NO CAPÍTULO ANTERIOR: Após a missão fracassada em Azkaban, todos os novos integrantes da Ordem da Fênix sentam e conversam sobre o futuro do mundo bruxo, e também trouxa. Aos poucos, cada um se revela mais estranho e exótico que o outro, causando uma certa desunião. Como Dumbledore lutará junto de bruxos altamente capacitados mas com seus orgulhos feridos?

***

CAPÍTULO VINTE E CINCO - Cruzando Eras Até o Destino

Da janela da sala de Transfiguração, Harry tinha a testa franzida, observando um único ponto direto. A cabana de Hagrid. O guarda-chaves e professor de Trato de Criaturas Mágicas de Hogwarts não dava sinal de vida há pouco mais de um mês e Harry estava preocupado. Apenas recordou que Hagrid já não estava mais em Hogwarts antes mesmo do feriado de final de ano quando, naquela manhã, notou que a cabana estava aberta e Canino estava pulando do lado de fora. Então, provavelmente, ele deveria estar de volta.

         - Que tal irmos dar uma passadinha no Hagrid depois das aulas, Rony? – propôs Harry ao amigo.

         - Claro – respondeu o Weasley, dando uma checada final em suas anotações de McGonagall. – Chamarei Hermione também.

         Harry concordou com Rony e pensou que não haveria jeito de convidar Ametista também porque no dia anterior, a garota havia feito uma poção explodir no rosto de Snape e o professor deu-lhe uma detenção que, pior, seria cumprida com Ártemis Figg à tarde. Harry não tinha conhecimento nenhum daquela carta que Ametista enviara a Snape no Natal, mas tinha plena certeza de que a namorada não havia ficado nem um pouco satisfeita de ver o mesmo professor atirando contra eles em Azkaban.

         Assim, pouco depois das três da tarde, ele, Rony e Hermione rumaram até a cabana de Hagrid nos jardins de Hogwarts. A porta estava aberta e Hermione checou que a cabana estava vazia. A jovem voltou-se a Harry e Rony, indicando que ele não deveria estar lá. Então, repentinamente, Rony foi jogado contra o gramado, Canino sobre ele lambendo-o. Harry e Hermione caíram na risada ao ver a face constrangida e contraída de Rony, tentando desvencilhar-se da enorme língua cheia de saliva do Canino.

         - Oh! Saía daí Canino! – repreendeu a voz de Hagrid, não muito longe dali. – Olá garotos!

         Hermione tornou-se para Hagrid e levou quase um susto. O gigante estava mudado. Muito. Suas roupas enormes, marrons e sujas deram espaço a verdes e vermelhas, num bonito conjunto, muito alinhado e bem limpo para seu tamanho e sua atividade na Floresta Proibida – era dali que Hagrid vinha. Sua barba sempre tão embaraçada e encaracolada estava pelo menos três dedos menor, assim como sua cabeleira, apesar de ainda muito volumosa e fofa. As bochechas estavam bastante rosadas e Hagrid vinha na direção deles com as duas mãos para trás. Ao ouvir o comando do dono, Canino desceu de Rony e correu para parar ao lado do gigante. Harry também franziu sua testa ao reparar como Canino parecia muito mais animado do que sempre fora, tão lento e medroso.

         Rony levantou do chão e bateu as vestes, retirando a grama que ficara grudada nelas. Em seguida encarou Hagrid e levou um susto com a mudança. Enquanto erguia a cabeça, a saliva acumulada em seu rosto lambido por Canino começou a cair em sua roupa.

         - Eca! – exclamou furioso. – Hagrid, você teria alguma coisa para eu me limpar?! – sua voz parecia nervosa.

         Harry e Hagrid riram enquanto Hermione olhava atravessado para Rony, com nojo de chegar muito perto dele. Assim, adentraram na cabana e logo Harry e Hermione acomodaram-se no sofá e Rony limpava seu rosto com a água da pia da cozinha. Hagrid sentou em sua poltrona favorita, ao lado da lareira, e sorriu para os dois.

         - Então, o quê traz vocês aqui?

         - O quê? – surpreendeu-se Harry. – Você sumiu por mais de um mês e ficamos preocupados! Que aconteceu? E por que toda essa mudança repentina?

         Hagrid corou ainda mais. Rony voltou da pia com o rosto pingando e pediu um lenço para Hagrid. O gigante jogou para Rony o tapete que ficava ao lado de sua cama. Rony olhou torto, e depois para Harry e Hermione, que deram de ombros.

         - Hagrid – chamou Rony, fazendo o professor encará-lo. – Você me deu o seu tapete.

         - OH! – gritou Hagrid, mais corado ainda. – Não havia percebido, Rony, me desculpe! – e muito envergonhado, Hagrid jogou uma toalha que estava sobre sua cama, toda xadrez e com as cores azul, branco e vermelho.

         Hermione pigarreou e Hagrid voltou a olhar para ambos.

         - Minha mudança... Sim! – e então, Hagrid ergueu-se de sua poltrona e foi desesperado até um baú ao pé de sua cama. Harry, Hermione e Rony trocaram olhares confusos. – Eu trouxe presentes para vocês! – exclamou o gigante, sorrindo plenamente aos três.

         Enquanto Rony sentava-se ao lado de Hermione no sofá, Hagrid jogou sobre ele e aos outros dois caixas coloridas de presentes. Os três encararam-se novamente e abriram os pacotes. Harry ganhara uma réplica de um pomo de ouro, com inscrições numa língua que não entendia. Hermione, um livro repleto de informações sobre Beauxbatons. E por fim, Rony fora presenteado com um estranho aparelho que parecia impulsionar alguma coisa. Havia uma grande boca e atrás dela um cano de impulsão. Rony franziu a testa.

         - Que é isso, Hagrid?

         - É o último lançamento em treinamento para goleiros – Hagrid riu enquanto Rony arregalava os olhos. – Você deposita uma goles nesse cano e ela tem memória própria, sendo impulsionada para qualquer direção. E, é claro, ela se divide em três.

         Antes que Rony pudesse agradecer Hagrid imensamente, Hermione disse:

         - Mas Hagrid, você não tem todo esse dinheiro, certo? – o gigante arqueou as sobrancelhas. – Sem ofensas, mas comprar o último lançamento de um aparelho desses não deve ser nada barato.

         - Agora eu tenho dinheiro. – respondeu Hagrid com simplicidade.

         - Como assim? – indagou Harry, tão perdido quanto Rony e Hermione.

         Hagrid levantou novamente de sua poltrona e andou pela cabana, como se quisesse conter a ansiedade. Hermione cruzou os braços, curiosa. Harry continuou com a testa franzida, esperando uma resposta. E Rony parecia mais entretido no aparelho que ganhara do que em qualquer outra coisa.

         Então, o professor tornou-se para os três e esticou o braço esquerdo, mais precisamente a mão, com todos os dedos afastados e completamente esticados. Foi quando Harry, Hermione e Rony encararam aquilo: era uma aliança dourada.

         - Ha-Ha-Hagrid – gaguejou Harry. – O que exatamente é isso?

         O gigante se iluminou.

         - EU ME CASEI!

         Rony, que estava sentado na ponta do sofá, caiu no chão. Harry e Hermione ficaram boquiabertos, sem nenhuma reação, chocados demais para poderem responder algo ao gigante. Rony, do jeito que caiu, ficou. Os três estavam sem palavras. Hagrid havia se casado.

         Foi Hermione a primeira a voltar a realidade.

         - Ha-Hagrid – a jovem gaguejou como Harry. – Você casou com quem?

         - Como com quem, Hermione?! – assustou-se Hagrid. – Com a Olímpia, é claro.

         - Você se casou com a Madame Maxime, a diretora de Beauxbatons? – repetiu Hermione, chocada demais para entender e assimilar a notícia.

         Hagrid concordou com a cabeça, orgulhoso. Então, agora o gigante era marido da diretora da Escola de Magia Beauxbatons. Isto era coisa grande! Rony pareceu passar do primeiro choque e voltou a sentar no sofá. Em seguida, encarou Hagrid.

         - Quando isso aconteceu?

         O professor de Trato de Criaturas voltou a sentar na poltrona e observou Harry, Rony e Hermione ainda chocados.

         - No meio do mês passado – confessou ele. – Na verdade, eu tive de me ausentar de Hogwarts porque havia pedido Olímpia nas férias de julho e ela aceitara – seus olhos brilhavam enquanto dizia. – E depois do casamento, nós fomos passar alguns dias no interior da França, na nossa lua-de-mel.

         Hermione trocou um olhar com Harry.

         - E você não pôde sequer nos contar que estava noivo? – indagou Harry sentido.

