NO CAPÍTULO ANTERIOR: Draco e Ametista estranhamente têm o mesmo sonho e agora suas mentes corroem-se em pensamentos sobre seus destinos. Além disso, é virada de ano e Harry toma o primeiro movimento: ele e Ametista têm seu primeiro momento sozinhos. Pena que Sirius e Arabella quase os pegaram e interromperam o clima.

CAPÍTULO VINTE E TRÊS - Azkaban desperta

- Mas não se incomode, Harry, você sabe como Sirius pode ser rabugento – dizia Arabella, ao entrar na loja junto do afilhado, olhando as manequins ao lado da vitrine. – Já cansei de falar sobre isso com ele, mas Sirius é rabugento!

         Harry bufou mal humorado. Se a noite passada havia sido maravilhosa, a manhã seguinte não havia correspondido as suas expectativas. Dormir mais uma vez junto de Ametista era ótimo, mas fazer isso após um amasso na sala, na noite de Ano-Novo, e com cem por cento de chance de ser pego, não era tão espetacular assim. Antes mesmo de acordar por si só, havia despertado com as batidas furiosas na porta do dormitório.

         - Eu prometo que ele não fará isto novamente, Harry. – afirmou a mulher, pegando uma blusa negra de uma das araras do estabelecimento.

         - É, eu acredito.

         Sua voz estava desanimada, recordando os momentos da manhã. Assim que levantou para abrir a passagem, Sirius estava com os olhos tomados por ciúme e descrença. Ametista ainda não havia acordado, mesmo com toda a barulheira provocada pelo bruxo. "O que ela está fazendo aqui com você, Harry?", a voz de Sirius era decisiva e cheia de energia. Energia para virar perigosamente um tapa no afilhado. "Nós pegamos no sono ontem à noite", ele respondeu, dando um passo para trás.

         - Você acha que essa blusa servirá em mim? – perguntou Arabella a ele, colocando a roupa à frente de seu tórax.

         - Bem, você vai engordar logo... – disse Harry, meio incerto. Arabella não exprimiu reação alguma, a face já descontente. – Pergunte para a vendedora...

         A madrinha deu as costas ao jovem e seguiu até o balcão da loja. Harry notou que seu andar imponente e sempre tão alinhado permanecia o mesmo. E não seria uma barriga que atrapalharia toda a delicadeza e elegância de Arabella.

         Suspirando, relembrou a saída de Sirius do dormitório e o olhar de nervosismo da namorada, assim que acordou e encontrou o pai fitando-a com aquele ar de perturbação. Se ele abaixava a cabeça para aquilo, Ametista certamente não deixaria a situação piorar. Porém, Harry chegou a sorrir depois daquela pré-luta com Sirius ao encarar Ametista. Sabia que toda aquela pose de arrogância e rispidez eram apenas sabores que temperavam sua personalidade tão eclética. A voz de Draco Malfoy surgiu em sua cabeça, gritando que ela era esquizofrênica. Talvez ele não estivesse tão errado assim. Entretanto, tinha de se lembrar após voltar a Hogwarts de quebrar a cara do monitor da Sonserina.

         - A mulher disse que posso fazê-la aumentar de tamanho conforme a barriga vai crescendo. – salientou, os olhos sobre o afilhado, não repetindo a expressão usada por ele para dizer que engordaria.

         Ajudando-a carregar as sacolas de suas compras, Harry atravessou a rua junto de sua madrinha, demonstrando seus centímetros a mais que ela. Sorriu. No entanto, esse mesmo sorriso se desfez em poucos segundos. O Profeta Diário estava em evidência na banca do velhinho, logo à frente da loja. E a notícia de capa estava escrita em letras garrafais.

         Assim, enquanto Harry voltava frenético junto de Arabella, no casarão de Godric's Hollow, as coisas não pareciam nada bem para aquela manhã.

- A senhorita pode me responder por que não dormiu em seu quarto?

         Arregalando seus olhos, a jovem não se arriscou a olhar diretamente para seu pai. Sirius Black estava com os braços cruzados na altura do peito, a face carrancuda e os olhos escuros concentrados sobre Ametista. A cozinha estava deserta já que Prisma ainda estava arrumando os dormitórios e Arabella havia saído há mais de duas horas com Harry para comprar algumas coisas na cidadezinha vizinha, Knights Village.

         - Eu e Harry ficamos até tarde aqui embaixo ontem e acabamos pegando no sono – explicou, relembrando a noite anterior quando Sirius e Arabella interromperam o namorado e ela, que fingiram adormecer. – Quando subimos, acabei entrando no quarto dele e nós dormimos juntos. Só fui mesmo me dar conta de que dormi junto dele hoje de manhã. – mentiu.

         O lábio inferior de Sirius crispou involuntariamente.

         - Não importa. Eu não quero mais ver você e Harry deitados na mesma cama, entendeu? – ordenou num tom nervoso e ciumento.

         Rapidamente, Ametista criou coragem para olhar o pai. Levantando as sobrancelhas, indagou:

         - Por quê?! – sua voz aumentou.

         - Porque eu não quero, já disse! – respondeu enérgico.

         Ametista ergueu-se da cadeira onde estava sentada e deixou a xícara com leite quente quase tombar sobre a mesa.

         - Isso não é motivo, pai! – protestou. – Qual é o problema?! Não é como se eu, me deitando com Harry, fosse logo... – velozmente, a garota fechou os lábios e cortou a respiração. Não pretendia concluir aquele pensamento para seu pai, não naquelas condições, não naquele tom.

         Sirius desencostou da geladeira mágica e deu um passo a frente, o rosto vermelho pelo início da discussão.

         - Fosse logo o quê, Ametista? – perguntou, os lábios movimentando-se ligeiros. – Você acha que não tive a idade de vocês? Sei muito bem o que é ter quase dezessete anos, sei a atual situação de Harry!

         - Isso não quer dizer nada! – gritou Ametista, batendo a mão sobre o encosto da cadeira. – Se eu quiser alguma coisa, aliás, se quisermos, não preciso deitar na cama dele para isso! – revoltou-se.

         O bruxo arregalou os olhos num tom de ira e fúria, dirigindo-se sem pensar até Ametista. Pouco mais de um passo antes dele chegar até a filha, Arabella irrompeu na cozinha.

         - Sirius! Algo terrível aconteceu! – vociferou nervosamente, com a mão sobre o abdômen, controlando a respiração.

         Sirius paralisou, assim como Ametista, e ambos encararam Arabella. A mulher parecia muito preocupada, o semblante transparecendo nervosismo. Diante do olhar de indagação de pai e filha, a bruxa respondeu:

         - AZKABAN ABRIU SEUS PORTÕES!

***

Aquela sensação estranha novamente. Harry sentiu-se ligeiramente tonto assim que percebeu seus pés pousando na terra batida. Sua mão estendida logo foi capturada por uma menor, gelada e com dedos pequeninos. Harry encarou a namorada que, por algum motivo desconhecido, não olhava diretamente para Sirius. Haviam aparatado junto do bruxo, o que era considerado ilegal. Daquela vez, Arabella fora praticamente trancada no casarão dos Black. Sirius não permitira que ela deixasse junto com eles a segurança de Godric's Hollow.

         - HARRY! AQUI! AQUI! – gritavam algumas pessoas.

         Haviam aparatado no meio de uma mata, árvores altas e arbustos completavam a paisagem. Há poucos metros dali estavam Hermione, Rony e Arthur Weasley acompanhados de Lupin e alguns outros homens e mulheres. Caminhando apressados, Harry olhou de lado para os integrantes daquela estranha reunião. Sirius emparelhou-se ao lado de Lupin e cochichou algo no ouvido do amigo lobisomem. O tempo estava nublado, o inverno em seu auge, a neve caindo ligeiramente preguiçosa.

         - Então, nós vamos ficar parados por aqui? Azkaban abre seus portões, deixa escapar milhares de criminosos, e nós ficaremos aqui assistindo é? – Ametista aparentava impaciência, conforme olhava a sua volta.

         - Nós estamos esperando os... – antes mesmo que Lupin pudesse responder, alguns daqueles homens e mulheres estranhos para Harry e os outros puxaram seu pequeno grupo para dentro daquela mata.

         Ao mesmo tempo em que pediram silêncio, uma nova multidão passou a passos velozes perto de onde estavam escondidos atrás dos arbustos. Eram bruxos vestidos de preto ou de branco, não havia uma mescla. Seu andar rápido e uniforme era sério e quase perigoso, suas varinhas em punho e as faces contorcidas numa seriedade impressionante.

         - Quem são... – Rony arriscou perguntar.

         Imediatamente, um dos homens daquele grupo colocou a mão sobre a boca do jovem e reforçou o pedido de silêncio. Com os olhos ligeiramente arregalados, Rony e os outros viram dois homens daquela multidão que atravessava seu caminho paralisarem. Um olhou para o lado direito, o outro para o lado onde estavam escondidos. Um vestido de preto e o outro de branco.

         O olhar de um deles, o quê encarava o lugar onde estavam, vestido de branco, era amedrontador. Um olhar cheio de determinação e suspeita, a postura reta e imponente, quase arrogante.

         - Vá à frente – disse o homem que os encarava. – Eu checo por aqui.

         A voz era decisiva e o tom ríspido. O homem de preto saiu andando veloz, a postura igualmente reta. Ainda silenciosos, os jovens assustaram-se assim que viram Lupin levantar de onde estavam escondidos e aproximar-se do homem.

         - Eu disse que era melhor vocês não virem, Lupin – o homem estava bastante controlado. – Ficaram malucos?

         - Você sabe que não podemos ficar de fora disso, Holm – protestou Remo. – Estamos aqui porque é preciso, somos os olhos de Dumbledore.

         - Sim, vocês podem ser a visão dele, mas não é certo que façam isso. Se Fudge suspeita que vocês estão aqui e, pelo que imagino, pretendem entrar em Azkaban e vasculhar todas as celas, a coisa ficará feia – disse o homem. – O Ministro só está esperando uma bola fora de vocês para pegar e prender Dumbledore, não sejam estúpidos!

         Hermione e Ametista levantaram detrás dos arbustos e cruzaram os braços, as faces contorcidas em confusão.

         - Alguém pode explicar que diabos está acontecendo aqui?! – foi Ametista que arriscou a ser um pouco mais enfática.

         O homem de branco encarou Lupin com firmeza, a expressão repreendendo-o por trazer crianças para a investigação sobre a prisão do mundo bruxo.

         - Estes são Harry Potter – Harry levantou junto de Rony, reconhecendo a face do homem vestido de branco. Lembrava daquele rosto no julgamento de Sirius. – Ronald Weasley, Hermione Granger e Ametista Dumbledore – as garotas permaneciam confusas. – Eles também são importantes para o nosso objetivo, Holm.

         - Pensei que vocês não seriam igualmente malucos de trazer a garota para cá também – o homem salientou, indicando Ametista. – Deve haver Comensais de Voldemort lá dentro, podem tentar recuperá-la.

         - Ele não fará isso, acredite – disse o homem que tampou a boca de Rony há pouco. – Voldemort está atrás de seus seguidores, para depois pensar em seus outros assuntos.

         Quando o homem de branco arriscou continuar a discussão, Sirius pediu silêncio e encarou os jovens.

         - Este é Matt Holm – indicou o rapaz de olhos castanhos bem escuros, vestido de branco. – Ele é o chefe provisório do Departamento de Aurores do Ministério, após a morte de Moody. É o nosso atual espião dentro do Ministério, junto da Sra. Figg e de alguns outros.

         - Nosso atual espião? – estranhou Harry. – Você está querendo dizer que há amigos nossos dentro do Ministério além da mãe de Bella?

         Lupin tomou a frente, postando-se ao lado do homem que cobriu a boca de Rony.

         - Nós formamos uma sociedade, Harry, após a volta de Voldemort e a chegada de Ametista em Hogwarts, debaixo de nosso domínio – seu semblante estava preocupado. – Esta é a Ordem da Fênix, que está crescendo desde sua formação. Temos também Juliet Stevens – uma jovem de cabelos estranhamente azuis encarou a todos. – que é uma bruxa mutante, Hauspie Bellacroix, uma auror francesa muito hábil com espadas – uma mulher de pouco mais de trinta anos, os cabelos negros bem compridos. – Rudolph Rawlings, um mestre de vampiros – a aparência pálida demonstrava a sua verdadeira origem. – Jack Wingnut, o mais habilidoso flecheiro de todo o Reino Unido – o jovem que havia calado Rony piscou para as garotas. – Victoria Sacks, a melhor estrategista do Ministério da Magia Americano – uma mulher de trinta e cinco anos sorriu timidamente, seus cabelos pouco acima dos ombros balançando conforme o vento, alourados. – Azíz El Kassab, o filho do ex-conselheiro de seu avô, Harry, Anthony, quando ainda era Ministro – o homem de pele bastante bronzeada lançou um aceno ao garoto. – e Silver Zylkins, da Comissão de Duelistas Mundiais. – o jovem nada fez, jogando seus cabelos quase prateados para trás.

