NO CAPÍTULO ANTERIOR: Parece que a relativa paz que havia se instalado fora apenas uma longínqua ilusão. Voldemort e seus Comensais da Morte andam realizando o trabalho muito bem. Quais serão os próximos alvos? E até quando Hogwarts e Dumbledore poderão proteger os alunos do Lorde das Trevas?

CAPÍTULO DOZE – SONSERINA E TRANSFORMAÇÃO HUMANA

- Morto! Morto! – repetia Arabella andando em círculos pela sala do diretor.

         Os professores estavam reunidos no âmbito há mais de uma hora, nervosos e tentando entender os planos de Voldemort. Dumbledore estava sentado em sua cadeira atrás da mesa e enrolando o final de sua barba, num modo pensativo. Sirius ao lado da janela, concentrando seus olhos e distinguindo os raios dos feitiços de proteção além dos portões da Escola. Minerva limpava os óculos com a barra de seu casaco e Snape observava o antebraço esquerdo, onde havia a brilhante Marca Negra.

         - Ele quer apenas nos impressionar. Este é o plano dele. Deixar todos apavorados e abrirmos a guarda... – dizia Minerva aborrecida.

         - Ou entregarmos Ametista ou Harry a ele. – completou Snape num estado calmo e seco.

         - Imagino que você deva estar louco para que aconteça a segunda opção, não é mesmo?  – provocou Sirius, já sem paciência.

         - Parem! – ordenou Dumbledore. – Não tolerarei essas discussões na atual situação. Um amigo nosso foi morto. Um aliado.

         - E a Ordem da Fênix? Que tem feito, afinal? – indagou Snape.

         Dumbledore suspirou.

         - Capturaram um suspeito há mais de um mês. Está preso no subterrâneo do Ministério, mas tudo em total sigilo. Cornélio não pode nem imaginar que estamos agindo pelas suas costas.

         - Um suspeito?! – surpreendeu-se Sirius. – Precisamos capturar o chefe dos Comensais! E você sabe muito bem de quem estou falando, Alvo!

         Dumbledore suspirou. Sim, era Lúcio Malfoy a chave para a maioria de seus problemas. Mas o bruxo era poderoso. Poderoso e rico. E, infelizmente, o dinheiro e o medo moviam o mundo bruxo assim como moviam o mundo trouxa.

         - Devemos nos focar no filho. Ele poderá contar-nos alguma coisa... – arriscou o diretor, vendo os olhos de Sirius arregalarem-se.

         - Draco dirá coisa alguma, Alvo! O garoto é um poço de maldade! – protestou o bruxo, batendo o braço na janela.

         - Aos poucos, ele irá adquirindo confiança em nós, Sirius...

         - Como?! Fazendo-o monitor da Sonserina?!

         Snape deu um passo à frente, austero.

         - Malfoy sempre sonhou com essa monitoria, Black. Sem contar que o garoto confia em mim.

         - Mas, você realmente acha que ele sairá contando a você os planos do pai dele?! Você não tem competência alguma para isso, não consegue nem descobrir os planos de Voldemort, sendo seu Comensal!

         - Sirius, precisamos descobrir os planos dos Comensais primeiro, já que o chefe deles comanda as operações, independentemente das idéias de Voldemort. E o garoto pode nos revelar. O pai confia nele, acha que o garoto poderá dar um grande Comensal num futuro próximo... – interrompeu Alvo.

         - Ele não contará os planos para o Snape, isto está na cara! Não se o pai dele nem suporta a idéia da sua volta! – apontou Sirius para o mestre de Poções.

         - Ele precisa de um amigo – disse Arabella repentinamente, fazendo os homens calarem-se. – Ele só contará essas coisas a um amigo, um verdadeiro amigo. Ou ainda uma namorada.

         Snape e Alvo pareceram guiar seus olhares para baixo, pensativos. Sirius franziu a testa e pareceu entender o plano.

         - É a Ametista – afirmou com intensidade. – Foi por isso que ela foi transferida para a Sonserina, não é mesmo?

