A/N: Alguns apostaram em Kanon... Será?

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Cap. 13 – O princípio do fim

Ou

De volta pra casa

– Eu não acredito nisso! Só pode ser alguma brincadeira de mau gosto! – exclamou Saga, visivelmente irritado, olhando incrédulo para a pequena criatura que, trêmula, tentava em vão se desvencilhar da Corrente de Andrômeda.

A feição de todos era da mais pura surpresa. Pois poderiam esperar que o misterioso ladrão fosse qualquer um, menos aquele que estava ali, preso, pego no flagra. Saori, entretanto, andava de um lado para o outro, ostentando um porte mais preocupado do que surpreso, mas esse fato não era reparado por ninguém.

– Agora eu me pergunto, Mu... – começou Camus, chegando perto do Cavaleiro de Áries. O ariano mantinha os olhos abertos, estatelados, num estado meio catatônico, e a boca aberta na mais pura surpresa. – Como raios você não percebeu que era seu próprio aprendiz o tempo todo?

Aquelas palavras do francês pareceram despertar algo dentro do até então mudo lemuriano. Shaka estava a seu lado, preocupado com tudo aquilo, pois Mu não parecia nada bem. O tibetano então deu alguns passos e prostrou-se ao lado da criança que sorria meio abobada. – Kiki, seu moleeeeeeeeeque! Você vai se ver comigo, seu, seu... – exclamou Mu e foi ficando vermelho, a veia do pescoço pulsando, os punhos cerrados.

– Aaaah, Mestre Mu, tenha piedadeeeeee! – começou Kiki já abrindo o berreiro. O menino chorava copiosamente, e olhava para todos os cavaleiros como que buscando apoio em algum deles. Mas todos o encaravam com uma raiva colossal, titânica, digna dos deuses.

– Ah, moleque, você vai ter um castigo daqueles! Ah se vai! – gritou Mu já meio fora de si, e foi partindo pra cima do menino.

– Socorrooooooooo! – gritou o pobre Kiki, e tentou em vão proteger-se do golpe de Mu, que vinha correndo para cima de si. Mas a Corrente impossibilitava seus movimentos, e Kiki somente fechou os olhos, esperando pela dor. – Ué, não doeu? – perguntou o menino, abrindo um olho de cada vez.

Shaka agarrava Mu, impedindo o namorado de matar o próprio aprendiz. – Calma, Mu, calma! Vai matar o menino!

– Ah, Shaka, me deixa! Ele merece mais é morrer mesmo, onde já se viu? Aliás, Sr. Shaka de Virgem, quando eu falei que estava sentindo um cosmo conhecido, lá no dia em que todo mundo foi caçar, e pedi pra você vir junto comigo procurar, se me lembro bem foi o Sr. que falou que eu estava era doido e me arrastou pruma moita qualquer, né? – esperneou Mu, tentando se desvencilhar do forte abraço do namorado. O ariano estava completamente fora de si, coisa que definitivamente não era nada normal para ele.

"Ai, minha nossa, situação saindo do controle... preciso fazer alguma coisa antes que a Saori encha o saco por causa do namoro...", pensou Camus. – Calma, gente, é só uma criança... vamos com calma... – Aquário tentou colocar panos quentes.

– Ah, vai à merda, Camus! – berrou Aiolia. – O fedelho até tuas roupas roubou e você fica aí defendendo... tem mais é que dar porrada mesmo! – continuou Leão. – Se o Mestre dele não tem força o suficiente pra isso, quero ver quem me segura!

– Aiolia, pelamordezeus, é só uma criança! – interveio Marin. – Se acalma, homem!

– Ah, me poupa, Marin! Vamo pro pau! – pediu Shina.

– É isso aí! – completou Ikki. – Que palhaçada é essa afinal?

– Ai, Ikki, se controla! O menino tá se matando de chorar... dá um tempo, vai? – pediu Shun.

– Ah, não, Shun, dessa vez eu sou obrigado a concordar com teu irmão: vamo pro pau! – concordou Hyoga.

– Muito bem, Pato! Apoiado! – tornou Fênix.

– Ikki! Hyoga! Por favor! – pediu Andrômeda com carinha de coitado.

– Nem vem, Shun! Nem vem que hoje não tem... esse pirralho causou demais! – constatou Hyoga e Ikki balançou a cabeça em concordância.

– Vamos parar de conversa e partir logo pra porrada! – exclamou Afrodite, com os olhos tão abertos que pareciam que iam pular das órbitas.

– Isso, Dite! Vou matar esse pivete de porrada. Que cazzo de calma o quê! – afirmou Máscara da Morte com os punhos cerrados e um brilho nos olhos típico de quando o canceriano estava prestes a matar alguém.

– Muita calma nessa hora, gente. Coitado do Kiki! – falou Shiryu.

