Nota: Os personagens maravilhosos de Kuramada, infelizmente não me pertencem apenas a protagonista da história é uma criação única e exclusivamente minha, criada sob medida para o meu aquariano preferido;
Legenda:
-Frases assim; (diálogos normais)
-"Frases assim"; (pensamentos entre aspas)
-'Frases assim'; (diálogos de segunda pessoa)
--Flash back—(negrito)
--Lembranças— (itálico)
Capitulo 16:
Uma canção tão velha quanto a musica
Amarga e estranha...
I – Adeus
Ela disse que partiria ao amanhecer, mas se cruzasse com algum dos cavaleiros, ou até mesmo com Kamus pelo caminho com certeza perderia a coragem. Por isso assim que saiu do salão, voltou ao quarto, tomando um rápido banho, vestindo-se para partir. Enrolando-se mais uma vez na capa negra que outrora usara para entrar nas imediações do santuário.
Ela ainda sentiu o cosmo dos cavaleiros no salão. Sentia que os corações estavam comprimidos, mas ela precisava partir. Sabia que não poderia permanecer mais tempo sem causar problemas, prova disso fora os dois cavaleiros atracando-se diante da guardiã do santuário, que nada podia fazer para acalmá-los.
A permanência deles ali dificultava as coisas, ela teria de sair sem ser notada. Deu uma ultima olhada no local que lhe servira de abrigo nos últimos dias.
Lentamente ela se aproximou do pequeno criado-mudo próximo a cama, tocando delicadamente a madeira fria. Deixando que um pouco de seu cosmo fluísse, sem despertar muito a atenção dos cavaleiros.
A luz cálida revestia seus dedos, como na primeira demonstração de suas habilidades, a temperatura do ambiente começou a cair, quando uma delicada rosa de gelo eterno formou-se na superfície da mezinha e uma palavra de adeus, fosse entalhada na superfície ao lado da rosa.
Lagrimas cristalinas caiam livremente por sua face. Como uma cálida chuva no país do inverno. Silenciosamente ela caminhava até um atalho que conhecera quando se perdera ao tentar chegar a arena num dia de treino. Pelo menos foi útil, assim, sairia da vida de todos sem ser notada.
Seria vagarosamente esquecida por aqueles que em tão pouco tempo aprendera a amar. Um sorriso formou-se em seus lábios. Afrodite queria saber o que ela viu nos mortais a ponto de afastar-se dos deuses por completo.
Sim! Agora ela sabia com precisão qual era a resposta.
Os mortais são os únicos que ao amarem adquiriram a habilidade de cometer o milagre de desviar a trajetória de uma flecha após a mesma ser lançada.
O desejo de sempre existir e fazer parte de algo maior, defendendo aquilo que acreditam.
Sim, aquele era o único tipo de amor que a própria Deusa do Amor não era capaz de sentir, um sentimento completamente livre se caprichos e interesses, mas o mais difícil nisso tudo era a despedida ou seria o fato de não ter coragem para se despedir dele. Enfim, seria melhor para ambos que fosse dessa forma.
-Adeus! – ela sussurrou, perdendo-se na noite escura, já fora do santuário.
Minutos antes...
-Mas nada disso vai mudar o que já está feito; Milo comentou, ignorando o clima melancólico.
-Ainda há tempo de mudar algumas coisas; Saga falou com uma ultima centelha de esperança.
-E qual seria a forma de fazer isso? – Mascara da Morte perguntou curioso.
-Vá falar com ela, Kamus; o geminiano disse.
-O que? Mas eu? – ele perguntou sem graça.
-Ou você prefere que ela vá embora? – Saga perguntou com os olhos serrados, numa ameaça velada.
-Bem, acho que ela não vai querer falar comigo depois de tudo; ele completou melancólico.
-Você só vai saber se tentar; ele ainda incentivou.
-Então eu vou; ele disse, indo em direção a porta, quando sentiu algo. – Vocês sentiram? – ele perguntou mudando sua expressão confiante para uma triste.
Um sussurro de 'adeus' fora levado diretamente a seus corações, que se comprimiram em desespero. Ela partira, talvez para nunca mais voltar.
Kamus pouco se importando com o chamado dos outros, correu para o quarto, que outrora a jovem se encontrava.
Seus olhos queriam chorar, derramar sobre aquele solo sagrado toda a dor que sua alma carregava. Todas as provações que passava desde que se tornara cavaleiro, nada eram, se comparasse com a que sentia ao saber que ela partira e que quem sabe tudo poderia ter sido diferente.
