NO CAPÍTULO ANTERIOR: É no famoso e escondido píer de Godric's Hollow que Ametista revela todos os seus sentimentos por e para Harry. E descobrem-se completamente apaixonados um pelo outro. E que ligação é essa entre eles?
CAPÍTULO SETE – ÁRTEMIS FIGGO relógio deu oito badaladas. Andando de um lado para o outro, Sirius sentia-se com as mãos atadas diante do sumiço de Harry e Ametista. Se eles estavam aonde imaginava que estariam, estremeceu temeroso com o que viria adiante. O homem observou longinquamente os outros três hóspedes jantarem calmamente no jardim do casarão, a luz do luar. A noite de verão estava tão deslumbrante quanto a manhã. Sirius andou em círculos mais uma vez pela sala e parou a frente do espelho no hall entre a cozinha e a sala principal. Viu-se com a expressão preocupada e enrugada. Pela primeira vez, Sirius reconheceu que estava preocupado com Ametista, e não com Harry. Uma lembrança ecoou em sua mente...
"Deitado sobre os lençóis azulados de seda, um neném ao seu lado. Tiago estava sentado na espreguiçadeira, uma criança em seu colo. Ambos olhavam admirados seus filhos. As mulheres ajudavam Prisma no andar de baixo. Tiago fazia cócegas no filho, que ria deliciosamente. Sirius apenas admirava a filha bocejando e olhando-a carinhosamente".
- Meu filho é um conquistador nato! – exclamou Tiago de repente. – Tenho certeza que as garotas farão fila atrás dele!
- Tanto que ele não chegue perto da minha filha...
Os homens começaram uma discussão divertida, comparando os filhos nascidos há pouco mais de cinco meses. Foi com um estrondo que a porta do dormitório abriu-se e invadiram o quarto três mulheres e dois homens.
- Remo, Pedrinho – chamou Tiago. – Não acham que Harry tem talento com as mulheres?
Ambos caíram na risada e procuraram a filha de Sirius, sorrindo. Pedro, Remo e Sirius ficaram sobre a garota, observando-a. Remo olhou-a demoradamente e disse em seguida:
- Estou até vendo como essa menina vai ser linda... E vai acabar enfeitiçando seu filho, viu! – brincou.
Hariel cruzou o quarto e arrancou o bebê do meio dos homens.
- Ametista será uma garota muito ajuizada, isso sim! Não cairá na lábia de um Potter qualquer. – provocou, fazendo Tiago fechar a cara.
- Eu não me importaria de cair na lábia de um Potter se fosse ela. – respondeu Lílian, sentando ao lado do marido e dando-lhe um beijo rápido nos lábios.
- Imaginem juntar os sangues de vocês quatro! Que horror! – debochou Pedro, fazendo todos rirem.
- Pois eu vejo um belo futuro pela frente para ambos – disse Arabella em seu tom sábio e profético. – Essas crianças foram feitas uma para a outra...
- Hunf! – resmungou Hariel. – Imaginem! Eu e Sirius, bem velhinhos, tendo de agüentar você – apontou para Tiago. – e Lílian no casamento dos nossos filhos. Tenham dó de mim!
Mais uma onda de risadas. Hariel aproximou-se da cama diante do olhar apaixonado do marido, trazendo em seus braços a pequena filha. Colocou-a nos lençóis azulados novamente e riu vendo Lílian postando seu filho ao lado da sua. Os bebês entreolharam-se e tentaram pegar um o nariz do outro. Riram gostosamente em seguida. Sirius levantou-se da cama e abraçou a mulher pelas costas.
- E não é que eles combinam mesmo..".
Sirius sentiu uma lágrima ameaçar a cair, mas segurou-a e deu um sorriso calmo para si mesmo. Observou sua expressão aliviar-se. Talvez, Arabella tivesse razão. Talvez, ambos tivessem nascido marcados um para o outro.
Repentinamente, ouviu o barulho da porta ser fechada. Caminhou até a sala e colocou-se na penumbra, sem que fosse visto. Assistiu o afilhado e Ametista derem mais alguns passos, as mãos entrelaçadas e pararem diante da escadaria. Antes de a garota subir, Harry puxou-a levemente para o degrau abaixo e beijou-a, com um sorriso nos lábios. Ametista desvencilhou-se rapidamente do jovem e subiu as escadas de costas, olhando persistentemente para Harry. Ele permaneceu sorrindo até que ela desaparecesse por completo.
- Harry... – chamou Sirius em baixo tom.
O jovem virou-se para o padrinho. Sirius tinha um estranho brilho nos olhos. Harry não conseguiu definir muito bem. O garoto chegou mais perto da penumbra onde Sirius localizava-se. Estava trêmulo.
