A/N: Esse capítulo é centrado em cada um dos cavaleiros, em como eles estão se sentindo. E peço perdão se às vezes foge um pouco do universo "real". Espero que gostem!
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Cap 12 – O plano do Grande Mestre
Ou
O mistério revelado?
Após o conturbado acontecimento envolvendo Milo e Camus, bem como o roubo dos cocos, os bravos cavaleiros de Atena resolveram que o melhor a fazer era mesmo voltar a dormir e tentar pensar o menos possível nas bizarrices dos últimos tempos. Fato difícil tendo-se em vista principalmente o comportamento estranho de Saori: com tantas ameaças a Atena, alguns dos cavaleiros começaram a desconfiar de tramóia de algum deus maligno ou coisa que o valha. E, como bons protetores de Atena, começaram a ficar mais alertas do que nunca. O mistério precisava ser solucionado, afinal a paz na Terra poderia estar em jogo!
E assim todos se encaminharam para suas barracas e lá ficaram, tentando dormir e colocar os pensamentos em ordem. Entretanto, em uma barraca especial, um cavaleiro mais que especial olhava o teto e remoía os últimos acontecimentos, como que para achar o fio da meada, a pista perdida que levaria à solução daquele mistério de uma vez por todas. "Ah, por favor, somos ou não somos cavaleiros de ouro?", pensou o cavaleiro em questão, e sua feição se iluminou: tivera uma idéia.
– Oh, Deba, acorda, Deba! – chamou o companheiro, chacoalhando o outro. "Nossa, o Olia e o Shura têm razão, como ele ronca, por Zeus!", pensou Saga. Aldebaran relutou um pouco, mas por fim se levantou.
– Que foi, Saga? Que saco, não se pode dormir sossegado! – tornou o taurino, esfregando os olhos e se espreguiçando felinamente. "Nossa, como ele fica bonito assim!", pensou Saga e ficou olhando fixamente para o amigo.
– Oh, Saga, me acorda e fica me olhando aí com cara de bobo! – pontuou Aldebaran meio enfezado.
"Nossa, acho que eu preciso pegar alguém e logo logo, isso tudo tá me fazendo mal, credo!", pensou o geminiano e sacudiu a cabeça, como que para afastar estranhos pensamentos. – Bom, Deba, eu quero que você me faça um favor, sim? Vá até a barraca de Mu e Shaka e os chame aqui, por favor!
– Ah, Saga, vai catar coquinho na descida, vai! – respondeu Aldebaran já completamente enfezado.
– Deba, eu não estou pedindo... – argumentou o Grande Mestre, baixinho, mas num tom que fez o sangue de Touro gelar.
– Ok, Saga, estou indo... – respondeu Aldebaran e já foi saindo da barraca, se arrastando para não chamar atenção. "Eu hein, contrariar esse aí é morte na certa...", ainda pensou o taurino antes de chegar na barraca de Mu e Shaka.
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– Oh, Shura, acorda, Shura! – chamou o grego. Shura se virou para o lado e não fez a menor menção de acordar. Mas Aiolia, apesar de não ser brasileiro, não desistia nunca, e cutucou o amigo. – Shuraaaa, Shurinhaaaaaa, acorda! – chamou mais uma voz, afinando a voz.
Capricórnio foi abrindo os olhos devagar. Fitou Aiolia que estava sentado em sua frente. – Olia, o que foi agora? – perguntou, já se acostumando com os chamados noturnos do amigo.
– Shura, você não está notando nada estranho? – perguntou Leão.
– Oh, Olia, mas será possível agora que você sempre vai me chamar no meio da noite pra me dizer que tem algo errado e... peraí, cadê o barulho de ronco? – tornou Capricórnio surpreso.
–Pois é... – respondeu Aiolia sorrindo – Agora vamos poder dormir sossegados!