– Ih, nem vem, oh Dragão! Nem vem que não tem! – tornou Shura. – O moleque tem que levar umas boas palmadas pra aprender que não se deve mexer com gente grande. Onde já se viu? – continuou o espanhol.

E então, como sempre, os bravos Cavaleiros de Atena entraram numa discussão sem fim. Uns querendo matar o pobre Kiki; outros, mais sensatos, tentando defender a criança que ainda permanecia presa pela Corrente de Shun. Saori, entretanto, não se meteu na briga (coisa que não era de seu feitio), e somente ficava andando de um lado para o outro, com um semblante carregado de preocupação – coisa que ninguém, além de Seiya, pareceu notar.

Dois cavaleiros, porém, permaneciam alheios a tudo isso. Camus havia se deixado sentar, completamente entregue, o horror estampado em seus olhos. O aquariano estava pálido e parecia que ia ter um ataque cardíaco. Milo, obviamente, correu para acudir o amante.

– Camus, que foi? Que foi, querido? Fala comigo! – disse Milo, fazendo um carinho na bochecha esquerda do namorado.

– Milo, é só uma criança... e viu a gente naquela situação na praia... eu nunca vou me perdoar! – disse o francês, esfregando a própria testa com a palma da mão.

– Zeus, não tinha pensado nisso! Somos dois monstros, Camus! – disse Milo, deixando-se sentar ao lado do outro. E agora seus olhos também exibiam o horror que exalava dos olhos de Camus.

– CHEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEGA, todos vocês! Calaaaaaaaaaaados! – berrou Saga com toda a força de seus pulmões, colocando fim à briga.

"Ufa, ainda bem que quando não é o Camus é o Saga!", pensou Aldebaran, aliviado. E, obviamente, todos se calaram e encararam o Grande Mestre.

– Muito bem! – disse Gêmeos, um pouco mais calmo. – Todos vocês, sentados em círculo, por favor! – ordenou, e todos obedeceram. – Excelente! Shiryu, Hyoga, acendam a fogueira, sim? – continuou, e os dois obedeceram. – Muito bom! Camus, Milo, que cara é essa? Vamos deixar qualquer outro tipo de preocupação pra depois e se concentrar aqui, sim? – disse Saga, imaginando o porquê da cara de desalento dos dois amigos; incrivelmente, os dois se recompuseram e voltaram sua atenção a Saga. – Cada vez melhores, vocês! Muito bom! – completou. – Agora... Kiki, eu acredito que você nos deva uma explicação... – pediu. A atenção de todos foi desviada do Grande Mestre para o menino que ainda jazia no meio do círculo.

– Buáááááááááá, Saga... – começou o menino. – Eu não tive culpa! Eu disse que não ia dar certo... Buáááááááááá... Srta. Saori, por favor, me ajude! – implorou Kiki.

Atena deu um longo suspiro, como quem se prepara para um grande desafio. – Meus cavaleiros, acredito que seja eu quem lhes deva uma explicação... – iniciou a menina.

– Você? Como assim? – perguntou Seiya espantado.

– Bom... eu nem sei como dizer... mas é que, bem... – gaguejou Saori – fui eu quem pediu pro Kiki sumir com os mantimentos e todo o resto...

– Ah mas que palhaçada! – exclamou Milo. – Será que você poderia dizer por quê?

– Bem, Milo, eu, como Atena, zelo por vocês, não é mesmo? Pois bem, eu achei que vocês estavam precisando mudar um pouco... vivenciar situações extremas para encontrarem seu verdadeiro eu, ultrapassando limites e vencendo desafios internos! – disse Saori.

– Mentira, gente! Alguém diz que isso não é verdade... – gritou Máscara da Morte. – Eu não estou ouvindo isso! – continuou, colocando as mãos sobre os ouvidos e balançando a cabeça em negação.

– Enfim, então achei que seria uma boa idéia fazer vocês viverem um psicodrama... uma situação limítrofe em que os verdadeiros sentimentos de cada um aflorariam sem nenhuma barreira psicológica imposta pela sociedade! – explicou Atena.

– Gente, alguém dá um gardenal pra essa maluca! Prozac na veia! – implorou Afrodite. – Não pode ser!

– Pode sim, Peixes... não só pode como foi! – continuou Saori, andando de um lado para o outro.

– Shun, solte o Kiki, sim? – pediu Saga e Andrômeda, queixo caído, obedeceu. – Agora por favor quer explicar desde quando a gente está vivendo esse "psicodrama", Saori? – perguntou num tom que era um misto de ironia e raiva.

– Pra falar a verdade, Saga, desde que decidi abrir uma filial no Brasil achei que seria o momento certo para colocar meu plano em prática. Proibir o namoro no Santuário foi a primeira medida que eu tomei nesse sentido – continuava a menina, em tom professoral.