- Sirius, eu não... bem, nós não...
Harry bem que tentou explicar o que Sirius acabara de ver, mas o homem simplesmente levantou a mão direita no ar e pediu que o afilhado se calasse. O bruxo arriscou um sorriso e estendeu a mão na direção do tórax de Harry. O garoto estendeu a mão igualmente e apertou-a firmemente. Sirius puxou-o para si e abraçou-o carinhosamente. Harry suspirou aliviado.
- Nós...nós estamos namorando, Sirius. – disse Harry finalmente.
A mesma expressão indecifrável mantinha-se no rosto do bruxo. Assim como o brilho em seus olhos azuis.
- Você está feliz, Harry?
Harry hesitou em responder, mas tinha de ser sincero. Sirius parecia muito como um sonho que tivera há alguns meses, em que dizia ao seu pai que estava namorando Cho.
- Foi o melhor presente que alguém poderia me dar – explicou, agora ele com os olhos brilhantes. – Eu realmente gosto dela.
- Você está apaixonado? – voltou a indagar o homem.
- Estou... – respondeu o garoto quase num suspiro.
- Então, eu só vou te pedir uma coisa, Harry, meu afilhado – disse Sirius, num tom tão sério que Harry nunca havia visto. – Cuide dela. Se você realmente gosta de Ametista, cuide dela. Cuide da minha filha.
Harry observou o homem aumentar o brilho em seus olhos e afastar-se para o andar de cima. O jovem ficou observando-o estático. Sirius parecia agir como um verdadeiro pai. Estava temeroso por ser o primeiro namorado da filha, mesmo não admitindo que ela fosse. Harry não teve muito mais cabeça para ficar ali e apenas dirigiu-se aos fundos, ansiando que aquele sentimento que tomara conta de Sirius naquele momento não fosse passageiro.
***
Fechou a porta em suas costas e encostou-se nela, suspirando. Talvez, nunca tivesse tanta certeza de alguma coisa como tinha agora. Imaginar-se sem ele poderia ser tão cruel e temido. Ametista caminhou até sua mala e abriu-a lentamente. Encontrou uma caixa escondida por baixo de alguns pergaminhos. Lá estavam seu álbum de fotografias e o espelho de comunicação de Lupin, virado do lado contrário.
Uma coragem despertou de seu coração e agarrou com força o objeto. O espelho circular foi virado em sua direção e Ametista observou atentamente seu reflexo. Uma névoa formava-se às suas costas dentro do espelho. Rapidamente, fechou os olhos e tornou o espelho para o chão, guardando-o em seguida. Sentiu-se fraca no instante seguinte por não conseguir enfrentar seu medo. Pensou no homem e viu-se contanto para ele a notícia: ela havia dado uma chance a Harry, a ela mesma.
Levantou da cama e abriu a porta novamente, sentindo o quarto quente. Voltou para a mala e pegou o álbum. Sem pensar, viu-se abrindo na última página e encontrando os rostos de sua mãe e de Sirius Black. Ambos sorriam. Ametista franziu a testa ao observar a cena. Ouviu um barulho e tornou-se para a porta. Foi quando o encontrou.
Sirius estava parado entre os batentes da porta, estático. Ametista levantou-se da cama e caminhou para mais perto do homem. Em sua mente, ecoavam inúmeras vozes, mas a que tinha mais destaque era a dele: "Eu amaldiçôo você e a essa criança pelo resto da minha vida! Eu não sou mais seu marido, ou o pai desse bebê! Eu desejo tanto que Ametista não tivesse nascido! Desejo que tivesse morrido! Pois eu não teria de carregar tamanho desgosto! Eu te odeio mais que tudo! Você e Ametista!".
Ametista paralisou e viu-o abaixar seus olhos, fugindo dos dela e caminhar de volta para o andar de baixo. A garota sentiu-se mal. Mal não por ela ou por Sirius Black. Sentiu-se mal como se uma filha houvesse magoado o próprio pai.
***
Uma leve brisa agitava os cabelos negros e lisos de Arabella quando Harry chegou no jardim e encontrou-os jantando. Prisma colocara a mesa de jantar do lado de fora, abaixo das estrelas. A temperatura amena ajudava a aliviar o forte calor que fizera durante o dia.
- E então? – piscou Arabella para o jovem.
Harry conseguiu apenas soltar um sorriso. A madrinha piscou mais uma vez e indicou uma cadeira ao seu lado para sentar-se. Harry acomodou-se e assistiu Hermione e Rony tocarem constrangidos as mãos ao pegar a bacia de almôndegas.
- Eu e a Ametista estamos namorando. – disse repentinamente, tirando as cabeças dos amigos do momento desconfortável.
- O que?! – confundiu-se Rony, as orelhas vermelhas.