         - Eu não podia, Harry – respondeu Hagrid constrangido. – Era um combinado com Dumbledore, por causa de uma suposta revolta de gigantes que poderia ocorrer – os três jovens ficaram confusos. Não sabiam nada de revolta de gigantes. – Até queria fazer o casamento aqui em Hogwarts e convidar todos vocês, mas não pude. Sabe como é, a noiva geralmente escolhe essas coisas – murmurou ele, enrubescendo mais uma vez. – Então acabei me casando em Beauxbatons.

         Um silêncio se instalou na cabana de Hagrid. Claro que Harry, Rony e Hermione estavam felizes por Hagrid. Porém, a surpresa era tão chocante que as palavras lhe faltavam. Rony retomou o assunto.

         - Mas, Hagrid, o quê você quis dizer com "agora eu tenho dinheiro"? – indagou Rony confuso. – Você não pretende dar o golpe do baú na mulher, certo?

         Antes que a situação ficasse mais séria, Harry e Hermione riram novamente da pergunta de Rony. Era óbvio que Hagrid nunca faria mal a ninguém, muito menos dar o golpe do baú em Olímpia Maxime.

         - Não, Rony, não pretendo fazer isso e não pretendia desde o dia em que a pedi em casamento – Rony apertou os lábios, como se pedisse desculpas. Hagrid prosseguiu. – Eu apenas só tinha um impasse com o Gringotes, e só poderia retirar todo o meu dinheiro de lá somente após meu casamento.

         - Hum... – balbuciou Rony.

         Pouco depois de uma hora, em que Hagrid contara tudo sobre o casamento e sua lua-de-mel, Harry, Hermione e Rony deixaram a sua cabana. Contudo, antes de Harry seguiu seu caminho, tornou-se para o gigante.

         - Hagrid... – chamou Harry. – Você não pretende ir embora de Hogwarts, não é?

         O professor sorriu para Harry.

         - E deixá-lo aqui? Claro que não!

         Harry agradeceu, antes de dar um abraço contente no gigante. Hagrid tinha mesmo um coração de ouro.

***

- Casado? Você deve estar brincando!

         Harry negou e riu. Ametista e Sirius estavam incrédulos. Os três localizavam-se no dormitório de Sirius e Arabella. Era pouco mais de sete horas.

         - Eu também não acreditei! – continuou Harry divertido. – O Rony até caiu do sofá quando o Hagrid contou que havia casado.

         - É, eu acho que está virando moda – Sirius e Harry encararam Ametista, sem entender. – AH! Primeiro você e Arabella noivos – indicou Sirius com a cabeça. – Agora Hagrid aparece já casado. Daqui a pouco o Rony pede a Mione em casamento e o mundo vira de cabeça pra baixo.

         Sirius terminou de pegar suas coisas no dormitório e abriu a porta para desceram ao jantar. Quando Harry e Ametista passaram pela porta, de mãos dadas, uma multidão de garotas e garotos da Corvinal passou por eles, medindo-os da cabeça aos pés. "Olha ali, será que isso dura?", Sirius ouviu uma garota falando. "Por mim, acho um desperdício ele estar com ela, afinal só porque é a netinha do diretor", outro disse. "Eu acho que ela é muito pouco pra ele, ele merece coisa melhor". "Imagina se dá em casamento!".

         Por muito pouco, Ametista não soltou um palavrão. Harry sussurrou em seu ouvido que não achava nada daquilo e que Ametista sabia que ele gostava somente dela. Sirius olhou para os dois e riu.

         - Isso se antes vocês dois não casarem...

         Ametista e Harry encararam Sirius com perplexidade. Sirius não havia mais tocado no assunto do quarto na manhã de Ano-Novo, e em mais nada relacionado ao namoro dos dois. Entretanto, agora parecia que fazia votos para acontecer um casamento entre eles.

         Quando começaram a andar, Harry colocou a mão solta no bolso e sentiu a falta de sua varinha. Tornou-se para Sirius e pediu que ele emprestasse a chave do dormitório, já que provavelmente teria deixado-a cair lá dentro. Ametista e Sirius continuaram sem Harry e o jovem voltou ao quarto do padrinho.

         Logo ao entrar, a varinha estava caída no chão, ao lado do braço da poltrona, onde estava sentado há pouco. Assim que abaixou para pegá-la, um brilho ofuscou sua visão. Seguindo-o com o olhar, Harry encontrou dentro de um armário a Penseira que Ametista dera a Sirius de Natal. Harry mordeu o lábio. Não sabia se era mesmo seguro bisbilhotar as lembranças de Sirius. Entretanto, a imagem de ver seu pai e sua mãe logo lhe vieram a cabeça e parece que a vontade de rever os pais era maior do que a prudência e a honestidade. Assim, Harry chegou bem perto da Penseira, abrindo o armário e notando a água prateada que boiava dentro dela. Curvando-se cada vez mais, Harry deu um sorriso quando percebeu que já havia sido absorvido pela Penseira.

         Harry sentiu-se tonto ao colocar os pés no chão daquela sala. O âmbito era grande e majestoso, onde se distinguia uma comprida mesa de jantar. Lá estavam sentados dois homens mais velhos – um deles, Harry reconhecera como Alvo Dumbledore, uma senhora e dois adolescentes. O garoto tinha cabelos negros curtos e olhos azuis. Porém, foi a garota que realmente chamou a atenção de Harry. Ela era belíssima. Tinha cabelos dourados até quase a altura de sua cintura e olhos muito azuis. Então, o jovem entendeu tudo: ele estava assistindo um jantar com as famílias Black e Dumbledore.

         Assim, resolveu aproximar-se mais da mesa, a fim de ouvir a conversa entre os presentes. O outro homem, bonito, de cabelos castanhos e olhos azuis, dizia:

         - O Ministério já tomou alguma providência, Alvo?

         Dumbledore, alguns anos mais jovem, respondeu:

         - Ninguém se pronunciou ainda, Stephan – Harry supôs que aquele era o pai de Sirius. – Não há muito que se fazer, pelo menos por enquanto.

         O homem parecia responder num tom extremamente doloroso. Harry permanecia ouvindo a conversa.

         - Agora que Thomas deixou Hogwarts, nós estamos temerosos – dizia Stephan Black. – Você sabe, ele pretende casar-se em breve com Ártemis e você pode entender como isso pode afetá-lo. A Sra. Figg é uma peça muito importante no Ministério e Voldemort pode aproveitar-se disso. Ele só está esperando a garota deixar Hogwarts neste ano.

         Foi como se a mente de Harry tivesse estalado.

         - O QUÊ?! – gritou Harry, obviamente sem ninguém ouvi-lo. – A Ártemis ia casar com o irmão mais velho do Sirius?! Mas isso não é possível!

         Os pensamentos de Harry começaram a ficar, além de abismados, preocupados. Que aquilo significava? Afinal, havia tanto ódio entre Sirius e Ártemis que qualquer um perceberia de muito longe, mesmo que nunca os tivesse conhecido. Porém, Ártemis seria a cunhada de Sirius se conseguisse casar com Thomas. O suspiro de Dumbledore chamou sua atenção para a conversa novamente.

         - A Sra. Figg está tão preocupada quanto vocês – disse o bruxo. – Eu repito que Hogwarts é segura, mas ela realmente presa pela vida de nossos filhos – Dumbledore olhou para a garota ao seu lado e observou que seu prato estava intocado. – Hariel, você precisa comer! – chamou sua atenção bondosamente.

         - Arabella anda tendo uns sonhos estranhos... – comentou a bonita garota, ainda olhando para seu prato, mexendo a comida com seu garfo.

         - AH! Isso é piada! – Harry ouviu a voz esganiçada do garoto sentado ao lado de Stephan. Era Sirius. – Bella é cheia de ver e ouvir coisas! Isso deve ser mais uma invenção dela! Já não basta ler os pensamentos, agora ela tem premonições também?! – aborreceu-se o jovem.

         A senhora sentada ao lado do pai de Sirius olhou feio para o menino.

         - Não fale assim, Sirius! – ralhou a mulher. Ela possuía profundos olhos azuis também e o cabelo bem escuro, assim como o de Sirius. – Arabella é uma boa menina e não tem porquê ficar inventando histórias.

         - Holly, não adianta – disse Stephan carinhosamente para a mulher, olhando de esguelha o filho. – Sirius anda mesmo tendo esses ataques histéricos ultimamente...

         - Você só está com raiva dela – interrompeu-o Hariel, fixando seus olhos azuis nos de Sirius. – É bem assim, não é? Pela primeira vez, Sirius Black toma um pé na bunda de alguma garota e fica todo nervosinho!

