Batia a mão insistentemente sobre o balcão, olhou para o teto cansado, mas mal o fez, abaixou rapidamente a cabeça espirrando.
-Droga, mais essa agora; Dionísio reclamou, assoando o nariz. Tudo isso porque, deuses ou mortais, ambos correm o mesmo risco num dia chuvoso. –Droga de gripe; ele praguejou novamente.
A Toca do Baco estava pouco movimentada, o dia fora todo chuvoso e a noite o point estava quase vazio, alem disso tudo adicionando a gripe da divindade contribuíam para o humor do Deus do Vinho estar abaixo de zero.
Parou assustado vendo um jovem casal entrar na Toca do Baco com ares nada amigáveis.
-Vê se pode, em pleno dias dos namorados esse casal esta brigando; ele murmurou, rolando os olhos, dias chuvosos eram sempre detestáveis.
O casal tomou uma mesa, chamando a atenção do metri, que era outro a estar de mal humor.
-Deixa eu resolver isso antes que ele acabe espantando a freguezia; Dionísio resmungou.
Aproximando-se do casal e literalmente empurrando o metri para longe. Era hora de mostrar o porque veio.
-"Dama 9 me mata se eu não contar essa crônica"; ele pensou suando frio.
Lembrando-se que a autora da crônica infelizmente pegara a gripe dele e estava com o mau humor 100 vezes pior, mas educadamente o obrigou a aparecer na Toca para contar a historia.
-Saudações meus caros amigos; ele falou abrindo um largo sorriso.
-Estamos mais uma vez reunidos pra começar a contar mais uma historia. E como estamos no dia dos Namorados, os solteiros me perdoem, mas essas crônicas ainda são românticas, cheias de confusão, porem românticas.
-Acreditam que Afrodite teve a pachorra de procurar a Dama 9 esses dias e perguntar pra ela porque era eu e não ela a contar essas crônicas. Vê se pode. Só porque é Deusa do Amor sisi (si sente e si acha).
-Ai, bem... É por isso que adoro a Dama 9. Ela tão caridosamente lembrou minha cara irmãzinha das peripécias dela em Ariel e os vários motivos pelos quais eu ainda sou o "cara". Então estranhamente ela se conformou rapidamente.
-Mas não estamos aqui para falar da Afrodite, embora o dia seja propicio a ela.
-Certamente que devem estar curiosos pra saber quem são os protagonistas dessa crônica.
O casal que estava na mesa assentiu, enquanto degustavam lentamente uma deliciosa taça de vinho, trazida exclusivamente de Alentejo.
Dionísio aproximou-se do pequeno palco improvisado no salão da Toca, pegando o microfone e puxando um banco para si. Queria a atenção de todos era evidente, porem certamente que tal crônica chamaria atenção.
-Durante muitos anos, as amazonas foram obrigadas a submeterem-se a árdua vida de treinamentos, limitadas por uma mascara de prata que escondiam seus sentimentos e faziam-nas igualarem-se com os cavaleiros.
-Um dogma que era um dom e uma maldição. Escondendo seus sentimentos, achavam que se tornariam iguais ou melhores que os cavaleiros, porem essa era sua maldição. Não poder revelar sua face, tendo apenas duas opções diante daqueles que vissem sua face: "Matá-lo ou Amá-lo".
-Mas a questão é, o que levaria as amazonas a abandonarem a mascara? Depois de séculos de tradição.
Um acidente.
Mera coincidência do destino.
Um encontro casual entre as frondosas oliveiras
-Aqui começa a Crônica: A Queda da Mascara.
Contando de forma pratica, o que acontece pouco antes de Harmonia chegar ao santuário e ser pega de surpresa pelo aprendiz de Áries ao saber que as mascaras foram abolidas.
Aqui me despeço temporariamente...
E como vocês sabem, eu volto no fim.
Boa leitura!
Crônicas de Amor e Confusão IV
A Queda da Mascara
I – Uma Estranha Convocação.
Era por volta das seis horas da manhã quando se levantou, por mais que quisesse demonstrar animação, simplesmente não conseguia. No dia anterior um mensageiro do ultimo templo lhe trouxera um recado de Athena. Pedindo a ela que se apresentasse no décimo terceiro templo, junto de Marin e Yuuri para uma reunião com a Deusa. Infelizmente não podia mandar uma resposta atravessada a Deusa dizendo que tinha mais o que fazer do que passar por doze templos pra ir até ela, mas ai lembrava-se que não podia fazer isso. Terminou o café no momento que bateram na porta.
