NO CAPÍTULO ANTERIOR: Sirius acorda depois de um mês - uma espécie de transe - e depara-se com nenhuma notícia sobre Ametista. E então, Madame Pomfrey dá o diagnóstico da paciente: ela despertou. Depois de um encontro emocionante, Sirius e Ametista dão uma chance ao amor entre pai e filha.

CAPÍTULO DEZOITO – NA ILHA DOS CICLOPES

- NUNCA DESOBEDEÇA MINHAS ORDENS NOVAMENTE, ENTENDEU?

         Arrepiou-se ferozmente ouvindo o décimo grito de ódio do Mestre. Rabicho engoliu em seco e olhou para a porta entreaberta. Uma luz fraca escapava pela fresta. E as sombras dançavam no chão, aumentando a gravidade da situação. Lançou um novo olhar, agora para o homem em pé, a poucos metros dele.

         - Você acha que ele vai perder o comando, Adams? – indagou Rabicho no seu típico tom amedrontado.

         O rosto bonito de David Adams fitou Rabicho. Seu olho esquerdo piscou involuntariamente. Os efeitos daquele soco de Sirius ainda o irritavam, mesmo após um mês.

         - Duvido. O Lorde está enfurecido sim, mas não a este ponto. – sua voz estava rouca e num tom baixo.

         Rabicho encarou o braço direito, depois a mão. Prateada e mecânica, nada como a sua verdadeira mão de volta.

         - E eu fui vítima da fúria do Lorde, certo? – choramingou infantilmente para Adams.

         - Não, seu idiota! – respondeu o Comensal da Morte. – Você ofereceu sua mão para reviver o Lorde. Não deseje ser vítima do poder do Mestre, nunca!

         David observava calmamente o céu estrelado daquela noite. Era inverno e aquele casarão era tão frio quanto o alto daquele monte. A janela estava ligeiramente suja, mas ainda assim, permitia que Adams recriasse cada momento de uma noite exatamente como aquela. Era doloroso imaginar o preço que pagara para estar no posto naquele instante. Pertencer à Trindade das Sombras era algo inimaginável e maravilhoso, mas também o fizera esquecer de tudo e obedecer apenas a sua ambição.

         - Eu disse ao Mestre que o Black estragaria tudo. Eu o conheço e sei muito bem como...

         - Cale a boca, Rabicho! – interrompeu-o Adams, endireitando-se. – O Black é o último dos problemas do Mestre. A garota é bem mais importante, e não se esqueça de Harry Potter.

         O Comensal bufou, olhando mais uma vez a mão prateada.

         - Aquele garoto! Um idiota! Espero que o Mestre acabe logo com ele!

         - Não será fácil – disse Adams desanimado. – Hogwarts está completamente tomada por feitiços contra invasões e não será fácil retirar o garoto de lá. – repetiu.

         Rabicho levantou-se e encarou Adams de perto. Os olhos verdes do Comensal pareceram ameaçadores assim que Rabicho tentou parecer intimidante.

         - E a Trindade, onde fica em tudo isso? – perguntou temeroso.

         Adams deu um sorriso irônico.

         - Você estava aqui até agora ou estava dormindo, Rabicho? – ironizou David. – Se você não conhece a definição da palavra, Trindade significa trio, tríade. E pelo que sei, um dos componentes dessa Tríade está lá dentro há mais de quinze minutos, sendo muito bem repreendido pelo Lorde. Como você quer que a Trindade realize algo diante de uma falha como essa?

         - Isso porque ele é o Chefe dos Comensais... – murmurou Rabicho, num tom debochado. – Imagine se não fosse...

         Adams aproximou-se de Rabicho.

         - Nós dois e todos os outros Comensais sabemos muito bem que ele não é o Chefe...

         A porta se escancarou. Adams e Rabicho tomaram a postura devida e curvaram-se diante da imagem do Mestre e de Lúcio Malfoy. O Comensal da Morte estava com os olhos cheios de fúria e os dentes rangendo de raiva. Voldemort estava logo atrás, carregando Nagini pendurada em seu pescoço.

         - Adams – chamou Voldemort com sua voz rouca e espalhando o fedor de sua boca pela sala. – Quero uma reunião com os Comensais daqui a duas horas. E depois, a Trindade permaneça aqui – o Lorde das Trevas lançou um olhar desgostoso sobre Lúcio. – Temos assuntos sérios a tratar.

         David concordou com a cabeça e curvou-se novamente, quando o Lorde deixou o âmbito e voltou para a sala onde estava anteriormente. Rabicho pulou atrás de Voldemort, seguindo-o como um cachorrinho, enquanto Lúcio sentava no sofá onde estava há pouco Rabicho. Adams esperou que a porta se fechasse e sentou diante de Lúcio.

         - Como foi?

         Malfoy levantou os olhos na direção dos de David e soltou o ar rapidamente, como se estivesse segurando há muito tempo.

         - A garota mencionou algo sobre Comensais avisando o Lorde de que já possuía um pai – resmungou Lúcio visivelmente fora de controle. – Voldemort investigou e descobriu tudo que aconteceu na França. Agora, ele quer que tomemos uma atitude.

         - Temos de reunir a Trindade mesmo? – reforçou Adams.

         Lúcio respirou fundo e encostou-se ao sofá, cansado.

         - O Mestre disse algo sobre os Cavaleiros de Merlin...

         No mesmo segundo, David Adams estava com os olhos arregalados. Não poderia ser!

         - Os...os Cavaleiros de Merlin? Por quê? Que é que têm eles?