         - E eu imagino que os outros que compõe essa tal Ordem sejam vocês, certo? – perguntou Ametista, a face emburrada, para Sirius e Lupin.

         - Claro, além de algumas outras pessoas necessárias e de total confiança – completou Lupin. – Seu avô nos guia. E assim, fomos chamados para uma checagem aqui em Azkaban, afinal podemos encontrar peças importantes para descobrir qual o plano mirabolante de Voldemort.

         - Escute Lupin, o máximo que posso fazer é deixar uma área reservada de Azkaban somente para vocês, mas em hipótese alguma apareçam para os espiões do Ministério, entenderam? Mesmo que Joseph ou Lynn estejam lá dentro. Eles são muito mais espertos que todos os outros componentes e seguidores de Fudge – avisou o auror Holm. – São os vestidos de negro, fiquem atentos.

          Lupin concordou com a cabeça e encarou os jovens. Harry, Hermione e Rony continuavam surpresos. Ametista, por algum motivo desconhecido, estava enfurecida.

***

Azkaban localizava-se no centro de uma ilhota perto da enorme Ilha da Grã-Bretanha, praticamente na região do Oceano Atlântico, mais precisamente no Mar do Norte. Uma ilhota fantasma. Para os trouxas, nada havia ali. Apenas um pequeno monte de areia que subia até o nível superficial da água, sem ultrapassá-lo. Estranho, já que a profundidade daquela região era de mais de 18 metros. Porém, nada que despertasse o desejo de pesquisar o fenômeno. Na realidade, Azkaban era protegida por mais de duzentos feitiços, vindos de bruxos de toda a parte do globo, especialmente realizados para escondê-la no meio daquele Mar. Havia uma recarga desses encantamentos uma vez cada três ou quatro anos. E hoje seria aquele dia.  

Havia um píer onde descansavam três barcos, geralmente, do Ministério da Magia. Hoje, eram mais de vinte, todos também do Ministério, com aurores e espiões descendo deles, apressados e com as expressões corajosas. A terra da ilhota era escura e havia uma pequena floresta que cercava a prisão, no ponto mais alto. Grades altas e rodeadas de lanças perigosas e fatais protegiam o início da entrada da prisão.

         O caminho era feito de paralelepípedos escorregadios e, naquela manhã, estavam mais ainda por causa da leve camada de gelo. Uma pequena estrada circular, que subia, circundando a prisão, era cansativa e também protegida pelas grades. Existiam cães do outro lado, espalhados dentro daquela mata que cercava a estradinha.

         No final do caminho de pedras, já no alto da ilhota, havia cinco guardas comuns, vestidos de azul-escuro e carregando suas varinhas, protegendo um túnel escuro e bastante largo logo à frente. Uma porta grandiosa de quadrados de aço resguardava a passagem, como aquelas dos tempos da Era Medieval, do feudalismo, que dividiam os castelos dos senhores feudais do resto do feudo. Ultrapassando-a, existia uma divisão no final daquele alto túnel. Três portas. A da direita, seguia para os escritórios de Azkaban, a da esquerda para salas de julgamentos e sentenças e a do centro para todo o esqueleto da prisão.

         Seguindo pela porta central, podia-se notar um espaço aberto, como um hall e montado como um jardim de inverno, com algumas fontes jorrando águas cristalinas e flores. Era como se houvesse verdadeiramente vida naquela estrutura cheio de vigas e concreto. Adiante, havia uma nova porta, uma saída. Entretanto, seguir a porta daquela mesma parte exterior, era assustador. Ali, iniciavam as celas dos prisioneiros. E ninguém certamente gostaria de morar num lugar como aquele.

         As moradias dos sentenciados eram como quadrados de pedras empilhadas, blocos de ferro, e grades de aço. Não havia camas, não havia janelas ou vistas para o exterior. Nada. Ficavam confinados na escuridão ou protegidos dela apenas por algumas velas. Pareciam túneis, e não corredores de terror e desespero, infestados por um cheiro putrefaço e forte. O ar parecia irritar os olhos de qualquer um, ácido, poluído. Mais adiante, divisões para outros túneis, para cima ou para baixo, celas que sucediam celas, prisioneiros que gritavam e pediam socorro para estranhos.

         Contudo, nenhuma daquelas celas comparava-se as celas especiais, localizadas no subterrâneo do solo amaldiçoado de Azkaban. E era exatamente para lá que estava indo Harry.

         - Você tem certeza que quer entrar aqui, Black? – perguntou Azíz El Kassab seriamente.

         Sirius parecia ligeiramente pálido diante da lembrança daquele inferno na Terra.

         - Vamos nos dividir em dois grupos – disse ele, ignorando a questão de El Kassab. – Um vai com Remo, o outro comigo.

         Havia uma divisão do túnel principal, assim que desceram ao subterrâneo. Dirigindo-se ao lado esquerdo iriam Sirius, Harry, Ametista, Hauspie Bellacroix, Rudolph Rawlings e Azíz El Kassab. Para o lado direito, Lupin, Hermione, Rony, Victoria Sacks, Jack Wingnut, Juliet Stevens e Silver Zylkins.

         Todos se reuniram numa roda, deixando os alunos de Hogwarts de lado.

         - Disseram que todas as celas especiais foram abertas, os feitiços desfeitos – dizia Victoria, a voz rouca e o sotaque americanizado. – Então, temos uma só maneira de passarmos despercebidos pelos chefes de celas – como era ela a estrategista, comandava ambos os grupos. – Teremos de fazer um feitiço de invisibilidade.

         - Concordo, Sacks – disse Lupin. – Mas os jovens não conseguirão realizá-los, certamente.

         - Não se preocupe – agora era uma voz de garotinha que vinha da mulher de cabelos azuis, Juliet Stevens. – Eu posso mutá-los.

         Os olhos de Sirius e Lupin pareceram temerosos.

         - Você tem certeza que não vai fazer besteira, Stevens? – desconfiando da capacidade e da pouca idade de Juliet, Sirius perguntou.

         A jovem respondeu com um olhar ameaçador para Sirius e chamou Rony. O jovem andou até Juliet e parou ao seu lado, esperando o quê ela poderia querer. Então, rapidamente, Juliet tocou a ponta de sua varinha em Rony e deixou-o com o aspecto estranho: seu corpo mudava conforme o fundo ou o meio mudava também, como em desenhos animados trouxas, em que a personagem adquiria o poder de mesclar-se ao meio onde se localizava. Hermione, Harry e Ametista olharam maravilhados.

         - Não cheguem, em hipótese alguma, perto dos chefes de cela – ordenou Victoria com firmeza. – Eles podem senti-los, farejá-los, então sejam discretos e andem com calma. E não se esqueçam que eles trabalham para o Ministério inglês, portanto, se não quisermos ser vistos, atenção!

         - E se encontrarmos dementadores, Sacks? – indagou Jack Wingnut. – Podemos destruí-los, certo?

         As sobrancelhas loiras de Victoria ergueram-se, num tom alerta.

         - Talvez o Ministério desconfie, mas acho mais seguro destruí-los, de qualquer forma – ela olhou para Lupin. – Os jovens sabem conjurar patronos? – Lupin concordou com a cabeça, apesar de nunca ter visto nem Rony ou Hermione conjurarem um patrono antes. – Ótimo – elogiou, soltando um suspiro em seguida. – Eu só imagino como eles conseguiram escapar, mesmo passando pelos chefes de cela, que são treinados para não serem afetados por dementadores.

         - Eu sei como – respondeu Sirius, interrompendo Victoria. – Hoje é exatamente o dia em que eles teriam de refazer os feitiços de proteção a Azkaban. Eles devem ter se aproveitado disso, algum Comensal deve ter avisado-os e assim tinham completo efeito sobre os chefes de cela – explicou Sirius. – Eu mesmo escapei a quase quatro anos dessa mesma forma, nesse mesmo dia. Naquele ano, o dia caiu em julho.

         - E onde nos encontraremos depois de vasculharmos tudo? – questionou Jack para Victoria.

         - À frente da prisão, onde estavam aqueles guardas – disse ela, o tom rouco persistindo em sua voz. – Se alguma coisa acontecer, se enfiem dentro daquela mata.

         Os nove membros da Ordem da Fênix trocaram olhares de segurança e seguiram seus caminhos. As celas especiais os esperavam. E elas, ao contrário do que pensavam, não estavam vazias.

***

O grupo de Lupin começava a dar os primeiros passos túnel adentro. Designados ao lado direito, o túnel era largo o suficiente para abrigar quatro componentes à frente – Lupin, Victoria, Hermione e Rony – e os outros três seguiam logo atrás – Juliet, Silver e Jack. A única diferença era que o corredor parecia completamente vazio, já que os adultos realizaram um feitiço de invisibilidade e Hermione e Rony estavam mesclando-se ao efeito da magia de Juliet Stevens.

         Cada um andando o mais rápido e silencioso possível, não se ouvia um alfinete cair no chão. Hermione segurava a mão do namorado, gelada e trêmula. Nunca imaginou antes em invadir Azkaban, muito menos disfarçada e com totais riscos de serem descobertos.

         - Vejam! – a voz rouca e muito baixa de Victoria ecoou nos ouvidos dos integrantes. – A primeira cela especial, logo à sua esquerda, Lupin.

         Remo arriscou dar mais um único passo a frente e esgueirar-se para tentar enxergar algo. Então aquela era uma cela especial. Era uma grande e alta sala, como um mini-galpão, e em seu centro, uma grande jaula. As paredes do âmbito eram escuras e transpareciam ferocidade e segurança. Havia uma única fonte luminosa, no topo da jaula, forte o bastante para iluminar todo o recinto. Realmente, aquilo era viver inteiramente em condições de vigilância permanente e ininterrupta. Pouco mais perto da abertura para o túnel havia uma mesa de carvalho, de cerca de um metro e meio de comprimento, onde se alojava um único homem ali, debruçado sobre a mesma.

         - Estou com frio. – murmurou Hermione repentina para um dos seres invisíveis.

         O bruxo imaginou a sensação que a garota poderia estar passando. Não era exatamente frio. Era mais como uma corrente gélida que desce pela sua espinha, seca sua boca e deixa-o sem poder respirar. Aquela sensação de desespero e de perdição, de que não existiam soluções. E o motivo estava muito claro. À frente da jaula havia um dementador.

         Respirando calmamente, Lupin assistiu o dementador levantar sua cabeça e mirar onde estavam localizados, imaginando que ele poderia farejá-los. Assim, deu um passo para trás e notou que a tranca da jaula estava arrebentada e a porta escancarada.

         - Escutem, Rony e Hermione – disse Lupin, a voz em tom grave. – Vocês conhecem um dementador, certo? – Hermione já havia experimentado um encontro com mais de dez dementadores em seu terceiro ano, junto de Harry. – O feitiço usado contra eles é...

         - Expecto Patronum – respondeu Hermione veloz, a voz trêmula. – Pensar em coisas felizes, não é?

         Lupin, nesse momento, desfez seu feitiço de invisibilidade e apareceu concordando para Hermione. Em seguida, tornou-se para Victoria, dizendo:

         - Onde é a próxima cela?

         - Logo ali. – e a loira, retirando também seu feitiço, apontou para alguns metros à frente.

         O homem encarou-a e, assim, Jack, Juliet e Silver retiraram seus encantamentos. Juliet e Silver puxaram Rony – que havia aparecido novamente após Juliet tocá-lo – para a cela adiante. Enquanto distanciavam-se daquele grupo, Lupin tornou-se para Jack e Victoria.

         - Olho aberto – sua voz soava como uma ordem a ser seguida à risca. – A jaula está aberta, mas nós nunca sabemos se há um Comensal vivo ou não.

