntou Ikki.
– Hyoga, eu quero fazer xixi... – continuou Andrômeda.
– Sinto muito, Shun, não posso fazer nada. Agüente um pouco mais, sim? – ponderou Hyoga, enquanto Shun afundou-se mais em seu ombro, apertando as pernas, desesperado.
– Quero muito! – continuou Shun.
– Ai, Zeus, essa viagem há de ser insuportável! – Máscara da Morte disse. – Cadê a praia que eu ainda não vi, Deba? Só esse rio fedido...
– Máscara, São Paulo não é no litoral. Aqui não tem praia não. Estamos no coração financeiro da América Latina. Uma cidade de negócios! – explicou o taurino.
– Claro, foi por isso que escolhi abrir a filial aqui! – exclamou Atena.
Soltaram todos expressões de descontentamento e decepção. Exceto por Camus, que pareceu se sentir mais à vontade com a situação. O trânsito não o incomodava, ele tinha mil coisas para fazer, mesmo. No entanto, seu coração doía e ele tinha dificuldade para se concentrar, um mal do qual nunca havia sofrido. Mas seus pensamentos se voltavam toda hora para Milo, e Camus lhe olhava de canto de olho. O grego, emburrado e sentado longe de si, não falava nada, não sorria, não esboçava nenhuma reação a não ser a cara de tristeza. Olhava triste para o rio através da janela.
– Mas, porém, todavia, contudo... – continuou Aldebaran, com uma expressão sapeca – São Paulo é uma cidade conhecida por sua noite! Restaurantes, os melhores do mundo. Teatros e cinemas aos borbotões, especialmente na região em que vamos nos hospedar... mas, principalmente, baladas sensacionais! – completou o taurino, dando uma piscadinha pra Máscara da Morte.
– Ah, agora você está falando nossa língua, Deba! – exclamou Aiolia, já se animando. – Aaaai! – gritou Leão. Marin havia lhe dado um baita beliscão no braço, um pouco enciumada.
"Ai, Zeus!", pensou Camus. – Será que vocês poderiam falar um pouco mais baixo? Saga e eu precisamos resolver as coisas aqui com os papéis da Fundação... – pediu o aquariano, visivelmente mau-humorado. E tendo em vista que o humor do defensor da décima primeira casa havia melhorado bastante nos últimos dias, os cavaleiros estranharam a reação do francês.
– Isso, estraga mesmo o momento dos outros, seu estraga prazeres. Picolé Humano. Você se alimenta da infelicidade dos outros, né, Coração Gelado? – gritou Milo, pegando a todos de surpresa.
– Milo, eu... não quis ser rude... – ponderou Camus. Milo olhou para trás, encarando o francês pela primeira vez desde que discutiram no aeroporto. Seus olhos, que exalavam raiva, encontraram olhos que exalavam indiferença. Irritou-se ainda mais. Cruzou os braços e soltou um belo palavrão, assustando ainda mais os outros. Camus suspirou chateado e voltou sua atenção novamente aos papéis. Mas se antes era difícil se concentrar, agora era impossível. Milo não saía mais de sua cabeça. "Ai, Milo, você me tira do sério!", pensou o aquariano.
O clima ficou tenso. Os cavaleiros ficaram tristes e preocupados, pois ficara claro que os dois novos amantes já haviam brigado. – Seiya, o que aconteceu? Milo sempre foi tão cordial com Camus... o único cordial com ele, na verdade! – perguntou Atena.
– Não faço a menor idéia, Saori! – respondeu Pégasus.
E assim continuaram até chegarem finalmente ao hotel.
-X-X-X-
A divisão dos quartos não podia ter sido mais favorável para os cavaleiros. Mu e Shaka; Máscara da Morte e Afrodite; Shura e Aiolia; Shina e Marin; Ikki e Shun; Hyoga e Shiryu; Camus e Milo; Aldebaran e Saga; Saori e Seiya.
– Peraí, Saori, eu e você no mesmo quarto? – perguntou Seiya atordoado.
– Sim, eu precisava dividir o quarto com alguém, não? E como eu fico mais à vontade com você, foi a escolha óbvia... – ponderou a menina.
Os casais comemoraram internamente a decisão da menina, que parecia toda convidativa. Batava Seiya dar um passo, somente um passo, e todos poderiam finalmente assumir seus romances publicamente, sem medo da retaliação de Atena.