         - Os dementadores estão sendo reunidos aos poucos. E o Lorde acha que Dumbledore vai chamá-los – disse Lúcio num tom enfraquecido, mas ainda carregado de ódio. – Eu não duvido nada, se você quer saber.

         Adams suspirou e encarou Malfoy.

         - O Mestre acha que nós poderemos fazer alguma coisa contra os Cavaleiros? Nem mesmo a Trindade pode acabar com os Cavaleiros...

         - Eu sei, Adams. Eu sei. – afirmou Lúcio Malfoy, tossindo em seguida e soltando uma quantidade pequena de sangue. Nunca mais desobedeceria a uma ordem de Voldemort. Nunca mais.

***

O corredor sombrio e vazio demonstrava que o horário de recolher já havia soado há bastante tempo. Andando lentamente até a Torre da Grifinória, Harry suspirava. Naquela manhã, Ametista havia despertado finalmente e ele ainda não pudera conversar com a garota. Parecia que, durante o dia todo, Ametista desfrutara a companhia de Sirius. Arabella chegou a mencionar que, provavelmente, após o Pactum Sanguinis, pai e filha se acertariam. Harry estava imensamente feliz, porém, nada o deixaria mais contente do que ele se acertar com Ametista.

         Dizendo a senha à Velha Gorda, Harry deixou o corredor escuro para trás e encontrou o salão comunal tão soturno quanto o resto do castelo naquela noite. Exausto, sentou pesadamente no sofá à frente da lareira e bufou. Havia circulado sem rumo algum por grande parte do castelo, pensando em como explicaria tudo que acontecera a Ametista. A culpa ainda tomava conta de seus pensamentos. Teria de dizer sobre Cho. E desculpar-se pela imaturidade quando Ametista, pela primeira vez, pediu que ele dissesse que gostava dela.

         A lareira crepitava conforme Harry respirava. A solidão naquela sala comunal começava a corroer sua cabeça. Pensou até em vagar mais um pouco, dar uma volta até a sala de Transformação Humana e sanar a saudade que sentia dos maravilhosos momentos em que passava com Ametista.

         - Não pensei que sentiria tanta falta daqui.

         Harry deu um pulo. Conhecia bem demais aquela voz. Acostumado a ouvi-la tão perto de seus ouvidos, sussurrando que o adorava.

         Seus olhos correram nervosos pela sala comunal. As cortinas vermelhas escondiam o intruso. Sentada sobre o parapeito da enorme janela da Grifinória estava Ametista. Harry ainda não a tinha visto após o Pacto de Sangue e se surpreendeu quando cruzou seus olhos com os dela. Não eram mais azuis como os de Dumbledore. Havia algo de muito especial neles naquela noite. Estavam escuros, penetrantes e cheios de paixão.

         - Seus olhos... – começou Harry, aproximando-se dela.

         Um ligeiro sorriso surgiu nos lábios de Ametista.

         - Não tenho mais os olhos da minha mãe, como você reparou – disse ela, numa voz baixa e fraca. – Tenho os olhos dos Black.

         - Os olhos de Sirius. – murmurou Harry para si mesmo.

         - Os olhos de meu pai. – pronunciou Ametista, com um certo orgulho.

         Harry parou no meio do caminho. Estava a três passos da janela, porém não achou correto dirigir-se a ela sem antes lhe explicar tudo que ocorrera enquanto estivera em poder de Voldemort. O rosto de Ametista estava incrivelmente pálido e doente. Mirando-lhe com seriedade, Ametista levantou e postou-se ainda sobre o parapeito.

         - Deveria estar de repouso, mas resolvi que isso era mais importante. – falou a jovem, a voz frágil.

         O jovem monitor da Grifinória engoliu em seco e reuniu toda sua coragem. Respirando fundo, começou gaguejando:

         - Am...Ametista...

         Estranhamente, a cabeça de Ametista moveu-se numa forma de negação. Diante de sua reação, Harry calou-se, esperando a garota falar. Ametista concentrou seus olhos azuis escuros em Harry e ficou mais séria ainda. O garoto continuou no mesmo lugar.

         - Eu realmente não sei o motivo – iniciou Ametista num tom cansado. – E, aparentemente, ninguém sabe também. Enquanto eu estive adormecida, morta, ou sei lá o estado em que estava – enrolou-se, olhando para seus pés. – eu pude observar todos os passos do meu pai.

         Harry notou como parecia curioso ouvir Ametista referir-se a Sirius como pai. Era desconfortável, mas também muito libertador para ela.

         - Eu vi tudo o que ele fez. Cada coisinha – continuou a jovem. – Só que não foi somente os passos de meu pai que eu segui – Harry sentiu-se gelar. – Eu vi tudo o que você fez também.

         Imediatamente, o jovem diminuiu a distância entre eles e já foi dizendo, apressado e nervosamente, seguindo seus instintos e sua culpa:

         - Ametista! Você precisa me ouvir primeiro! Escute, você pode...

         - Harry! – interrompeu-o Ametista, aflita.

         A testa de Harry enrugou-se no mesmo instante. Para a surpresa do monitor, Ametista estava chorando. Harry estava cerca de três palmos abaixo de Ametista e aproximou-se da jovem, erguendo seus braços e colocando suas mãos envolta do rosto dela, na tentativa de fazê-la parar de chorar. Secando suas lágrimas, Harry notou uma certa coloração rósea despertar naquela face tão macilenta.

         - Eu fui uma idiota! – choramingou Ametista sentida. – Não devia ter duvidado do que você sentia por mim! Eu sabia que você gostava de mim! Mas...mas eu estava furiosa! Não admitia que você pudesse ficar tão amigo dela! Antes de nós namorarmos, ela sequer sabia que você existia! Por que, então, de repente ela resolve acordar para a vida e cair em cima de você?!