Shura se levantou, sentou-se ao lado do amigo, sorriu, levantou uma das mãos e deu um belo de um pedala na nuca do outro, que olhou para ele espantado. – Olia, então você me acordou pra me dizer que agora podemos dormir? Francamente! – disse meio indignado, e então voltou a seu lugar a fim de se deitar.
"Cavaleiros, cavaleiros, aqui é o Shaka...", disse uma voz na cabeça de nossos amigos. "E aqui é o Mu...", tornou outra voz. "Mu, nós não combinamos que eu daria o recado?" "Ah, Shakinha, é que eu sempre achei tão legal invadir a cabeça dos outros..." "Do mesmo jeito que você invadiu a minha cabeça e meu coração, não é Mu?" "Com certeza!" "Mas ah, bom, o fato é que o Saga está convocando uma reunião e quer a presença de todos vocês. Saiam devagar e sem fazer barulho: nos encontraremos no alto do morro aqui do lado, no meio do caminho até a enseada de Milo e Camus!" "O que, Mu? Ah, sim, o Mu me lembrou de dizer que o Saga não está pedindo, se é que me entendem...", e assim as vozes mentais se silenciaram.
– Sabe, Olia? Ás vezes eu me pergunto por que não virei advogado... – pontuou Shura.
– Hum, e eu não? – respondeu Aiolia levantando os ombros e soltando um longo suspiro.
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Alguns minutos depois, os bravos defensores de Atena – menos a própria e Seiya, é claro – se encontraram no alto do pequeno morro que separava a praia principal da pequena e escondida enseada do outro lado. Esfregavam os olhos, bocejavam, e tinham vontade de esganar Saga por aquela interrupção das poucas horas em que podiam dormir sossegados. Mas Saga, altivo, encarava um a um nos olhos. Os cabelos azulados e os olhos brilhantes davam ao Cavaleiro de Gêmeos um ar de mistério e ao mesmo tempo firmeza.
– Ahn, Saga, sem querer ser chato e já sendo... posso saber o motivo dessa convocação? – perguntou Ikki com cara de sono e de poucos amigos.
– Calado, Fênix. Só se dirija a mim quando eu mandar... – "pediu" Gêmeos. Todos os outros cavaleiros se entreolharam amedrontados. Afinal, aquele homem era ninguém mais e ninguém menos do que Saga de Gêmeos. E parecia estar bem irritado. Os amigos então decidiram mentalmente não dizer absolutamente nada, e somente aguardar pacientemente o pronunciamento de Saga.
– Bom, meus bravos... – começou o geminiano, caminhando de um lado para o outro e encarando um a um. – Vocês sabem, tão bem quanto eu, que a Saori está mais do que esquisita ultimamente... Essa coisa de filial brasileira da Fundação, de proibir o namoro entre nós, de trazer a gente pra uma praia deserta, logo ela... isso está tudo muito estranho, e com certeza esses fatos se ligam ao ladrão misterioso... digam, o que leva alguém a roubar mantimentos e roupas? – perguntou. Os outros, mudos, continuavam encarando Saga, que soltou um longo suspiro. – Respondam! – permitiu o Grande Mestre.
– Bem, Saga, se me permite... – começou Camus, desvencilhando-se do abraço de Milo e dando um passo à frente. Saga fez um aceno com a cabeça, indicando que aprovava o comentário do francês. – O motivo para os roubos, para mim, é um mistério. Mas acredito que, a partir de algumas deduções, podemos traçar um perfil desse ladrão...
– Ah, falou o Sherlock Holmes do Santuário, agora... – exclamou Máscara da Morte ironicamente. Milo, calmo, andou displicentemente até o lado do canceriano e deu-lhe uma bela cotovelada no estômago, fazendo o amigo curvar-se. Escorpião sorriu feliz, enquanto Afrodite lançava-lhe o olhar mais mortal que pôde.
– CALEM-SE, vocês! – gritou Saga. – Continua, Camus...
– Ih, Saga, já nem me importo mais, é como nas reuniões com a Saori, todo mundo desvia o assunto e o que é pra durar uma hora dura seis... aliás, eu vivo me perguntando... por que a chata faz essas reuniões mensais? Realmente não faço a menor idéia... – Camus dizia perdido em seus próprios pensamentos.