– E por que logo o Kiki, Atena? – perguntou Mu. O ariano estava indignado, não mais com seu pequeno aprendiz, mas sim com a audácia de Saori de envolver uma criança naquele plano horrível.

– O Kiki se teleporta, tem telecinese, é ágil e portanto poderia passar desapercebido até para vocês... foi a escolha óbvia! – ponderou a menina. – Em suma, foi isso!

– Ah, e você diz isso com a maior cara lavada desse mundo? – perguntou Shina, pronta para avançar na própria deusa.

– Sim, ué, eu sou Atena! – disse a menina como se isso fosse a coisa mais normal do mundo. – E pelo que eu sei todo mundo aqui deu suas escapadelas... ou vocês pensam que eu sou tão idiota assim pra achar que Milo e Camus foram tomar banho nus na enseada? Entre outras coisas mais... – completou, olhando de soslaio para Mu e Shaka, que coraram levemente.

– É que você é tão idiota na maior parte do tempo que até acreditamos que sim, Vossa Divindade! – exclamou Shura em tom irônico, fazendo uma falsa reverência.

– Ué, Srta. Saori, mas quando eu roubei as roupas de Camus e Milo eles estavam somente nadando, mesmo... – disse Kiki inocentemente.

"Ufa! Ainda bem que ele não viu nada!", pensou Milo já completamente aliviado. Olhou para o amante e viu que ele sorria; estava sentindo o mesmo alívio. Mas então Milo se deu conta de toda a situação. Um filme dos últimos tempos passou pela sua cabeça, todos os momentos perdidos com Camus, toda a convivência tranqüila com seus amigos que foi para o ralo devido à proibição de Atena.

– Ah, sua deusa de quinta categoria! – berrou Milo completamente fora de si. – Então quem você pensa que é? Uma criança! Você tem noção de que o Kiki poderia ter visto cenas impróprias para menores por aí? Ora essa, fazendo o pobre menino se esgueirar por aí pra roubar comida e roupa... ah faça-me o favor, tem o rei na barriga! – continuou Escorpião, indignado, andando de um lado para o outro, com a unha já completamente vermelha. – Ah que situação! Eu vou ser General Marina que eu ganho mais! Deusa maluca! E se alguém tivesse sofrido um acidente aqui nesse fim de mundo?

– Milo, acalme-se! Eu tinha tudo sob controle! – disse Saori, correndo para sua barraca e voltando com um walk-talkie nas mãos. – Câmbio, Tatsumi! Eles descobriram tudo! Pode vir nos pegar, por favor! – pediu a menina através do aparelho. Do outro lado uma voz solícita respondeu "sim senhora!".

Saga correu, saltou, passou por cima de Saori e agarrou o walk-talkie. – Tatsumi, se você vier pra cá você morre! Entendeu? – disse em tom ameaçador. Do outro lado, a voz já não mais solícita, mas sim amedrontada, soltou um "sim senhor!".

– Quer dizer que essa maluca tinha uma base montada por aqui, é? – perguntou Milo, mais indignado do que nunca por conta do logro de Saori.

– Sim, Escorpião. E não muito longe, na verdade a base está a uns 10 km daqui... precisava me prevenir caso alguém se sentisse mal ou houvesse algum acidente ou se o Saga pirasse... – explicou a menina.

– Zeus, vou fingir que nem ouvi... – ponderou Aldebaran. – Eu sabia mesmo que isso tudo estava muito esquisito, como que alguém fica completamente isolado em Peruíbe, por Zeus? – perguntou o brasileiro para si mesmo.

Gêmeos encarou Saori com o olhar mais mortal que podia. A menina estremeceu da ponta do dedo do pé até a última raiz de cabelo, sentindo o sangue gelar. – Estou achando que o Satã Imperial seria uma boa idéia agora, amigos... o que vocês acham? – perguntou, rodeando a deusa, encarando-a de cima abaixo.

– Boa, Saga! – aprovou Aldebaran.

– Sabe, Saori... se o Deba pede, eu faço... – sorriu Saga maliciosamente.

"Ai Zeus, acho que eu fui longe demais...", pensou a menina, lembrando-se do quão perigoso era Gêmeos. E sentiu as pernas bambearem ao perceber que todos os outros cavaleiros apoiavam o Grande Mestre. – C-c-c-calma, Saga! Pensemos pelo lado positivo... – falou Saori.

– Se você me der um lado positivo pra isso tudo... – ponderou Ikki, cerrando os punhos.

– Você, Ikki, é um bom exemplo. Com certeza Shun e Hyoga não estariam ali de mãos dadas se você não tivesse aprovado o namoro dos dois, certo? E isso só aconteceu nessa situação extrema, não? – completou a menina. Fênix concordou com um aceno de cabeça, meio sem graça, mas Saga continuava a rodeá-la.