         Harry sorriu com os lábios fechados diante das palavras de Ametista. A garota entrara num desespero contagiante. Seus braços erguidos até o rosto dela evidenciavam o pânico da namorada.

         - Eu vi quando ela te levou até aquela sala! Eu vi quando ela te beijou! E eu também vi quando você a beijou de volta! – ralhou exasperada e aborrecida.

         - Mas, você deve ter percebido que eu parei o beijo...

         Ametista levou uma de suas mãos até a boca de Harry, calando-o novamente. Mais algumas lágrimas caíram dos olhos escuros da jovem.

         - Eu não só vi, Harry! – gritou nervosa. – Eu senti a sua emoção de beijá-la, de ter realizado um sonho de três anos! E, por um momento, soube que nossa discussão havia sido correta, que se fosse preciso, nós não estaríamos mais juntos!

         - Não diga isso! – protestou Harry angustiado.

         A garota firmou mais uma vez seus dedos nos lábios do namorado.

         - Eu senti a sua felicidade, Harry. Mas senti a sua culpa, seu remorso. Naquele segundo em que você imaginou abrir os olhos e não encontrar os meus, eu descobri o tamanho de seus sentimentos por mim! Aquilo bastou para mim, Harry. Bastará para sempre.

         "O que ela está dizendo?", pensou Harry perdido. "Ela está me perdoando?", correu pelos seus pensamentos.

         - Eu não quero mais me sentir como naquela noite, Harry – pediu Ametista, ainda derramando lágrimas. – Não quero estar desprotegida, insegura, desacreditar na única coisa concreta na minha vida, que é você! Eu estou apaixonada demais para me desfazer de você, Harry! Demais!

         Em quase quatro semanas, Harry não se sentia daquele jeito. No exato lugar em que se beijaram pela primeira vez, em que seus sentimentos começaram a crescer por Ametista, a jovem estava perdoando-o por tudo e ainda dizendo que estava, de fato, apaixonada por ele. Claro que Ametista já havia dito isso a ele antes, mas não daquela forma, tão verdadeira e emocional. Nem mesmo no píer de Godric's Hollow.

         Seu ar desapareceu mais uma vez. Esquecendo-se completamente de que deveria voltar para a Ala Hospitalar – pois ainda estava de repouso – e descansar por mais três dias, ao menos, Ametista curvou-se até a altura do rosto de Harry e beijou-o. Fora o mais delicado e suave beijo que eles já haviam dado, mas ainda tão especial quanto aqueles arrebatadores. Harry sentiu o gosto salgado das lágrimas de Ametista e notou como fazia falta apenas estar perto dela. Rapidamente, subiu no parapeito, sem paralisar o beijo, e se uniu a ela, abraçando-a enquanto seus lábios reconheciam os dela após um mês distante. Era como se tivessem voltado meses atrás, quando se beijaram exatamente daquela maneira maravilhosa e inebriante. A única diferença era que, além de uma maior experiência e liberdade entre eles após quatro meses de namoro, a paixão estava tão evidenciada quanto a lua que iluminava o âmbito, tornando o momento singular.

***

- Duas horas? Estranho, muito estranho. Voldemort não costuma marcar os compromissos ou as reuniões em cima da hora.

         - Também acho, mas é a única coisa que me foi passada. Tenho de ir, Dumbledore.

         - Você está preparado fisicamente, Severo? Porque eu entenderei se não estiver, após tudo que vocês passaram...

         - Eu estou bem, Alvo. Apenas devemos manter o plano e seguir os passos do Lorde.

         A lua estava bem no alto quando Severo Snape foi comunicar Alvo Dumbledore sobre a convocação dos Comensais da Morte. A sala do diretor estava totalmente iluminada e o rosto cansado de Dumbledore evidenciava a expectativa para aquela reunião. Após concordar com o "desaparecimento" de Snape, permitiu que o professor deixasse a sala. Assim que Severo abriu a porta do âmbito, chocou-se com Ártemis Figg.

         - Dumbledore, é urgente! – gritou a mestra num tom nervoso.

Severo trocou um olhar com o diretor, que acenou positivamente, indicando que poderia ir embora e seguir para o castelo onde Voldemort estava escondido. Snape deu meia-volta e encarou por um segundo Ártemis. Seus olhos violeta estavam trêmulos e carregava uma expressão preocupada. Intrigante, já que Ártemis dificilmente mostrava alguma reação.

         - Deve ser algo realmente sério – sussurrou Snape a ela. – Demonstrar emoções não é seu forte, Figg.

         Provavelmente, se fosse em outra ocasião, Ártemis teria esnobado Severo, entretanto, não foi esta atitude que a mestra tomou. Abrindo o casaco bruscamente, Ártemis retirou um pergaminho ligeiramente ensopado. E, em seguida, andou rapidamente até a mesa do diretor, jogando-a furiosamente sobre ela. Dumbledore encarou o pergaminho e depois Ártemis.

         - Você tem idéia de quem é esta carta? – vociferou nervosamente. – Minha mãe!

***

Sombrio e arrepiante. Severo Snape andava rapidamente pelo vilarejo, em busca da residência onde Voldemort estaria localizado. Numa madrugada fria e gélida como aquela, as vestimentas de Snape levantavam com freqüência, deixando suas pernas protegidas apenas por uma fina calça, igualmente negra. O vento era forte, assim como a certa apreensão que o deixava mais agitado do que normalmente. Por que haveria uma reunião no meio de uma madrugada fria, num vilarejo soturno e estranho como aquele?