- Vocês...vocês se acertaram? – indagou Hermione igualmente surpresa, a face ainda rosada.
Harry sorriu mais uma vez. Estava sentindo-se tão mudado. Era como se, naquele exato momento, estivesse vendo-se como um verdadeiro adolescente. Ametista apareceu ao seu lado no instante seguinte e tomou uma cadeira ao lado do jovem.
- Hermione, você pode me passar o... – pedia Ametista quando viu a amiga observá-la incrédula. – Mione? – a garota estava boquiaberta. Ametista virou-se para Rony e o viu com a mesma expressão. Foi então que se tornou para o garoto ao seu lado. – Você não consegue nem esperar um minuto?
Harry riu. Arabella lançou um olhar estranho a Ametista, que viu suas pupilas dilatarem. Um incômodo arrepio correu pela sua espinha. Mas, foi interrompido quando uma sombra tomou a face da mulher. Sirius Black estava parado atrás de Arabella.
- Isto é para você – e o homem estendeu um pergaminho entre os dedos de Arabella. – Adivinhe quem trouxe. – e olhou para o parapeito da janela do quarto dele.
A mulher direcionou seus olhos para o mesmo lugar e encontrou uma linda coruja cinza. Um sorriso abriu-se no rosto belo de Arabella. Ela assobiou baixinho e a coruja deixou o parapeito, voando direto para seu colo, bicando seu braço carinhosamente.
- Esta é Flymoon – apresentou a bruxa enquanto a coruja pareceu observar cada um dos hóspedes. – Minha coruja. Eu havia deixado-a com minha irmã para contato – foi quando Arabella olhou a carta sobre a mesa, esquecida. – Deve ser de Ártemis .
Harry encarou Sirius com um grande ponto de interrogação na cabeça, assim como os outros três.
- Ártemis Figg, a irmã mais velha de Arabella. – contou o bruxo, sentando ao lado de Arabella, o som rouco da voz.
A mesa ficou algum tempo em silêncio. Até Arabella finalizar a leitura do pergaminho. A bruxa dobrou a carta e guardou para si. Sirius achou bem estranho.
- Ártemis respondeu sobre minha proposta de irmos visitá-la – dizia Arabella num tom preocupado que apenas Sirius notou. – Disse que nos receberá alegremente e que haverá um Baile de Máscaras para a comemoração do aniversário de um familiar.
Os quatro jovens trocaram um olhar animado e continuaram a refeição. Hermione e Rony não estavam mais tão chocados com a notícia de Harry e mantiveram durante o jantar uma gostosa conversa. Entretanto, Sirius percebeu que Arabella perdera levemente a fome e logo subiu para o dormitório. Quando chegou, a mulher estava tomando um banho e sua roupa estava esparramada sobre a cama. Sirius, cuidadosamente, esticou-se sobre o leito e retirou do meio das peças o pergaminho. E não se surpreendeu.
Cara Arabella,
Você está viajando com Sirius Black?! O que pensa que está fazendo?! Pode falar o quanto quiser, mas eu não aceito isso! Pensei que, após o casamento dele com Hariel, você havia se desligado! Mas, acho que me enganei... Tudo bem, eu aceito recebe-los aqui, mas com a pequena condição de que você não aja como uma prepotente garota como sempre agiu perto de mim. Mamãe pode gostá-la dessa forma, mas eu sou sua irmã mais velha e só EU sei o que você passou durante esses anos!
Claramente, eu terei de receber o senhor que a acompanha, mas não pense que vou ficar de sorrisinhos com ele somente por sua causa! Se essa sua paixão de adolescente afetou seus miolos novamente, é problema seu! Eu estou mais interessada em receber aqui Harry Potter. Pelo menos, o filho de Tiago e Lílian deve carregar um pouco mais de juízo do que a própria madrinha. Avise-os que haverá um Baile de Máscaras para o aniversário de Sean na terceira noite de estadia.
Só mais uma coisa. A garota já sabe sobre Black? Eu devo dar meus pêsames ou espero que você já o tenha feito?
Sua irmã, Ártemis
Sirius ferveu-se por dentro e sua face ficou vermelha. Jurou para si mesmo que se controlaria diante de Ártemis, mas se ela provocasse-o mais uma vez, ele perderia a cabeça facilmente. Voltou o olhar para a porta lateral, onde se encontrava o banheiro. O chuveiro já havia sido desligado. Arabella deveria estar devastada. E, imaginar que aquela mulher já fora tão ligada a ele e a sua família.
Ainda com a carta em suas mãos, Sirius assistiu Arabella sair do banho enrolada em um roupão. Seus longos fios negros estavam presos num coque como sempre. A mulher chocou-se ao vê-lo com o pergaminho.