         Engolindo temerosa, Hermione caminhou junto dos outros três para dentro da primeira cela especial. A sensação de infelicidade aumentou assim que a jovem adentrou. Encarar aquele ser paralisado, mantendo guarda sobre a jaula era terrível. Imediatamente, o dementador deu um passo lento, abrindo os braços e a boca. Hermione não progrediu, pouco antes de ultrapassar a mesa de carvalho, colocando a mão na altura do pulmão, com dificuldades para respirar.

         Nunca imaginou que passaria por aquilo mais uma vez. Desejou vezes e mais vezes naquelas férias da passagem para o quarto ano, nunca mais chegar perto de um dementador. Naquela situação, após libertar Sirius da Casa dos Gritos, Hermione e Harry foram cercados por inúmeros dementadores. Ela havia desmaiado e, se não fosse pelo melhor amigo, possivelmente estaria morta.

         Naquele exato momento, o homem que estava debruçado sobre a mesa, aparentemente morto ou desmaiado, pareceu despertar e, de modo veloz, agarrou o pulso esquerdo de Hermione. A jovem encarou-o e assustou-se, surpresa. Era um homem comum, porém parecia mais como um zumbi. Os olhos fundos e escuros, as pupilas tomando quase todo o globo ocular. O braço dele estava com as veias saltadas e Hermione via que passava algum líquido – poderia ser sangue ou qualquer outra coisa – nitidamente.

         Empunhando sua varinha, retirando a mão da região pulmonar, Hermione gritou:

         - Estupefaça!

         Imediatamente, o homem ou guarda da cela caiu novamente sobre a mesa, soltando o braço de Hermione e ficando inconsciente. Bufando aliviada, a jovem observou logo à frente, Lupin empunhando também sua varinha sobre o dementador.

         - Expecto Patronum! – gritou a plenos pulmões.

         Tentando libertar sua mente da preocupação permanente, Lupin fez com que seu patrono – luas cheias – se conjurasse perfeitamente sobre o dementador. A criatura protegeu-se com os braços sobre o peito e o rosto – se aquilo poderia ser chamado de rosto – e tornou-se para a cela.

         Hermione assistiu o dementador entrar na jaula e encurralar-se ao final dela. Franzindo a testa, achou tudo aquilo muito estranho e fácil. Não era possível que somente aquilo poderia ser uma cela especial de Azkaban.

         Repentinamente, uma voz rouca e forte ecoou na sala:

         - Você ainda está vivo, então, lobisomem – Remo agitou-se, encarando a sua volta, junto de Victoria e Jack. – Não esperava que após aquela nossa pequena luta você ainda estivesse respirando.

         Victoria olhou para Lupin com ar de indagação e ligeira fúria por esconder alguma suposta luta – e o quê parecia, uma batalha contra um dos seguidores de Voldemort.

         - Dê as caras, não seja covarde, mais do que já foi por tanto tempo. – respondeu Lupin a altura.

         Um jato de luz vermelha surgiu rasante ao chão e passou muito perto do corpo de Lupin, que desviou com certa calma, jogando o corpo para a esquerda.

         - Não preciso mostrar meu rosto, lobisomem – a voz continuou arrogante. – Também não sou covarde. Reconheci meus erros e desmascarei meus reais objetivos. Não sou como você, que ainda após vinte anos, não falou a verdade para ela.

         - Ela? – Victoria agitou seus fios dourados e enrugou a pele, incrédula. – Não me diga que isto envolve mulheres, Lupin!

         O bruxo não se pronunciou, sequer olhou de esguelha para a americana. Enquanto isso, surpreendentemente, Hermione percebeu uma movimentação veloz. Num piscar de olhos, uma flecha dourada disparou cortando o ar em direção ao fundo da cela, passando por um dos espaços da grade da jaula.

         - NÃO TENTE ISTO NOVAMENTE, FLECHEIRO!

         A voz que vinha da escuridão estava irritada e parecia não ter gostado nadinha do ataque do "flecheiro". Hermione notou que Jack Wingnut tinha a postura reta e perfeita, quase como a de um nobre da Idade Média, empunhando um maravilhoso arco dourado entre os dedos e os braços. Os olhos de Hermione estavam concentrados em Jack, e assim, ela perdeu a cena seguinte. Do meio da escuridão do fundo da cela especial, saiu um homem vestido de negro da cabeça aos pés: era um Comensal da Morte.

         Seu levantar de cabeça demonstrou aquele que Hermione ouviu falar. Um de seus braços estava ferido, o direito, e o esquerdo segurava sua varinha negra com força. A visão era esverdeada, as sobrancelhas grossas e a boca com lábios ligeiramente finos. Um sorriso petulante se destacava na face pálida.

         - Você é David Adams, não é mesmo? – indagou Jack, abaixando o arco, apreciando o ferimento no adversário.

         O sorriso de David aumentou. Seus olhos verdes recaíram-se sobre Lupin.

         - Isto mesmo – afirmou, o sorriso se alargando cada vez mais. – E eu estou muito surpreso por vocês se arriscarem a tanto... – dando uma pausa, David engoliu lentamente e notou que o ferimento do braço direito estava incomodando. A flecha estava caída pouco atrás dele, reluzindo seu dourado. – Aliás, quem são vocês?

         - Isso não importa – disse Victoria, pegando sua varinha. – Expelliarmus!

         O feitiço de desarmamento conjurado por Sacks foi certeiro. Porém, o jorro de luz vermelha paralisou no ar poucos centímetros antes de se chocar com o corpo de David e se desfez, caindo no chão, transformado em pedras prateadas, parecidas com cacos de vidro. A estrategista americana bufou mal humorada. Victoria nunca havia enfrentado um Comensal da Morte antes. E não tinha nem idéia da enorme força de cada um deles.

         - Vocês querem me desarmar? – suspirou Adams, sua arrogância transparecendo absurdamente. – Por que não disseram antes? Farei um favor a vocês.

         Assim, David jogou sua varinha a metros dele, a sua esquerda. Victoria arregalou os olhos, contrariando as expressões nada impressionadas de Hermione, Jack e Lupin. A jovem, pelo menos, sabia muito bem que um verdadeiro e realmente bom Comensal não precisaria de varinha para conjurar seus feitiços.

         Com isso, Adams esticou o braço e abriu bem os dedos, gritando:

         - Estupore!

         Victoria Sacks ainda tentou desviar, mas o feitiço de um Comensal era dezenas de vezes mais rápido do que de um bruxo comum. Assim, igualmente, como de um auror ou um espião. A americana caiu como um saco de batatas no piso da cela, desmaiada.

         Hermione estava tão entretida em avaliar a figura de David que nem percebeu quando o velho e acuado dementador apareceu próximo ao seu corpo. Recebendo aquela carga de energia negativa e captação de seus pensamentos e sentimentos bons, a jovem deu um passo para trás, segurando sua varinha com destreza.

         O dementador, percebendo seu movimento, saiu de sua posição inicial e deu um passo largo para mais perto de Hermione. Esbarrou sobre a mesa, sem o menor pesar, e deixou o corpo do guarda estuporado caiu no piso. O real problema era que, após tê-lo deixado cair, o dementador não pensou duas vezes e pisou sobre a cabeça do humano – ou um ex-zumbi.

         Não havia condições de pensar em coisas boas após assistir uma cena como aquela. Hermione ficou boquiaberta e logo teve de fechá-la, já que seu estômago revirou dentro de seu corpo, ameaçando voltar toda a comida digerida no feriado passado na Toca. Colocando a mão sobre a boca, Hermione sentiu uma comum vertigem e voltou os olhos sobre o dementador. O ser estava muito mais perto do que imaginava antes. Ela podia notar os passos cheios de sangue sendo arrastados sobre o chão, marcando a trilha de morte realizada pela criatura faminta e assassina. Sem pensar duas vezes, Hermione deu mais passos e escondeu-se atrás de um dos pilares da sala. O dementador poderia ser lento, mas não era burro e podia farejá-la. Farejar seu medo.

         - ABAIXE-SE GAROTA!

         Sem respirar, Hermione abaixou-se ao ouvir o sinal de Jack e ouviu novamente o ar ser cortado por uma de suas flechas. Olhando rapidamente para cima e depois para a direção com que a flecha fora atacada, viu que David estava muito perto dela. Perigosamente perto. Sentiu um frio repentino na espinha. Por algum motivo, parecia mais esperto ficar mais próxima do dementador do que de David. E foi isso que ela tentou realizar no momento seguinte, se não fosse por um pequeno detalhe: o dementador estava à sua frente.

         Erguendo-se incrivelmente veloz do chão, Hermione chocou-se diretamente com o corpo duro do dementador. Com sua pequena estatura, ela passou por debaixo das pernas da criatura e ganhou um bonito arranhão em seu rosto ao raspar o rosto no pilar de concreto que constituía a cela. O dementador tornou-se para trás lentamente e assistiu a pequena garota correndo agachada, procurando refúgio atrás de Jack e seu arco. O bruxo arqueiro olhou para Hermione com quase irritação e atirou mais uma de suas flechas, assistindo um jorro de luz caminhar em sua direção.

         Jack, espertamente, afastou-se para longe da direção do jato de luz, porém Hermione não. Rolando no piso, a jovem teve que deitar no chão para não ser atingida pelo feitiço de David. Lupin, do outro lado da cela, gritou:

         - Locomoto Mortis! – o feitiço da perna presa atingiu o dementador em cheio, fazendo-o paralisar e servir infelizmente como escudo para a série de flechas soltas por Jack em direção ao seguidor de Voldemort.

         Contudo, um verdadeiro Comensal não se protegeria com um dementador servindo de barreira. David, então, saiu detrás do dementador, pulando sobre ele, dando um grande impulso do chão. E, sem hesitar nem por um segundo, dirigiu a varinha para Jack e vociferou:

         - CRUCIO!

         Hermione tomou a posição fetal, protegendo sua cabeça com os braços e flexionando as pernas para perto do abdome. O que se seguiu foi terrível. Os gritos de Jack eram horripilantes. Gritos de dor, de desesperança, de sentir sua carne sendo perfurada, sendo rasgada por um bisturi a sangue-frio, de morte. A Maldição Imperdoável da Dor era desesperadora. E não havia como pará-la.

         - PARE! – gritou Hermione, tampando os ouvidos com as mãos, não agüentando ouvir os berros de Jack.

         Lupin viu um novo sorriso despertar no rosto de David, que estranhamente parou a Maldição. Jack caiu desacordado, o corpo levemente trêmulo. Hermione abriu os olhos, franzindo a testa e desconfiando o porquê de David ter paralisado a Maldição.

         - Lobisomem, a garota tem razão – disse David, batendo uma mão contra a outra. – Minha luta não é contra esse flecheiro. É contra todos vocês que ousam resistir ao poder e ao comando do meu Mestre. Está muito evidente que o destino de todos nesta sala e em toda Azkaban será curvar-se diante do Lorde das Trevas. Não conseguem perceber isso?

         Enquanto Hermione voltava a posição anterior e permanecia correndo agachada até Jack para verificar como ele estava, Lupin girou sua varinha e apontou para David.

         - Não Adams – respondeu Lupin, mais sério do que nunca. – Ambos sabem que esta luta já tem final escrito. O bem vencerá.

         - Talvez sua visão de bem e mal esteja muito conturbada e errada, Lupin. – afirmou David com uma certeza incrível.

         Hermione não entendia o porquê daquela disputa verbal e não física entre Adams e Lupin. Jack estava inconsciente e de sua testa corria uma ligeira quantidade de sangue.

         - Você é um idiota, Adams. Sempre foi. Ainda não sei como Bella ficou com você por tanto tempo e não percebeu quão idiota você é. – resmungou Lupin num tom revoltado.

         - Isso pareceu não importar a ela, não é mesmo? – justificou David, a voz muito rouca. – Ela esteve comigo, e não com você.

         Por mais que aquela discussão pudesse estar levando a algumas descobertas a Hermione, repentinamente, ela sentiu que precisava levantar. Afastar-se de Lupin e David. Então, puxando Jack para mais perto da porta, permitiu que Lupin e Adams, rapidamente, tomassem a posição de duelo. Eles iriam se enfrentar.

         Hermione segurou a respiração. O Comensal iniciou o duelo atacando Lupin com um feitiço de estuporamento. Lupin desviou por milímetros. Em seguida, disparou um jato de luz amarelado, sem dizer uma frase ou palavra para conjurá-lo. Hermione achou aquilo bem estranho, mas ignorou. O feitiço foi desviado por uma barreira que Adams conjurara. Apertando os olhos, Lupin não deu chance para Adams revidar e emendou com um feitiço de levitação, onde, para a surpresa de Hermione, ergueu a mesa de carvalho – extremamente pesada – até um metro do chão, jogando-a sobre Adams. O Comensal deu um passo para trás e escapou por muito pouco.

