N/A: Esta songfic foi inspirada num dos capítulos da FanFic Harry Potter e o Olho da Escuridão, e recomenda-se que seja lida antes desta (cap. 21 – Presentes Inesquecíveis). A música em questão é do grupo Creed, de seu cd Weathered, chamada Lullaby.
Sinopse: Nada como recordar para aprender. No dormitório onde viveu um casal feliz, os Sr. e Sra. Black, sentam-se após quinze anos, o pai e a filha, para lembrarem o passado de plenitude.
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Capítulo Especial - LullabySaindo de seu dormitório, suspirou levemente. Olhou para trás somente mais uma vez e franziu a testa. Havia algo de errado com Arabella, mas se ela não queria falar, tudo bem. Respirando fundo, e ainda virado para trás, notou o último quarto daquele imenso corredor. O seu antigo dormitório. Seu e de Hariel. Por um segundo, pensou que seria besteira entrar ali novamente, como fizera em julho, mas talvez houvesse ainda alguma coisa que ele deveria pegar ou apenas contemplar naquele local onde tanto amor foi transmitido dele para ela e vice-versa. Caminhando calmo, contando cada passo, apertou a maçaneta e girou-a com firmeza. E aquele costumeiro mal-estar atingiu-o assim que abriu os olhos completamente.
As paredes eram claras e o dormitório tinha uma grande janela. No centro havia uma cama de casal, com quatro pilares que sustentavam um dossel. Ao lado da cama, duas cadeiras e a espreguiçadeira que Sirius sempre fora apaixonado. O perfume ainda era o mesmo de meses e anos atrás, tão suave e inebriante quanto antes. E as lembranças vinham como furacões dentro da cabeça dele. Os fios alourados que dançavam sobre seu colo e ombros nus, a pele tão macia e quase pálida, os braços que o envolviam com tanto carinho, os cílios que rodeavam seus olhos tão azuis, que incendiavam cada nova passagem deles. Não era apenas uma questão de fazer amor com Hariel. Fora naquele quarto que ele ficara sabendo que ela estava grávida. Naquele mesmo espaço que chorara tão intensamente a morte de seu irmão. Dentro daquelas paredes ouviu a verdade. E entre aquelas palavras, a declaração da mulher de sua vida, dizendo que o amava e o amaria por todo o sempre, mesmo que o destino deles não fosse a eternidade juntos.
Diante dessas memórias, Sirius vagou pelo quarto, indo e vindo, sem rumo algum. Quando estava quase o deixando para trás, pisou em alguma coisa mole. Retirando o pé e rezando para que não fosse algum rato morto ou coisa assim, viu quando duas perninhas de pano estavam para fora da cobertura dos lençóis da grande cama. Abaixando-se, encontrou a bonitinha e desgastada bonequinha de pano, que um dia pertencera a Ametista. Os fios de seu cabelo eram de lã vermelha e usava um vestidinho amarelinho por cima da pele quase bege da boneca, imitando sua pele. Duas pedrinhas bem verdes constituíam seus olhos e sua boca tinha lábios bem avermelhados. Por final, uma sandália branca completava sua veste. A região de seu rosto estava bastante suja, mas ainda mantinha uma certa doçura.
Assim que Sirius dirigiu-se para fora do quarto, com a boneca de pano na mão, encontrou Ametista encostada no batente da porta, observando-o.
- Que você está fazendo aqui? – perguntou ele calmamente.
Os olhos escuros de Ametista correram pelo dormitório rapidamente.
- Eu estava procurando por você – respondeu, apertando os dedos. – Eu lembro desse quarto – Sirius nada disse. – Era seu e da mamãe, não era?
- Era – respondeu velozmente. – Era sim.
Então, os olhos de Ametista projetaram-se para as mãos de Sirius. Apertando-os, notou a boneca no meio dos dedos dele. A bonequinha media pouco mais de trinta centímetros e parecia meio mole e velha. Além de fazer um barulho estranho quando Sirius a moveu de uma mão a outra.
- Você se lembra dela? – perguntou ele.
Ametista continuou calada, apenas observando a boneca. Ela lhe lembrava alguém imensamente. Sua mente estava procurando pela imagem da pessoa. Fazendo muito esforço, assistiu Sirius sentar pesadamente na cama. Ele mexia nos fios de lã que constituíam o cabelo da boneca, e fungava o nariz de vez em quando. Ametista sentou ao lado dele.
