NO CAPÍTULO ANTERIOR: Rony decide acabar com o namoro e deixa Hermione incrédula e chocada. Será que isso não passará apenas de mais uma discussão ou será o fim definitivo para os dois?
CAPÍTULO CINCO – PRISMA E A BACIA DE PANDORA
Sentiram o trem baixar sua velocidade vagarosamente, até parar. Pouco depois, Arabella apareceu na cabine novamente, avisando que haviam chegado. Harry e Ametista levantaram exaustos. A viagem havia sido realmente entediante e fatigante para ambos. Ao descerem do expresso, Ametista andou lentamente até o meio da plataforma de embarque da pequenina estação e exclamou, desapontada:
- Não acredito! Nós viemos para cá?!
Arabella parou ao seu lado.
- Qual é o problema, Ametista?
- Eu disse que não queria voltar aqui! – resmungou ríspida.
Harry aproximou-se. Logo viu Hermione e Rony saírem do trem cabisbaixos e com os corpos largamente afastados. Muito estranho, já que desde que começaram a namorar, não se largavam por nada – apenas pelos estudos de Hermione.
- Onde estamos? – indagou à madrinha, curioso.
- Bem vindos a Godric's Hollow. – disse Arabella.
Harry entreolhou-se com a madrinha e arriscou um sorriso. Depois, lembrou de sua última real conversa com Ametista, um mês atrás, onde ela dizia não querer pisar naquela vila novamente. O jovem podia notar o enorme desapontamento no rosto da garota.
Saindo da estação, todos seguiram até uma garagem velha, feita de palha e madeira gasta, logo à esquerda. Havia carruagens dos mais diversos tipos. Sirius reservou duas delas, aonde numa iriam os quatro adolescentes, e na outra ele e Arabella, assim como as malas. Na primeira delas, Harry entrou rapidamente, sendo seguido por Hermione, sentando-se ao seu lado. Rony acomodou-se ao lado de Ametista. Harry e ela não deixaram de cruzar um olhar de desespero ao vê-los daquela maneira.
Uma pequena viagem de meia hora durou seis naquela carruagem. Qualquer iniciativa de conversa feita por Harry ou Ametista acabara em fracasso, já que ou apenas os dois mantinham a conversa, ou saíam discutindo como sempre. Deram graças quando ouviram um barulho, o que indicava que haviam chegado. O sol já estava perto de esconder-se quando Harry desceu. E impressionou-se.
À sua frente havia uma visão incrível. No meio da depressão em que se localizava a vila, a carruagem paralisou. Um caminho de terra batida subia lentamente até o topo de uma colina, sendo cercado por diversas variações de pinheiros. Virou-se para o lado e encontrou Ametista impressionada. Sirius trocou um olhar duvidoso com Arabella, que disse aos jovens:
- Certo, o que faremos é unirmos em pares e concentrarmos – Rony correu para Harry num jeito estranho. – Em seguida, dêem suas mãos e contem até três, desejando alcançar o topo da colina. Nós seremos transportados até lá.
- Não seria mais fácil deixá-los aparatar, Bella? – propôs Sirius, fazendo os olhos dos jovens brilharem. Nunca haviam aparatado de verdade.
- Não, Sirius, eles não possuem ainda permissão e você sabe disso – ela lançou-lhe um olhar ameaçador. – Nada de quebrar regras por aqui.
Sirius virou-se na direção de Rony e Harry, mostrando a língua numa careta enjoada. Arabella poderia lembrar muito bem a professora McGonagall algumas vezes.
Em pares, todos se juntaram e realizaram o processo. Harry concentrou-se, juntou suas mãos com as do amigo, e sentiu um arrepio ao pensar na colina. Abrindo seus olhos em seguida, encontrou-se num jardim imenso, formando caminhos em meio à relva que corria pelo chão, misturada a plantas exóticas e flores. Logo à frente, deparou-se com um enorme casarão, tão belo quanto um palácio da Europa. Suas paredes eram feitas de pedras cinzas e negras, havia alguns detalhes azuis conforme subia a estrutura, terminando em três baixas torres, que davam ao lugar um tom mais mágico ainda.
- Que lugar é esse? – indagou Harry, vendo Rony igualmente impressionado ao seu lado.
Arabella postou-se um pouco atrás do afilhado e sussurrou:
- Isto é parte da nossa história, Harry.
O jovem tornou-se para a mulher e encontrou Ametista e Sirius entorpecidos exatamente da mesma forma. Seus olhos azuis corriam por toda a extensão do casarão, deixando à mostra para Arabella, Harry, Rony e Hermione, como poderiam ser parecidos.
- Mas...mas...ela estava destruída, não estava? – desacreditou-se a garota, boquiaberta.
- Parece que um pouco de mágica e um toque doméstico de Prisma reviveram esse lugar... – sibilou Sirius para si mesmo, deixando que Ametista ouvisse.
- O que?! – pela primeira vez, Ametista virou-se inteiramente para o homem e o encarou após toda a revelação. – Você disse... Prisma?
Os olhos da garota brilhavam cheios de ansiedade e expectativa. Sirius sabia o quanto aquele elfo poderia significar a ela. Conseguiu apenas sentir uma corrente de calor espalhar-se pelo seu esqueleto e sorrir. Ametista nada respondeu, mas Sirius poderia jurar que aquele silêncio era um agradecimento.