– Saori, se me permite... – disse Milo para Atena, que virou-se para ele soltando um "pois não". – Eu não gostaria de dividir o quarto com Camus. Como a Srta. deve ter percebido enquanto vínhamos para cá, nós não nos entendemos muito bem. – continuou Milo e parou e suspirou tentando evitar que seus olhos se enchessem de lágrimas. – Minha sugestão é que me troque de quarto com Saga, já que ele e Camus são os mais envolvidos com a implantação da filial e têm muito a discutir. E eu não me importaria em dividir um quarto com Aldebaran.
– Olha, Milo, se você tem desavenças com Camus acho que aqui é um bom lugar para resolvê-las! – ponderou a moça. – Esses são os quartos que eu designei e assim será. Se eu descobrir que tem gente trocando de quarto, haverá punições! – completou fazendo um sinal para Seiya indicando que deveriam ir para o quarto.
– Cavaleiros, nos encontramos no café da manhã amanhã às oito! Pontualmente! – instruiu Saori, olhando fixamente para Milo, Aiolia, Máscara da Morte e Afrodite, os mais atrasados do Santuário.
Foram Atena e Seiya andando para o quarto dos dois. Ou melhor, para a suíte enorme dos dois. – Saori, você é rica, não poderia ter reservado um quarto só pra você? – perguntou Seiya.
– Sou rica mas não esbanjo, Seiya. E pare de reclamar! – ordenou Saori.
– Olha que essa menina está me surpreendendo! – exclamou Aldebaran quando Saori e Seiya sumiram das vistas de todos. – As atitudes dela aqui foram extremamente sensatas!
– Mas quem se preocupa com a sensatez do bolo do noiva, Deba? – inquiriu Shura. – Eu quero é cair na gandaia! – completou abraçando Shina que deu-lhe um beijo estalado na bochecha.
– BA-LA-DA! – gritou Saga.
– Opa, tô dentro! – exclamou Ikki.
– Nós também vamos, não é, Hyoga? – perguntou Shun.
– Claro que sim! – tornou Cisne. – Trouxe até nossas identidades falsas!
– Nós vamos dormir! – disse Shaka. – Boa balada pra quem vai, boa noite pra quem fica! – continuou o virginiano e subiu com Mu.
– Vocês vão, né, Aiolia? – indagou Saga.
– Claro, você acha mesmo que íamos perder a noite brasileira, meu caro? – respondeu Marin.
– Quem diria, hein, Aiolia, olha só a namorada já respondendo por você... – debochou Máscara. – E eu quero ir. Vamos, Dite?
– Mas é lógico, amore! – piscou o pisciano para o amante.
– Maravilha! Vamos nos trocar então. Nos encontramos em uma hora aqui no saguão, que tal? – perguntou Saga.
Os cavaleiros fizeram que sim com a cabeça e correram para se arrumar.
– Milo, você vem? – perguntou Leão.
– Não, eu estragaria a noite de vocês! – respondeu Escorpião, enfezado.
Saga, você acha mesmo apropriado você sair com eles? Temos coisas a fazer amanhã. – disse Camus, entre suspiros. Na verdade, desejava mesmo era que Saga ficasse e que as preocupações com a Fundação o fizessem esquecer a dor que sentia no peito, que começou a aumentar em progressão geométrica desde que ouvira Milo pedir para Saori para trocar de quarto.
– Ah, Camus, não enche. – respondeu Saga. – Esquece a Fundação e se resolve com teu namorado que você ganha mais! – tornou a dizer Gêmeos, mas só Camus ouviu, pois Milo já se encontrava a caminho do quarto há algum tempo.
-X-X-X-
Camus encontrou a porta de seu quarto fechada. Bateu na porta e entrou, pois também tinha uma chave. Encontrou Milo desfazendo as malas, colocando as roupas no armário, tomando todo o espaço. O francês suspirou mas resolveu não discutir por causa do espaço no armário. Sabia que era birra do outro. E tinha uma discussão mais séria para resolver.
Milo nem olhava para Camus. Estava morrendo de raiva. De ciúme. Sentia-se rejeitado, humilhado, mal amado. Mas principalmente sentia-se um ridículo por estar se sentindo daquele jeito. Escorpião era isso mesmo, um turbilhão de sentimentos. Culpava-se por ter se exposto e a Camus daquela maneira. Um deslize que podia significar a descoberta do romance dos dois. Mas culpava-se principalmente por ter pedido, impulsivamente como era de praxe, para trocar de quarto com Saga. "Isso, Milo, fala sem pensar, dá nisso!", pensou Escorpião, continuando a colocar suas roupas no armário, sem deixar espaço para Camus. Sem ao menos olhar para Camus.
