NO CAPÍTULO ANTERIOR: Parece que a situação entre Ametista e Snape não melhorou nem um pouco desde que a garota ficara sabendo das "ajudinhas" do mestre a Voldemort. Enquanto a viagem aproxima-se, ela acaba perdendo aquele que mais a apoiava. O sentimento dominara Lupin ou havia mais fatores que o fizeram abandonar Hogwarts? Por outro lado, Harry está incrivelmente feliz... Mas essa felicidade durará após uma presença inesperada no número 4 da rua dos Alfeneiros? CAPÍTULO TRÊS – REVIVENDO O PASSADO

Harry acordou eufórico. Logo, estaria bem longe da rua dos Alfeneiros, longe dos Dursley, longe de uma falsa vida. A primeira expressão que apareceu em seu rosto foi um grande sorriso e a vontade de gritar. Abriu a cortina da janela de seu dormitório e observou o exterior. O tempo estava nublado. Uma tempestade estava a caminho. Mas, nada iria estragar seu dia. Nada.

         Havia combinado de sair dos Dursley por volta de quatro horas e ir para a casa da Sra. Figg. Desceu as escadas e encontrou tio Válter com o rosto mais que vermelho. Harry franziu as sobrancelhas diante da cena. Porém, descobriria em seguida o quê provocara a vermelhidão no velho marido de tia Petúnia. Estava postado na porta, nada mais, nada menos que Sirius Black.

         Harry arregalou os olhos, surpreso. Entretanto, somente depois que foi perceber o que acontecera. Correu até o andar de baixo e paralisou diante do padrinho. Sirius abriu um imenso sorriso. Harry igualmente. Não conseguindo conter-se, Harry abraçou os padrinho numa forma carinhosa e então, ouviram um grito as suas costas.

         - Que é que você pensa que está fazendo?!

         O jovem virou-se e encontrou não apenas tio Válter, mas também a velha Guida, irmã deste, que Harry havia transformado num balão dois anos atrás. Quase três agora.

         - Quem é este homem, Válter? – indagou a mulher, que parecia não estar acompanhada de seus cachorros.

         Válter Dursley tentou acalmar-se. Porém, quando tentara explicar para a irmã quem era aquele senhor, o próprio passou em sua frente.

         - Sou Sirius Black.

         Harry viu Guida arregalar seus olhos, como quando ela arregalara ao ser transformada em um balão. Saíam fora de suas órbitas. A mulher estava fora de si. E foi nesse momento que Harry notou a incrível semelhança entre os irmãos. Ambos pareciam porcos super nutridos. 

         - Você! Você é um fugitivo da polícia! Eu me lembro!

         Sirius bufou impaciente. Já estava cansado das pessoas não lerem os jornais após seu julgamento no Ministério da Magia, onde fora inocentado de todas as acusações.

         - Não, eu não sou um fugitivo da polícia. – respondeu Sirius ríspido.

         Harry viu Petúnia sair da cozinha, enxugando as mãos num avental amarrado a cintura fina e ossuda. Duda estava em seu encalço, tentado em observar a cena e escondendo-se – ou pelo menos tentando – atrás da mãe.

         Harry poderia dar um murro na própria cabeça naquele momento.        - Não! Eu sei que você é um ladrão! Um assassino! Eu sei que é! E eu não gosto desse tipo de gente na minha casa! – repetiu a mulher descontrolada.

         - Essa nem é a sua casa! – gritou Harry em resposta.

         - Cale a boca, seu moleque! – berrou tia Guida, dando mais um passo, apoiada em sua bengala.

         Sirius irritou-se diante da ameaça de Guida sobre Harry.

         - Ninguém fala assim com meu afilhado!

         Tia Guida ficou boquiaberta.

         - AH! Afilhado?! Bem, então você deve ser um dos amigos estranhos do Potter, não é mesmo?! Aquele podre, que se juntou com Lílian e só trouxe desgraça para a família do meu irmão!

         O bruxo não se conteve e retirou a varinha de dentro do casaco negro. Harry tentou impedi-lo, mas já era tarde. Sirius estava quebrando a bengala da velha e fazendo a mulher perder seu equilíbrio e cair de cara no chão. Se a situação não fosse tão séria, provavelmente Harry estaria gargalhando como um louco.

         - SAIA DA MINHA CASA! – ordenou Válter, ficando mais vermelho.

         Sirius ia dar as costas, puxando o braço de Harry consigo, mas algo o fez voltar. Ambos ouviram Guida gritar como uma enlouquecida:

         - PEGUE-O ESTRIPADOR!

         Seu cão preferido. Estripador. Pelo nome, já se pode ter uma idéia de quão calmo e dócil pode ser o animal. O cachorro deu um pulo longo e caiu com as patas cheias de unhas usadas para matar sobre Sirius. Harry virou-se para a mulher caída no chão e berrou:

         - VOCÊ ESTÁ LOUCA?!

         Foi repentinamente que Sirius colocou mais pânico em meio a confusão formada na sala dos Dursley. Quando todos olharam para ver a situação do homem, lá estavam dois cachorros lutando como loucos. Um latia para o outro, como se tentassem discutir.

         Do outro lado da sala estava Petúnia aos berros com Duda, que puxava seus cabelos – os poucos que ainda tinha – de forma absurda. Era patético ver um garoto de quase dezessete anos pulando sobre a mãe e arrancando seus cabelos, querendo que ela a protegesse.