II – Prioridades.
A prioridade agora era manter a ordem no santuário. Protegê-lo de qualquer ataque, mas por Zeus, era só um santuário. Um monte de pedras empilhadas no meio das montanhas, mas não, ela era uma amazona que estava indo lutar contra Éris sozinha e eles estavam bancando os inúteis andando de um lado a outro no ultimo templo; Kamus pensava revoltado.
Enquanto os cavaleiros estavam se reunindo no primeiro templo. Kamus ainda permanecia no décimo terceiro, quando foi saindo discretamente até passar pela porta onde inicialmente a amazona entrara com Athena para tornar-se sua aprendiz, seguindo em direção ao quarto que a jovem ocupara outrora.
Com os olhos vagos ele fitava a cômoda que ela deixara a rosa de gelo. Nenhum resquício de água estava próximo a pequena e delicada flor, isso era prova clara de que seu criador dominava com extrema habilidade as propriedades do ambiente para criar tão perfeita obra, mas seu criador não estava presente.
Pela primeira vez, o cavaleiro ansiava por ouvir seu orgulho gritar que aquela palavra nada significava, mas ela não estava ali. Mais um motivo para ele ir procurá-la. Ela estava em perigo, não poderia ficar ali parado, enquanto nem mesmo Athena parecia saber o que fazer.
Num ímpeto de ansiedade, ele voltou-se para sair do quarto, quando foi barrado por um cosmo conhecido.
III – Intervenção Divina.
-Me desculpe por aparecer assim, Imperador; Metis falou com o olhar calmo.
-Não tem problema, mas a que se deve essa visita? –Hades perguntou.
-Hefestos a terminou; Metis respondeu de forma enigmática.
-Uhn! Então ele conseguiu; Hades murmurou pensativo.
-Que se refere, meu marido? –Perséfone perguntou curiosa.
-A armadura sagrada do Equilíbrio; Hades respondeu.
-Não conheço essa armadura; ela comentou confusa.
-É porque ela nunca existiu, até os tempos de hoje; Metis respondeu.
-Metis, me responda uma coisa, Hefestos foi realmente capaz de forjá-la? –Hades perguntou, ainda surpreso, quando mandara ao Deus Ferreiros os minerais que o espectro Rock de Pedra havia extraído tanto dos Campos Elisíus como do Tártaro para a criação daquela armadura, teve suas duvidas que o Deus fosse conseguir forjá-la num espaço tão curto de tempo. Para os mortais poderia ter-se passado apenas dois anos, mas para eles o tempo corria mais rápido.
-Não só conseguiu, mas como desenvolveu seu equivalente; Metis respondeu.
-Como? -Hades perguntou interessado.
-A armadura Gêmea; ela respondeu. –Possui a mesma composição da Kamui do Equilíbrio, mas adaptada para que somente Eros a usasse; a deusa completou. –Até mesmo do Olimpo já conseguimos sentir o cosmo de Eris ressurgir, a atmosfera que envolve o Cabo é impossível de ultrapassar, por isso Hefestos criou a armadura Gêmea que permite a Eros ultrapassar essa barreira e levar a armadura a Harmonia;
-Entendo, agora só nos resta esperar; Hades comentou. –E Zeus o que achou disso? –ele perguntou curioso.
-Ele não sabe; Metis respondeu com um sorriso enigmático.
-Como? –Hades perguntou, arqueando a sobrancelha.
-Deixamos pra contar isso pra ele depois; ela completou.
-Certamente; Hades respondeu. –"Vai ser mais interessante"; ele completou em pensamentos.
IV – Batendo de frente com o destino.
Estava na hora de acabar com aquilo. Por um basta em toda aquela maldade acumulada em milênios. Aishi usava o pouco de cosmo que dispunha para chegar incógnita até o Cabo Sunion. Pelo menos era o que ela pretendia.
Um brilho fez com que ela se voltasse para o caminho percorrido quando uma luz a atingiu jogando-a bruscamente de encontro ao solo. Seus olhos embaçaram e fecharam-se por completo. Sem que tivesse a chance de reagir
-o-o-o-o-
Seus olhos foram se acostumando com a claridade, seu abdômen latejava devido ao golpe que recebera. Não pode pensar em mais nenhum lugar que doía, pois uma voz chamou-lhe para a realidade em que se encontrava antes de cair desacordada.
-o-o-o-o-
O navio agora era completamente visível sob o cabo Sunion, enquanto a jovem estava presa no convés na base de um mastro, por grilhões de aparência desgastada, mas eram bem mais resistentes do que ela poderia imaginar.