"Ai, Zeus, eu tinha que me apaixonar justamente pelo homem mais impulsivo do Santuário? Como eu vou resolver isso agora?", pensou Camus. Mas precisava resolver aquilo. Não conseguiria dormir sem se acertar com Milo. Culpava-se por ter sido duro com ele. No fundo, tinha gostado da crise de ciúme do outro. Porém Milo tinha que aprender a se controlar, principalmente se o romance dos dois fosse continuar um segredo para Atena. Suspirou fundo, tomando coragem.
– Você não vai mesmo falar comigo, Milo? – perguntou o francês.
– Não, não vou! – respondeu o grego, bufando.
– Já falou! – ponderou Camus, se aproximando do outro.
– Não falei não! – tornou Escorpião e continuou balbuciando um monte de coisas.
– Falou sim! Está falando agora, resmungando feito uma velha maroca! – exclamou Camus aproximando-se ainda mais do amante.
– Ah, você entendeu o que eu quis dizer. Fica aí mudando todo meu discurso! – brigou Milo sem olhar pra trás, mas percebendo o outro se aproximar e não fazendo absolutamente nada para evitar essa aproximação.
Camus chegou por trás do amante, agarrando Milo, prendendo-no num abraço apertado. – Me perdoa? – pediu o francês beijando o pescoço do amante.
– Não! E me solta! – respondeu Milo, mas não fez o menor esforço pra se soltar.
– Sabia que me machucou te ouvir pedir pra Saori te mudar de quarto? Tivemos somente uma oportunidade de ficar juntos e você querendo desperdiçar essa... – Camus disse apertando ainda mais o outro.
– Caso você não tenha percebido, nós estamos brigados! – tornou o grego. – E vê se me solta!
– Está bem, se você quer assim... – Camus suspirou e soltou o amante. Mas fez tudo de caso pensado. Pois sabia que Milo continuaria brigando com ele ad eternum, fazendo com que ele se sentisse culpado até o último instante. E, como já dissera para o grego, tinham tido somente uma oportunidade para ficarem juntos, e tudo o que Camus queria era ter o namorado novamente em seus braços. Resolveu assim apressar o fim daquele joguinho.
– Ai, Camus, como você é idiota! – disse Milo virando-se para o outro. – Era pra você insistir mais! Bem se vê que você é um insensível mesmo! – retrucou Milo fazendo bico.
O aquariano soltou uma gargalhada. "Incrível como eu conheço Milo a ponto de prever suas reações. Fantástico!", pensou. Aproximou-se do amante e deu um abraço apertado nele. – Isso significa que você me perdoa, mon ange?
– Só se você me perdoar também! – pediu Milo e sorriu quase infantilmente.
Não precisaram dizer mais nada. O beijo selou o fim da primeira briga do casal. Um beijo longo e voraz. Camus explorava a boca e a língua do amante como se quisesse devorá-lo por inteiro, numa necessidade que não calava nunca. Milo por sua vez adorava aquilo, retribuindo o beijo com paixão. Mais que depressa, os dedos longos e esguios do grego livraram Camus de sua discreta blusa cinza, deixando à mostra os músculos bem delineados do francês. Milo suspirou de desejo, afundando sua boca nos mamilos do amante.
O francês suspirou de prazer, mal acreditando que sentiria todas aquelas boas sensações de novo. Puxou delicadamente Milo para si para um novo beijo. Alguns minutos depois, já estavam os dois nus, as ereções pulsando de desejo, exclamando por atenção. Milo já ia descendo para tomar o membro do amante em sua boca quando foi interrompido por Camus.
Milo ficou boquiaberto quando percebeu que Camus forçou-o a sentar-se na cama e ajoelhou-se no chão, de frente a ele. O francês beijou as coxas do amante, apertando a cintura do outro com força. Milo acariciava os cabelos do namorado, mal acreditando nas intenções dele. Mas finalmente Camus tomou o membro de Milo com a boca e, meio desajeitado, começou a sugar. Aos poucos, tomou ritmo e seu trabalho foi melhorando. Milo arfava, o peito subindo e descendo, a respiração ofegante.
– Zeus, Camus! Muito bom! – exclamou Milo. Camus não parava, sua língua quente dando voltas pela ereção do amante, uma das mãos envolvendo a base do membro do outro, subindo e descendo. Instintivamente, o francês aumentava o ritmo cada vez mais, praticamente enlouquecendo o escorpiano. – C-c-camus, pára! Pára senão não agüento! – implorou Milo no que foi prontamente atendido pelo amante.