         Dumbledore encarou Sirius seriamente.

         - Engana-se ao pensar assim, Sirius. Nunca colocaria Ametista no meio dessa batalha. Nenhuma dessas crianças. Não agora – dizia o homem sabiamente. – Ametista foi transferida para a Sonserina pelo motivo de que a sua Casa é a Sonserina. O sangue que corre nas veias da minha neta é do herdeiro de Slytherin.

         - Sem contar que todos sabemos que ela e o Malfoy não se dão nem um pouco bem... – completou Sirius ainda aborrecido.

         - Se você for pensar desse modo, ela e Harry também não se davam bem e estão aí... – interrompeu Arabella.

         - Estão aí como? – indagou repentinamente Snape.

         Sirius trocou um olhar com Arabella e disse, até com um certo prazer:

         - Ametista e Harry estão namorando.

         Snape contorceu seu rosto como de costume quando era contrariado.

         - E você aceitou, Black? – indagou ligeiramente curioso.

         - Nós não estamos falando sobre Ametista ou Harry – cortou Minerva nervosamente. – O fato é que Alastor Moody está morto, estamos sem um professor na Escola e ainda temos de estar a postos para um ataque inesperado de Voldemort. Não é hora de discutirmos problemas pessoais.

         Arabella suspirou lentamente, olhando de esguelha para Fawkes, a bela fênix do diretor, e voltou os olhares para Dumbledore.

         - Deve ser um dos bons... O Avada Kedavra foi executado com perfeição – murmurava Snape gravemente. – Poucos que conheço sabiam executá-lo dessa forma. Ele não deve ter sofrido muito.

         - É engraçado como as coisas são – interrompeu Sirius. – Nós temos a lista de todos os Comensais, de cada família podre que continua apoiando Voldemort, e simplesmente não podemos fazer nada.

         - Nossas mãos ainda estão atadas, Sirius. Mas imagino que não por muito tempo. – respondeu Dumbledore.

         - Por que você diz isso, Alvo? – perguntou Arabella controlada.

         - Logo os dementadores serão possuídos pela ambição do poder e cairão novamente para o lado de Voldemort. E então só haverá poucas pessoas que poderão nos ajudar. – continuou o diretor.

         Arabella e Sirius trocaram olhares até mesmo com Snape.

         - Você pretende convocá-los, Alvo? – indagou Sirius surpreso.

         - Se for preciso, sim. E também, será bom para alguns rever a família, ou mesmo parte dela...

***

Seguindo um grupo de vinte alunos, Ametista conhecia e tentava gravar o caminho até a Torre da Sonserina. A direção já era conhecida pela garota: as masmorras. De repente, a quase multidão começou a descer degraus para dentro da escuridão das masmorras. Era apavorante. Degraus de pedra, ligeiramente escorregadios, guiavam-na junto do grupo para mais uma dezena de corredores que mais pareciam labirintos, escuros e nebulosos como deveriam ser. Havia dois garotos ao seu lado, conversando baixinho e olhando de esguelha para ela. Ametista tentou ficar ligeiramente para trás, apenas acompanhando-os.

         Quando começou a pensar em desistir, correr de volta até a sala do avô e exigir que a colocassem de volta na Grifinória, o grupo de bruxos parou diante de uma parede, como as outras, mas que era lisa e, ao tocá-la levemente, percebia-se sua umidade. Foi um dos mais velhos do grupo que anunciou a senha:

         - Fidem!

               Ametista sabia que fidem significava fidelidade em latim. Fidelidade a quê? Aos puro-sangues? Ametista podia parar ali mesmo e gritar que eles não passavam de lesmas do fundo de um barril de bosta – o que Rony adoraria ouvir – mas preferiu conter-se. Mais uma vez, seguiu o grupo e ultrapassou a passagem.