         Válter e Guida assistiam aos cachorros. Enquanto isso, Harry subia ao seu quarto e pegava seu malão, sua vassoura e algumas outras coisas, já para o sexto ano em Hogwarts. Desceu rapidamente e assistiu Sirius, em sua forma canina, abater Estripador. O garoto sequer despediu-se da família e agarrou uma das orelhas do cachorro, que latiu em seguida, tirando-o de lá.

         Válter olhou sua casa mais uma vez destruída. Parecia que toda vez em que chegavam as férias escolares do garoto, o inferno descia no número quatro da rua dos Alfeneiros.

***

- O que aconteceu aqui?!   

         Harry levara Sirius – quase arrastado – até a casa da Sra. Figg. O mundo era outro na residência do outro lado da rua, mas ainda assim, Sirius sentia a necessidade de terminar a história com Válter e Guida. Porém, Sirius não esperava que aquela mulher tivesse um cachorro tão feroz quanto era Estripador. Após transformar-se, voltando a ser um humano, Harry e Sra. Figg puderam notar como aquela briga havia machucado o bruxo. Ele estava com o rosto cheio de cortes, alguns até profundos, na região de seu tórax.

         Entretanto, Sirius não tinha pensado nos minutos seguintes. Cerca de uma hora após a confusão na casa dos Dursley, chegou Arabella. E junto com ela, sua mania de perfeição.

         - Eu perguntei o que aconteceu aqui! – repetiu nervosa. 

         Arabella estava postada ao lado da porta de entrada da casa da mãe. Cruzara os braços na altura de seu peito e encarava Sirius Black com intensidade. O homem ainda não havia procurado fazer um feitiço para curar os cortes, portanto, a mulher via o resultado de sua pequena visita à casa dos Dursley.

         - Harry – a bruxa virou-se para o garoto, estando ao lado de Sirius. – O que você está fazendo aqui? – perguntou num tom mais calmo.

         O garoto engoliu em seco e respondeu:

         - É que... bem, eu resolvi vir mais cedo.

         Arabella encarou Harry profundamente. Ela lia seus pensamentos.

         - Você está mentindo.

         Sirius levantou-se no momento seguinte. Arabella cortou o contato visual com Harry e tornou-se para o homem, que teve uma enorme dificuldade em postar-se de pé na sala. A Sra. Figg assistia tudo da porta da cozinha.

         - Eu te explico. – respondeu Sirius seriamente.

         O homem começou a subir as escadas para o andar superior. Arabella observou-o até sumir na escada. Depois, virou-se para Harry e para sua mãe.

         - Se Rony e Hermione chegaram, receba-os – disse ao afilhado seca. – Mãe, você tem alguns algodões e remédios para os cortes dele?

         A Sra. Figg entrou na cozinha. Harry continuou a encarar Arabella.

         - Minha mãe gosta de costumes trouxas.

         Harry assentiu, abaixando a cabeça. Arabella serviu-se dos objetos e subiu as escadas igualmente. O garoto ficou sentado em um dos sofás da sala. Logo, Sra. Figg sentou-se ao seu lado, trazendo uma bandeja de café da manhã.

         - Achei que seria bom depois de uma manhã tão agitada.

         Enquanto isso, Arabella seguia pelo corredor do andar de cima. Desconfiou onde Sirius estaria. E logo o encontrou.

         O homem estava sentado em sua cama. Ele acabara de retirar o casaco negro e largara acima do móvel. Arabella entrou no dormitório e fechou a porta às suas costas. Sirius sequer olhou para ela. A mulher deixou o algodão e o remédio na cômoda e postou-se novamente de pé e numa expressão corporal furiosa.

         - Que foi que aconteceu, Sirius?

         - Eu fui até a casa dos parentes do Harry.

         Arabella arregalou os olhos.

         - O que?! Você desafiou uma ordem do Ministério, Sirius! – ralhou a bruxa exasperada.

         - Eu sei, eu sei – irritou-se Sirius. – Mas...

         - Não! Você é especialista em quebras de regras, não é mesmo?! Você não entende que, se alguém descobrir que eles te viram, não só você, como eu também serei impedida de ficar com a guarda de Harry?!

         Sirius levantou-se da cama nervoso.

         - Não acha que eu também não pensei nisso antes, Bella?! Sei que corri o risco de perder Harry...

         - Para sempre!

         - Sim, para sempre! Mas, eu precisava ver a cara daquelas pessoas que o maltrataram durante tantos anos, Bella! Eu precisava fazer algo, alguma coisa que os fizesse sentir na pele o que eles fizeram com Harry! Eu só estava pensando nele! Somente nele!

         Arabella suspirou e retrucou:

         - Esse é o seu problema, Sirius! Comece a pensar não apenas diretamente numa pessoa, mas naquelas que serão afetadas também!

         - AH! Olha só quem fala! – Sirius apontou um dedo perto do rosto de Arabella. – Quem foi que se mudou para a França?! Que desapareceu por anos?! Que sequer quis saber do afilhado?! Que sequer quis saber de mim, preso naquele inferno?!

         - Isso não é verdade, Sirius! – gritou Arabella, interrompendo-o e calando-o. – Você foi a pessoa que eu mais pensei durante todos esses anos! Passando o que passou em Azkaban! Sofrendo o preconceito do mundo bruxo e trouxa! Sendo perseguido, mesmo sendo inocente! Você não acha que eu quis me matar por não ter notado quem era o verdadeiro traidor?! Não acha que eu me culpo todos os dias por não ter conseguido impedir a morte de Tiago e Lílian?! De não ter podido ajudar Harry quando ele mais precisava?!

