NO CAPÍTULO ANTERIOR: Garotas amadurecem mais rápido que garotos? Talvez Hermione e Ametista possam responder a vocês... E o que será de Ametista na Sonserina agora? Esta transferência promete muitas confusões, podem esperar!

CAPÍTULO ONZE - TORTAS DE AMORA E ARES DE TERROR

Faltavam quatro dias para a volta. Voltar a Hogwarts. E, cada vez que o relógio anunciava o passar das horas, a tensão aumentava em Godric's Hollow. Era mais uma noite quente em que os hóspedes aproveitavam os jardins e a confortável estadia naquele casarão. Haviam acabado de jantar quando Ametista seguiu para os jardins, desfrutando do maravilhoso céu naquela escuridão. Deitou-se na grama e colocou os braços embaixo da cabeça, apoiando-a vagarosamente.

         Observando atentamente cada estrela e a lua imponente, Ametista distraiu-se rapidamente ao ouvir passos vindo em sua direção. Preferiu continuar concentrando-se nas estrelas.

         - Não vai comer a sobremesa? Prisma fez a torta de amora.

         Ametista lutou para um sorriso não despertar em seu rosto. A voz que ouvia, agora tão familiar, convidava-a a comer a melhor delícia já feita por Prisma. Sua especialidade era aquela torta de amora, tão divina e suculenta. E, logicamente, ele era o único que a conhecia tão bem quanto ela.

         - Não estou com fome, o jantar me deixou cheia. – respondeu calma e fazendo círculos na barriga, mostrando o quanto estava satisfeita.

         - Você está mentindo. – afirmou a voz com veemência.

         A garota agora não conseguiu segurar um sorriso que foi formando-se devagar em seus lábios. Ainda não se tornando para encarar quem conversava com ela, Ametista endireitou-se na grama e sentou-se.

         - Mudou de idéia? – provocou a voz divertida.

         Finalmente, Ametista virou-se para trás e pôde encarar levemente aquele que parecia tão amistoso ultimamente. Na meia-luz, a garota encontrou os olhos azuis olhando-a intensamente. Lá estava Sirius Black, carregando dois pratos pequeninos com pedaços da torta de amora em cada um.

         Somente a lua e as poucas luzes internas do casarão iluminavam o jardim, onde as árvores faziam sombra e aumentavam a escuridão nos fundos de Godric's Hollow. Sirius aproximou-se de Ametista e estendeu o braço direito em sua direção, suspendendo o prato respectivo a ela. A garota pegou-o e desviou-se ligeiramente para a direita, para que Sirius se acomodasse ao seu lado. Sentou-se sobre a grama e sentiu o sereno da noite sobre a relva. A ligeira camada de vapor de água no ar e na relva dava um refresco à noite quente.

         - Percebo que sua barriga não estava cheia o bastante. – disse Sirius ainda segurando o prato na mão e vendo Ametista dar uma boa mordida na torta.

         - Como resistir a essa torta, não é mesmo? – respondeu Ametista, com a boca ligeiramente tomada pelo sabor doce e amargo da amora.

         Sirius sabia bem do que Ametista falava. Desde pequeno, quando morava naquele mesmo casarão, Prisma fazia questão de preparar aquela torta de amora. Sempre que aprontava algo, mesmo que em Hogwarts, e seu pai resolvia castigá-lo, após a bronca, Prisma fazia um pedaço da sobremesa para ele. Mesmo quando Thomas entrava na cozinha escondido e roubava sua porção, Prisma fazia outra e servia ao senhor que era responsável.

         - Engraçado como algumas coisas nunca são esquecidas – dizia o homem pensativo e vendo Ametista saborear-se diante da torta. – Quando Hariel veio aqui pela primeira vez, Prisma fez essa mesma torta e entregou um pedaço apenas a ela, escondido de mim. Quando fui beijar a sua mãe – Ametista tornou-se para ele, interessada. – senti o gosto das amoras e fiquei uma fera! – ele riu gostosamente. – E você sabe o que ela me respondeu?

         Ametista negou com a cabeça enquanto seus olhos brilhavam na meia-luz.

         - Ela disse que eu deveria aprender a fazer essa torta porque quando nos casássemos, ela comeria todos os dias. – respondeu num tom quase saudoso.

         - E você aprendeu? – indagou a garota, dando outra mordida na torta.

         - Aprendi, mas nunca tive realmente de fazer... Digo, Prisma veio morar conosco e acabava fazendo no meu lugar.

         - Tenho certeza que a sua nunca ficaria igual à dela. – cutucou Ametista.

