Crônicas de Amor e Confusão IV

A Queda da Mascara

Capitulo 2:

I – Os Segredos do Leão.

Aiolia estava sentando na frente de seu templo, quando Aioros aproximou-se, vindo de Sagitário.

-Que desanimo é esse Leo? –ele perguntou preocupado, dificilmente via o irmão assim.

-Estava pensando; ele respondeu, dando um suspiro cansado.

-Jura, isso sim pode ser considerado um milagre divino; o sagitariano brincou, vendo-o estreitar os obres perigosamente. –Brincadeira, mas falando sério, em que estava pensando?

-Estive falando com a Marin hoje; ele começou.

-Uhnnn! Com a Marin; ele repetiu, com um sorriso maroto.

-Hei! Não é nada do que esta pensando; ele respondeu, gesticulando nervosamente.

-E o que eu estaria pensando? –ele falou com um sorriso sugestivo, fazendo o irmão enrubescer.

-Não caio mais nas suas, Aioros; ele respondeu enfezado.

-Nada me impede de tentar; ele respondeu dando de ombros. -Mas fala logo, o que foi que conversou com a Marin que lhe fez pensar; ele falou com uma pontinha de sarcasmo.

-Perguntei a ela sobre a reunião com Athena; ele respondeu.

-Ah! Aquela reunião; ele murmurou.

Já sabia sobre o que era, na verdade a jovem deusa lhe contara no dia anterior, quando ele, Saga, Shion e ela haviam se reunido para uma reunião, meio que sigilosa no ultimo templo, porem a deusa após lhe comunicar suas pretensões, pediu que eles não falassem nada por enquanto com os outros guardiões.

-E o que ela lhe respondeu?

-Marin não quis me contar sobre o que era realmente, falou que eram coisas de rotina, mas duvido muito, ela não sabe mentir; ele falou, emburrado.

-E você esta com essa cara só por isso? –Aioros perguntou, arqueando a sobrancelha.

-Não, é que... Eu pensei que ela pudesse me contar; ele falou dado um suspiro desanimado. –Pensei que fossemos amigos e ela confiasse em mim;

-Aiolia, você sabe que tem coisas que não lhe dizem respeito; Aioros falou sério.

-Mas...; Ele continuou.

-Embora vocês sejam amigos, existem coisas que só cabem a ela resolver; ele falou pacientemente.

-Mas queria ajudá-la; ele argumentou.

-Ajudá-la, ou convencê-la a te contar o que estava acontecendo? –ele perguntou com um sorriso maroto.

-Ajudá-la era a idéia principal, se depois ela quisesse me contar o que estava acontecendo, eu não ficaria bravo; ele respondeu com um sorriso nervoso, passando a mão pelos cabelos arrepiados.

-Entendo que você goste muito da Marin e se preocupe com ela, mas entenda que da mesma forma que você não conta certos segredos a ela, talvez ela não se sinta à vontade para contar os dela para você; ele falou, vendo o irmão ficar vermelho, ao entender sobre o que ele se referia.

-Acho que você tem razão; ele respondeu num murmúrio.

-Claro que tenho, sou seu irmão mais velho e no é de alegre; ele brincou.

-Não abusa; Aiolia falou com um meio sorriso, mas parou curioso ao ver a aproximação de um cavaleiro. –Aquele é o Shura?

-Parece que sim, mas ta todo molhado; Aioros comentou;

-O que será que ele andou fazendo? – o leonino falou, arqueando a sobrancelha.

Shura subia as escadas pensativo, explicara a Marin apenas o necessário. Que vira a amazona presa na encosta e a ajudou a sair de lá. Omitindo a parte em que a vira sem mascara e o que acontecera depois, é claro. Já teria problemas de mais quando ela acordasse.

-Hei! Shura; Aioros gritou.

-O que foi? –ele respondeu, irritado.

-Calma cara, a gente tava te chamando e você não respondeu, quase passou por cima da gente aqui; o sagitariano falou, indicando o local da escada em que estavam sentados, como o possível caminho dele.

-Me desculpem; ele falou, dando-se conta de que realmente era isso e que por sinal já estava na frente do templo de Leão.

-Uhn! Aconteceu alguma coisa? –Aiolia perguntou curioso.

-Não; Shura respondeu vagamente, -Digamos que apenas um pequeno acidente de percurso; ele completou, antes que os dois viessem lhe questionar sobre qual era o acidente.

-Ta bom então; o leonino respondeu, porem ainda incrédulo.

-Depois a gente conversa. Tenho que ir pra casa trocar de roupa; ele falou.

-...; os dois apenas assentiram lhe dando passagem.