– Ah, Mestre... sem querer ser chato e já sendo... agora quem está desviando o assunto é você! – pontuou Hyoga, encarando Saga que já estava bem vermelho, numa raiva meio contida.
– Ca-hãn – pigarreou Aquário. – Perdoem! Mas enfim, como ia dizendo... podemos traçar um perfil do ladrão... com certeza não é alguém comum, pois nunca o encontramos... e além do mais, é alguém que sabe esconder seu cosmo e muito bem, pra poder passar incólume pela Corrente de Andrômeda... – continuou Camus.
– E também por vocês dois, não é, Camus? – perguntou Shina. – Afinal, por mais, hum, digamos, ocupados que vocês dois estivessem, são dois cavaleiros muito bem treinados e teriam percebido a aproximação de alguém, não? – continuou a moça.
– Shina, por mais que eu odeie admitir, você tem razão... – interveio Milo, olhando para Saga para ver como o geminiano reagiria, mas Saga pareceu aprovar o comentário, encorajando Milo a prosseguir. – Camus e eu jamais teríamos sido pegos de surpresa por alguém comum...
– Do que vocês suspeitam? Algum deus maligno ou coisa parecida? Pois eu sim! – disse Shaka. Àquela afirmação, todos sentiram um friozinho correr pela espinha, imaginando a possibilidade de novas e difíceis batalhas em nome de sua deusa.
– Não sei, Shaka. Só sei que temos de fazer alguma coisa, e já! – exclamou Saga. – E eu sei exatamente o que vamos fazer... – completou com um sorriso de canto de boca, meio maroto, que o deixava simplesmente lindo. Milo abriu a boca ao admirar o geminiano, e Camus mais que depressa correu para seu lado e o abraçou, fechando a cara. Perceber que o francês realmente tinha ciúmes de si foi um dos momentos mais felizes da vida do Cavaleiro de Escorpião.
– Oh, Saga, fala logo, qual é o plano? – perguntou Aldebaran já meio impaciente.
– O plano é mais simples do que vocês pensam... já ficou muito claro que tudo o que está acontecendo aqui está ligado a Atena, certo? E que de nada adiantou a Corrente de Andrômeda... então, o que devemos fazer é muito simples... alguns de vocês voltarão para suas barracas, e fingirão dormir... enquanto isso, eu e mais alguns nos posicionaremos em pontos estratégicos do acampamento... esperando para que o ladrão dê o bote. Simples, mas deve funcionar... – expôs Saga.
– Sabe, é nessas horas que eu entendo porque o Saga ainda é o Grande Mestre... – disse Mu, e todos concordaram com acenos de cabeça. – Quem faz o quê, Saga? – perguntou o lemuriano.
– Bom, Áries, preciso de você posicionado na praia, perto do mar... seus poderes psíquicos e de teletransporte serão muito úteis na captura do ladrão. Shaka, você ficará do lado oposto de Mu: qualquer coisa a gente dá um sinal e você abre os olhos e resolve tudo... Milo, quero você ao lado da barraca de Shina e Marin, escondido atrás de uma moita que tem lá; seus olhos felinos te fazem enxergar bem no escuro, e você será aquele quem dará o sinal para a captura: um longo assobio. Shun, você ficará do lado oposto a Milo, preparado para acorrentar o ladrão se não for preciso matá-lo... Eu ficarei aqui no alto do morro, e pularei assim que vir o ladrão. Mas ninguém deixa suas barracas sem uma ordem minha! Todos compreenderam? – perguntou o Grande Mestre. Todos assentiram com movimentos de cabeça.