Logo em seguida, Ametista tornou-se imediatamente para a porta de entrada do casarão. Ao abrir ela viu uma sala larga e comprida, composta por vários sofás, lareira, mesas, e muitos vasos prateados. O chão era feito de tábuas lustrosas de madeira, cobertas por tapetes coloridos em algumas partes. Diversos tons de cores iluminavam o âmbito. Ametista continuou caminhando, passando seus dedos sobre cada objeto, cada móvel, sentindo algo estranho. Era um sentimento de dor, de arrependimento. Quando piscava, via rápidos flashes de rostos cheios de sorrisos e lágrimas. Decidiu andar mais depressa e deixar-se levar até a cozinha da casa. E foi quando a encontrou.
- Prisma! – gritou emocionada.
O elfo doméstico estava ajeitando uma última cereja sobre o topo de um delicioso bolo de morango. Ao ouvir ao chamado, correu até a entrada do cômodo.
- Minha senhorita! Senhorita! – repetia a elfo, abraçada às pernas de Ametista, seus grandes olhos marejavam. – A senhorita voltou para Prisma, a senhorita voltou!
Ametista conseguiu apenas sorrir. Assistir ao elfo que tentou exercer o papel de mãe durante todos aqueles anos chorar descontroladamente por sua causa era muito mais do que poderia suportar. Levantou sua cabeça e conseguiu entender. O casarão sempre a fascinou. E de fato, ele era mágico. E familiar.
***
As portas duplas de madeira já estavam abertas quando Harry e Rony alcançaram o topo da colina. Eles viraram-se para trás e tiveram uma visão deslumbrante: casas velhas, pessoas caminhando lentamente, flores espalhadas por algumas ruas de terra batida e uma placa no final de tudo, apoiada por dois pilares.
- Que vista! – surpreendeu-se Harry, sentindo algo tocar seu ombro direito.
- Vocês não vão ficar aqui, não é?
Arabella trazia no rosto um largo sorriso. Sirius estava postado na porta juntamente com Hermione. Harry observou Rony desviar o olhar da garota. Começaram a entrar, mas Harry puxou-o pelo braço.
- Qual é o problema dessa vez? – indagou Harry impaciente.
- Não há nenhum problema. – respondeu Rony calmamente.
- Como não há? Que namoro mais confuso o de vocês!
- Não há mais namoro.
Harry arregalou os olhos e observou Arabella chamá-los para dentro do casarão. "Conversamos mais tarde", sibilou Rony para o amigo, seguindo o caminho de grama e flores até as portas.
Logo ao entrarem na sala principal do casarão, Harry e os outros ouviram um choro estridente vindo de um dos cômodos mais à frente. Arabella suspirou.
- Prisma! – sussurrou para si mesma, fazendo Harry, Rony e Hermione entreolharem-se curiosos. – Tem alguém que eu quero que vocês conheçam. – completou a mestra.
Seguiram até o cômodo que se parecia muito com uma cozinha. Harry sentiu um delicioso aroma de amoras e ouviu o estômago roncar. Porém, algo lhe tirou a atenção do perfume das tortinhas que estavam sendo feitas num dos enormes fornos. Havia uma figura minúscula, de olhos verdes muito vivos e esbugalhados, orelhas pontudas e corpo miúdo. Usando um vestidinho que caberia numa criança de cinco anos, amarelo e com detalhes em branco, sua pele era um pouco mais escura que a de Dobby. Claro que Harry compararia aquela criatura ao elfo doméstico de Hogwarts, já que não havia em todo o mundo alguma outra criatura tão distinta quanto um elfo doméstico.
A elfo estava enrolada numa das pernas de Ametista, fazendo sua saia plissada cinza levantar-se até a altura acima de seu joelho. Harry pegou-se concentrando os olhos não na elfo, e sim na saia de Ametista, e deu um chute em sua cabeça mentalmente. "Isso lá é hora de ficar olhando para as pernas dela?!", reprimiu-se.
Arabella aproximou-se de Ametista e apontou para a elfo, agarrada e debulhando-se em lágrimas de felicidade.
- Harry, Rony, Hermione – chamou os jovens. – Esta é Prisma, nossa elfo doméstica – os três cumprimentaram de forma desajeitada a elfo, com certa relutância por parte de Hermione. – Prisma, estes são os amigos de Ametista, Rony Weasley – o garoto sorriu levado. – Hermione Granger – ela lançou um aceno. – e Harry Potter.
Prisma aproximou-se, fazendo cada um abaixar-se até sua altura. A elfo estava estendendo seus longos dedos – Rony reparou que as unhas estavam roídas – e tocou os cabelos do garoto.
- Weasley? Prisma lembra bem dos Weasleys. Família tradicional.
Rony sorriu. Era, provavelmente, a primeira vez que alguém dava alguma importância aos "pobretões" Weasleys. A elfo esticou-se um pouco mais até alcançar os calcanhares da única menina entre eles.
- Você disse Granger? – indagou Prisma com a voz esganiçada para Arabella. – Granger? – repetiu, concentrando seus olhos arregalados em Hermione, pensativa.
A garota jogou um olhar duvidoso e confuso sobre Arabella, que deu de ombros. A elfo piscou duas vezes sobre Hermione e voltou-se para o último garoto. Os dedos corriam pelos cabelos desgrenhados e escuros de Harry, se não alisando suas bochechas e piscando a ele.
- Harry Potter – disse Prisma lentamente. – Para muitos, o senhor é lendário, mas para Prisma, sempre será apenas o garotinho que Prisma viu e cuidou em muitas tardes. O filho dos senhores Potter. – completou a elfo, arriscando algo como um sorriso.
- Prisma, que tal deixarmos as apresentações para mais tarde e terminar de preparar o jantar? Porque eu estou faminto! – brincou Sirius, fazendo Prisma voltar para perto do forno e abaixar-se.
A elfo retirou uma bandeja de ferro cheia de tortinhas de amora, divididas em círculos do tamanho certo para três mordidas. Passou-as para uma travessa e foi distribuindo para os hóspedes.