-O que será que aconteceu com ele? -Aiolia perguntou, quando o viu longe o suficiente para não ouvir.

-Não sei, se ele não falou nada talvez não seja nada importante mesmo; o sagitariano respondeu.

II – A Escolha.

A amazona sentiu uma coberta ser colocada em si até a altura do pescoço, por um momento sentira frio e a cabeça latejando, porem passara da mesma forma que chegara, rápido. Abriu os olhos com dificuldade, quando flashs do que aconteceu na encosta lhe vieram a mente, tentou levantar-se rápido, porem alguém parecia lhe impedir.

-Calma Shina, sou eu; Marin falou preocupada, já estava há duas horas dormindo sem dar sinais de quando acordaria.

-Marin? –ela perguntou assustada, levando a mão ao rosto, constatando que a mascara não estava ali.

-Está tudo bem, fui eu que a tirei; a amazona explicou, como se entendesse o medo dela.

-O que aconteceu? –ela perguntou confusa, deixando-se cair da cama novamente. Dando-se conta de que não estava em sua casa.

-Shura te trouxe até a vila, como não dava para ir até a sua casa, ele lhe trouxe pra cá; a amazona respondeu, sentando-se em uma cadeira. –Ele disse que estava passando pela encosta quando te encontrou no lago tentando se soltar e que quando lhe tirou de lá, você acabou desmaiando.

-"Então ele disse isso, porque?"; ela se perguntou confusa.

-Como se sente? –a amazona perguntou, lhe chamando a atenção.

-Bem, mas meu tornozelo dói um pouco; ela respondeu.

-Vou pegar algo pra colocar ai, não tente levantar;

-"E agora? O que eu vou fazer?"; Shina pensou, dando um suspiro cansado. –"Por Zeus, Athena me mata se eu matar um de seus cavaleiros"; ela pensou.

-"A quem esta querendo enganar com isso? Dificilmente conseguiria matá-lo"; uma voz soou lhe diretamente de sua mente.

–"É claro que conseguira"; ela argumentou, exasperada, estava conversando com os próprios pensamentos, deveria ter batido com a cabeça ou coisa assim

–"Tem certeza?"; ela poderia jurar que esse pensamento não soou nada inocente.

–"Claro que sim"; Shina respondeu.

–"Talvez, mas será que pode ignorar o fato dele ter lhe beijado para salvar a sua vida?";isso foi golpe baixo; a amazona pensou.

–"Que inferno, o que eu vou fazer agora?"; Shina pensou em desespero. Remexeu-se na cama incomodada, virando-se de lado, ficando de frente para a parede ao lado da cama.

Sentiu um rastro quente cruzar-lhe as maçãs do rosto. Maldita hora que resolvera entrar naquela água; ela praguejou.

Marin entrou no quarto com um remédio para dor que pegara para ela colocar no tornozelo, mas estancou surpresa, ao ouvir um soluço abafado da amazona.

-Hei! O que foi? –ela perguntou preocupada, sentando-se na beira da cama e colocando a mão sobre seu ombro;

-Ele viu; ela falou com a voz fraca.

-O que? –Marin perguntou, mas entendeu o que ela queria dizer quando viu Shina fechar os olhos e mais lagrimas caírem. –Como aconteceu?

-Eu estava nadando sem mascara, prendi o pé; ela começou. –Tentei soltar, mas não deu, senti a aproximação de alguém, já estava perdendo a consciência, ele cortou a pedra e depois não lembro de mais nada; ela concluiu, omitindo a parte do beijo.

-Ele viu seu rosto; Marin murmurou, vendo-a assentir. –O que vai fazer agora? –ela perguntou cautelosa.

-Não posso matá-lo; Shina falou num sussurro tão baixo que Marin mal pode ouvir.

-"Então?"; ela pensou arregalando os olhos. -Ahn! Acho que podemos dar uma resposta a Saori; ela comentou.

-O que? –Shina perguntou confusa.

-Vou chamar Yuuri, depois vamos ao ultimo templo falar com Saori; ela completou.

-Mas...;

-Talvez isso tenha sido um sinal, vai ver que as coisas precisam mesmo mudar; ela brincou. –Não se preocupe;

-Marin, não é necessário; ela falou, sentando-se na cama. –Vou dar um jeito de resolver isso sem causar problemas a você e a Yuuri; ela completou.

-Já disse pra não se preocupar com isso, eu e Yuuri já havíamos conversado sobre isso e só faltava perguntar a sua opinião; Marin respondeu. –Acho que o melhor a fazer é aceitar, não só para nós, como para todo mundo também;

-...; Shina assentiu. –Obrigada;

-Imagina, agora descansa que eu vou procurá-la; ela falou.