-Vejo que já acordou! – Deimos a olhava com desdém.
-O que você quer? – Aishi falou imponente, mesmo diante daquela situação o que menos tinha era medo do irmão.
-Uh! Você não perde esse ar arrogante, que patética. Logo você vai ver o que eu e minha senhora queremos; ele falou frio.
-E o que seria? – ela perguntou com um olhar desafiante.
-O seu fim! – ele respondeu como uma sentença.
-Não vejo o porque de tudo isso! – a jovem falou, tentando se acalmar e arrumar um jeito de quebrar aqueles grilhões e correntes. Aquelas não eram correntes comuns, eram as mesmas usadas por Zeus para aprisionar Prometeu no penhasco da águia, onde permaneceu até o lendário semi-deus, Hercules aparecer e libertá-lo de lá, depois de anos de sofrimento continuo.
-Nem tente fugir, essas correntes não se quebrarão; ele disse como se lesse seus pensamentos.
-Porque esta fazendo isso? – ela perguntou desistindo de se soltar e fitando com curiosidade o irmão a sua frente.
-Só vou lhe dizer porque não sobrevivera por muito tempo mesmo; ele falou com um sorriso debochado. – Éris pretende tomar o Olímpo e dominar os outros três mundos. Tendo o poder absoluto serei seu mais fiel general; ele falou com uma falsa segurança, quanto à veracidade das promessas da deusa.
-Patético! – Aishi falou séria. – Não percebe que Éris esta te usando? – ela falou indignada, numa tentativa inútil de alertá-lo sob o perigo que consistia em confiar em Eris, mas recebeu como resposta uma gargalhada descontrolada do irmão.
-Como Afrodite fez com você e seus irmãozinhos? – ele falou erguendo uma sobrancelha.
-Isso não tem nada a ver; ela contestou.
-Claro que tem irmãzinha; ele disse debochado. – Enquanto vocês ficavam manipulando os sentimentos dos mortais de acordo com os desejos infames de Afrodite, eu estou servindo a um propósito maior.
-E qual seria? Destruir a humanidade e transformar o mundo em caos, como era antes de Urano e Réia; ela falou em deboche, mas numa ameaça velada que logo se cumprira.
-Olha como fala! – ele se exaltou a ponto de erguer a mão para desferir-lhe um tapa, mas um cosmo demasiado carregado de energias negativas o deteve.
-Acalma-te Deimos, logo chegara a vez dela; Eris falou se aproximando. Um olhar mortal contrastando com seus cabelos violeta, o andar lascivo e insinuante. Uma Circe envenenando seus escolhidos.
-Eris; Aishi e Deimos falaram em uníssono.
-Vejo que ainda se lembra de mim, Harmonia; ela praticamente cuspiu as ultimas palavras.
-E como poderia esquecer. Durante eras fui a responsável pelo fracasso de seus planos de dominação dos mundos; Aishi respondeu sorrindo sadicamente.
Enfim, por mais atrativa que a perigosa Circe (1) fosse, seu brilho era ofuscado pela cálida luz emanado de Ariel (2), cujo destino era proteger aqueles que por traições e intrigas paravam nas garras da bruxa do mar que tão cruelmente ditava suas sentenças.
Com Harmonia não seria diferente. Nascera para impedir os pérfidos planos de Eris de se concretizarem, como o jovem anjo que numa ilha isolada guiava e acolhia os náufragos em margens seguras.
-Logo, logo esse seu sorrisinho sumira, ainda mais quando ver o que te aguarda; Eris respondeu ferina.
-Você é louca!
-Não queridinha. Sou visionaria; ela falou com uma falsa indignação.
-Veja no dicionário e verá que da no mesmo; ela respondeu rindo, ao ver o olhar assassino da discórdia.
-Não abuse menina, cansei de todos aqueles como você, que fingem serem seres perfeitos e prestam apenas para excluir aqueles que não estão de acordo com seus padrões da sociedade; ela falou com certa amargura.
-Revolta por causa de rejeição, você deveria se ocupar com outras coisas sabia? Hoje em dia existe terapia pra isso; Aishi falou irônica. Sem duvidas ela tinha consciência do perigo que corria, mas certas coisas não poderiam passar sem um comentário do tipo.
-Como você? – ela falou com desdém. – Se bem que eu até lhe entendo, aqueles cavaleiros de Athena não são de se jogar fora, principalmente aquele jovem de Aquário; ela completou com um sorriso malicioso.
