NOTA DA AUTORA: Neste capítulo, há um nome que aparece em "Harry Potter e a Ordem da Fênix", o último livro lançado por J.K.Rowling - e ainda não traduzido para o português. Porém, apesar do nome ser o original, a personagem não é a mesma. (Uma Comensal da Morte chamada Claire Lestrange. Porém, como ela de fato existe, na "Order of the Phoenix", eu alterei seu nome para o original, que aparece no livro - Bellatrix Lestrange. Entretanto, eu repito: os nomes são os mesmos, mas as personagens não são as mesmas, apesar das semelhanças - eu já tinha criado essa personagem antes mesmo de ler o Harry 5).
NO CAPÍTULO ANTERIOR: Cho beija Harry. Harry a beija de volta. Mas não é certo, ao menos para ele. Os pesadelos que atormentavam Ametista durante anos revelara-se apenas uma visão do futuro infeliz. Voldemort encontra sua filha, finalmente, e decepciona-se com a sua postura - Ametista negara terminantemente que não era sua descendente. Assim, resolve aplicar um castigo não muito ortodoxo - ele a assassina.
CAPÍTULO DEZESSEIS – TURBATIO SANGUINIS E PACTUM SANGUINIS
Não sabia o por quê. Não havia explicação. Talvez, nunca algo como aquilo fora visto antes. Sua visão concentrava-se na porta de entrada, tomada pela sujeira e por manchas do tempo. Aquela era a Casa dos Gritos, em Hogsmeade. Era um lugar que guardava ainda muitas lembranças dos anos passados. Aqueles anos sofridos e tão bons ao mesmo tempo. Os braços estendidos na direção da passagem, empurrando a porta para trás. As pernas movendo-se sozinhas até o interior da velha e desgastada residência. Suspirou ao notar o estado da moradia. Destruição e muita dor ainda persistiam naquele âmbito. Por um momento, pôde ouvir algum grito de lamento.
Sirius Black estava revigorado. E era exatamente este o mistério. Nunca se fora ouvida alguma história sobre um bruxo ou mesmo trouxa que tenha sofrido a ação de uma Maldição Imperdoável e sentir-se da forma com que ele se sentia. Forte. Empenhado. Vingativo. Sirius podia perceber que suas veias estavam dilatadas e o sangue corria rapidamente, como se tivessem injetado adrenalina direto em seu braço. Resistir e cortar o efeito de uma Maldição era algo quase impossível. Entretanto, Sirius acabara de superar o pequeno barranco, onde a casa se localizava, e estava completamente pronto para enfrentar o quê fosse. Ou quem fosse.
"Ela deve estar no andar de cima", matutou, dirigindo-se quase sem pensar até o lance de escadas que o levaria a um nível acima. Não ficou surpreso diante do ótimo aroma. Um odor putrefaço enchia as narinas de Sirius quando respirou pela primeira vez ao pisar no chão de madeira do corredor escuro. Havia, como bem lembrava, três cômodos no andar de cima. As paredes eram úmidas e a fragrância apodrecida somente aumentava à medida que o bruxo aproximava-se do final do corredor.
Tateando, encontrou a parede que avisava o término do caminho. Sirius bufou impaciente. Voltou-se para trás e verificou cada um dos quartos cautelosamente. Ametista tinha de estar ali. Ao sair do último dormitório, já sem esperanças, tornou-se para o fundo do corredor novamente. Finalmente, conseguiu visualizar alguma coisa distinta no meio de tantos borrões negros. Apressando o passo, nervosamente, Sirius encontrou uma escada em espiral. "Só pode ser isto!", afirmou Sirius. Aquela escadaria nunca existira antes na Casa dos Gritos. Deveria ser a armadilha de Voldemort para Ametista.
Seus pés guiavam-se sozinhos assim que colocou o primeiro no degrau. Com uma rapidez incrível, Sirius alcançou o topo da escada em espiral rapidamente. Frenético e confuso, franziu a testa. Era mesmo uma porta prateada?! Soltando um brilho quase extraordinário, que ofuscara os olhos de Sirius por algum tempo, a porta estava lá. Sirius tentou girar a maçaneta e, para sua admiração, abriu-a no mesmo minuto. Contudo, Sirius temeu abri-la por completo. Não tinha idéia do que poderia acontecer com Ametista. Não sabia se ela estava bem, se estava machucada, se Voldemort a havia raptado. Uma grande dúvida surgiu em sua cabeça. Que reação teria ao encontrá-la? Ou ao não encontrá-la? Qual seria a explicação usada para definir porquê Sirius fora atrás dela? Não poderia dizer que seu instinto paternal o guiara até lá, já que não era seu pai...
Entretanto, a reação que Sirius teve exatamente no mesmo segundo em que abriu a porta foi a de um verdadeiro pai. Seus olhos arregalaram-se cheios de sentimento. Era Ametista, de fato.
Os braços da garota faziam um ângulo esquisito com o corpo, como se tivessem sido quebrados. A perna esquerda também estava torta, parecendo fraturada. Os dedos pequenos paralisados, assim como o tronco torcido. Ametista estava de bruços, com o rosto contra o chão. Sirius não percebeu qualquer movimento. Ela não estava respirando. Tampouco viva. Os pulsos derramavam uma estrondosa quantidade de sangue, que se juntava a uma nova poça ao lado de seu crânio. Suas roupas rasgadas e ensangüentadas pareciam cobrir mais ferimentos, esconder a real fatalidade e estado de Ametista. Sirius não respirar durante poucos segundos. Todavia, segundos cruéis e tão longos para ele.
Cacos e lascas dos espelhos ainda espalhavam-se pelo chão, refletindo algumas imagens, outros apenas dando um certo brilho a cena. Sirius ignorou sua súbita parada respiratória e conseguiu somente jogar-se contra o piso sujo e gelado da sala. Entrando em total desespero, Sirius moveu o corpo torcido de Ametista e colocou-o no seu colo, passando seus braços em torno do tronco, como se estivesse aninhando-a. Tomou um verdadeiro choque ao virar o rosto da garota contra o seu. Foi nesse momento que sua respiração voltou e, com ela, centenas de emoções. Sirius caiu num choro sem dó. Os olhos tão azuis de Ametista estavam abertos, mas sem o seu típico brilho que fascinava a tantos. Sua boca estava quase da cor de sua pele. Ametista estava pálida e fria. O rosto contorcido numa certa apreensão. Não, na verdade, era terror.
Sirius não se incomodou de estar tão ensangüentado quanto ela, agora que o corpo estava sobre ele. Carinhoso, estendeu uma de suas mãos contra o rosto frio e sem vida de Ametista e o acariciou. Ao receber nenhuma resposta, Sirius enlouqueceu e soltou um grito contido há muito tempo. Um grito que ecoou longe. Um berro de sofrimento. As lágrimas continuavam a cair persistentes e irritantes. Começou a sacudir o corpo de Ametista contra o dele, na esperança de que aquilo a fizesse acordar de seu transe ou inconsciência. O quê, na realidade, era impossível. Culpa por não ter sido um bom homem para ela, dor por ter perdido a única "filha", remorso por não ter dito uma palavra de carinho após tantos anos, ódio por estar de mãos atadas. No entanto, nada conseguia definir o quê Sirius Black realmente sentia naquele instante. Era algo além do compreensível. Uma dor que somente uma nova vida poderia superar.
Sem mais esperanças, Sirius parou de sacudir o corpo de Ametista e deixou-se apenas abraçá-la com todo seu amor. Ainda desesperado, ouviu alguém dizer as suas costas.
- Black, nós ainda podemos ajudá-la.