Camus encarou Milo nos olhos e sorriu. Este pegou em seu queixo chamando-no para um beijo apaixonado. E o grego gemeu de tesão ao sentir seu gosto na boca do amante. Separaram o beijo. Milo sorrindo deitou-se de costas para Camus que, entendendo o recado, posicionou-se atrás dele. Lambeu dois dedos e colocou devagar no grego, umedecendo-no. Milo gemia alto e virava a cabeça em direção a Camus, sua língua procurando pela do amante, num movimento impossível. Aquilo foi excitando Camus cada vez mais a ponto do francês não mais agüentar aquela brincadeira deliciosa e, retirando seus dedos, começar a entrar devagar no amante.
Assim que Camus percebeu que Milo acostumou-se a tê-lo mais uma vez dentro de si, começou a se mexer, ao mesmo tempo em que uma de suas mãos dava atenção à parte do corpo de Milo que mais pedia por ela. A outra mão do francês ocupava-se ora dos cabelos, ora da orelha, ora dos mamilos do outro, em movimentos que endoideciam o grego. O ritmo lento aumentava gradualmente até que, numa última e forte arremetida, Camus explodiu de prazer dentro do amante, gritando alto o nome do grego. Pouco tempo depois foi a vez de Milo gozar nas mãos de Camus.
Ficaram juntinhos até que as respirações alteradas voltaram a se regularizar. Camus acariciava os cabelos meio ondulados de Milo num misto de adoração e contemplação. Milo somente sorria. Separando-se por fim, Milo virou a fim de fitar Camus. Selaram um longo e apaixonado beijo.
– Pra quem não sabia como transar com homem até anteontem, você foi muito ousado hoje, Camus! – disse Milo sorrindo lindamente.
– Isso é porque você me deixa louco, seu grego de uma figa! – Camus sorriu e abraçou o amante, aproximando novamente os dois corpos. – Me promete que não briga mais comigo?
– Lógico que não! Eu quero mais é brigar várias e várias vezes! – tornou Milo como se aquela fosse a resposta óbvia para a pergunta do francês. Camus ficou encarando Milo abobalhado. "Essa reação eu não previ!", pensou o francês. – Lógico, Camus! – continuou Escorpião a fim de explicar seu ponto de vista – se toda vez que brigarmos eu ganhar esse tratamento especial, vou é brigar todo dia. Nunca te disseram que o melhor da briga é a conciliação, não?
– Safado! – riu-se Camus.
– Tolinho! – riu-se Milo.
E continuaram assim, abraçadinhos, fazendo brincadeiras bobas até adormecerem um nos braços do outro.
-X-X-X-
– Milo, acorda! – exclamava Camus impacientemente. – São 7:30h da manhã e nós temos de estar no café da manhã às 08:00h!
Milo nada dizia, somente gemia coisas incompreensíveis. Camus abriu a janela do quarto, deixando os primeiros raios de sol da manhã paulistana encontrarem a pela bronzeada do grego que adormecia meio acordado. Milo puxou o lençol pra cima, cobrindo seu rosto, evitando a luz. Camus que apesar de não ser brasileiro não desistia nunca, arrancou os lençóis do grego. Ficou ali alguns instantes parado, observando o corpo nu do amante, algumas marcas roxas em pontos nada discretos do corpo que havia possuído na noite anterior. O francês sorriu estalando os lábios. Aquele homem perfeito era seu, e só seu.
Enquanto Camus contemplava, Milo acordava aos poucos. Espreguiçou-se sem abrir os olhos, num gesto quase felino. Camus sorriu ainda mais. "Zeus, como ele é perfeito!", pensou o francês admirando os belos cabelos de safira do amante, que desgrenhados contrastavam com o travesseiro branco. Milo abriu os olhos vagarosamente, somente para encontrar em pé diante de si um homem extremamente bonito e elegantemente trajado em um dos seus indefectíveis ternos pretos e uma camisa salmão, gravata cinza chumbo e sapatos pretos de couro italiano. O francês exalava um delicioso perfume cítrico e seus cabelos lisos e bem penteados estavam molhados. A luz do sol, fraquinha, refletia na pele branca de Camus, que apertava os olhos a fim de contemplar o amante. O quarto todo cheirava a sabonete e a perfume cítrico, inebriando o grego.
– Zeus, estou no paraíso! – exclamou Milo. Camus sorriu e sentou-se ao lado do amante. – Vamos, mon ange, acorde e se troque, sim? Precisamos descer... – disse Camus.
– Não quero! – tornou Milo. Camus sorriu. – Bem, eu preciso descer de qualquer forma. Você pode chegar atrasado, Saori até espera por isso. Mas eu não posso nem sonhar em não estar lá na hora marcada. – completou o francês.
Milo sentou-se na cama e acariciou com as costas da mão direita a pele alva do rosto do francês. – Não quero que você vá! – disse o grego.