         Com um feitiço de ataque, e um impedimenta, Lupin atacou mais uma vez Adams e paralisou no ar, a poucos centímetros de sua cabeça, o pesado cadeado que o adversário lançara sobre ele. Parando para respirar, aparentando muito mais cansaço que o Comensal, Lupin passou os dedos da mão direita sobre a testa e retirou parte do suor. Havia lutado contra Adams há pouco mais de quatro meses, logo após ter deixado Hogwarts, mas havia ocultado este fato de todos. Não sabia bem o porquê, já que sempre quis destruir Adams por tudo que ele causou a Bella. Era uma tarde perto de Southampton, e ele não tinha idéia do que David fazia por ali. Num beco muito conhecido pelos bruxos, Adams o interceptou e ameaçou iniciar uma disputa até a morte. A luta durou pouco mais de dez minutos, até ambos atingirem um ao outro com um feitiço de estuporamento. Após acordarem, decidiram deixar a luta para outra oportunidade. Sem saber, Lupin e Adams haviam recuado.

         Assim, aquela disputa era quase uma questão de honra para Lupin, tanto quanto para Adams. Respirando e recuperando o fôlego, Lupin colocou-se novamente na postura de duelista e atacou Adams com um novo estupore. Igualmente, Adams conjurara uma espécie de barreira invisível que impedia os feitiços de chegarem perto de seu corpo e atingirem-no. Pensando rapidamente, tentou recordar como havia atingido Adams da outra vez.

         - Lupin! – gritou Hermione, fazendo o bruxo desviar a atenção da luta e olhar para a garota agachada ao lado de Jack. – Há uma falha no sistema de defesa dele!

         - CALE-SE GAROTA! – ordenou David, arregalando os olhos. Não era possível que uma jovem de dezesseis descobrisse sua única falha. Apenas alguém como Arabella, tão inteligente quanto ela, poderia. – Estupore!

         O feitiço de estuporamento passou longe de Hermione, por algum motivo estranho que nenhum dos três pôde compreender. Era se como alguém ou alguma coisa tivesse desviado o caminho do encantamento de David. Sem tempo para refletir sobre aquilo, Lupin olhou novamente para Hermione e procurou ler os lábios da garota que diziam onde era o ponto fraco da defesa de David.

         - Estupefaça! – gritou mais uma vez David, agora tentando estuporar Lupin.

         Entretanto, Hermione fora muito mais rápida que David. Erguendo-se do chão, a jovem grifinória postou-se ao lado de Lupin e vociferou, a fim de proteger o ex-professor, apontando a varinha na direção do feitiço do Comensal.

         - Finite Incantatem!

         Por alguma nova razão curiosa, o feitiço que deveria pôr fim ao efeito de um feitiço conseguiu paralisar o ataque de Adams. O Comensal encarou Hermione com os olhos verdes arregalados, incrédulo.

         - Que raios de poderes essa menina tem que pode até paralisar meu ataque?! – sua voz estava instável, assim como sua postura.

         Naquele momento, Hermione disse a Lupin que o único defeito da defesa de Adams estava exatamente na hora em que ele conjuraria uma posição ou um feitiço de ataque. Para executá-lo, Adams rapidamente desfazia sua barreira de defesa. Então, era precisamente naquele instante que Lupin deveria atacar. Hermione ainda não sabia como pôde observar com tanta perfeição a falha de um Comensal da Morte como Adams.

         - Deste você não desviará, garota! – gritou David, furioso. – CRUCIO!

         - AGORA! – gritou Hermione que, junto de Lupin, conjurou o feitiço do Corpo Preso e atingiu em cheio o corpo do Comensal.

David caiu no chão, duro como uma tora de madeira. Lupin e Hermione ainda aproximaram-se do corpo inerte de Adams para certificarem-se de que o feitiço havia funcionado. Além de ter o corpo paralisado, David inexplicavelmente estava desmaiado. "Que maneira idiota de se vencer um Comensal", pensou Hermione, carregando Jack junto de Lupin em seus ombros, com Victoria em sua cola, ainda ligeiramente torta e zonza. Porém, Hermione era inteligente demais para saber que não havia vencido David Adams. E que, agora, ele iria vingar-se da garotinha que descobriu seu maior segredo.

***

Havia um certo odor putrefaço vindo daquela cela logo adiante, acompanhado de uma forte luminosidade. Rony engoliu em seco, reunindo sua coragem, digno de ser escolhido para a Grifinória. Juliet parou ao seu lado e sorriu amigavelmente. Para o jovem, Juliet não parecia ter mais que vinte e dois anos. Entretanto, sua jovem aparência escondia a enorme carga de experiências que a mulher já havia enfrentado. Colocando a mão no ombro do jovem ruivo, cochichou:

         - Não precisa ficar nervoso. Você ainda vai enfrentar muitos desses pela frente – Rony não poderia se dizer satisfeito de ouvir aquilo, porém era como se Juliet procurasse encorajá-lo. – Pertence a Grifinória ou não?

         Rony tinha muito orgulho de seguir a tendência corajosa e de sangue-frio que todos os Weasley seguiram na Grifinória. Então, respirando fundo, apertou os dedos envolta de sua varinha e colocou uma expressão de bravura no rosto. Juliet sorriu.

         Em seguida, encarou o homem que estava paralisado logo à frente, numa posição esperta onde ninguém de dentro da cela poderia vê-lo. Novamente, Rony notou a estranha luz que vinha de dentro daquela cela. Se a mente não o enganasse, aquele era Silver Zylkins, um dos melhores duelistas do mundo. O cabelo prateado e os olhos profundamente azuis não enganavam sua origem, no mínimo, russa ou coisa assim.

         - Há um chefe de cela e... – a voz de Silver estava seca e quase arrogante. – Acho que são três dementadores.

         - TRÊS?! – Rony permitiu-se a levantar o volume da própria voz, afinal, nunca havia antes enfrentado um dementador, quanto mais três de uma só vez.

         Juliet prosseguia com a mão esquerda no ombro de Rony. Assim, ela aproximou-se do ouvido do jovem e sussurrou "Expecto Patronum", dando um sorriso de volta. Sim, aquele era o feitiço usado contra dementadores. Fixar-se em pensamentos felizes.

         - Tomem cuidado com seus olhos. – murmurou Silver aos companheiros, não parecendo importar-se muito.

         O grifinório nem imaginou do que aquela advertência se tratava. Sem aviso prévio, Silver deu um passo a frente, sendo seguido por Juliet, e assim por um quase desesperado Rony. Ao pisar naquela sala, o jovem sentiu um imediato arrepio. As paredes eram incrivelmente brancas, reluzentes e quase lisas. Os olhos do jovem fecharam-se rapidamente, e Rony segurou quase que um grito de dor, como um cego a enxergar pela primeira vez, os olhos acostumados à escuridão. Não era possível que existissem aquelas paredes tão claras e ofuscantes por motivo algum.

         - Estupefaça! – enunciou uma estranha voz em alto tom.

         Rony não soube direito de onde veio aquele feitiço de estuporamento, porém abaixou-se velozmente, sabendo que estava direcionado a ele. Caindo pesadamente no chão, o feitiço passou a poucos centímetros acima dele. Rony encarou o piso, igualmente alvo, e chegou a ver o borrão marrom de sua roupa. Seguindo o encantamento com os olhos, assistiu-o bater na parede do túnel de pedra e estilhaçar parte dele. Seus dentes travaram dentro de sua boca.

         Suspirando, tornou-se para onde veio o feitiço e viu algo diferente. Parecia como um bruxo comum. Talvez, até mesmo como um trouxa. Usava uma calça jeans e um – "como era o nome daquilo?", pensou Rony – moletom verde escuro. Contudo, o interessante era o quê o bruxo estava fazendo. Em pé, sua varinha estava apontada para algo paralisado após uma grande névoa, muito parecida com um enorme gato. Aquilo era um patrono.

         Então, Rony recordou de Sirius contando há poucos minutos atrás que aquele era o dia em que os chefes de cela poderiam ser afetados pelo poder dos dementadores, que cercavam as celas especiais – o dia escolhido para refazer os encantamentos sobre Azkaban. Assim, aquele deveria ser o chefe responsável por aquela cela, que tentava bravamente não ser afetado pelos três ou mais dementadores que se localizavam juntos naquela cela.

         "Mas, se o chefe de cela está tentando destruir o poder do dementador...", Rony olhou a sua volta e somente viu a brancura das paredes. "Quem foi que atirou aquele feitiço em mim?". Seus olhos procuravam preocupados quem havia tentado atingi-lo.

         - Pouur favouur! – gritou repentinamente o chefe de cela, num sotaque estranho, tornando-se ligeiramente para trás e encarando Rony. – Me ajude! Ich no agüentar mais! Sie vão matar ich!

         Sem saber exatamente como agir e confuso com a mistura de línguas do homem, Rony procurou Juliet e Silver. Ambos estavam vasculhando algo aparentemente invisível dentro da grande jaula localizada no centro da cela especial. Claramente, haviam ouvido o pedido desesperado do chefe de cela, pois ambos deixaram a jaula. Com o dedo indicador, Juliet chamou Rony para mais perto e disse que ele deveria perguntar ao chefe quem era o prisioneiro daquela cela.

         Tomando a posição de luta, Silver e Juliet empunharam suas varinhas, colocando-se ao lado do homem, e gritando:

         - Expecto Patronum!

         Rapidamente, a névoa em forma de gato transformou-se em outras duas, uma em forma de cruz – que vinha da varinha de Silver – e a outra em forma de espelho – correspondente a Juliet. Olhando com atenção, Rony pôde ver que não eram três dementadores, e sim quatro. Engoliu em seco mais uma vez.

         Recordou então que deveria interrogar o chefe de cela. Puxando o homem para longe do círculo de magia de Silver e Juliet, Rony encostou as costas dele na parede e ficou ao seu lado, agachado.

         - O senhor está bem? – indagou com rapidez.

         O homem afirmou positivamente com a cabeça. Rony fitou-o por um momento. Estranhamente, seus olhos pareciam uma mescla de amarelo com azul. Assustador, não era algo bonito de se olhar.

         - Qual era o prisioneiro dessa cela? E por quê essas paredes brancas? – perguntou tudo de uma só vez, ansioso.

         Com dificuldade e quase pigarreando, o bruxo respondeu a Rony. Provavelmente, após a libertação dos poderes dos dementadores, o chefe não misturava mais outras línguas, com apenas um ligeiro sotaque. Contudo, logo começou mais uma vez a confusão.

         - Era uma prisionerá – disse o homem, puxando para o final da palavra, e tossindo em seguida, fraco. – Dame Donker – Rony franziu a testa diante de um nome tão estranho. – Uma holländer que se achava muito esperta. Nicht! – o homem levantou a voz. – Ninguém engana os Haupt de Azkaban! Mischling!

         O jovem ergueu as sobrancelhas, estranhando as expressões usadas pelo chefe de cela. Fechando os olhos, ouviu o bater de algo fino no chão. Levantando-os curioso, encontrou um pé calçando uma sandália prateada, de salto muito fino. Antes que fosse capaz de erguê-los até a altura do rosto daquele humano, o pé foi levantado contra seu rosto, atingindo-o em cheio. Rony foi arremessado raspando o corpo no piso alvo por alguns metros, tamanha a força proporcionada pelo chute na face. Assim que parou, sentiu o gosto amargo de sangue e passou um de seus dedos sobre o lábio, encontrando o líquido escapando. Ligeiramente tonto, ergueu a cabeça devagar e conseguiu ver um vulto, também branco, mas com um borrão vermelho no topo do corpo, curvando-se sobre o chefe de cela.

         - Nunca me chamará novamente de holländer ou mischling, idiota! – dizia em um quase sussurro a pessoa curvada sobre o guarda.

         Ao mesmo tempo em que Rony tentava levantar do chão, sua visão pareceu se recuperar e então pôde notar que a pessoa abaixada junto do chefe de cela era uma mulher. Trajava um comprido vestido branco e de longas mangas. Seu cabelo era tão ruivo quanto o de Rony e seus olhos eram grandes e castanhos. Apenas seu tornozelo e seu pé pareciam estar à mostra. Rony não quis reconhecer, mas aquela mulher que havia acabado de chutá-lo, literalmente, era incrivelmente parecida com Gina. Um novo arrepio correu por sua espinha.