O bruxo, com a vista embaçada, forçou-as para poder ver com clareza. Os cabelos negros e escorridos sobre o rosto, os olhos frios e a voz severa e cortante. Era Severo Snape.
***
- Ela está morta!
Hagrid quase deu um pulo da cadeira em que estava sentado ao ouvir a voz grave da professora acomodada ao seu lado. O gigante tornou-se veloz e curioso e encontrou um rosto pálido e chocado. As pupilas de Arabella estavam dilatadas, seus olhos tremiam e deixavam cair lágrimas. Hagrid levantou e passou um dos braços pelas costas da mestra, numa forma de conforto.
- Que é que aconteceu, Arabella? – indagou o professor e antigo guarda-chaves de Hogwarts, chamando-a pelo nome de batismo num jeito carinhoso.
A respiração de Arabella veio voltando aos poucos, enquanto pequenas lágrimas cortavam suas bochechas. Ainda macilenta, a bruxa abriu os lábios, querendo dizer algo, mas eles tremiam freneticamente. Hagrid estendeu seus dedos até a mão de Arabella e viu que a mestra estava gelada. Seu olhar pavoroso fez com que o gigante postasse seu corpo à frente de Arabella, encarando-a preocupado.
Somente naquele momento, Arabella pareceu acordar do choque, deixando seus ombros caírem derrotados e sua respiração voltar ao normal – se aquilo poderia ser chamado de normal. Fixando seus olhos nos escuros de Hagrid, Arabella disse finalmente:
- Morta. Ela está morta.
O professor de Trato de Criaturas Mágicas franziu a testa. Ficou mais preocupado ainda. Arabella, percebendo o estado do bruxo, estendeu suas mãos finas até as de Hagrid e colocou-as em seu colo, em sinal de conforto, ao mesmo tempo em que pedia ajuda.
- Quem está morta? – perguntou Hagrid temeroso.
Arabella engoliu longamente, deixando mais algumas lágrimas caírem de seus olhos tão especiais.
- Ametista – Hagrid arregalou os olhos. – Ametista está morta.
Antes que Hagrid pudesse ter uma reação mais chocada, ambos ouviram um copo cair no chão e o barulho do estilhaço. Antes mesmo que Hagrid virasse para ver quem era, Arabella já sabia. Levantando-se, dirigiu-se até a pessoa.
- Harry...
***
Sirius apertou os olhos mais uma vez. Aquele não poderia ser Severo Snape. O mesmo Severo Snape que ajudara a fazer o feitiço contra ele e Hariel a favor de Voldemort, o mesmo que tentara a todo custo tirar Hariel de Sirius, o mesmo que praticamente destruíra sua relação com Ametista. O mestre de Poções de Hogwarts estava sério, compenetrado e extremamente estranho. Não lançou um olhar sequer a Ametista. Parecia estar evitando ao máximo fazê-lo. Se Sirius tivesse ouvido direito, ele falara que ainda poderiam salvar Ametista. E aquilo era totalmente fora da realidade.
- Como é, Black? Ainda quer resgatar a vida dela ou não? – voltou a indagar Snape, arrogante como de costume.
Será que ele falava sério? O bruxo, ainda com Ametista nos braços, torceu a cabeça para o lado e perguntou:
- Você disse...disse que ainda resta uma esperança?
Snape contorceu o rosto enfurecido.
- Eu entendi muito bem o quê você quis dizer com esta questão, Black – cutucou Snape sem muita paciência. – E eu estou falando sério. Nós ainda podemos salvar Ametista.
Sua força parecia estar de volta quando Sirius levantou do piso gelado, carregando nos braços – as pernas sobre o braço direito e o tronco sobre o braço esquerdo – o corpo também frio de Ametista Dumbledore.
- E como exatamente poderíamos fazer isso? – indagou Sirius desconfiado, tentando amenizar a quantidade de lágrimas que insistia em sair de seus olhos.
- Você tem de me acompanhar primeiro, Black. – respondeu Snape, já se encaminhando para fora da sala.
Obedecendo a seus instintos, Sirius não se moveu. Paralisado no mesmo lugar, segurando o corpo sem vida de Ametista, Sirius forçou seus olhos e tomou uma expressão amargurada. Snape virou-se para trás e bufou impacientemente.
- Se você sabe como fazer, por que ainda não o fez? Sozinho. – frisou Sirius, reforçando a idéia de que não iria ajudar Snape em nada.
Nenhum músculo de Snape se mexeu ao ouvir Sirius. Contrariando todos os típicos métodos e relacionamentos entre os dois, Snape respondeu:
- Se eu fosse orgulhoso como você, Black, faria sim tudo sozinho – falou gravemente e quase irônico. – Mas, desta vez, eu não posso fazer sem você.
Sirius, tentando não mostrar reação, apenas enrugou a testa e juntou as sobrancelhas, amolado.
- E como eu posso acreditar em você?
O mestre de Poções respondeu, soltando um pouco de ar:
- Você não deve acreditar em mim, Black – disse Snape num tom de aviso. – Mas acho que no seu amigo lobisomem sim, certo?
Desta vez, Sirius arregalou os olhos.
- Remo? Remo está com você? – duvidou Sirius atônito.
- Na verdade, não. A Figg conseguiu avisá-lo sobre um ataque de Voldemort e ele veio até mim – explicou Snape apressado. – Nós já encontramos um jeito que pode, talvez, salvá-la, mas apenas se você cooperar.
Sirius lançou um olhar magoado para o rosto de Ametista. Sabia que, se houvesse qualquer forma de salvar a sua vida, ele faria. Qualquer coisa. Mesmo que fosse ajudar Snape num plano maluco, que não tinha nenhuma garantia de dar certo, onde seu coração teria de dominar a verdade em sua mente. E, pelo que parecia, não era o único que teria de confiar na palavra do velho garotinho invejoso da Sonserina. Lupin também estava lá.
***
Não conseguira. Nem uma sequer. Nem um terço. Harry estava numa sala nos fundos do Bar Três Vassouras, acompanhado de Hagrid e Rony. Já fazia alguns minutos que recebera a notícia de Arabella. Sua madrinha bem que tentou amenizar ou até mesmo mudar a história, mas o fato era que Ametista estava morta. E, ainda pensando e relembrando essas palavras, Harry não podia acreditar. Talvez fosse por isso que não havia derramado uma lágrima sequer. Não era um estado de choque. Não era um bloqueio emocional. Apenas não conseguia acreditar que ela havia falecido. Então, não haveria motivo para chorar.
A porta da saleta abriu-se. Era Hermione. A monitora esteve ouvindo toda a história de Arabella, para que pudesse entender melhor do que apenas os gritos de Hagrid.
- Rony, Hagrid, a Arabella quer falar com vocês lá fora. – avisou num tom choroso.
Hagrid trocou um olhar doído com Rony e indicou a porta. Após deixarem o âmbito, Hermione aproximou-se do melhor amigo. Harry estava sem piscar os olhos há um bom tempo, com a cabeça cheia de pensamentos, sentado num banquinho no meio da parcial escuridão. A monitora da Grifinória sentou num outro assento de madeira ao seu lado e encarou Harry. Estava lívido.
- Arabella ainda pode estar enganada, Harry. – foi tudo que conseguiu dizer naquele momento.
Harry tornou seus olhos para Hermione, emocional. Abriu a boca inúmeras vezes, mas as palavras não saíam. Em forma de conforto, Hermione envolveu as mãos de Harry nas dela e suspirou, tentando sorrir. Somente ali Harry pôde notar que o rosto de Hermione estava inchado. Esteve a chorar.
- Ela não está morta. – afirmou com certa veemência o jovem.