         Sirius calou-se diante de tudo que Arabella tinha gritado. Mas, ela ainda não tinha acabado.

         - VOCÊ ACHA QUE EU NÃO ME CULPO DE NÃO TER LIDO OS PENSAMENTOS DO PEDRO E PERCEBIDO COMO ELE IRIA NOS APUNHALAR, COMO ELE IRIA NOS ENGANAR, MATAR LÍLIAN, MATAR TIAGO?!

         Arabella suspirou profundamente depois de berrar a última frase. Levou seus olhos ao chão e segurou ao máximo possíveis lágrimas que ameaçavam cair. Sirius pareceu esquecer todas as acusações sobre a mulher e caminhou até ela.

         - Nós ainda temos a chance de consertar o erro, Bella – disse em um quase sussurro. – Nós podemos impedir que ele ajude Voldemort a matar Harry.

         - Mas o erro maior já foi cometido. – respondeu em baixo tom.

         - Não, talvez o erro maior ainda esteja prestes a ser cometido. Nós fomos escolhidos por Tiago e Lílian para proteger Harry. E nós vamos cumprir este acordo. Eles confiaram em nós. Devemos honrar este compromisso.

         Arabella não conseguiu segurar-se e deixou-se chorar. Colocou as mãos sobre o rosto, cobrindo-o. Sirius aproximou-se mais dela e retirou cada um dos dedos de seu rosto. Pegou-as com carinho e em seguida, envolveu Arabella num forte abraço. Nas outras oportunidades, sempre fora Arabella abraçando, confortando Sirius. Agora, acontecia o contrário. A mulher necessitava de uma pessoa acolhedora, que a entendesse melhor que ninguém. E, talvez, essa pessoa fosse Sirius.

***

Fazia pouco mais de uma hora que Arabella e Sirius haviam subido para conversar. Harry e a Sra. Figg divertiam-se assistindo televisão. Foi quando a campanhia da casa tocou. A mãe de Arabella levantou-se. Em seguida, ouviram mais um toque contínuo, insistente e irritante, como que estivessem apertando a campanhia sem parar.

         Ao abrir sua porta, Sra. Figg encontrou um garoto, mais alto que Harry, magro, com sardas charmosas nas bochechas, olhos ligeiramente azuis e cabelo cor de fogo. O jovem apertava a campanhia sem parar. Ao ver a senhora à sua frente, retirou o dedo da campanhia.

         - Olá. – cumprimentou acanhado.

         Sra. Figg mandou-o entrar. Ouviram Harry gritar da sala:

         - Quem é que não sabe tocar uma campanhia?!

         O jovem virou-se para a porta e encontrou um Rony mais vermelho que nunca. A Sra. Figg estava ao seu lado, as bochechas rosadas de forma igual, mais em menos intensidade. A cena era engraçada.

         - Rony! – gritou como se não se vissem há meses.

         Harry deu um pulo até o amigo e eles se abraçaram. Rony era bem mais alto que Harry e deu quase um cascudo em seu cabelo desgrenhado.

         - Como está, Harry?

         O garoto disse que não tinha muitas novidades. Sentaram na sala e Rony, claro, não deixou de ficar bobo com a televisão. Pouco tempo depois, a campanhia tocou novamente. Somente uma vez. A Sra. Figg pediu que Harry abrisse a porta.

         Do lado de fora, estava postada com um malão mais que gigante, Hermione. A garota, se isso fosse possível, estava mais bela do que no ano anterior. Usando um vestido que revelava já suas curvas corporais, e um casaco até seus pés – era verão, mas o dia estava frio – Hermione abriu um grande sorriso ao amigo.

         - Hermione! – festejou Harry.

         Hermione enlaçou Harry, abraçando-o fortemente. Não parecia um mês que não se viam igualmente. A saudade entre eles era enorme. E Hermione também parecia ter crescido demais para tão pouco tempo. Harry estava deslumbrado.

         Quando o garoto virou-se para trás, encontrou Rony fuzilando-os com o olhar. "Não! Ele está com ciúmes de mim com Hermione!", pensou Harry, segurando a risada.

         Hermione entrou vagarosamente na casa, Harry ajudava-a com a mala. A garota deu uma olhada geral e voltou seus olhos castanhos para o garoto à frente. Rony não conseguira tirar os olhos dela. Hermione notara como ele estava diferente.

         A garota aproximou-se dele e deu um beijo em sua bochecha. Rony não perdeu tempo e tornou sua boca na direção da dela. Logo, Harry estava indo sentar no sofá, bem longe deles, que trocavam um beijo mais do que animado. Ambos sentiam-se bem novamente. A sensação maravilhosa e reconfortante de ter um ao outro nos braços era mais que perfeita.

         Decidiram acabar com a sessão de beijos apenas quando a Sra. Figg adentrou na sala, querendo servir o almoço a eles. Hermione ajudou-a com os pratos e talheres, enquanto Rony colocava as comidas sobre a mesa. Sra. Figg pedira a Harry que chamasse Arabella e Sirius.

         No andar de cima, Harry imaginou que eles estivessem no quarto de Arabella. Seguiu até ele e bateu na porta. Ninguém respondeu. Decidiu entrar devagar. Observou-os discutindo ligeiramente.

         - Você é muito fresco, Sirius! Isso não dói nada!

         - Não é você que está aqui, não é? Então fique quieta!