         - Com certeza! – concordou Sirius, dando uma mordida finalmente. – Em toda sua gravidez, Hariel tinha vontade no meio da noite de comer essa bendita torta. Ela dizia que quando você nascesse, amaria a sobremesa assim como nós adorávamos.

         - Acho que a mamãe acertou. – completou Ametista encarando-o.

         Sirius deu um sorriso satisfeito que pôde ser visto por Ametista no meio da escuridão. A garota retribuiu o riso e deu a mordida final na torta. Ambos ficaram algum tempo silenciosos. Observando a escuridão daquela noite de verão. Ametista passou a língua nos lábios, aproveitando o resto de sabor das amoras de Prisma. Aquele silêncio significava muita coisa tanto para Sirius quanto para Ametista. Era a mostra que eles poderiam viver em paz, mesmo que ainda tomados por sentimentos tão confusos em relação ao outro.

         - Então... Sonserina, hein?! – disse Sirius repentinamente, quebrando o silêncio.

         Ametista olhou para o céu mais uma vez.

         - O que você vai fazer? – perguntou o homem curioso.

         - Não há nada que eu posso fazer – respondeu Ametista, suspirando. – Eles tomaram essa decisão e eu tenho que respeitá-la.

         Sirius franziu a testa, confuso. Como poderia aquela garota, tão contestadora e de nervos tão a flor da pele, aceitar a decisão de transferi-la para a Casa Sonserina?

         - Você aceitou isso?

         - Aceitar, eu não aceitei – respondeu naturalmente. – Eu tenho que ir levando, acho. A Sonserina pode ser o inferno, mas eu tenho que enfrentar, não é mesmo? Mesmo que eu ache que eles piraram em colocar uma grifinória na Sonserina.

         Caíram na risada. Sirius, largou o prato com ainda um pedaço restante da torta de amora ao lado do corpo, e laçou suas próprias pernas com os braços.

         - Ótimo, vou contar para o seu avô que você acha que ele pirou, enlouqueceu, ou o que seja que você quis dizer...

         - Não! – protestou Ametista, ainda rindo.

         Sirius viu a felicidade por um momento nos olhos da garota. Como ela era parecida com Hariel e até mesmo com ele!

         - Sabe... eu não acho que entrar na Sonserina seja tão mau negócio assim. – arriscou Sirius calmamente.

         Ametista encarou-o surpresa, preparando-se para uma nova risada.

         - Eu conheci duas pessoas muito legais lá.

         A garota franziu as feições do rosto novamente, agora totalmente confusa. Quantas provas ela já teve de que Sirius Black sempre foi, ao lado de Tiago Potter, o inimigo número um dos sonserinos?!

         - Quem? – indagou e uma idéia surgiu em sua cabeça. – Severo Snape e Lúcio Malfoy? – ironizou a garota, dando um risinho.

         - Eu disse pessoas legais... – reforçou Sirius, olhando de esguelha para Ametista, procurando algum resquício de mágoa ao "ofender" o antigo mestre, Severo Snape.

         - Quem eram, então? – perguntou mais uma vez, não se incomodando com a comparação de Sirius.

         Por um momento, Sirius mediu a situação e tentou achar qual era o melhor caminho. Mas, ela parecia-se tão familiar a ele naquela noite que resolveu colocar para fora a história de sua família – ou pelo menos parte dela.

         - Seus nomes eram Stephan e Thomas.

         Ametista continuou sem entender. Foi quando Sirius completou:

         - Meu pai e meu irmão.

         A garota arregalou os olhos. Havia Black's na Sonserina?!

         - Minha mãe, Holly, era uma grifinória – começou Sirius, encarando Ametista. – que se apaixonou por um sonserino, meu pai, Stephan. Ele era dois anos mais velho que minha mãe, portanto esperou-a sair de Hogwarts para se casarem. Três anos depois, minha mãe ficou grávida e Thomas nasceu dois anos antes de mim.

         - Você só tem um irmão?

         - Só, mas Thomas valia para todos os outros milhares que pudessem vir – debochou rindo suavemente. – Acho que meu pai sempre quis uma garota, mas não teve tanta sorte assim...

         Ametista sorriu tímida. O sereno aumentava lentamente enquanto a conversava se prolongava pela noite.

         - Então Thomas foi selecionado para a Sonserina e acabou até se tornando monitor-chefe de lá – completava Sirius. – E eu fui muito prejudicado por isso! Sempre fui mais cabeça quente que ele e sempre aprontei mais. Meu pai jogava na minha cara toda vez que eu tomava uma detenção que deveria ser igual a ele. Thomas foi o exemplo que tinha de seguir, mas que resolvi não levar tanto ao pé da letra.