         O nome do lugar era tão bizarro que Snape sequer sabia pronunciar. A única coisa que tinha conhecimento era a localização. O vilarejo ficava entre Southampton e Portsmouth, ao sul da Ilha da Grã-Bretanha. Havia algumas casas – Snape achou que pareciam mais com cabanas ou barracos – que rodeavam uma única rua, de terra batida e escura. Alguns becos mais escuros e misteriosos ainda dividiam as casas em grupos de cinco por cada bloco. O professor de Poções procurava insistentemente o número dado a ele, noventa e três, mas não encontrava de forma alguma. Resolveu entrar num dos becos e encontrou aquilo que as casas encobriam. Havia ali, após o vilarejo, o famoso Canal da Mancha. Snape aproximou-se da beira, perto de grandes rochas negras. Subiu em uma delas e respirou fundo. Será que aquela guerra que se iniciara há tanto tempo terminaria finalmente? Será que Voldemort teria seu fim merecido? Será que, um dia, Ametista ou Hariel poderiam perdoá-lo por tudo que causara a ambas?

         - Pensando na culpa, Snape?

         Severo não se virou para trás, apenas permaneceu olhando o mar. Um corrente de ar forte levantou seu casaco novamente.

         - Culpa, Adams? Pensei que você vivesse remoendo os erros do passado.

         David parou ao lado de Severo. Encarou Snape, pelo canto do olho. Os cabelos escuros e compridos do bruxo estavam rebeldes, voando de acordo com a corrente de ar.

         - Não sou estúpido a este ponto, Snape – respondeu Adams, cheio de orgulho. – Eu, pelo menos, assumo minha verdadeira vocação.

         - Ser capacho de quem desta vez? – provocou Severo seriamente. – Ainda não sei como entrou para a Trindade. Para ser um Comensal, você tem que ter autonomia e não seguir exatamente os passos ordenados pelo seu Mestre.

         - Quebrar regras é uma das virtudes dos sonserinos, e não dos corvinais, Snape. – disse Adams. – Você tem um ano a menos que eu e parece centenas de anos mais idiota, apesar de tanta experiência. Eu pertenço a Trindade porque mereci.

         Snape segurou uma risada sarcástica e observou Adams.

         - Sei que se arrepende de deixar a Figg para trás, está escrito nos seus olhos – provocou mais uma vez Severo. – É uma pena que o Black tenha vencido esta.

         David retirou a varinha de dentro de sua veste negra e apontou para o mar.

         - Acho que devíamos dar um fim no Black – disse o Comensal repentinamente. – Ele acabou com nossas vidas. – e em seguida, soltou uma risada alta e prazerosa.

         Gritando um feitiço, Severo viu Adams emergir do mar um barco velho e desgastado. Parecia que teriam de usá-lo.  

         - Por que não aparatar, Adams? – indagou Snape enjoado.

         - A ilha é protegida por um campo magnético, Snape – disse David, flutuando até o barco, acompanhado de Snape, com uma bela cara descontente. – Ninguém pode aparatar. E ninguém pode entrar sem ter sido autorizado.

         - Para que tanto segredo? – perguntou o bruxo bufando nervosamente.

         David encarou Snape como se estivesse falando com uma porta.

         - Imagino que os queridinhos do Dumbledore queiram correr atrás do pescoço de Voldemort, ainda mais depois que ele tentou dar um susto na herdeira.

         - Você quer dizer, matar a herdeira. – corrigiu Snape aborrecido.

         - Snape, não seja burro! – repreendeu Adams. – Todos nós sabemos que o Lorde não quer matar a garota. A morte de sua herdeira seria um desastre para os planos do Mestre.

         O homem encarou Adams por um segundo, desconfiado. Então, por que Voldemort atacara Ametista na noite em Hogsmeade? Não haveria motivos para o Lorde esconder um plano como aquele.

         Assim que ambos pousaram sobre o barco, David tocou a madeira e o transporte começou a mover-se sozinho. Snape olhou em volta, curioso. Enquanto deixavam para trás o estranho vilarejo, Severo observava à sua volta. Então, o número noventa e três deveria ser algum tipo de ilha, no meio do Canal da Mancha? Cada vez mais se afastavam das rochas que envolviam o vilarejo, e a noite os envolvia numa fria brisa. Snape tornou-se para David novamente.

         - Que aconteceu para uma reunião tão repentina, Adams?

         O Comensal ao seu lado pigarreou.

         - O Mestre anda muito irritado desde que o seu plano de persuadir a herdeira não deu muito certo – explicava David. – E me parece também que alguns Comensais não têm cumprido com suas obrigações. Então, ele decidiu comunicar e reunir todos, para dar um fim nas brincadeirinhas...

         - Você acha que, finalmente, ele nos contará o seu verdadeiro propósito? – indagou Snape sem demonstrar qualquer tipo de excitação.

         - Para mim, estamos muito enganados em achar que o Mestre ainda está arquitetando seu plano – respondeu suspirando. – Ele passou um ano quieto, sem mover um músculo, mesmo após ter recuperado um corpo. Acho que está preparando algo muito sério. Grande, eu diria. E muito perigoso.

         Severo continuou sem mostrar reação alguma. Seguiu-se a viagem então, ambos em silêncio. Já não se via mais terra, apenas água escura. O céu estava nublado e parecia que ainda estavam longe da parada. Snape ajeitou o casaco negro e enrolou-se, procurando gravar cada centímetro do caminho. Talvez, mais tarde, Dumbledore quisesse correr atrás de Voldemort. E para isso, alguém deveria estar ciente do local onde o Lorde das Trevas estava escondido.