         Ametista quis surrar-se ao ter o primeiro pensamento quando entrou na sala comunal da Sonserina: "Adorei!". De fato, era um lugar interessante. O salão era bastante diferente da acolhedora e vermelha sala comunal da Grifinória. Comprida e majestosa, a sala comunal não possuía muitos sofás em volta da lareira, como na da Grifinória, mas havia muito mais mesas, com o encosto das cadeiras alto, e uma incrível diversidade de quadros, todos do mesmo tom esverdeado e prateado. O teto tinha umas grossas correntes negras e um pouco enferrujadas penduradas e correndo de um lado ao outro do salão, pendendo os lustres que iluminavam o salão com a cor esverdeada. As janelas eram também em maior quantidade, mais altas e finas, num estilo gótico. Em resumo, era uma sala comunal diferente, com um certo aspecto úmido e escuro, deprimido. Mas ao mesmo tempo, fascinante. Ao lado de alguns sofás mais ao canto, havia abajures prateados e esverdeados alternados de forma certa, em que as cores acabavam se misturando. E, claro, havia o enorme vitral logo na entrada do salão, com o desenho de um homem segurando um cajado. Era Salazar Slytherin.

         Quando notou, a maioria dos alunos já havia se recolhido para seus dormitórios silenciosamente. Ametista achou estranho, mais provavelmente por causa do fato de que na Grifinória havia sempre festas e o pessoal era acostumado a dormir tarde. Talvez, era exatamente isso que faltava na sala comunal da Sonserina: calor humano.

         - Que você achou?

         Tornando-se vagarosamente para o lado esquerdo da lareira, Ametista encontrou Draco Malfoy, sentado em um dos sofás e brincando com a varinha entre os dedos.

         - Tende a goteiras quando chove? – provocou a garota.

         - Algumas vezes... – respondeu Draco num tom que pareceu sincero.

         - Todos já se foram, por que você ainda está aqui? – questionou Ametista cansada.

         Draco esticou-se no sofá, lançando um olhar à garota.

         - Sou monitor, tenho que te indicar seu dormitório, as regras desse salão comunal... Ouvi dizer que na Grifinória é tudo desorganizado... Acho que a Granger não faz um bom trabalho por lá.

         Ametista respirou fundo pacientemente.

         - Não chamaria de desorganização. Chamaria de amizade. Aqui, os alunos parecessem distantes uns dos outros.

         - A Sonserina pode ser tão unida quanto a Grifinória, Dumbledore. Você ainda é apenas uma novata aqui.

         - E o que realmente você quis dizer com isso, Malfoy?

         - Que você terá de dançar de acordo com a música que eu tocar. – concluiu Draco, levantando do sofá e caminhando para longe da lareira, fazendo Ametista segui-lo.

         - Vamos fingir que eu aceitei o que você acabou de dizer. Eu realmente não estou com pique nem paciência para você. – respondeu a garota.

         Draco soltou um riso forçado e parou a frente de uma escadaria em forma de espiral, toda de ferro, larga e imponente.

         - Esta é a escadaria para os dormitórios femininos. É a primeira porta. – indicou o monitor indiferente.

         Ametista nada respondeu e subiu a escada, sem olhar para trás nem agradecer. Draco também prosseguiu com o seu próprio caminho, para o quarto. A primeira porta do corredor estava semiaberta quando Ametista paralisou diante dela. Abrindo lentamente, encontrou cinco camas distribuídas num círculo em volta de uma bonita estátua de uma serpente. A sua cama era a única em que o dossel verde escuro estava aberto. Caminhou silenciosamente até ela e deixou-se cair pesadamente. Puxando a corda do dossel, procurando esconder-se debaixo de um fino cobertor – a Sonserina ficava nas masmorras, sendo assim, bem mais fria – e esquecendo que, quando acordasse teria de enfrentar tudo que os sonserinos e a Sonserina poderiam reservar-lhe.

***

Deitando em sua cama, Sirius acolheu os braços envolta do travesseiro branco. Arabella estava terminando de colocar sua camisola. O calor havia dado uma trégua e o clima estava mais ameno, finalmente, sem contar também o fato de que Hogwarts era bem mais fria que o resto da Inglaterra.