         Riram novamente. Era engraçada uma conversa familiar como aquela acontecer em tão pouco tempo entre os dois bruxos.

         - Então, eu acho que talvez seja até melhor você ir para a Sonserina. – concluiu o homem cuidadosamente.

         Ametista virou-se para o precipício ou abismo a sua frente e notou que uma estrela cadente caiu no exato momento em que ela respondia ao homem:

         - Talvez nós sejamos mais parecidos do que imaginávamos.

         Sirius sorriu e levantou da grama. Sacudiu os braços sobre a roupa e espirrou levemente. Aquele sereno poderia provocar um resfriado facilmente a ele se ficassem mais muito tempo ali.

         - Acho que você tem razão.

         - E eu também acho que talvez – completava Ametista. – eu carregue algo do seu pai ou do seu irmão nas minhas veias.

         O bruxo não deixou de abrir um novo sorriso, bem mais largo que o anterior. Ao olhar para o abismo novamente, viu o prato com o pedaço de amora ainda no chão e pegou-o rapidamente. Caminhando de volta para alcançar Ametista, estendeu a sobremesa na frente do rosto da garota. Ela parou bruscamente.

         - Eu não estava com tanta fome assim. – disse ele, oferecendo o último pedaço da sua torta a Ametista.

         Ametista sorriu acanhada e pegou o pedaço entre os dedos, mordendo-o e sentindo, mais uma vez, o gosto tão familiar daquela torta de amora.

***

Quando o apito do Expresso de Hogwarts soou naquela manhã do dia primeiro de setembro, Harry assistiu Prisma acenando junto da família Weasley na plataforma nove e meia, emocionada. Era uma pena que os dias em Godric's Hollow haviam acabado-se tão rapidamente para os olhos do jovem. Dias de felicidade e tão familiares que ele nunca mais poderia esquecê-los.

         - E como Fred e Jorge conseguiram convencer a mamãe?!

         Era Rony. O jovem do sexto ano da Grifinória estava colocando os assuntos da família em dia junto de sua irmã, Gina Weasley. A garota, agora no quinto ano de Hogwarts, estava com os fios vermelhos presos num rabo de cavalo deixando-a ainda mais com uma face infantil. Gina, ainda mais esguia e bonita do que no ano anterior, contava ao irmão como Fred e Jorge, os gêmeos da família Weasley que haviam se formado no ano letivo anterior, conseguiram convencer a Sra. Weasley a especializarem-se nas suas "gemialidades".

         - Eles foram espertos, isso sim! – explicava Gina. – Ninguém sabia, mas eles haviam juntado um bocado de dinheiro nos dois últimos anos vendendo aqueles...aqueles troços para Hogwarts toda! Dinheiro suficiente para alugar a casa e montar a loja.

         Rony estava incrédulo. Após tantos anos de insistência da mãe para que os gêmeos procurassem um "emprego de verdade", ela havia sido, finalmente, domada e convencida.

         - Não acredito! – surpreendeu-se Rony ao ouvir cada palavra da irmã mais nova.

         - É verdade! E, imagine agora, que as visitas até Hogsmeade serão cheias de passeios até a Loja de Logros e Traquinagens dos Weasley! – entoou Gina ao dizer o nome da loja dos gêmeos.

         - Eles devem ter juntado bastante dinheiro, eu diria – falava Hermione que estava sentada ao lado do namorado e segurando em sua mão. – Não deve ser barato um aluguel em Hogsmeade!

         - É, parece que o comércio clandestino dos seus irmãos deu muito certo! – brincou Harry divertido.

         - Mercado negro, você quer dizer. – corrigiu Hermione no mesmo tom debochado.   

         Todos riram dentro da cabine, exceto por Ametista. A garota estava sentada na janela, ao lado de Harry, e observava os campos que passavam do lado de fora do expresso. Desde aquela manhã, esteve pensativa e não deixou sequer um momento Harry tomar alguma atitude para com ela. E ele estava ficando além de preocupado, irritado.

         Ao decorrer da viagem, vários alunos passaram na cabine, com direito até mesmo a Neville procurando seu malão. A maioria dos garotos do sexto ano da Grifinória não deixava, também, de notar o quanto Gina estava bonita. O único problema era que Rony mostrava o quanto odiava aquela situação. Por inúmeras vezes na viagem, o jovem sentava-se ao lado da irmã e ficava olhando feio para cada um que arriscava um olhar diferente na direção da irmã mais nova e caçula dos Weasley.