         Harry viu Dumbledore arregalar seus olhos, assim como a Sra. Black. Stephan ia dizer alguma coisa, mas perdeu tempo, pois Sirius já estava respondendo:

         - Você não sabe de nada, Dumbledore! Isso não tem nada a ver comigo e com a Bella! Você só está furiosa pelo fato de que ela, mesmo tendo tudo o que tem, pode ter um namorado e você não!

         - Cale sua boca, Black! Você só disse aquilo porque está morrendo de medo que todo mundo fique sabendo que ela terminou o namoro de vocês! Agora, vai ficar espalhando histórias por aí!

         Harry notou no mesmo segundo uma força estranha vinda de ambos. Eles se odiavam. Odiavam-se até a morte. Era terrível e forte. Exatamente como ele mesmo e Ametista odiaram-se um dia.

         Entretanto, a discussão acabou no mesmo momento. Dumbledore havia levantado de sua mesa e ordenado que Hariel subisse para seu quarto.

         O jovem ainda pensou em ou ir atrás de Hariel ou ficar ali, vendo como Sirius era igualzinho aos dias de hoje, conservando seu orgulho em primeiro lugar, porém assim que piscou seguidamente, viu-se parado no meio do jardim de Hogwarts. Era noite e estava observando Sirius Black, do mesmo jeito que havia visto anteriormente, postado atrás de um arbusto. Parecia espionar alguma coisa. Foi quando se virou e encontrou Hariel Dumbledore conversando com Severo Snape! O professor de Poções aparecia anos mais novo, com os cabelos ainda ensebados e a pele macilenta. A única diferença notável era sua vestimenta. Usava em seu peito o brasão sonserino tão bem conhecido por Harry. O jovem emparelhou-se junto do garoto Sirius e pôde ouvir e ver o que ele via.

         - Você andou fazendo o que por aí, Snape? – dizia a garota, no mesmo tom ríspido que Ametista adora usar. – Eu pensei que você vivesse escondido na barra do Malfoy, mas vejo que é bem mais presunçoso que ele.

         Snape deu um passo a frente, ficando próxima da jovem filha de Dumbledore. Sirius e Harry notaram que ela ficou levemente bamba.

         - Você pode dizer o que quiser, mas somente eu posso te querer. Podem existir milhares de garotos por Hogwarts apaixonados por você, mas só eu tenho a capacidade de amá-la.

         Harry ficou assombrado. Aquilo significava que, então, Snape era mesmo apaixonado pela mãe de Ametista.

         - Você está fazendo alguma coisa, não está? – indagou Hariel.

         - Eu? Como assim? – Snape postou seus braços ao redor do corpo de Hariel.

         - Você... algum feitiço... – murmurou a jovem, Harry quase teve dificuldade para ouvir.

         Harry notou que Sirius achou tudo muito estranho. Então, o jovem aluno da Sonserina esperou mais alguns segundos e beijou Hariel. Harry contorceu seu rosto em nojo. Rapidamente, Severo a soltou e Hariel caiu contra o gramado, desacordada.

         Porém, repentinamente, Harry assistiu Sirius erguer-se do chão e detrás das folhagens e ir até Snape.

         - Black?! – Snape assustou-se.

         - O que você fez com ela?!

         - Você está... está preocupado com ela?! Isso é realmente novo, já que eu pensei que vocês se odiassem e estivessem sem se falar há mais de um mês!

         - Parece que você dá mais atenção à minha vida do que a sua própria, não é?! – Harry notava que Sirius não estava muito bem para as brincadeirinhas de Snape.

         No momento seguinte, Harry viu-se chocado. Sirius nem pôde ouvir a resposta que Snape dera a ele. Fora estuporado ao menor piscar de olhos e caiu ao lado do corpo de Hariel.

         Aquela sensação o pegou novamente. A visão se destorceu e rodou mais algumas vezes até encontrar-se no dormitório masculino da Grifinória. Tudo se mantinha da mesma forma. Sirius, ainda um garoto do quinto ano, estava sentado na cama dele. Foi então que seu coração acelerou. Na cama logo ao lado, a de Rony, estava Tiago Potter. A semelhança era impressionante. Os mesmos fios castanhos e incrivelmente desgrenhados, o mesmo óculos tão redondo quanto o dele, a face corada. Apenas seus olhos eram castanhos, e não verdes como os do filho. Os alunos conversavam nervosamente.

         - Eu-eu tenho algo pra te contar, Sirius – disse Tiago fracamente. – Algo sobre ontem à tarde.

         Harry sentou na mesma cama em que ambos estavam e ficou estarrecido diante da imagem tão viva de seu pai. Até sua voz era parecida com a do pai.

         - Que foi que aconteceu, Pontas? – perguntou Sirius calmamente.

         - Lembra que você me contou que o Snape havia estuporado você e a Hariel há uns três dias – Sirius confirmou com a cabeça. – Madame Pomfrey achou estranho que Hariel demorara a despertar, certo?

         - Hum... E o que isso tem de mais? – voltou a indagar Sirius.

         Harry viu Tiago tremer. Parecia que havia herdado este problema de expressão de seu pai.

         - Snape enfeitiçou Hariel. – concluiu Tiago.

         Sirius e Harry arregalaram seus olhos igualmente. Sirius pediu que Tiago explicasse melhor, enquanto pulava para a cama onde seu pai estava.

         - Snape fez um Feitiço de Amor com a Hariel.

         Agora, ambos ficaram boquiabertos. Foi então que Sirius disse:

         - É claro! – exclamou esperto. – Malfoy tinha dito na nossa última detenção juntos que o Snape gostava da Dumbledore! – Sirius paralisou novamente e retomou em seguida. – Mas, como você sabe disso, Pontas?

         Harry viu o pai tremer furiosamente e ajeitar os óculos que caíam de sua face de forma desajeitada, sua face enrubescendo cada vez mais.

         - O feitiço não deu certo – disse Tiago inseguro. – Digo, deu certo, mas não foi com o Snape.

         O jovem monitor da Grifinória continuou confuso, mas Sirius pareceu ter entendido no mesmo segundo, já que seus olhos arregalaram-se mais uma vez.

         - Ti-Tiago! O que aconteceu ontem à tarde?! – alterou-se Sirius.

         - Nada aconteceu, Almofadinhas! – resmungou Tiago exasperado. – Pelo menos, nada muito sério...

         Sirius levantou da cama num pulo e Harry o viu respirando rapidamente.

         - Explique isso direito, Tiago!

         - Você se lembra que saí antes da nevasca em Hogsmeade, certo? Eu senti que precisava conversar com Hariel, por causa de uma reportagem no Profeta Diário – Sirius e Harry ouviam tudo atentamente. Tiago continuava receoso. – Quando cheguei aqui, ela estava chorando, coisa que nunca tinha visto antes, por causa da mãe dela. E, quando eu percebi, já estávamos... bem, estávamos...

         - Desembuche de uma vez, Tiago! – ordenou Sirius furioso.

         - Nós nos beijamos! Beijamos, certo?! – aborreceu-se Tiago. – Droga, Sirius! Você nem parece que odeia a Hariel! Nós nos beijamos! Centenas de vezes! Eu estava me sentindo como se estivesse beijando a Lílian, porque é exatamente desse jeito que eu me sinto, apaixonado! Só que por causa do feitiço estúpido do Snape, estávamos sentindo-se apaixonados um pelo outro, entendeu?!

         Sirius pulou da cama e saiu do quarto, batendo a porta furiosamente às suas costas. Harry notou que seu pai resmungou mais alguma coisa e deitou no leito, com a cara fechada. Aquela parecia a primeira briga deles.

         - Oh, não! – reclamou Harry, ao notar que sua vista estava embaçada novamente.

         Agora, estava no salão principal. Alguns alunos ocupavam as mesas das quatro casas de Hogwarts. Porém, foi sendo guiado até a mesa da Grifinória mais uma vez e encontrar Remo Lupin, a expressão não tão carregada quanto no seu tempo, mas ainda assim envelhecida e cansada, e uma garota de compridos e brilhantes cabelos ruivos e grandes olhos verde-esmeralda. O sorriso em seus lábios era mínimo, mas hipnotizador. Lá estava sua mãe, Lílian Evans, não tão bela quanto Hariel, mas carregando uma certa doçura que nenhuma outra já tivera antes.

         - Então, eles estão juntos novamente, não é mesmo? – supôs Remo cansado e suspirando.

         - Ah, Remo... – arriscou Lílian num tom bondoso que encheu Harry de felicidade. – Nós já sabíamos. Bella foi a primeira garota que conseguiu namorar Sirius. Não é de se espantar que eles estivessem juntos novamente.

         Remo suspirou mais uma vez e lançou um olhar para a ponta da mesa. Harry notou que Arabella e Sirius estavam abraçados. Uma jovem de cabelos na altura das costas, negros, e os olhos pequeninos e perspicazes. A madrinha era muito bonita também, mas ainda mantinha um ar misterioso.