Hermione concentrou seus olhos castanhos nos de Harry e viu como ele estava convicto do que dizia. Era quase como se ele soubesse.
- Eu sentiria se ela estivesse morta. Eu não estaria como estou agora – continuou a explicar sua certeza. – Ametista não está morta.
A garota conseguiu sorrir, os lábios fechados. Havia uma certa piedade e até compaixão em sua expressão. Aquilo fez com que Harry sentisse no dever de expressar seus pensamentos. E dúvidas também.
- Mas... – começou e abaixou os olhos até o chão. – E se eu estiver enganado?
A testa de Hermione franziu. Há poucos segundos, ele estava tão certo do que dizia! Como, agora, poderia mudar totalmente de opinião?
- Quê? – perguntou Hermione confusa.
Harry pigarreou, voltando a olhar Hermione com cautela.
- E se ela estiver morta e eu somente esteja me enganando? Eu me sinto melhor confiando no meu instinto, mas ele não é tudo. E se Ametista estiver, de fato, morta?
Agora foi a vez da boca de Hermione abrir e fechar sem qualquer som ser projetado. Os olhos de Harry pareciam transparecer a sua dor.
- Mas, Harry... – Hermione tentou formar uma resposta, porém o amigo foi atropelando suas palavras.
- Ela morreu achando que eu ainda gostava da Cho! – explodiu Harry nervosamente. Hermione, então, entendeu tudo. – Ela saiu correndo por aí por minha causa! Se nós não tivéssemos discutido, nada disso estaria acontecendo agora! Se eu não fosse tão estúpido, ela estaria nesse momento sentada ao meu lado! Estaríamos conversando, xingando os sonserinos, nos divertindo junto de você e do Rony! Eu não estaria aqui gritando com você sobre a morte dela!
Hermione ficou boquiaberta. Harry, ainda assim, não chorava. Apenas estava, aos poucos, entrando num desespero sem tamanho. Estava sentindo uma das piores sensações, e pela segunda vez naquele dia. A culpa.
- HARRY! – gritou Hermione, interrompendo os gritos de Harry. – Você não é culpado disso! O único responsável por isso é Voldemort! Nem você, nem eu, nem nenhum outro!
O rosto de Harry se escondeu na escuridão novamente. Hermione, nervosa e chateada, tomou a face do melhor amigo entre as mãos e puxou-a para a claridade. Os olhos de Harry ainda estavam transmitindo muito desgosto e culpa.
- Harry, me escute pelo menos desta vez – pediu Hermione, abaixando o volume da voz, num tom quase carinhoso. – Se Ametista estiver morta, nós poderemos vingá-la destruindo Voldemort e seu império do terror – Hermione tremia apenas de pensar em lutar contra Voldemort. – Talvez seja como você disse, talvez ela não esteja morta – continuou, apesar de não acreditar no que dizia. – Porém você não pode se destruir e corroer por dentro, achando que a culpa fora sua, que você provocara. Nunca pense nisso! Nunca!
Harry fechou os olhos e bufou, doloroso. Hermione largou seu rosto e o abraçou carinhosamente. Ametista não poderia estar morta. Não poderia.
***
- Onde nós estamos, Snape? – indagou Sirius, olhando ao redor, no meio da escuridão.
O bruxo macilento acendeu a varinha, em total silêncio, ignorando a questão feita por Sirius. Quando a pequena luminosidade clareou o ambiente, Sirius continuou confuso. Estavam num hall ou coisa assim. À sua frente, havia um pequeno corredor com uma escada que levava para o andar de cima e uma porta ao fundo, indicando um novo âmbito. Às suas costas, um outro cômodo, tão escuro quanto o corredor. Voltou o olhar para Snape, que observava atentamente cada canto da passagem. Sirius bufou, agitando os fios úmidos do cabelo de Ametista, ainda em seus braços.
- Snape, se você não tem conhecimento, a Ametista não tem mais cinco anos de idade, portanto, a garota não pesa mais vinte quilos...
De fato, os braços de Sirius estavam doloridos e cansados. Ametista era tísica e baixa, mas mesmo assim, era pesada demais para ser carregada durante tanto tempo. Snape nada respondeu para Sirius e pareceu começar a dizer algumas palavras em um baixo tom. Sirius bufou mais uma vez.
Aos poucos, candelabros iam sendo acesos, acionados pelos encantos ditos por Snape. O padrinho de Harry conseguia, finalmente, perceber onde poderiam estar. Era uma casa velha, estruturada em madeira, cheia de cortinas e detalhes verdes e negros. Um tanto fantasmagórica e empoeirada, a moradia possuía alguns quadros interessantes e porta-retratos também.
- Deixe-a ali – ordenou Severo seriamente, enquanto apontava um sofá no âmbito às costas de Sirius. – Daqui a pouco levamos Ametista para o andar de cima, preciso da sua ajuda aqui...
Havia um sofá-cama aberto e ligeiramente rasgado, comido talvez por traças ou ratos, onde Sirius depositou o corpo sem vida de Ametista. Ao lado do móvel, uma mesinha abrigava o abajur da saleta e um outro porta-retrato. Curioso, Sirius abaixou-se levemente e forçou os olhos para enxergar a foto na penumbra. Sua testa enrugou quase que nervosamente. Era Snape, muito sério, abraçando Ametista, que não se movia na foto.
Olhando para baixo e notando as manchas de sangue no seu casaco, Sirius voltou ao corredor. Snape parecia mover-se dentro do âmbito do final da passagem. Sentindo seus braços novamente, Sirius assistiu Snape colocar algum ingrediente dentro de um caldeirão. Existiam algumas folhas secas no chão daquilo que parecia ser uma cozinha.
- Por que você nos trouxe aqui? – perguntou Sirius, dando a volta no caldeirão e ficando de frente para Snape.
Os olhos negros de Severo levantaram relutantes até encontrar a face contorcida de Sirius.
- E que outro lugar poderíamos estar agora, Black? – interrogou o homem sem paciência.
- Talvez em Hogwarts, junto de Dumbledore... – respondeu Sirius.
Snape sacudiu a cabeça negativamente.
- Sim, exatamente, Black. Eu havia me esquecido desse lugar! – dizia Snape sarcástico. – O perfeito ambiente para nos refugiar de Voldemort, afinal, o Lorde não conhece Hogwarts, não é mesmo?
- Você sabe muito bem que durante julho e agosto os feitiços contra a invasão foram realizados, Snape. – lembrou Sirius nervosamente.
- Sim, e eu também prefiro confiar num lugar onde Voldemort não conhece de forma alguma.
Parecia que Snape estava certo. Voldemort não conhecia aquela casa. Claro, pois se tivesse conhecimento dela, Ametista não estaria viva hoje – quer dizer, morta.
- E até, Black, se você quer saber, a idéia de vir para cá foi de Lupin, e não minha. – completou Snape, colocando um pé de morcego dentro do caldeirão.
Se Sirius pretendia prosseguir com a discussão de quem era mais esperto ou inteligente, desistiu rapidamente. Antes mesmo que Snape terminasse a frase, o barulho da porta sendo aberta e trancada seguidamente, fez Sirius dar um pulo e correr até o âmbito onde se encontrava a porta de entrada – o mesmo em que se localizava o corpo de Ametista.
Sem prestar a mínima atenção, Sirius apontou a sua varinha para o rosto do invasor. Na penumbra, e coberto ainda por uma capa, Sirius não pôde dizer quem era o cidadão que invadia a residência. O tal homem carregava uma sacola, que Sirius fez questão de arrancar e sacudir. Havia vidros dentro e até pareciam que alguns se partiram.
