N/A: Ainda estão presentes em primeira pessoa os pensamentos neste capítulo, e também memórias dos marotos, do passado de Heather (estes, entre aspas).
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NO CAPÍTULO ANTERIOR: Helderane revelara ser, na verdade, em sua vida humana, Heather Potter, a irmã de Tiago Potter, pai de Harry. Então, isto a fazia sua tia, certo? Porém, como uma Deusa, ela foi impedida de seguir como a quieta Srta. Potter e transformou-se em Helderane, a Cavaleira de Merlin. Só que ela não contava que o coração humano de Heather ainda pulsasse dentro de seu peito. E era esse seu maior problema. Como esconder seus verdadeiros sentimentos?
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Capítulo Vinte e Oito - A Deusa de Coração Humano – Parte IIÉ chegada a hora. Minhas mãos estão levemente trêmulas e, mesmo que eu saiba o desfecho ou ao menos imagine, estou nervosa. Será que ele aceitará bem o quê tenho a dizer? Se bem que, eu nem planejei nada. "Você precisa ser mais determinada". A voz da minha mãe dizendo aquilo sempre me dizia que, em alguma ocasião, eu teria de ser determinada. Entrando neste jardim com ele ao meu lado, sinto como se eu estivesse recebendo forças de todos que já se foram e daqueles que torcem por mim. Pela Heather, não pela Helderane. Afinal, é ela quem está aqui, neste momento. Somente preciso respirar fundo e fechar meus olhos. Não quero continuar sofrendo. Não irei.
Harry andava no mesmo ritmo em que a mulher ao seu lado. Um calafrio permanecia em sua espinha, subindo e descendo. Não era ruim ou incômodo. Ele só estava inseguro. Helderane parecia mais que uma Deusa. Era um anjo. Seus grandes olhos castanhos brilhavam toda vez que olhavam a Harry. Sua voz era calma e paciente, parecendo uma melodia de harpas. Seu andar era reto e delicado, assim como parecia flutuar pelos corredores escuros daquela noite fria de Janeiro. Os fios do cabelo eram lisinhos e reluziam conforme o movimento sutil da cabeça da Cavaleira, combinando perfeitamente com os amendoados olhos de mesma cor.
Assim que chegaram aos jardins, deixando o castelo para trás, o céu escuro se abriu em estrelas como num passe de mágica. Uma brisa suave passou por seu corpo e Harry sentiu como se a correnteza de vento fizesse graça no vestido branco da Cavaleira de Merlin. Se pisasse com os pés descalços na relva, notaria que o orvalho havia umedecido a terra com gentileza. Apesar de estarem na estação mais fria de todas, o inverno, aquela noite em especial estava perfeitamente agradável. Fria, mas muito agradável.
A Deusa andou pouco mais para longe de Hogwarts e paralisou. Harry fez o mesmo e encarou as árvores da Floresta Proibida, que se moviam conforme a velocidade do vento. Recordou a recente invasão dos dementadores, pertencentes ao esquadrão de ataque de Voldemort. A idéia de tê-los reunidos em quantidade tão estrondosa provocava um grande receio em Harry. Sua desconfiança aumentava quando lembrava das mais de cinqüenta criaturas que quase arrasaram a Ordem da Fênix e seus amigos – obviamente, Draco Malfoy era retirado dessa citação no mesmo segundo. Divagando em suas preocupações, seu olhar recaiu sobre a mulher ali parada. Helderane era pouco mais baixa que Harry, mas sempre parecia maior, mais brilhante, mais iluminada e majestosa. Toda vez que ele encarava-a, desde seu primeiro encontro, a Deusa lhe provocou o efeito de sentir-se menor junto dela. Diminuído, como se seu poder fosse imenso e indestrutível perto dele. Talvez, ela provocasse isto em todos a sua volta. Talvez não.
- Não está curioso em saber o porquê de tê-lo chamado para conversar, Sr. Potter? – perguntou Helderane, olhando fixamente nos olhos do jovem, sua voz ainda divagando como uma canção.