         - Eu sei que você gosta muito da Bella, Remo – Harry pegou-se surpreso. – Mas, você e todos nós sempre soubemos que ela sempre gostou do Sirius. Acho que até eu tive uma quedinha por ele também. – Lílian sussurrou ao final.

         Harry achou estranho que ele podia ouvir a conversa que Sirius, provavelmente, não deve ter ouvido em seu passado.

         - Mas, por que esconder durante esses dois meses, Lily?! – retrucou Remo. – Por que ela nunca reparou em mim? Por que ela nunca percebeu que eu sempre fui apaixonado por ela?

         O jovem arregalou seus olhos diante daquilo. Apaixonado? Isso também era uma grande novidade para Harry! Então, Lupin realmente sempre amou Arabella. Não que aqueles olhares entre eles no ano anterior não denunciassem alguma coisa, entretanto Lupin falava de paixão. E aquilo era bem diferente.

         Harry, assim, por mais que quisesse ficar admirando sua mãe, decidiu ver qual era a lembrança de Sirius sobre aquele momento, já que não poderia ser nada ligado a Remo ou Lílian. Ao aproximar-se dos namorados, viu que Arabella estava lutando contra Sirius. Eles estavam abraçados e ela fazia de tudo para deixá-lo ver o que estava pensando.

         - Sirius! – Arabella resmungava, tentando apertar seu queixo contra o dela. – Se você estivesse dizendo a verdade, você permitiria que eu visse o que está pensando! Agora, olhe para mim! – ordenava divertida.

         Ambos riam alegremente. Porém, Harry não deixou de notar como Sirius carregava uma expressão quase preocupada, temerosa.

         - Bella, você sabe que eu gosto muito de você, senão não teria me rastejado de volta para você! – brincou Sirius, tentando fugir dos dedos ardilosos de Arabella, que queria ainda pegar seu queixo.

         Entretanto, Harry observou quando Arabella conseguiu, finalmente, tomar o queixo de Sirius e tornar os seus olhos azuis na direção de seus pequenos olhos negros. O jovem notou que, seguidamente, o sorriso foi se desfazendo do rosto de Arabella, ao mesmo tempo em que Sirius perdia todo o brilho em seus olhos. Arabella, então, quebrou o contato visual e Harry notou as lágrimas formando-se nos olhos da madrinha anos mais jovem. A garota levantou-se da mesa e saiu correndo. Sirius suspirou profundamente e a seguiu.

         Harry decidiu segui-lo até onde fosse. Entraram na Torre da Grifinória e Harry tomou uma escada que nunca havia visitado antes. Levava aos quartos do monitores. Aqueles quartos deveriam não mais existir, já que ele mesmo então teria direito a um. Sirius caminhou até o primeiro deles e Harry encontrou-a paralisada, no meio do dormitório. Sirius caminhou até ela e indagou:

         - Que foi que aconteceu, Bella?

         Arabella tornou seu corpo e rosto na direção de Sirius e ambos puderam ver seu rosto da mesma forma, porém seus olhos possuíam as pupilas dilatadas e cheias de água.

         - Você realmente gosta de mim, Sirius.

         Harry observou o garoto ao seu lado dar um sorriso e dizer, pegando em ambas as mãos de Arabella:

         - É claro que gosto de você. Você foi a primeira garota que eu realmente gostei em toda a minha vida, Bella.

         Arabella deu um sorriso tímido e respondeu:

         - Sim, eu sei e tenho certeza disso, Sirius – então ela suspirou. – Mas, você ama outra pessoa, mesmo sem saber.

         - Quê?! – espantou-se Sirius. – Como?!

         - Eu não posso te dizer quem é porque logo você descobrirá. Mas, enquanto isso, Sirius, eu não posso continuar com você sabendo que você gosta muito de mim, mas ama outra garota. Eu não posso. Não é justo comigo e muito menos com você.

         Harry notou que Sirius abraçou Arabella fortemente e em seguida, beijou-a delicadamente nos lábios. A garota envolveu-o com seus braços e deixou que algumas lágrimas caíssem pelo seu rosto. Harry entendeu, então, que ela estava abdicando de seu amor. Sirius continuou a beijá-la, provavelmente sentindo a quentura de seu corpo junto do dela. Entretanto, sabia que aquele era o último beijo que daria nela em muitos anos pela frente. Harry ficou apenas observando-os beijarem-se calmamente.

         Quando pensou que as lembranças de Sirius acabariam, afinal não tinha a Penseira há muito tempo, Harry estava rodando novamente até chegar numa tarde chuvosa. Estava na sala comunal da Grifinória novamente, assistindo Lílian, Arabella, Tiago, Remo, Sirius e Pedro – o garoto gorducho de cabelo quase claro e olhos pequenos e castanhos – conversarem em um baixo tom.

         - Eu não sei o que fazer, pessoal – dizia Arabella. – É tão triste, digo, é mais do que uma tragédia! A mãe da Hariel era tudo para ela e agora, é encontrada morta dessa forma tão cruel?!

         - Espinhos – murmurou Pedro. Harry sentiu seus ossos queimarem de ódio ao ver aquele homem. – Eu nunca tinha imaginado que agora, Você-Sabe-Quem matava dessa maneira.

          - É tudo parte do plano dele, Pedrinho – disse Lílian. – Ele vai matando um por um, trouxas ou bruxos. São as trevas...

         Tiago, que estava sentado ao lado de Lílian, envolveu-a em seus braços cuidadosamente e deu um beijo rápido em seus lábios. Harry sorriu ao ver que naquela altura, eles já estavam namorando.

         - Nisso, você se enganou, Lily – disse Tiago. – Nós todos sabemos bem que matar a mulher de Dumbledore sempre esteve nos planos de Voldemort – Lílian e Pedro tremeram. – É a tal ameaça que ele disse que cumpriria. Não foi isso que ele escreveu na parede da casa deles quando ela foi raptada?

         Sirius levantou seu rosto imediatamente e indagou:

         - Que você quer dizer com isso, Tiago?

         Harry viu seu pai fraquejar a voz alarmada e responder:

         - A próxima será a Hariel. Voldemort escreveu que mataria a mãe, a filha e a neta. Hariel está correndo perigo.

         Sirius, num impulso, levantou do sofá do salão comunal e dirigiu-se as escadas que levavam ao dormitório feminino. Harry seguiu-o. Chegaram ao quarto das garotas, encontrando a cama onde, provavelmente, Hariel dormia, fechada pelo dossel. Sirius aproximou-se da cama da garota e abriu o dossel lentamente. Hariel estava deitada de costas na cama, soluçando.

         - Me deixe em paz! – gritou desesperada, soluçando.

         Sirius nada respondeu e sentou na cama junto de Hariel. Harry continuou em pé. Em seguida, Sirius guiou sua mão direita no cabelo da garota, acariciando-a em forma de conforto. Harry notou que pela certa dureza dos movimentos de Sirius, ele nunca havia feito aquilo antes. Hariel virou-se, ainda chorando muito e pareceu espantada ao ver Sirius Black ali.

         - Black?! Que você veio fazer aqui?! – indagou, soluçando bastante. – Veio rir da minha cara amassada e inchada, é?!

         Sirius viu-a sentar na cama e aproveitou a chance. Num movimento inesperado, Harry observou Sirius aproximar-se de Hariel e abraçá-la carinhosamente. Hariel, até então furiosa, abraçou-o de volta e continuou a chorar. Chorava descontrolada e furiosamente. Harry notou os pêlos do braço de Sirius arrepiarem-se diante do abraço de Hariel e imaginou: aquela lembrança deveria ser a primeira vez em que Sirius e Hariel se ajudaram.

***

O jantar corria muito bem, apesar do total silêncio entre Draco e Ametista, afinal, as refeições na mesa da Sonserina sempre eram marcadas por suas discussões intermináveis. Contudo, naquela noite, sequer arriscavam encararem-se. Pansy, Crabbe e Goyle notaram, mas preferiram prosseguir com o jantar, antes que um comentário causasse problemas maiores, como perder ainda mais pontos para Sonserina. Assim, todos optavam pelo silêncio, já que os principais causadores de perda de pontos na Casa eram exatamente Ametista e Draco.

         Hermione comentou com Rony algo sobre a demora de Harry e algo mais sobre Hagrid e o casamento tão repentino. No entanto, quando ela fez menção a ir até a sala de Sirius chamar pelo melhor amigo, assistiu Hauspie Bellacroix correr discretamente até a mesa dos professores, por trás das mesas, e cochichar algo no ouvido do diretor. Seguidamente, Dumbledore ergueu-se de sua cadeira e enunciou:

         - Deixem a comida para depois! Reúnam-se com os monitores de suas Casas e subam imediatamente! – os estudantes de Hogwarts levantaram temerosos, enquanto Rony e Hermione continuavam a encarar Dumbledore. – E não ninguém sai das Torres, por mais sério que seja o motivo! Isso vale para todos!