- Foi sua madrinha que lhe deu isto. – disse Sirius, entregando a boneca nas mãos de Ametista.
Um sorriso brincou nos lábios da garota enquanto tocava a bonequinha suja. Aqueles olhinhos verdes não escondiam a origem do objeto.
- Lily – disse Ametista. – Esse foi o nome que eu dei pra ela. Em homenagem a Tia Lílian – Sirius riu ao ouvir Ametista referir-se à madrinha como tia. – Eu lembro que não conseguia falar o nome dela, então ou eu a chamava de tia ou de Lily. E aí ficou esse nome na boneca mesmo.
- Lílian não tinha idéia do que dar para você no seu primeiro aniversário, um mês de vida – recordava Sirius encarando os pilares da cama, as paredes do quarto. – Ela estava grávida de Harry e ele nasceria dali quase três meses. Só que ela não sabia se seu filho seria um menino ou uma menina. Com isso, ela foi desde o começo da gravidez fazendo essa bonequinha para caso fosse uma menininha, assim como você – dizia Sirius num tom saudoso. – Mas quando chegou seu aniversário, Lílian decidiu dar a boneca, que era uma réplica dela, para você.
A bonequinha caiu das mãos de Ametista e ela a pegou de volta do chão. Assim que voltou, encontrou os olhos de Sirius e deixou que ele notasse. Havia lágrimas caindo de seus olhos.
Hush my love now don't you cry
Everything will be all right
Sirius pegou uma das mãos de Ametista e apertou-a nas suas. Ametista abaixou o olhar. Ele tentou observá-la, seus olhos correndo pelo rosto escondido dela. Repentinamente, ela soltou um soluço e, ainda com a cabeça abaixada, disse:
- Por que eu sinto que nós éramos tão felizes?
Guiando um de seus dedos até o queixo de Ametista, Sirius levantou seu rosto e a fez encará-lo. Suas bochechas trilhavam as lágrimas que caíam relutantes de seus olhos tão idênticos aos dele.
- Simplesmente porque nós éramos, Ametista – respondeu o homem com emoção. – Eu e sua mãe nos amávamos demais e também nos sentimos realizados quando tivemos você. Era como se algo estivesse faltando e você preenchesse essa lacuna.
Um silêncio caiu entre eles. Ametista estava perplexa. Estar naquele quarto, ao lado de Sirius, junto do perfume tão presente de sua mãe, era algo fora da realidade. Se estivesse ouvindo uma leve canção de fênix também não seria surpresa, mostrando o tamanho de sua felicidade. Por um segundo, desejou voltar no tempo e reviver cada minuto junto daqueles que ela aprendera a amar, ou que puramente nasceu já amando, mesmo que inconscientemente. Era como se estivesse velejando, mesmo que nunca tivesse velejado na vida e não soubesse qual a sensação de estar sobre o mar, sentindo o balanço das ondas e o forte vento contra sua face, agitando seus cabelos. A sensação de liberdade.
- Conte tudo – pediu ela de repente para Sirius. – Conte tudo, pai.
Sorrindo levemente, sentindo que aquele lugar era perfeito, Sirius sentiu-se pela primeira vez pronto para contar tudo para Ametista. Assim, ele encostou as costas contra um dos pilares da ponta da cama e deixou que Ametista deitasse na cama e apoiasse a cabeça em suas pernas, encarando-o. Em seguida, ele encostou os dedos sobre os olhos de Ametista e fechou as pálpebras da garota, assim como fizera quando ela estava morta. Seria melhor se ela pudesse visualizar sua felicidade.
Close your eyes and drift in dream
Rest in peaceful sleep
- Eu conheci Hariel na cabine do expresso – começou ele, com um sorriso no rosto. – Primeiro, nós havíamos trombado no corredor do trem e ela tinha jogado a mala pra dentro de uma das cabines. E foi como eu descobri que ela era a filha do diretor da Escola. Que sorte a minha, não acha? Já discutindo com o melhor partido de Hogwarts! – Ametista chacoalhou a cabeça apoiada nas pernas dele, rindo. – E ela ainda foi ficar amiga bem da menina que tinha me chamado atenção, uma moreninha de olhinhos bem escuros...
- Bella? – perguntou Ametista, com os olhos tremendo enquanto fechados.