         A mulher, então, apontou sua varinha para o centro do rosto do enfraquecido homem e pareceu enunciar um feitiço. Rony não conseguiu reconhecê-lo, porém pôde notar um fenômeno nunca visto por ele antes. Uma sombra saiu do corpo do chefe de cela e foi sugado pela varinha da mulher. Rony deu um passo à frente e a mulher tornou o rosto rapidamente para sua direção. Seus fios vermelhos viraram junto com sua cabeça, de forma graciosa.

         - Confesse! Errei por alguns centímetros, não é mesmo? – naquele momento, Rony sabia que era aquela mulher que havia lançado aquele feitiço de estuporamento nele. – Não imaginei que agora o Ministério também mandasse crianças para cá – a voz era quase como a de um homem. – Mas não tem problema. Quanto mais vítimas eu fizer, mais satisfeita eu ficarei.

         Rony voltou o passo e empunhou sua varinha na direção dela. A mulher sorriu para ele sarcasticamente, como se estivesse se deliciando com a idéia de lutar contra um jovem. No entanto, alguém não estava gostando nada daquela estória.

         - Quem é você, mulher? – indagou Zylkins ríspido.

         - Mulher? – repetiu a ruiva como se estivesse ofendida. – De onde eu venho, não chamam mulheres assim. Você deveria ser mais educado...

         O grifinório olhou para trás e encontrou dois dementadores caídos contra a parede. Silver parecia ter um forte patrono. Eles não pareciam mortos, mas desmaiados.

         - Novamente, quem é você, mulher? – repetiu Silver no mesmo tom arrogante.

         - Sou Dame Donker – disse ela, em sua voz quase masculina. – Pena que fui presa pouco depois que o Lorde das Trevas fosse impedido de seguir com seu destino por Harry Potter – Silver e Rony notaram o tom irônico da mulher. – Faria tantas vítimas para minha coleção – dando uma pausa, ela ajeitou a sandália prateada que estava em seu pé esquerdo. – Aliás, agora que fui solta pelos seguidores fiéis do Mestre, vocês serão os meus primeiros prêmios de boas-vindas após esses longos anos.

         Assim, Dame tomou posição de ataque. Antes que Rony pudesse reagir, Zylkins já se mostrava pronto.

         - Se aqueles dementadores acordarem, garoto – disse Silver para Rony. – Coloque-os no chão novamente, entendeu?

         - Realmente, vocês ingleses têm um estranho modo de se comunicarem... – comentou Dame.

         - Não sou inglês, mulher – respondeu Zylkins, a pele ainda muito pálida. – Sou alemão.

         Donker colocou uma de suas mãos na cintura e demonstrou ainda mais quão magro seu corpo era – ou estava – após anos em Azkaban.

         - Primeiro, colocam dementadores para me controlarem, mesmo sem saber que eles não me afetam – disse ela surpresa. – Depois, depositam um chefe estúpido de cela que somente me dirige xingamentos. E agora, um novo alemão mal-educado para tentar me deter?! Isso realmente está ficando chato!

         - Estupore! – gritou Zylkins, cansado de tanta conversa.

         Por mais rápido que tenha sido o feitiço de Silver, Donker desviou, dando um passo incrivelmente veloz para a esquerda, encostando-se à parede. Assim, surpreendendo Rony, que assistia a luta, Dame pareceu levitar pouquíssimo do piso e dar um impulso com o salto da sandália na parede. Então, como um rápido jato de luz, ela voou até a parede oposta, apontando sua varinha para Silver e gritando:

         - Locomoto Mortis!

         O feitiço pegou Silver em cheio. Como ela havia sido muito rápida, Silver não tinha idéia de quando ou de que posição ela atacaria. Portanto, por mais atento que ele estivesse, Donker havia sido mais esperta e veloz que ele, um dos maiores duelistas mundiais. No mesmo segundo, as pernas de Zylkins paralisaram. Dame deu um sorriso vitorioso.

         - Sabe, você é um alemão muito presunçoso – riu Dame. – Nenhum alemão ou inglês conseguirá capturar uma holandesa como eu.

         Entretanto, Donker não esperava que no mesmo instante, Zylkins saísse andando normalmente. A mulher cerrou os olhos castanhos e sorriu deliciosamente. Gostava de oponentes difíceis e cheios de segredos.

         Novamente, a mulher deu um impulso com sua sandália na parede branca e voou velozmente. Silver sorriu, parecendo achar aquilo interessante. Assim que Dame encostou de volta na parede inicial, onde o chefe de cela estava caído, Zylkins deu um pulo e gritou um feitiço de ataque que Rony nunca havia ouvido antes. Donker foi empurrada totalmente contra a mesma parede, quebrando um dos saltos de sua sandália prateada. Sua cabeça ficou suspensa, presa na parede, assim como o resto do corpo, encarando Silver.

         O bruxo encostou sua varinha no tórax de Dame e sorriu malicioso. Parecia que agora era ele que estava ganhando o duelo. No entanto, Silver não tinha idéia de que havia ainda mais um salto a ser quebrado, pois sem eles, não haveria impulso para Dame. Um brilho estranho surgiu nos olhos escuros de Donker, que deu o impulso com o salto que lhe restava.

         Dame passou os braços pelas costas de Zylkins e o abraçou. Quando deu o impulso, Silver perdeu a varinha, caída no chão, e foi arremessado, junto com Donker, pela extensão da sala branca até bater violentamente contra a parede oposta. Surpreendentemente, deixou escapar um espirro de sangue de sua boca. A holandesa chegou mais perto de seu rosto e notou os olhos fechados de Silver, machucado com a pancada. Suspirando perto de seu pescoço, Dame chegou bem perto da boca de Silver e lambeu seu lábio inferior. Parecendo gostar do gosto que o sangue de Zylkins tinha, Donker sorriu.

         - Sabia, alemão – disse ela sussurrando em seu ouvido. – que eu adoro o gosto de sangue? Todas as minhas vítimas tinham ótimos gostos de sangue, sempre os escolhi a dedo. Talvez tenha sido exatamente por isso que o Mestre me escolheu para ser sua seguidora. Não sou como aqueles Comensais idiotas, sou mais como um elemento surpresa – Dame disfarçou uma risada. – Meu verdadeiro nome não é Dame Donker, apenas me apelidaram assim nos tempos de escola – Silver abriu os olhos, voltando a sentir as costas, além de apenas a dor que latejava em sua cabeça. – Mas sabe o porquê de Dame Donker? Em holandês, isto significa Senhora das Sombras.

         - Ima...imagino q...que isso se...seja motivo d...de gló...glória. – murmurou sem ar Silver em resposta.

         - Certamente – concordou Dame, sorrindo. – Meu principal atrativo é minha capacidade de aprisionar almas, ou sombras, como você queira chamar. Então, por isso dessa sala ser completamente branca. Me espalho e escapo na escuridão.

         Silver sorriu cansado. Não esperava que aquela mulher quase beirando a morte de tão magra, apesar de bonita, tivesse tanta força. Porém, olhando para trás dela, percebeu que Juliet estava paralisada com a varinha apontada para Dame. Stevens piscou para Silver. O alemão piscou de volta.

         - Ronald! Agora! – gritou Juliet.

         O grifinório estava parado a poucos metros de Juliet, indicando com a cabeça positivamente. Respirando fundo e reunindo mais uma vez sua coragem de um Weasley, Rony viu a névoa em forma de espelho se desfazer. Chegou a sua vez. Havia um dementador caído no chão, junto dos outros três, mas que parecia estar se erguendo do chão. Rony gelou.

         - Expecto Patronum! – disse, arregalando os olhos. Apenas uma pequena fumaça surgiu de sua varinha. – Expecto Patronum! – falou pela segunda vez, tentando se concentrar, porém o dementador pareceu estar se levantando. E nada além daquela fumaça idiota. – Expecto Patronum! – novamente, mais obstinado, lembrando de Harry dizendo algo sobre pensamentos felizes. Nada ainda. – Expecto Patronum! – não desistindo, começou a recordar as maravilhas de sua vida. Adorava sua família mais do que tudo, tinha o melhor amigo do mundo, amava uma garota mais do que sua própria vida. – Pense em Hermione! – disse para si mesmo, enquanto o dementador levantara-se por completo e um segundo parecia acordar. Um frio horripilante e desanimador atingiu Rony. Agora parecia impossível pensar em momentos felizes. – EXPECTO PATRONUM!

         Pela quinta vez, Rony gritou a plenos pulmões o feitiço e, pensando em seus amigos, em seus familiares e em Hermione, um legítimo patrono se formou de sua varinha. Rony abriu os olhos, metade receoso, metade curioso, e assistiu uma enorme névoa se formalizar em forma de um belo leão. Um perfeito integrante da Grifinória, Rony descobriu que seu patrono era o rei das selvas. Um orgulho maior bateu dentro dele.

         Enquanto isso, Juliet levantara sua varinha na direção de Dame e Silver e gritara:

         - Impedimenta!

         Rapidamente, o corpo de Dame estava paralisado no ar, não mais envolvendo Silver, e com os olhos arregalados. Com isso, Zylkins abraçou o corpo de Donker e piscou para ela, desta vez.

         - Experimente um pouco de seu próprio remédio. – disse Silver num tom prazeroso, envolvendo Dame e dando um novo impulso na parede as suas costas.

         Juliet sorriu assim que notou a habilidade de duelista de Silver. O bruxo possuía o poder de, após ser atingido uma única vez por um feitiço, conseguir conjurá-lo logo em seguida, entendendo os movimentos próprios do adversário e reunindo forças necessárias para executá-lo. Com isso, Silver carregou como num foguete de ar a holandesa até a parede oposta, batendo-a contra ela. Porém, após ouvir o grito de dor de sua oponente, Zylkins, puxou-a contra seu corpo e tornou-a para trás, voando velozmente para mais uma vez pressioná-la de forma bruta contra a parede onde ele havia sido comprimido há pouco.

         Quando estava começando a se divertir com aquele empurra-empurra com Dame Donker, Stevens paralisou tanto Silver quanto a mulher ruiva no ar. Zylkins olhou para ela confuso, mas entendeu logo que Juliet estava com a razão de deixar a seguidora aproveitar um pouco aquele momento de dor e derrota.

         Assim, Silver desceu do ar e arremessou a mulher mais contra a parede. Em seguida, olhou o corpo inerte e morto do chefe de cela. De fato, Donker havia feito uma vítima naquela sala. Agora, a bruxa estava caída no piso branco, o sangue escorrendo de sua boca e têmpora. Pelo menos, ela nunca se esqueceria de uma surra como aquela. Tornando-se para Juliet para agradecê-la, viu que a mulher de cabelos azuis estava batendo nas costas de Rony.

         - Você fez um ótimo trabalho, meu jovem – elogiou Juliet, notando que o nariz de Rony começava a sangrar. – Seu patrono é um imponente leão. Acho que você deve ser muito corajoso mesmo.

         Rony sentiu as orelhas ferverem, envergonhado. Na verdade, ele era bastante corajoso. Era apenas não colocá-lo para correr atrás de aranhas dentro da Floresta Proibida.

***

Era extremamente desconfortável andar junto de cinco pessoas, sem ter a menor pista de onde estavam localizados. Muito perto, a ponto de chocar-se com o seguinte, ou muito distante, com fortes chances de perder-se do grupo. Era exatamente assim que Harry sentia-se. Se ao menos a mão de Ametista estivesse ao seu alcance, estaria mais seguro. Entretanto, a garota, desde aquele reencontro fora dos portões de Azkaban, parecia quase aflita de estar próxima demais do namorado, mesmo que fosse para inocentemente segurar sua mão.

         - Personne – Harry ouviu uma voz rouca e feminina dizer. Parecia estar bem perto dele. – Esta é a terceira cela que encontramos vazia – ninguém respondeu ao comentário da mulher. – Sacks estava mesmo exact?

         Havia um carregado sotaque na fala. Harry suspirou e olhou para o lado esquerdo. Realmente, aquela era a terceira cela especial e nada. Ninguém. Vazia. Fechou os olhos por um momento e deu um passo a frente, seguindo supostamente os outros, tão invisíveis quanto ele. No entanto, antes que pudesse abri-los novamente, chocou-se com uma parede invisível. Na verdade, parecia mais como um corpo.