Harry engoliu em seco e segurou a respiração impensadamente. Parecia que, desde sua primeira aparição, a Deusa tinha algo a dizer a ele. Seus olhos indagavam a energia que exalava do corpo de Harry. A Deusa tinha... Tinha algo inexplicável. E havia ainda aquele pequenino cordão em volta de seu pescoço, que a mulher insistia em tocar.
Estranhamente, parecia sempre que as palavras lhe faltavam ao se dirigir a ela. Aliás, a ela, Hades, Cronos e Ares também.
- Sim. – respondeu Harry, monossilábico, após muito tempo.
Helderane expressou uma face de paciência.
- Gostaria de te conhecer, Sr. Potter – disse a Deusa, sem parecer nervosa. – Sempre ouvi tanto sobre o senhor por este mundo afora que tenho o prazer de tê-lo aqui em Hogwarts e não conhecê-lo? Não acho que isto seja muito inteligente.
Harry corou levemente com a menção da Deusa sobre todo o mundo bruxo saber quem era Harry James Potter, mesmo que aquela citação não o deixava mais confortável à volta dela.
- Eu não sei o quê dizer. – respondeu Harry vacilante.
Surpreendentemente, Helderane sorriu a ele. Seus olhos brilharam e Harry quase percebeu que existia água neles. A Deusa sorriu, primeiramente, com os lábios fechados, e então, mostrando os dentes brancos e a boca carnuda se transformando numa belíssima imagem de alegria e felicidade, mesmo que contida.
- Então você é tímido – concluiu Helderane, com o sorriso. – Uma característica minha.
O monitor da Grifinória franziu a testa.
- Perdão, mas, o quê a Senhora disse?
Agora sim, Harry notou que os olhos grandes e arregalados de Helderane estavam cheios de lágrimas.
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Nunca soube muito bem o porquê das minhas bochechas ficarem sempre tão rosadas ao menor sinal de atenção que eu recebia. Todos costumavam saber que eu estava envergonhada ou tímida. "Olhe para suas bochechas, Heather!". Eu ouvia isso o tempo todo. Mamãe dizia que eu sempre fui muito calma e mais acanhada que Tiago. Papai falava que gostava de ficar quieta e, por isso, quando ganhava atenção, ficava envergonhada. Tiago simplesmente ria da minha cara e dizia que era muito medrosa, que precisava me soltar um pouco. "Relaxe! Para quê sempre tentar ser perfeita?", eu vivia ouvindo dele. E quando me tornei amiga de Arabella, ela insistia que era influência do meu signo astrológico Câncer, o quê na verdade eu sempre achei uma bobagem. Mas isso também me recorda um episódio anterior ao meu quarto ano, nas férias...
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"A família Potter estava reunida discutindo os últimos preparativos para as férias de Julho e Agosto, antes ao retorno a Hogwarts, quando receberam uma carta da Escola. A mãe da família arregalou os olhos ao passar a visão pelas letras do pergaminho. Em seguida, ergueu o olhar, direcionando-o à filha. Tiago, o filho mais velho, se tornara desde o quinto ano monitor da Casa Grifinória e sempre tivera as notas que qualquer pai se orgulharia. Já a filha mais nova, Heather, a quem a mãe estava olhando naquele momento, que sempre fora uma ótima aluna igualmente. Entretanto, a expressão descontente da mãe denunciava que havia algo de muito estranho em seu desempenho escolar.
- Juro que não entendo, filha – murmurou Catherine Potter enquanto olhava atentamente a carta recebida há pouco mais de cinco minutos. – Não esperava que você caísse tanto assim. Digo, Defesa Contra a Arte das Trevas? Você sempre foi a primeira aluna de sua turma! E Adivinhação? Não é possível que a Hawking tenha quase te reprovado por tanto, mesmo que ela seja quem é...
- Deixe-a falar por um minuto, Catherine, pelo amor de Merlin! – irritou-se Anthony Potter, ao ouvir os protestos da esposa há quase três minutos.