Prisma caminhava à frente de todos, que a seguiam calmamente. Os olhos de todos estavam muito atentos, encarando cada detalhe e gravando-os. Voltaram a sala principal onde havia uma escada feita com um corrimão belíssimo de mármore ao lado direito, levando aos cômodos no andar acima. Sirius e Arabella foram atrás da turma, transportando as malas com um feitiço de levitação.
A casa havia mudado um bocado desde três semanas atrás. Os adultos percebiam isto muito bem. Prisma havia feito um ótimo trabalho, procurando afastar os vestígios do passado e criar uma nova moradia para eles. A diferença acentuava-se nos jardins e, principalmente, no andar superior. E, como se não bastasse, todo o vilarejo estava novo, cheio de vida e não abandonado como bem lembravam.
Prisma guiou-os até a primeira porta do lado direito. Abriu-a e encontraram duas camas de solteiro, em tons pastéis e um toque verde espalhados pelas cortinas e roupas de cama.
- Os meninos podem instalar-se aqui. – disse a elfo, mandando Rony e Harry ajeitarem suas coisas no novo quarto.
Continuando o caminho, a segunda porta ao lado esquerdo era o dormitório das garotas. Todo decorado com armários e camas em mogno e coberturas e cortinas azuis e brancas. Hermione e Ametista ficaram maravilhadas. Prisma, então, apenas acompanhada de Arabella e Sirius, levou-os até o final do corredor. Parou e voltou seus olhos esbugalhados para ambos.
- Como Prisma não sabia em que quarto os senhores iriam ficar, Prisma deixou dois prontos.
Sirius e Arabella assistiram a elfo doméstica abrir as duas portas do final do corredor. A penúltima era mais um quarto em tons diversos de verde e prata, com uma cama de casal. A última era aquele mesmo dormitório que Sirius carregava várias lembranças. Antes que pudesse responder qualquer coisa, Arabella adiantou-se:
- Prisma, por que os dois quartos possuem apenas uma cama de casal? – a bruxa estava desconfiada.
A criatura sorriu maliciosamente para a mulher.
- Prisma segue apenas ordens do senhor Black.
Sirius viu Arabella crescer os olhos sobre ele e suspirar nervosa, sussurrando em seguida:
- Você me paga, Sirius!
Optaram pelo penúltimo quarto. Arabella teve a leve impressão de estar presente num dos quartos da Sonserina em Hogwarts. Mas, logo o desconforto foi passando e os dois já estavam abraçados no meio do quarto.
- Tudo está indo tão perfeitamente que eu até tenho medo... – sibilou Arabella perto do ouvido esquerdo de Sirius.
- São apenas alguns dias e logo estaremos indo embora daqui, então vamos aproveitar, certo? Garanto que você terá outros assuntos mais importantes para serem tratados na França...
Arabella sorriu timidamente.
- Ainda não acredito que você realmente vai para França comigo. Digo, conosco. – consertou a mulher, rindo.
Sirius arriscou um beijo na mulher, mas ela parou-o e caminhou, ainda grudada nele, até a porta e a encostou até o final.
- Agora sim. – sussurrou delicadamente, deixando Sirius beijá-la após alguns minutos que pareciam longos demais em que seus corpos e bocas estavam distantes.
***
- Nós ainda não vimos os fundos! – agitou-se Ametista, organizando as roupas dentro de um dos armários do quarto.
Hermione estava sentada em sua cama, assistindo a amiga ajeitando suas vestimentas. As próprias estavam ainda guardadas no fundo de suas malas. Sua mente estava trabalhando. Primeiro, os pensamentos desesperados em Rony. Depois a elfo doméstica, que agira estranhamente com ela.
Ametista virou-se para pegar seu álbum de fotografias dentro de seu malão e deparou-se com uma apática Hermione, os olhos focados no nada.
- Mione? – chamou-a discretamente.
A jovem nada respondeu. Ametista sacudiu suas mãos sobre o rosto de Hermione, mas ela continuou calada e indiferente. Ametista bufou impaciente e levantou-se, procurando o álbum na mala novamente. Foi quando ouviu uma voz dizer fracamente:
- Ele ainda não me entende.
Ametista encarou Hermione, ajoelhando-se em sua frente, diante da cama da amiga.
- Rony?
- Após todos esses anos, esses meses, ele ainda não me entende. – repetiu fragilmente, o olhar no nada.
- Vocês ainda estão namorando? – perguntou a garota temerosa.
Hermione continuou calada e Ametista observou uma única lágrima cair do rosto da menina. A neta do diretor de Hogwarts estava pronta para amparar a amiga, quando Hermione piscou e levantou uma das suas mãos, limpando o caminho que a lágrima havia feito em sua face. Em seguida, pôs-se de pé.
- Se ele não entende, dane-se!
Ametista tentou dizer alguma coisa, mas preferiu calar-se. Parecia que Hermione havia apenas sofrido um momento de fraqueza, mas que estava agora recuperada e pronta para continuar sem Rony.
Antes que pudessem pensar em outra coisa, Ametista sentiu alguém puxando a barra de sua saia. Encontrou os olhos verdes de Prisma.
- O jantar, minha senhorita.
A jovem agradeceu e sentou-se em sua cama, terminando de ajeitar o que restava em seu malão. Hermione começava a desarrumar o seu.
- Você já conhecia Prisma? – indagou Hermione repentinamente, procurando tirar sua mente de Rony.
Ametista levantou a cabeça.
- Já, ela era o nosso elfo doméstico.
- Nosso? – estranhou Hermione.
- É, digo, meu e de Snape. – consertou a garota.
Hermione virou-se para a garota e franziu suas sobrancelhas. Ametista estava com o velho álbum de fotografias nas mãos, fechado.