- É. E essa situação durou quase três anos completos – suspirou Sirius. – De um lado eu, Tiago, Remo e Pedro. Do outro Bella, Hariel e Lílian. Era até que bastante divertido, sabe! Mas numa noite de lua cheia, a transformação de Remo não deu muito certo e ele atingiu Pedro. Eu e Tiago não sabíamos o que fazer, e então a Bella apareceu junto com a Lílian e nos ajudaram a levá-lo de volta a Torre da Grifinória. Naquela noite decidimos que não brigaríamos mais.
- Fácil assim? – resmungou Ametista rindo.
Sirius deixou escapar ar pelo nariz.
- Fácil? Você acha três longos anos fáceis de aturar uma situação como essa? – justificou Sirius. – Tudo correu bem, acabamos formando uma turma e tanto. Só que tinha um problema. Eu e sua mãe não nos dávamos nem um pouco bem. Na verdade, nós nos odiávamos.
- Esta estória está me parecendo muito familiar. – riu Ametista, recordando ela e Harry.
- Acho que a história acaba se repetindo. A situação então só piorou no quinto ano, quando nas férias de julho sua avó foi seqüestrada por Voldemort e meu pai e minha mãe decidiram ficar um tempo junto com o Dumbledore – lembrou Sirius. – A coisa ficou feia entre eu e Hariel. Foram dias terríveis aqueles. E nesse pé de guerra nós seguimos até pouco antes de Natal, quando descobrimos que a mãe de Hariel havia sido encontrada morta. Enrolada em espinhos e ensangüentada. Voldemort deixara-a sangrar até morrer.
Sirius notou quando Ametista engoliu em seco, desgostosa, recordando de quando sangrou há dois meses atrás, por causa de Voldemort.
- Quando sua avó foi descoberta, Hariel ficou desolada. Eu me lembro dela ter se trancado no quarto o dia todo, chorando sem parar, e ninguém sabia bem o quê fazer – Sirius soltou um suspiro. – Fui eu que resolvi dar meu apoio. Lógico que quando cheguei no quarto, ela quis me escorraçar dali o mais rápido possível, achando que eu iria debochar dela, mas eu só aproveitei que ela levantou da cama e a abracei – Sirius olhou para Ametista e ela estava sorrindo levemente, com os lábios fechados. – E foi a primeira vez que eu me senti arrepiado perto dela. E esse arrepio nunca me deixou.
- Pai, a estória do feitiço é verdade?
Um riso saiu dos lábios de Sirius.
- Claro que é, Ametista! – respondeu bem humorado. – Sua mãe quis me pregar uma peça. Fez exatamente aquela dança que você fez ano passado, e jogou o feitiço em mim, aquela espertinha!
- E o que aconteceu depois?
- Bastante óbvio, não acha? Eu fiquei achando que estava completamente maluco! Como eu poderia estar apaixonado pela Hariel Dumbledore?! Isso não tinha sentido algum para mim, filha! Era simplesmente loucura! E foi quando Lílian abriu o bico para Tiago, que acabou me contando em meio a gargalhadas, que eu fiquei sabendo de toda a verdade – Sirius fechou a cara. – Aí, na noite de Ano-Novo, que acabaria o feitiço, eu fui atrás dela para me vingar. Só que quando estava quase pronto pro meu plano, meu coração me pegou e eu acabei a beijando – Ametista bateu as duas mãos. – E foi um dos melhores beijos da minha vida. Foi o beijo que eu descobri o quanto eu amava Hariel mesmo sem saber. E eu te digo uma coisa, Ametista, é muito importante você dar amor, você distribuir amor para as pessoas. Foi isso que eu fiz, eu me dei a sua mãe.
If there's one thing I hope I showed you
Hope I showed you
Just give love to all
- Nós namoramos dois anos e alguns meses antes de termos uma terrível briga – continuou Sirius. – E eu fiz uma grande burrada no dia seguinte que quase acabou tudo entre nós. Mas eu resolvi ir atrás dela, eu precisava demais de sua mãe, Hariel era tudo que eu tinha.
- E o que aconteceu? Ela aceitou você de volta?
- Nós discutimos mais uma vez – sorriu o homem. – Mas naquela noite eu amei sua mãe mais que tudo, Ametista. E na noite seguinte, eu a pedi em casamento. Bom, aí você deve imaginar que ela disse sim, certo? – a jovem riu com os olhos apertados. – Nós nos casamos dali três meses, em setembro, no começo do outono. Eu ainda lembro, aqui nos jardins de Hogwarts, com um sol formidável de final de tarde. Sua mãe se atrasou cerca de quinze minutos, mas quando apareceu, estava magnífica! Todos os presentes ficavam repetindo que nunca haviam visto uma noiva tão bela antes. Ela estava com um vestido meio prateado meio azulado, com uns detalhes brilhantes que acompanhavam o andar dela. O cabelo loiro estava solto numa cascata de cachos, presos levemente com uma tiara. E o perfume de sândalo encheu a todos quando ela adentrou junto do seu avô. Aquele dia foi perfeito.