- Sirius! – repreendeu-o, furiosa. – Isto não te pertence!
O bruxo largou a carta sobre a cama e cruzou os braços na altura do peito. Arabella notou que seus olhos pareciam mais escuros.
- Você está mesmo disposta a enfrentar tudo isso? Desafiar sua irmã e seus princípios por minha causa? – indagou seriamente.
Arabella suspirou e abaixou a cabeça.
- Eu agüento a sua irmã me insultando essa semana na França, mas você vai agüentá-la pelo resto da sua vida? Dizendo que foi um desperdício estar comigo novamente? – continuou Sirius.
Não obteve resposta. Arabella parecia concentrar seus olhos no pergaminho deixado sobre a cama. Sirius bufou e sacudiu a cabeça em negação.
- Eu fui um idiota! E pensar que você poderia...poderia... – ele parecia tentar encontrar a palavra certa a ser dita para Arabella, que continuava estática. – Se a sua vida na França era tão boa assim, por que foi que não ficou por lá?!
A bruxa permanecia calada. Seus olhos negros marejavam. Sirius suspirou profunda e rapidamente, num tom igual ao de Ametista. Ele estava dirigindo-se a porta do quarto, deixando-a para trás. Sirius estava desistindo. Arabella, notando isso, pensou muito rápido e a primeira imagem que se fez em sua mente foi a de um bonito homem, moreno e com penetrantes olhos verdes. David Adams. Ele ensinara-a a ser natural, sem medo das aparências, dos defeitos, ensinara a tomar muitas atitudes, a não se esconder atrás de uma cortina de falsidades. Também, ensinara-a a ser mulher. Entretanto, vendo a silhueta imponente de Sirius Black deixando-a para trás, entendeu que ele ensinara a ela exatamente o que David falhara. Amar.
- Não vá – disse em baixo tom, mas que foi escutado por Sirius. O homem parou imediatamente, faltando apenas um passo para deixar o quarto. – Não vá. – repetiu mais uma vez.
Sirius não se virou para ela. Ainda olhando para o corredor, Arabella caminhou até onde ele estava e parou a sua frente. Ele evitou seu olhar. Arabella tomou seu queixo com os dedos e puxou seu rosto na direção do dela. Concentrando seus olhos nos de Sirius, Arabella pegou a mão direita de Sirius e levou-a até seu peito. O homem notou que o seu coração estava disparado. Sua respiração estava igualmente ofegante.
- É exatamente assim que ele fica quando eu estou perto de você – disse ela, calmamente. – Ele sempre ficou assim e não será agora que ele parará. Eu não vou deixar você ir embora por nada!
Sirius arriscou um sorriso abrandado. Arabella levantou-se na ponta dos pés e encostou sua boca no ouvido esquerdo do homem.
- Eu te amo.
A mulher nem percebeu que Sirius já estava soltando habilmente o nó de seu roupão. Quando suas mãos começaram a percorrer suas costas, envolvendo-a num abraço caloroso, Arabella sentiu o pulsar do coração do homem apertado contra seu peito.
- Eu também te amo. – disse Sirius, agora no ouvido dela, soltando um ar quente em seu pescoço, fazendo-a arrepiar.
Desde sua primeira noite juntos, Sirius sempre pensou quanto dizer aquilo poderia ser estranho. Ele dissera isso apenas para Hariel. E nunca havia pensando em dizer novamente para ninguém. Porém, no momento em que as palavras foram saindo, Sirius sentiu que nada parecia mais certo no momento.
Sirius retirou um de seus braços da mulher e fechou a porta aberta às costas de Arabella. Seguidamente, estava beijando-a tão furiosamente que a empurrou contra a porta e pegaram-se amando tão loucamente como nunca antes. E isso era algo que nem Ártemis Figg poderia destruir.
***
- Todos prontos? – chamava Arabella ao pé da escadaria. Sirius estava ao seu lado, lançando olhares maliciosos a todo o momento. Arabella empurrou-o ligeiramente quando viu os jovens carregando suas malas para o andar inferior.
A viagem era longa até a França. Como os jovens ainda não podiam aparatar, todos decidiram ir de trem. Havia uma estação perto de Godric's Hollow que fazia viagens toda hora para inúmeros lugares da Europa. E apenas estradas usadas por bruxos. Arabella não queria atrasar-se por nada, mas Prisma insistia em atrasá-los, despedindo-se. Mesmo que dali uma semana eles provavelmente estivessem de volta.