Camus sentia seu coração apertar. Então ia Milo enfrentar o ladrão sozinho? Afinal, "ladrão" não passava de um eufemismo barato... com certeza tratava-se de um mal enorme, que queria vê-los mortos e enterrados a fim de dominar Atena. E Milo ia enfrentar esse mal sozinho. Camus pensou em ir até Saga e discutir com ele, desobedecer suas ordens. Mas um olhar do amante o dirimiu dessas idéias. Era como se Milo dissesse-lhe com seu olhar: "deixa, Camus, eu sei me virar bem sozinho... e mais, vamos então dar razão à Atena e provar que envolvimento sentimental no Santuário pode comprometer as missões?". E, entendendo esse recado, resignado, Camus dirigiu-se sorrateiramente à sua tenda.
Mas não foi sozinho. Em pouco tempo, todos os cavaleiros estavam posicionados como Saga mandara. Entretanto, Hyoga o havia acompanhado. Pois em seus pensamentos pesavam as mesmas preocupações que afetavam Camus. Ia deixar Shun sozinho para enfrentar a ameaça, fosse ela qual fosse. Poderia ser uma brincadeira, sem dúvida; porém e se o pressentimento de Shaka de que fosse algum deus ameaçador fosse verdade? Mas Andrômeda o havia encarado com o mesmo olhar revelador que Milo dirigira a Camus, e assim Cisne entendeu que o outro sabia se cuidar – e muito bem – sozinho. Refugiados um no outro, Mestre e Aprendiz esperavam, resignados.
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À beira da praia, Mu, deitado, queixo colado à areia, espreitava sorrateiro. Sua mente, poderosa, devia concentrar-se em captar qualquer tipo de movimento suspeito; Saga o tinha escalado justamente por suas habilidades mentais. Entretanto, para isso, o lemuriano deveria limpar sua mente e focar-se em sua missão: algo impossível nos últimos tempos. Em seus pensamentos, foi surgindo a imagem de uma figura alta, esguia: um homem. Um homem cujos longos cabelos loiros o levavam à loucura. Um homem pelo qual morreria, e que o ladrão ou o que fosse não duvidasse disso! Pensou em sua paixão por Shaka e suspirou. Tinha medo do que estava acontecendo, e muito. E, por essa mesma razão, sacudiu a cabeça e focou-se em sua missão. "Saga confiou em mim e eu não ousarei decepcioná-lo!", pensou o ariano. E então sua mente se esvaziou: Mu voltara a ser o cavaleiro concentrado e eficiente de sempre.
Exatamente do lado oposto a Mu, mas escondido o bastante para que não fosse notado, os pensamentos de um certo indiano também foram invadidos por uma presença um tanto quanto perturbadora. Shaka não conseguia evitar, era mais forte que ele: e olha que o cavaleiro é o homem mais próximo de Deus! Mas mesmo assim seus pensamentos se voltavam toda hora para o companheiro, para sua pele alva e seus cabelos graciosamente lavanda, o conjunto de um ser tão magnífico que parecia divino. Aliás, como ele próprio. O indiano teve ímpetos de travar contato mental com o namorado, mas se conteve. "Não, não é momento para isso. Agüente firme, Shaka. Vamos provar para a Saori que namoro nenhum interfere em nossas missões!", pensou o Cavaleiro de Virgem. E então, não mais se focou em Mu e no relacionamento dos dois, mas sim em sua missão.
Shun, por seu lado, também focava seus pensamentos naquele a quem amava, claro. Mas eram pensamentos diferentes. Shun agora desejava mais do que nunca se entregar ao namorado. Cada vez que pensava em Hyoga, sentia seu sangue ferver, sua pele suar, sua boca salivar no mais puro desejo. Lembrou da conversa com Ikki e de como Cisne se provara corajoso. "E tudo isso por mim!", pensou o menino. "E Zeus, ainda não tive a oportunidade de falar com ele, revelar pra ele que tudo deu certo... ser dele!", continuou a pensar, soltando um suspiro baixinho. No fundo, nesse momento, Andrômeda mal ligava para a ameaça que podia pairar sobre Atena e seus defensores: sua única preocupação a respeito disso era dar cabo logo daquela situação bizarra para poder se dedicar ao namorado como ele de fato merecia. E então, a postos, Shun se concentrou. "Ah, mas dessa vez a Corrente pega esse engraçadinho e a gente acaba com essa história de uma vez por todas! E então, Hyoga, eu serei seu. Só seu. Hoje e sempre! Eu prometo!", tornou a pensar Shun com as mãos agarradas à Corrente de Andrômeda.