Shina voltou a deitar-se, um suspiro cansado escapou de seus lábios. Porque se sentia tão impotente. Em outros tempos não se importaria se fosse de ouro ou prata, mataria sem um pingo de remorso. Outros tempos... O que lhe frustrava agora era o simples fato de saber que mais uma vez não seria capaz de matar alguém que lhe vira a face.

-o-o-o-o-

Ainda não acreditava em tudo que estava acontecendo, quando sairá do Coliseu para dar uma volta pela encosta não pensou que aquilo pudesse acontecer, não consigo.

Suspirou pesadamente, enquanto entrava embaixo da água morna que caia do chuveiro. Imediatamente sentiu o efeito do choque térmico, porém o incomodo fora momentâneo, dando rapidamente lugar ao relaxamento, coisa que precisava em demasia.

-Aonde eu fui me meter? -ele resmungou, sentindo a água aos poucos escorrer por todo o corpo.

Lembrou-se da amazona no lago, completamente diferente de como estava acostumado a vê-la, ali parecia apenas uma garota normal. Se estivesse andando por Atenas e a visse sem mascara nunca a reconheceria. Aqueles olhos azuis pareciam queimar mesmo em baixo da água.

Viu o medo que eles transmitiam ao vê-lo se aproximar. E o beijo? – balançou a cabeça nervosamente, foi um erro... Um erro que não se importaria de cometer novamente, contanto que pudesse sentir mais uma vez a maciez que os lábios róseos forneciam.

-Que inferno; ele praguejou, socando a parede a sua frente, fazendo com que alguns azulejos se desprendessem causando um corte superficial no punho. –Mais essa agora; ele resmungou, enquanto desligava o chuveiro e saia do banheiro, enrolando uma toalha na cintura e usando outra para estancar o sangue que começava a escorrer.

III – União Dourada.

Em tempos imemoriais quando Athena tinha que tomar grandes decisões sobre o santuário ou até mesmo sobre a segurança da Terra, uma união dourada era convocada. Todos os cavaleiros deviam estar presentes no ultimo templo na presença da deusa.

A ultima vez que uma união assim fora convocada, fora à cerca de treze anos atrás, porem nem todos os cavaleiros estavam presentes, como Áries, Libra e Sagitário.

Vários mensageiros mandados por Athena desciam os doze templos entregando os comunicados nas mãos de cada cavaleiro. Até mesmo o mestre ancião de Rozan, ou como todos agora o conheciam cavaleiro de ouro, Dohko de Libra fora convocado.

A sala de reuniões do ultimo templo às sete horas em ponto começou a ser preenchida, um por um os cavaleiros foram tomando seus lugares. Doze lugares, doze cavaleiros e doze armaduras douradas, porem essa união contava com a presença de mais duas pessoas. O Grande Mestre do santuário e Kanon, também cavaleiro de Gêmeos.

Na cabeceira principal a jovem de cabelos lilases tomou o seu lugar. Alguns embora já soubessem qual era o assunto a tratar, ainda mostraram-se surpresos quanto a rápida convocação, imaginando que aquele assunto ainda demoraria mais algum tempo para se tratado abertamente com a ordem dos cavaleiros.

Shura olhava impaciente para os lados, não via a hora de sair dali, precisava, não, necessitava de uma forma de resolver as coisas, mas ficando parado não ajudaria em nada.

-Bem, alguns de vocês devem estar se perguntando porque essa união foi convocada; Saori começou. –Mas antes de começarmos gostaria de pedir que mais três pessoas tomassem seus lugares nessa união; ela falou apontando para as três cadeiras na cabeceira oposta, que ficavam ao lado de Afrodite e Aioros e uma no centro.

-Esta se referindo a quem, Srta? –Shaka perguntou.

-Só um momento; ela pediu apontando para a porta. –Por favor, entrem;

Todos os cavaleiros voltaram-se na direção que ela apontava, só agora haviam notado realmente a existência dos três lugares adicionais. Na entrada do salão Shina, Marin e Yuuri apareceram. Chamando a atenção de todos, principalmente de um certo cavaleiro que quase caiu da cadeira.

-Por favor, sentem-se, para que comecemos; Saori pediu.

Shina tomou a cabeceira, enquanto Marin sentava-se ao lado de Afrodite e Yuuri tomava o lugar ao lado de Aioros no lado oposto da mesa.

A amazona de Cobra rolou os olhos, já estava ficando irritada com aqueles olhares sobre si, estreitou os orbes perigosamente ao notar os olhares nada decentes de um certo aracnídeo.

-Quem são? –Mascara da Morte, perguntou num cochicho para Kanon a seu lado.

-Vai dizer que não percebeu? –o geminiano falou incrédulo.