- Snape? – Ametista não entendeu a dúvida de Hermione. – Você nunca falou dele nesse tom...
Ametista abriu o álbum e pegou-se indo diretamente para a última foto. Lá estava ela nos braços de seus pais, Hariel Dumbledore e Sirius Black. Veio à sua mente um vestígio daquela noite em que descobrira toda a verdade sobre Black, Snape, seu avô e Voldemort.
- Eu não quero falar sobre ele. – respondeu secamente, num tom definitivo.
No primeiro quarto, Harry e Rony discutiam ligeiramente:
- A Mione nunca faria isso, Rony! Ela gosta de você e você mesmo sabe disso!
- Não adianta, Harry! Por que ela não teria aceitado namorar comigo na primeira vez?! Por que dizer que não estava pronta, que tinha os estudos?!
Harry suspirou finalmente. Não tinha mais o quê falar ao amigo numa tentativa de fazê-lo ver o erro que estava cometendo. Imaginou a amiga arrasada. Porém, logo sua teoria parecia furada. Ouviu passos vindos do final do corredor e encontrou Hermione e Ametista animadas e puxando-o pelo braço para a refeição. Rony deu de ombros e as seguiram.
***
- Não, não! Prisma gosta muito do que faz! Prisma não seria feliz de outra forma, senhorita. – agitava-se a elfo num banquinho.
- Mas, sem salário, férias remuneradas ou mesmo apenas férias?! É realmente isso que vocês desejam para o resto de suas vidas?
Hermione parecia ter voltado a si e carregando a mesma obstinação que antes. Seu mais novo objetivo era tentar retomar o F.A.L.E. dentro da mansão de Godric's Hollow. Sirius ria a cada frase das duas, que duelavam idéias distintas.
- Esta é a realidade dos elfos domésticos, minha senhora. Devemos exercer e nos empenhar em nossas funções.
- Muitos de vocês são maltratados! – reforçou Hermione, lembrando-se de Winky e o falecido senhor Crouch.
- Prisma sabe apenas de sua família. E Prisma foi designada a cuidar dos Black desde seu nascimento. Prisma sempre serviu ao senhor Black. – e a elfo apontou carinhosamente para Sirius.
- Então, na verdade, sua família sempre serviu a de Sirius? E você foi escolhida para cuidar especialmente dele? – Hermione passara a olhar estranhamente para o padrinho de Harry após ver Prisma afirmar.
- Ninguém tirará Prisma de mim, Hermione – riu Sirius. – Ela cuidou de mim desde pequeno e cuidou da mesma forma da minha mulher e da minha fi...
Sirius paralisou e impediu a si mesmo de terminar a frase. Todos o encaravam com os olhos arregalados, assim como Ametista. Sirius correu seus olhos azuis até os da jovem e pigarreou, dizendo:
- Prisma sempre cuidou de mim e de minha mulher.
Ametista e Sirius continuaram encarando-se firmemente. Quando todos pensavam que tudo permaneceria bem, a elfo resolveu abrir a boca novamente.
- AH! Vamos lá, meu menino! Prisma sabe bem que aquilo não era para ter acontecido! Prisma sempre soube que seu senhor Black nunca quis deixar a senhora Black e a sua filha!
O clima ficou tenso. Ninguém pronunciou uma palavra ou sequer respirou naquele momento. Sirius levantou-se ligeiramente de sua cadeira e pôs-se de pé rapidamente em seguida.
- Eu não tenho filha. – disse pausadamente, os olhos fugindo dos da garota.
Imediatamente, Ametista arrastou a cadeira de jantar para trás e correu em direção a cozinha. Sirius abaixou a cabeça quando ela passou por ele. Arabella encarou-o secamente e disse:
- Perdi a fome. – e deixou-os, subindo para seu quarto.
Sirius parecia entorpecido. Engoliu em seco e seguiu para o andar superior, assim como fez Arabella. No momento seguinte, Harry, Rony e Hermione viram Prisma cair do banquinho e dirigir-se à cozinha. Os três trocaram um olhar desesperado e seguiram atrás dela. No cômodo, Prisma estava amassando a própria cabeça, colocando-a entre a geladeira e a sua porta, batendo-a com força num gesto de fechá-la. Rony correu até ela e tirou-a do meio do eletrodoméstico – na verdade, funcionando por mágica. Prisma cambaleou até uma das cadeiras baixas da cozinha e sentou-se pesadamente.
- É tudo culpa de Prisma! Devia ficar de boca fechada! – e pegou uma garrafa de suco de abóbora sobre a mesa, batendo-a contra a cabeça novamente.
- Pare! Pare com isso! – lutava Rony contra a elfo, conseguindo ao final retirar-lhe a garrafa de sua mão.
Prisma começou a chorar e parecia desconsolada. Rony lançou, finalmente, um olhar de agonia a Hermione. A garota arriscou um sorriso e passou em sua frente, tentando falar com a elfo. Logo, Prisma estava falando:
- Meu senhor Black sempre amou muito sua senhora Black – eles sabiam que ela falava de Hariel. – Essa casa sempre foi cheia de alegria. – os três entreolharam-se.
- Vocês...vocês moravam aqui? – indagou Hermione trêmula.
- Prisma sempre morou aqui. Prisma nasceu aqui!
Os jovens entreolharam-se novamente mais confusos ainda.
- Família de Prisma vem servindo há séculos a família Black – completou a elfo. – E essa é a residência dos Black desde séculos.
Rony lançou um olhar desafiador a Harry. O jovem deu de ombros. A elfo agora parecia não parar mais.