Ao lado da barraca de Shina e Marin, camuflado por uma moita, estava Milo: exatamente como Saga mandara. Não é necessário nem dizer o que os pensamentos do Escorpião focavam: obviamente, o conjunto perfeito que lhe pertencia, para seu bel prazer, ao qual costumava chamar de Camus. Amava o francês, e a cada lembrança dos dois juntos seu peito se apertava de ansiedade. Sim, ansiedade. Assim como Shun, Milo queria que aquilo se resolvesse o mais rápido possível. Não via a hora de exibir-se por Atenas e pelo Santuário de mãos dadas com seu amante, ostentando Camus para todos como se o amante fosse um troféu. Exibi-lo mesmo. Milo se achava simplesmente sensacional por ter conseguido domar Camus – e, cá entre nós, ele tem razões para isso. Afinal, não é qualquer um que consegue fazer Camus de Aquário dizer eu te amo, é? E sentir ciúme, então? Milo sorriu: em seu íntimo, gabava-se para si próprio pela conquista. Que, claro, não era uma simples conquista, um affaire qualquer: era o homem de sua vida. Da mesma forma que Shun, Milo também pensava no namorado naquela hora, mas sem nenhuma culpa. E Milo custava a admitir até a si próprio, mas havia algo mais inflando seu ego naquela noite: o fato dele ter sido escolhido por Saga para a armadilha, e não Camus. "Hum, dessa vez os papéis se inverteram: eu me arrisco e ele assiste. Adoro!", pensou Escorpião, sorrindo de canto de boca. E então, fechando e abrindo os olhos sucessivamente para acostumá-los à visão noturna, Milo se concentrou. "Há, é hoje! É hoje que a gente pega o filho da puta que tá atravancando a vida de todo mundo!", prometeu a si mesmo.
No alto do morro, alheio aos pensamentos de seus cavaleiros, Saga observava. Mas quem estava ali não era o Saga do dia a dia, brincalhão, sarcástico, luxurioso e despretensioso. Quem estava ali era o Grande Mestre. Saga, acreditava-se, era a reencarnação do próprio Deus. Fosse isso verdade ou não, o fato é que ali, naquele momento, Saga agia como o líder que era. Cabia a ele, como Grande Mestre, solucionar os problemas do Santuário, e principalmente liderar seus amigos nas batalhas. "Grandes poderes trazem grandes responsabilidades", costumava repetir a si mesmo, como um mantra, toda vez que estava sozinho. Pois os amigos não desconfiavam, mas o geminiano sabia muito bem das responsabilidades que tinha como Grande Mestre. Apesar de ter traído Atena uma vez, recobrou a confiança de todos. E não era uma situaçãozinha qualquer de perigo que ia tirá-lo do sério. Com olhos de lince, Saga observava, pronto para dar o bote quando fosse preciso. Morreria por Atena e pelos amigos, sem sombra de dúvidas. Conforme dissera Mu, era nessas horas que ficava evidente porque Saga ainda era o Grande Mestre do Santuário. E, como todos sabiam, Saga sabe ser letal quando quer!
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Quanto aos cavaleiros que ficaram em suas barracas, as preocupações não eram muito diferentes daquelas dos que participavam da armadilha. Shina e Marin, por exemplo, prontas para a batalha, conversavam com o olhar. Anos de rivalidade em pouco tempo transformados em uma amizade e respeito profundos. Ou melhor, numa grande cumplicidade. O fato de as moças começarem um romance quase ao mesmo tempo com dois grandes amigos (desses amigos-irmãos, mesmo) fez com que as duas fossem cúmplices uma da outra. Quantas vezes trocaram de lugar para passar a noite com seus namorados! Quantas vezes saíram juntos os quatro! Perceberam então que a rivalidade era uma grande bobagem, uma forma um tanto quanto infantil de se admirarem mutuamente. E desde esse momento, passaram a se conhecer tão bem que um simples olhar valia por mil palavras. E os olhares das moças, em suas barracas, prontas para a batalha, eram olhares que significavam muita coisa: ansiedade, respeito, temor, preocupação e amor.