         Quase uma hora depois, David paralisou o barco, levantando calmamente para não perder o equilíbrio. Snape observou-o e em seguida, fez o mesmo.

         - Pegue sua varinha. – ordenou David para Snape, que o fez.

         Adams apontou a varinha para o nada e gritou:

         - Morsmordre!

         Snape franziu a testa, assim que notou o feitiço. Encarando o fio esverdeado que corria para longe da varinha de Adams, Severo assistiu-o conjurar um gigantesco crânio composto por estrelas de esmeralda, onde de sua boca saía uma cobra, formando a língua: a Marca Negra.

         - Vamos, Snape! – disse David. – Conjure de uma vez a Marca Negra! Só assim poderemos ter passagem!

         O professor de Poções apontou a varinha para o céu e imitou os movimentos de David. Precisamente assim que a sua Marca Negra formou-se na escuridão da noite, a tatuagem de crânio em seu antebraço esquerdo ferveu intensamente. Procurando prosseguir friamente, Snape encarou Adams.

         - E agora?

         - Agora é só esperar... – respondeu David.

         Porém, não tiveram de esperar muito tempo. Logo, uma cortina apareceu diante do barco em que estavam em pé. Era como se fosse um portal. Uma cortina esverdeada se abriu diante deles, agitando-se como se estivesse em meio a uma ventania. Adams abaixou-se, sentando novamente no barco e tocou a madeira mais uma vez. O meio de transporte começou a mover-se para dentro da cortina esverdeada. E então, Snape pôde ver onde estavam. De fato, aquilo era uma espécie portal ou ainda uma proteção contra invasões. E a Marca Negra deveria ser o ingresso para a entrada.

         Era uma pequena ilha. Cercada de inúmeras árvores altas que se moviam conforme a brisa fria da madrugada, o monte de terra no meio do nada parecia aterrorizante. Assim que o barco ultrapassou o portal, a primeira mudança fora a água. Certamente, não estavam mais navegando no mar. Deveria ser algum pântano ou coisa parecida. A água era transparente, mas incrivelmente suja. Snape inclinou-se ligeiramente para ter uma visão sobre o quê estavam flutuando e impressionou-se. Haviam inúmeros corpos submersos, naquela água imunda. Snape encarava-os com enorme incredulidade. Onde eles estavam afinal?

         Tornando-se para David, sem esconder a impressão horrorosa do lugar, pensou em indagar onde estavam. Entretanto, o Comensal disse, interrompendo seus pensamentos:

         - Prisioneiros.

         Fechando a boca que estava até então aberta, demonstrando sua descrença, Snape olhou novamente para o lago e notou que havia um rosto doloroso no meio de tantos corpos. Era de uma criança, cinco ou seis anos, que tinha os olhos amarelados e arregalados. Sua boca estava bem aberta, como se quisesse gritar com toda a sua força. Severo fechou os olhos e desviou bruscamente o olhar para a ilha à frente. Talvez, nunca tivera tido consciência da tamanha desgraça que Voldemort e seus seguidores haviam espalhado em tão pouco tempo. Foram anos do Império do Terror, que nunca voltarão.

         Após meia hora navegando lentamente sobre as águas cheias de corpos submersos, David paralisou o barco ao lado de um píer que ligava o mar a ilha. Deixando o barco para trás, que sumira logo em seguida, o Comensal tornou-se para Snape.

         - Não faça nada estúpido, Snape.

         Severo franziu a testa, espantado com a advertência de David.

         - Do que você está falando, Adams?

         David nada lhe respondeu e prosseguiu com o caminho. Após atravessarem as placas de madeira que constituíam o píer, pisando duramente sobre a terra batida e em seguida, um caminho de pedras. Uma escadaria enorme se seguia à frente, com mais de quinhentos degraus. Snape bufou impaciente. David encarou-o nervoso e indicou com a cabeça que deveriam começar a subir. Num modo acelerado, ambos procuraram tornar os degraus cada vez menos cansativos, e Snape ofegava com certa freqüência. Chegando no ducentésimo degrau, aproximadamente, o bruxo parou e apoiou-se sobre os joelhos, curvando o corpo para frente. David continuou, sem notar a paralisação de Snape. O professor respirava fundo e tentava normalizar a freqüência das inspirações e expirações. Assim que levantou o corpo para avançar, notou um barulho estranho. Parecia um farfalhar.

         Correndo os olhos escuros entre as árvores que rodeavam a escadaria de pedras, Snape conseguiu distinguir inúmeros pontos brilhantes na escuridão das folhas. Atento, percebeu que alguns deles moviam-se na sua direção. Atendendo ao seu instinto de Comensal e bruxo, sacou a varinha e apontou para o mais rápido deles. Fora um terrível engano.

         Poucos segundos depois, uma comprida sombra tomou conta do espaço entre dez degraus e Snape virou para trás, encontrando absolutamente nada. Olhou para cima e também nada estava lá. No entanto, ao tornar-se novamente para frente, encontrou algo surpreendente. Um gigante. Levantando a cabeça para encontrar o topo do ser, as dúvidas de Snape voaram para longe. Aquilo não era um gigante. Era um ser muito mais maligno e perigoso do que um simples gigante. A única diferença, na verdade, entre aquele ser e um gigante, era o rosto. Naquela criatura que encobria Snape, seu rosto era assustador. Não havia nada, apenas por um único olho, concentrado no meio da cabeça. Um olho brilhante, branco e vermelho, que encarava Snape furiosa e ferozmente. O professor de Poções tentou segurar a respiração. Sabia muito bem o que aqueles seres eram capazes. Descendo um degrau, apontou a varinha para o ser. A criatura pareceu notar e, diante disso, soltou uma espécie de grito ensurdecedor. Snape não sabia muito bem de onde saiu aquele berro, já que o ser não possuía boca, mas era temível. Largando a varinha no chão e postando suas mãos em seus ouvidos, Snape tentou proteger-se futilmente, sem sucesso. A criatura já estava descendo o degrau onde Severo estava há poucos segundos e estendendo as mãos sobre o bruxo.