- A família Black é uma das mais importantes do mundo bruxo – dizia Prisma agitada. – Foi um choque e tanto quando o senhor Black disse que se casaria com a filha de Alvo Dumbledore – a elfo assoou o nariz no avental de sua roupinha amarela. – Os senhores Black decidiram então, permitir que a residência fosse passada para o seu filho mais novo, meu senhor.
- Os pais do Sirius saíram dessa casa e deixaram que ele e a mãe de Ametista morassem aqui? – indagou Harry confuso.
- Isso mesmo. Prisma ficou muito feliz do senhor Black casar-se com a senhora Hariel, ela era realmente muito boa conosco, digo, com a família de Prisma – dizia a elfo, saudosa. – Mas então a desgraça caiu sobre a família Black.
Todos franziram suas testas curiosos. Prisma assoou novamente o nariz e esbugalhou mais ainda – como se pudesse – seus olhos verdes.
- Um acidente terrível... – Prisma abaixou a voz, num sussurro. – Na verdade, Prisma duvida muito de um acidente...
- O que aconteceu? – perguntou Hermione aflita.
Prisma abaixou ainda mais sua voz esganiçada e correu seus olhos pela extensão da cozinha, procurando algum bisbilhoteiro.
- Depois de alguns meses do casamento do meu senhor com a senhora Dumbledore, recebemos a notícia de que...que...bem...
- Fale logo, Prisma! – exigiu Harry nervoso, sua cabeça também estava em Ametista, e queria logo correr até a garota e apoiá-la.
A elfo doméstica agitou-se em seu banquinho novamente e ameaçou tomar mais uma garrafa entre seus dedos e surrar-se. Rony foi mais esperto e retirou-a de perto dela.
- O irmão do meu senhor...ele...ele estava morto.
- Sirius tinha um irmão?! – espantou-se Harry.
- Meu senhor Black era o mais novo dos dois filhos dos senhores Black. Thomas era três anos mais velho que meu senhor Black. – completou Prisma, enxugando algumas lágrimas.
- Thomas Black? – ouviram alguém interrompê-los.
Os quatro viraram-se para a direção da porta da cozinha e encontraram Arabella encostada no batente da porta. Hermione e Rony levantaram-se imediatamente e em seguida Prisma caiu do banquinho e saiu correndo até a madrinha de Harry.
- Prisma tinha que contar! Prisma causou tudo isso! Prisma é má! Prisma é má! – repetia a elfo descontrolada, enquanto batia sua cabeça na porta do cômodo.
Arabella desencostou-se do batente e empurrou levemente Prisma para longe da porta da cozinha. A madrinha lançou um olhar paciente aos jovens e sentou Prisma em seu banquinho novamente.
- Não precisa se culpar de nada, Prisma – disse a mulher cautelosa. – Sirius ainda não se acostumou com a idéia de voltar para cá, ter você de volta, ter Ametista tão perto dele. É preciso dar tempo a ele... – Arabella tornou seus olhos negros na direção dos jovens. – Não há problema em conversar sobre Thomas, mas ainda há muito que vocês precisam saber. Apenas, a hora não é a melhor, sim?
Rony e Hermione entreolharam-se e tiveram a mesma idéia de subirem para seus dormitórios. Prisma desculpou-se mais uma vez com Arabella e correu para a sala de jantar, recolhendo o jantar. Harry virou-se para a madrinha e a viu apertando o laço de seu robe. Suspirou em seguida num tom cansado.
- Como ele está? – indagou Harry meio sem jeito.
Arabella, que estava séria até então, arriscou um sorriso tímido.
- Às vezes, Harry, seu padrinho precisa acordar para o presente e esquecer o futuro, nem que por um momento. É isso que eu tentei colocar nesses vinte dias em que passamos juntos – Arabella viu Harry lançar um olhar desconfiado. – Digo, que tivemos de passar juntos por causa dos preparativos para nossa viagem. – consertou num modo confuso.
Harry concordou e olhou para a saída que dava para os fundos do casarão. A madrinha caminhou até ele e disse:
- Vá atrás dela. Ela deve estar precisando de um amigo.
O jovem sentiu Arabella envolver-lhe com seus braços e dar um beijo em seus cabelos. Harry preferiu calar-se, mas jurou sentir o perfume de Sirius, e não o da mulher.
***
- Um irmão? – sussurrou Hermione para si mesma quando subia as escadas junto de Rony.
- Sirius nunca nos disse nada, não é mesmo? – comentou Rony. – Nem a Harry. Também, coitado... Não sei o que faria sem um dos meus irmãos.
Hermione parou no final da escada e virou-se para o garoto e olhou no fundo dos olhos dele. Rony não deixou de corar, mas manteve-se firme.
- Esse é um sentimento muito nobre da sua parte, Rony.
O jovem quase deu um sorriso, mas então se lembrou da tarde no trem e de sua discussão com a garota. Hermione tinha os olhos brilhantes e cheios de expectativa. Queria acabar logo com esse mal-entendido.
- Eu sei ver o valor das pessoas.
Hermione perdeu o brilho em seus olhos castanhos e suspirou.
- Rony! Pare com isso! Não era nada daquilo! Você não entende!
- Eu nunca entendo, não é, Mione? Aposto que qualquer um na face da Terra te entende melhor que eu!
Hermione irritou-se:
- É, talvez você tenha razão, Ronald Weasley! Você nunca entendeu a minha paranóia com os estudos, nunca entendeu porque eu não ando com as garotas do nosso ano, porque sempre tive medo de ser eu mesma perto de vocês, porque sempre quis ser a melhor em tudo!