Aldebaran, sozinho em sua barraca, sentia-se um pouco infeliz. Com todo o clima de romance inebriando seus amigos, ficava ainda mais patente o quão solitário era o Cavaleiro de Touro. Solidão esta que o fazia lembrar de sua infância, de sua infância no Brasil. Estava em sua terra natal agora, e achava que essa seria a melhor viagem de sua vida. Mas para o poderoso defensor da segunda casa, a viagem representou um passo rumo ao autoconhecimento. Pois Aldebaran jamais imaginara que pudesse se sentir sozinho e desejoso de alguém para amar como estava agora. Suspirou resignado, e prometeu para si mesmo que, resolvida aquela situação, encontraria alguém para amar.
Numa outra barraca, Shura e Aiolia esperavam pelo pior. Como sempre dizia Capricórnio para o amigo, é sempre melhor esperar pelo pior: assim não há surpresas desagradáveis. Entretanto, o simples pensamento de que naquela batalha que estava por vir pudessem vir a perecer as mulheres pelas quais haviam se apaixonado enlouquecia os dois amigos. Mas os dois eram cavaleiros de Atena, e não se permitiam fraquejar: não num momento como esse. Com um simples olhar, Shura e Aiolia deram a entender que estavam preparados para tudo. Para tudo mesmo. "Hasta la muerte, hermano! Hasta la muerte!" (1), disse o espanhol para o amigo, bem baixinho. "Até a morte, irmão!", concordou o amigo. Ambos concentraram-se plenamente na missão, encarando fixamente o centro do acampamento pela fenda entreaberta da barraca.
Em outro canto, Máscara da Morte e Afrodite já estavam completamente preparados para a batalha. Antes de vestirem suas armaduras, abraçaram-se e juraram amor eterno, como deveria ser. Máscara da Morte, emocionado, disse a Afrodite o quanto o sueco havia mudado sua vida. "Sou uma pessoa melhor, querido, e devo isso a você!", dissera ao amante. Afrodite, emocionado, somente conseguiu murmurar um "eu te amo!" para o outro. Mas que não se enganassem com a beleza de Peixes: o cavaleiro era um dos mais letais dos 88. E estava preparado para enfrentar o mal de peito aberto. Quanto a Máscara da Morte, este parecia tranqüilo. "Se eu morrer hoje, morro feliz! Vivi, amei e fui amado. Nada mais importa!", pensou.
Os cavaleiros de bronze também foram tomados por pensamentos sombrios. Ikki, em seu íntimo, queria ser o primeiro a pular. Queria morrer. Morrer e encontrar Esmeralda. Fênix sentia agora que seu irmão estava finalmente protegido, mesmo sem ele: o menino tinha a Hyoga. "E, além disso, Shun sabe se virar e muito bem sozinho...", pensou Ikki. Já Shiryu somente pensava em Shunrei: ali, em meio a todo aquele caos, descobrira finalmente o óbvio. "Zeus, eu amo Shunrei!", disse para si mesmo. "E me recuso a perecer agora. Seja lá o que for, não vai me vencer!", prometeu a si mesmo. Quanto a Seiya, este estava completamente alheio a tudo o que estava acontecendo: devido a sua proximidade de Saori, não fora convocado para a reunião. Mas Pégasus não dormia: somente encarava a menina adormecida a seu lado, cheio de desejo contido.