Camus riu alto. – Não aja como uma criança birrenta, Milo! – completou, tomando a mão do amante nas suas e dando-lhe um beijo suave.
– Vai, então, chato! – disse Milo fingindo uma raiva que não tinha. – Vai lá babar ovo pra birrenta!
Camus deu um beijo estalado nos lábios do amante e saiu do quarto. "Esse daí não tem jeito mesmo!", pensou revirando os olhos.
Pouco tempo depois atingiu o salão em que era servido o café da manhã. Surpreendentemente, estavam todos lá, menos Saori, Seiya e Milo. Camus encarou Saga demonstrando surpresa. – Nossa, vocês não saíram ontem? E estão todos acordados?
– Saímos, na verdade nem dormimos... – disse Saga displicentemente, levantando-se logo em seguida rumo à mesa do café.
Camus deu de ombros e seguiu Gêmeos. Demorou um tempo entre pães e frios, café, leite, suco e chá. Quando ia pegar um pão de queijo, iguaria sugerida por Aldebaran, percebeu que Hyoga estava aflito atrás de si. – Hyoga, algum problema? – perguntou ao pupilo.
– Mestre, eu preciso lhe falar. Coisa séria. – disse o russo, os olhos demonstrando preocupação.
– Bien, sente-se comigo então. – ofereceu Camus e os dois foram se encaminhando para uma das mesas do salão. Sentaram-se e quando Hyoga fez menção de falar, esfregando as mãos nervosamente, Milo apareceu todo radiante acompanhado por Seiya e Saori. Obviamente, Milo dirigiu-se para a mesa de Camus, constrangendo o garoto russo que, pedindo licença, levantou-se e foi se sentar junto aos cavaleiros de bronze. Saori no entanto dirigiu-se a Camus. – Mestre Aquário, esta manhã nós olharemos o escritório da nova filial, não é longe daqui. À tarde, todos faremos um city tour pela cidade. – disse a deusa, sentando-se com o francês e o amante.
Milo colocava as mãos nas coxas de Camus, apertando e estimulando o amante, enquanto Saori dizia mil coisas sobre a Fundação e a filial. De quando em quando, Camus soltava um gemido abafado e Milo ria divertindo-se, deixando Atena pra lá de confusa. "Esses dois estão muito estranhos ultimamente", pensou Saori para si mesma.
Pouco tempo depois, todos de café da manhã tomado foram novamente ao microônibus. Camus não conseguia acreditar que os baladeiros estavam acordados, que simplesmente não haviam dormido à noite. "Impressionante!", pensava o francês.
– Máscara, como foi a balada ontem? – perguntou Milo, acomodando-se em seu assento ao lado de Aldebaran, já que não podia nem pensar em sentar-se ao lado de Camus, este não pretendia desgrudar de Saga naquela manhã. Nem nas seguintes. Não enquanto tudo não estivesse certo com a maldita filial brasileira da Fundação.
– Excelente, nossa! – respondeu Câncer de maneira irônica. – O Deba, com tanta balada nessa cidade, resolveu levar a gente justo para A Loca (4). Balada gay, Milo, você acredita? – continuou Máscara soando inconformado. Encarou Milo que ostentava uma expressão de "ué, qual o problema?". – O lance é que o Afrodite surtou, subiu no palco durante o show, apertaram a bunda dele, um auê que você não faz idéia!
– Quem diria, Câncer, que você ia ser assim tão ciumento? – ponderou Milo.
– Você também é! – tornou o italiano.
– Eu sei! Mas e no fim das contas, a balada foi boa? – indagou Escorpião.
– Boa, Milo? Foi ó-ti-ma! – resumiu Afrodite dando uma piscadela para o grego. – Você deveria ter ido!
– Háh, Dite, te garanto que a minha balada foi muuuuuuuuuuuito mais interessante... – disse Milo virando-se para Camus, que se encontrava no banco atrás de si. E o francês, sempre tão alvo, de repente ficou vermelho feito um pimentão. – Tá vendo, Dite, se a gente espetar uma agulha agora no rosto do francês jorra sangue... – gargalhou Milo.
– Pelo jeito vocês se entenderam, então. E muito bem! – resumiu Aldebaran.
Camus continuou seu trabalho, mas não pôde deixar de sorrir de quando em quando, lembrando da noite maravilhosa que tivera com o amante. Mas percebia que seu pupilo olhava-lhe de tempos em tempos, esfregando as mãos num gesto típico de nervosismo. "Estranho, Hyoga não é de se abalar assim... a não ser quando o assunto é a mãe dele, e esse não parece ser o caso... preciso dar um jeito de falar com ele...", pensou o Mestre do Gelo.