         Contudo, assim que Snape sentiu as mãos frias do ser tocarem suas costas, uma luz forte surgiu e fez com que a criatura calasse o grito que ainda soltava. No momento seguinte, a criatura já havia sumido, não havia mais nenhuma sombra cobrindo-o e Snape sentiu-se aliviado. Encarando seu salvador, ouviu:

         - Eu disse para você não fazer nada estúpido, Snape – avisou David arrogante. – Da próxima vez, confie em seus companheiros.

***

Ao chegarem no topo da escadaria, Snape olhou para trás e notou como era alto o lugar onde haviam alcançado. Ainda havia muitos pontos brilhantes no meio da mata fechada, piscando rapidamente. Severo suspirou cansado e voltou-se para David.

         - Uma ilha infestada de ciclopes – disse ele para o Comensal. – Que idéia foi essa?

         - Esta é a Ilha dos Ciclopes, Snape. – respondeu David calmamente.

         Snape encarou David com surpresa.

         - A Ilha dos Ciclopes? – espantou-se Severo. – Mas eu pensei que era apenas uma lenda!

         Havia uma grande porta diante deles, após atravessarem um jardim com raízes das árvores que ultrapassavam o solo, uma vegetação rasteira e pobre. Era como um palácio, com altas torres, e um tom fantasmagórico. O céu escuro dava alusão de um lugar triste e cheio de infelicidade.

         - Eu também pensava – concordou David, caminhando de um lado ao outro, esperando que a grande porta fosse aberta. – Afinal, ciclopes sempre foram criaturas citadas em contos, mas nunca ninguém havia, de fato, visto algum por todo o mundo. Ou pelo menos, não esteve vivo para poder contar.

         Snape voltou-se para trás, vendo a imensidão de água escura que rodeava a ilha.

         - Então aquele deve ser o Pântano dos Lamentos, certo? – perguntou, apontando para a enorme quantidade de água suja. – Os corpos assassinados pelos ciclopes, aprisionados debaixo da água.

         - Na verdade, eu diria que são almas perdidas, já que os corpos geralmente são devorados por eles – opinou David seriamente. – E a água escura é um divisor de mundos. Ali, os ciclopes aprisionaram suas vítimas, como se fossem prêmios que quisessem exibir para aqueles que chegam na ilha não mexerem com eles.

         O Comensal suspirou e encarou Snape.

         - Por que Voldemort está escondido aqui? – perguntou Severo curioso.

         - É como você disse, e eu concordei, Snape. Todos acham que a Ilha dos Ciclopes é apenas uma lenda para assustar pessoas, crianças ou adultos – disse David. – Acho que o Mestre pensou que seria melhor esconder-se aqui, ninguém viria atrás, e até mesmo porque ninguém consegue achá-la...

         - Estamos mesmo no meio do Pacífico? – surpreendeu-se Severo boquiaberto.

         - Pode acreditar que sim – respondeu David. – Voldemort está escondido aqui desde julho. Parece que seu domínio sobre as criaturas malignas está começando a voltar – Adams pareceu tremer ligeiramente. – A Trindade acompanhou-o quando Voldemort quis fazer o acordo com os ciclopes. E, aqui entre nós, nós três gostamos nem um pouco deles.

         David havia tocado num ponto interessante para Snape. A Trindade das Sombras. O terceiro componente.

         - Adams – chamou Snape, fazendo David voltar-se a ele. – Quando vocês três darão as caras para os Comensais, afinal?

         O Comensal apertou os olhos verdes sobre Severo e deu um sorriso com os lábios fechados.

         - Isto não é uma ordem nossa, Snape – falou Adams num tom superior. – Quem decide isso é o Mestre, e não nós...

         - E o terceiro componente? – perguntou Snape, interrompendo David.

         - Não tenho permissão para revelar sua identidade – disse David gravemente. – Não tenho muita certeza também de quem ele é.

         Snape achou muito estranha a dúvida de Adams, mas não conseguiu prosseguir com a conversa, já que a enorme porta do palácio abriu-se no mesmo instante. Ao lado de cada uma das partes da porta, havia dois guardiões encapuzados, soltando faíscas a quem chegasse pouco mais perto deles. Eram tão altos quanto os ciclopes – que eram como gigantes. David lançou um olhar a Snape, para que o seguisse. O mestre de Hogwarts atravessou junto de David cerca de quatro grandes salões, escuros e misteriosos, como o resto da ilha. Decorando cada lance de portas deixadas para trás, Snape parou junto de David assim que o Comensal da Morte indicou um grande salão, de piso de pedras e janelas compridas, cobertas por cortinas negras. Apenas uma imponente cadeira – que mais parecia um trono – reservada ao Mestre. Snape engoliu em seco e manteve a calma assim que encarou realmente os olhos vermelhos e perigosos do Lorde Voldemort.

         Sentado em sua cadeira, de espaldar largo e alto, Voldemort ameaçou um sorriso de satisfação ao notar Severo Snape presente em sua reunião. Nagini estava caída no chão, rastejando de uma ponta a outra da cadeira, envolvendo numa espécie de barreira o lugar onde estava localizado seu dono. A cobra sibilou furiosamente assim que David aproximou-se de Voldemort.