– Saori tem razão nesse sentido, meus caros! – surgiu uma nova figura por entre as árvores.

– Mestre? Que bom ver o Sr! – exclamou Shiryu correndo para abraçar Dhoko.

– Não me diz que o Sr está envolvido nisso também? Que decepção! – disse Shiryu.

– Não, meu querido, não estou. Mas acompanhei toda a situação através de meu cosmo... e pressenti que hoje vocês saberiam a verdade, por isso vim pra cá... e olha que não é qualquer coisinha que me tira dos Cinco Picos Antigos, não... mas me deixa dizer que, além de Ikki, outros também mudaram. Shina e Marin se tornaram grandes amigas, o que parecia impossível. Aldebaran conheceu melhor a si mesmo e entendeu o que falta em sua vida. Shura e Aiolia aprofundaram uma amizade que já era grande, e aprenderam o que é amar. Saga despontou como o grande líder que é, merecidamente o Grande Mestre do Santuário. Hyoga e Shun finalmente puderam se assumir... e Mu e Shaka aprenderam mais sobre as coisas mundanas. Máscara da Morte e Afrodite a duras penas aprenderam que para amar não é preciso muito, muito menos beleza. Milo, nosso querido libertino, começou a dar atenção ao que realmente importa nessa vida... e Camus – ah, Camus! – se desfez de toda a pose de Cavaleiro do Gelo e aprendeu a amar, isso sem contar que também exerceu grande capacidade de liderança, provando-se o braço direito de Saga. E Seiya deixou de ser tão bobo... – completou o Cavaleiro de Libra dando uma risada alta. – E quanto a você, Saori... – disse encarando a menina. – você aprendeu que nem tudo nessa vida pode ser controlado por você e seus caprichos! – completou, e Atena olhou para baixo, ruborizada. – Agora, com licença que eu me vou! Fiz minha parte aqui! – finalizou, desaparecendo do mesmo jeito que aparecera.

– Nossa, ele me dá medo... – disse Kiki meio de lado, já agarrado às pernas de Mu.

Saori respirou profundamente e coçou a cabeça. – É, acho que exagerei!

– Ela acha, Dite! Acha! – gritou Máscara, gesticulando como um bom italiano.

– Bom, para compensar vocês e pedir desculpas... vou pagar uma estadia num bom resort para todo mundo, que tal? – perguntou a menina.

– NÃO! – disseram todos em uníssono. Atena pareceu confusa e sem saber o que fazer.

– Saori, você quer mesmo nos compensar por tudo isso? – perguntou Camus e a menina fez que sim com a cabeça. – Pois bem, então nos mande de volta para o Santuário e vai passar uns meses no Japão... deixa a gente em paz por um tempo, pelamordezeus! – completou, fazendo um gesto com as mãos fechadas como se estivesse rezando.

– Se é isso que vocês querem... – disse a menina com lágrimas nos olhos. – Vou mandar preparar meu jatinho então para me levar pro Japão. O resto de vocês pode comprar passagem de volta pra Atenas... e de primeira classe! – completou, andando meio cabisbaixa em meio aos apupos de comemoração de seus bravos cavaleiros. Sentiu uma mão pousar levemente em seu ombro e virou-se. Pégasus a encarava com um olhar profundo e compenetrado.

– Saori, você vai para o Japão, mas não sozinha... eu vou com você! – disse o Cavaleiro de Bronze.

– Não precisa, Seiya. Pode ir com seus amigos! – tornou a menina com um olhar tristonho. Mas então Seiya muniu-se de toda a coragem do mundo e deu-lhe um beijo apaixonado. – Acredite, eu prefiro ir com você! – disse Pégasus. – Ah! Seiya! – suspirou Saori, sorrindo.

E assim, Saori e Seiya foram para o Japão, e o resto de nossos heróis dirigiu-se, alegremente, para Atenas.

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"Ai, nem acredito que se passaram já cinco dias desde nossa volta ao Santuário... cinco dias da mais pura felicidade!", pensou Milo enquanto ensaboava seu tórax bem definido. Pensativo, o Cavaleiro de Escorpião tomava seu banho, descansando o corpo das sensações intensas que tivera com o namorado horas antes. "Eu preferia tomar banho com ele, mas o Camus é chato mesmo... quis tomar banho sozinho e antes que eu... humpf! Fala sério, poderíamos estar fazendo mais algumas loucurinhas agora e... nossa, que cheiro bom é esse?", continuou a pensar Milo. Terminou o banho e foi para seu quarto, secando os longos e ondulados cabelos cor de safira com uma toalha branca e felpuda. Vestiu um short vermelho e depositou a toalha molhada no cesto de roupas sujas. "Ah, Zeus, como minha vida mudou por causa dele... agora minha casa tem até cesta de roupas sujas, vê se pode... Zeus, que cheiro delicioso!", disse Escorpião para si mesmo.