- Hei! Vá com calma, Almofadinhas!
Dando um passo para trás, Sirius observou o homem retirar o capuz de sua cabeça e encará-lo com nervosismo e reprovação. Era Lupin. Seus olhos estavam escuros e a expressão preocupada. Uma centena de rugas parecia pular de seu rosto velho e abatido. Não era para menos, há apenas três dias o ciclo da lua cheia acabara.
Amenizando sua face ainda amargurada e inchada, Sirius tentou sorrir para Lupin, porém falhou. Diante da reação do amigo, Lupin estendeu os braços até ele e o abraçou, numa forma de apoio. Em seguida, Sirius indicou o sofá-cama o qual Ametista estava colocada. Lupin andou até ele e segurou um soluço. Tocou levemente a mão gélida do corpo estendido. Voltando seu olhar para Sirius e com a respiração entrecortada, disse:
- Vamos logo acabar com isso, Sirius.
Chegando na cozinha, Sirius despejou a sacola sobre uma mesa ao lado do caldeirão. Snape abriu-a com cautela e exclamou ao ver o estado de alguns frascos:
- AH! Black, seu idiota!
Lupin não teve de fazer força para segurar Sirius, já que o homem estava consertando os frascos com um feitiço, a fim de abrandar Snape. Eram cerca de dez vidros, contendo líquidos coloridos, em sua maioria escuros. Sirius apenas observava atento enquanto Snape e Lupin preparavam aquela poção ou o quê fosse.
Não demorou muito para que a substância contida dentro do caldeirão estivesse pronta. Snape tornou-se para Sirius.
- Black, leve-a para o andar de cima, o último quarto, no final do corredor. – mandou Severo seriamente.
Sirius não quis nem perguntar o motivo, e correu de volta ao primeiro âmbito, colocando Ametista nos braços outra vez. Se ainda era possível, Ametista estava mais pálida do que na Casa dos Gritos, e mais fria também. Sirius matutou e desconfiou que havia um intervalo de tempo suficiente para que a poção funcionasse. Por um momento, pensou no que seria tão importante. O corpo pesado foi levado até o último âmbito. Era um dormitório. E não foi surpresa alguma pela coloração do quarto ser azul. Aquele deveria ser o dormitório de Ametista durante todos aqueles anos. E Snape não poderia escolher lugar melhor para trazê-la de volta a vida.
***
- Como vocês chegaram aqui? – era Lupin, mantendo um diálogo que não era possível com Sirius junto deles. – Está caindo o mundo lá fora.
Snape pareceu ligeiramente cansado.
- Aparatando – respondeu quase que irritado. – Ilegal, mas preciso.
Sim, Lupin sabia que Ametista não estava autorizada a aparatar ainda. Somente após seu sétimo ano em Hogwarts – quando atingiria a maioridade – é que poderia fazer um teste e estar apta a aparatar e usar dos conhecimentos da aula de Arabella. Contudo, era realmente um caso de vida ou morte. Ela deveria ser levada até lá, era o lugar mais seguro de toda a Inglaterra naquele momento.
Enquanto Snape colocava uma parte da poção numa bacia pequena, Lupin recolhia os frascos de vidros. Muitos daqueles líquidos eram proibidos e poderiam causar estragos inimagináveis.
- Não te viram por lá? – perguntou Snape, transportando a poção, que era espessa e parecia cheia de pelotas.
- A Travessa do Tranco pode ser muito útil, também, para a ocultação de pessoas, Severo – respondeu Lupin, chamando Snape pelo primeiro nome. – Mas, usei o único disfarce que eu aprendi nas aulas de Transformação Humana do nosso tempo.
Lupin era um daqueles casos – muitos – de bruxos que não possuíam o índice de transformação máximo.
- E presumo que você tenha tomado o mais perfeito cuidado, certo? – instigou Snape desconfiado. – Afinal, se Voldemort esteve em Hogsmeade, os Comensais poderiam estar espalhados por toda a região, inclusive o Beco Diagonal e a Travessa do Tranco.
- Eu sei bem disso, Severo, e você não precisa me lembrar – respondeu Lupin aborrecido. – Realmente, acho que havia alguns Comensais pela Travessa. Senti uma energia muito forte.
Começaram a subir os degraus lentamente, não querendo derrubar uma gota sequer da poção localizada na bacia. Antes de alcançarem o último andar, Lupin, que ia à frente, tornou-se para Snape.
- Como você conseguiu convencer Sirius a vir?
- Você pode até querer rir, Lupin, mas o Black está realmente sentindo-se como um verdadeiro pai, perdendo uma legítima filha. – respondeu Snape, soltando um sorrisinho falso.
***
Pingos batiam insistentemente contra o vidro da janela do quarto. O temporal prosseguia furioso do lado de fora, enquanto a tensão só aumentava dentro daquela casa. Sirius estava paralisado, diante da visão do corpo sem vida. Ametista não reagiria ao menor estímulo. E isso fazia com que Sirius perdesse a paciência e a compostura. Respirando fundo, o homem sentou ao lado de Ametista, deitada sobre sua cama de casal – mesmo que somente ela desfrutasse do leito. O dormitório estava escuro, mas ainda assim, Sirius podia ver os olhos opacos de Ametista mirando o vazio.
"Você não vai morrer. Eu não vou permitir. Eu prometo!". Era tudo que Sirius podia pensar no momento. Delicadamente, o bruxo estendeu seus dedos sobre os olhos de Ametista e puxou as pálpebras, a fim de tampar ou cobrir aquele olhar de pavor.
- Coloque ali. – Sirius ouviu a voz de Lupin ordenar a Snape.
O macilento bruxo entrou no dormitório carregando o recipiente com a tal poção. Lupin colocou alguns frascos sobre uma cômoda ao lado da porta. Sirius levantou do leito e indagou:
- Certo, vocês já me enrolaram demais – resmungou mal humorado. – Qual é o plano?
Enquanto Lupin prosseguia ajeitando os vidrinhos em ordem de colorações sobre o balcão, Snape deixou a bacia com a poção sobre a mesa de cabeceira e respondeu:
- Pensei que você fosse mais rápido, Black. – debochou, abrindo o casaco negro e mexendo num dos bolsos de seu interior.
Sirius bufou nervoso. Aquele não era um joguinho entre os dois. Não era uma disputa e muito menos uma guerra, como sempre fora o relacionamento entre eles. Antes que pensasse em responder algo ríspido a Snape, o outro integrante do trio tornou-se para ambos e estendeu a mão esquerda no ar, na direção de Snape.
- Severo, o livro.
Snape retirou finalmente sua varinha de dentro do casaco e conjurou um livro grosso e de cor avermelhada. Haviam alguns cordões negros estendidos nas bordas daquilo que parecia mais uma enciclopédia. Sirius aproximou-se e conseguiu ler no centro da capa: Turbatio Sanguinis.
- Turbatio Sanguinis? – repetiu para os dois bruxos. – Que raio de nome é esse?
O professor de Poções suspirou irritado.
- É latim, Black...
- Eu sei que é latim! – retrucou Sirius, interrompendo Snape. – Eu só não entendo o por quê de um livro possuir um nome como este. Afinal, Turbatio Sanguinis significa...
- Mistura de sangue – cortou Lupin. – Este livro possui feitiços, encantamentos, maldições, poções e qualquer tipo de magia que envolva sangue.
Sirius ajeitou-se ligeiramente, endireitando a postura, nervosamente.
- Qualquer tipo de magia? – engoliu em seco. – Até mesmo... Magia das Trevas?
Um furioso trovão caiu dos céus. A chuva parecia apertar novamente.