         Pouco antes de chegarem a Hogwarts, Hermione informou que eles deveriam trocar de roupa e colocar seus uniformes. Foi quando Ametista reagiu pela primeira vez durante toda a viagem. Levantando repentinamente do assento, ela virou-se para os amigos e disse:

         - Já volto.

         Enquanto isso, ainda na cabine, Hermione e Gina arriscavam levantar para procurar uma nova cabine para se trocarem. Hermione tornou-se para Harry antes de deixar a cabine.

         - Ela só está nervosa.

         Parecia que a amiga lia seus pensamentos. Harry, que não conseguia pensar em outra coisa a não ser a atitude da namorada, curvou-se para ficar em pé e não bater a cabeça na prateleira acima e pegou seu malão, procurando o uniforme da Grifinória, o broche de monitor e ainda, desviar os pensamentos de Ametista.

***

Ansioso para encontrar o novo componente do sexto ano da Sonserina, Draco Malfoy movia-se freneticamente dentro de sua cabine, nos fundos do trem. Crabbe e Goyle estavam trocando-se em outra cabine enquanto Draco já estava pronto há muito tempo, o broche da monitoria brilhando em seu peito. E, finalmente, ouviu alguém bater na porta de sua cabine.

         - Entre. – disse, sentando-se no assento perto da janela.

         A porta abriu-se rapidamente e dando origem à imagem de Ametista Dumbledore, pouco mais bronzeada em seu rosto e com a feição impaciente e descontente – como sempre estava em seus encontros com Draco.

         - O que você está fazendo aqui, Dumbledore? – indagou o jovem, ajeitando a gravata prata e verde. – O Cicatriz não está aqui não! – debochou.

         - Eu não estou procurando por Harry. – respondeu mal humorada.

         - Então não tem nada aqui para você. – afirmou o jovem secamente.

         Ametista suspirou e estendeu o braço esquerdo na direção de Draco.

         - Dê-me o uniforme de uma vez.

         Draco franziu a testa. Como ela sabia do uniforme?

         - Não há uniforme nenhum aqui para você. Ele é para o novo aluno da Sonserina, não para uma grifinória como você.

         - Eu sou o aluno! – estourou nervosamente. – Eu sou a nova aluna da Sonserina! Satisfeito?! Agora, me dê logo esse maldito uniforme!

         Draco arregalou os olhos, mesmo sem mostrar muita reação em seu rosto, como de costume.

         - Isso é algum tipo de brincadeira?

         - Não existe brincadeira alguma aqui, Malfoy! – retrucou Ametista ríspida. – Dá o uniforme e nós acabamos com essa conversa inútil!

         Foi quando Draco lembrou da carta que havia recebido poucos dias antes do embarque para Hogwarts. Ela falava sobre um aluno transferido. E na verdade, era uma aluna, já que o uniforme era composto pela saia escura da Sonserina.

         - Então quer dizer que agora, você é um sonserina? – supôs, soltando um sorriso irônico. – Eu sempre desconfiei que houvesse alguma lucidez na mente do seu avô e que ele percebesse que você, na Grifinória, era um desperdício.

         - Não fale do meu avô, você não tem a boca limpa o suficiente para falar dele. – disse a garota secamente e calma, esperando o uniforme.

         Draco riu suavemente no típico jeito irônico. Alcançou sem dificuldade uma sacola com o uniforme feminino da Sonserina dentro e estendeu-a para Ametista. Quando a garota colocou a sacola entre os dedos, Draco segurou-a mais uma vez, dizendo:

         - Vamos nos dar muito bem neste ano, Dumbledore.

         Ametista nada respondeu e puxou a sacola para seu lado, deixando a cabine e procurando uma apenas para ela. Draco permaneceu observando a porta e fabricando milhares de planos.

***

Já havia anoitecido quando, perto de chegarem ao castelo de Hogwarts, Ametista adentrou novamente na cabine de Harry. O jovem estava conversando com Rony e debochando do brilho do broche da monitoria quando viu a namorada parada na porta.

         Não deixou de sentir um calafrio ao vê-la. Estava com as meias brancas até o joelho, a saia verde escura pouco acima dos joelhos, a camisa branca coberta pela gravata prateada e esverdeada, e finalmente o casaco negro e carregando o emblema da serpente em seu peito esquerdo. O calafrio não foi exatamente para a namorada, mas sim por ver como aquele uniforme caiu bem no corpo de Ametista, como ela incorporou a Sonserina.

         - Estou feliz que não posso me olhar num espelho. – debochou a garota ao notar o olhar surpreso de Harry.