         - Dumbledore foi muito camarada de deixar-nos no mesmo quarto. – brincou Sirius, fazendo Arabella rir.

         - Camarada? Anda mudando o palavreado, é? – devolveu a brincadeira bem disposta.

         Sirius abriu os braços e Arabella engatinhou até ele, alcançando o rosto do bruxo, beijando-o suavemente.

         - Você está preocupada, não é mesmo?

         Arabella abaixou a cabeça e ajeitou as alças da camisola que insistiam em escorregar dos seus ombros.

         - É a sua mãe.

         - Claro que é a minha mãe, Sirius – aborreceu-se levemente a mulher. – Ela é mais importante que Alastor Moody naquele Ministério! Ela só recebe ordens do Fudge! O que você espere que eu pense?!

         Sirius beijou a testa da namorada.

         - Tudo bem, eu entendo. Mas você também não pode esquecer que sua mãe não é distraída, Bella. Tenho certeza que a Sra. Figg tem todo o conhecimento da operação dos Comensais, ou pelo menos possui a consciência de que também é um alvo.  

         - Eu não quero que ela seja um alvo! – protestou a mulher.

         - Eu também não queria que Thomas fosse alvo, que meu pai fosse alvo, que minha mãe fosse alvo, Bella! – retrucou Sirius. – Nós não permitiremos que algo aconteça com a sua mãe. Agora, não adianta você esquecer tudo a sua volta por causa disso. E, é como você disse, a Sra. Figg é tão importante para o Ministério que Fudge não seria idiota o bastante de perdê-la.

         Arabella bufou impaciente, pensando na mãe. E Ártemis também não ajudava em absolutamente nada. Talvez, com a notícia do falecimento ou assassinato de Alastor, a irmã mais velha pudesse cair em si e ajudar na proteção da própria mãe.

***

Pouco após o amanhecer, Ametista começou a ouvir vozes e passos do lado de fora do seu dossel. Não era surpresa a insônia que a atingira naquela noite. Abrindo timidamente a cortina envolta de sua cama, viu Pansy Parkinson despertando em seu leito. Aquela cara de buldogue observou a garota e disse:

         - Agora terei de agüentá-la no meu próprio quarto.

         Ametista soltou um muxoxo indiferente. Levantou e rapidamente trancou-se dentro do banheiro. Ao sair, já de banho tomado, encontrou suas roupas espalhadas sobre a cama e no chão ao lado da mesma. Respirou fundo e começou a catá-las do piso, segurando um possível surto de raiva que insistia em incomodá-la. E aquele era apenas o começo.

         Terminado o trabalho e colocado o uniforme, desceu a escadaria espiral e encontrou o grupo de três alunas, incluindo Pansy, encarando-a e escondendo risinhos. Ametista cerrou os olhos e formou um sorriso irônico nos lábios, controlando sua raiva. Parou diante das três companheiras de quarto, dizendo:

         - Se você acha que isso me irritou, enganou-se – Pansy foi desfazendo o sorriso aos poucos, assim como as garotas. – E, um conselho, não sorria – Pansy ficou com a expressão confusa. – Sua pele se enruga e você fica cada vez mais parecida com a sua avó e o seu cachorro.

         Pansy enfureceu-se, mas Ametista simplesmente deu as costas e dirigiu-se até uma pequena multidão envolta de Draco. Ele estava distribuindo os horários para o começo do ano letivo. Quando a maioria deixou o salão comunal e se dividiu pelo castelo, Ametista conseguiu pegar seu horário. Draco estendeu o papel, dizendo:

         - Defesa Contra a Arte das Trevas, Poções, Trato de Criaturas Mágicas e Transformação Humana.

         A jovem tornou-se para o monitor e franziu a testa sem entender.

         - Aulas com os podres da Grifinória.

         Ametista não ligou e dirigiu-se a um canto no salão comunal, sentando numa das cadeiras de espaldar alto. Sua primeira aula, no dia seguinte seria Transformação Humana. Como Sirius se sairia como professor? E o que exatamente ensinava aquela matéria?