-Shina; Marin e Yuuri chamaram atrás da porta.
-Entrem; ela respondeu colocando a mascara.
-Já esta pronta?-Yuuri perguntou.
-Já, podemos ir; ela respondeu, saindo de casa.
-O que será que a Saori quer com a gente? –Marin falou para as duas amazonas, enquanto caminhavam em direção aos templos.
-Não faço idéia; Yuuri respondeu.
-Só espero que seja algo importante, porque subir 12 templos à toa ninguém merece; Shina reclamou.
-Ih! Acordou do lado errado da cama, é? –Marin brincou.
-Me nego a responder essa infâmia; ela rebateu, fazendo as amazonas darem de ombros, quando ela acordava assim era melhor nem mexer.
Templo de Áries...
Mú permanecia na entrada de seu templo, com um olhar vago, porem notou a aproximação das pessoas que ele esperava, não negava que fora um pedido um tanto quanto inusitado, o que o deixara deveras curioso, porem o Grande Mestre se negara a lhe contar o porque de uma hora pra outra lhe liberar pra usar telecinese pra se locomover entre os tempo e que de preferência começasse com isso, levando as amazonas até o ultimo para uma reunião com Athena no começo da manhã;
-Bom dia meninas; ele falou, as recebendo com um sorriso sereno.
-Bom dia; elas responderam.
-Creio que vocês já vão para a reunião com Athena; ele comentou, as amazonas assentiram, Mú arqueou uma sobrancelha poderia jurar que ouviu a amazona de Cobra vociferar, impaciente. –Bom, o Grande Mestre me pediu que as levasse até o ultimo templo, sem que vocês tenham de atravessar os outros; ele explicou.
Marin e Yuuri voltaram-se para Shina que deu de ombros.
-Não tenho nada a ver com isso; ela se defendeu.
-Bem, podemos ir? –Mú perguntou com uma gotinha na testa, sem entender do que elas estavam falando.
-Vamos; Marin falou, aproximando-se do cavaleiro com as outras duas.
Não demorou muito para serem transportadas até o templo de Athena pelo ariano, que esperava ansioso por encontrar com o mestre e tentar lhe arrancar alguma resposta para aquela mudança em algumas leis do santuário de uma hora pra outra, pois desde que se tornara cavaleiro, qualquer um sabia que ele e Shaka eram proibidos de usarem telecinese nos limites dos templos, porque agora?
II – Surpresas.
Saori andava de um lado pra outro no escritório. Marcara uma reunião com as amazonas, porem não estava certa quanto à aceitação delas com o assunto em questão. Conversara um bom tempo com Shion e tomara aquela decisão, mas tinha medo de que não fosse bem aceita ao expor-lhes isso.
Yuuri e Marin até poderiam aceitar, mas temia que possivelmente Shina fosse surtar com isso, não a culpava, em seu lugar possivelmente faria algo pior, no mínimo desejaria mil pragas contra algumas divindades por ai, mas infelizmente não estava em seu lugar e sua reação agora era imprevisível até mesmo para si, mas não tinha mais volta.
-Srta Saori, com licença; Mú falou abrindo parcialmente a porta da biblioteca.
-Pois não, Mú? –ela perguntou parando de andar em volta da mesa e olhando para o cavaleiro que lhe fitava curiosamente, corou.
-Ahn! Vim avisar que as amazonas já estão aqui como pediu; ele avisou.
-Tudo bem, peça para que entrem, por favor; ela pediu.
-Como quiser; ele falou afastando-se da porta e abrindo-a completamente para que as amazonas entrassem.
-Agora nos deixe, por favor; Saori pediu educadamente, fazendo o ariano praguejar intimamente, por não conseguir saber o que estava acontecendo e até agora nem sinal do mestre.
-Com licença, até mais; ele respondeu saindo e fechando a porta em seguida.
Por mais que conhecessem Saori, as amazonas ainda não deixavam de se sentir no corredor da morte por estar justamente ali, na biblioteca do ultimo templo na presença daquela que conheciam como a reencarnação da Deusa Athena, para resolver sabe-se lá o que;
-Bom dia; Saori as cumprimentou com um sorriso nervoso.
-Bom dia; elas responderam.
-Por favor, sentem-se e fiquem a vontade; Saori falou. Indicando um grupo de quatro poltronas postas no centro da sala a pedido dela.