Rony permaneceu paralisado diante da reação de Hermione e assistiu a garota sair correndo para seu dormitório. Rony preferiu não ir atrás. Na realidade, ele estava pensando porque Hermione havia dito todas aquelas coisas. Parou na porta de seu dormitório e ficou pensativo. Entretanto, algo o fez mudar o pensamento. Arabella vinha subindo as escadas, apertando seu robe mais uma vez. Encontrou Rony e desejou-lhe uma boa noite. O jovem permaneceu acompanhando-a com o olhar e a viu entrar na penúltima porta do corredor e fechá-la.
- Mas aquele não é o quarto do Sirius?
***
Uma suave ventania agitou os fios do cabelo desgrenhado de Harry ao sair do casarão. O fundo da mansão era, sem dúvida, a parte mais bela e encantadora que o jovem já vira em uma residência. Árvores espaçadas uma das outras faziam sombras sobre parte da relva que corria pelo chão. Um perfume gostoso de folhas vivas encheu as narinas de Harry. Havia alguns postes negros de luz, mas todos estavam apagados. Apenas a lua iluminava-os. O lugar era admirável.
Um objeto chamou a atenção de Harry. Mais à frente, localizado bem no meio do jardim, estava uma fonte. Ou ao menos se parecia com uma fonte. Feita certamente de cristal, Harry notou água cristalina sendo jorrada do centro da bacia transparente e, incrivelmente, parecendo carregar luz própria. Harry aproximou-se e tocou levemente a superfície da água. Um redemoinho tímido formou-se a partir de seu toque e a substância tomou uma coloração verde.
- O senhor Potter não devia mexer nisso.
Harry virou-se em direção ao casarão e encontrou Prisma em seu vestidinho amarelo, agitando-se loucamente para frente e para trás.
- Esta é a Bacia de Pandora. O senhor não deve mexer nela.
Antes que o jovem pudesse voltar a perguntar algo ao elfo, Prisma já tinha sumido nas imediações do casarão. Harry suspirou e voltou-se para a fonte.
- Bacia de Pandora... – sibilou para si mesmo.
Uma imagem engraçada veio à sua mente. Ele estava nos braços de alguém, sentindo-se quente. E pequeno. Ele era muito pequeno. Assistiu uma criança ser colocada dentro da Bacia. Muitos sorrisos apareceram naqueles que assistiam assim como ele. Logo depois, viu um homem muito bem vestido e bonito tocar na água e ela tornar-se negra. Após isso, foi a vez da mulher ao seu lado, que tocou igualmente a substância e tornou-a prateada. Em seguida, o casal beijou-se, tocando a superfície da água juntos. As suas colorações misturaram-se e tornaram-se um azul celeste.
- O que você está fazendo aqui?
Harry virou-se novamente, agora para o lado do abismo que se seguia após o término do jardim. Lá estava Ametista, a uns dez metros dele. A garota olhava-o calmamente.
- Eu...eu achei que devia vir falar com você.
Ametista aproximou-se de Harry e postou-se ao seu lado, virando as costas para a Bacia de Pandora.
- Meu sonho sempre foi viver aqui – seus olhos azuis correram entre a escuridão das folhas e a claridade do céu estrelado daquela noite. – Sempre senti que algo me ligava a essa casa.
Harry virou-se para o abismo como Ametista. Logo após ele, haviam montanhas bem mais altas que aquela colina, cercando a depressão em que estava localizada Godric's Hollow.
- Eu lembro quando você me contou isso na última noite em Hogwarts – disse Harry, olhando de esguelha para a garota. – Mas esse lugar tem realmente um encanto...
Ametista abaixou a cabeça.
- Agora eu sei porque sempre quis ficar aqui – Harry olhou-a confuso enquanto Ametista levantou sua cabeça novamente para Harry. – Eu ouvi a conversa de vocês com Prisma. Na verdade, então, esse é meu lar. Junto com os Black.
Harry tornou seu rosto para frente novamente e suspirou em tom cansado. Porém, reparou que Ametista arriscou um sorriso.
- Acho que não adianta lutar contra isso, não é mesmo? – disse fracamente. – Ele é uma parte minha, por mais que eu não aceite.
- Você está falando do Sirius? – indagou Harry perdido.
- Podem falar o que quiser, eu ainda o odeio e sei que ele também acha que eu tenho algo a ver com...com...bem, com tudo que aconteceu com ele e com a minha mãe, – Ametista abaixou o olhar mais uma vez. – mas nós temos que aceitar isso.
Harry franziu suas sobrancelhas ligeiramente. Lembrou-se do jantar e também da noite em que souberam tudo sobre o sangue de Ametista.
- Mas, você sabe que seu pai não...não é...
- Não é o Black – completou Ametista levemente ríspida. – Eu sei disso. E venho tentando colocar na cabeça todos esses dias e noites que meu pai está bem longe de ser uma pessoa que eu possa chamar de pai.
Harry caminhou até o abismo. Ametista acompanhou-o. Estavam sentindo a suave atmosfera que os envolvia naquele jardim, andando sob as sombras das árvores, ouvindo seus passos sobre a grama repleta de sereno, enquanto uma brisa sacudia seus cabelos. Na meia-luz, Harry parou na beira do abismo que seguia a sua frente, sendo copiado por Ametista.
- Sabe – começou a jovem novamente. – seu eu pudesse escolher meu verdadeiro pai, com certeza Voldemort nem seria incluído na minha lista.
Harry recordou os olhos vermelhos e cheios de ódio de Voldemort.
- E quem você escolheria? – indagou Harry suavemente, ainda olhando para o horizonte, para as montanhas.
Ametista fechou seus olhos rapidamente e visualizou um espelho circular e dois olhos que mudavam de cor constantemente. Logo depois, recordou a palavra "querida" e o abraço caloroso daquele homem.
- Eu escolheria o professor Lupin.