-Inocente; Kamus murmurou.

-O que disse, pingüim? –o canceriano falou com os punhos serrados por baixo da mesa.

-O que ouviu camarão; Kamus respondeu.

-Parem com isso; Saga mandou, lançando um olhar mortal aos dois que engoliram em seco, calando-se em seguida.

Mascara da Morte ainda lançou um olhar de esguelha as três, antes de voltar-se na direção da deusa. Pelo menos duas tinha a impressão de conhecer, mas a jovem de cabelos prateados e olhos verdes não sabia quem era. Deixaria para pensar nisso outra hora.

Por um milésimo de segundo seus olhos se encontraram, o cavaleiro sentia sua mente dar voltar, há um minuto atrás já estava até pensando em encomendar o caixão e dar menos trabalhos aos amigos na hora do sepultamento, porem agora ela aparecia ali e sem mascara. Desviou o olhar no momento que a viu serrar os orbes de maneira perigosa, diante do olhar nada decente do Escorpião.

Aiolia observava a amazona de cabelos ruivos a distancia, porem de forma descarada, fazendo com que Marin ficasse cada vez mais incomodada. Conhecia esse olhar, foram raras as vezes que o vira, porem só lhe metera em problemas;

-Bem, acho que já podemos começar, Srta; Shion falou, vendo-a assentir.

-Creio que vocês devem conhecer até melhor do que eu sobre o dogma das amazonas; ela começou.

-Algo sobre matar ou amar? –Mascara da Morte sugeriu.

-Mais ou menos; Saori falou. –Desde séculos atrás na linhagem das amazonas, foi passado esse dogma, de que as amazonas deveriam usar mascaras. Uma forma de abdicar de sua vida passada e dedicar-se exclusivamente a vida como um 'cavaleiro' e também de sua feminilidade; ela explicou. –Não importa quem seja, ao ver o rosto de uma amazona sem a mascara, ela só teria duas opções, matá-lo, ou como você mesmo disse, amá-lo; Saori falou, voltando-se para o canceriano.

-Meio radical, não; Milo comentou.

-Exatamente; Shion concordou.

-Porém, creio que vocês já perceberam que as amazonas aqui presentes não estão usando mascaras; a deusa falou. –O que aconteceu é o seguinte há poucos dias atrás eu e Shion descobrimos um documento datado de dez séculos atrás, escrito do punho da própria Ártemis; ela explicou.

-A Deusa da Caça? –Aldebaran perguntou confuso, lembrando-se do episódio que se sucedeu à ressurreição dos cavaleiros, fato ainda não explicado pela deusa.

-A própria; Saori respondeu. –Na antiguidade, foi Ártemis que iniciou a linhagem do clã das amazonas. Nessa época, vários clãs começaram a espalhar-se pela Grécia, principalmente pela Trácia, mas as leis e filosofias eram as mesmas;

-Que seria? –Afrodite perguntou.

-Que as mulheres sempre seriam superiores aos homens, tornando impossível um equilíbrio pelas diferenças;

-Mas o mundo só funciona por opostos; Shaka falou, sem entender aonde ela queria chegar.

-Exatamente; Saori falou. –Porem essa era uma época em que Ártemis não passava de uma fedelha rebelde querendo competir contra a própria sombra; a deusa falou, chamando a atenção dos cavaleiros pela forma que usou para descrever a irmã. –Por isso quando ela pediu a Zeus que lhe desse o celibato, ela avisou que viajaria por ai na companhia de cinqüenta mulheres que fossem eximias caçadoras e guerreiras. Assim formou-se o primeiro clã;

-Mas de onde surgiu o dogma? –Aiolia perguntou interessado.

-Naquela época Ártemis já havia proibido as amazonas de se relacionarem com pessoas fora do clã, o único contato que elas tinham com um homem era para garantir a próxima geração, mas isso também tinha restrições; ela falou, vendo que Milo pretendia falar algo, mas calou-se em seguida. – Após isso ele era morto, quando a criança nascesse, se fosse menina seria treinada entre as amazonas, porem se fosse menino na maioria das vezes era jogado em um cesto na beira do rio, quando umas e outras não matavam a criança, como represália às demais;

-Nossa; Milo falou com os olhos arregalados.

-Porem o que nenhuma amazona esperava era que Ártemis fosse trair essa ordem; ela continuou.

-Como assim? –Mú perguntou confuso.

-Ela se apaixonou por Órion; Marin respondeu, manifestando-se pela primeira vez.