Preferiram sair logo de madrugada, às três da manhã, esperando estarem na França ao crepúsculo. Como na viagem anterior, Sirius e Arabella dividiram-se dos jovens, ficando em outra cabine. Entretanto, naquele trem, por ser uma viagem de longa distância, as cabines possuíam assentos que se tornavam camas. O único detalhe era que as cabines eram apenas para duas pessoas. Hermione e Rony trocaram um olhar compreensivo e decidiram ficar numa cabine juntos. Ametista, sonolenta, sequer ouviu-os e foi logo entrando numa delas.
Harry recebeu um olhar engraçado dos amigos e entrou na cabine, ajeitando Ametista que estava largada sobre o sofá-cama, ainda fechado. Levantou-a do assento e abriu a cama. Ametista lutava para manter seus olhos abertos, mas não deixou de corar ao observar que a cama era de casal. Eles já haviam dormido juntos, mas agora tudo era tão diferente.
- Não foi escolha minha! – arriscou Harry, vendo-a corar, assim como ele mesmo.
Ametista virou-se para Harry e sorriu. Ele tinha a face vermelha e os olhos brilhantes. Parecia que aquela barreira teria de ser ultrapassada. A garota, ainda sonolenta, deu um passo mais perto dele e deu um selinho em seus lábios. Harry continuou corado, mas sentiu-se mais confortável ao vê-la puxá-lo para a cama e abraçá-lo para dormirem juntos. Claro que Harry não pensou em nada mais picante, afinal, eles estavam namorando a menos de vinte e quatro horas. Porém, a idéia de adormecer junto dela daquela maneira pelo resto da sua vida foi muito bem vinda.
Enquanto isso, Rony e Hermione estavam deitados na cama, assim como Harry e Ametista, porém, com os corpos bem afastados um do outro. Foi Hermione quem dormiu primeiro e Rony virou-se para assisti-la ressoando suspiros. Quando ele estava quase adormecendo, Hermione levou seus braços envoltos da cintura de Rony, fazendo-o assustar-se. Ele estava fazendo o possível todos aqueles dias para evitá-la, mas naquela altura, Hermione parecia tão inofensiva e doce.
Rony aproximou devagar seu corpo do dela e tocou seu rosto. Sua pele era macia e suave ao seu toque. Lentamente, Rony inclinou seu rosto sobre o dela e beijou-a delicadamente. No momento em que seus lábios deixaram os dela, ouviu-a murmurar:
- Rony...
***
Ametista acordou com um estrondo em sua porta. Abriu os olhos vagarosamente e encontrou Harry adormecido ao seu lado. Ela suspirou e levantou-se, dirigindo-se até a porta. Sua visão cruzou a de Hermione.
- Já está na hora do almoço! Levantem! – ralhou a garota exasperada ao ver Ametista de cabelos em pé e os olhos inchados de sono.
A garota fechou a porta da cabine novamente e sentou no sofá-cama, passando seus dedos entre os fios negros do cabelo de Harry. Ela estava achando tudo muito estranho, já que nunca havia dormido tanto em toda sua vida, sem o efeito de alguma poção.
- Harry... – ela ainda achava diferente chamá-lo pelo nome. – Harry, levante...
O garoto sequer respondeu e Ametista bufou, virando as costas contra ele impacientemente. Foi quando sentiu braços a envolverem e levarem-na de volta a cama. Harry ria gostosamente, enquanto segurava os braços da namorada, impedindo-a de reagir.
- Bom dia. – disse ele, beijando-a levemente.
- Hermione disse que já está na hora do almoço – comentou Ametista. – Eu nunca dormi tão bem...
De repente, a porta escancarou-se e Rony viu Harry com o torso sobre Ametista.
- Então a noite foi boa, hein! – brincou num tom malicioso.
A garota conseguir desvencilhar-se dos braços de Harry e atacou um dos travesseiros em Rony. Os três riram. Em seguida, junto de Hermione, reuniram-se na ala de refeições do trem e encontraram Sirius e Arabella conversando animadamente, enquanto suas mãos estavam unidas sobre a mesa.
Harry aproximou-se timidamente e, no mesmo segundo, Arabella arriscou soltar-se de Sirius, mas o bruxo lançou-a um olhar ameaçador e apertou sua mão contra a dela.
- Bom dia – cumprimentou Harry, olhando as mãos unidas e os bruxos seguidamente. – Que é que isto significa?
Arabella trocou um novo olhar relutante com Sirius, que indicou a mesa para que todos sentassem.
- Nós temos algo para contar-lhe – começou, assistindo todos sentarem e observarem-no curiosos. – Nós, digo, eu e Bella... nós, bem...
- Vocês estão juntos. – completou Ametista repentinamente, fazendo todos olharem-na surpresos.
Sirius temeu enfrentar o olhar da garota, mas persistiu e encarou-a fortemente. Ametista viu os olhos de Harry brilharem ao olhá-la. Ele estava feliz.