Caminhou a passos silenciosos, seguindo o cheiro. Parou em frente à porta da cozinha, apoiando-se no batente, e observou. Camus, vestindo apenas um short azul e um avental vermelho com um escorpião bordado (que tinha sido presente de aniversário de Afrodite para Milo – bordado pelo próprio Peixes, rezava a lenda), ostentando as longas e lisas madeixas esmeralda molhadas coladas às costas, mexia numa panela que estava à sua frente. O ambiente estava naturalmente quente devido ao calor que emanava do fogão. – Merde! – exclamou o francês, limpando uma gota de suor que teimava em descer de sua testa. – Quelle chaleur incroyable! (1)

Um sorriso veio naturalmente aos lábios de Milo, e este caminhou até Camus, abraçando-o por trás e dando uma leve mordiscada em seu ombro. – Ai, ai, meu lindinho fica tão mais lindo quando resmunga em francês... – disse Escorpião.

Camus lhe encarou com uma sobrancelha levantada. – Como você sabia que eu estava resmungando, Milo? – perguntou.

– Há, querido, você sempre resmunga no mesmo tom, seja em grego, seja em francês... – constatou Milo sorrindo. – Mas posso saber o que você está cozinhando? O cheiro está ótimo... – perguntou, abraçando ainda mais forte a cintura do amante.

Coq au vin! – exclamou Camus estalando os lábios. Riu alto quando viu a cara de espanto de Milo. – Brincadeira, chère! – disse dando um beijo na bochecha do amante. – É risoto de champignon com filé ao molho madeira!

– Nossa, Camus... às vezes eu me pergunto de onde vem tanta criatividade na cozinha... isso deve dar um trabalhão pra fazer... mas te confesso que eu adoro champignon e molho madeira! – disse Escorpião com água na boca.

– Eu sei, Milo! E minha criatividade na cozinha vem da minha vontade de te agradar... – constatou Aquário, arrancando um suspiro do amante.

– Bobo! – exclamou Milo. – Vou pôr a mesa e pegar o vinho...

O jantar transcorreu normalmente. Os dois conversavam animadamente e trocavam carícias de quando em quando. Camus fingiu brigar com Milo quando este comentou que era pouco higiênico cozinhar de cabelos soltos. Milo fingiu que acreditou que Camus brigava com ele. E assim os dois prosseguiram, na mais pura felicidade. De vez em quando ainda lembravam das loucuras de Saori, e ora sorriam, ora se enraiveciam. Comentaram ainda sobre seus amigos, sobre os namoros, sobre as brigas, sobre as fofocas, enfim, sobre o Santuário. Ou melhor, sobre o Santuário sem Atena. Terminado o pequeno banquete, Escorpião correu para lavar a louça e arrumar a cozinha, no que Camus ajudava secando e guardando os pratos. Tinham quase terminado o serviço quando ouviram alguém bater à porta.

– Ué, quem será? – perguntou Milo surpreso. – Ninguém se dá ao luxo de bater, eles já vão entrando com tudo... – murmurou e o amante deu de ombros. Correu e atendeu a porta.

– Aiolia, Marin, entrem, entrem! – atendeu Escorpião sorrindo. – Por que bateram, o Olia sempre entrou aqui sem bater... – completou, secando as mãos com um pano de prato. – Camus, é o Olia e a Marin! – gritou em direção à cozinha. Voltou para encarar Leão. – Olia, por que você está rindo? – perguntou.

– Milo, você está a perfeita dona de casa! – riu Aiolia. – Oi Camus! – cumprimentou.

– Oi Aiolia, oi Marin! – Aquário cumprimentou de volta sem evitar um sorriso, pois Milo fechou a cara ao comentário de Aiolia, cruzando os braços e fazendo beicinho. – Sentem-se! – convidou o francês. – Vou pegar um vinho...

– Não precisa, Camus, obrigada! – disse Marin. – Viemos chamar vocês para irmos até o Salão do Grande Mestre... Estão rolando uns snacks e umas bebidas por lá... e dizem que o Saga achou um videokê nas coisas da Saori... O Saga disse que tentou ligar pra vocês mas ninguém atendeu... – completou a menina.

– Ih, querida, é que estávamos... hum... ocupados... – disse Milo com um sorriso sarcástico, piscando para a amiga.

– Milo! – repreendeu Camus. – Bom, deixa só a gente trocar de roupa e já vamos... – completou o francês, despedindo-se do casal de amigos.