Sabendo que aquele era um recado direto a ambos, Hermione tornou-se para os alunos menores e começou a guia-los para fora do Salão Principal. Nesses instantes, Rony cruzou seu olhar com o de Ametista. Naquele segundo, Rony teve certeza de que não entraria na Torre da Grifinória por nada.

***

Mais uma vez, Harry sentiu-se aturdido ao cair no Salão Principal. Todos estavam sentados numa grande mesa posta no centro do salão, a não ser por Lílian e Arabella. O jovem observava os garotos conversando ao seu lado e Pedro ia dizendo com a voz esganiçada:

         - Eu achei uma ótima idéia todos nós passarmos o Natal aqui em Hogwarts, sabem? A Hariel ia ficar muito mal sem a gente.

         - É verdade – concordou Remo. – Mas, por acaso, vocês notaram como as garotas andam cochichando demais pelos cantos? Eu acho que elas vão aprontar alguma hoje...

         Tiago soltou uma risada. Harry notou mais uma vez sua enorme semelhança com o pai.

         - Eu aposto que é alguma da Hariel – disse, mesmo sendo impossível, já que a garota vinha mal desde a notícia da morte da mãe. – E não duvido nada se tiver alguma coisa a ver com você, Almofadinhas.

         - EI! Vai me dizer que foi só por causa da nossa última discussão?! Foi ela quem começou!

         - Você realmente acha que precisava gritar para a Grifinória inteira que Severo Snape é apaixonado por ela e que já beijou a Hariel? – supôs Remo astuto.

         - Sim, eu acho, Aluado! – irritou-se Sirius.

         Harry não deixou de rir junto com a turma. Foi quando todos viraram para trás e encontraram as duas garotas que haviam voltado do banheiro. Arabella sentou-se na mesa ao lado de Pedro e Tiago foi logo levantando, aproximando-se de Lílian e dando-lhe um beijo de tirar o fôlego na frente de todos.

         - Você está linda, sabia? – disse ele em seu ouvido, fazendo Harry ouvir também.

         - Ah! Por favor, arranjem um quarto! – esbravejou Pedro brincalhão.

         Harry notou que estava perto do relógio dar doze badaladas quando Hariel elevou-se e sussurrou algo no ouvido do avô. Dumbledore sorriu e indicou algo com a mão.

         Os garotos observaram, assim como Harry, a mesma dança feita por Ametista no Natal do ano anterior. Hariel dançava com tanta leveza e perfeição que deixou todos da mesa maravilhados. A música de harpa acompanhava a dança, fazendo Harry lembrar-se da namorada, por acaso, filha dela.

         Foi no final da música que Hariel distribuiu as bolhas coloridas sobre Sirius Black. Harry sentiu o calor emanar do corpo do padrinho rapidamente e seus olhos brilharem diante da beleza da filha do diretor de Hogwarts. Aquela lembrança seria muito especial: Sirius, mesmo enfeitiçado, descobriria que gostava de Hariel Dumbledore, sua maior inimiga.

         E então veio o enjôo. Este foi a sensação que Harry teve seguidamente. Rodando mais uma vez, ele estava caído entre duas camas do dormitório masculino. Levantou desajeitado e observou os garotos conversando.

         - Uma semana, Sirius! – resmungava Pedro. – Você já está assim há uma semana! É melhor fazer alguma coisa de uma vez!

         - Eu sei, Rabicho! Eu sei! – retrucou Sirius. – Eu vou ter uma conversa séria com a Dumbledore, hoje à noite.

         Harry notou Tiago e Remo entreolharem-se.

         - Você tem certeza que agüenta a pressão, Almofadinhas? – indagou Tiago seriamente. – Porque eu entendo perfeitamente se você não conseguir...

         - É, sabemos que o feitiço é bem forte... – continuou Remo no mesmo tom de Pontas.

         - Eu consigo! – protestou Sirius fortemente. – Eu posso estar assim agora, mas eu não vou fazer nada com a Dumbledore, eu sempre a odiei e não é agora que eu vou parar! Mesmo com esse estúpido feitiço que ela colocou em mim! Maldita noite de Natal! – reclamou mal humorado.

         - Bom, de acordo com a pesquisa da Bella – começou Remo. – O feitiço deve terminar hoje, à meia-noite. Então, é mais garantido você falar com ela após a passagem de ano...

         - Ainda não sei – respondeu Sirius. – A minha única vontade é esmagar aquele pescoço! Ela me paga!

         - Tá bem, vamos fingir que acreditamos... – brincou Pedro, fazendo os outros garotos rirem. – Não vamos desconfiar que isso é da boca para fora...

         Sirius pegou seu travesseiro e atacou Pedro, acertando-o na cabeça. Na verdade, Harry sabia muito bem como Sirius sentia-se. Ele mesmo passara por isso. Naquele instante, Sirius poderia falar o que quisesse, mas o feitiço colocado na noite de Natal persistiria e ainda faria seu coração acelerar estranhamente cada vez que se aproximasse de Hariel.

***

- Como podemos fazer pra encontrar a Hermione? – perguntou Ametista para Rony, escondidos entre os pilares do corredor que levava a Torre da Grifinória.

         Rony coçou o topo da cabeça, pensativo. Sua testa franzida indicava que Hermione teria de se virar sozinha naquela situação.

         - Acho que a Mione tem capacidade suficiente para se livrar dos pirralhos do terceiro ano e fugir da Torre – comentou Rony. – Ela é monitora.

         Ametista concordou então, e olhando para os lados, ela e Rony começaram a caminhar. Sem direção.

         - E para onde vamos, afinal? – indagou a garota ríspida.

         Não demorou muito até que uma sombra aparecesse no chão, veloz. Rony e Ametista espremeram-se mais contra o pilar e observaram com dificuldade a sombra transformar-se em Ártemis Figg.

         - É a Ártemis, não é? – divagou Rony.

         Ametista apertou os olhos para seguir o caminho da sombra da professora de Defesa Contra a Arte das Trevas. A jovem saiu detrás do pilar e puxou o braço de Rony, pedindo que ele a seguisse. O grifinório tentou relutar, já que estavam completamente visíveis a qualquer um que interceptasse o caminho. Poucos metros adiante, Ártemis desviou o trajeto, entretanto, Rony e Ametista paralisaram ao serem atingidos por um forte relampejo de luz. Haviam aquelas luzes estranhas vindas do lado de fora, refletidas pelas janelas. Era algo no jardim.

         - Vão ficar parados aí?

         Imediatamente, Rony e Ametista retiraram suas varinhas de dentro das vestes e apontaram para quem estava ali. Era Draco.

         - Malfoy? – espantou-se Rony, a face emburrando. – Pensei que você estivesse embaixo dos cobertores, com medo de descobrir se seu pai estava lá fora causando problema pro Dumbledore.

         Draco não retrucou. Rony franziu a testa, estranhando, enquanto Ametista olhava para longe, parecendo constrangida. Por alguns segundos, nenhum disse nada. Silêncio. Até que Draco interrompeu.

         - Novamente, nós vamos ficar parados aqui e não descobrirmos o que há lá fora?

***

Se Harry rodasse mais uma vez, provavelmente cairia duro no chão. Agora, o cenário em questão era a sala comunal. Ele estava sozinho e observou quando a turma entrou no salão, juntos e sorridentes.

         - Este fim de ano foi o melhor de todos! – festejava Remo, abraçado a Sirius, que gargalhava das brincadeiras de Tiago e Pedro.

         Foram parando no meio do salão e cumprimentando um ao outro. Faltava pouco para a meia-noite e já estavam festejando desde as oito horas. Harry via claramente que Pedro e Tiago já haviam tomado centenas de cervejas amanteigadas apenas por suas ações. Aos poucos, Arabella despediu-se de todos, assim como Lílian, e subiram para seus dormitórios.

         Harry percebeu que enquanto as garotas subiam, Sirius, habilmente, retirou a varinha de Hariel de seu casaco e guardou-a para si. A garota nem notou e acabou subindo também. Os garotos juntaram-se numa roda e Pedro perguntou, pouco lúcido:

         - Preparado, Almofadinhas?

         - Quero acabar com essa história logo! – dizia animado. – Esse feitiço terá seu fim e nós voltaremos à rotina... Mas antes, eu preciso levantar minha auto-estima novamente, não acham?

         - Você sabe qual é a minha opinião, Almofadinhas – disse Remo. – Eu não acho certo dar o troco... Você também provocou...