-Exatamente, o filho de Posseidon com uma mortal; Saori respondeu ao olhar indagador de todos. –Após conhecê-lo ela abandonou o clã e saiu pelo mundo com ele, o que desagradou não só as amazonas como Apolo também, que não admitia o fato da irmã, como sendo a imagem de pureza e castidade, ter-se apaixonado;

-Caramba; Shura murmurou surpreso, lançando um rápido olhar para as amazonas que se mantinham impassíveis.

-Por mais que as amazonas não aceitassem essa decisão de Ártemis, elas não fizeram nada para impedir isso. Apenas escolheram uma nova líder, Hipólita foi coroada rainha das amazonas, mantendo os velhos costumes e as leis impostas por Ártemis, porem ela também viveu uma historia semelhante ao envolver-se com Teseu;

-Mas porque a mascara? Se de um jeito ou de outro elas matavam os caras? –Milo perguntou confuso.

-Vocês devem conhecer a forma como Órion morreu, não? –Saori perguntou e os cavaleiros assentiram. –Depois disso Ártemis isolou-se das divindades durante séculos, nem mesmo quando houve a guerra de Tróia, Ártemis abandonou essa posição, deixando Apolo lutar sozinho pelos aqueus e muitos destinos foram traçados;

-Como assim? –Kanon perguntou.

-Foi nessa época que eu decidi voltar a terra como mortal a cada duzentos anos, porem o que ninguém esperava era que Apolo resolvesse se envolver nisso;

-Apolo? –Aiolia falou.

-Uma das primeiras batalhas na Terra, entre os cavaleiros de Athena e os cavaleiros celestiais foi quando Apolo resolvera erguer o templo da Coroa do Sol, um templo estrategicamente colocado entre a Bahia e as fronteiras com o Santuário, se alguém lhe atacasse por trás, seria somente se fosse Posseidon o que não seria o caso, então qualquer ataque viria da frente, no caso o nosso santuário; ela esclareceu.

-Bem inteligente; Saga comentou.

-Mas ele não parou ai, em vez de convocar cavaleiros para a guerra ele convocou amazonas;

-Vai saber porque; Mascara da Morte resmungou.

-Pelo simples fato de elas serem menos sensíveis do que os homens; Yuuri rebateu, ouvindo o comentário do cavaleiro.

-Sensíveis? –ele perguntou com os orbes serrados para a jovem que lhe desafiava com o olhar.

-O que ouviu Mascara da Morte; Saori o cortou, antes que houvesse discussões; -Digamos que naquela época os conceitos de pudores eram meio diferentes dos que temos hoje; ela falou com um sorriso sem graça.

-Diferentes, quanto? –Milo perguntou interessado.

-Os homens só iam pra guerra junto com seus namorados; Shina falou e eles poderiam jurar que havia um sorriso irônico em seus lábios.

-Namorados? –Shura perguntou arqueando a sobrancelha.

-Seis anos de treinamento na Grécia e nem pra saber a história do local vocês prestam; Yuuri falou incrédula.

-Algum problema quanto a isso, garota? –Mascara da Morte perguntou enfezado.

-O que acha sirizinho? –ela perguntou com um sorriso jocoso nos lábios.

-Por favor; Saori pediu, suando frio. Se cavaleiros e amazonas resolvessem se atracar ali não seria nada agradável. –Mas Shina esta certa, antigamente os exércitos eram compostos só por gays; ela falou, vendo os cavaleiros torcerem o nariz e olharem um para os outros. –Os homens eram mais emotivos, por isso os reis da época acreditavam que se colocassem um casal pra ir para a guerra e caso um dos dois morresse o desempenho do outro seria melhor pelo desejo de vingar o parceiro; ela esclareceu.

-Que isso; Milo falou horrorizado.

-Mas as mulheres não tinham nada a perder, eram boas naquilo que faziam, podiam facilmente superar um desafio e não se apegavam facilmente a coisas desnecessárias; Saori explicou.

Todos ficaram em silencio esperando que a deusa continuasse, porque mesmo que conhecessem algo sobre a historia antiga, aquilo era realmente novo.

-Apolo embora fosse o Deus do Sol, ele por vezes poderia ser tão frio e insensível quando o próprio Thanatos; Saori falou.

-Thanatos? –Shaka perguntou.

-Deus da morte, irmão gêmeo de Hypnos, Deus do Sono; Marin respondeu.

-Digamos que por prever que pessoas emotivas de mais poderiam ser um problema para si, ele preferiu as amazonas; a Deusa falou, vendo Mascara da Morte arquear a sobrancelha, mas não falar nada. –Ele não gostava de emoções das quais no fosse capaz de controlar e naquela época somente as amazonas conseguiam atingir esse nível, por isso ele formou um clã só seu de amazonas, fazendo-as abdicarem completamente de uma vida social e usarem a mascara, que seria o símbolo de invulnerabilidade que elas representavam ao longo dos séculos.