         Harry não deixou de rir. Arabella estava curvada sobre Sirius, deitado na cama, sem a camisa, deixando à mostra os cortes da luta com Estripador. O bruxo reclamava que Arabella estava sendo cruel demais com ele ao passar o remédio para cicatrizar. Já que ele sempre fora acostumado a ser curado pela magia, sem dor, aquilo era realmente uma tortura a Sirius.

         Arabella também não deixava por menos. Era ridículo vê-lo daquele jeito, desprotegido e resmungando como uma criança de dois anos ao levar uma injeção.

         - A Sra. Figg mandou avisar que o almoço está pronto. – disse Harry, segurando a risada.

         Só então Sirius notou que Harry estava ali. Levantou imediatamente, fazendo Arabella desequilibrar-se e cair da cama, no chão. Porém, um dos botões de seu casaco enroscou num dos botões da calça de Sirius, levando-o ao chão igualmente, em cima dela.

         Harry preferiu deixar o aposento, e caiu na risada assim que fechou a porta. Dentro do dormitório, podia-se ouvir o gemido de sofrimento da bruxa.

         - AI! Sirius, saia de cima de mim! – resmungou Arabella, quase sem ar.

         Sirius tentou apoiar seus braços no chão, tentando levantar, como se fizesse uma flexão. Deu de cara com o rosto de Arabella, contorcido de dor. Ele havia caído em cima de um dos ombros dela, deslocando-o.

         O bruxo tentou alcançar sua varinha, mas não conseguiu. Uma das pernas de Arabella envolvia e prendia as outras duas de Sirius, junto com um dos pés da cama. Sirius soltou um suspiro impaciente.

         - Eu acho que você deslocou o meu ombro. – disse Arabella num tom doloroso, finalmente.

         Sirius procurou sua varinha novamente, mas não conseguia alcançá-la de jeito nenhum. Resolveu tirar uma das mãos em que apoiava, e deixou metade do corpo em cima de Arabella. Tocou a região do pescoço da mulher. Arabella franziu suas sobrancelhas. Sirius tinha colocado muita força. Decidiu então, sendo mais delicado, escorregar seus dedos pela extensão do ombro da bruxa. Dessa vez, Arabella sentiu, não dor, mas sim um arrepio. Sirius notou. Sorriu levemente. Fazia anos em que não provocava isso numa mulher tão fortemente a ponto dele perceber.

         - Sirius – chamou Arabella, tentando disfarçar e desviando o homem de seus pensamentos. – tente convocar sua varinha. Concentre-se.

         O bruxo concentrou-se e gritou:

         - Accio varinha!

         Rapidamente, a sua varinha veio parar em sua mão esquerda. Conseguiu soltar suas pernas, levantar e fazer o ombro de Arabella voltar ao seu lugar original. A bruxa levantou-se e agradeceu a Sirius. O homem notou que ela evitou seu olhar e que mordeu seus lábios. Ela estava envergonhada.

***

Eram sete horas da noite. Sirius estava sentado num dos sofás da sala, batatas fritas entre os dentes. Sra. Figg havia saído para uma reunião no Ministério da Magia e deixou alguns petiscos para os jovens e o bruxo. Hermione e Rony optaram por ficarem sentados nos fundos da casa, num balanço, namorando. Um mês havia sido demais para eles.

         Arabella aparatara há pouco mais de duas horas. Teria de terminar alguns assuntos pendentes e comprar entradas para alguma peça de teatro para a noite seguinte. Claro, ela ainda tinha de ir a Hogwarts para pegar Ametista. Seguiriam em pouco tempo até o primeiro destino da viagem e a mulher fizera questão de não contar a ninguém sobre a visita feita na escola de manhã.

         Sirius e Harry estavam engraçados. O padrinho do garoto estava com as mãos engorduradas por causa das batatas, enquanto Harry tentava enxergar as legendas de um filme francês. Ele estava sem óculos.

         - Bella o consertará quando voltar. – dizia Sirius com a boca cheia.

         - É, eu espero. – respondia o garoto sem dar muita importância, ainda tentando distinguir as letras na televisão.

         Na verdade, um acidente havia acontecido poucos minutos antes. Harry estava pegando um copo de leite na geladeira quando Rony esbarrou no corpo do amigo, fazendo seu óculos cair no chão, assim como o copo, que quebrou-se. O problema maior foi que Sirius estava voltando dos fundos e pisou no óculos, partindo-o. Um feitiço de reparo não conserta óculos com graus especiais como os de Harry.

         Sirius então, havia dito que Arabella sabia como consertá-lo. O bruxo contava como a amiga era a primeira dos anos e dedicava-se inteiramente aos estudos. "E eu pensava que Hermione poderia ser a única maluca!", dizia Rony, levando um cascudo em seguida.

         Logo, o pacote de batatas acabara e Sirius fora lavar suas mãos. Passou perto do relógio e deu um pulo.

         - Já?! Bella está atrasada! – o homem virou-se ao afilhado. – Fique aqui esperando Bella que eu irei ajeitar minhas coisas. As suas estão arrumadas? – Harry confirmou. – E as de Hermione e Rony? – Harry deu de ombros, mas apontou as malas no chão do hall de entrada. – Você não imagina como ela pôde ser paranóica com essas coisas! – finalizou, subindo as escadas quase correndo.