         Porém, havia outras coisas em que precisava se concentrar. Por exemplo, uma visitinha na sala do avô. Deixando a Torre da Sonserina para trás, Ametista foi voltando para a sua antiga realidade e procurando o caminho de volta até a famosa sala do diretor. Encontrando após dar muitas voltas a estátua do gárgula, pronunciou a mesma senha que usara durante alguns dias de suas férias e a escada em espiral apareceu.

         Atravessando a porta, o avô estava sentado em sua cadeira olhando uma ampulheta sobre sua mesa.

         - Você quer uma explicação? – indagou o velho repentinamente, sem tirar os olhos do objeto.

         - Sim – concordou a garota levemente aflita. – Por que me colocou na Sonserina?

         Finalmente, Dumbledore levantou os olhos por cima dos óculos meia-lua e encarou a neta. Ametista estava com os braços cruzados no peito e uma expressão afligida.

         - Por que eu transferi você para a Sonserina? – repetiu a pergunta o diretor. – Se eu respondesse que seu desempenho escolar poderia melhorar na sua Casa respectiva você provavelmente bateria o pé, dizendo que melhoraria mesmo estando na Grifinória.

         - Exatamente... – concordou Ametista mais uma vez diante da quase provocação do avô.

         - E agora que fiquei sabendo que a senhorita está namorando o senhor Potter – dizia o diretor, ainda olhando com uma expressão marota para a neta. – provavelmente você diria que ele, sendo um bom aluno e agora, monitor, poderia muito bem ajudá-la na execução das tarefas, correto?

         - No alvo. – aborreceu-se a garota novamente, corando.

         - Então, por que será que eu a coloquei junto dos terríveis e tão odiados sonserinos? Por que a coloquei junto do senhor Malfoy, que quase a arremessou de uma altura de vinte metros do chão numa partida de quadribol?

         Ametista não conseguia decifrar o argumento do avô. Do que ele estava falando e por que falar daquela forma? Irritava-se mais e mais.

         - Qual é o seu ponto, vovô?! – explodiu a garota nervosa.

         Dumbledore levantou de sua cadeira e caminhou até a garota. Postando-se ao seu lado, ele endireitou a cabeça da neta para o alto de uma de suas estantes, fazendo os olhos da neta irem de encontro ao Chapéu Seletor.

         - Pergunte a ele. Foi ele que te colocou na Sonserina, não eu. – dizia Alvo num tom sábio.

         A garota engoliu em seco e perguntou em voz alta:

         - Por que eu fui selecionada para a Sonserina e não para a Grifinória? Como meu avô e a minha mãe.

         Uma boca longa foi formando-se no velho chapéu. O objeto pigarreou discretamente e respondeu:

         - A senhorita não pertence a Grifinória. A senhorita possui as qualidades de uma legítima sonserina, e não de uma grifinória. É claro que a senhorita é muito corajosa, como um grifinório é, mas sua ousadia, determinação e, principalmente, sua sede pelo poder são muito maiores que sua coragem, e isso a torna uma legítima sonserina.

         Ametista abriu a boca sem sair nenhum som. Depois de algum tempo, ela recuperou o ar, continuando:

         - Sede pelo poder? – engasgou ao repetir.

         Dumbledore não deixou de segurar um sorriso que se formou.

         - A senhorita procura sempre mostrar-se melhor no que é capaz. E isso dá origem a uma enorme sede de poder dentro do seu coração. A única questão a ser tratada é se essa sede será dirigida para o bem ou para o mal.

         - Mas, mesmo que eu insistisse para ficar na Grifinória, você manteria sua seleção? – perguntou mais uma vez.

         - Eu fui feito para escolher a Casa onde os alunos terão um desempenho melhor e outros que simplesmente nasceram para pertencer. Este é o seu caso.

         - Eu nasci para pertencer a Sonserina? – disse novamente Ametista segurando a risada.

          O Chapéu Seletor pareceu irritar-se com o pouco caso feito pela aluna.