Sirius olhou para baixo e viu Ametista deixar mais lágrimas caírem.
- Eu sinto saudades dela – afirmou a garota num soluço discreto. – Eu ainda sinto o calor dela, como eu sentia o seu, mas não é a mesma coisa. Eu lembro do cabelo dela roçando no meu rosto e de quando ela me enchia com aquele perfume e me enfeitava só porque o Harry ia lá em casa.
- Você lembra de bastante coisa, hein!
- Na verdade, eu só estou lembrando agora depois de voltar do além – Ametista andava com bastante bom humor quando falava sobre a sua recente morte. – Muitas coisas voltaram a minha memória.
- Eu também sinto muita falta dela, Ametista – disse Sirius. – Eu descobri que todos nós podemos encontrar nossa verdadeira alma gêmea, sabe? Eles dizem que você descobre na primeira vez que cruza seu olhar com o da pessoa. E eu descobri que Hariel era a mulher da minha vida. E acabei perdendo-a.
Ametista saiu do colo de Sirius e encarou-o. Em seguida, notou que também havia algumas lágrimas nos olhos dele. Subitamente, ela jogou seu corpo contra o dele, abraçando-o com toda sua força.
- Eu sinto muito, pai. Eu queria que ela estivesse aqui conosco.
- Pelo menos eu ainda tenho você, meu amor. – respondeu Sirius respirando o perfume tão vívido de Ametista.
Oh my love...in my arms tight
Every day you give me life
- Você é a razão para eu ainda não ter desistido de tudo – disse Sirius no ouvida da filha. – Por isso eu prometo com a minha própria vida que farei de tudo para que Voldemort não chegue mais perto de você, que ele saiba que poderá fazer o que quiser, mas nunca conseguirá quebrar esse laço entre nós.
Ametista, com os olhos marejados e com os braços envolvendo Sirius fortemente, relembrou da noite com Harry na Bacia de Pandora. O jovem havia dito a ela que havia um vínculo entre ela e Sirius que não poderia ser rompido.
- Eu te amo, pai – repetiu Ametista mais uma vez, como quando voltara a vida. – Você é tudo que resta da minha verdadeira família e eu preciso estar com você para o resto da minha vida – Ametista soltou-se levemente do abraço do pai e encarou Sirius profundamente. – Nós iremos ultrapassar todos os problemas, vamos destruir todos os que estiverem contra nós, pai, nós vamos ficar unidos para sempre.
Sirius deixou-se chorar bastante. Ele sempre esperou por isso. Naqueles pequenos momentos, Ametista estava jurando que daria sua vida por ele, exatamente como ele daria a sua pela dela. Seus olhos estavam embaçados, mas ainda assim ele conseguia ver com clareza o tamanho da sinceridade nos olhos delas, nas palavras de Ametista.
- Sempre quis ouvir isso, filha. Sempre. – respondeu Sirius emocional.
- Mesmo à distância, pai, eu aprendi que você me protegeu durante todos esses anos, que você me observou mesmo de tão longe e que você não deixou de me amar nem por um momento de raiva.
As I drift off to your world
Will rest in peaceful sleep
Sorrindo em meio às lágrimas, Ametista puxou a manga de sua blusa até o cotovelo e mostrou a cicatriz em seu antebraço para Sirius. O homem puxou o braço para ele e o beijou lentamente. Ametista deixou que seu pai estendesse o próprio braço e mostrasse sua cicatriz a ela, dizendo:
- Isto prova que eu dou minha vida a você, filha. Eu dou tudo que eu tenho por você.