         Ametista odiava a idéia de não se ver num espelho, mas agora agradecia. Não suportaria ver a si mesma, vestida como uma legítima sonserina. Rony e Gina franziram as testas igualmente, percebendo o mesmo que Harry. Ametista parecia que nascera uma sonserina. O verde e prata interagiam com seus olhos e cabelos de forma surpreendente que dava até um certo medo. Já para Hermione, foi fácil de definir aquilo que viam. Afinal, Ametista era filha de Voldemort, e não haveria casa mais apropriada para ela do que a própria Sonserina.

         Para não deixarem-na desconfortável, Hermione retomou o assunto de que conversava com Gina e puxou Rony para fazer o mesmo. Ametista caminhou por dentro da cabine até acomodar-se ao lado de Harry. O jovem fez-se de bravo e virou a cara. Ametista suspirou e Hermione, observando tudo, disse que era melhor que começassem a juntarem suas coisas, arrastando Gina e Rony para outra cabine.

         - Isso muda tudo, não é mesmo? – disse Ametista repentinamente, sentando no banco a frente do namorado.

         Harry encarou-a, mudando a feição do bravo para o confuso.

         - Você, abraçando uma sonserina... Eu vi como você me olhou quando eu entrei nessa cabine, você me olhou como uma sonserina, como uma deles.

         O jovem monitor da Grifinória engoliu em seco e pigarreou, dizendo:

         - Não tem como negar que é estranho te ver nesse uniforme – concordou Harry. – Mas isso não faz mudar a pessoa que você é.

         Ametista olhou para os pés e encontrou o emblema da Sonserina no casaco. Era doído olhar-se daquela maneira.

         - Eu vou continuar gostando de você da mesma maneira, Ametista. Não é porque você é uma sonserina agora que eu deixarei de gostar de você ou gostarei menos.

         - Promete? – pediu Ametista carinhosamente.

         Era incrível como ela abria suas defesas quando estava junto dele. Como era possível se tornar tão vulnerável diante dele?! E sentir-se tão protegida por tê-lo junto dela?

         - Eu prometo. – respondeu Harry, sentando-se ao lado de Ametista e rapidamente abraçando-a e beijando-a.

***

As escadarias de Hogwarts pareciam cada vez mais longas para Ametista. Subindo junto de Harry, Rony e Hermione, ela sentia o peso de, agora, pertencer a um novo mundo. Os ares de Hogwarts estavam estranhamente pesados. Sentia-se nitidamente uma força negra pairando sobre o castelo tão majestoso da Escola de Bruxaria. E, facilmente, o motivo foi descoberto.

         Ao abrirem as portas de carvalho do salão principal, viu-se que a decoração de todo o salão era negra. Os alunos chocaram-se e notaram que o teto encantado estava cheio de nuvens, distinto do real céu daquela noite. Estavam sentados na grande mesa dos professores apenas a vice-diretora, Minerva McGonagall, e Severo Snape, o diretor da Casa Sonserina.

         Antes de sentarem nas mesas respectivas, muitos estudantes pararam diante da atmosfera nebulosa de Hogwarts. Foi quando ouviram alguém chamá-los as suas costas.

         - Por que estão parados aí?! Andem!

         Harry virou-se para trás e encontrou Hagrid junto dos alunos do primeiro ano, tentando apressar os estudantes mais velhos. A silhueta do gigante continuava a mesma, mas seu rosto trazia algum resquício de preocupação. Os alunos, finalmente, começaram a se mover. Ametista tocou levemente o braço do namorado e cochichou em seu ouvido:

         - A gente se fala mais tarde, certo?

         O jovem monitor assentiu e juntou-se aos melhores amigos na mesa da Grifinória. Em contrapartida, Ametista notou que inúmeros olhares recaíram sobre ela ao vê-la sentando-se à mesa da Sonserina. Procurou acomodar-se bem à frente na mesa, para poder encarar, ansiosamente, o avô e o antigo mestre, Severo Snape.

         Aos poucos, as mesas eram tomadas pelos estudantes receosos e temerosos pelo que poderiam esperar. Após alguns minutos, McGonagall levantou de sua cadeira e pigarreou.

         - Entrem os alunos do primeiro ano!

         Hermione comentou com os amigos como era estranho que a professora não estava acompanhando a entrada dos novatos em Hogwarts, como de costume. Junto com a entrada dos alunos, alguns professores uniam-se a Minerva e Snape em sua mesa de frente para as outras. Harry viu quando Arabella entrou junto de Sirius e, com uma expressão indecifrável, cochichou algo com Minerva e ultrapassou a mesa dos professores, ficando de frente para os alunos do primeiro ano. Como rotineiramente, o Chapéu Seletor, sobre seu banquinho, começou a cantar uma nova música.