- Eu estou feliz por vocês. – completou Ametista, soltando um sorriso fraco para Arabella e Sirius.
O bruxo segurou a respiração. Harry sorriu no mesmo segundo e abraçou a namorada acanhadamente, dando um beijo em sua bochecha direita. Aquela era provavelmente a primeira demonstração de carinho entre Harry e Ametista para Hermione, Rony e Arabella. Parecia que todos estavam contentes com a notícia.
- Vocês não vão acreditar como eu estou feliz em ouvir isso! – festejou Harry. – Agora, eu tenho uma verdadeira família!
Todos riram, Ametista mais timidamente. Então, a garota, após o almoço, levantou da mesa e dirigiu-se para sua cabine novamente. Fechou a porta as suas costas e encarou a janela. A paisagem era bela. Campos, flores, rios. Tudo poderia ser visto daquela janela. Ametista aproximou-se devagar e soltou um suspiro amargurado.
- Você já sabia? – ouviu alguém lhe perguntar.
Tornou-se para a porta e observou Sirius Black carregar uma expressão séria e apavorada ao mesmo tempo.
- Eu desconfiei... – arriscou, respondendo em tom baixo. – Po...posso fazer só uma pergunta?
Sirius franziu a testa, curioso. Era a primeira vez em que conversavam calmamente, sem ninguém por perto.
- Claro. – respondeu incerto e temeroso.
Ametista encarou-o demoradamente. E indagou ao final:
- Você ainda ama a minha mãe?
O bruxo desfranziu a testa e Ametista notou que seus olhos tinham uma certa ternura quando ele respondeu:
- Eu nunca poderia esquecer sua mãe.
A jovem entendeu o que ele quis dizer e sentiu seus próprios olhos observarem-no com uma certa afeição.
- Obrigada. – foi tudo que conseguiu responder.
***
O trem foi diminuindo sua velocidade lentamente, até parar. Arabella observou da janela de sua cabine a pequenina estação de Saint-Pierce. Feita toda de tijolinhos e delicadas estruturas de ferro, a parada naquele vilarejo não poderia ser mais receptiva.
O entardecer poderia ser visto com clareza assim que todos pisaram no concreto do piso da estação. Arabella respirou fundo e sentiu um aroma de café penetrar em suas narinas suavemente. A França carrega um clima totalmente diferente do resto da Europa. Os parisienses eram apaixonantes e a suculenta alimentação era de deixar qualquer um boquiaberto. Porém, não estavam em Paris. Aquele vilarejo trazia características inglesas de longe. Saint-Pierce fora à cidade escolhida pelos grã-bretanhos viverem ou passarem suas férias no país do amor.
- Onde estamos? – indagou Rony curioso.
- Estamos em Saint-Pierce – respondeu Arabella alegremente. – Aqui temos predominância de ingleses. Acho também que foi por isso que Ártemis resolveu morar aqui. Seu francês nunca foi um dos melhores, mas acho que agora deve estar um pouco mais correto... – divagou, seguindo para fora da estação.
Com os jovens e Sirius em seu encalço, pegaram dois táxis – bruxos, logicamente – e seguiram para a morada da irmã mais velha de Arabella. As ruas eram feitas de paralelepípedos, largas e acolhiam diversas casas, todos no mesmo estilo, o gótico. Hermione estava fascinada com cada detalhe daquela cidadezinha até o táxi parar a frente de uma estrutura distinta.
Todos saíram dos veículos e os jovens chocaram-se. Estavam diante de uma estrutura magnífica. Um palácio construído ao meio da cidadezinha destacava-se sobre as casas singelas no melhor estilo inglês. Um portão alto e em estilo clássico cercava, junto de grades tomadas por trepadeiras, a grande estrutura. O palácio era rodeado por gramados, composto por três torres baixas e grandes janelas pontudas em toda sua extensão. De coloração negra, a magnífica construção era imponente e montava uma bela paisagem junto ao sol quase posto.
- É...é aqui? – gaguejou Hermione impressionada.
Arabella tornou seu rosto para os jovens e sorriu:
- Ártemis fez questão de comprar este castelo. – brincou divertida.
Enquanto Sirius carregava as malas com um feitiço de levitação, Arabella aproximou-se do portão de entrada e agitou sua varinha, fazendo três círculos seguidos. Uma luz roxa saiu do objeto e abriu lentamente o portão. Os jovens seguiram Arabella por um caminho fechado por roseiras brancas e lamparinas amarelas. Hermione e Ametista estavam maravilhadas com tanta beleza, enquanto Rony e Harry riam das garotas.