-Ahn! Isso não foi muito inteligente, não é? –Aiolia comentou com um sorriso nervoso.

-Pelo contrario, para ele foi cem por cento eficiente, pois o terror psicológico que ele fez em cima das amazonas foi tão grande que elas simplesmente aceitaram essa nova regra, readaptando as antigas leis, a partir dali elas matariam aqueles que vissem seu rosto, ou abdicariam da vida de amazona por isso; Saori falou. –Porém aquelas que escolhiam a segunda opção, dificilmente ficavam vivas por muito tempo;

-Ai surgiu aquele lance de matar ou amar? –Mascara da Morte perguntou.

-Pelo menos o sirizinho não foi afetado pela água do mar; Yuuri comentou com Shina, alguns cavaleiros abafaram o riso, não era normal ver alguém enfrentando o canceriano e que não tivesse medo de ter a cabeça enfeitando o quinto templo.

-...; Mascara da Morte estreitou os orbes perigosamente, mas preferiu não responder.

-Foi isso mesmo Mascara da Morte; Saori respondeu antes que mais uma discussão começasse. –E a partir daí isso começou a ser passado para cada nova geração de amazonas não importando a qual Deus ela fosse servir.

-Mas e esse documento, o que tem ele? –Shura perguntou um tanto quanto impaciente.

-Apolo não contou a Ártemis que fez isso com as amazonas, o que causou uma certa divergência de opiniões entre eles; ela explicou. –Embora Ártemis não liderasse mais as amazonas, ela não admitia que outros deuses se envolvessem nisso, inclusive o próprio irmão, ainda mais numa época em que eles estavam com relações cortadas; ela falou, fazendo uma pausa. –Furiosa com isso, Ártemis foi até Zeus exigindo que Apolo se retirasse do campo de batalha e libertasse as amazonas;

-Mas não foi bem isso que aconteceu, não é? –Aioros perguntou.

-Não, Zeus, Apolo e Posseidon foram durante anos aliados e principalmente estiveram juntos protegendo o muro de Tróia, ele simplesmente não iria impedir que o filho fosse vitorioso em campo; Athena falou. –Porem Ártemis não estava disposta a deixá-lo em paz enquanto uma atitude não fosse tomada; Athena falou.

-O que ela fez? –Kamus perguntou.

-Invocou o conselho dos Deuses e exigiu que o onipotente votasse a favor da libertação das amazonas, como o voto da trindade era crucial para as decisões, não foi difícil que ele convencesse Posseidon e Hades a concordarem com isso, sendo que os dois lucrariam com tal fato; Saori explicou.

-E ele votou? –Afrodite perguntou.

-Sim, um documento foi escrito do próprio punho de Ártemis e assinado por todos os membros do conselho, menos Apolo; ela falou.

-O que ele fez dessa vez? –Shura perguntou impaciente.

-Nunca foi provado, mas misteriosamente esse documento sumiu do mapa após o termino da reunião com o conselho, foi praticamente dado por perdido, porem esse tipo de decreto era selado apenas uma vez, e o documento sumiu antes de chegar ao santuário que era uma espécie de matriz na época, ele estava perdido até semana passada; ela concluiu.

-Então quer dizer que durante séculos as amazonas se sujeitaram a essa repressão por algo abolido há muito tempo; Aiolia falou indignado.

-Infelizmente; Dohko respondeu com pesar.

-Então, agora as amazonas não vão mais usar mascaras? –o leonino perguntou.

-Nem todas, Aiolia; Dohko respondeu.

-Como assim?

-Foi decidido que somente as aspirantes continuaram com isso até serem sagradas como amazonas; o ex-ancião respondeu.

-Então, veteranas sem mascaras e fedelhas com; Milo comentou interessado.

-Mais respeito cavaleiro; Shina falou com a voz tão cortando quanto o fio de uma navalha.

-Uh! –ele murmurou engolindo em seco.

-Da mesma forma que uma fedelha dessas pode superar uma veterana, um fedelho como você mesmo diz, pode muito bem lhe dar uma surra inesquecível, que por sinal não seria a primeira vez, se bem me lembro; ela completou, com um brilho de fúria queimando nos orbes azuis.

-Não foi bem isso que eu quis dizer; ele falou, gesticulando nervosamente, até levar um cascudo do capricorniano pra ficar quieto.

-Patético; Yuuri falou com indiferença.

-Por favor; Saori pediu, querendo evitar um desentendimento maior. –Estamos aqui pra esclarecer isso, não discutirmos; ela completou, lançando um olhar cortante ao Escorpião que entendeu o recado para não abrir mais a boca.