         Harry permaneceu na sala, mas preferiu desligar a televisão. Subiu até o quarto de Arabella e checou pela última vez se já estava tudo preparado. Ao sair, tropeçou em algo no chão. Virou-se para trás e encontrou o porta-retrato com sua foto e a de Ametista. Pegou-o e observou-o. Agora, Harry estava corando furiosamente e a garota sorria plenamente a ele.

De repente, Harry ouviu uma série de barulhos no andar inferior. Desceu devagar, com a varinha em punho. Não se ouvia nenhuma voz. A sala estava deserta, assim como o hall. Harry foi caminhando até a entrada da cozinha.

         - Você vai mesmo usar isso? – Harry ouviu uma conhecida voz dizer as suas costas.

         Virou-se e tentou certificar-se de que era mesmo quem ele estava pensando. Estreitou os olhos, já que estava sem os óculos. A luz da sala estava apagada, somente as luzes da rua iluminavam o âmbito.

         - Ametista? – arriscou temeroso.

         A pessoa aproximou-se mais dele. Harry pôde então, enxergar olhos profundamente azuis encarando-o. A luz acendeu-se. Arabella estava entrando na sala, carregando uma mala. Mas nenhum dos dois notou que a mulher precisava de ajuda. Harry encontrou um rosto sorridente, carregando um olhar ligeiramente malicioso a ele.

         - Vai ou não vai usar isso em mim?

         Harry corou furiosamente ao perceber que era realmente Ametista. Ela trajava um suéter verde escuro e uma saia de pregas negra. Observava-o com tanta felicidade – que tentava a muito custo esconder – e intensidade que ambos coraram mais uma vez. Após o abraço caloroso na estação e a noite no lago, sentiam-se estranhos e ao mesmo tempo, muito à vontade perto um do outro. Harry procurou controlar a respiração que se tornava levemente ofegante na presença dela. Um turbilhão de emoções tomou conta da sua mente naquele momento. Não sabia o quê responder.

         - Você está me ouvindo, Potter?

         Harry engasgou.

         - Potter? Você não vai voltar a me chamar pelo sobrenome, vai?! – indagou surpreso.

         Ametista riu. O jovem tinha uma expressão incrédula. Foi quando ele percebeu que ela só estava tentando irritá-lo. E conseguira.

         - Será que vocês dois poderiam dar uma ajuda aqui? – ouviram a voz esganiçada de Arabella no canto oposto da sala.       

         Sirius apareceu repentinamente, tentando colocar uma jaqueta, sem sucesso. Paralisou ao ver Ametista parada de frente para Harry. Seu coração acelerou e pareceu parar depois. Não havia encarado-a depois de toda a confissão sobre seu passado e de Hariel, sua mãe. Ametista chegou a perder a fala e procurou correr o olhar para longe do homem. Harry e ela carregaram juntos a mala de Arabella, que tentou entender qual era o problema de Sirius com a peça de roupa.

         Pouco depois, a Sra. Figg estava chegando do Ministério da Magia. Disse que tudo estava normal e procurou adiantá-los. Iriam viajar a noite até Londres. Após todos se despedirem dela, Sirius chamou o Nôitibus Andante, que logo, estava prontamente à sua frente.

         Ao entrarem, depositaram suas malas no transporte vazio e o bruxo indicou o ponto onde deveriam ser deixados em Londres. Brevemente, estavam deixando-o numa das avenidas principais da cidade.

***

- Está é a parte bruxa de Londres – explicava Sirius enquanto andavam até o hotel onde ficariam hospedados. – Amanhã, eu darei o dia para que vocês possam dar uma volta pelo bairro, mas tomem muito cuidado. À noite, iremos a um teatro.

         - Teatro? – indagou Rony confuso. – Um teatro bruxo, certo?

         - Sim, achamos que seria legal, já que Harry e Hermione nunca foram antes – completou Sirius, que imediatamente levou um cutucão de Arabella. – E ela também. – indicou Ametista.

         Ametista não dava a mínima se Sirius a esquecesse ou simplesmente a ignorasse. Um silêncio tomou a turma. Continuaram andando calados até chegarem ao hotel. Era uma pousada, simples e muito aconchegante.

         O horário já indicava que a maioria dos hóspedes estava jantando ou subindo aos seus quartos para uma boa noite de sono. Sirius guiou-os até a recepção.

         - Por favor, eu fiz uma reserva há cerca de dez dias.

         O recepcionista bruxo fitou Sirius num olhar de desconfiança. Depois, perguntou o número da reserva.

         - Os senhores têm direito a dois quartos, certo? – indagou o atendente.

         - Dois? Eu havia pedido quatro quartos. – disse Sirius surpreso.

         - Bem, é que os dormitórios restantes foram ocupados por uma convenção de bruxos vindos da América, então estamos nos dividindo para atender a todos – Sirius já iria reclamar, quando o bruxo continuou. – Mas ambos os quartos possuem duas camas de casal.

         Arabella e Sirius entreolharam-se.

         - Tudo bem. – aceitou a mulher, antes que Sirius explodisse de nervoso.

         Chegando no terceiro andar, onde estavam os quartos trinta e três, e trinta e quatro, Sirius virou-se para os jovens.

         - Certo. Acho melhor que eu durma com os garotos e Arabella durma com as garotas, certo?

         Rony não gostou muito da idéia. Quando ouviu o atendente dizer que os quartos possuíam duas camas de casal, imaginou-se dormindo abraçado com Hermione. Mas, ele não estava disposto a discutir com o padrinho de seu melhor amigo.