         - A senhorita é muito petulante! – Ametista ficou boquiaberta. – A senhorita nasceu para pertencer a Sonserina sim! Seu pai é herdeiro de Salazar Slytherin! O sangue do maior dos quatro de Hogwarts corre nas suas veias! Nada mais natural que pertencer a Sonserina! Sua mente é sonserina e suas ações são legítimas! E chega dessa conversa!

         Imediatamente, o Chapéu Seletor fechou a boca e voltou a parecer ser um objeto comum. Ametista estava ainda boquiaberta.

         - Espero que agora você tenha entendido o porquê de eu transferi-la para a Sonserina. Não foi escolha minha ou mesmo de Severo, como a senhorita estava pensando – dizia Dumbledore, adivinhando os pensamentos da neta. – Espero que agora, suas dúvidas tenham acabado e que aprenda a conviver com seus novos colegas.

         Ametista suspirou contrariada e ao mesmo tempo satisfeita com a breve conversa com o Chapéu Seletor. A neta do diretor deu as costas e começou a caminhar de volta a porta da sala para ir embora. Mas, antes de deixar o avô para trás, ouviu o mesmo dizer.

         - Não se ofenda com o que o Chapéu disse – Ametista estava quase alcançando a porta quando parou para ouvir até o final. – Petulância é uma das qualidades, ou defeitos, da Sonserina também.

         A garota sorriu com os lábios fechados para si mesma num modo divertido.

***

A primeira experiência nunca se é esquecida. E possivelmente era isso que Sirius sentia ao entrar na sala de aula, que agora seria sua. Era redonda e as mesas faziam um círculo em volta de uma fonte que jorrava um líquido azul escuro. A iluminação era feita por globos pendurados no teto, expandindo a coloração amarelada pelo âmbito. E ainda havia um grande e comprido espelho ao lado da mesa dele, que ficava numa plataforma, acima das carteiras dos alunos, para que pudesse observar a todos.

         - Sextos anos, Grifinória e Sonserina – murmurou para si mesmo. – Isto pode ser divertido.

         Ao bater dos relógios, os alunos iam entrando na sala calmamente. Sirius estava ajeitando alguns frascos sobre uma estante na lateral de sua mesa quando ouviu o burburinho dos estudantes ao surpreenderem-se com a sala. De fato, era muito diferente das outras, era levemente arrepiante. Sirius tornou-se para os alunos, dizendo:

         - Entrem, entrem e formem duplas.

         Muitos se sentiam ansiosos, outros excitados com a idéia de que teriam aulas com Sirius Black. Hermione sentou junto de Rony, como o namorado mesmo havia pedido, enquanto Harry ficou esperando Ametista dar as caras.  A velha turma já conhecida da Sonserina foi entrando e se dividindo nas mesas. Ametista entrou junto de Draco. Harry não deixou de olhar feio, apesar de ver a expressão de desgosto da namorada. Rapidamente, Ametista encontrou os olhos verdes que ela tanto adorava numa das carteiras da frente. Juntou-se a Harry.

         - Eu odeio a Sonserina! – sussurrou aborrecida no ouvido dele.

         Harry perguntou o que havia acontecido.

         - Aquela cara de buldogue da Pansy e as outras duas – dizia apontando discretamente para duas garotas morenas ao lado de Pansy. – colocaram um espelho bem na frente da minha cama quando acordei essa manhã! Ontem desfizeram todas as minhas roupas e espalharam pela minha cama! Que elas farão amanhã?!

         Harry recordou da aula de bichos-papões com Lupin no ano anterior em que todos assistiram Ametista acabar-se diante de um espelho.

         - Vá reclamar com alguém! – retrucou Harry sem ter o que responder.

         - Talvez com o Malfoy, não acha?! – ironizou a garota nervosamente. – Eu vou resolver isso do meu jeito! Pode esperar!

         - Silêncio! Silêncio! Vamos começar a aula! – anunciou Sirius saindo de trás de sua mesa e postando-se no meio das carteiras.

         O homem, agora um professor, estava bem vestido e parecia um pouco aflito. Portanto, foi aos poucos se soltando e mostrando-se bom com os alunos.