-Como quiser; Shina respondeu, dando de ombros, indiferente.

-Elas me assustam mais assim; Milo falou baixinho pra Shura.

-Se você pensasse antes de falar qualquer besteira, não passaria por isso; ele respondeu.

-Hei! Até você? –ele perguntou indignado.

-Milo; Saga chamou, fazendo o cavaleiro se encolher na cadeira. –Assim é melhor;

-Bem, aquelas que usarão a mascara, vão ser somente aspirantes que ainda não tem um mestre fixo ou uma armadura especifica para concorrer; a deusa explicou.

-Mas não entendo uma coisa; Aiolia começou. –Porque Ártemis fez isso?

-Ela acreditava que as mulheres poderiam equiparar-se aos homens e superá-los em muitos aspectos, então se eles não usavam mascaras, porque elas deveriam?

-Tudo isso por causa de Apolo; Mú sugeriu.

-Só por isso; Saori respondeu.

Todos ficaram em silencio, entendiam perfeitamente o que ela queria dizer sobre isso. Desde que chegaram ao santuário anos atrás viam a vida das amazonas como a ultima parada antes do inferno, um inferno de privações e dor que nem mesmo eles chegaram a passar, simplesmente por causa de um idiota egoísta que se julgava melhor que o resto da humanidade.

-Podemos ir agora? –Marin perguntou quebrando o silencio.

-...; Saori assentiu. –Obrigada por terem vindo; elas assentiram, levantando-se das cadeiras e afastando-se sob o olhar intrigado de alguns cavaleiros. -Bem, agora damos por encerrado essa reunião; Saori completou, se levantando. –Tenham uma boa noite e obrigada por terem vindo;

Os cavaleiros assentiram, cada um foi saindo do grande salão, enquanto Saori permanecia ali com Shion, vendo-os saírem silenciosos.

-Srta, poderia lhe falar? –Kamus perguntou, ficando por ultimo no salão.

-Algum problema Kamus? –Shion perguntou estranhando o fato do aquariano estar tão silencioso durante a reunião.

-Gostaria de pedir autorização para ir a Chipre; ele falou.

-Sabe que não precisa disso Kamus, é claro que pode; Saori respondeu paciente.

-Obrigado, agora com licença, boa noite; ele falou se retirando.

-O que será que ele vai fazer lá? –Shion perguntou curioso.

-Não sei; ela respondeu, porem o sorriso enigmático nos lábios dizia outra coisa.

Ele caminhou com calma até a saída do templo, lançando um demorado olhar para o céu, porem seus pensamentos estavam a milhas dali, milhas não, anos atrás, quando vira pela ultima vez um anjo de gelo, ao qual devia uma promessa.

IV – Nunca Saberemos.

Coroa do Sol...

Shina estava encostando em um dos pilares do templo, porem na parte mais afastada que lhe dava uma bela vista da Bahia, a lua prateada refletia-se no meio do negrume do mar.

A amazona mantinha o olhar vago, pensando em tudo que havia acontecido em apenas um dia. Sua vida literalmente dera um salto e uma pirueta. Muitas coisas seriam diferentes agora, porem tinha medo de saber se seria uma mudança pra melhor ou não.

Ele aproximou-se com cautela. Desde que sairá do ultimo templo a estava procurando, quando já pensava em desistir lembrou-se do Coroa do Sol, um lugar propicio para se pensar.

Porque estava ali? Talvez nem mesmo ele soubesse, porem precisava de uma resposta e sabia que ela a única a poder lhe dá-la.

Parou alguns segundos a observando, a pele alva parcialmente iluminada pela lua, a face serena e os orbes azuis vagos, tão diferente; ele pensou.

-O que quer cavaleiro? –ela perguntou, sem ao menos mover-se em sua direção.

-Uh! –Shura murmurou confuso, mesmo tentando ocultar seu cosmo ela sentira sua presença. –Como sabia que eu estava aqui? –ele perguntou curioso, aproximando-se.

-Não uso perfume masculino, muito menos com cheiro amadeirado; ela respondeu eloqüente.

-...; Shura abriu a boca, para simplesmente fechá-la em seguida sem emitir som algum, só agora notara esse pequeno detalhe.

-Obrigada; Shina falou, quebrando aquele silencio que se instaurara.

-Pelo que? –ele perguntou confuso, ao vê-la praticamente na sua frente agora. Assustando-se com o fato de não sentir sua presença.

-Salvou minha vida, lhe sou grata por isso; ela respondeu, estendendo-lhe a mão.