***

Hermione, Ametista, Harry e Rony procuraram conhecer melhor a Londres bruxa durante o dia. Voltaram para o hotel apenas por volta de cinco horas da tarde, as barrigas cheias de cerveja amanteigada e bolinhos de espinafre e batatas. Encontraram Sirius numa das mesas da recepção, preenchendo uma série de formulários e pergaminhos.

         - Como foi o passeio? – perguntou aos jovens, sem retirar os olhos atentos dos papéis.

         - Ótimo – exclamou Harry. – Onde está Bella?

         Sirius suspirou levemente. Os quatro entreolharam-se curiosos.

         - Subiu para o quarto dizendo que precisava começar a arrumar-se – em seguida, resmungou qualquer coisa e completou. – Mulheres...

         - Eu acho que eles andaram discutindo. – murmurou Hermione ao ouvido de Rony.

         Por volta de sete e meia, lá estavam Harry, Rony e Sirius sentados num dos sofás do hall do hotel, esperando as mulheres. Harry vestia uma veste azul escura, Rony uma verde, enquanto Sirius estava belíssimo. Trajava um conjunto azul petróleo e um casaco negro que ia até seus pés. Os cabelos na altura dos ombros, os intensos olhos azuis, que fariam qualquer trouxa ou bruxa cair aos seus pés facilmente.

         Rony parecia querer pegar no sono quando viu um vulto vinho surgir no pé de uma das escadas. Era Hermione, num vestido vermelho que ele não entendia como poderia estar tão colado e belo ao mesmo tempo. Os cabelos lisos, o rosto corado. Ametista vinha logo em seguida, usando um vestido que era uma mistura de um azul e prata. Os cabelos soltos e seus ligeiros cachos soltos como uma cascata sobre seus ombros.

         Sirius não pôde negar que Ametista estava bonita. Aquele olhar deslumbrante de Hariel ainda estava presente na filha. E ele teve uma enorme vontade de ir até ela e dizer o quanto ela se parecia com a mãe. Porém, qualquer pensamento sobre Hariel até aquele momento dissolveu-se como uma névoa de vapor quente de banho. Logo à frente estava parada uma visão magnífica. A cintura desenhada, as pernas compridas e o cabelo que ele tanto amava, negro como a noite, solto, longo e mais do que brilhante. Arabella trajava um vestido preto com uma fenda, deixando à mostra parte de suas belas pernas. Sirius chegou a perder a fala.

         - Estamos muito atrasados? – perguntou a mulher a Sirius.

         - E... eu...eu... acho que não. – respondeu, tornando seus olhos o mais longe possível dos dela. Não queria, pelo menos por enquanto, que ela soubesse como ele andava se sentindo quando ela chegava mais perto.

         - Vamos então. – disse Arabella, guiando os jovens e sendo seguida por Sirius.

***

No alto, no meio da platéia. O lugar que Arabella havia conseguido não poderia ter sido melhor. Sirius sentou-se ao lado da mulher e procurava distrair-se com alguma coisa além do delicioso perfume de camomila.

         - A história é de amor – dizia Hermione aos três amigos. – É, na verdade, a lenda de Hariel e Sam. 

         Ametista virou-se imediatamente para Hermione.

         - Mesmo?! Essa lenda é maravilhosa. Os feitiços, a paixão, tudo.

         Rony e Harry trocaram um olhar, dizendo: garotas...

         Logo, as luzes estavam apagadas e o teatro começara. Rony segurava a mão de Hermione gentilmente, fazendo movimentos circulares no peito de uma das mãos. Sirius e Arabella estavam atentos. Ou pelo menos, era o que parecia. Harry, por sua vez, sentia-se embriagado pelo perfume de Ametista. O característico sândalo que exalava do corpo da garota deixava-o tonto e vidrado.

         Ao passar da história, Harry arriscava um olhar a Ametista e notava o olhar de admiração que a garota lançava assim que um personagem realizava uma transformação corporal. Ele desejou que aquele olhar fosse direcionado a ele.

         Terminada a peça, todos se juntaram no andar inferior do teatro. Hermione e Rony estavam abraçados, envolvidos pelo clima da peça. Mas, também estavam com sono e pediram discretamente para voltar ao hotel. Harry e Ametista toparam voltar juntos deles. Sirius estava esfomeado. Lançou um olhar a Arabella.

         - Certo, vocês voltem ao hotel e fiquem dentro daquele quarto! – ordenava Sirius preocupado. Ele sabia o que poderia acontecer com um casal de namorados num quarto com cama apropriada. – Os quatro juntos!

         Os jovens não deixaram de rir e seguiram seu caminho. Arabella indagou a Sirius onde poderiam ir. O homem já havia formado todo um plano. E em apenas poucos minutos.

         Pouco mais de meia hora, Sirius e Arabella estavam sentados numa mesa ao canto de um restaurante francês. Um par de velas enfeitava o âmbito.

         - Eu sinto falta da França – dizia Arabella saudosa. – Acordar com aquele sol forte e o frio, o cheiro delicioso do pão, os jardins do castelo. Viver aqueles anos em Saint-Pierce, para mim, foi o céu e o inferno.

         Sirius bebericava uma taça de vinho branco.

         - Você sente falta da França, certo? – começou o bruxo, repetindo a mulher. – Aposto que sente falta da sua irmã também.

         - Claro – respondeu em tom melancólico. – Faz quase cinco anos que não a vejo. Não sei se ainda mora naquele castelo, se está ainda na França, não sei.