-NÃO OUSE envolver o Kamus nesse seu jogo sujo, isso é entre nós duas! – Aishi praticamente gritou, com os olhos brilhando perigosamente, seria capaz de romper as correntes agora, mas daria mais um tempo para Eris, só para vê-la gritar em desespero.
-Kamus! Hun! – ela murmurou com ar pensativo. – Como você é fraca, mal vai viver entre os mortais e já se apaixona por um reles cavaleiro; Éris debochou.
-Não abuse da sorte Éris, ou vai se arrepender; Aishi avisou serrando os dentes.
-O que uma inútil como você pode fazer contra mim? Mal consegue manter-se acordada, quanto mais romper estas correntes; Éris respondeu.
-"Ficaria surpresa com o que pode acontecer, sua tola"; Aishi pensou, quando começou a sentir parte de seu cosmo aliviar a dor até cessá-la por completo. – Fala isso, porque não sabe como é;
Touchê, aquilo fora literalmente um balde de água fria para a cruel Circe, que embora levasse a loucura seus escolhidos, nunca conhecera a retribuição de tal sentimento, embora Ariel em suas faces angelicais sempre demonstrasse ser a manifestação de tudo que a crueldade da bruxa nunca de tornaria, alguém feliz e amado.
-Isso não lhe diz respeito; ela respondeu fria, enquanto com um aceno dispensava Deimos e ameaçava a ir-se também, mas foi detida pela voz de Aishi.
-Você é patética, sente-se frustrada e quer acabar com tudo aquilo que não pode ter, mas quer saber de uma coisa, CONFORME-SE! – Aishi gritou. – A vida é assim, você não tem o direto de mudá-la; ela completou com a voz rouca, a temperatura do ambiente estava caindo gradativamente, mas ela só fora perceber isso agora, já que instintivamente tentava manter-se aquecida e embora a dor já houvesse passado, seu cosmo fluía, como as águas que correm furiosas antes da queda. Esta a ponto de manifestar todo o seu cosmo, mas tinha de ser paciente.
-A vida é aquilo que nós fazemos. Por isso, a partir de agora as coisas serão a minha maneira; ela falou aproximando-se perigosamente da jovem e mostrando-lhe as duas mãos abertas.
Ela podia sentir a oscilação do vento a açoitar sua pela. A temperatura estava caindo ainda mais e seus sentidos a deixavam alerta para o perigo, mas sua aflição maior foi quando das mãos estendidas de Éris, apareceu na da direita uma adaga dourada e na esquerda uma maçã. O símbolo predileto à deusa para prenunciar as desgraças.
Ambas estavam perigosamente próximas, lentamente Éris abaixou-se e depositou aos pés da jovem o pomo dourado que começou a brilhar uma luz negra e reagir com o cosmo de Aishi que instintivamente se elevou, tornando quase impossível para a deusa controlá-lo. Aishi tentou de afastar, assustada com tal fenômeno.
Com um golpe certeiro da adaga, Éris fez um corte aparentemente superficial, mas que serviu de abertura para a grande quantidade de sangue que caia dos braços e pernas da jovem e por conseqüência, banhava o pomo.
-O que pensa que esta fazendo? – Aishi perguntou com os olhos comprimidos tentando reprimir um gemido de dor causando pelos ferimentos.
-Antes do nascer do sol, você cairá e eu me levantarei; Éris sentenciou. – Seu tempo como guardiã dos mortais acaba aqui;
Seus olhos começaram a ficar embasados novamente. Numa luta constante para manter-se acordada ela perdeu. Sua respiração foi enfraquecendo quando num ultimo fio de resistência, vira a imagem do aquariano se dissolver sob seus olhos e perder completamente a consciência.
Continua...
(1) Circe: Bruxa do Mar, na mitologia grega ela prendeu em sua ilha o herói Ulisses que voltava da guerra de Tróia, Circe tinha o habito de trazer para ilha, vitimas de naufrágio ou até mesmo receber de braços abertos os pobres desavisados que ancoravam em sua ilha, ela lhes oferecia fartos e divertidos banquetes, encantados com um tipo de magia que fazia com que os homens desistissem completamente da idéia de voltar para a casa. Ulisses só consegui sair da ilha graças a ajuda de Athena que o guiou durante todo o caminho.
(2) Ariel: personagem de Shakespeare, era um anjo que habitava a ilha, cenário do romance/drama "A Tempestade", Ariel era muito amigo da protagonista e tinha por habito salvar os náufragos que mereciam esse apoio.