Pararam diante das portas duplas de madeira maciça. Arabella tocou duas vezes a ponta de sua varinha na maçaneta e a porta principal abriu-se igual ao portão. De súbito, um elfo doméstico apareceu como num passe de mágica e cumprimentou-os:
- Boa tarde, minha senhorita – disse o elfo, vestindo um pano qualquer negro e com a voz esganiçada. – A senhora Figg está a sua espera.
Arabella agradeceu e virou-se para os jovens. O elfo correu até Sirius e, estalando seus dedos, fez as malas sumirem subitamente. Desapareceu para dentro do palácio novamente, fazendo Rony e Harry rirem curiosos. Elfos domésticos eram todos iguais, seja na Inglaterra, seja na França.
Entretanto, foi Arabella dar o primeiro passo para dentro do castelo que alguém a surpreendeu.
- Bellinha, meu amor! – ouviram uma voz gritar.
No minuto seguinte, Arabella estava sorrindo e sendo abraçado fortemente por um homem pouco mais novo que Sirius, mas incrivelmente belo. Da altura de Arabella, o homem possuía cabelos muito escuros e olhos estranhamente negros.
- Sean! Você continua o mesmo! – disse a mulher, dando uma boa olhada no homem, que sorria.
- E você permanece bela como sempre. – completou, piscando para a bruxa e mandando um beijo no ar para ela.
Harry franziu a testa, confuso e ciumento. Sirius postou-se repentinamente ao lado da mulher e abriu um sorriso ameaçador para o homem.
- Olá, Willen! Como você está indo?
O homem soltou Arabella no mesmo segundo e lançou um sorriso tímido para Sirius. Na verdade, era mais um sorriso atemorizado.
- Sirius! – surpreendeu-se Sean. – Estou indo muito bem, e na realidade – foi dizendo, rapidamente. – eu fiquei muito contente que você foi solto, Azkaban deve ter sido horrível, não é mesmo?!
Os jovens viram Sirius abrir um sorriso largo e estender a mão direita para Sean. O homem sorriu igualmente e apertou a mão do padrinho de Harry alegremente.
- E eu imagino que continua solteiro, certo? – suspeitou Sirius, piscando seu olho esquerdo marotamente.
- E você acha que eu me renderei a uma garota apenas?! Mulheres são minha perdição, Sirius! E – Sean abaixou o tom para bem perto de Sirius. – a única que realmente poderia me seduzir é minha própria prima!
Arabella soltou uma risada e deu um tapa nas costas de Sean. Os homens riram, e a bruxa conseguiu finalmente concentrar a atenção de Sean para os jovens.
- Sean, estes são Ronald Weasley, – Rony arriscou um aceno. – Harry Potter – o jovem sorriu acanhadamente para Sean, que acenou. – E estas são...
- Não! Não! Espere, Bellinha! – interrompeu-a Sean, aproximando-se de Hermione e Ametista, pegando as mãos das garotas e beijando-as. – Quem são as belas garotas?
Harry franziu a testa e Rony ficou com as orelhas vermelhas. Sirius e Arabella riram baixinho.
- Esta é Hermione Granger – "Belíssima!", disse Sean. – e esta é Ametista Dumbledore. – "Não preciso perguntar quem é sua mãe, seus olhos são tão magníficos quanto os de Hariel!", interrompeu Sean.
Ametista corou ligeiramente. Arabella aproximou-se dela e sussurrou em seu ouvido:
- Sean sempre achou sua mãe a mais bonita das garotas...
A neta do diretor de Hogwarts riu e observou Harry encará-la sério. Ametista deu de ombros, espertamente.
- Crianças – os quatro jovens fizeram caretas insatisfeitos. – Este é o meu primo, com ar de conquistador, Sean Willen.
O homem fez uma reverência debochada que recordou nos jovens as brincadeiras de Fred e Jorge. Em seguida, Sean levou-os até a sala logo à frente do palácio e todos se chocaram com a grandiosidade da residência. Havia uma escadaria diante deles, que se dividia após alguns degraus em duas e definiam as alas Leste e Oeste do castelo.
- Sean, onde está...
Porém, antes de Arabella terminar a pergunta, ouviu passos sobre a escadaria e todos se viraram para uma figura alta, postada ao meio dos degraus.
- Irmã. – foi apenas o que a mulher disse, seriamente.
Descendo a escadaria, podia-se ver a incrível semelhança da mulher com Arabella. Mais alta que a irmã, possuía cabelos negros assim como os de Arabella, mas apresentavam ligeiras ondas. O rosto era fino e acompanhava a linha esguia de seu corpo, delineado por certas curvas num conjunto de camisa azul e calça negra. De fato, algumas ligeiras rugas poderiam ser vistas no rosto da mulher, que mantinha uma expressão séria.
- Sejam bem-vindos a minha casa – disse a mulher, o tom de voz mais marcante e seco do que o de Arabella. – Sou Ártemis Figg.