         - Transformação Humana é uma matéria complexa e que muitos de vocês terão bastante dificuldade no começo – iniciava a aula. – Vocês já tiveram uma certa idéia do que aprenderemos a partir do feitiço Transformecium, da aula de Transfiguração, com a professora McGonagall.

         Harry e Ametista entreolharam-se, lembrando das maluquices que fizeram com aquele feitiço no Natal passado.

         - Basicamente, o objetivo dessa matéria, como o próprio nome define, é transformarmos em outras pessoas, como se trocássemos de corpos. A Transformação Humana nos dá a capacidade de incorporar todos os elementos de um outro corpo. E pelo tempo que você quiser controlar.

         - E onde nós usaríamos isso? – perguntou Draco interrompendo Sirius. – Por que, até agora, não vi nenhuma diferença dessa matéria estúpida para aquele feitiço da aula da McGonagall.

         Sirius procurou manter a postura de um professor diante da arrogância de Draco Malfoy.

         - Primeiramente, não é uma matéria estúpida, senão ela não estaria na grade escolar e muito menos sendo ensinada apenas para os sextos e sétimos anos pelo tamanho da sua dificuldade e complexidade. E pela sua declaração, retiro cinco pontos da Sonserina.

         A turma das serpentes revoltou-se com Draco Malfoy no mesmo segundo em vez de se tornar contra o professor, estranhamente. Talvez porque ele era Sirius Black. E isso já era um ótimo motivo. Ametista riu e trocou um olhar com o monitor da sua Casa, que devolveu indiferentemente.

         - Segundamente, a Transformação Humana é uma das principais qualidades de um ótimo bruxo. E, podemos incluir neste grupo os Comensais da Morte – muitos alunos ficaram bastante interessados de repente. Inclusive os sonserinos. – Assim como os espiões do Ministério da Magia.

         Ametista prestava bastante atenção. Não apenas de ser algo muito interessante, sempre soube que sua mãe e sua avó foram espiãs do Ministério da Magia.

         - Professor? – chamou Hermione com a mão levantando, como de costume. – Eu li o livro que o senhor nos passou e ele dizia algo sobre um índice de transformação. Que é isso?  

         - Ótima pergunta – elogiou Sirius, dando uma piscadela a Hermione. – Na verdade, chama-se Poder de Transformação. É um índice que todos nós possuímos inconscientemente, definindo qual a chance de sermos bons transfiguradores humanos. Poucos são capazes de atingir o índice máximo. E todos são classificados num livro, chamado Escolhidos de Dragon, já que são tão poucos e sendo um poder tão especial...

         - Os Comensais da Morte têm o índice máximo? – indagou Simas sentado atrás de Harry.

         - Dizem que sim. Ninguém pôde provar até hoje, afinal não sabemos quem são os Comensais – respondeu o professor olhando de esguelha para Draco. – Mas quase todos os animagos existentes possuem.  

         Harry levantou as sobrancelhas. Então, provavelmente, seu pai deveria possuir o índice máximo também. Assim como Sirius e... Pedro Pettigrew?

         - Por isso eles também são ordenados num livro? – completou Hermione.

         - Exatamente – concordou Sirius. – A Animagia é uma outra disciplina, mas tão complexa quanto a Transformação Humana. Os que possuem o índice máximo de Poder de Transformação podem, até com uma certa facilidade, tornarem-se animagos.

         - A professora McGonagall possui o índice máximo? – perguntou Parvati.

         - Sim, Srta. Patil. Tanto que seu nome está em ambos os livros. – respondeu Sirius contente pelo interesse dos alunos.

         Observou Harry levantar a mão.

         - Sr. Potter? – chamou o professor.

         - O senhor disse que nem todos os animagos têm esse índice máximo, certo? – o professor afirmou com a cabeça. – Como sabem se os outros animagos que não possuem o índice não possuem mesmo? – perguntou num modo meio confuso, deixando alguns sem entender.