-X-X-X-
A manhã transcorreu normal. Visitaram o escritório da Fundação no Brasil. Tratava-se de um andar de um elegante prédio de escritórios na Av. Paulista. Camus sentiu-se absolutamente à vontade no lugar, apesar do cheiro forte de tinta que demonstrava que o escritório havia sido reformado recentemente. O ar condicionado extremamente frio fez com que o francês se sentisse em casa. Isso sem contar que o próprio ambiente de trabalho em escritório era confortável para Camus. Principalmente as pequenas mesas individuais, cada qual com sua cadeira e seu computador, separadas umas das outras. "Perfeito, assim os empregados não perderão tempo com conversas inúteis entre si. Eu adoraria trabalhar num lugar assim!", pensou Camus.
Milo e os outros, entretanto, acharam tudo aquilo muito... "chato!", como murmurava Máscara da Morte. "Dispensável!", como dizia Mu. "Nada disso: in-su-por-tá-vel!", ponderou Milo recebendo gestos de aprovação de Máscara da Morte, Afrodite, Aiolia e Shura. As meninas bocejavam, quase dormindo em pé. E Hyoga demonstrava uma impaciência que não era de seu feitio.
Mas a manhã passou rápido, e logo o almoço revigorou o ânimo dos cavaleiros. Foram enfim ao city tour, começando pela própria Av. Paulista mesmo: conheceram o Masp, que encantou o gosto apurado de Camus, e a Casa das Rosas. Adoraram a Av. longa e larga, com toda a vida da metrópole pulsante ali, as pessoas correndo de um lado para o outro feito formigas ocupadas num trabalho interminável. Prosseguiram para o Parque do Ibirapuera, visitaram a Oca e o Planetário, onde puderam ver as estrelas protetoras de cada um, os cosmos elevando-se de júbilo. Visitaram também o Memorial da América Latina e o Parlamento Latino Americano, onde Shura encantou-se com a enorme escultura de uma mão com o mapa da América Latina esculpido em vermelho na palma. Visitaram ainda o Pátio do Colégio, onde São Paulo nascera nos idos tempos de 1554, lugar onde Aldebaran emocionou-se mais. Encantaram-se com as peças de arte sacra que compunham o acervo do Pátio. Aproveitaram a proximidade do local para passear pelo Solar da Marquesa de Santos.
Ainda no centro da cidade, Máscara da Morte demonstrou uma sensibilidade artística fora do comum ao comentar sobre os detalhes arquitetônicos da Catedral da Sé, marco zero da grande cidade, informando ainda que na Basílica de São Pedro, em Roma, há o nome da catedral paulistana esculpido no chão, entre os de muitas igrejas ao redor do mundo. Deram uma passada pelo Mosteiro de São Bento, onde assistiram a um recital de canto gregoriano e compraram deliciosas trufas e um pão de mandioca, cuja receita os monges não dariam nem sob tortura, por mais que Shiryu tivesse tentado.
Terminaram o passeio no Museu Paulista, mais conhecido como Museu do Ipiranga. Saga encantou-se com o antigo carro de bombeiros de 1920 e Milo com o quadro "Independência ou Morte", de Pedro Américo. Já Saori gostou mesmo da pequena mecha de cabelos dourados da Princesa Isabel. Compraram uma série de souvenirs e, exaustos, voltaram ao hotel, felizes. Máscara da Morte até esqueceu que a cidade não tinha praia e que os rios eram todos poluídos. Estavam todos encantados com aquela metrópole tão maluca, tão maltratada, mas ao mesmo tempo tão rica, cosmopolita e convidativa.
– Cavaleiros... – começou Saori à frente do microônibus – quero informar que, no final de semana, vamos todos à praia!
Todos adoraram a notícia, exceto Camus que não suportava a idéia de torrar ao sol. Mas ao pensar em Milo em trajes de banho, quase gostou da idéia. Afrodite, embora animado, tinha um quê de preocupado, sabe-se lá porque. E Hyoga não se manifestou.
-X-X-X-
Naquele dia, à noite, depois que todos já haviam jantado, Camus, resistindo aos protestos de Milo, dirigiu-se até o quarto que seu pupilo dividia com Shiryu. Bateu à porta e pouco tempo depois o jovem russo de cabelos loiros atendeu-lhe. Sorriu nervosamente ao ver quem estava ali. – Entre, Mestre, por favor! – convidou Hyoga, convite que foi prontamente aceito pelo francês. – Aceita algo para beber? – perguntou Cisne.