         - Aluado, eu vou te ignorar nesse momento, certo?! – irritou-se Sirius. – Eu não quero saber, já chega com essa brincadeirinha de muito mau gosto dessa garota!

         Os garotos se despediram de Sirius e subiram a escadaria para seu dormitório. O jovem do quinto ano apagou as velas do salão comunal e escondeu-se nas sombras. Harry esperou junto de Sirius até quando que ouviu passos na escadaria das garotas. Pouco depois, aparecera Hariel Dumbledore, correndo os olhos pelo escuro salão comunal.

         - Varinha... Varinha... – chamava baixinho para si mesma.

         Como não a encontrou, virou-se para voltar ao seu quarto. Nesse momento, Harry viu Sirius deixar a sombra e dizer:

         - É isto que está procurando? – perguntou, girando a varinha entre seus longos dedos.

         Hariel suspirou impaciente e deu alguns passos para perto de Sirius, estendendo seu braço direito para pegar o objeto.

         - Pode ir devolvendo, Black.

         - Antes, nós vamos ter uma conversinha...

         - Eu não tenho nada para conversar com você! – irritou-se Hariel.

         - Ah, tem sim! Pode ir contando essa história de feitiço! – ordenou Sirius bravamente.

         - Você quer mesmo saber, Black? – provocou Hariel. – Então é isso: você pisou em todas as garotas dessa escola e nunca teve um troco. Agora é hora de pagar por isso! Você não devia ter me provocado aquele dia!

         - Não sabia que você era tão vingativa...

         - Posso ser! – respondeu a garota parecendo muito aborrecida.

         - Não vai me dizer que tudo isso foi por causa daquela minha declaração sobre o Snape?! – surpreendeu-se Sirius.

         - Isso também ajudou...

         - E por que você tinha de fazer o feitiço? – brigou Sirius. – Seria muito mais fácil lidar com a idéia de me sentir atraído pela Bella do que por você!

         - Exatamente, Black! – gritou Hariel nervosa. – Foi exatamente por isso, eu fiz você sentir na pele o quê muitas garotas sentiram, até mesmo o quê a Bella sentiu!

         - Sinto muito, mas esse seu feitiço não deu muito certo! – ralhou o garoto mais uma vez.

         - Não parecia há dias atrás, nem responder para mim você respondia!

         - Isso foi porque eu já me cansei dessa brincadeirinha, Dumbledore! Nós nascemos para nos odiar e nada vai mudar isso!

         - Eu sempre soube disso muito bem, Black! Não seria um feitiço que mudaria isto! Mas eu sei bem que você ficou bastante confuso, não é mesmo?!

         - Não! Não, eu não fiquei!

         Hariel soltou uma risada falsa. Harry riu.

         - AH! Conte outra, Black! Eu sei que você ficou morrendo de medo de estar apaixonado por mim! Dava para ver nos seus olhos!

         - Eu não tive medo porque sempre tive a certeza plena de que NUNCA iria me apaixonar por você!

         Eles continuavam a discussão, enquanto Harry olhava concentrado um dos objetos do salão comunal. O garoto já começava a encaixar tudo.

         - Duvido muito que você não esteja morrendo de dor por estar brigando comigo! Eu sei que você sentiu-se assim durante essa semana! Mas seu charme barato nunca vai dar certo comigo!

         - Você é a pessoa mais asquerosa que eu já conheci! Preferia ter de beijar Severo Snape a beijar VOCÊ!

         - Eu digo o mesmo, Black!

         - Espere! Tem uma coisinha errada na sua afirmação: você JÁ beijou Severo Snape!

         Harry notou que aquele pareceu o bastante. Hariel voou sobre Sirius para retirar a varinha da mão do garoto e dar-lhe um belo tapa na cara. Porém, algo extraordinário aconteceu. Sirius perdeu a varinha de seus dedos para Hariel, mas ao mesmo tempo segurou o pulso da garota que estava levantado, pronto para um tapa. Foi quando Sirius agiu.

         Harry assistiu a um beijo emocionante. Sirius enlaçou Hariel e beijou-a com força e muita vontade. Hariel soltou a própria varinha no chão e abraçou-o, como se esperasse a vida toda por aquele momento. Eles estavam se beijando exatamente como Harry e Ametista. O garoto percebeu que eles realmente se amavam. Voltou o olhar para o objeto do salão comunal e observou o horário: meia-noite e dez. O feitiço já havia acabado antes mesmo da discussão começar entre eles.

         Finalmente, Sirius foi soltando Hariel aos poucos, até separarem os lábios. Hariel corou furiosamente no mesmo segundo.

         - Is-is-isso fo-foi apenas po-por causa do fei-feitiço... – gaguejou nervosamente.

         Sirius indicou negativamente com a cabeça e indicou o relógio da sala comunal para a garota observar. Harry sorriu. Constataram que o feitiço já estava terminado havia dez minutos. Hariel voltou a encarar Sirius, que sorria.

         - Isso-isso foi um engano, Sirius... – foi dizendo, mesmo que estivesse chamando-o pelo primeiro nome.

         - O único engano das nossas vidas foi nós mesmos, Hariel – também a chamou pelo nome de batismo, carinhosamente. – Nós sempre soubemos, só não queríamos aceitar.

         - Aceitar o quê? – indagou aflita, tentando desvencilhar-se dos braços do garoto. – Não há nada o que aceitar.

         - Você sabe muito bem do que estou falando. Nós sempre nos gostamos, reconheça você isso ou não...

Hariel não teve muito tempo de responder, porque Sirius já estava abraçando-a e beijando-a tão apaixonadamente quanto antes. Harry não deixou de sorrir. Eles realmente se amavam.

***

- Que são essas luzes? – indagou Draco, chegando mais perto da janela.

         Rony e Ametista estavam perplexos. Não tinham a mínima idéia do que significava aquilo. Parados à frente da porta principal de carvalho, ambos e Draco assistiam ao jogo de colorações, na maioria muito claras, como branco, através do vidro das janelas do hall. De olhos arregalados, Rony deu um passo e encostou-se à janela, como Malfoy havia feito anteriormente. Ametista o seguiu e então viram o espetáculo mais belo e aterrorizante, ao mesmo tempo.

         - Oh não... – gemeu para si, preocupada.

         Eram pelo menos mais de vinte dementadores e alguns integrantes da Ordem da Fênix, além de outros de Hogwarts, conjurando seus patronos. Porém, parecia que eles não seriam capazes de segurá-los por muito tempo. Ametista e Rony trocaram um olhar temeroso.

***

Uma tarde de sol, folhas secas caindo das árvores. Certamente era outono. Harry estava sentado num banco e via uma espécie de altar branco e feito de faixas entrelaçadas graciosamente. Havia muita gente ali espalhada pelas inúmeras mesas e cadeiras pelo jardim. Sabia que ainda estava em Hogwarts, somente não sabia quando. Então, ouviu alguém gritar viva aos noivos. Sua cabeça tornou-se para perto do altar e encontrou Hariel e Sirius vestidos formalmente, inclusive aquele belo vestido que a mulher usava. Assim, Harry soube que era o dia do casamento deles. Seu pai, agora com dezoito anos, com uma taça de champagne na mão, abraçou o melhor amigo enquanto Lílian postava-se ao lado de Hariel.

         - Apresento-lhes os Sr. e Sra. Black! – gritou Tiago, sorrindo.

         Os que assistiam a cerimônia – que logicamente já havia acabado – aplaudiram com felicidade. Sua mãe estava linda também. Percebeu que ela cochichara algo no ouvido da noiva e ambas saíram de perto de Sirius e Tiago.

         - Sirius, você não imagina como estou feliz por vocês! – disse uma mulher muito bonita, de longos cabelos escuros, abraçando Sirius fortemente.

         Ao lado de Arabella estava David Adams, o Comensal da Morte que tentara matar Hermione em Azkaban, e antigo noivo de sua madrinha. Harry notou o desconforto entre Sirius e David.

         - Meus parabéns. – congratulou quase frio o homem de olhos verdes.

         - Obrigado Adams. – agradeceu Sirius, chamando-o pelo sobrenome e fazendo Arabella olhá-lo feio.

         Antes que a situação ficasse ainda mais imaleável, Pedro apareceu, sua cara redonda e rosada mais ruborizada que nunca, pelo efeito de mais de três taças de vinho. O homem deu um tapinha nas costas de Sirius.

         - Quem diria que o Senhor Garanhão de Hogwarts se casaria um dia! – brincou Pedro, fazendo Sirius rir. – E quem poderia prever que se casaria bem com a filha do diretor!

         Hariel apareceu do meio do nada e cutucou Sirius. Harry viu que ela não tinha uma cara muito boa. Porém, assim como a noiva estava aparentemente incomodada, Lílian também estava. Sua mãe parecia ligeiramente nervosa.