Harry virou-se para ela. Ele sabia o quanto Lupin fora carinhoso e compreensivo com Ametista. Lembrou-se também do incidente na Sala Amaldiçoada no ano anterior, em que Ametista parecia estar morta. Harry pôde ver o desespero daquele homem que sofrera tanto em sua vida.
- Ele é o único que foi realmente atencioso comigo, sem pensar nos pesares ou nos meus defeitos – a garota recordou a discussão com Snape. – Eu senti que ele me amava como um pai deve amar uma filha. E...talvez isso possa ser muito estranho para você. Eu tenho uma lembrança com ele, mas eu era muito pequena – Ametista fechou seus olhos, sentindo a brisa agitar mais uma vez seus fios ondulados. – Eu estava chorando, chorando muito. Eu sabia que era apenas um bebê e estava assustada. Ele me segurava em seus braços e apenas aproximou-se e deu um beijo na minha testa. E eu parei de chorar.
O jovem ao seu lado sorriu.
- Lupin é realmente espetacular. Ele me ajudou muito, talvez não soubesse nem metade do que sei hoje se não fosse por ele.
Ametista respirou fundo e deu um passo para trás. Embrenhou-se mais ainda na escuridão das árvores.
- Eu só me sinto mal de saber que o único que eu realmente poderia considerar como um pai, além de... – Harry entendeu que ela falava de Voldemort e de Sirius. – não...não...
- Sirius precisa de tempo, Ametista – disse Harry repentinamente. – Como você também precisa. Vocês ainda são estranhos um ao outro e, querendo ou não, vocês possuem um vínculo muito mais forte que você possa ter com Voldemort.
- Vínculo? – franziu suas sobrancelhas a garota.
- Amor. – finalizou Harry serenamente.
Ametista bufou e caminhou de volta ao centro do jardim em passos impacientes e rígidos. A jovem sabia muito bem que o último sentimento que poderia existir entre ela e Sirius Black seria amor. Harry foi atrás dela, chegando perto da Bacia de Pandora outra vez.
- É a verdade! – afirmou Harry fortemente, atrás dela.
- Como ele pode me amar?! – irritou-se Ametista, observando a Bacia. – Ele amaldiçoou a minha vida e da minha mãe! Ele desejou que eu estivesse morta, que não tivesse nascido!
- Mas mesmo assim... – tentou interrompê-la Harry, em um tom de compreensão, mas Ametista não permitiu.
- Não tem explicação! Você não sabe do que eu estou falando porque sempre vai saber que seus pais morrerão para protegê-lo! Porque eles te amavam, porque eles dariam suas próprias vidas para vê-lo vivo!
Harry abaixou seus olhos e voltou-os para a Bacia de Pandora.
- Sirius te amava...
- Eu sei disso, Harry! – gritou Ametista, fazendo Harry notar que ela estava chamando-o pelo primeiro nome. – Mas eu não preciso que ele tenha me amado, eu preciso que ele me ame agora!
O jovem não sabia o que fazer. Ametista carregava tanta mágoa quanto Sirius carregara todos esses catorze anos. A garota bufou nervosa e tentou controlar-se novamente. Sabia que as janelas dos quartos do fundo estavam muito perto deles e que poderiam ser ouvidos por Arabella ou mesmo Sirius.
Ametista virou-se para Harry, que permanecia cabisbaixo.
- Não quero que sinta pena de mim, porque sei que é exatamente isso que você deve estar sentindo nesse momento. – disse ríspida.
Harry levantou sua cabeça e cruzou seus olhos com os dela. Ametista não estava chorando, estava corada. Corada de raiva, de mágoa. Mas seus olhos exprimiam certa doçura que Harry sempre notara depois que a vira no meio dos brilhos na festa de despedida do ano em Hogwarts. Ametista permanecia observando-o intensamente. Harry não desviou sua visão dela e surpreendeu-se quando ela o fez.
Ametista tornou-se para a Bacia de Pandora. Aquilo a fazia lembrar de um episódio, ainda nebuloso em sua mente. Ela estava nos braços de alguém, via os fios negros caírem por seu rosto. Na mesma Bacia estava localizada uma criança. Dois adultos a acompanhavam. O primeiro, um homem, tocou a superfície da água, tornando-a vermelha. Depois, foi a vez da mulher tocá-la, transformando-a em um rosa suave. As colorações misturaram-se, tornando-as apenas uma: verde-esmeralda.
- Eu não sinto pena de você... – disse Harry subitamente.
A jovem levantou seu rosto na direção de Harry e pegou-o muito sério. Talvez, ele nunca estivesse tão sério quanto naquele momento.
- O que eu sinto por você é bem diferente de pena. – completou levemente tímido.
Ametista não conseguiu disfarçar e agarrou sua mão direita na Bacia de Pandora. Harry notou e guiou a própria mão esquerda na direção da dela. Aos poucos, foi tocando a pele e percorrendo seus dedos pela extensão da mão rígida de Ametista agarrada a borda da Bacia.
O coração da jovem disparou assim que sentiu o toque da mão de Harry na sua. Por que ele sempre dizia a última frase quando algo acontecia entre eles? Harry, por sua vez, nunca fora muito bem em declarações, mas ele sabia que não precisava de nenhuma declaração naquele momento. Parecia que tudo tinha sumido à sua volta e conseguia apenas enxergar os dois olhos azuis de Ametista.