As amazonas assentiram dirigindo-se até lá, acharam estranho o fato de ter quatro se estavam só em três, mas surpreenderam-se ao ver a jovem de melenas lilases sentar-se em uma das quatro.
-Srta, tem algum problema acontecendo? –Yuuri perguntou cautelosa.
-Não é exatamente um problema, Yuuri; ela respondeu. –Mas preferia que me chamassem apenas de Saori; ela pediu gentilmente. –Nada contra esse negocio de Athena, mas soa estranho de mais; ela completou com uma careta.
-Como quiser; a amazona respondeu rindo, era tão diferente ver a imagem da deusa controlada da adolescente que tinham a sua frente agora. Até Shina surpreendeu-se com essa atitude.
-Bem, vamos começar, não quero tomar muito o tempo de vocês; ela falou, quando alguém bateu na porta, Saori arqueou a sobrancelha, fazendo uma discreta veinha saltar na testa. –Entre;
-Com licença, Srta. Sei que já esta em reunião, mas vim trazer aquilo que me pediu; Shion falou sem graça, diante do olhar que recebera.
-Ah! Sim; Saori falou, levantando-se prontamente e indo até ele. –Obrigada; ela agradeceu.
-Disponha, agora vou deixá-las; ele falou numa breve reverencia. Saori apenas assentiu, voltando para junto das três.
-Bom acho que ninguém mais vai aparecer; ela comentou.
Imediatamente as quatro voltaram-se para a porta como se esperassem que ela se abrisse ou alguém batesse.
-Acho que ninguém vai aparecer, mesmo; Saori falou com uma gotinha. –Bem...; Ela começou, lançando um ultimo olhar para o pergaminho que tinha em mãos, rompendo o lacre de cera vermelha que tinha nele. Constatando ser realmente aquilo que procurava por tanto tempo. Voltou-se para as amazonas que lhe fitavam curiosamente por baixo da mascara. –Eu gostaria que vocês lessem isso aqui, levem o tempo que precisarem; ela falou, passando o pergaminho a Marin que estava mais próxima de si e lhe entregando o mesmo.
III – Curiosidade.
Aos poucos cavaleiros, aspirantes e aspirantes a amazonas começavam a chegar a arena para mais um dia de treino, como era de costume todos nos treinos da manhã, os cavaleiros de ouro reuniam-se no Coliseu para treinarem todos juntos, não que estivessem preocupados com alguma possível guerra após a queda de Apolo, era apenas para manter o contato entre si e colocar a conversa em dia.
-Uh! Pessoal aconteceu alguma coisa com as amazonas? –Aiolia perguntou, voltando-se para Aldebaran e Aioros que estavam a seu lado, esperando a chegada dos demais.
-Você quer saber das amazonas no geral, ou de uma especifica? –o sagitariano perguntou com um sorriso maroto.
-...; Aiolia serrou os orbes de maneira perigosa, para o irmão que desatou a rir, era sempre assim, era tocar no nome da amazona que o humor do leonino mudava incrivelmente rápido. Todo o santuário já havia notado o interesse mutuo que acontecia entre os dois, porem como nenhum se manifestou, ninguém também deixou passar as provocações.
-Eu não estou sabendo de nada, Marin, Shina e Yuuri não estão na arena e normalmente elas são as primeiras a chegar; Aldebaran falou.
-Daqui a pouco elas chegam, não se preocupem; Mú respondeu, aproximando-se dos três.
-Bom dia Mú; Aioros cumprimentou.
-Bom dia; ele respondeu num menear.
-Esta sabendo de algo, Mú? –Aiolia perguntou curioso.
-Athena convocou uma reunião com as amazonas, só isso; ele respondeu calmamente. Lembrando-se de como o Grande Mestre esquivara-se dele com maestria para não lhe contar o que estava acontecendo.
-Reunião, para tratar do que? – Aldebaran perguntou.
-Não sei, mas deve ser algo importante para o mestre pedir que eu as levasse até o ultimo templo com telecinese, evitando de cruzar os templos como é o correto; ele respondeu, ainda intrigado.
-"O que será que esta acontecendo?"; o leonino pensou.
-o-o-o-o-
As amazonas estavam sem fala diante do que acabaram de ler. Saori tinha um olhar compreensivo. Sabia que não seria fácil abandonar algumas coisas do passado. Ainda mais aquele dogma que esteve incrustado por tanto tempo na cultura que eles aprenderam a viver e seguir desde que chegaram ali.