A mulher estava bem mais perto agora, e podia notar uma certa amargura e dureza nos traços de seu rosto. Harry notou algo, então, que o fez esquecer qualquer coisa: ela possuía olhos violeta. Seu globo ocular era circundado por uma fina linha azul e então, ele tornava-se violeta até encontrar a negra pupila.
Arabella arriscou um sorriso para a irmã, que se aproximou e abraçou-a friamente. Depois, Ártemis encarou Arabella atentamente.
- Quase cinco anos, Bella – disse a mulher secamente. – Por que não estou surpresa em vê-la tão jovem? Você não envelheceu nada!
Hermione trocou um olhar rápido com Ametista. Ambas haviam percebido que havia um tom maldoso na fala de Ártemis. Arabella estava séria igualmente naquele momento.
- Ártemis, estes são Ronald Weasley, Hermione Granger, Ametista Dumbledore e Harry Potter.
Ao serem apresentados, Ártemis acenou com a cabeça leve e elegantemente.
- Acho que Sean poderá mostrá-los seus aposentos – disse a mulher no mesmo tom aos jovens, lançando um olhar ameaçador ao primo. – Depois de acomodados, gostaria que descessem para o jantar.
Pela primeira vez, Harry viu a mulher arriscar um sorriso amistoso. Sean tomou a frente e chamou os jovens para si. Após subirem a escadaria, o primo de Arabella levou-os até a divisão direita dos degraus. Já no corredor, Sean virou-se para eles, apertando as mãos.
- Esta é a ala Leste. Os garotos ficam no primeiro quarto e as garotas no terceiro, certo? – disse, ainda estralando os dedos nervosamente.
Harry não deixou de reparar, assim como Rony.
- Você está bem, senhor Willen? – indagou Rony acanhado.
Sean levantou seus olhos para Rony e sorriu.
- Claro...claro! – respondeu gaguejante. – Primeiro, meu nome é Sean. Senhor Willen? – brincou, fazendo uma careta. – Assim parece que eu tenho oitenta anos, sabem! – os quatro riram timidamente. – Segundo, quero que sintam-se em casa. Tudo que quiserem fazer, falem comigo. – frisou, indicando com a cabeça que estaria saindo.
Após Sean deixá-los para trás, os jovens entreolharam-se.
- Ela é estranha... – disse Hermione primeiramente.
- Ela me dá arrepios! – resmungou Ametista.
- Será que ela lê as nossas mentes também? – indagou Rony hesitante.
- Eu espero que não, eu não gostei nem um pouco dela. – disse Ametista, franzindo as sobrancelhas, junto de Hermione, que mordia o lábio.
- Ela não tem nada a ver com a Arabella! – reparou Rony. – Apesar de que os olhos dela são bem mais bonitos do que o da sua madrinha, Harry...
Mas Harry não estava ouvindo. Havia algo de muito estranho naquela mulher. Ártemis Figg despertou algo nele que não podia explicar. Deveria haver alguma coisa. Sua mente ainda estava concentrada em seus belos olhos violeta e na sua expressão de amargura. Acontecera algo de muito sombrio com aquela mulher, algo que definitivamente não fora o mesmo para Arabella.
***
- Então... eles foram realmente loucos o bastante de te inocentarem, não é mesmo, Black? – insinuou Ártemis, com um sorriso provocante nos lábios.
- E os franceses foram estúpidos o bastante em te deixarem aqui depois de tudo? Corajosos... – respondeu Sirius raivoso.
- Ao Ministério você pode alegar o que quiser, mas eu não acredito. Você não me engana...
- A sua irmã ou ao Sean, ou mesmo a toda França você pode enganar, mas eu também não acredito em uma palavra que sai dessa sua boca!
- PAREM! – ouviram um grito e tornaram-se para Arabella. A mulher tinha o rosto vermelho e a respiração irregular. – Eu sei que vocês dois nunca se deram bem, mas, por favor, não discutam na minha frente! Ou na frente das crianças!
Ártemis lançou um olhar intimidante a Sirius, que cerrou seus olhos azuis. Antes de subir a escadaria, junto de Arabella, Sirius sussurrou no ouvido de Ártemis:
- Você nunca o mereceu.
NO PRÓXIMO CAPÍTULO:Veremos pessoas muito inesperadas na casa de Ártemis. Isso depois de um passeio sensacional no qual Rony terá um encontro nada agradável. E há ainda a volta para uma chuvosa Saint-Pierce. Harry pareceu gostar bastante do temporal... E aí...vocês já sabem quem são os hóspedes inesperados? Ou com quem Rony irá se encontrar? Agite-se em "HÓSPEDES INESPERADOS E ROUPAS COLADAS"