         O homem pensou mais um pouco, dando tempo de Arabella tomar também um gole do mesmo vinho.

         - Vamos então. – disse Sirius repentinamente.

         Arabella levantou seus olhos na direção do homem.

         - Aonde?

         - Para a França, encontrar sua irmã.

         - Ma... mas... você nunca... bem, nunca gostou...

         - Eu posso aprender, não posso?

         A mulher concentrou seus olhos nos de Sirius e sorriu, agradecida. Ele estava particularmente diferente naquela noite. Comeram alguns pedaços de comida, entre um assunto e outro. Bebericaram mais um pouco do vinho e Sirius perguntou:

         - Sente falta também do Adams?

         Arabella chegou a engasgar com a questão feita subitamente. Ela correu os olhos, confusa e visivelmente perturbada.

         - Eu sei que você não gosta de falar sobre isso, mas... 

         - Não, não. Tudo bem – respondeu a bruxa rapidamente. – Até pouco tempo atrás, sim, eu sentia falta dele. Muita – Sirius sentiu algo revirar dentro de seu estômago. – Mas, eu não sinto mais. Na verdade, acho que vê-lo aquela noite em Hogwarts foi o melhor que poderia ter acontecido. Eu percebi como fui tola e... Isso nunca mais vai se repetir.

         Sirius não tirou sequer por um segundo os olhos de Arabella. Ele sabia como aquilo havia afetado-a. Namoro, noivado, engano.

         - Mas eu já superei isso. David foi muito importante para mim, para meu amadurecimento, tanto como pessoa quanto mulher. Mesmo que não tenha sido tão perfeito quanto parecesse.

         Voltando ao hotel, Sirius e Arabella procuraram entrar num dos quartos, encontrando-o vazio. Trocaram um olhar e arriscaram o outro. Lá estavam dormindo calmamente, numa cama Hermione e Rony, abraçados, e na outra Harry e Ametista, virados um para o outro. Arabella voltou seus olhos para Sirius e disse calmamente.

         - Vamos deixá-los aqui. – e fechou a porta calmamente.

***

No outro quatro, o trinta e três, Sirius procurava alguma coisa para vestir, já que suas roupas estavam no outro quarto. Arabella mexia em sua mala, à procura de seu pijama. Encontrou um antigo álbum de fotos.

         - Olhe só isso, Sirius. – chamou a mulher, sentando numa das camas de casal.

         Sirius aproximou-se e sentou ao seu lado. Exatamente ao sentar, um trovão cruzou o céu e as luzes do quarto se apagaram. Sirius, que estava com sua varinha no meio das vestes, conjurou algumas velas, iluminando o dormitório fracamente.

         Arabella começou a rodar as folhas de fotos. Eram hilárias, tristes, felizes, verdadeiras. Algumas continham comentários como "Sirius Black é um panaca", ou "Hariel tem perebas no meio do nariz", "Tiago é o homem da minha vida, assinado Lílian", "Remo quase agarrou Bella nesta noite" e em seguida, "Eu estava mais que bêbado!", "Você é um idiota convencido, Black!", "Eu também te odeio Dumbledore!". Ao terminarem, Arabella foi fechar o álbum. Sem querer, deixou uma foto cair no tapete. Sirius pegou-a e encontrou ele e Arabella abraçados, corando furiosamente, com seus catorze, quinze anos.

         - Oh! Você achou esta foto? – indagou a mulher tímida.

         - De quando é? – perguntou Sirius curioso.

         Arabella pigarreou e Sirius notou perfeitamente quando ela mordeu os lábios. Lá estava ela envergonhada novamente.

         - Foi de quando nós... bem, estávamos juntos.

         Sirius não deixou de sorrir. Apesar de ser muito popular entre as garotas e ter estado com muitas delas, Arabella fora sua primeira namorada. E, provavelmente, a primeira garota que ele realmente gostara. Sirius sabia, lá no fundo, que amara somente Hariel, mas que também somente sentira algo muito próximo de amor por apenas Arabella.

         - Eu ainda me lembro do primeiro dia do quinto ano. Nós tínhamos terminado o namoro de dois meses antes das férias – Sirius ficara ligeiramente constrangido. – Você estava comentando com a Hariel e a Lílian que havia encontrado o Adams nas férias e eu fiquei roxo de ciúmes. Eu ainda gostava de você.

         Arabella sorriu. Era engraçado ver que Sirius tornava-se levemente tímido ao falar sobre isso.

         - Eu sabia. Mas, eu gostava mesmo era de fazer você correr atrás de mim. – completou a bruxa, rindo em seguida ao ver o rosto incrédulo de Sirius.

         - Você não pode negar que fazíamos uma bela dupla, hein?

         Arabella riu. Os olhos de Sirius estavam intensos.

         - É, fazíamos.

         - E também você não precisa esconder que gostava muito de mim, porque eu sabia!

         Arabella deu um leve empurro em Sirius que caiu sobre os lençóis da cama macia de casal. O homem observava o fogo das poucas velas refletidos na pele branca e lisa de Arabella. "Como é possível eu nunca ter reparado nisso antes?! Ela está muito mais bonita do que pôde estar em toda sua vida!". Arabella sorria. Sirius chamou-a para deitar ao seu lado. A mulher postou-se do outro lado da cama e esticou-se. Sirius retirou a varinha mais uma vez das vestes e apagou as velas. No entanto, criou uma constelação logo acima da cama deles. Era como o teto de Hogwarts, em que se podia ver o céu de dentro do castelo.