Sirius puxou Ametista para si e a abraçou novamente. A sensação de tê-la nos braços mais uma vez era maravilhosa. Era como sentir novamente os braços de Hariel o envolverem. Era ouvir mais uma vez o choro de um bebê que havia acabado de falar "papai". Era inebriar-se no caminho do amor. Era arrepiar-se com um suspiro perto de seu pescoço. Era poder sentir o perfume tão característico. Era falar consigo mesmo. Era beijar alguém que ama. Era sufocar-se no maior amor que ele já sentiu por alguém, o amor que sentia pela própria filha. Era algo além do calculável, do entendimento, do racional. Era notar que suas forças se recompunham com ela, e como elas poderiam sumir. Era facilmente perceber o enorme poder que ela tem sobre ele. O poder de amá-lo como um verdadeiro pai. E isto ele nunca esqueceria.
I know there's one thing that you showed me
That you showed me
O sol estava se pondo enquanto Sirius prosseguia no reconhecimento das faces da filha. Todos aqueles anos separados significaram um abismo entre eles, e agora, como pai, tinha a obrigação de fazer este abismo sumir. Respirando fundo, acalmou-se. Seu coração voltou ao ritmo normal aos poucos e afastou-se levemente de Ametista.
- Eu pensei muito nesse último mês, Ametista – disse ele seriamente. – Tomarei uma decisão, mas dependo de você para fazê-la.
A jovem encarou o pai num modo cheio de amor, esperando-o completar sua idéia.
- Quero que sejamos muito felizes juntos, seja com a sombra de Voldemort sobre nós ou não – Sirius permanecia ajuizado. – Por isso, gostaria de que nos tornássemos uma nova família.
Os olhos azuis de Ametista continuavam sobre ele, cheios de expectativa, já prevendo o desejo do pai.
- Ametista, que acha de eu pedir Arabella em casamento?
Levantando as sobrancelhas levemente, Ametista fechou os lábios e sorriu. Já havia imaginado isso há muitos meses, ainda quando soube da relação de Sirius com Arabella, que renascera nas férias. Envolvendo as mãos nas do pai, disse:
I know there's one thing that
you showed me
That you showed me
- Se existe uma coisa que você tenha me ensinado durante esses poucos meses em que estamos juntos novamente, esta é a idéia de amor e carinho. Se você ama a Bella, qual é o problema? Ela é uma boa pessoa, o importante é vocês estarem juntos, sendo felizes.
O olhar de Sirius ainda exprimia dúvida.
- Você acha que eu devo, então?
- Se minha opinião importa tanto assim – provocou, fazendo bico. – Acho que você deve fazer o quê quer, pai, não importando se é certo ou não. Se você quer pedi-la em casamento, então faça isso.
Just give love to all
Let's give love to all
Sirius, assim, ergueu-se da cama e encarou Ametista. A garota estava meio sentada, meio deitada, sobre aqueles lençóis de seda creme e com a expressão de sabedoria que somente ele vira uma pessoa possuir – Hariel. Provavelmente, pela primeira vez, Sirius tenha notado quanto Ametista era parecida com Hariel Dumbledore. O mesmo tipo de cabelo, as mesmas mãos pequenas e geladas, a boca em forma de coração, desenhada a dedo, a cintura esguia, as pernas curtas, mas torneadas, os seios proporcionais ao tamanho do corpo, o olhar de rispidez. Hariel estava esticada como um gato naquela cama, reencarnada na própria filha.
- Desde que voltamos daquele universo paralelo, daquele estado sem vida, eu apenas consigo agradecer – disse Sirius, o olhar direcionado a Ametista, imaginando Hariel. – Agradecer por você não ter meu sangue, mas me amar, independente disso. Agora, que você carrega parte dele, do sangue dos Black, cada vez mais vejo sua mãe, a graça da sua avó, a determinação de Thomas e a esperteza de meu pai. É como se você personificasse todos aqueles que já amei na vida.
Novamente, os olhos marejados, Ametista igualmente levantou-se da cama e colocou Lily entre suas mãos. Admirou a bonequinha por mais um momento, e em seguida, o pai.
- Talvez, tudo isso tenha acontecido por uma razão – divagou. – Talvez, apenas para mostrar para cada um de nós a força de um amor, mesmo que seja de pai com filho, de homem com mulher.
Parando ao lado da porta, Sirius esperou que Ametista atravessasse a entrada do dormitório e esperasse ele trancar a passagem. Assim que o fez, Sirius olhou para ela.
- Você ilumina meus dias, Srta. Ametista Dumbledore Black.
Sorrindo para o pai, ouvindo pela primeira vez o nome completo, o nome de batismo, e que talvez passaria a usar, Ametista enrolou os braços envolta da cintura do pai caminhou junto dele. Um caminho sem fim, cheio de perigos, mas cheio de esperança.