Lupin fez com que o livro começasse a levitar enquanto folheava-o à procura do que queria. Sirius encarou Snape e repetiu a pergunta anterior.
- Este livro possui ligações com Magia das Trevas, Snape?
Severo encarou Sirius friamente. Lupin levantou os olhos rapidamente ao notar um estranho silêncio entre eles. Snape parecia estar analisando a situação.
- Este livro é meu – afirmou o mestre pálido de Hogwarts. – É um item proibido pelo Ministério da Magia, mas há anos atrás, eu consegui escondê-lo e impedir que caísse em outras mãos.
A mente de Sirius começou a fervilhar, cheio de idéias e suposições.
- Desde quando ele está em seu poder? – voltou a perguntar Sirius.
- Há muito tempo – respondeu Snape. – Ganhei de um amigo quando fiz vinte anos.
- Um amigo? – estranhou Sirius, percebendo que havia algo de muito errado.
Lupin deixou o livro de lado por um momento e encarou Severo. A face de Snape continuava sem demonstrar emoção alguma. Isso fazia com que Sirius se irritasse mais ainda.
- Eu presumo que tenha sido um amigo muito especial – instigou Sirius. – Talvez, uma recompensa pela sua alma...
Snape, notando que Sirius estava no caminho certo, resolveu acabar com o problema.
- Sim, ganhei esse livro de Voldemort – respondeu, junto com um novo relâmpago. – Porém, ele não me deu simplesmente por ter me tornado um Comensal, Black. Voldemort deu-me este livro por não ter competência suficiente para realizar tudo que este objeto reservava – dizia Snape, com um certo brilho nos olhos. – O Turbatio Sanguinis foi escrito por Salazar Slytherin, após sua expulsão de Hogwarts pelos outros três Grandes. Foi a última herança deixada por ele para seus herdeiros. E é claro que, Voldemort sendo herdeiro de Salazar, ganharia o direito de utilizar o livro em benefício próprio.
- E que tipos de benefícios esse livro traz, Snape? – irritado, Sirius começava a entender tudo. – O benefício de provocar a desgraça de uma família apenas para seu prazer?
- Não, Black. Voldemort não fez o quê fez em busca apenas de prazer – explicava Snape, parecendo um tanto maligno. – Gerar um herdeiro junto da única descendente do maior bruxo da atualidade era muito mais que prazeroso para Voldemort. Era necessário. Inevitável.
Sirius rangeu os dentes.
- E para isso, você permitiu que ele fizesse algum encantamento sujo desse livro para transformar-se em Sirius Black e deitar-se com Hariel, certo? Você permitiu que Voldemort unisse seu poder ao desejo de gerar alguém mais poderoso que ele? Um descendente em comum? Entre Voldemort e Dumbledore?
- A princípio, devo confessar, achei o plano bastante audacioso, mesmo que se tratasse do Lorde das Trevas – continuou Snape ainda cruelmente. – Afinal, Hariel conhecia cada centímetro do seu corpo e cada pedacinho do seu cérebro. Não seria fácil enganar alguém como ela – Severo falava com um certo carinho sobre Hariel, mas não tão aparente. – Então, teria de haver algum feitiço ou encantamento que fizesse com que Voldemort se tornasse um perfeito e autêntico Sirius Black. E este livro ajudou muito, devo dizer.
- Que você fez, Snape? – indagou Sirius furioso.
Snape arregalou levemente os olhos como se estivesse surpreso.
- Ora, Black! Pensei que você já tivesse descoberto! – zombou novamente. – Aquela noite, chuvosa e escura, em que você voltava do Ministério junto do Potter. Na verdade, era uma noite exatamente como essa – relembrava Snape, olhando ligeiramente para a janela e vendo que a tempestade parecia apenas piorar. – Você e o Potter estavam chegando à estação que os levaria para suas casinhas e suas esposas em Godric's Hollow. Pouco mais de três meses em que você e Hariel haviam se casado. Potter e a sangue-ruim estavam noivos, lembra-se?
- Nunca se refira assim a Lílian, Snape! – ralhou Lupin, apontando a varinha para o tórax de Severo.
Há poucos minutos, Lupin já havia desistido de procurar a tal poção em que Snape se referira anteriormente, quando ainda haviam se encontrado os dois. E aquela conversa só parecia agravar a situação.
Snape apertou as pálpebras e abaixou a varinha de Lupin. Voltando a olhar Sirius, respondeu:
- Não se lembra, Black? Talvez, o nome Lestrange o faça recordar... – provocou o bruxo.
Sirius estendeu o braço esquerdo rapidamente até o colarinho da camisa de Snape e puxou-o contra si. Encarando ferozmente Snape, afirmou, cheio de ódio:
- Os Lestrange mataram meu irmão, Snape! Você e os malditos Comensais destruíram minha vida!
- Na verdade, Black, eu desconfiaria desta teoria se fosse você. Os Lestrange, que eu saiba, não mataram o seu querido irmão.
- Então, qual é o problema com os Lestrange?! – irritou-se o bruxo, cuspindo ligeiramente no rosto de Snape, no calor da discussão.
Snape encostou os dedos gelados na superfície da mão esquerda de Sirius, fazendo-o largar seu colarinho.
- Naquela noite, em que os Lestrange apareceram e deram o recado a você e ao Potter que Thomas Black estava morto e bem longe do mundo dos vivos, ambos chegaram a lutar contra os Comensais, estou correto?
Sirius queria acabar logo com aquilo. Recordar a noite em que seu irmão fora assassinado não era a melhor idéia de animação para salvar a "filha" morta.
- E...?
- Eles arrancaram sangue do seu antebraço direito, lembra-se? – prosseguia Snape. – Mais precisamente, Bellatrix Lestrange, uma das mais bonitas Comensais da Morte que já viveram, enfiou as unhas escarlates em seu membro superior direito e arrebatou uma boa quantidade de sangue legítimo dos Black. Era tudo que nós precisávamos. A partir daquela noite, o plano começou a ser arquitetado, para ser aplicado somente após quase ou mais de dois anos. Porém, apenas foi realizado pelo altíssimo índice de transformação de Voldemort. Sem ele, nada pode ter sido feito.
- Então, foi deste livro que o encantamento para o nascimento de Ametista foi retirado? – voltou a indagar Lupin, apenas para frisar.
- Salazar Slytherin, escrevendo este livro, permitiu que o sangue Dumbledore-Riddle surgisse e reinasse sobre os mais fracos. – terminou Snape, ainda com os olhos brilhosos.
Por pouco, muito pouco, Sirius não acabou com aquela ladainha e matou Snape. Sim, ele poderia. Sirius possuía grandes chances de vencer Snape num duelo. Entretanto, Lupin cutucou-o, indicando o corpo de Ametista, que ainda permanecia sem vida e cada vez mais pálido.
- Sabe, Black, o Turbatio Sanguinis destruiu sim a sua vida – retomou Snape seriamente. – Porém, ele pode gerar uma nova a você. Uma recompensa.
Sirius apenas encarou Snape, doído.
- Nós poderemos trazer Ametista de volta – finalizou Snape convicto. – Com o seu sangue.
Enquanto Sirius franzia a testa, Snape estendia os dedos sobre o livro, que folheava sozinho e abrira numa página negra. Lupin aproximou-se e pôde ler com clareza: Pactum Sanguinis.
***
- Pactum Sanguinis... – repetiu Lupin ao ler o título da magia. – Nós realizaremos um Pacto de Sangue, Severo? Um legítimo Pacto de Sangue?