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Chegaram ao Salão do Grande Mestre meia hora depois. Camus vestia uma calça jeans preta e uma camiseta básica de algodão azul, e calçava tênis all star pretos; os cabelos os trazia semipresos. Quanto a Milo, este vestia uma calça jeans rasgada nos joelhos e uma blusa vermelha com um escorpião desenhado em preto; calçava também um par de all star, mas vermelhos, e trazia os cabelos presos num alto rabo de cavalo. Foram entrando, caminhando seguindo a música alta, de mãos dadas.

– Nossa, Camus, como você está diferente... achei que fosse vir de terno! – exclamou Shura comendo um punhado de amendoins.

– É, Shura, eu já falei pro Milo que preciso deixar umas mudas de roupa na casa dele, mas sempre esqueço... aí tenho que apelar pras roupas dele, né, fazer o quê? – explicou Aquário.

– Ah, mas ele fica lindo assim, não, Shura? – disse Milo encostando os lábios nos lábios do amante. – Agora me diz, onde eu pego uma cerveja? – continuou, já fazendo festa.

Uma pequena festinha informal acontecia no Salão do Grande Mestre. Muito amendoim e salgadinhos de todos os tipos, muita cerveja, muito vinho, e drinks variados. A música, alta, era de algum grupo de rock que Camus desconhecia. Em frente ao telão que Atena havia comprado recentemente, Máscara da Morte, Ikki e Aiolia brigavam com os fios do velho videokê. Enquanto isso, Shina, Marin e Afrodite conversavam animadamente num canto e Shura e Milo jogavam ping pong no outro, tomando cerveja. No meio do salão, Aldebaran tentava em vão ensinar Mu e Shaka a jogar capoeira. Hyoga, sentado no sofá, olhava de um lado para o outro, como que procurando por algo ou alguém. Viu Camus e, sorrindo, veio ao seu encontro.

– Olá, Hyoga! Procurando alguém? – perguntou Camus dando um abraço no menino.

– Oi, Mestre! Na verdade, estou esperando pelo Shun... ele, o Shiryu e o Saga saíram faz algum tempo pra buscar não sei o quê e ainda não voltaram... – explicou Cisne.

– Aliás, Hyoga, queria te parabenizar... soube que você enfrentou Fênix, não deve ter sido fácil! – disse Camus.

– Não mesmo... mas fiz isso porque você me disse para fazer algo pelo Shun que provasse que eu o amava de verdade. E nada como conquistar a permissão do irmão dele pro nosso namoro, não é? – ponderou Cisne.

– E valeu a pena? – perguntou o mais velho.

– E como! Nós temos tido noites maravilhosas, Mestre! Muito obrigado pelo apoio, Camus! – disse Hyoga sorrindo.

– Disponha, Hyoga! Sempre! – Camus sorriu de volta, alisando os cabelos loiros de seu aprendiz.

Nesse meio tempo, Shun chegou e correu para os dois com algo nas mãos. Ninguém percebeu quando Saga, discretamente, chamou Shura e Aiolia de canto, e os três saíram sorrateiramente do salão, ostentando sorrisos maliciosos. Uns dez minutos depois, os três voltaram soltando risinhos de quando em quando.

– Shun, passa aqui as fotos! – pediu Saga. Pegou o embrulho das mãos do outro, manuseou com cuidado. Quase ninguém notou, mas o habilidoso geminiano tirou duas fotos do monte. – Pronto, pode mostrar agora... – permitiu, e Shun sorriu, mostrando para todos as fotos do acampamento bizarro.

– Olha, gente, a cara da Saori nessa daqui... – ria Ikki.

– Foi bem quando a Shina contou que tinha destruído um dos vestidos dela... – explicou Shiryu mostrando a foto de Atena com cara de choro e Shina rindo sarcástica.

– Nossa, foi um bem à humanidade que você fez, Shina, destruindo um daqueles vestidos horríveis... – ponderou Afrodite. – Agora olha essa daqui, olha a cara de bocó do Seiya...

– Oh, Dite, falar que o Seiya tá com cara de bocó é redundância, né? – pontuou Shaka, rindo. – E quem diria que ele iria viajar com a deusa pro Japão?

– Ainda bem que foi junto. Aqueles dois se merecem! Valha-me Zeus! – tornou Aiolia.

E assim todos animadamente viram as fotos, que iam passando de mão em mão. Quando se cansaram, puseram-se a conversar animadamente, a dançar e, claro, a beber. Lá pelas tantas, todos já mais pra lá do que pra cá, os meninos conseguiram finalmente instalar o videokê. Cantaram algumas músicas (entre as quais uma tentativa frustrada de "eu sei que vou te amar": Camus e Milo expulsaram Marin e Shina do microfone a tapas).

– Ca-hãn – pigarreou Aldebaran ao microfone. – Eu quero cantar!