O atual Ministro da Magia, que até então estava conversando com o filho, voltou-se para a menina do quarto ano – porque passara raspando – e cruzou os braços. Tiago acomodou-se no sofá, espreguiçando-se longamente, com a face irônica, deleitando-se com o momento.
Heather estava encolhida na outra poltrona, o olhar direcionado aos seus pés e à pequena corrente que envolvia seu tornozelo esquerdo. Percebia-se que a respiração estava entrecortada. Metade de seu cabelo castanho e liso cobria seus olhos.
- Heather! Eu exijo uma explicação! – gritou Catherine nervosa, encarando a filha ferozmente.
A garota permaneceu com o olhar baixo, sem levantar a cabeça.
- Ok, mamãe – respondeu ela, a voz tão baixa que Catherine ajeitou-se no sofá para aproximar-se da filha a fim de ouvi-la. – Eu bobeei, certo? Me descuidei. Desculpe.
- Ninguém simplesmente se descuida, Heather! – a garota sabia que quando sua mãe repetia muitas vezes seu nome, é porque estava furiosa.
Anthony afrouxou o nó da gravata que envolvia o colarinho de sua camisa e bateu as mãos ao lado do corpo, num tom confuso. Depois, ergueu as mãos e pediu silêncio à esposa.
- Mas filha, você nunca deu problemas a nós antes – disse o senhor Potter, a voz levemente rouca. – Você sempre foi a melhor da turma e sua mãe não percebeu que estava tão displicente assim nas aulas dela. Que está acontecendo?
Catherine Potter era professora de Hogwarts e ensinava Astronomia.
Heather levantou a cabeça ligeiramente e o olhar direcionou-se ao pai.
- Eu já pedi desculpas, não está bom? – retrucou aflita. – Isso não acontecerá de novo! Eu prometo...
- Por que você não diz logo a eles o motivo dessa sua repentina distração, irmãzinha?
Não somente Heather, como Anthony e Catherine tornaram-se para o jovem de dezesseis anos sentado no sofá, esparramado e com um sorriso perspicaz. Tiago retirou seus óculos e olhou-os de longe, procurando uma sujeira. Quando os voltou nos olhos, chocou-se com a boca entreaberta da irmã caçula, a expressão de choque. Tiago sorriu maliciosamente.
- Do que Tiago está falando, Heather? – perguntou Catherine para a filha, olhando estranha.
Heather mordeu o lábio inferior com força e lançou um olhar suplicante ao irmão mais velho. Tiago, pela primeira vez, sorriu com maldade e agitou a cabeça negativamente. Heather fechou os olhos e imediatamente sentiu o corpo, especialmente o rosto, ficarem tão quentes que parecia ter entrado em estado febril repentinamente.
A mãe dos irmãos Potter, ao ver as bochechas vermelhas, quase roxas, da filha, percebeu que havia algo de muito errado.
- Heather, suas bochechas não mentem! – ralhou a senhora Potter, com Anthony parando ao lado da mulher, ainda em pé. – Diga-me o quê há de errado com você! AGORA!
- 'Tá certo, 'tá certo! – respondeu Heather, jogando a almofada que cobria seu abdômen para longe e erguendo-se do sofá, o olhar de ódio profundo caindo sobre Tiago. – Eu estou namorando, ok! Na-mo-ran-do! E Tiago acha que isso me atrapalhou! Pronto, falei...
Anthony Potter caiu imediatamente no sofá ao lado da mulher e Catherine levantou como se tivesse tomado um choque. Agora eram as bochechas da mãe que também ferviam.
- Com quem a senhorita está namorando? – indagou Catherine, rangendo os dentes.
Antes que Heather pudesse responder, Tiago pigarreou e disse:
- Está vendo como você não tem habilidade alguma de esconder as coisas, Heather – disse Tiago, com seu tom superior. – Suas bochechas dizem tudo! Já cansei de dizer que você tem que tomar controle delas! – ralhou o jovem, ignorando o nervosismo da irmã. Em seguida, Tiago olhou para a mãe e com a maior cara lavada, ele completou. – Ela está namorando o Remo, mãe."