Snape encarou Lupin. E reconheceu que seu temor era idêntico ao do antigo mestre de Hogwarts. Não havia garantia alguma que este Pacto de Sangue desse certo. Seguindo as reais instruções do encantamento, não haveria como realizar o Pacto. Nem Lupin, nem Severo e muito menos Sirius possuíam as características mencionadas e necessárias para que o Pacto pudesse ser desempenhado. Na verdade, era apenas um pequeno detalhe, mas o primordial, que impedia o funcionamento correto do Pacto.
- É impossível, Severo. Nós não podemos fazê-lo! – ralhou Lupin indignado. – Você disse que havia um modo de reviver Ametista! E nós não somos capacitados a realizar um legítimo Pacto de Sangue!
Snape abriu os lábios para começar a expressar sua idéia, entretanto Sirius já estava contorcendo o rosto num jeito desesperado e confuso.
- Por que você está dizendo isso, Remo? – indagou perdendo o ar. – Nós não poderemos salvar Ametista?! Não?!
Os olhos de Lupin clarearam ligeiramente ao notar o enorme desespero que abatia cada um deles, especialmente Sirius. Respirou fundo.
- Nós teríamos de realizar o Pactum Sanguinis, Sirius. O tão conhecido e temido Pactum Sanguinis... – disse Lupin alarmado.
Sirius pareceu recordar o tal Pacto que Remo se referia. "Opa...", pensou Sirius arregalando os olhos.
- O Pactum Sanguinis? – frisou para tentar entender. – O Pacto que nós aprendemos em Defesa Contra a Arte das Trevas? O mesmo Pacto em que fomos proibidos de realizar assim que nos tornamos bruxos? O que envolve Magia Branca com Magia das Trevas e fora usado para ressuscitar Merlin apenas uma e única vez?
Lupin permaneceu calado, enquanto Snape prestava atenção nas pequenas palavrinhas em latim do encantamento. Ao final das questões do bruxo, Snape tornou-se a ele:
- Sim, é este Pacto, Black – afirmou, voltando a encarar os olhos azuis de Sirius. – É o único modo de salvarmos Ametista. Eu realmente pensei que vocês desafiariam algumas regras para salvá-la...
- Que eu saiba, não são os grifinórios que possuem esse certo desprezo pelas regras. – debochou Sirius ainda chocado.
- Realmente, e vejo que é por isso que os sonserinos são os mais bem sucedidos e fortes de Hogwarts... – respondeu Snape sorrindo desdenhosamente.
- Nós não estamos falando de desafiar algumas regrinhas, Severo! – retrucou Lupin. – Isto é sério! Nós estaremos quebrando um juramento feito há anos! E estaríamos arranjando confusão com todo tipo de ser maligno, já que estes encantamentos e maldições proibidas sempre trazem coisas ruins junto! Além de uma bela prisão pelo resto da vida em Azkaban!
- Achei que o Black não se importaria tanto assim de voltar para Azkaban, afinal, já passou doze longos anos por lá mesmo, já deve até ser amiguinho dos dementadores... – provocou Snape.
Sirius mostrou os dentes e amarrou a cara.
- Talvez eu te mande para Azkaban, numa pequena estadia junto dos dementadores. Ou pior, eu os mando dar um beijinho em você, que acha? Tenho certeza que deve ser mais prazeroso do que um arrancado de alguma mulher por aí, mais emocionante...
O mestre de Poções aborreceu-se e deu um passo na direção de Sirius. Lupin postou-se ao meio.
- PAREM OS DOIS! – vociferou Remo, sem paciência. – Ametista está morta! Olhem para a cama ao lado de vocês! Será que não percebem?! Suas diferenças devem ser tão fúteis, já que estamos tratando da morte de alguém! Principalmente alguém como ela! – Snape e Sirius prosseguiam encarando-se. – Nós temos de decidir o quê fazer logo! O encantamento só poderá ser feito até doze horas após o falecimento.
Lupin deu um passo para trás e cruzou os braços no peito. Pigarreando levemente, completou:
- Eu não me importo em ir para Azkaban, não me importo em quebrar o juramento e até mesmo de mexer com a Magia e a Arte das Trevas – Sirius e Snape olhavam-no seriamente. Lupin estava mais controlado do que nunca. – Ametista não merecia morrer. E, se depender de mim, ela não irá.
Era um gesto de grande amor. Lupin estava abdicando de sua própria vida para salvar a da garota que ele tanto adorava.
- E você, Black? – indagou Snape, sem nenhum tom provocativo. – Eu estou propondo este encantamento, portanto tomei a mesma decisão que Lupin há horas atrás. Agora, só falta você decidir se arrisca ou não salvá-la.
Sirius estava imóvel. Recordando cada momento com Ametista. Será que realmente valia a pena voltar a Azkaban para dar origem a sua nova vida? Ser condenado pelo resto de seus dias a pagar pelos seus atos, envolvendo-se em pactos com Arte das Trevas? Perder tudo que havia conquistado com Arabella? Distanciar-se novamente de Harry? Decepcionar Lílian e Tiago, por não estar presente quando deveria para cuidar do afilhado?
"Você só irá nos decepcionar se não tentar, Sirius".
Imediatamente, Sirius moveu seu corpo bruscamente para a direita, onde estava a cama, e viu algo extraordinário. Era Tiago, sentado ao lado de Ametista, passando seus dedos pelo cabelo da garota. Os olhos de Sirius marejaram. O melhor amigo estava ali o tempo todo. Sim, Arabella havia lido a mente de Harry e descobrira tudo sobre a última noite em Hogwarts do quinto ano, em que ele e Ametista viram Tiago dentro d'água e como um animago fora dela. Descobrira que Tiago, de fato, protegia e acompanhava Ametista de perto em seus momentos de perigo e felicidade.
"Sirius, você anda se culpando muito ultimamente. A culpa é um dos piores sentimentos que alguém pode carregar consigo". A boca de Tiago movia e o som de sua ótima voz ecoava nos ouvidos de Sirius. "Mas você esteve enganado durante todo esse tempo. Nós sabemos que, mesmo não presente, você sempre cuidou de Harry. E está na hora de acordar para a vida", continuava o pai de Harry sabiamente, ainda acariciando os fios castanhos do cabelo de Ametista. "Se você quis, durante alguma vez nesses anos, ser o verdadeiro pai de Ametista, este é o momento".
Os olhos de Sirius tremiam. Aquilo não poderia ser um delírio! Era muito mais do que real. Sirius poderia quase tocar em Tiago. Seu coração ficou leve de repente e uma estranha força de vontade e coragem tomou seu coração. A imagem, ou o espectro, de Tiago pareceu sorrir e, pela última vez naquela noite, a voz do melhor amigo ecoou em seus ouvidos: "Nós nos encontraremos novamente, meu amigo".
O espírito de Tiago desaparecera. Sirius, finalmente, soltou sua respiração e piscou. Quando Lupin e Severo ameaçaram chamar a atenção de Sirius, que parecia não estar ali, o homem tornou-se para eles. Havia uma determinação contagiante em seus olhos.
- Nós a salvaremos. – disse, acreditando naquilo como nunca acreditou em nada antes.
***
Lupin deixou um sorriso saltar de sua face e engoliu aliviado. Snape não sorriu, mas lançou um olhar ao bruxo que o fez acreditar num quase agradecimento do professor de Poções.
- Certo! – exclamou Severo. – Agora, nós precisamos acelerar o processo.
Sirius cruzou os braços, enquanto assistia Remo lendo as instruções do encantamento e Snape movendo os frascos de um lado ao outro, formando seqüências variadas, assim como a sua varinha flutuava junto dele, jogando jarros de luz, como se estivesse decorando as ordens feitas pelo seu dono. Uma certa empolgação pareceu surgiu entre todos, porém uma exclamação de Lupin os fez tremer novamente.