-Entendo que vocês se sentiam confusas quanto a isso, por isso, só lhes peço que pensem com calma, não quero forçá-las a tomar uma decisão premeditada, por isso pensem bem e quando quiserem me dêem a resposta; Saori falou.
-Mas Saori; Yuuri começou, sentindo-se completamente perdida.
-Eu já suspeitava há algum tempo que as coisas fossem assim, mas como não tinha acesso aos documentos antigos e sigilosos do santuário não poderia confirmar nada; ela explicou. –Mas alguns dias atrás estive vendo algumas coisas com Shion e achamos isso aqui, procuramos entre outros documentos e confirmamos a veracidade dessa informação; ela concluiu.
-Mas porque isso não surgiu antes? –Marin perguntou com a voz tremula.
-É algo muito antigo, foi realmente um milagre termos o achado; Saori falou compreensiva.
-Preciso de um tempo; Shina falou de repente.
-Façam como quiser, como disse antes, não quero pressioná-las, sei que tomarão a melhor decisão, vocês melhor do que ninguém conhecem o santuário e saberão decidir, confio em vocês; ela falou. –Mesmo que seja uma negativa, vou compreender perfeitamente, então pensem com calma;
-Obrigada; as três falaram.
-Não há porque agradecer; ela respondeu.
-Bom, acho melhor irmos agora, temos o treinamento dos aspirantes; Shina falou.
-Fiquem a vontade; ela respondeu.
Em completo silencio as amazonas saíram da biblioteca, fechando a porta em seguida.
Saori deu um suspiro cansado, recostando-se melhor na poltrona, logo a porta abriu-se.
-Como foi Srta? –Shion perguntou, aproximando-se e sentando em uma das poltronas.
-Completamente o oposto do que eu havia imaginado; ela respondeu fechando os olhos e massageando as temporas.
-Não seria melhor pedir que respondessem logo, assim poderemos resolver isso de uma vez; ele sugeriu ansioso.
-Não, prefiro ir com calma. Não posso simplesmente destruir séculos de tradição. Confio nelas e sei que decidiram pelo que é melhor; ela respondeu.
-Entendo; ele murmurou como resposta. –Só fico imaginando a reação dos cavaleiros com isso; ele comentou com um sorriso maroto. –Principalmente de Aiolia;
-Aiolia? –ela perguntou curiosa.
Não demorou muito para o Grande Mestre lhe contar das ultimas peripécias do ex- cavaleiro rebelde, ao longo dos últimos anos.
IV – Decisão.
As amazonas saíram do ultimo templo completamente desnorteadas. Marin e Yuuri foram para a arena, porem Shina não estava com o mínimo animo para ir pra lá treinar. Poderia acabar fazendo alguma besteira e mandar mais de trinta aspirantes para a enfermaria só no período da manhã não estava em seus planos para o momento.
Mal se deu conta quanto chegou até a entrada do templo de Apolo, aquele que em tempos imemoriais era conhecido como a Coroa do Sol, tão bela e gloriosa como seu guardião, porem agora não passava de um monte de pedra empilhada e tomada por mato e mofo. Um desperdício era verdade, mas nada podia fazer quanto a isso;
Não muito longe de onde estava avistou um pequeno jardim, não tocado pelo tempo. Por mais que quisesse colocar os pensamentos em ordem, simplesmente não conseguia.
-"Por Zeus, não é a primeira vez que isso acontece"; Shina pensou exasperada. –"Mais porque agora parece tão difícil encarar isso?"; ela se perguntou desanimada.
Mal notou que não estava sozinha ali. Havia mais alguém que a observava com certa curiosidade a distancia. Sentindo-se completamente confuso por vê-la daquela forma, até mesmo seu cosmo transmitia um certo desanimo e confusão. Diferente do gênio seguro e presença marcante que a via demonstra sempre que estavam na arena.
A amazona saltou entre um pilar e outro, indo sentar-se no alto de um pilar, onde tinha a visão plena do jardim abaixo de si, não que estivesse interessada em ver flores, apenas gostava do ambiente agradável que aquele lugar era, talvez o único lugar que lhe desse paz o suficiente para colocar os pensamentos em ordem.
Cruzou as pernas de maneira segura, mantendo o equilíbrio, colocando as mãos sobre o colo de maneira displicente. Embora a mascara lhe cobrisse a face, quem a visse sabia que tinha o olhar vago e a mente distante.