Harry não hesitou em agir dessa vez. O momento era perfeito. Espantou-se ao sentir um arrepio novo na espinha ao escorregar seus olhos para a boca entreaberta de Ametista. E mais novo que isso foi vê-la, lentamente, mexer alguns de seus dedos agarrados a Bacia e tentar segurar sua mão. Por mais que ela tentasse relutar, seu corpo, sua mente e seu coração não permitiam que ela deixasse aquele lugar. Sabia que os sonhos que havia tido com Harry todos aqueles dias em que estiveram separados não poderiam denunciar outra coisa senão que ela realmente não poderia resistir mais a ele.
O jovem levantou sua mão direita que estava junta ao corpo e levou-a até os fios ondulados de Ametista que estavam jogados sobre seu rosto. Ele retirou-os lentamente e notou a respiração acelerada da jovem. Harry percebeu que no momento seguinte, estava com os batimentos mais rápidos que nunca e aquela engraçada quentura em seu ventre começava a tomar todo o resto do seu corpo. Perder a respiração perto dela era tão maravilhoso e parecia novo a cada instante em que se sentia assim. Foi quando Ametista piscou pela primeira vez e levantou seu braço esquerdo até a altura do rosto de Harry.
Para sua surpresa, Ametista estendeu seus dedos e tocou levemente a cicatriz do jovem. Ela percorreu toda a sua extensão mais uma vez e parecia maravilhada. Harry sentiu uma dor estridente mais uma vez em sua cabeça, mas não deixou fechar seus olhos. Manteve-se forte e deliciando com o suave toque de Ametista. Claro que era doloroso, mas como Hermione já dissera uma vez a ele, amar é doloroso. Não há amor sem dor. Mas, será que aquilo era amor? Será que Harry estava realmente apaixonado por Ametista?
Harry não teve muito mais tempo para pensar nisso. Quando menos esperava, seu corpo tomou a atitude sozinho, e logo estava vendo-se aproximar mais e mais do rosto de Ametista. A garota segurou a respiração pouco antes de sentir o toque macio dos lábios de Harry nos seus. Suas mãos apoiadas na borda da Bacia de Pandora acabaram escorregando para dentro da fonte e molharam-se. Entretanto, os jovens sequer importaram-se ou chegaram a notar o belo fenômeno que acontecia logo ao seu lado.
As colorações verde e azul, nos mais diferentes tons, misturavam-se freneticamente num redemoinho dentro da Bacia de Pandora. Também não perceberam quando a fonte agitou-se ligeiramente, tornando-se totalmente vermelha, num tom quase vinho. Rapidamente, eles retiraram suas mãos molhadas e geladas, e tocaram-se, prolongando o beijo entre eles. Ametista perdeu-se na escuridão e agarrou-se ao pescoço de Harry, com medo de deixar-se cair no chão. Novamente, raios cruzavam em suas pálpebras fechadas. Era como uma descarga elétrica percorrendo cada nervo, cada veia, cada célula de seu corpo. Não conseguia respirar, mas aquilo também parecia maravilhoso quando Harry – ainda não sabendo como – apertou-a mais ainda contra seu corpo. Parecia que ansiavam aquele momento mais que tudo. E, em seu interior, ela aceitava que desejou mais do que nunca.
Harry viu-se beijando-a com tanta vontade e furor que pensou estar num sonho. Não parecia realidade tê-la nos braços como naquele momento tão especial. Ela entregara-se ao beijo de uma forma tão sincera e doce que ele torcia para que não fosse mais um daqueles sonhos dentre os milhares que tivera nessas férias. Suas mãos seguravam-na pela cintura e percorriam suas costas. O jovem estava controlando-se para não prolongar o caminho de seus membros superiores até abaixo de sua cintura. Também estava ficando tonto, mas não seria qualquer dor física que o faria parar. Sua cicatriz continuava a ferver furiosamente, mas ele não dava a mínima. Somente torcia para que ninguém os interrompesse, como das outras três vezes que haviam se beijado.
Porém, como sempre, algo os faziam parar. Ouviram um borbulhar furioso logo ao lado deles e separaram seus corpos, mas muito pouco para não se separarem de vez. A Bacia de Pandora estava agitando-se como se fosse explodir e a coloração vermelha estava quase vinho, girando enlouquecida dentro da bacia de cristal. Ametista largou seus braços do pescoço de Harry e ele soltou os seus de sua cintura. Estavam assustados com aquilo. Parecia que iria explodir. Harry deu um passo para trás enquanto Ametista tocou na superfície da água. A Bacia diminuiu sua agitação. A jovem lançou um olhar rápido para Harry, que a imitou, tocando igualmente a Bacia. Logo, a água vermelha como sangue estava paralisada como antes. Harry e Ametista retiraram suas mãos de dentro da Bacia e observaram a água tornar-se verde e depois azul, antes de voltar ao seu estado transparente.
Ametista hesitou ao olhar para Harry.
- O que foi isso? – indagou corada.
- Não tenho a mínima idéia. – sussurrou Harry perto de seu ouvido e encostando se corpo no dela..
A jovem arrepiou-se ao sentir Harry tão perto novamente. Ametista virou-se para ele e encarou-o com intensidade. Seus olhos verdes brilhavam. Tinha que perguntar.
- Você sentiu...sentiu... – ela arriscou, mas Harry interrompeu-a.
- Sim, eu senti. – respondeu ligeiro num sibilo.
Ametista não pôde impedir-se de sorrir. Rapidamente, Harry estava tocando seu rosto e beijando-a novamente, tão surpreendente como antes. A Bacia de Pandora ameaçou agitar-se, mas dessa vez eles resolveram ignorá-la.
NO PRÓXIMO CAPÍTULO: No dia de seu aniversário, Harry desperta de um "novíssimo" e maravilhoso sonho, e conhece o mais perfeito lugar de Godric's Hollow. Além, é claro, de receber o melhor presente de toda sua vida. Vibre em "O PÍER DE GODRIC'S HOLLOW"