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É, eu poderia ter terminado naquela mesma noite a minha ligação de sangue com o idiota do meu irmão. Mas, ele tinha razão no final de tudo. A timidez me colocou em muita enrascada. Ainda bem que aprendi a controlar bem esse pequeno defeito. Obviamente, até certo ponto.
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- Você é corajoso, Sr. Potter? – indagou Helderane em seu tom melódico. – Porque ouvi dizer que é muito, que enfrentou uma série de perigos, até aqui mesmo em Hogwarts.
- Pode-se dizer que sim – concordou, introvertido novamente. – Dizem que herdei a coragem do meu pai.
Helderane deteve um soluço da garganta. Com um novo sorriso, maior ainda do que o anterior, Harry viu-a apertar os olhos e a água transbordar deles, fazendo com que as lágrimas caíssem pela bochecha da Deusa. Harry ficou ainda mais confuso.
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"- Você ficou maluco, Sirius?! Eu não vou permitir que você faça algo como isso! Pode esquecer!
Heather estava descendo as escadarias do dormitório feminino do quinto ano da Grifinória quando parou para ouvir a discussão. Dava-se para distinguir claramente a voz de Hariel Dumbledore, esbravejando como uma louca no Salão Comunal da Grifinória.
- Eu não vou deixá-lo ir sozinho, Hariel! É tão difícil para que isso entre na sua cabeça! – gritou de volta uma voz bem masculina. Era Sirius Black. – Você sabe a dor que ele está passando?
Segurando a respiração, Heather ouviu um suspiro contido e passos em direção à escadaria. Pensando que seria Hariel, postou-se de pé, porém, rapidamente, sentiu alguém puxando seu braço com certa força. Tornando-se para trás, encontrou os olhos de Remo encarando-a com um certo temor.
A garota do quinto ano indicou seu dormitório, mas Remo indicou negativamente com a cabeça, pedindo que ela ficasse. Ambos sentaram-se nos degraus da escadaria. "Fique aqui", ela leu nos lábios que costumava beijar. Estremeceu levemente, nunca gostava de muita proximidade com Remo Lupin.
- Você acha que não sei o quê Tiago passou, Sirius? – voltou a protestar a voz de Hariel. – Eu perdi minha mãe nessa Guerra estúpida contra Voldemort, esqueceu-se? Eu perdi minha mãe! Eu então sei bem o quê Tiago está passando! E por isso mesmo não acho sensato que vocês façam uma besteira como essa!
A garota olhou para Remo e sentiu a mão do jovem do sétimo ano escorregar até encontrar sua mão. Franzindo a testa, abriu a boca para dizer algo. Estava com medo do assunto que se tratava àquela discussão entre Sirius e Hariel.
- Eu escolhi isso, Hariel – disse outra voz masculina. Desta vez, Heather teve certeza que era de seu irmão, Tiago. – Eu vou me opor a esta matança. E não há nada que alguém possa fazer para me impedir.
Naquele exato momento, Heather olhou para Remo e um único dedo do jovem cobriu seus lábios, enquanto os olhos da garota estavam paralisados, sem poder expressar qualquer reação.
- Meu pai não morreu pelas mãos de Voldemort, como a sua mãe, Hariel, mas ele deixou uma ponta de esperança em mim. Nunca houve um Ministro tão bom quanto meu pai e eu estarei lá para vencer a batalha que ele apenas não venceu porque padeceu antes.
Uma lágrima caiu dos olhos de Heather. Remo mordeu seu lábio inferior e retirou o dedo da boca de Heather. A jovem estava estática, sem mínima reação.
- E a sua mãe, Tiago? Você não pensa nela? – indagou Hariel nervosamente. – E Lílian? Você a pediu em casamento, esqueceu? Se você não estiver aqui, o que será dela? O que será do casamento de vocês?
- Eu já conversei seriamente com Lílian e ela concordou, me apoiou – disse Tiago calmamente. – Trabalharei com o irmão mais velho do Sirius, o Thomas. E, se for preciso, estarei disposto a morrer até que mate Voldemort e todos os outros seguidores que insistem em acabar com a nossa paz e o nosso mundo.