Ele lhe observava com atenção, ocultando seu cosmo e sua presença entre as arvores que ali cresciam. Sabia da lei das amazonas, porem não conseguia reprimir a curiosidade que sentia, por querer saber qual a cor dos orbes daquela amazona que ultimamente estava povoando de mais e de forma perturbadora seus pensamentos.
Uma amazona de sangue quente, que era capaz de enfrentar de igual para igual até mesmo os deuses para realizar aquilo que desejava. E por mais que não admitisse, a cada vez que a via, sentia-se enfeitiçado por aquela presença marcante e inesquecível, como um feitiço criado pelo tempo, uma magia antiga e inexplicável; balançou a cabeça exasperado, não deveria nem esta pensando aquilo, aproximar-se dela era suicídio, porem ainda sim tinha curiosidade. Um grande pecado mortal, que intimamente desejava sucumbir.
Imersa em pensamentos, a amazona pesava a decisão difícil que deveria tomar. Saori tinha razão quando lhes falara que o assunto era delicado e principalmente que precisariam de tempo pra tomar a melhor decisão.
Deu um salto, caindo com leveza sobre o chão gramado. Era melhor esfriar a cabeça, se não, não conseguiria pensar em mais nada; ela concluiu encaminhando-se mais para dentro do templo em ruínas.
V – Amigos.
Marin acabara de chegar na arena, encontrando os amigos todos reunidos. Por baixo da mascara, arqueou a sobrancelha ao ver Aiolia se aproximar com o típico sorriso de menino levado, ai vinha coisa.
-Ahn! Como vai, Aiolia? –ela perguntou cautelosa.
-Bem... E você? –ele perguntou.
-Bem; ela respondeu desconfiada, o cavaleiro ainda mantinha aquele sorriso, já o conhecia a tempo suficiente para saber que ele queria falar algo e simplesmente não sabia como começar. –O que quer saber Aiolia? –ela perguntou a queima roupa.
-Ahn! Eu, nada importante; ele respondeu inocentemente.
-Então esta bem, vou treinar; ela falou ameaçando se afastar.
-Espera; ele pediu, colocando-se a sua frente.
-Aiolia, não tenho o dia todo, se quer saber alguma coisa, pergunte logo; ela falou impaciente, o tempo poderia passar, mas ele continuava com a mesma mania de nunca conseguir ser objetivo quanto ao que queria, a não ser em alguns momentos que preferia evitar se recordar no momento; ela concluiu.
-Bem... Como foi a reunião? –ele perguntou.
-Digamos que produtiva; ela respondeu, na esquiva.
-Algum problema, não sei, algo acontecendo que nós não saibamos? –ele insistiu.
-Não, apenas coisas de rotina pra resolver, só isso; ela desconversou, para alguém que não era objetivo, estava sendo insistente de mais.
-Tudo bem; ele falou desanimado. –Bom treino pra você, vou falar com os caras, até mais; ele falou afastando-se desanimado, por não conseguir nenhuma resposta da amazona.
-Certas coisas nunca mudam; ela murmurou, assentindo e indo até Yuuri que já mandava os aspirantes começarem os aquecimentos.
VI – Acidente.
Era incrível como aquele pequeno paraíso poderia ficar praticamente abandonado. Vez ou outra alguns aprendizes resolviam treinar ali, mas hoje só ela resolvera andar por aqueles lados, assim pensou.
Um pequeno lago de águas naturais, quase uma piscina formada pelo tempo, as águas vinham das montanhas, cortando o templo e indo perder-se na Bahia de Bejunte.
A água estava na temperatura certa; ela pensou, não era um lago muito fundo, no Maximo dois metros de profundidade. Retirou as peças da armadura que vestia, permanecendo apenas com o maiô de treinos. Olhou para todos os lados, nem sinal de um possível intruso e algum cosmo. Retirou a mascara deixando-a no chão, próximo a beira do lago. Lançou mais uma vez um olhar para o caminho que fizera para entrar ali, deveria estar ficando paranóica, mas não sentia nada, lançou-se de encontro às águas, mergulhando.
-o-o-o-o-
Encostou-se tremulo em um dos pilares do templo, não acreditava no que estava acontecendo, justamente consigo. Era surreal de mais. Queria se afastar, mas suas pernas simplesmente o impediam, parecendo não querer responder as suas ordens para sair dali, antes que fosse pego.