- Estamos esquecendo do maior detalhe – disse Remo gravemente. – E o sangue?
- Sangue? Que sangue? – indagou Sirius nervosamente.
- Ora! Vai me dizer que se esqueceu do sangue, Black?! – irritou-se Snape, vendo que Sirius o encarava. Snape soltou um muxoxo. – Nós precisaríamos de um sangue real.
Os olhos de Sirius se arregalaram mais uma vez.
- SANGUE REAL?! Nenhum de nós possui um sangue real!
- Não acredito! Você não pensou nisso antes, Severo?! – Lupin parecia bastante aborrecido.
Snape deu um sorrisinho irônico, como se estivesse rindo incrivelmente por dentro. Eles estavam mesmo duvidando que Snape não havia pensando nisso antes? Que idiotas!
- Eu sei que nenhum de nós carrega o sangue real nas veias – respondeu Snape calmamente. – Entretanto, há uma forma de resolvermos este problema.
Lupin franziu a testa num tom preocupado, mas ao notar a certeza na fala de Snape, acalmou-se por um momento. Já Sirius...
- Mesmo? Engraçado porque, pelo que eu sei, nenhum de nós possui o sangue Dumbledore e nem somos o pai ou a mãe dela! – disse Sirius exasperado.
- Não sou como você, Black. Eu penso antes de agir, sabe? – provocou Snape. – Já pensei em tudo...
- E por que não o fez sozinho então?
- Acredite, Black, se eu pudesse fazê-lo sozinho, já teria executado o encantamento há muito tempo e não estaria aqui tendo esta conversa inútil com você, e muito menos pediria sua ajuda. E é a segunda vez que estou te dizendo isso hoje. – finalizou aborrecido.
Lupin deu uma nova olhada no feitiço e voltou-se para Snape.
- E qual é o seu tão brilhante plano então, Severo?
- Ele não é brilhante, Lupin – resmungou Snape. – Na verdade, ele só se concretizará se todos nos concentrarmos ao máximo e, ainda assim, eu não tenho grandes esperanças – Sirius bateu os dentes. – Porém, eu prefiro tentar a ficar sentado ou chorando no velório dela.
Tanto Lupin quanto Sirius ficaram esperando a explicação de Snape, que mantinha a expressão amargurada, mas estranhamente obstinada.
- Como você leu – dizia a Lupin. – há uma série de frases que terão de ser ditas seguidamente, na ordem certa e com muita clareza – Remo e Sirius continuavam ouvindo Snape. – E um de nós terá de perder uma bela quantidade de sangue.
- Sangue? Snape, nenhum de nós possui o sangue real, como poderíamos ceder o nosso sangue para ela, não adiantará de nada! – retrucou Sirius nervosamente.
Um certo brilho surgiu nos olhos tão escuros do mestre de Poções, destacando-se em sua pele macilenta.
- É para isso que preciso de você, Black – disse Snape, agora num tom muito sério. – Você cederá o sangue a Ametista.
Sirius arregalou os olhos sem palavras. Aquilo era loucura. Qualquer um sabia que a mistura de sangues não-reais poderia provocar conseqüências eternas e sem volta. O pior que poderia acontecer seria uma contaminação do sangue real, onde as correntes sanguíneas se tornariam escuras e as veias e artérias começassem a murchar e expulsar todo o sangue do corpo, fazendo com que o coração não tivesse mais sangue para bombear, o cérebro parasse de funcionar e, conseqüentemente, a morte – quer dizer, não haveria salvamento algum.
- Onde você esteve durante todos esses anos, Snape?! – irritou-se Sirius. – Eu não sou o pai de Ametista. Ela não tem o meu sangue. Ela não é uma Black...
Para a surpresa de Sirius, Remo parecia entender tudo que Snape falava e passava até mesmo a concordar com a loucura do pálido bruxo. Será que o mundo estava pirando no meio daquela tempestade?!
Lupin aproximou-se de Sirius e colocou a mão em seu ombro, num gesto de apoio.
- Ametista não é uma Black apenas por um detalhe: ela não possui o sangue dos Black – proferia Lupin. – Mas, durante todos esses anos em que ela conviveu com você, comigo e com Severo, ela aprendeu a desenvolver as características de uma legítima integrante da sua família, Sirius, e você mesmo sabe disso. Você é testemunha de como essa menina é parecida com você. A cerimônia do batismo plantou uma semente dentro de Ametista que nunca será esquecida. Você, Sirius Black, prometeu tantas coisas naquele dia, que um vínculo foi formado entre vocês dois. A partir daquele dia, ela tornou-se sua parenta, mesmo que não tivesse um elemento físico ou corporal que os unisse verdadeiramente.
Sirius estava chocado. Agora, foi a vez de Snape dar um passo adiante, ainda muito que friamente.
- Você a tornou uma Black após o dia do batismo. E isso fez com que Voldemort quisesse a sua morte, pois a garota deveria ser uma legítima Riddle, e não Black. Esta linha emocional que prendeu a ambos fez com que Voldemort visse perigo na relação entre "pai" e "filha", e talvez, por isso, ele tenha assassinado Hariel e tentado te matar também, Black. Antes mesmo do nascimento da filha do Lorde das Trevas, ela já reconhecia o pai como outra pessoa. Não era Voldemort, era Sirius Black.
- Há um amor, mesmo que adormecido, que une você a Ametista. Somente assim você pôde sentir que ela estava sendo atacada por Voldemort hoje – completava Lupin. – Você foi o escolhido, entre todos nós, para ser o protetor de Ametista.
- E então Voldemort os separou. Por longos catorze anos, estabeleceu um ódio entre vocês dois, mesmo que ela ainda não soubesse toda a verdadeira história de sua família – voltou a falar Snape. – E ele espera ainda separá-los, acredite. Porém, nós poderemos acabar com essa aliança. Esse Pacto de Sangue pode nos trazer Ametista de volta, mas, além disso, pode nos trazer uma herdeira de Dumbledore, de Voldemort, e sua, Black.
Provavelmente, nunca mais algo como aquilo aconteceria. Uma união estaria se estabelecendo entre os três bruxos, na esperança de salvar alguém querido. Contudo, mais do que isso, Snape estava pedindo para Sirius acreditar em suas palavras. E honrar palavras como as de Snape era muito difícil.
Em seguida, Snape retirou um punhal prateado do meio do livro – Sirius e Lupin não souberam como – e estendeu-o até Sirius.
- Você tem apenas de acreditar que é o pai de Ametista. Você deve honrar o sangue que correrá nas veias sua e dela daqui por diante.
Não sabendo o motivo, Sirius envolveu os próprios dedos no punhal e disse:
- Remittere.
Snape e Lupin ficaram imóveis. Remittere era uma palavra em latim, que significava perdoar. Naquele momento, em que Sirius estendeu os dedos e tomou o punhal, ele estava acreditando com toda sua força e seu coração, de que era o pai de Ametista e que havia perdoado todos os erros do passado.
***
A tempestade continuava a aterrorizar o dia que havia virado noite. Dentro daquela modesta casa, no maior dos aposentos, no andar superior, localizavam-se três bruxos respeitáveis e corretos – na medida do possível – realizando um dos maiores e mais perigosos encantamentos proibidos pelas leis mágicas. Era Severo Snape, o macilento e mal humorado professor de Poções e ex-Comensal da Morte, Remo Lupin, o mais amigável lobisomem já existente, e Sirius Black, o mais famoso preso inocente do mundo mágico. E, ao terminar do ritual, estariam todos provavelmente com suas celas preparadas em Azkaban.