         A final da canção, pegando o Chapéu Seletor entre os dedos e a enorme lista com os nomes dos alunos, Arabella anunciou:

         - Ao chamá-los, sentem-se no banco e coloquem o Chapéu Seletor sobre suas cabeças – dizia a mulher imponente. – Após a seleção, juntem-se a mesa da Casa escolhida.

         - Bella fazendo a seleção dos alunos?! – perguntou-se Harry intrigado, chamando a atenção de Rony e Hermione. – Tem algo de muito errado acontecendo aqui.

         Seus amigos concordaram no mesmo momento. Enquanto os alunos eram selecionados, lançou um olhar até Ametista sentada na última mesa do salão à esquerda. Quis alcançá-la, evitando um maior estrago, já que a namorada estava encarando ferozmente o mestre de Poções, sentado exatamente na direção da mesa sonserina.

         Mais rápido do que habitualmente, os alunos foram divididos em suas respectivas Casas e esperavam o comunicado de, no caso, a vice-diretora. Entretanto, quando Minerva levantou de sua cadeira a fim de acabar com todo o mistério que pairava sobre Hogwarts, o diretor surgiu de trás da porta lateral e caminhou lentamente até o assento central da mesa. Ainda em pé, ele começou:

         - Sejam bem-vindos há mais um ano em Hogwarts! – recebeu os novos e velhos alunos da Escola. – Já selecionados a suas Casas, espero que possamos continuar com a boa convivência...

         "Que espécie de recado é esse?! Boa convivência?!", confundia-se Harry pensativo observando a postura sempre calma do diretor.

         Alvo Dumbledore não sabia como iniciar o verdadeiro assunto. Resolveu primeiramente, olhar os rostos conhecidos e tão importantes para ele. Após encontrar um sorriso confiante de Hermione, o velho diretor arriscou encarar o rosto da neta. Ametista fitava-o com uma expressão difícil de ser entendida. Era um misto de mágoa, mas também inquietação. Porém, detalhou bem em seus olhos o temor. Ela sabia que algo havia acontecido. Algo de muito sério.

         - Em virtude de alguns acidentes no passado – dizia o diretor. – Hogwarts está totalmente protegida, após um exaustivo trabalho de magias de reforços para uma melhor autonomia da Escola contra as possíveis invasões futuras – Harry sabia que ele falava sobre o incidente quando Lúcio e mais dois Comensais da Morte entraram na Escola em junho. – Mas, ainda há outros assuntos que devem ter conhecimento. Assuntos mais sérios.

         Dumbledore parou e deu mais uma olhada nos alunos. Os novatos do primeiro ano encaravam-no admirados. Coitados, não tinham nem idéia do que poderia acontecer a eles na atual situação.

         - Como muitos devem ter percebido, Hogwarts está em luto...

         - Por isso da decoração negra! – deduziu Rony rapidamente.

         - Pois um grande amigo nosso nos deixou – completou o diretor num tom saudoso. – Na verdade, foi forçado a nos deixar.

         Um burburinho surgiu no meio das mesas da Grifinória e Sonserina. Os alunos estavam apavorados e muitos tentavam descobrir quem morrera. Minerva, irritada, bateu a própria varinha no copo de cristal a sua frente, fazendo todos se calarem.

         - Muito de vocês lêem os jornais bruxos, eu espero – cutucou divertido, tentando desviar a tensão dos estudantes. – E sabem quais as posições do Ministério da Magia e a minha sobre a volta de Lorde Voldemort.

         Inúmeros alunos tremeram diante do nome do maior bruxo das Trevas já existente. Harry trocou um rápido olhar com Hermione e a amiga estava tão curiosa quanto ele.

         - Nós possuímos o testemunho confiável de algumas pessoas que tiveram junto de seguidores de Voldemort, e até mesmo de alguns que presenciaram a volta do mesmo – Harry notou que Dumbledore olhou de esguelha para ele. – A Marca Negra aparecendo nos céus novamente, os Comensais atacando mais uma vez, espalhando uma onda de pavor entre todos os bruxos e até mesmo trouxas. Por isso e outros motivos, permaneço defendendo a minha posição de que Voldemort está de volta e mais vivo que nunca.

         - Onde ele quer chegar com essa ladainha afinal? – aborrecia-se Rony roendo-se de curiosidade.

         O diretor tomou ar novamente e procurou acelerar o assunto.

         - No início dessa noite, há pouco mais de uma hora, fui avisado sobre um corpo que fora encontrado em Hogsmeade – suspirou o diretor rapidamente. – Era Alastor Moody, o chefe do Departamento de Aurores do Ministério da Magia.