         O jovem paralisou, como se quisesse pedir desculpas, porém o suposto bloqueio humano pareceu retirar o feitiço de invisibilidade de si e tornar-se para Harry. Aquele era Sirius, que lançou um olhar quase que furioso para o afilhado, estranhamente sabendo que era ele. Harry enrijeceu, feliz por estar invisível ao padrinho, assim ele não perceberia o rubor de suas bochechas. Por mais que quisesse esquecer, Harry recordava muito bem a expressão matinal de Sirius ao descobrir Ametista deitada em sua cama, e não na dela.

         - Black – chamou a mulher mais uma vez. – Um vulto. Ali. – e assim, o feitiço também foi retirado sobre a portadora daquela voz, que se revelou levemente pálida. Seu longo dedo indicava a cela logo adiante para Sirius.

         O homem pigarreou, conforme sua expressão se aliviava. Diante de Harry, que apareceu visível a Sirius e à mulher, Ametista e os outros dois homens que os acompanhavam se revelaram.

         - Vocês dois – disse Sirius, apontando para Harry e Ametista. – Não se separem, entenderam? – Harry notou a dificuldade com que Ametista olhava para o pai. – Confio que saibam se defender, e já que gostam tanto assim de ficarem juntos... – murmurou, completando com certo cinismo.

         Assim, Sirius virou-se para a cela e caminhou junto da mulher, logo à frente. Havia ainda cerca de cinqüenta metros a serem percorridos até a nova cela. O homem quase negro e o muito pálido e com fundas olheiras caminhavam logo atrás e Harry e Ametista vinham por último. Com isso, Harry envolveu a mão da namorada com certo receio.

         - Que aconteceu? – cochichou bem perto do ouvido dela para que ninguém escutasse.

         Ametista engoliu em seco e apertou a mão de Harry.

         - Ele está furioso. – respondeu seriamente, a voz vacilando para sair em baixo tom.

         Harry suspirou desanimado. Cada vez mais parecia que o destino conspirava contra os dois. Primeiro, são afastados por pertencerem a Casas diferentes – e rivais. Agora, Sirius coloca-os contra a parede, não permitindo que namorassem debaixo do casarão dos Black em Godric's Hollow.

         - ABAIXEM-SE!

         O grito ecoou pelo corredor e todos desabaram contra o chão, colando seus rostos no piso empoeirado e sujo. Um raio de luz amarelo cruzou o ar e chocando-se na parede distante, a muitos metros atrás de onde estavam caídos.

         Ametista levantou o rosto do chão e encarou mais à frente, tentando distinguir algo no meio daquela leve camada de pó. Estava erguida uma figura negra, da cabeça aos pés, onde apenas o rosto, muito pálido, destacava-se de todo o resto. Os fios de cabelo eram negros e batiam nos ombros. Alto e magro. Ametista apertou os olhos, na esperança de enxergar melhor, e assim pôde descobrir quem era o inimigo: Severo Snape.

         - Severo? – murmurou para si mesma, descrente.

         Harry ergueu a face igualmente e notou o semblante de Snape, tão macilento e frio como de costume. Mas o quê exatamente ele estava fazendo em Azkaban? E atirando contra eles?

         Então, como se fosse em câmera-lenta usada nos filmes trouxas, alguém caminhou até parar ao lado dele. A vestimenta também era negra como a de Snape, porém o cabelo era comprido e castanho escuro e os olhos pequenos e de uma coloração estranha, como que um cinza. Harry não pôde deixar passar em branco a cor escarlate que a mulher usava em unhas tão longas. Assim que ela levantou o rosto e olhou diretamente a Sirius, ainda caído, Harry teve certeza. Ela era uma Comensal da Morte.

         - Não achei que teria coragem bastante para vir até aqui me ver, Black – disse a mulher, a voz incrivelmente aguda, quase que infantil. – Mas, já que veio, que tal uma festa de boas-vindas?!

         Sirius, assim como os outros, tentou levantar do chão. Entretanto, ouviram o bater de uma bota no piso gelado e sujo do corredor de Azkaban. Em seguida, um muxoxo de prazer.

         - Não, não, não – o sorriso da mulher era assustador. – Não tente me enganar, Black. Seu irmão não conseguiu, você também não conseguirá.

         Harry não entendeu aquele tipo de sentença dada pela mulher e continuou quieto. Porém, nada o preparava para o quê viria a seguir. Ametista, reunindo toda a coragem passada pela sua mãe, simplesmente ergueu-se do piso e apontou a varinha prateada para Snape e a mulher logo adiante, gritando:

         - AMOVERE!

         Um fio de luz acobreado saiu da varinha de Ametista, voando perpendicularmente aos seus companheiros caídos até chocar-se contra o corpo dos inimigos. Pegando os Comensais da Morte de surpresa, a mulher das unhas escarlates e Snape foram lançados para longe com uma velocidade e força incríveis, raspando seus corpos nas laterais do corredor, até desabarem no chão, metros adiante. Harry levantou-se, junto com os outros quatro presentes do grupo e encarou a namorada. Sua expressão era de intenso ódio.

         - Muito bem, garota – ouviu a voz infantil da mulher de longe, acompanhada de um bater de palmas. – Um ótimo feitiço, nível avançado... Até que para uma herdeira de Dumbledore você portou-se muito bem – a figura negra da mulher apareceu diante dos seis componentes daquele grupo e encarou Ametista. – Não é para menos que você tem o sangue do meu Mestre correndo nas suas veias.

         - Quem é você? – perguntou Ametista, ainda apontando sua varinha para a Comensal.

         A mulher sorriu, mostrando os dentes ligeiramente amarelos.

         - Oh! Black não contou nada sobre mim a vocês? – a Comensal fingiu estar ofendida. – Sou Bellatrix Lestrange – disse em alto e bom som, ao mesmo tempo em que Snape juntava-se a ela. – Também conhecida, e permita-me acrescentar, erroneamente, como a assassina de Thomas Black, irmão dele. – e indicou Sirius, com um sorriso ardiloso nos lábios.

         - Você matou Thomas! – vociferou Sirius, enfurecido.

         Snape não dizia nada, apenas encarava Ametista, quase que com pesar.

         - Não, Black, você o matou – disse Bellatrix, o sorriso aumentando. – Você o matou, pois permitiu que Thomas se tornasse um auror que nos perseguia. Permitiu que ele andasse e convivesse com as pessoas erradas...

         - Thomas não convivia com você! – respondeu Sirius, a raiva se espalhando pelos seus nervos.

         Bellatrix pareceu arregalar os olhos acinzentados ligeiramente, a expressão pasma contagiando sua pele enrugada e desgastada por anos trancada em Azkaban.

         - Não estou falando de mim, Black – Sirius permaneceu raivoso. – Oh! Vai me dizer que ainda não descobriu quem realmente matou seu irmão?!

         Lestrange soltou uma risada prazerosa e retirou a varinha de dentro das vestes. No mesmo momento, disse:

         - Vocês, amigos de Dumbledore, são mesmo muito idiotas e ingênuos – sua risada confundia-se com o riso de uma hiena. – Imagino que também se surpreenderam ao ver Snape aqui, certo?

         Naquele momento, Snape pareceu notar que algo poderia acontecer. Assim, procurou agitar as coisas, para provocar mais ação e menos conversa.

         - Estupefaça! – gritou, direcionando o golpe a Sirius.

         Imediatamente, Sirius pulou para o lado e jogou-se no chão. O quê se seguiu foi maravilhoso aos olhos de todos. A mulher que acompanhava o grupo de Sirius, Hauspie Bellacroix, retirou, obscuramente, duas varinhas de dentro de sua veste. Uma espécie de raio azulado conjurou-se no ar, como um flash de câmera trouxa, e as varinhas transformaram-se em duas espadas de médio tamanho, com pouco mais de sessenta centímetros.

         Em seguida, Hauspie pareceu tomar posição de ataque, com a postura curvada, o pé esquerdo servindo de apoio e o direito como maneira ofensiva. Assim, jogou uma de suas espadas sobre Snape, dando um passo a frente e curvando a espada contra o ar, enquanto a outra lhe dava apoio e defesa. Ao mesmo tempo em que a espada atingia o peito de Snape, a mesma cortava o ar, causando um fino assobio. A curvatura passou a milímetros de distância do Comensal da Morte. Quando Bellacroix voltou a posição original, um pequeno rasgo se formou na veste negra de Severo. O homem encarou a roupa e depois os olhos profundamente azuis da integrante da Ordem da Fênix. Aquilo seria divertido.

         "POF". Foi tudo que Harry ouviu em seguida. Aliás, quatro deles, todos em seqüência. Ainda Rudolph Rawlings, o homem pálido e sombrio, e Azíz El Kassab, o homem negro que conheceu o pai de Harry, permaneciam no mesmo corredor, junto de Ametista e ele. Entretanto, não houve tempo para processar que todos haviam aparatado, ou pelo menos Sirius, Hauspie, Severo e Bellatrix.

         - Devemos procurá-los – disse Rawlings, a voz assustadora. – Consigo farejá-los – Harry levantou as sobrancelhas, vendo Rudolph concentrar-se. – Por ali. – indicou penúltima cela especial daquele corredor.

Assim que fizeram menção de prosseguir com o caminho, mais deles apareceram. Harry, junto de Azíz, deu um passo para trás. No instante seguinte, três homens surgiram onde antes estavam Snape e Lestrange, e apontaram suas varinhas para os quatro presentes.

         - Faça aquilo novamente, garota. – pediu Azíz simpático, como num cochicho calmo naquela situação.

         Ametista postou-se entre todos e apontou a varinha, dizendo:

         - Amovere!

         Novamente, o feitiço acobreado foi lançado e os três homens voaram sem fim até baterem contra o piso daquele corredor. O baque seco e curto foi ouvido, seguido de arranhões de cascalhos no chão. Um sorriso despertou nos lábios grossos de El Kassab e o homem achou melhor que continuassem o caminho, desconfiando que talvez Sirius e Hauspie pudessem estar em perigo ou grande dificuldade.

         Caminhando juntos, Harry viu Azíz e Rudolph entrarem na cela especial seguinte. Porém, curioso, olhou para o chão e encontrou os três homens desacordados. Vestiam roupas de bruxos, nada de muito diferente. Não pareciam ser Comensais. Supostamente os chefes de cela que Victoria Sacks havia mencionado anteriormente.

         - HARRY!

         O berro alarmante logo ao lado de Harry o acordou. Era Ametista, seus olhos arregalados e tentando com todas as suas forças puxar Harry para baixo. Contudo, ao olhar para frente, pôde notar o porquê do desespero da namorada. Conhecia muito bem aquele brilho e tipo de feitiço. Era uma Maldição Imperdoável. A coloração não enganava. Havia como se fosse um brilho obscuro naquele encantamento. O próprio da Maldição da Dor, a Cruciatus. E Ametista, que também já havia sido atingida por ela, reconheceu-a rapidamente.

          Foi aí que Harry recordou uma de suas aulas do ano anterior que tivera com Arabella – aqueles treinos especiais, que deveriam prepará-lo para situações exatamente como aquela. Existia, de fato, um feitiço que reverteria uma Maldição Imperdoável, como a da Dor. Nunca havia sido testada antes contra o Avada Kedavra, porém já se mostrara eficaz contra a qual estava sendo aplicada sobre eles. Harry havia tentado realizá-la na época, mas não conseguira. Precisava de muita vontade e concentração. Quase como o nível de dificuldade para conjurar um perfeito Patrono a fim de afastar dementadores. Todavia, aquele feitiço vinha com tanta velocidade para cima dele e de Ametista que não custava nada tentar. Não queria ver a jovem sendo atingida uma segunda vez pela Maldição, como no ano anterior, aplicada por Lúcio Malfoy. Então, Harry postou-se à frente de Ametista.

         - Harry! Não faça isso! – pediu Ametista em desespero, recordando-se com clareza a dor provocada por aquela maldição.

         Harry ignorou-a completamente, dizendo com nitidez:

         - Alterum latus!

         De olhos fechados e com a varinha apontada contra o peito, cruzando com o outro braço estendido, Harry colocou-se à frente da namorada para protegê-la. No entanto, Ametista fora testemunha da aura esbranquiçada que surpreendentemente criara-se envolta do corpo dele. Assim que o raio do feitiço da Dor atingiu Harry, era como se seu corpo tivesse absorvido toda a energia da Maldição. Ametista segurou a respiração, os olhos arregalados. No momento que se seguira, a aura branca tornou-se esverdeada e permaneceu envolvendo Harry, da cabeça aos pés. A jovem franziu a testa, maravilhada e amedrontada. Não tinha a mínima idéia do que estava acontecendo. Assim, toda a energia ou a aura que se formara e envolvera Harry se reuniu no cruzamento dos braços estendidos junto da varinha sobre o peito do jovem. Era como uma bola de energia. Com um piscar de olhos, foi revertida ao homem que a lançara.