- Este deverá ser um segredo. Somente deverá ser contado a pessoas confiáveis e, ainda assim, um feitiço de mistério deverá ser posto em todos, para o segredo não virar notícia nos jornais. – confirmou pela última vez Lupin, um tanto ansioso.
Havia uma séria de velas espalhadas pelo âmbito, flutuando em volta do corpo de Ametista e dos bruxos, todos em pé, ao lado do corpo. O livro estava suspenso, longe dos três bruxos, enquanto o feitiço já havia sido memorizado nas mentes ligeiramente perturbadas do trio. E o Pactum Sanguinis iria se iniciar.
Severo e Remo estenderam seus braços para o lado, abrindo na forma de uma cruz, fechando seus olhos e tentando limpar suas mentes de coisas ruins. Sirius estava em pé, muito sério e decidido, ao lado do corpo. Na verdade, parecia estar em transe por mais de cinco minutos. O punhal prateado brilhava intensamente no meio de seus dedos.
- Vamos iniciar. – anunciou Snape.
Os momentos seguintes foram longe de surpreendentes. Foram espetaculares. Cada um dizia uma palavra ou frase, em ordens específicas, enquanto os frascos coloridos dançavam sobre o corpo de Ametista. E soltavam uma série de jatos de diversas colorações, iluminando a sala num modo fascinante.
- Ad ungem. (Com toda a perfeição) – iniciou Snape, em latim.
- Ab immemorabili. (Do íntimo do peito) – continuou Lupin.
- Ab imo corde. (Do mais profundo do coração) – completou Sirius.
Jatos amarelados jorraram dos frascos dançantes. Um trovão irrompeu dos céus. O livro mudou uma página sozinho.
- Ad adjuvandum. (A fim de ajudar) – anunciou Sirius.
- Ad misericordiam. (Por compaixão, misericórdia) – disse Lupin.
- Ad vindictam. (Por vingança) – falou Snape.
O livro subiu e desceu, flutuando e virando as páginas negras do feitiço, enquanto os frascos de vidro mostravam-se mais dançantes que nunca, espalhando jatos verdes.
- Ad benevolentiam. (Para a benevolência) – agora foi a vez de Lupin.
- Ad fidem. (Com fidelidade) – articulou Sirius.
- Ad honorem. (Por honra) – concluiu Snape.
As páginas passaram a se moverem mais rapidamente, indo e voltando com o balanço da cortina. Os vidrinhos pareciam agora mais calmos e jorraram líquidos azuis.
- Ad patiendum. (Para suportar) – proclamou Snape.
- Ad salutem. (Para a salvação) – proferiu Sirius.
- Ad pariendum. (Para parir, gerar) – pronunciou Lupin.
Um vento forte adentrou furiosamente dentro do âmbito. Os frascos pareciam igualmente raivosos, pulando de um lado ao outro, jorrando líquidos negros por toda a parte. Uma corrente forte de chuva também invadiu o dormitório e meteu-se no ritual pela janela. Não era apenas uma tempestade. Aquilo era Arte das Trevas, e ninguém que se envolve com a Magia das Trevas não carrega conseqüências ou ainda é atingido por alguma espécie de barreira no ritual.
Lupin e Snape encheram seus pulmões no meio daquela tempestade no meio do quarto, tão furiosa e persistente, assim como a ventania que levantava os lençóis da cama em que o corpo estava colocado. Eram forças contrárias ao Pacto de Sangue. Porém, ele deveria ser completado, e não haveria deus ou Comensal que pudessem impedi-los.
- AD EXTREMUM. (Até o extremo) – gritaram Lupin e Snape, tentando fazer com que suas vozes ecoassem até os ouvidos de Sirius.
Chegara a hora. Sirius, no meio de toda aquela furiosa reação da natureza, conseguiu enxergar o corpo de Ametista embaixo dele. Os cabelos da garota não permitiam que seu rosto fosse visto, já que o vento os levantava violentamente sobre a sua face. Esticou o braço. Era agora ou nunca.
O brilhante punhal prateado pareceu estar mais iluminado que nunca quando Sirius estendeu-o diante de seu antebraço esquerdo. Segurando o punhal com a mão direita, tentando enxergar o braço para não errar o lugar, já que seu cabelo insistia em ficar sobre sua face naquela ventania. Foi então que Sirius pôde pronunciar as últimas palavras necessárias para a sua parte no Pactum Sanguinis.
- FILIUS, ERGO HERES! (Filho, logo herdeiro) – vociferou impetuoso.
A cena seguinte não fora tão agradável como as outras. Snape e Lupin assistiram, no meio de toda aquela tempestade dentro de dormitório, Sirius enfiar o punhal na parte interior de seu antebraço esquerdo e rasgá-lo até o pulso. Era uma quantidade monstruosa de sangue que jorrou para fora do corpo de Sirius. O bruxo ainda conseguiu segurar um grito, a princípio, mas depois de alguns segundos, Sirius estava berrando enlouquecido de dor. O punhal estava ainda em sua mão direita, mas lotado de sangue. A imagem era assustadora. O líquido avermelhado jorrava sobre o corpo de Ametista e era levado pelo vento, sendo espalhado por todo o leito.
Durante um tempo, Lupin e Snape ficaram chocados demais para reagirem. No entanto, após alguns instantes, ambos deram conta de que deveriam continuar com o ritual, que estava em seu fim. Agora, teriam de finalizar o Pactum Sanguinis.
- HIC ET UBIQUE! (Aqui e em toda parte) – gritou Lupin furiosamente, tentando ouvir a própria voz naquela confusão toda.
- NUN ET SEMPER! (Agora e sempre) – vociferou Snape, também contra o som da ventania, quebrando os frascos, que eram arremessados ao chão.
- IN AETERNUM! (Eternamente / Para sempre) – berraram então, Lupin e Snape juntos, reunindo o que restava de suas vozes e forças.
De repente, tudo parou. A ventania, a tempestade. O céu permanecia escuro, mas não tempestuoso como antes. Os frascos não estavam se partindo, muito menos jorrando líquidos coloridos. O livro havia caído no chão. O Turbatio Sanguinis, estranhamente, começou a "sangrar". Os cabelos compridos de Snape estavam caídos sobre seus olhos e rosto. Os olhos de Lupin estavam negros. No momento seguinte, ambos desabaram no chão. Sem forças para levantar ou falar qualquer coisa, uma exaustão atingiu-os ferozmente. Levantando ligeiramente do chão, com uma dificuldade tremenda, Severo e Remo puderam ver Sirius ajoelhado ao lado do leito, segurando com a mão direita o ensangüentado antebraço esquerdo sobre o corpo de Ametista. O sangue escorria pelo corpo sem vida de Ametista e era absorvido pela sua pele, enquanto uma estranha luz negra envolvia ela e Sirius. O homem estava exausto e tomado pela dor e uma perturbadora tontura. Antes que seus olhos pudessem fechar completamente, assim como os de Lupin e Snape, Sirius pôde notar que havia um líquido escuro saindo pelas narinas de Ametista. O Pacto de Sangue pareceu não ter dado certo.
NO PRÓXIMO CAPÍTULO: O Pactum Sanguinis fora realizado. Porém, o resultado não parecia o esperado. Agora, Sirius, Snape e Remo voltam a Hogwarts. Sirius acorda na Ala Hospitalar, mas ninguém fornece notícias sobre Ametista. A imagem do sangue negro saindo das narinas da jovem não saem de sua cabeça. É tudo uma questão de perdoar. Que será dele quando não há sinais de esperança? Emocione-se em "REMITTERE"