         Sirius compreendeu no mesmo segundo o que Harry estava indagando. Ele queria saber se Pedro possuía ou não o índice máximo de Poder de Transformação.

         - São feitos diversos testes com cada aluno ao decorrer do estudo da disciplina, como nós também faremos. Dependendo do resultado, nós sabemos quem possui ou não o índice máximo.

         - O senhor acha que muitos daqui poderão possuir o índice máximo? – questionou Draco novamente, mas agora sem o tom irônico.

         - Duvido muito, Sr. Malfoy – respondeu Sirius. – Provavelmente um aluno ou dois no máximo. Geralmente, nós não encontramos. É muito difícil quando aparece um único aluno com o índice nos dias de hoje.

         Agora foi a vez de Ametista levantar a mão.

         - Srta. Dumbledore? – chamou igualmente o professor, dando um sorriso discreto com os olhos que Ametista entendeu.

         - E, por acaso, o fato de parentes na família serem espiões ou mesmo Comensais – muitos da Sonserina ajeitaram-se na cadeira. – pode significar que possam ter o índice máximo?

         - Não necessariamente – explicou Sirius, apoiando-se em uma das carteiras vazias. – Muitos daqui podem até ter pais, avós, bisavós, irmãos com o índice máximo, mas eles mesmos não o possuírem. É até mais comum.

         Os alunos começavam a trocar comentários enquanto o professor foi até a mesa marcar os cinco pontos retirados da Sonserina. Quando voltou, perguntou:

         - Alguém sabe me dizer quem foi Dragon? Porque vocês viram que este nome apareceu muito no livro e até está no título do mesmo...

         A mão de Hermione já estava levantando antes mesmo de Sirius continuar a questionar.

         - Srta. Granger?

         - Dragon na verdade era o sobrenome de Victoria Dragon. Ela era a melhor amiga da filha de Merlin, Íris, e foi a primeira pessoa após Merlin que pôde transformar-se em outra pessoa – dizia Hermione em seu tom levemente metida. – Mas ela ficou realmente famosa e transformou-se em uma deusa quando sugou a energia do próprio Merlin numa transformação especial, onde eles trocaram de corpos, e não apenas de aspecto físico.

         - Dez pontos para a Grifinória – anunciou Sirius, fazendo a Grifinória dar graças por ter Hermione do lado deles. – Exatamente como a Srta. Granger detalhou, Victoria Dragon foi a primeira a se transformar em outro corpo. E é sobre ela que eu quero que vocês façam um resumo de vinte e cinco linhas no pergaminho para a próxima aula.

         A duração da aula terminou e os estudantes deixavam a sala de Transformação Humana surpresos e adorando a matéria, curiosos se algum deles possuía o índice máximo de Poder de Transformação. Harry e os três amigos aproximaram-se da mesa do padrinho.

         - Que acharam? – perguntou Sirius ansioso para a resposta.

         - Foi muito legal, não sabia que a Transformação Humana pudesse ser tão interessante. – suspirou Hermione contente e no tom de monitora.

         - É muito mais que isso. A Transformação Humana é uma arma importante para os bruxos. – completou Sirius.

         - Eu...hum...queria saber uma coisa – dizia Ametista ligeiramente apressada por causa da próxima aula. Não poderia se atrasar para as estufas de Herbologia. – Voldemort tem o índice máximo?

         Todos se tornaram para Sirius esperando a resposta do professor. Sirius abriu um sorriso parecendo desanimado, e respondeu:

         - Ele superou o índice máximo, assim como Salazar Slytherin.

NO PRÓXIMO CAPÍTULO: O novo professor chega em Hogwarts e mostra para quê veio. O sexto ano visto de uma nova forma em Defesa Contra a Arte das Trevas, onde seis alunos terão surpresas e choques - bons e ruins. Quem será ele? Ou ela? E o namoro de Harry e Ametista começa a agitar-se a cada dia. Porém, algumas coisas devem ir mais devagar para um deles. Cuidado ao olhar-se no espelho a partir do episódio a seguir "OS ESPELHOS MÁGICOS"