         - É lindo, não é mesmo? – dizia Arabella. – Imagine poder alcançar as estrelas, poder adquirir o brilho delas.

         - Astronomia sempre fez seu tipo, não é? – brincou Sirius. – Mas, você lembra quando vimos um céu como este?

         Arabella sabia bem do que ele estava falando. Entretanto, não era mais um garoto de quinze anos ao seu lado. Era um homem, belo e charmoso, que estava deitado ao seu lado.

         - No dia em que você me beijou pela primeira vez. Era primavera e seu aniversário de quinze anos. O céu estava exatamente assim.

         - Como você tem tanta certeza? – indagou Sirius, abaixando o tom de voz e deixando-a mais rouca e irresistível.

         - Porque eu fiz questão de nunca esquecer cada detalhe daquela noite. – respondeu a mestra num sussurro.

         Sirius levantou seu tronco ligeiramente e entortou-o na direção de Arabella, quase debruçando acima do tórax dela.

         - E por que você quis tanto se lembrar disso? – questionou num outro sussurro rouco, ansioso por uma resposta.

         - Porque eu sabia que era especial demais para ser esquecido. Era o beijo do primeiro garoto por quem eu me apaixonei.

         Sirius ignorou todos seus princípios de envolver-se novamente com Arabella e a beijou. No momento que seus lábios tocaram os dela, um novo mundo abriu-se diante dos olhos de Sirius. O que faltava para sua vida, agora ele sabia, era o corpo dela junto do dele. Era o toque que nenhuma teve igual, era o beijo doce e quente ao mesmo tempo em que o deixava maluco. Arabella enrolou os braços em volta do pescoço de Sirius e sentiu os cabelos escuros e lisos do homem roçarem seus braços. Sirius tentava controlar as mãos apenas nas costas de Arabella, mas parecia impossível.

         Foi Arabella quem cortou o momento. Ela afastou-o bruscamente e levantou da cama num pulo. Ofegante e mordendo fortemente os lábios, ela disse:

         - Sirius, isso não está certo!

         - Não?! – estranhou o bruxo, tentando recuperar-se da falta que Arabella fazia em seus braços agora que experimentara a sensação.

         - Você sabe muito bem que... – ela deu uma pausa, pensando na melhor forma de dizer aquilo. – O nosso passado é muito distante. Nós tivemos outras pessoas entre nós durante esse tempo.

         - Se você diz isso por causa da Hariel, fique sabendo que ela sabe muito bem que o quê estamos fazendo não tem nada de errado. – respondeu Sirius levemente irritado.

         - Mas... também, não é só isso...

         Sirius levantou-se da cama e caminhou na quase escuridão – somente o céu falso de estrelas tentava iluminar algo dentro daquele quarto – até Arabella. Ela completou, nervosa, finalmente:

         - Nós não temos mais quinze anos de idade. Nós dois sabemos muito bem que não temos tempo para ficar brincando por aí. 

         - E você também tem consciência de que antes nós só ficávamos nos beijos, certo? – Arabella arregalou os olhos para Sirius. – Agora, eu sei e espero que você também saiba, que entraremos em algo muito mais pessoal e íntimo – Sirius viu Arabella corar furiosamente. – Porque eu posso garantir que, se naquela época já era difícil me controlar, agora será bem mais complicado.

         Arabella não conseguiu conter-se e mordeu os lábios novamente. Sirius deu mais um passo em sua direção e chegou a encostar os dedos de seu pé nos dedos do pé de Arabella. Seus corpos estavam a centímetros, milímetros de distância, e nascia uma incrível tensão entre eles. Lutar contra a vontade de estar mais próximo um do outro era difícil demais.

         - Eu estou disposto a qualquer coisa, porque eu não consigo ficar mais um minuto longe de você. – disse Sirius.

         Foi quando Arabella perdeu o controle e rendeu-se ao desejo de estar mais próxima de Sirius. Logo, estavam trocando mais um beijo, as mãos de Sirius correndo pelas costas e pela fina e desenhada cintura de Arabella. As bocas trocando beijos alucinados e tão ansiados. Quando paravam para se olhar, Arabella via o olhar intenso e tão poderoso que Sirius lançava a ela, deixando-a sem qualquer controle. "Eu sempre esperei por isso!", pensava Sirius com a boca colada na de Arabella, que respondia:

- Eu também esperei por isso.

         Sirius parava de beijá-la e concentrava seus olhos nos dela.

         - Você leu meu pensamento sem estar olhando para mim novamente? – perguntava ansioso, procurando desviar seu desejo.

         - E quantas vezes eu já fiz isso com você, Sirius? – respondia, levando seus lábios aos dele mais dócil possível, fazendo-o carregá-la até a cama e soltando-a aos poucos, os corpos ansiando um contato maior entre eles. Sirius queria sentir a pele de Arabella em contato com a dele. Precisava dela, mais do que nunca.

Pouco depois, via-se sobre o chão do quarto as peças de roupas espalhadas, junto das fotos do álbum. Depois de vinte anos ou mais, uma antiga paixão renasceu naquele pequeno quarto de uma simples pousada de Londres.

NO PRÓXIMO CAPÍTULO: Antes de deixar Londres, Harry encontra uma muito querida garota. A única coisa que ele não esperava era uma enorme cena de ciúmes! Enquanto sua relação com Ametista continua incerta e confusa, outras desmoronam diante de seus olhos. Torça para um final feliz em "O ROMPIMENTO"