         Ametista seguiu com o olhar o feitiço se reverter até o Comensal – sim, aquele só podia ser um Comensal da Morte, e um antigo hóspede de Azkaban – e o homem cair no chão, berrando de dor. A jovem olhou para ver se Azíz ou Rudolph apareciam para ajudá-la, quando voltou o olhar para Harry. O jovem permanecia da mesma forma, na exata posição. A garota soltou a respiração e, assim, Harry pareceu desmaiar. Seu corpo amoleceu, suas pernas não ofereceram mais apoio a ele e então seus olhos se fecharam rapidamente, cansado demais para ouvir ou responder aos estímulos de Ametista, desesperada, pensando que ele estivesse doente ou coisa parecida. Seus braços caíram estendidos ao lado de seu tronco e sua boca ficou seca.

Daquela forma, então, Ametista colocou-se junto dele e caiu com Harry nos braços, a preocupação tomando sua mente e não permitindo que ela saísse dali para pedir socorro a nenhum dos componentes de seu grupo. Azkaban não poderia encontrar Harry Potter desmaiado no meio de um dos corredores da sessão das celas especiais, no subsolo. Nunca. Ainda mais com os seguidores de Voldemort seguindo-o e querendo tanto seu sangue quanto seu Mestre. Os gritos do Comensal sofrendo com a Maldição da Dor cessaram. Ametista simplesmente aninhou Harry em seus braços e torceu para que ele acordasse logo ou que alguém os encontrasse ali. Alguém da Ordem da Fênix, preferencialmente.

***

Lestrange sorriu, os olhos acinzentados encarando Sirius com prazer. O bruxo estava com a varinha apontada a ela e já havia desarmado-a, porém, aquilo não mudava nada. Comensais da Morte tinham o poder de conjurar feitiços sem suas varinhas.

         - Pensei que os longos doze anos em Azkaban haviam feito-lhe aprender, Black – disse Bellatrix. – Não há certo ou errado, culpado ou inocente nesta estória de seu irmão. Black colocou-se na armadilha do assassino. E colocou-se com muito prazer, se me permite acrescentar.

         Sirius enrijeceu. Nunca gostava das discussões sobre a morte de seu irmão. Thomas fora um incrível auror no Ministério da Magia, o melhor, e havia sido assassinado pelos seguidores de Voldemort. Ou pelo menos, era o que indicava.

         - Se você diz que não matou Thomas, Lestrange, quem matou então? – indagou, a têmpora latejando de nervoso.

         Bellatrix deu uma daquelas suas risadas comparadas a de hienas.

         - Se disser, perderá a graça nossa batalha, Black – e com isso, Lestrange apontou para Sirius com a mão aberta para cima. – Estupore!

         Sirius conseguiu escapar por um triz. Seu corpo se chocou contra a parede e pôde notar que havia mais alguém do lado de fora. Suspirou ao lembrar de que Rawlings e Azíz estavam com Harry e Ametista. Pelo menos seguros deveriam estar. Principalmente porque quem cruzava o caminho de Rudolph Rawlings não saía vivo para contar como havia escapado – ninguém escapava.

         - Incendio! – conjurou Sirius de sua varinha, indicando o lustre acima da cabeça de Bellatrix, que caiu com força e intensidade, totalmente em chamas.

         Bellatrix, por poucos centímetros, conseguiu paralisar o lustre tomado pelo fogo e ergueu o braço até a altura do objeto, gritando:

         - Vingardium Leviosa!

         Não apenas o lustre em chamas, mas também a mesa do chefe daquela cela especial, a cadeira e tudo que havia sobre elas foram lançadas como míseras pedras sobre Sirius. O bruxo apontou a varinha para cima de depois para o centro dos objetos.

         - Impedimenta!

         No entanto, Sirius não esperava que eles não paralisassem no ar como deveriam, e sim desviassem de seu caminho original e dividissem em dois grupos, tentando atingi-lo pelas laterais de seu corpo. Sirius abaixou-se e rolou no piso sujo, erguendo-se em seguida e correndo até Lestrange. A Comensal da Morte arregalou os olhos e não esperava que Sirius erguesse sua perna direita e desse um chute em seu estômago. Bellatrix cambaleou para trás até encostar-se à parede oposta e ofegar, sem forças. Com isso, Sirius apontou novamente a varinha para Bellatrix.

         - Comminuere!

         A varinha de Sirius estava apontada na direção do braço direito de Lestrange. Assim, com o feitiço, Bellatrix soltou um grito quase que ensurdecedor. Sirius soltou um sorriso de vitória. O braço de Bellatrix estava certamente em frangalhos, completamente quebrado e partido em pedaços.

         A Comensal encarou Sirius com extrema ira e sorriu com ódio. O bruxo franziu a testa, sem entender, e então sentiu uma certa dormência em suas pernas. Olhando para baixo, pôde notar que havia um certo líquido viscoso escorrendo por seus membros inferiores que os deixavam fracos e sem capacidade de exercer nenhum apoio. Então, rapidamente, Sirius desabou no chão e gritou de dor. Suas pernas estavam queimando. Mas ali não havia nenhuma chama.

         Bellatrix soltou uma risada enfraquecida e apoiou o braço direito sobre o esquerdo, na intenção de fazê-lo parar de doer. Logo após isso, abaixou até Sirius e disse:

         - Este é o feitiço Exardescere – o bruxo mordeu a boca, tentando conter a dor. – Ele não provoca queimaduras em sua pele ou chamas que queimem até suas entranhas. Não. É um tipo de chama que se espalha pela sua corrente sanguínea e que logo estará infestando seu corpo, fazendo seu sangue queimar, estourar suas artérias e veias, até atingir os ossos e órgãos. Por fim, você explode. De dentro para fora.

         - Estupefaça!

         No exato momento, Sirius não soube muito bem de onde veio aquele raio que atingiu Bellatrix Lestrange, mas realmente não importava. Somente sabia que precisava de um contra-feitiço rapidamente. Fechando os olhos, corroendo-se de dor, viu Azíz agachar-se ao seu lado e encará-lo com um certo nervosismo.

         - Que ela fez em você? – perguntou El Kassab calmamente.

         Sirius abriu a boca e era como se precisava urgentemente de água, muita água.

         - Exardecere... – murmurou o nome do feitiço, mas estava fraco demais para explicar.

         Subitamente, Azíz fechou os próprios olhos e tocou a região do peito, do coração de Sirius e procurou concentrar-se. Sirius sentiu uma forte pontada em seu coração e ouviu em seguida:

         - Abiit Pestilentia! – para seu alívio, seu corpo foi envolvido por uma energia fria, glacial, e era como se todo seu corpo estivesse expulsando o calor que há pouco o consumia com força.

         Ao respirar, uma certa fumaça saía insistentemente. Azíz retirou o próprio casaco escuro e colocou-o sobre Sirius, como se o bruxo estivesse com muita febre. Todo seu corpo estava suando e a boca voltava a salivar. Sirius procurou fechar os olhos novamente, trêmulo.

         Enquanto isso, notou que alguém estava perturbando Bellatrix. Azíz assistia o duelo com certo interesse. Rawlings era mesmo um ótimo duelista. Porém, seus segredos giravam em torno de como conseguia encurralar o inimigo. Naquele momento, pro exemplo, estava trocando chutes e socos com Bellatrix, como se ambos lutassem alguma arte marcial praticada pelos trouxas. Entretanto, Azíz via com clareza a forma com que Rudolph conduzia a luta para a parede, a fim de deixar Lestrange sem escapatória.

         Rawlings aproveitou que Bellatrix pareceu desviar de seu punho esquerdo e conjurou a própria varinha entre seus dedos rapidamente, pronto para dar o bote. A Comensal da Morte envolveu a perna direita na esquerda de Rudolph e colocou a mão em seu ombro direito. Rawlings apontou a varinha para a perna esquerda de Lestrange e então ambos gritaram:

         - Alligare!

         El Kassab sorriu assim que percebeu o golpe de Rawlings. Aquele era um feitiço de acorrentamento, onde o membro indicado ficaria suspenso ou preso ao oponente, como arma própria. Lestrange havia apontado o seu para o ombro direito de Rawlings, a fim de paralisar seu braço direito, e Rudolph apontou sua varinha para a perna que dava apoio a Bellatrix. Então, como num rápido movimento a velocidade incrível, Rawlings conseguiu pressionar Bellatrix contra a parede e fugir do feitiço de acorrentamento da Comensal. Lestrange arregalou os olhos e viu-se sem saída. Assim, antes que Rawlings pudesse dar o golpe final, Bellatrix desapareceu.

         Sirius, ainda caído, trêmulo de febre, ouviu Bellatrix aparatar daquela cela e franziu a sobrancelha. Quando a encontrasse novamente, não teria tempo para aparatar.

         Quase que mancando por um chute tomado, Rawlings emparelhou-se a Sirius e Azíz. Em seguida, encarou a outra batalha que acontecia na sala. Era Bellacroix e Snape.

"Você está brincado, Snape?! Acabe logo com isso!". Snape ofegou, abaixando-se e levantando em seguida, ouvindo os gritos de repreensão de Bellatrix em sua mente. Mesmo aparatando, sabia que Bellatrix estava observando e estivera durante a luta contra Sirius e Rawlings. Seu olhar recaiu sobre Bellacroix. A mulher estava com a espada da mão direita apontada para o chão, notando que Snape havia escapado de seu golpe. Assim que ela levantou o olhar e cruzou com o de Snape, franziu a testa. Facilmente, ele pôde entender que havia algo de errado.

         - Você não vai me atacar, mon petit? – perguntou Hauspie, os lábios vermelhos curvando-se para formar um sorriso sarcástico.

         A pele macilenta do Comensal se enrugou numa expressão nervosa. Se ela queria ação, então teria ação. Estendeu a mão direita na direção de Bellacroix.

         - Estupore!

         O feitiço de estuporamento saiu da ponta dos dedos de Snape, sem o uso da varinha, e voou reto no centro do corpo de Bellacroix. Entretanto, a mulher rodou em seus calcanhares e bloqueou o raio do encantamento com uma de suas espadas. Ao bater do feitiço na lâmina de metal, além de um intenso som projetou-se pela cela, como o feitiço desviou e passou a centímetros de distância da posição de Sirius, ainda caído, e Azíz ao seu lado.

         Seguidamente, Snape deu um passo para trás assim que percebeu o andar de Hauspie, chegando mais perto de seu corpo e emparelhando-se a ele, enquanto sua espada da mão direita bloqueava o caminho para frente e a da esquerda o caminho para trás. Severo admitiu que a mulher era incrivelmente habilidosa com aquelas armas, além de muito veloz. Hauspie, por sua vez, ergueu a perna esquerda até a região do tórax de Snape e chutou-o com força.

         Retirando a espada localizada na mão direita do chão, Hauspie ouviu Snape exclamar de dor e cair para trás, batendo o corpo contra o chão da cela especial. Um novo sorriso despertou em seu rosto. Enquanto Snape colocava a mão esquerda sobre a região atingida pelo chute de Hauspie, a mulher agachou até a altura da cabeça do Comensal e indagou:

         - Eu desconfio do que esteja fazendo, Snape. Então não tente me enganar. – e, levantando, colocou a ponta da espada direita roçando o nariz pontiagudo do bruxo.

         Contudo, Bellacroix não tinha idéia de que Snape estivesse com sua mão direita apontando suas pernas, disfarçadamente.

         - Locomoto Mortis! – disse Snape baixinho, fazendo com que Hauspie soltasse uma exclamação de irritação e profundo desprezo pelo golpe de Severo, sentindo as próprias pernas paralisadas pelo efeito do feitiço.

         Assim, Snape moveu a perna esquerda, mais próxima dos membros inferiores de Hauspie, completamente paralisados, e atingiu-a com um chute, como uma rasteira. Imediatamente, Bellacroix foi ao chão, caindo próxima a Snape, chocando sua cabeça contra as grades de ferro da jaula localizada no centro daquela cela especial.