         - Que aconteceu? – indagou Sirius preocupado.

         - Houve um ataque perto de Godric's Hollow – sussurrou Hariel, puxando o marido para longe. – Parece que muito perto do casarão.

         Sirius suspirou e guiou Hariel até o lago da lula-gigante. Os barulhentos e agitados convidados estavam dançando, bebendo, conversando, comendo e se divertindo, desfrutando daquele final de tarde de outono e não tinham a mínima idéia de que os noivos haviam se afastado muito para poderem conversar.

         Assim, ambos em pé ao lado da margem do lado, entre as árvores, Hariel disse:

         - Foi meu pai que avisou Lílian – sua voz parecia muito preocupada. – O ataque foi muito perto do casarão mesmo, parece que no pé da colina. Acho que querem nos pegar, Sirius.

         - Não diga uma coisa dessas! – ralhou Sirius nervoso.

         - Eu tenho que dizer, Sirius, você sabe disso – ela retomou, sua face ficando quase pálida. – Seu pai é diretor do Departamento de Execução de Leis Mágicas, sua mãe controla as notícias do jornal mais lido do mundo mágico, seu irmão é o Chefe do Departamento de Aurores e você acabou de cometer a maior burrice de sua vida...

         Sirius cruzou os braços, esperando que Hariel concluísse a frase. Harry estava com a testa franzida assistindo a pré-discussão dos recém-casados.

         - Eu tenho medo, Sirius – disse Hariel finalmente, seguido de um suspiro. – Eu não vou suportar te perder por nada nesse mundo e nem pretendo ir embora sem você.

         Alguns fogos de artifício pareceram estourar, o reflexo deles na água do lado da lula-gigante. Harry se aproximou de ambos.

         - Você ainda acha que ele está atrás...

         - Ele está me caçando! – retrucou Hariel, aumentando o tom de voz. – E agora também vai passar a caçar você porque teve a estúpida idéia de me pedir em casamento! E eu mais estúpida ainda de aceitar!

         Sirius deu um passo para trás e Harry notou que houve um certo rubor em suas bochechas.

         - Você não vai tirar isso de mim, Hariel! – respondeu Sirius, Harry percebendo que ele estava ficando furioso. – Neste único dia eu consegui juntar todos os meus familiares e a pessoa que eu mais amo nesse mundo em Hogwarts! Não destrua esse momento!

         - ELE VAI ME MATAR! – Hariel gritou repentinamente.

         Harry arregalou os olhos ao notar que a mulher retirou uma tiara que havia em seu cabelo e abaixou a cabeça, permitindo que as lágrimas caíssem de seus olhos. Sirius respirou fundo e caminhou até ela, puxando-a para um abraço. Então, beijou o topo de sua cabeça.

         - Não, ele não vai te matar enquanto estivermos juntos, amor – disse ele, tentando consolá-la, num tom apaixonado que fez Harry sorrir. – Eu não vou permitir que ele encoste um dedo em você, como já prometi uma vez. Você é a minha vida, Hariel. E ninguém será capaz de tirar você de mim.

         A mulher tornou seu rosto molhado para Sirius e Harry viu que o padrinho inclinou-se para beijá-la. Quando saíram do beijo, o jovem não ouviu com perfeição, mas Sirius disse algo relacionado a um quarto para esposa e ambos fugiram da festa.

         A vista escurecendo e a sensação de tontura. Ele ainda não sabia como, mas tinha certeza de que Hogwarts havia ficado muito para trás. Estava numa casa, parado ao lado da janela, numa noite escura e de céu sem brilho algum. Olhando pela passagem protegida pelo vidro, Harry notava que alguns anos haviam se passado. Ao encarar o dormitório onde estava localizado, percebeu que havia um berçário e inúmeras coisinhas pequeninas e azuis. Seus olhos recaíram-se sobre o bebê que estava deitado na caminha. Era definitivamente uma garotinha. E Harry sabia muito bem quem era ela.

         - Você precisa se acalmar, Hariel!

         Ouviu a ordem vinda do andar de baixo. Rapidamente, Harry ouviu passos subindo a escada e uma mulher de intensos cabelos ruivos adentrar, carregando um bebê em seus braços. Era Harry e sua mãe. Lílian colocou a criança de pouco mais de um ano junto da pequenina garotinha e a bebê logo acordou, sentando na cama e tentando pegar o nariz do outro bebê. O garotinho se desvencilhou e, apesar de ser mais novo que a garotinha, ainda era maior que ela. Harry e Ametista.

         - Sirius, você perdeu a cabeça? – perguntou alguma mulher no andar de baixo.

         Lílian logo deixou o dormitório e desceu as escadas, apressada. Harry a seguiu. No andar de baixo, Hariel, Sirius, Tiago e Lílian pareciam numa discussão. Harry acomodou-se num dos sofás. Hariel estava andando de um lado ao outro, com as mãos na cintura, nervosa.

         - Eu não entendo, Sirius – dizia Tiago com a expressão quase desapontada. – Por que você não aceita? Você sabe que eu e Lílian confiamos em você completamente!

         Sirius estava sentado, com os braços apoiados nas pernas, com a cabeça baixa.

         - Sei disso muito bem, Tiago, mas ainda acho que não é uma boa idéia – respondeu, agitando os fios escuros do cabelo. – Sou muito visado. Acho melhor que não seja alguém esperado. Por isso que sugeri Pedro.

         Lílian torceu o nariz para Sirius.

         - Não tenho tanta certeza assim, Sirius – Tiago a olhou estranhando sua atitude. – Claro que o Pedrinho irá ser um ótimo Fiel do Segredo, mas ainda assim acho melhor que você o fosse.

         Harry ergueu suas sobrancelhas. Aquela lembrança deveria ser extremamente dolorosa para Sirius, afinal, naquela noite ele havia recusado ser o Fiel do Segredo dos Potter, seus melhores amigos que corriam sério perigo.

         - Até meu pai se ofereceu para ser Fiel, Sirius! E é assim que você retribui aos seus amigos?!

         Harry notou que Hariel estava praticamente descontrolada. Não parava de andar de um lado a outro, nervosamente, dando sinais de palidez e ligeira tontura.

         - Escute Tiago, escute só dessa vez – pediu Sirius, encarando o melhor amigo com completa certeza. – Escolha Pedro como Fiel do Segredo. Por favor.

         - Eu não entendo, Sirius – disse Lílian, não gostando nada da idéia de ter Pedro como Fiel de Segredo. – Você é o nosso melhor amigo! – a mãe de Harry tornou-se para o marido. – Então, prefiro que chamemos Remo.

         - Não! – respondeu Sirius. – Vocês sabem como Remo pode ficar com mais um feitiço, ele nunca é ele mesmo nas luas cheias...

         Tiago pareceu temeroso aos olhos de Harry, do próprio filho. Era como se ele soubesse que algo de ruim aconteceria escolhendo Pedro como o guardador dos Potter. Tiago encarou a mulher em seguida, e Lílian apenas concordou com a cabeça. Lógico que Lílian estava nervosa e amedrontada de deixar um feitiço como aquele nas mãos de Pedro, porém parecia não haver outra maneira. Claramente, o quê ele escolhesse para os dois, a esposa aderia de olhos fechados. Então, Tiago tornou-se para Sirius novamente.

         - Certo, meu amigo – disse Tiago, a voz quase vacilando. – Escolherei Pedro.

         Foi como se um peso tivesse saído de Sirius, já que Harry observou como sua postura curvada anteriormente mostrara-se reta e, ainda assim, preocupada. Assim, Hariel bufou e chamou a atenção do marido. Sirius encarou-a e Harry assistiu Hariel desmaiar.

         Rapidamente, Tiago correu para socorrê-la, enquanto Lílian corria até sua varinha e Sirius jogava-se sobre a mulher, a feição tomada por desespero. Harry viu sua mãe correr na direção da amiga e conjurava algum feitiço sobre ela. Hariel preguiçosamente abriu os olhos e chocou-se com todos olhando-a. Sirius abraçou-a e cochichou algo em seu ouvido que Harry não conseguira entender. Em seguida, a mulher, encarando Sirius num modo totalmente emocional, disse:

         - Algo aconteceu que você deveria saber, Sirius – disse ela, com o marido aninhando-a em seus braços. – Eu estou grávida novamente.

***

- Da onde vieram tantos dementadores? – espantou-se Rony observando a multidão daquelas criaturas aproximando-se do castelo lentamente, enquanto parte deles era afastada pelos patronos dos que protegiam Hogwarts.

         - Mas você tem certeza disso, Arabella?