– Afe, gente, tapem os ouvidos... se o ronco dele parece serra elétrica, imagina o canto... – disse Afrodite soltando gritinhos, e todos caíram na risada.

– Bem, vou fingir que nem ouvi... – continuou Touro fazendo um gesto de desdém com as mãos. – Dedico essa música ao nosso queridíssimo Grande Mestre, Saga, salve salve! – continuou Aldebaran, reverenciando o Cavaleiro de Gêmeos.

– Xiiiii, da última vez que alguém dedicou música aqui deu em casamento... – disse Mu dando uma piscadinha para Milo que, sentado no colo de Camus, sorriu.

– Ah, todo mundo vai entender porque essa vai pro Saga... – disse, e Gêmeos encarava o outro sem saber muito bem o que estava acontecendo. – Oh Milo, vem fazer segunda voz, sei que você curte essa música... – convidou Aldebaran.

Milo se levantou sorrindo e olhando com uma feição curiosa para os amigos. Cochichou algumas palavras com Touro e, ainda sorrindo, chamou Aiolia. Os dois dividiram um dos microfones, deixando o taurino com o principal.

Ladies and gentlemen, Aldebaran de Touro! – apresentou Escorpião, e os primeiros acordes da música anunciaram uma melodia animada.

Welcome to your life... there's no turning back. Even while we sleep, we will find you acting on your best behaviour. Turn your back on mother nature... – começou o taurino, andando de um lado para o outro, fazendo caras e bocas, e Saga, percebendo qual era a música, corou e riu, levando a palma da mão à testa. – EVERYBODY WANTS TO RULE THE WORLD! – cantou Aldebaran acompanhado de Milo e Aiolia, que faziam as segundas vozes.

– Ah, nada mais apropriado! – ria Shina, batendo palmas ao ritmo da música.

It's my own design, it's my own remorse. Help me to decide, help me make the most of freedom and of pleasure. Nothing ever lasts forever... – continuou Aldebaran. – EVERYBODY WANTS TO RULE THE WORLD! – cantaram Touro, Escorpião e Leão.

– Ai, ai, minha barriga tá doendo de tanto rir... – dizia Máscara da Morte, divertindo-se muito da cara constrangida e ao mesmo tempo divertida de Saga.

There's a room where the light won't find you holding hands while the walls come tumbling down. When they do I'll be right behind you! So glad we almost made it... so sad they had to fade it... – prosseguiu Touro, dessa vez circundando Saga, fazendo caras e bocas para o geminiano. – EVERYBODY WANTS TO RULE THE WORLD! – completaram os três cantores, abaixando os troncos para encarar Saga, que estava sentado, face a face.

– Você me paga, Deba! Ah se me paga... – disse Saga fazendo um sinal com as mãos que podia ser interpretado como "me aguarde". Mas o Grande Mestre ria muito, como todos os companheiros, e divertia-se com a atuação de Aldebaran, Aiolia e Milo.

I can't stand this indecision, married with a lack of vision, EVERYBODY WANTS TO RULE THE WORLD! Say that you never never need it, one headline why believe it? EVERYBODY WANTS TO RULE THE WORLD! – continuou Aldebaran, acompanhado pelos meninos. Touro subiu no balcão do bar e andava de um lado para o outro, fazendo graça.

– Sensacional! – divertia-se Shura. – Isso, Shun, tira bastante foto! – pedia para o menino, que não parava de clicar.

All for freedom and for pleasure, nothing ever lasts forever... – prosseguia Touro. – EVERYBODY WANTS TO RULE THE WORLD! (2) – completou, acompanhado de Milo e Aiolia, e pulou, caindo de joelhos em frente a Saga, na maior pose de rock star.

– Muito bom! Bravo! – exclamavam os cavaleiros, batendo palmas, assobiando. Aldebaran, à frente, e Milo e Aiolia um pouco mais atrás, fizeram reverência, agradecendo os aplausos.

– Ah, é um complô, né? – disse Saga, levantando e encarando os amigos. Nesse momento, o videokê deu a nota 99 aos cantores. – É, é um complô mesmo... até essa máquina está contra mim... – completou gargalhando, no que foi acompanhado por todos.

E assim a festa foi se passando, animada e divertida. Todos dançaram, cantaram, comeram e beberam noite adentro. Até que, de repente, Afrodite entrou correndo no salão, gritando, acompanhado por Máscara da Morte que ostentava uma feição de pouquíssimos amigos.

– Nossa, o que aconteceu, Máscara? – perguntou Camus, correndo para socorrer os amigos.