         A desordem tomou conta de Hogwarts. Todos estavam comentando sobre a notícia. Dumbledore estava falando, nada mais nada menos, de Olho Tonto Moody, o famoso auror que estava há anos lutando contra as forças de Voldemort, e que, supostamente, foi o professor do quarto ano de Defesa Contra a Arte das Trevas.

         - Se Olho Tonto foi morto, que era um grande auror, apesar de meio pirado – dizia Rony baixinho para os amigos. – Imagine o que quem o matou pode fazer conosco!

         - Entretanto, entretanto – repetia Dumbledore, aumentando o tom da voz e retomando a atenção de todos os alunos. – Alastor Moody estava em Hogsmeade por apenas um motivo: ele estava vindo para Hogwarts – a maioria não entendeu de súbito o que Alvo quis dizer, e o diretor acabou completando. – Ele seria o novo professor de Defesa Contra a Arte das Trevas, já que o mestre Lupin teve de se ausentar este ano novamente.

         Agora, os alunos enfrentavam um misto de surpresa e revolta, já que Lupin fora, de longe, o melhor professor da matéria.

         - Temos motivos e razões suficientes para acreditar que Voldemort esteja atrás de Hogwarts, tentando invadir a Escola e destruir nosso ideal de paz – finalizava Dumbledore. – Sabemos que Voldemort possui inúmeros motivos para tentar entrar em Hogwarts e não podemos permitir que os ares de terror da atualidade cheguem até aqui. Por isso, peço a colaboração de todos os alunos e professores para o início de mais um ano letivo.

         Harry olhou ao final para Ametista novamente e encontrou os olhos da namorada. E, pela primeira vez, notou algo de diferente no olhar dela: culpa. Harry sabia que Ametista sentia-se culpada, pois Voldemort, com toda a certeza, faria de tudo para chegar até ela.

- Agora, vocês terão alguns dias uma certa folga até arranjarmos um novo professor de Defesa Contra a Arte das Trevas. Tenho certeza que encontraremos um logo...         

         - Do jeito que as coisas andam, eu não teria tanto certeza se fosse ele. – disse Draco Malfoy, na mesa da Sonserina, fazendo os alunos rirem.

         Oportuno e provocativo, o monitor da Sonserina havia escolhido sentar-se bem à frente da nova componente de sua Casa. Ametista ouviu a declaração do jovem e depois as risadas dos alunos. Sentiu nojo de fazer parte daquele mundo.

         - Mas independente dos recentes terríveis acontecimentos, devo apresentá-los ao novo professor de Hogwarts – dizia Dumbledore, sua expressão mais leve. – Os sexto e sétimo anos de todas as Casas possuem uma matéria adicional, como já sabem, que é a Transformação Humana. Nossa antiga professora, a Sra. Birckmann, teve de se ausentar por motivos de saúde e deixou a vaga à disposição do conselho dos mestres de Hogwarts. Apresento-lhes Sirius Black.

         Harry e os demais alunos não haviam nem percebido que, durante toda a explicação de Dumbledore, o bruxo esteve sentado ao lado da professora Sprout e de Arabella na mesa principal. E, agora, ele seria professor de Harry! Muitos alunos surpreenderam-se com a notícia, mas não houve alguma reação contrária, apenas pelos rotineiros comentários dos sonserinos.

         - Isso não é perfeito?! Agora teremos um assassino na mesa dos professores de Hogwarts... – debochou Pansy Parkinson.

         - Melhor do que Comensais da Morte. – respondeu Ametista seca, olhando diretamente a Draco, que se sentiu ferver de raiva.

         - Finalmente, espero que se sintam em casa e aproveitem o jantar! – anunciou o diretor e os pratos cheios de comidas apareceram magicamente nas mesas das Casas.

***

- Não acham irônico, colocarem uma grifinória no meio de nós?

         A mesa da Sonserina olhou quase por inteira para Ametista. Era Draco provocando a multidão, fazendo que até mesmo alguns da mesa da Corvinal observarem a transferência da garota para a mesa adversária.

         - Não acha irônico eu levantar agora mesmo e quebrar seu nariz? – retrucou Ametista nervosamente, enquanto seu prato permanecia vazio.

         - Por que você não tenta? – provocou o jovem em resposta. – Ou talvez você queira chamar a sua trupe da Grifinória para fazê-lo em seu lugar.

         Quando Ametista ameaçou uma nova resposta para continuar a discussão, uma garotinha morena do primeiro ano da Sonserina apareceu atrás de Draco, indagando:

         - O senhor é o monitor, não é mesmo? – Draco, mal educadamente, indicou que sim. – Onde está Harry Potter?! – pulou a garota de excitação. – Onde?!