Algo que ele nunca esperava era vê-la retirar a mascara, poderia jurar que ela olhara em sua direção, engoliu em seco, pensando ter sido descoberto, mas ela voltou suas atenções ao lago, mergulhando em seguida. Estaria morto se fosse descoberto e com toda razão; ele concluiu, porem não foi capaz de lutar contra o próprio impulso de aproximar-se mais.
Oculto entre algumas folhagens e arbustos, o que presenciou fez seu sangue gelar. Deixando-o preocupado, embora aquele lago não fosse tão fundo e ela uma eximia nadadora, algum tempo atrás, alguns pilares que formavam uma espécie de arco, próximo ao lago, haviam caído, causando fendas em algumas partes do lago, ali era um local perigoso, que vez ou outra ocorria algum deslizamento.
Ao olhar para o fundo, pode ver a amazona tentando soltar-se de uma pedra que cairá em cima de seu pé, prendendo seu tornozelo em uma fenda, impedindo-a de mover-se. A pedra em baixo da água parecia bem mais pesada do que realmente era, se usasse seu cosmo para sair dali, outros cairiam sobre si, restando-lhe nulas alternativas.
Embora algo dentro de si o mandasse se afastar simplesmente não conseguia deixá-la naquela situação. Correu até a beira do lago, mal tirando os sapatos e jogando-se em seguida de encontro às águas. Não foi difícil alcançá-la.
Shina tentava retirar o pé dali de baixo da pedra, porem não conseguiu, estava preso. Estava sem a mascara, não tinha como sair dali. O desespero era tanto que cada vez mais estava ficando difícil de respirar. Olhou pra cima, constatando que nem o cosmo poderia usar, pois outras pedras deslizariam da beira da água.
Parou abruptamente de puxar o pé, causando um corte superficial no tornozelo por forçá-lo a ceder. Só agora notara a aproximação de alguém, fazendo seu desespero aumentar. Soltou um pouco de ar, forçou os olhos a continuarem abertos e a manter-se consciente, não conseguiria ficar mais tempo sem respirar.
Sentiu uma mão forte fechar-se sobre seu ombro, virou-se bruscamente. Sentiu os olhos perderem parcialmente o foco. A pressão em sua cabeça estava aumentando. Fechou os olhos, abrindo-os rapidamente, viu a sua frente um par de orbes castanhos brilharem, mesmo nessa situação foi capaz de reconhecer quem era. Viu-o subir ate a superfície e tomar ar, submergindo novamente.
Mais uma vez tentou puxar o pé e nada. Ele mergulhou aproximando-se do local e tentando remover a pedra, mas até para ele a pedra parecia mais pesada e irremovível.
Voltou-se preocupado com a amazona, ela parecia estar ficando sem ar. Aproximou-se dela, ficando na mesma altura que seus olhos, viu-a forçar a perna e tentar afastar-se dele. Não tinha outro jeito; ele concluiu. Se tivesse que morrer, pelo menos que valesse a pena.
Mesmo ela tentando afastá-lo, esticou a mão, deixando que ela fosse parar atrás do pescoço da jovem, puxou-a para perto de si, enquanto ela ainda lutava, tentando afastá-lo. Aproximou-se de forma inesperada, arrebatando-lhe os lábios. Com o susto a amazona entreabriu os lábios, facilitando os propósitos dele.
Tentava afastá-lo, quando sentiu uma lufada de ar entrar pelos lábios entreabertos, fechando os olhos, clamando aos céus, que não ficasse inconsciente.
Shura afastou-se, subindo novamente até a superfície. Respirou fundo, antes de mergulhar novamente. Aproximou-se da pedra, tentando mais uma vez puxá-la, porem a pedra parecia afundar ainda mais, prendendo-a;
Precisava de um jeito de tirá-la dali, sem causar um estrago maior. Elevou o cosmo, fazendo com que o braço se chocasse contra a pedra partindo-a em dois. Uma onda de água explodiu na superfície. Antes que algumas pedras caíssem sobre eles, o cavaleiro a puxou para a beira da água, abraçando-a protetoramente, impedindo que ambos fossem atingidos por qualquer estilhaço.
A água abaixou e ele puxou-a para fora, só agora notara que ela estava desacordada, concluiu que fosse devido ao susto final. Deitou-a com delicadeza sobre o chão gramado. Aproximou o ouvido do rosto da jovem, ela não parecia estar respirando direito, talvez com o susto, tivesse engolido um pouco de água.