         - Todos estão reunidos, Mestre. – avisou o Comensal, curvando-se diante do Lorde.

         O bruxo com a aparência cadavérica levantou-se com certa dificuldade da cadeira e sorriu. Em seguida, bateu palmas e esticou os braços. Seis portas rodeavam o salão, e com o seu comando, foram abertas, fazendo com que os outros Comensais da Morte invadissem o âmbito. Dando alguns passos à frente, Voldemort parecia bastante cansado, mais do que a última vez em que se encontrara com Snape. Três Comensais colocaram-se ao lado do Lorde das Trevas. Snape reconheceu dois deles: David Adams – que o levara até lá – e Lúcio Malfoy. Como sempre, trocaram um olhar breve de ódio. Contudo, o terceiro bruxo ao lado de Voldemort estava encapuzado assim como os guardiões da porta de entrada, e seu rosto não podia ser visto. Snape sentiu uma estranha energia vinda dele. Era a Trindade das Sombras, os três melhores Comensais da Morte, guardiões especiais de Voldemort.

         O Lorde posicionou-se mais à frente de seus três guardiões e observou cada um de seus Comensais. Depois disso, começou:

         - Convoquei esta reunião de emergência porque há um assunto que deve ser tratado – disse o Lorde, com a voz grave e rouca. – Esta é a hora que todos esperávamos.

         Os Comensais olharam-se temerosos. Voldemort sorriu diante da insegurança de seus seguidores.

         - Como todos sabem, realizei um Pacto de Sangue há dezesseis anos atrás – falava Voldemort, com um certo orgulho. – E me transformei, durante vinte e quatro horas, em um dos meus inimigos. E construí meu plano.

         Voldemort acenou com a cabeça para Rabicho colocar-se no meio da roda. O Comensal gorducho estava carregando, com a ajuda da sua mão prateada, algo comprido, enrolado num lençol ou coisa parecida, de coloração esverdeada. Rabicho postou o objeto no meio da roda formada pelos Comensais.

         - Há mais de dezesseis anos, eu esperei para que o sangue da minha única herdeira estivesse pronto para um ritual de grandiosidade e magnitude – prosseguia Voldemort. – O livro de meu antepassado, Salazar Slytherin, chamado Turbatio Sanguinis, permitiu que eu, Lorde Voldemort, me transformasse em Sirius Black e pudesse dar origem ao herdeiro perfeito para o ritual – Snape sentiu um enorme remorso ao ouvir as palavras do Mestre. – Eu fui capaz de deitar-me com a única filha de Alvo Dumbledore, e dar à vida uma criança com os sangues de Salazar Slytherin e Godric Gryffindor.

         Snape arregalou os olhos, imaginando o plano de Voldemort. Seria exterminador. Um dos Comensais pediu licença para o Lorde e perguntou:

         - Mas, Mestre, Harry Potter já não possui o sangue de Gryffindor? Como é possível que Dumbledore também o possua?

         Não fora o mestre que respondera, e sim o terceiro componente da Trindade, que sequer mostrou o rosto assim que explicava:

         - Falta-lhe sabedoria, Nott – zombou o Comensal misterioso. – Há mais de cem anos, a família Potter e Dumbledore fora apenas uma – Snape, que não sabia disso, ficou extremamente curioso. – Originada a partir de uma briga, a família Dumbledore sempre carregou, assim como a Potter, o sangue de Gryffindor. Na verdade, uma Potter deu origem a gêmeos, dois garotos, que tiveram de ser separados. O garoto que ficara com a família seguiu a dinastia dos Potter, e o outro ganhara um novo nome, com uma outra família, denominada Dumbledore. E, hoje em dia, com as inúmeras misturas de sangue realizadas nos casamentos, não são consideradas mais uma única família, porém ainda assim, são ligados pelo poder de Godric Gryffindor.

         Os Comensais entreolharam-se impressionados. Voldemort, com um certo sorriso de prazer, voltou a falar:

         - Agora, Ametista está pronta receber seu verdadeiro poder – disse Voldemort, frisando o nome da filha. – E depois devolvê-lo para mim.

         Snape paralisou por um momento. Como assim? Voldemort pretendia depositar todo seu poder em Ametista e depois sugá-lo para si?

         - Mas a garota não obedeceu ao senhor. – afirmou Snape, interrompendo o momento de prazer de Voldemort.

         O Lorde postou os olhos vermelhos fixamente em Severo e mostrou-se preocupado com a afirmação do seu Comensal da Morte.

         - Sim, isto é verdade e um problema – concordou Voldemort, parecendo debochado. – Acho que terei de usar meu poder de persuasão.

         - Mas, Mestre! – chamou Rabicho, ainda agachado sobre o objeto misterioso. – Usar os dons de Slytherin podem enfraquecê-lo!

         - Eu tenho outras maneiras de convencer a minha herdeira a ficar do meu lado e obedecer-me – disse Voldemort, ligeiramente irritado com a interrupção de Rabicho. – Sei que posso convencê-la.

         Lúcio Malfoy deu um passo a frente, perguntando ao Lorde:

         - E qual é esse plano, meu Mestre? Este ritual de que tanto fala?

         Voldemort tornou-se para Lúcio e pareceu mais aborrecido ainda.

         - Não lhe interessa ainda, Malfoy! – ralhou o Lorde. – A nenhum de vocês! – frisou o bruxo, espalhando o fedor de sua boca pelo salão. – Chamei vocês aqui hoje para comunicar-lhes que nosso grande dia está chegando e que logo poderemos comandar esse mundo ridículo. E esta é a hora precisa para reunir todas as criaturas malignas que estão e estavam do nosso lado, para novamente retomar o Império do Terror.