         Draco aborreceu-se diante da garotinha pulando freneticamente, perguntando sobre o estúpido Potter. Viu-se diante de Ametista encarando-o ironicamente e respondeu:

         - Por que não pergunta a essa senhorita? – dizia, apontando com a cabeça, Ametista. – Pergunte onde está o namoradinho dela?

         A garotinha ameaçou abrir a boca em direção a Ametista, mas fechou-a exatamente no segundo ao ver a expressão enlouquecida e impaciente da jovem. Deu meia-volta e caminhou até seu lugar, não mais pulando. Draco deu um riso discreto e sarcástico, dizendo:

         - Não é desse modo que se deve tratar uma criança, Dumbledore. Será que seu avô não lhe ensinou nada?

         - Talvez você possa mandar seu pai ensinar-me, que acha? Tenho certeza que ele sabe muito bem como cuidar de uma criança...

         Draco rangeu os dentes nervosamente. Quanta audácia!

         - Sabe, Draco – debochou sobre o nome do jovem. – Se durante todos esses anos, você conseguiu montar e fazer o que quiser com os outros sonserinos, lembre-se que comigo, seu papo de que o papai te protege, não funciona comigo. Nunca se esqueça disso.

***

Após o término do jantar, os monitores chamaram os alunos do primeiro ano e os levavam até a Torre de cada Casa. Pouco antes dos outros anos subirem igualmente até suas Torres, na saída em conjunto, Ametista sentiu alguém puxando seu braço levemente e puxando-a para um canto escondido. Para seu alívio, era Harry.

         - Então?

         Foi apenas o que o jovem conseguiu dizer a namorada. Ametista estava calada e pôde somente responder:

         - Eu acho que isso vai ser mais difícil do que imaginei.

         Harry deu um beijo na testa de Ametista e abraçou-a. Como faria falta a sua presença na Torre da Grifinória! E como seu cheiro deixaria recordações quando ela tivesse que voltar para a Sonserina!

         Calmamente, Harry foi desfazendo-se do abraço e ouviu Ametista dizer:

         - Tinha uma garotinha perguntando sobre você...

         - Mesmo? – Harry mostrou-se indiferente.

         - Acho que ela pode estar apaixonada por você... – debochava Ametista, tentando desviar as idéias da Sonserina.

         Harry abriu um sorriso malicioso.

         - O que posso falar? A paixão dela pode ir por água abaixo então, porque você já me tem na sua mão.

         - Tenho é?

         Harry assentiu num som irresistível. Ametista sorriu e piscou para o namorado, enlaçando-o e levando seus lábios até os dele. Como era reconfortante saber que ele estaria ali, somente para ela! E como só ele conseguia fazê-la esquecer de todos os problemas.

         - Você é um monitor, Harry, tem de dar o exemplo. – ouviram uma voz as suas costas.

         Hermione estava rindo de ambos timidamente. Rony estava junto, segurando a mão da namorada. Ametista parou o beijo e fez Harry soltar um muxoxo insatisfeito e mal humorado. Ela riu. Despedindo-se dos três amigos, tomou o rumo para a Torre da Sonserina junto dos alunos do quinto ano da sua Casa.

         Harry observou a namorada distanciar-se em meio aos sonserinos e carregando em seu peito o emblema da Sonserina. Uma preocupação surgiu na sua mente. Como seria a primeira noite dela? A primeira idéia foi a de, provavelmente, teria mais uma crise de insônia e seria incapaz de descansar a cabeça no travesseiro.

         Rony aproximou-se do melhor amigo e colocou a mão em sem ombro, dizendo:

         - Sabe, Harry, eu começo a desconfiar que você não tem a mínima sorte com garotas – Harry franziu a testa confuso e aborrecido. Rony completou. – Você escolhe gostar bem da menina mais irritante que já conheceu, filha de Voldemort, e diga-se de passagem o assassino dos seus pais, e ainda, como se não bastasse, uma sonserina. Você realmente é O cara!

NO PRÓXIMO CAPÍTULO: Conheceremos a Torre da Casa mais poderosa de Hogwarts e teremos as primeiras impressões do monitor Draco Malfoy. Finalmente, a primeira aula do professor Sirius Black - tentando controlar os egos de sonserinos e grifinórios - , além de um descontraído papo com o famoso e estranho Chapéu Seletor. Descubra se a Sonserina te agrada ou não em "SONSERINA E TRANSFORMAÇÃO HUMANA"