– O que aconteceu? Você acredita, Camus, que tem uma foto do Dite todo empipocado de picada de mosquito e eu segurando o rosto dele, quase chorando... uma foto do exato momento em que eu achei o Dite que tinha sumido lá no acampamento, lembra? Pois bem, o desgraçado do Andrômeda teve o dom de registrar aquele momento e alguma besta fez o favor de ampliar... – disse Máscara da Morte com os olhos crispados.

– Ai, essa eu faço questão de ver! – disse Milo e foi correndo para fora, no que foi acompanhado por todos, inclusive Câncer e Peixes.

Deram de cara com um banner gigantesco, com a foto ampliada. Riam às gargalhadas, inclusive Camus, compreendendo finalmente o porquê do sumiço momentâneo de Saga, Shura e Aiolia. Milo gargalhava e parabenizava os amigos pela brincadeira, quando então um vento bateu e girou o banner, virando-o ao contrário. E qual não foi a surpresa geral ao encarar uma foto de Camus e Milo nus, presos à Corrente de Andrômeda. Milo estava com o rosto vermelho e os olhos tão abertos que parecia que iam pular das órbitas, e Camus tinha o rosto também vermelho, mas cabeça baixa e uma palma da mão na testa. Coincidentemente, era a mesma posição que traziam neste exato momento, ao verem a foto.

– Moleque dos infernos, como conseguiu tirar foto da gente quando era você mesmo que nos prendia com a corrente, Shun? – perguntou Milo dando um pedala no Cavaleiro de Bronze, que soltou um "ai!".

– Oh Venenoso, quem tirou essa foto fui eu! – exclamou Ikki. – Sabia que a câmera do meu irmão ia servir pra alguma coisa! – gargalhou Fênix.

– Ora seu! – disse Máscara da Morte de punhos cerrados, fazendo menção de partir pra cima de Ikki e de Shun. E de Aiolia, Shura e Saga, claro.

Mas então, ao invés de começarem uma briga, todos se encararam e gargalharam da situação. As fotos ampliadas, penduradas à entrada do salão, estavam realmente muito engraçadas, fazendo com que Milo, Camus, Máscara e Afrodite rissem e parabenizassem os amigos pela brincadeira bem feita. Algum tempo depois, cansados, aos poucos os amigos começaram a voltar para suas casas.

Camus e Milo andavam preguiçosamente, demorando-se para descer as escadas. Pretendiam parar na Casa de Aquário, que era a mais próxima do Salão do Grande Mestre. Abraçadinhos, Camus acariciava a face de Milo. Chegaram em casa, abriram a porta. Correram para o quarto, despiram-se, tomaram outro banho... e deitaram-se para dormir.

– Milo... – chamou Camus no ouvido do amante, que já estava quase dormindo e soltou um gemido baixinho.

– Que foi, Camus? – balbuciou Escorpião meio contrariado.

– Só pra te lembrar que eu te amo... – exclamou Aquário.

Milo virou-se na cama a fim de encarar Camus. Deu um inocente beijo em seus lábios e abriu os olhos azuis, devagar. – Também te amo, meu lindo! – disse, virando-se novamente.

Dormiram abraçados, relaxando os corpos cansados e agarrados à segurança daqueles que amam e são amados.

-X-X-X-

(1) Que calor inacreditável!

(2) A música é "Everybody wants to rule the world", do Tears for Fears. Segue a tradução. Ao final, mais um A/N.

Bem vindo a sua vida

Não há como voltar

Mesmo quando dormimos

Vamos vê-lo

Agindo da sua melhor forma

Dê as costas à Mãe Natureza

TODOS QUEREM DOMINAR O MUNDO

É meu próprio desenho

É meu próprio remorso

Ajude-me a decidir

Ajude-me a conseguir o máximo

De liberdade e prazer

Nada nunca dura para sempre

TODOS QUEREM DOMINAR O MUNDO

Há um quarto em que a luz não vai te encontrar

De mãos dadas enquanto as paredes desmoronam

Quando elas desmoronarem eu estarei bem atrás de você

Tão feliz que quase fizemos isso

Tão triste porque tinha que acabar

TODOS QUEREM DOMINAR O MUNDO

Não posso agüentar essa indecisão

Casada com essa falta de visão

TODO MUNDO QUER DOMINAR O MUNDO

Diga que você nunca nunca vai precisar disso

Uma manchete, pra que acreditar?

TODOS QUEREM DOMINAR O MUNDO

Tudo por liberdade e prazer

Nada dura para sempre

TODOS QUEREM DOMINAR O MUNDO

-X-X-X-

A/N: Muuuuuuuuuuuuuito obrigada pelas reviews! Como sempre, só lamento não poder agradecê-las como merecem!

Esse foi um dos capítulos que mais gostei de escrever! Espero que vocês gostem de ler!

A seguir, o último capítulo! Ufaaaaaaa!

Obrigadaaaaaa e até a próxima!