         - E o Ministério da Magia, Mestre? – indagou Adams.

         Mais uma vez, não fora Voldemort, e sim o terceiro componente da Trindade que respondera ao Comensal:

         - Cornélio Fudge está ocupado demais encobrindo os nossos crimes para não perder credibilidade e a posição de Ministro da Magia. Não precisamos, pelo menos por enquanto, nos preocupar com o Ministério – dizia o Comensal, que parecia deter bastante confiança de Voldemort. – A não ser pelos que ajudam Dumbledore e sua trupe, infiltrados no Ministério, mas que também estão sendo perseguidos pelos próprios colegas.

         Seguidamente, o bruxo ordenou que Rabicho retirasse o lençol ou pano esverdeado que envolvia o objeto comprido largado no meio da roda composta pelos seguidores do Lorde. O Comensal assim o fez, e todos puderam ver o famoso e poderoso cajado de Salazar Slytherin. Feito de prata, possuía uma estrela de cristal – que na verdade, sem ninguém ter conhecimento, era diamante – em sua ponta que refletia a luz jogada sobre ela. No final do cajado, o cano enrolava-se como o corpo de uma cobra. Uma verdadeira obra prima de tão belo, mas também extremamente perigoso.

         - Este é o Cajado de Slytherin – disse Voldemort, admirando o objeto. – Cada um dos quatro grandes de Hogwarts possuía uma arma. Slytherin possuía este cajado – o Lorde esticou sua mão sobre o cajado e ele subiu lentamente, envolvido por uma nuvem esverdeada, até alcançar sua mão. – Hufflepuff um arco e uma flecha, Ravenclaw um escudo, e Gryffindor uma espada.

         Os Comensais permaneciam escutando o Lorde das Trevas com atenção total, porém Snape estava recordando que este cajado estava localizado em Hogwarts, na velha Sala Amaldiçoada. Como alguém poderia ter tirado ele de lá?

         - Eu tenho duas missões para vocês, meus Comensais – aumentou a voz Voldemort. – Dividirei cada um de vocês em dois grupos. O grupo um será responsável pela reunião de todos os nossos adoradores e seguidores para ajudar no plano de destruição. O segundo grupo deverá ter uma missão mais importante – Snape acabara de ser escolhido para o segundo grupo, junto de Rabicho, Nott, Avery e os três componentes da Trindade das Sombras, David Adams, Lúcio Malfoy e o outro misterioso. – Vocês deverão encontrar os quatro herdeiros de Hogwarts e impedir que eles cheguem perto das armas dos quatro grandes e seus respectivos antepassados.

         - Mas, por que... – ameaçou perguntou Avery e Voldemort já estava respondendo.

         - Porque eu precisarei deles e, enquanto não chegarem perto das armas, o poder adormecido neles não renascerá – justificou Voldemort, ficando aborrecido novamente com tantas perguntas. – E este será um problema a menos para pensar...

         - Mas o Potter já tocou na espada de Gryffindor e nada de extraordinário acontecera a ele. – lembrou Rabicho, temeroso.

         Voldemort encostou a ponta do cajado em Rabicho e o bruxo contorceu-se de dor. Uma espécie de aura negra saiu do corpo de Rabicho e depositou-se na estrela de diamante do cajado de Slytherin. A estrela de seis pontas estava, agora, negra.

         - Se você não calar o bico, Rabicho, eu sugarei mais energia sua até que não consiga se mover e morra paralisado, que acha? – ameaçou Voldemort, concentrando seus olhos tão vermelhos e temíveis no seu Comensal. – Potter não recebera o poder de Gryffindor quando tocou na espada porque seu sangue e seu corpo não estavam preparados para receber uma quantidade tão grandiosa e especial de poder. Porém, agora, todos estarão prontos. E não podemos errar!

         Os Comensais abaixaram-se diante do grito do Lorde e calaram-se, concordando e jurando fidelidade ao mestre. Voldemort finalizou:

         - A Ilha dos Ciclopes está protegida vinte e quatro horas por dia e eu ficarei aqui até que tudo esteja pronto. Os ciclopes irão ficar de olho em tudo. E logo, poderemos uni-los, finalmente, com os dementadores – os Comensais entreolharam-se mais uma vez ao ouvir sobre os dementadores. – Em pouco tempo, estarão deixando Azkaban e libertando nossos seguidores, assim como juntando sua força a nós.

         David Adams permitiu-se levantar a cabeça e indagar ao Lorde:

         - Mas, Mestre, e se Dumbledore resolver convocar os Cavaleiros?

         Todos os Comensais mostraram-se assustados diante de uma idéia como essa. Um burburinho entre eles se iniciou e demorou a acabar, todos temerosos e apavorados com uma notícia dessa. Como Dumbledore poderia envolver os Cavaleiros numa disputa como essa?

         Voldemort trazia um sorriso determinado, mostrando seus dentes apodrecidos.

         - Eu sempre estarei preparado para tudo, meus Comensais – disse Voldemort, cheio de orgulho. – Até mesmo para uma visita de deuses.

NO PRÓXIMO CAPÍTULO: Ártemis mostra a Dumbledore uma carta importante de sua mãe contando as novidades e loucuras no Ministério da Magia. E agora, ela ganha uma missão: juntar jovens para criar uma sociedade que saiba combater Voldemort e seus seguidores. Porém, será que há tantos alunos extraordinários assim? Escolha seu preferido em "OITO FUTUROS APRENDIZES"