         Snape procurou levantar do piso rapidamente e logo ajeitar o cabelo seboso que grudava no rosto, suado pelo calor do duelo contra a mulher. Hauspie, sabendo que o feitiço havia sido desfeito assim que Snape a atingira, ergueu-se igualmente do chão e apertou as espadas contra suas mãos. Snape levantou uma sobrancelha, esperando que ela o atacasse. E assim ela o fez. Hauspie deu um passo a frente, sacando a espada direita contra o corpo de Snape, fazendo-o pular para trás, relutante. Em seguida, deu um giro de atingiu o último passo dado por Severo, bloqueando seu caminho novamente. Porém, desta vez, Snape, aproveitando a proximidade com o corpo de Bellacroix, encostou a própria mão no tórax da mulher e sussurrou:

         - Amovere!

         Um borrão acobreado surgiu na barriga de Hauspie, que foi lançada fortemente pelos ares, até bater contra as grades da jaula da cela especial. Algumas lascas da parede de pedra caíram junto com o corpo dolorido de Bellacroix. A mulher segurou o lábio inferior com os dentes superiores e conteve um gemido de dor. Suas espadas estavam largadas no piso a alguns metros dela. Snape cruzou os braços e começou a andar até ela. Hauspie, então, ergueu a mão esquerda e ordenou que a espada esquerda atingisse Severo, com um único movimento de seus dedos. O mesmo também com a mão direita.

         Velozmente, as espadas, como se tivessem vida própria, ergueram-se do piso acompanhadas de uma névoa esbranquiçada, e voaram rasantes até Snape. O Comensal deu dois passos rápidos e quase amedrontados para trás e, antes que pudesse perceber, ambas estavam cravadas contra a parede, cada um ao lado de sua cabeça. Entretanto, Snape pôde sentir que também haviam rasgado, por mais superficial que fosse, seus ombros. Apertou os olhos, sentindo a ardência dos ferimentos provocados pelas afiadas espadas.

         Na parede oposta, Hauspie fechou os olhos, como se agora houvesse tempo suficiente para descansar enquanto Snape estivesse paralisado. Todavia, estava muito mais interessada em acabar logo com a farsa. Notando que Sirius Black estava caído como eles, junto de Rudolph e Azíz, Bellacroix levantou-se e caminhou até Snape.

         O rosto do Comensal expressava raiva e irritação, além de estar escondendo fortemente a dor que sentia naquele instante. Hauspie encarou Snape com seriedade e retirou as duas espadas que o encurralavam. Depois, tocou o ombro ferido de Snape. O Comensal apertou os olhos mais uma vez.

         - É melhor que ela não tenha percebido nada, petit amour – disse Hauspie, tomando uma expressão preocupada. – Seu disfarce não pode cair.

***

Alcançando a última porta de Azkaban, Ametista olhou para o céu. Rony e ela estavam carregando Harry nos ombros, meio arrastado pelo chão, desde que o primeiro grupo, o de Lupin, os encontrou cinco minutos depois no corredor para a segunda sessão de celas especiais. Azkaban parecia muito como um labirinto. E assim, Ametista não tinha nem idéia de que já estava escurecendo.

         Seu olhar recaiu sobre o namorado. Rony colocou-o no chão, junto de Ametista, e foi conversar com Lupin e Victoria, que pareciam extremamente nervosos. Hermione estava mais afastada, muito perto da porta de entrada de Azkaban, como se estivesse esperando um sinal de Sirius e os outros. Ametista suspirou. Não foi de muita ajuda, mas mesmo assim preocupou-se com a demora da saída de seu pai de dentro da prisão bruxa. Olhou novamente para Harry e notou que seu semblante não estava mais calmo como de princípio, após seu desmaio. Agora, parecia estar passando por uma dor incômoda. Sua testa estava franzida e a cicatriz de raio brilhava levemente, como se estivesse fervendo.

         - Encontramos mais cerca de quinze seguidores, não Comensais, mas ajudantes dos prisioneiros de Azkaban e de Voldemort, até encontrarmos vocês – disse Lupin para a garota, que ainda observava Harry. – Você tem certeza de que Sirius havia aparatado junto de Hauspie?

         Ametista concordou com a cabeça, o olhar sobre o jovem desacordado. Harry havia conseguido absorver uma Maldição Imperdoável e revertê-la tão simplesmente. E para salvá-la. Sua respiração vacilou.

         - Sirius! – gritou Hermione distante de Ametista. – Sirius! Aqui! Estamos aqui! – imaginava que Hermione estava agitando seus braços para que pudessem enxergá-los.

         Em poucos segundos, Hauspie, Rudolph, Azíz e Sirius aproximaram-se do grupo. Ninguém disse nada, apenas ordenaram que todos entrassem na mata que circundava a estrada de entrada de Azkaban. Num tom urgente. Ametista franziu a testa, ficando cada vez mais preocupada.

         Depois que todos haviam transportado a cerca e adentrado na floresta, Ametista ouviu a voz rouca de Hauspie Bellacroix perguntar sobre Harry. Então, ela contou tudo que acontecera naquele corredor do subsolo. Sirius estava entretido numa conversa séria com Lupin e Victoria. Rudolph e Azíz também. Mais afastados, Zylkins e Stevens pareciam curar seus ferimentos. Rony abaixou-se e ficou ao lado de Ametista.

         - Harry enlouqueceu? – indagou com a face enrugada.

         - Não sei, Rony – respondeu Ametista, ainda sem retirar o olhar do jovem. – Ele só tentou me proteger. Eu só não imaginava que ele pudesse fazer algo como aquilo, digo, é quase impossível reverter ou evitar uma Maldição Imperdoável, certo? – e seu olhar então se desviou para o ruivo.

         - Bem, ele é Harry Potter, não é? – suas sardas não diminuíram o rubor das bochechas de Rony. – Vamos dizer que ele é meio que predestinado a evitar ou reverter Maldições. Ele só está vivo aqui por causa disso, não é mesmo?

         A sonserina encarou Rony com certo receio.

         - Harry é muito mais poderoso do que nós imaginamos, Ametista – disse Rony seriamente. – Ele é o mais poderoso de todos nós aqui neste exato momento – Ametista sorriu quase que orgulhosa. – Se bobear, até mais que seu avô, sabe.

         Ametista suspirou com alívio. De fato, Harry Potter não havia deixado de ser Harry Potter. Revertendo ou evitando Maldições Imperdoáveis, ele era mesmo o Menino-que-sobreviveu e por quem ela havia se apaixonado perdidamente.

         - Todos vocês tão entretidos nos próprios problemas que não percebem se um de seus companheiros é morto, aqui mesmo, entre vocês. Patético.

         Cada um dos integrantes da Ordem da Fênix, alunos de Hogwarts e simples bruxos tornaram-se para a direção de onde veio aquela voz. Sirius sentiu-se enfurecer. Era David Adams. E não somente ele. Envolvida em seus braços estava Hermione. Sem escapatória.

         Rony imediatamente levantou, num modo furioso, suas orelhas ficando vermelhas e seus lábios tão escarlates quanto seu sangue.

         - SOLTE-A! – ordenou num tom obstinado ao Comensal.

         Adams sorriu.

         - Você acha mesmo que receberei ordens de um garotinho como você – insinuou David, o sorriso irônico se espalhando por seu rosto. – A garota é esperta demais para continuar viva, acho que mereço um prêmio, afinal ajudei a libertar todos os prisioneiros que apoiavam meu Mestre da famosa e temível Azkaban – Adams concentrou seus olhos verdes em cada um deles. – Ela será minha recompensa – Hauspie tentou se mover. – e não tentem me enganar!

         Quando menos esperavam, todos os que estavam em pé sentiram-se paralisados. David riu em alto e bom som.

         - Ótimo! Isto é brilhante! – comemorou, olhando em volta. – Vocês são mesmo fáceis presas! Ainda não sei como puderam permanecer e saírem vivos após duelos e lutas contra Comensais da Morte como eu. É praticamente como ter o poder de todo o mundo em suas mãos – seus dedos começaram a trilhar a região estomacal de Hermione. A garota estava imóvel, envolvida pelos braços de Adams. – Eu posso matar agora a garota que vocês a assistiriam morrer sem o menor pesar... Oh! Bom, com um imenso pesar, mas passariam a se odiar pelo resto de suas vidas por terem-na visto morrer e não puderam fazer absolutamente nada – os dedos continuavam a trilhar o abdômen de Hermione perigosamente. – Absolutamente nada!

         Rony estava paralisado, sem poder sequer falar algo, olhando suplicante para Hermione, nos braços do Comensal. O olhar da garota era de pavor. Havia sido pega tão de surpresa que nem havia tido a chance de entender que estava prestes a morrer. David Adams não a perdoaria, nem após cem anos sem vê-la. Afinal, Hermione havia descoberto o grande segredo de sua técnica de ataque e defesa, por qual sempre fora famosa no mundo do Terror, e poderia arruiná-lo, e não apenas isso. Hermione conseguia ver com detalhes como Adams executava seus golpes, era como se ela pudesse prever o quê ele faria a seguir. E alguém como ela não poderia, ou melhor, não deveria ser mantida viva e exposta a um relacionamento de amizade e apoio a Dumbledore e os seguidores patéticos dele. Não, Adams deveria evitar algo como isso a qualquer custo.

         - Então – retomou ele após divagar em pensamentos. – Querem despedir dela?

         E, com uma risada, criou uma luz esverdeada da ponta de seus dedos até atingir toda a região torácica de Hermione. David ainda não havia aplicado o golpe final, mas Hermione já sabia que era um Avada Kedavra. Era como se ela já soubesse muito antes que seria pega por ele. Assim que ela fechou os olhos, com medo de encarar seus amigos e Rony, segundos antes de ser cruel e friamente morta na frente de todos eles, uma visão tomou sua mente. Era uma flecha vindo em sua direção.

         Seus olhos abriram-se e foi como se a visão estivesse tornado-se realidade. Jack Wingnut não estava aparente para David Adams porque havia entrado anteriormente na mata para protegê-los parcialmente dos animais que havia ali. Então, assim que voltou e viu a situação, sacou sua flecha e seu arco, direcionando-os a David e Hermione. Com sorte, ele não erraria. Não erraria.

         Entretanto, a flecha não era invisível. Desta forma, David Adams viu a arma voar em sua direção com Hermione nos braços e mudou de posição, a fim de que a flecha acertasse apenas Hermione. Com isso, retirou a mão do tórax de Hermione e jogou-a para frente, como se fosse um escudo. Com todas suas forças reunidas, Rony tentou gritar por socorro e salvar Hermione, porém algo mais espetacular que aquilo aconteceu.

         A flecha dourada de Jack paralisou a frente de Hermione, no ar, a milímetros de seu peito. Hermione ainda sentiu como se ela houvesse picado-a, mas não a perfurado. Seguidamente, lançou uma luz amarelada que cegou a maioria daqueles ali presentes. Adams fechou os olhos imediatamente e caiu no chão, tonto com a forte luminosidade. Naquele momento, Harry despertou. Pouco depois, a luz dourada diminuiu até desaparecer e Hermione permaneceu paralisada, encarando a flecha que estava a centímetros de seu corpo, chocada. Era como se a flecha hesitasse em acertar Hermione, como se ela obedecesse à garota. Assim, Adams aparatou e todos voltaram a se mover.

         Rony correu na direção de Hermione e a abraçou com muita força. A garota separou-se do namorado e arriscou pegar a flecha suspensa no ar. Assim que o fez, tudo clareou. A flecha nunca poderia acertá-la, afinal Hermione havia visto tudo aquilo muito antes. Agora, eram visões. Teria de contar a alguém. Havia algo de errado, ou de muito certo.

Ametista ajudou Harry a levantar do chão, ainda cambaleante e ofegou. Todos os outros ali presentes correram até Hermione e a observaram. Fora quase como um milagre. E assim, juntos, abandonaram Azkaban com a missão não totalmente cumprida e com o mundo certo que muitos pesares viriam. A guerra eclodiria em pouco tempo. Voldemort havia recuperado seu esquadrão. E Dumbledore fortalecido o seu.

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NO PRÓXIMO CAPÍTULO:Após o primeiro passo de Voldemort na construção de seu esquadrão das Trevas, os integrantes da Ordem da Fênix se reúnem em Hogwarts para fazer um balanço sobre o parcial fracasso na investida em Azkaban. Somente alguns não contavam com presenças especiais e interesses além de salvar o mundo do Lorde das Trevas e seu Império de Terror.

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