Olhou mais uma vez para a face desacordada da amazona, engoliu em seco, a salvara do lago, porem se não fosse rápido, ela morreria do mesmo jeito. Ajoelhou-se a seu lado, com as mãos tremulas, entreabriu seus lábios.
Respirou pesadamente, antes de abaixar a cabeça e mais uma vez tocar seus lábios, soprando com certa força. Erguer-se novamente, pressionando as mãos em forma de concha sobre seu peito, três vezes seguidas. Mas nada dela reagir.
Repetiu mais uma vez, antes que pudesse pressionar-lhe o peito. Viu-a reagir. Como reflexo, ela tentou se levantar, tossindo convulsivamente, então o cavaleiro rapidamente colocou-a de lado, permitindo que a água que ela engolira saísse com mais facilidade. Aos poucos viu-a se acalmar, virando sozinha de bruços.
Shura lançou um olhar para os lados encontrando não muito longe de si a mascara que ela deixara. Levantou-se indo até lá. Retirou-a do chão junto com as roupas que ela deixara junto, voltou até a amazona.
Constatou que ela desmaiara novamente, abaixou-se até tocar o chão com os joelhos, virando-a com suavidade em sua direção. Parou olhando-a durante alguns minutos com extrema atenção. Não se arrependia do que havia feito, mesmo que seu subconsciente lhe chamasse de suicida.
Colocou a mascara sobre a face da amazona, cobrindo-a novamente. Era tão estranho vê-la com aquela mascara de prata, depois de mesmo que por pouco tempo, tivesse podido ver aquele par de intensos orbes azuis em baixo da água.
Chegava a ser irônico, o modo como o destino agia. Agora simplesmente não conseguia imaginá-la como aquela amazona arrogante e impiedosa que conhecera há tempos atrás. Lembrou-se da face angelical que era guardada pela mascara, isso sim era irônico, já que por vezes a própria fora considerado o próprio demônio dos aspirantes e cavaleiros.
Colocou as roupas dela entre os braços da mesma, mantendo-os cruzados no colo. Antes de passar um dos braços por baixo das pernas dela e o outro atrás de sua costa, podendo ter o equilíbrio certo e suspendê-la do chão.
-o-o-o-o-
Marin andava de um lado para o outro do santuário procurando pela amazona de Cobra, mas nada de encontrá-la, precisavam conversar sobre o que ocorrera na reunião de manhã cedo, mas não a encontrava em lugar algum.
Já estava fazendo o caminho de saída do vilarejo das amazonas, quando viu o cavaleiro de Capricórnio se aproximar, franziu o cenho por baixo da mascara, achando estranho a presença dele ali, normalmente que andava casualmente por aqueles lados era o Escorpião, mas estancou, preocupada, ao ver entre os braços do cavaleiro a amazona que estava procurando.
Shura aproximou-se com certa cautela, pensou que poderia chegar ao vilarejo de preferência sem encontrar com nenhum conhecido, embora houvesse esquecido de pensar no fato de onde a levaria, porem teria de dar explicações das quais, agora não se sentia preparado pra dar. Viu Marin aproximar-se quase que correndo até ele.
-O que aconteceu? –ela perguntou.
-Ela esta bem Marin, apenas desmaiou pelo susto; ele respondeu calmamente, tentando mostrar-se o mais impassível que poderia.
-Susto? –ela perguntou preocupada.
-Eu prefiro explicar depois, pode me ajudar, gostaria de deixá-la em sua casa se não se importar, ela acabou machucando o tornozelo; ele explicou.
Marin assentiu, ma engoliu em seco começando a entender o que a palavra susto compreendia. Ainda mais ao notar que ambos estava molhados. Sabia que o cavaleiro era alguém serio, nenhum pervertido, fato que contribuiu para deixá-la mais preocupada com o que havia acontecido.
-Vem comigo; ela chamou, tomando o rumo de sua casa.
Em silencio, ele a acompanhou. Sabia que assim que ela tivesse uma oportunidade iria lhe bombardear com perguntas, porem não negava que aproveitava aquele momento ao Maximo, talvez as Deusas do Destino não lhe fossem tão caridosas de colocá-los de forma tão inesperada no mesmo caminho uma segunda vez.
Continua...
Nota: Alentejo. Cidade Portuguesa, cujo vinho tinto seco é divino.