         Draco, Rony e Ametista tornaram-se para trás e encontraram Arabella caminhando com dificuldade junto de sua irmã, Ártemis, que havia desviado o caminho há pouco.

         - Merda – xingou Draco, tornando-se para os outros dois. – Que elas estão fazendo aqui?

         Velozes e desesperados para não serem pegos ali mesmo, Ametista fechou os olhos e apontou para ela, Draco e Rony, dizendo num sussurro:

         - Invisibilitas!

         Tanto Weasley, Malfoy e Dumbledore congelaram ao assistirem Arabella e Ártemis passarem por eles em direção ao dormitório dos professores e a Torre da Corvinal sem vê-los. O feitiço de invisibilidade de Ametista dera certo, mas não parecia durar por muito tempo. Como era um feitiço avançado, logo Rony começou a observar que seus pés estavam aparecendo na penumbra.

         - Dumbledore não seria louco a este ponto – dizia Ártemis a irmã, ajudando-a a carregá-la. – Convocá-los é desafiar as leis do universo e já disse isso a ele uma vez, mas parece que não me ouve em absoluto! – Arabella gemeu, parecendo estar com muita dor. – Vamos, você precisa descansar...

         - Não! – protestou Arabella, muito fraca e tonta. – Preciso comunicar os outros, preciso avisá-los, preciso encontrar Sirius e Harry...

         - O seu noivo e futuro pai do seu filho estará muito bem preparado para enfrentar um bando de dementadores e a excelência de deuses, não se preocupe – disse Ártemis, num tom que parecia mais ríspido e impaciente do que angustiado. – E seu afilhado deve estar nesse momento na sua Torre.

         Arabella vacilou e sentiu seus joelhos fraquejaram. Neste momento, Rony, Ametista e Draco já conseguiam ver um ao outro em uma imagem turva e semitransparente. Os fios de cabelo de fogo do Weasley se destacavam. "Por que você tinha de ser ruivo, diabos!", pensou Draco aflito.

         - Você acabou de ter uma daquelas suas visões, Arabella, é melhor descansar. Deixe que nós resolveremos isso, certo?

***

Enquanto Harry estava naquela nova transição de memórias a memórias de seu padrinho, começou a ouvir vozes. Eram de dentro da Penseira, isso tinha certeza. "Eu não sabia! Não vá, não me deixe, eu imploro!", era uma voz feminina. "Nada que você fale irá me fazer voltar atrás! Você me enganou! Você me iludiu! A única coisa que eu amava mais do que você, você conseguiu tirar de mim!", agora era uma masculina, descontrolada. "Não, por favor! Eu já disse que não sabia! Já disse que foi feitiço! Por favor, não me deixe, não deixe a Ametista!", voltou a implorar a voz feminina. "Ametista? Oh! Por favor, você tirou o que eu mais amava! Você tirou Ametista de mim! Eu não permaneço nem mais um minuto com você aqui!", gritou o homem. "Não, por favor, você sabe que eu te amo! Que eu nunca faria nada para te magoar! Eu te amo e amo nossa filha!", esbravejou a mulher em desespero. "Eu só digo mais uma coisa a você Hariel, a mulher que eu amei por todos esses anos: eu amaldiçôo você e a essa criança pelo resto da minha vida! Eu não sou mais seu marido, ou o pai desse bebê! Eu desejo tanto que Ametista não tivesse nascido! Desejo que tivesse morrido! Pois eu não teria de carregar tamanho desgosto! Eu te odeio mais que tudo! Você e Ametista!", finalizou o homem.

         Harry caiu no meio de uma sala, revirada, cheia de destroços pelo caminho. Parecia que uma guerra havia acontecido por ali. Olhando para todos os lados, encontrou Sirius abaixado sobre um corpo inerte. Chegando mais perto, notou quem era: Hariel Dumbledore Black, já que ela era a esposa de Sirius. A mulher tinha a expressão sem vida, os olhos fechados e a beleza ainda conservada, mas sem aquele brilho e luz que a circundava. Sirius soluçava, chorava, gritava. As lágrimas eram fortes demais para serem seguradas, eram profundas e verdadeiras. A mulher que amara durante toda a sua vida estava morta aos seus pés.

         Repentinamente, Harry aparatou junto de Sirius. E logo ao colocar os pés no chão, sua respiração se foi de uma maneira terrível. Estavam caídos, naquele piso frio e sem cor, Tiago e Lílian Potter. Seu pai ainda mantinha a varinha em sua mão, enquanto Lílian, a poucos metros dali, segurava um xale daqueles que enrolam crianças pequenas para protegê-las do frio. A vivacidade e felicidade vistas por todas aquelas memórias passadas pareciam se desfazer em rostos cheios de temor.

         - TIAGO! – gritou Sirius ao lado de Harry, as lágrimas caindo ainda mais desesperadamente. – LÍLIAN!

         O medo tomou o coração de Harry ao assistir aquela especial e trágica lembrança de Sirius. O homem caiu de joelhos ao lado do corpo do pai de Harry e começou a surrar seu próprio coração.

         - VOCÊ OS MATOU, SIRIUS! – berrava enquanto batia fortemente contra o peito, soluçando. – VOCÊ DEIXOU QUE O MALDITO VOLDEMORT OS PEGASSE! VOCÊ OS MATOU!

         Harry sentiu um embrulho no estômago imediato. Então, era aquela sensação que Sirius sempre tentou explicar a Harry. A culpa imensa de ter recusado o lugar de Fiel do Segredo dos Potter. Tentar provar suas dúvidas pelos meios errados. Nunca deveria ter deixado o cargo para Pedro apenas por um capricho, para provar para si e para todos que o homem que um dia fora amigo deles era agora um traidor. Não, ninguém merecia tal sentimento. Harry também sentiu os joelhos vacilarem e as lágrimas caindo de seus olhos sem o seu próprio comando. Era definitivamente desesperador. Caminhando lentamente, ajoelhou-se ao lado da mãe. Lílian Evans Potter continuava magnífica. Aquele perfume que Harry recordara apenas naquele momento. Era sua mãe.

         - Prometo me vingar, amigo – disse Sirius entre soluços, levantando-se do chão. – Prometo! Irei matar o maldito que fez tudo isso! Perseguirei Voldemort e Rabicho até o resto dos meus dias, mesmo que isso me faça perder a própria vida! Prometo que vingarei suas mortes! Que vingarei a morte de Hariel e de nosso futuro segundo filho! Meu verdadeiro filho! Prometo que não descansarei enquanto não me vingar! Não vingar a morte de todos vocês! Eles destruíram minha vida, destruirei a deles também!

         Então, quando Harry achou que não havia mais forças restantes em seu ser, imagens se formaram em seu cérebro. Era o tom de voz mandão de Hermione. As caretas e piadinhas de Rony. Os olhos tão azuis e apaixonados de Ametista. O abraço caloroso de Arabella. O piscar de olhos de Dumbledore. Mas, principalmente, o sorriso de Sirius Black. O empenho em provar sua inocência, em estar ao lado de seu afilhado, em cumprir todas as promessas feitas ao passado.

         Naquele momento, Harry entendeu com perfeição seu nascimento e seu objetivo. Teve de cruzar eras até o destino. O seu destino. Harry estava lá para provar a todo o mundo que o mal poderia ser vencido, que Voldemort não era indestrutível, mas especialmente que devemos sempre seguir em frente e concluir todas as nossas promessas. Harry sabia que nascera não apenas para ganhar o nome Harry James Potter, para se tornar um ótimo apanhador ou mesmo para ser o Menino-que-sobreviveu. Harry nascera para encontrar seu destino. O destino de extinguir Voldemort e todo o mal que ele acarreta no mundo. Assim, ele prometeu a si mesmo, que até o final de seus dias, iria combater Voldemort e o mal com toda a sua essência, não importando o que poderia vir a acontecer. Não morreria antes de matá-lo. E de aniquilar o mal.

         Sem perceber, já havia alguém o puxando para fora da Penseira. Agora, Harry sentia-se completamente pronto para encarar seu destino e sua missão. Um sorriso despertou em seus lábios.

***

NO PRÓXIMO CAPÍTULO: Mergulhado na Penseira de Sirius, Harry não tem a mínima idéia do que está acontecendo fora do castelo de Hogwarts. Diante da real situação, ele, Hermione, Rony e Ametista decidem se unir para lutar contra os dementadores e ao lado de parte da Ordem da Fênix, contra a vontade de Dumbledore. Estranhamente, Draco Malfoy junta-se a eles. Entretanto, a quantidade de dementadores que invadem os jardins da Escola aumenta a cada minuto e todos enfraquecem aos poucos. O quê será de Hogwarts?

Conheça finalmente a legião mais antiga do mundo bruxo em "OS CAVALEIROS DE MERLIN"