Shura pareceu hesitar, não esperava uma atitude assim da amazona. Na verdade, pensara que levaria uma surra no mínimo inesquecível por estar na encosta, espiando-a, embora ela não soubesse desse fato e por ultimo tê-la visto sem mascara, mas essa atitude lhe confundiu. Estendeu a mão, apertando a da amazona, ambos engoliram em seco ao sentirem uma espécie de corrente elétrica passar por seus corpos.

Shina puxou a mão, desviando o olhar. Ela afastou-se, parando quase lado a lado com o cavaleiro, sem fitar-lhe os olhos, porem antes que pudesse ir a voz seria e grave dele a deteve.

-O que você escolheria?

-O que? –ela perguntou com o cenho franzido.

-Se Athena não houvesse abolido o uso da mascara, o que teria escolhido? –precisava saber, não sabia ao certo o porque, mas precisava. Não poderia deixar que essa duvida lhe atormentasse mais.

Shina ficou surpresa por ele lhe perguntar isso. Achava que ele simplesmente iria obliterar aquele episodio de sua mente, porem as leis das amazonas agora eram outras.

-Isso importa? –ela perguntou, tentando mostrar-se indiferente.

Shura engoliu em seco, pego de surpresa por essa pergunta, sabia que a amazona simplesmente não lhe responderia diretamente, porem nem sabia ao certo o porque estava ali, exigindo respostas das quais nem tinha certeza se queira realmente tê-las.

-Talvez; ele respondeu, surpreso com sigo mesmo por isso.

Shina respirou pesadamente, estavam entrando num campo minado e perigoso. Que coisas ditas ao acaso não seriam suficientes e um deslize poderia desencadear algo que talvez ainda não estivessem preparados para lidar.

-Agora nós nunca saberemos; ela respondeu calmamente, antes de caminhar para a saída do templo, deixando-o lá.

Shura viu-a se distanciar, poderia jurar que vira um meio sorriso em seus lábios, algo realmente rápido, mas talvez nunca viesse saber se ela sorria ou não, da mesma forma que talvez nunca viesse a saber que ela nunca poderia matá-lo, porque? Talvez só o tempo pra responder.

Balançou a cabeça sorrindo, tivera um dia realmente cheio, deixaria pra pensar nisso outra hora. Agora só queria voltar pra casa e obliterar de sua mente alguns pensamentos que sem duvidas não lhe deixariam pregar os olhos, pelo menos assim ele pensava;

Caminhou de volta para os templo, tomando o devido cuidado de não encontrar com ninguém, porem estranhou ao encontrar o aquariano descer as escadarias de seu templo com certa pressa, carregando nas costas uma mochila de viagem.

-Indo viajar, Kamus? –Shura perguntou, fazendo com que ele se assustasse.

-Ah! Shura; ele falou surpreso. –Bem, estou; ele completou com um sorriso sem graça.

-Algum problema? –ele perguntou curioso.

-Não, apenas vou resolver algumas coisas, não vou me demorar; ele respondeu.

-Ta certo, boa viagem; ele desejou.

-Obrigado e boa noite; o aquariano respondeu tomando o caminho do próximo templo e conseqüentemente da saída do santuário.

Seria uma longa viajam da qual nem ele saberia o que o destino lhe reservava para isso.

#Fim#

Saudações meu caros amigos...

Sinceramente espero que tenham gostado dessa crônica. Falar sobre Shura e Shina é sempre algo interessante de se fazer. Como os outros casais que já passaram pela Toca do Baco, eles sempre tem algo novo a nos contar.

Felizmente aquela época conturbada na vida das amazonas chegou ao fim, eu vivo dizendo a Apolo que ele deveria reencarnar pelo menos cem vezes como mortal para pagar algumas coisas ruins que ele andou fazendo, mas ele me ouve, não, não me ouve.

Enfim, aqui chegamos ao fim de mais uma crônica sobre amores e muitas confusões.

Como diria Ilyria, muitas vezes as mascaras que usamos nem sempre podem ser vistas.

O mundo sempre viveu em equilíbrio, na verdade, ele só existe por causa dessa harmonia entre as forças, mas a cada dia, mês e ano sempre aprendemos algo novo, vivendo entre amigos, família e pessoas que com o tempo passam a fazer parte de nós e não simplesmente existirem.

Da mesma forma que existem coisas das quais nós nunca saberemos se poderia ser diferente, por isso me recordo de uma musica chamada "Someday We´ll Know", quem sabe um dia saberemos muitas das coisas que hoje almejamos descobrir, mas que, certamente não estamos preparados para isso.

Aqui me despeço e deixo meus mais sinceros agradecimentos a todos que acompanharam não só essa fic, mas como toda a saga.

Um abraço

E que os Deuses estejam com vocês...

Até a próxima.