– Uma água, se não se importa, Hyoga. – pediu Camus, sentando-se em uma das camas do quarto. Olhou em volta e notou que Shiryu não estava presente.
– Claro que não me importo, é a Saori quem vai pagar no fim das contas! – afirmou o cavaleiro de bronze rindo nervosamente. Começou a esfregar as mãos e Camus estava realmente preocupado com o menino. – Que bom que você veio agora, Mestre, parece que adivinhou. O Seiya acabou de ligar aqui há uns cinco minutos chamando pelo Shiryu. Quase que eu fui atrás de você! – disse o jovem entregando o copo d'água para o cavaleiro mais velho.
– Bien, Hyoga, quer me contar o que te aflige, de uma vez por todas? Você nunca foi nervoso desse jeito, hoje mal prestou atenção nos lugares em que passamos, todos muito interessantes! – argumentou Camus.
– Sabe o que é, Mestre? – começou Hyoga e seu nervosismo só aumentava. – Sabe, eu fico meio sem jeito de falar... não sei como começar...
– Que tal pelo começo? – disse Camus tomando um gole da água e lançando um olhar compreensivo para o russo. "Gosto muito do Hyoga, espero que não seja algo que o esteja fazendo sofrer!", pensou o francês. Depois sorriu. "Ah, Camus, quem diria, você assim todo preocupado com que seu pupilo está sentindo... logo você, que sempre achou que sentimentos eram bobagem... hah, o que o amor não faz. O que Milo não faz!", pensou.
– Bom, Mestre, como você deve saber, todos sabem que você e o Milo... bem... que vocês dois... eu não sei como dizer... – Hyoga corara e sorria desajeitadamente.
– Hyoga, meu caro, um dos maiores problemas de pessoas brancas como nós dois é que quando temos vergonha nada consegue esconder. Nossas faces ficam vermelhas como um pimentão, como Milo gosta de dizer! – riu Camus. – Pode dizer com todas as letras, meu caro, contanto que a Saori não esteja perto, claro. Eu e Milo estamos apaixonados e somos namorados!
– Sim, Mestre, exatamente! Apaixonados! – Hyoga afirmou e suspirou aliviado. – Pois bem, eu queria na verdade era pedir um conselho... não sei se você sabe, mas eu também... – pigarreou – estou apaixonado.
– Deixa-me ver... pelo Shun, certo? – Camus afirmou sorrindo.
– Nossa, Mestre, é tão bandeiroso assim? – Hyoga já relaxara quase que completamente, percebendo a solicitude e abertura de seu Mestre para o assunto.
– Claro que é, Cisne! Só não percebe quem não quer... Saori por exemplo! – disse Camus e os dois riram. – E pelo que eu sei o mocinho de cabelos verdes também é apaixonado por ti, não?
"Nossa, quem diria que um dia o Camus falaria assim? Ele está muito mudado. E pelo que parece, pra melhor. Bendito Milo!", aprovou Hyoga em pensamento. – Sim, estamos juntos já há algum tempo... antes de você e Escorpião, pra dizer a verdade.
– Imaginei... – disse Aquário lembrando-se de um dia há algum tempo atrás, em que vira Hyoga e Shun trocando carinhos suspeitos, antes mesmo dele se perceber apaixonado por Milo. – Mas enfim, mon enfant, qual é o problema?
– Ah, Mestre... – começou Hyoga, corando novamente. – Eu e o Shun estamos juntos, mas nunca passamos de uns beijos e abraços mais fortes... eu queria ir mais além, mas o Shun tem medo... se é que você me entende...
Camus suspirou. "Pronto, o que que eu respondo agora, Zeus? Se até eu fiquei morrendo de medo de machucar o Milo... eu ainda sou inexperiente nesse assunto, afinal de contas, de uma certa forma. Duas vezes contam pra alguma coisa? Por mais intenso que tenha sido, não me sinto confortável com a situação a ponto de aconselhar o menino. Por outro lado, não posso deixar o Hyoga na mão... literalmente falando, nesse caso... que saia justa! Não sei o que fazer, definitivamente...", pensava o francês.
Hyoga olhava para o mestre totalmente atordoado. Camus parecia totalmente entregue a seus pensamentos, e assim permaneceu por uns cinco minutos. Até que finalmente, soltando um suspiro longo, começou a falar. – Olha, Hyoga, não sei o que te dizer, na verdade... Entendo seu lado e sua vontade por descobrir coisas novas. Do mesmo jeito que também entendo o Shun, o medo é mais que natural nessa hora...
– Mas eu o amo tanto... – suplicou Hyoga.