Na tenda que mestre e aprendiz dividiam, pairava o silêncio. Devidamente trajados para a batalha, ambos simplesmente aguardavam. Sabiam o que se passava na cabeça um do outro: compartilhavam os mesmos medos, as mesmas angústias, as mesmas sensações. Camus cerrou os olhos e assim permaneceu, como era de seu costume antes de uma batalha. Hyoga fez o mesmo.
– Não agüento estar aqui enquanto ele está lá. Mestre, eu só desejava que isso fosse mais uma de suas lições... – sussurrou Hyoga, desabafando.
– Bom, não deixa de ser... – murmurou Camus, abrindo os olhos e encarando a cara de surpresa de seu aprendiz. – É bom saber que, às vezes, devemos contar com os que amamos, em vez do contrário. – continuou Camus numa voz tão baixa que quase não se ouviu. Hyoga respirou fundo e concordou com um aceno de cabeça. Sabia que devia estar sendo um martírio para Camus ficar ali, aguardando uma ordem que ele não sabia quando viria, enquanto Milo estava lá fora, exposto ao perigo.
Passaram-se alguns minutos do mais absoluto silêncio: nem o monótono cricrilar dos grilos, nem os piados dos pássaros noturnos, o farfalhar das folhas das árvores, nem mesmo as ondas do mar: nada se ouvia.
– Mestre, estou assustado! Esse silêncio... – cochichou Hyoga, sentindo um arrepio percorrer-lhe a espinha.
– É o último suspiro antes do mergulho, meu caro! (2) – respondeu Camus numa voz quase inaudível.
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Lá fora, de repente, Milo parou de respirar por um segundo e sentiu seu coração falhar por um momento. Uma figura aparecera do nada, bem no centro do acampamento, e se esgueirava, arisca. Mais que depressa, emitiu o sinal que combinara com os amigos: um longo assobio. Mu se teleportou e apareceu bem em frente à pessoa, mas o ladrão, ladino, esquivou-se, sumindo como que por magia. Apareceu em outro canto, bem de frente a Shaka, que quase colocou as mãos nele, mas o dito cujo escapou mais uma vez. Shun então lançou a Corrente ao encalço do ser, que fugia meio sem rumo.
– Cavaleiros, AGOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOORA! – ordenou Saga.
O Grande Mestre saltou do alto do morro, dando uma cambalhota no ar, pousando agachado no chão, em movimentos incrivelmente bem executados. "Uau! Que fantástico! Belíssimo!", pensou Aldebaran que já saíra de sua barraca. Saga parou bem em frente à ladina figura, enquanto todos os outros cavaleiros saíram de suas barracas, divinamente trajados em suas sagradas armaduras. A figura pareceu bem desbaratinada, sem saber para onde ir ou o que fazer: os cavaleiros faziam um círculo a seu redor. Hesitou por um momento, e esse momento foi o suficiente para que fosse envolto pelo cruel abraço da Corrente de Andrômeda.
– O que está acontecendo aqui, por Zeus? – gritou Saori, assustada, abraçada a Seiya.
– Aconteceu, Atena, que finalmente vamos saber quem ou o quê está por trás das bizarrices que vêm acontecendo conosco... – ponderou Saga. – Marin, acenda o lampião!
Quando a Amazona de Águia obedeceu à ordem de Saga, finalmente o grande mistério foi revelado. Com os corações disparados, os nobres cavaleiros de Atena enfim puseram os olhos naquele ser que vinha influenciando suas vidas.
– VOCÊ? – gritaram todos ao mesmo tempo ao encarar a pessoa que, trêmula, jazia envolta pelas correntes de Shun.
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(1) Até a morte, irmão! Até a morte!
(2) Alguém sabe de que filme essa frase foi tirada?
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A/N: Alguém tem um palpite? Quem será a misteriosa figura?
Gente, muito grata pelas reviews, mesmo. Eu queria tanto poder respondê-las como vocês merecem, mas meu computador realmente não está deixando. Preciso mandar pro conserto. Mas posso dizer que eu AMO os comentários que vocês deixam, tá? Valeu!