– Eu sei, e não duvide que ele também te ame, meu caro. Mas você precisa dar tempo ao tempo. Não force o Shun a fazer o que ele não quer. Vai com calma. E faça coisas inusitadas para demonstrar que você o ama... – aconselhou Camus.
– Como por exemplo oferecer uma canção romântica brasileira pra ele? – riu o cavaleiro mais jovem.
– Exatamente! – riu Camus também. – Mas isso eu sabia que seria especial para o Milo. O fato de eu me expor, justo eu que sempre fui tão frio e distante de todos, foi a maior prova de amor que ele poderia ter de mim. E por isso foi especial pra ele. Você tem de pensar no que seria especial para o Shun...
Hyoga ficou alguns segundos pensativo. – Boa idéia, Mestre. Vou pensar no que seria especial pra ele. Se eu precisar você me ajuda? – perguntou o russo.
Camus levantou-se e ficou de pé ao lado do pupilo. Pousou a mão direita sobre a cabeça do russo, num gesto quase paternal. – Hyoga, conte sempre comigo. Pra isso e pra tudo! – sorriu e dirigiu-se à porta, deixando Hyoga feliz da vida arquitetando mil planos e agradecendo aos deuses por ter um mestre tão compreensivo. – Spaceeba (5), Camus! – disse alto, embora seu mestre já estivesse longe dali.
-X-X-X-
O resto da semana transcorreu normalmente. Saga e Camus (principalmente o último) trabalhando, indo a reuniões intermináveis com advogados e políticos locais, a fim de regularizar a situação da filial da Fundação no Brasil. Os outros divertiam-se muito, indo a teatros (Shun gostara especialmente de O Fantasma da Ópera, em cartaz no Teatro Abril), museus, bares, restaurantes e exposições. E, é claro, a muitas baladas. Mal dormiam e isso os deixava felizes, o que Camus definitivamente não compreendia.
Milo acompanhava os amigos, e à noite indefectivelmente travava uma briga interminável com Camus, dizendo que o francês não lhe dava atenção, que só pensava em trabalho. Camus chamava Milo de infantil e irresponsável. Ao que Milo respondia chamando o amante de insensível, frio e calculista. E no fim das contas os dois acabam na cama, trocando juras de amor eterno, num jogo que sempre terminava prazerosamente empatado.
Hyoga continuava pensando no que seria especial para Shun, o que faria o lindo menino de cabelos verdes emocionar-se e sentir-se verdadeiramente amado, como realmente era. Saori passava os dias entretida com a implantação da filial e as noites suando, pensando em Seiya que dormia numa cama perigosamente perto da sua própria. E maldizendo Pégasus por ser devagar demais. Seiya, por sua vez, tivera um sonho estranho na noite de quarta-feira, sonhando com Saori suando a seu lado, desejando-o fortemente. E surpreendera-se ao sentir-se extremamente excitado com aquilo. E daquele dia em diante, embora ainda tivesse medo de aproximar-se dela como queriam seus amigos, não via mais a idéia com a repulsa que via antes.
E assim foi. E assim passou aquela semana. E assim, na sexta-feira à tarde, em meio a uma grande bagunça e euforia geral, todos tomaram o microônibus. O destino? Ilha Bela!
-X-X-X-
(1) Greece Airlines, claro, é uma cia. aérea inventada pela mente insana dessa autora que vos fala.
(2) Minha criança
(3) Eu não mereço!
(4) A Loca, conhecidíssima balada gay de São Paulo, localizada na Rua Frei Caneca, lado centro, reduto dos alternativos da cidade. Trata-se da balada mais antiga ainda aberta de São Paulo. Domingo é a noite mais conhecida, e sempre há shows de travestis.
(5) Obrigado
-X-X-X-
A/N: Ufa, demorou mas saiu. Pensei que não conseguiria escrever. E esse lemon nem era pra ter existido. De verdade. Mas simplesmente veio. Um lemon curto pra selar o fim de uma briga. Espero que vocês tenham gostado.
As descrições de São Paulo saíram todas da minha cabecinha. São lugares que eu conheço, coisas que eu gosto, pedaços dessa cidade que eu amo de paixão, minha cidade.
Cenas do próximo capítulo: Ilha Bela. Praia. E borrachudos. Será que eles vão sobreviver?
Aos que lêem, muito obrigada! E um obrigada super especial àqueles que deixam reviews, dando-me sugestões. Podem ficar certas de que elas estão anotadas e algumas serão utilizadas daqui em diante. Aliás, quem quiser sugerir o "algo especial" que Hyoga deve fazer pro Shun, sinta-se mais que à vontade!