- E sua irmã? O quê você dirá a Heather? Ela acabou de descobrir que será transformada numa Deusa e você a deixará assim, dessa forma?
Um longo silêncio seguiu enquanto as lágrimas caíam dos olhos de Heather. Remo olhou-a com pesar e aproximou seus braços do corpo pequeno de Heather, envolvendo-a num abraço caloroso. A jovem fechou os olhos e mordeu o lábio, segurando um soluço mais alto.
- Eu irei para esta Guerra por causa dela, Hariel – respondeu Tiago Potter. – Quando minha irmã se tornar uma Deusa, eu estarei purificando o mundo, tornando o mundo melhor para que ela não tenha que ser transformada numa Deusa, para que não tenha que deixar toda essa nossa estória para trás e principalmente para que ela tenha uma vida digna de uma humana, que ela possa trabalhar, se apaixonar, casar, ter filhos, ter meus sobrinhos. Estou fazendo isso pela Heather. E eu sei que ela saberá disso quando eu contar a ela".
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Eu sempre quis ter essa coragem admirável que somente via estampada em meu irmão. Claramente, ele havia aprendido com meu pai. Ele era um homem de fibra, um homem que não tinha medo de nada e que sempre colocava sua coragem imensa e a confiança em si à frente de todos os seus temores, não importando quais fossem eles. Tiago sempre foi meu herói. Porém, não podia deixar que uma memória como aquela não afetasse meu coração. Tiago tornou-se meu salvador a partir daquela tarde. Mesmo que ele não tenha conseguido alcançar seu objetivo.
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- E teimoso? Você é teimoso? – voltou a indagar a Deusa.
- Rony e Hermione dizem que sim – respondeu com um riso discreto. – A todo o tempo.
A Deusa manteve o sorriso largo e os olhos apertados, as lágrimas caindo. Helderane riu. Harry, sem pensar duas vezes, sentiu uma vontade enorme de rir junto da Deusa. E ele assim fez.
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"Arabella tinha os pequeninos olhos negros concentrados nos pergaminhos sobre a mesa quando Heather sentou-se à frente dela. Com seu corpo pequenino e o cabelo liso sempre em ordem, Heather ficou encarando Arabella com certo receio. Suas bochechas estavam começando a corar, ela podia sentir.
Quando a moreninha do terceiro ano encarou a garotinha sentada com a face rubra, Arabella ajeitou-se na cadeira e cruzou os braços.
- Alô, Srta. Potter – cumprimentou Arabella formalmente. – Pensei que a senhorita não viria.
Heather engoliu em seco, erguendo as sobrancelhas.
- Você pediu que eu comparecesse, aqui estou eu – respondeu a menininha de onze anos. – Fiquei curiosa com o quê as amigas do meu irmão poderiam querer comigo.
Como num passe de mágica, uma garota loirinha muito bonita, com profundos olhos azuis, sentou-se à esquerda de Arabella, e outra ruivinha de olhos tão verdes que deixaram Heather maravilhada, sentou-se à direita da moreninha.
- Nós não somos amigas do seu irmão, primeiramente – esclareceu Arabella, enrolando o monte de pergaminhos que havia acima da mesa, em seu tom mandão. – Segundamente, gostaríamos que você fosse sincera conosco e, caso der certo, podemos até pensar num acordo.
A menina encolheu-se na cadeira, temerosa. Suas bochechas ferviam. Naquele ponto, todo o rosto deveria estar vermelho. Sem pensar, colocou mechas de seu cabelo atrás de suas orelhas. Aquilo não parecia nada bem. Tiago vivia dizendo coisas sobre aquelas três. A loirinha, neta do diretor, era intragável. Vivia reclamando de alguma coisa e simplesmente não suportava Sirius, o quê Heather achava um absurdo, já que Sirius era um amor com ela. A moreninha, filha de uma companheira de trabalho de seu pai no Ministério da Magia, era muito mandona e achava que sempre tinha espaço para dar lições de moral nos garotos. Mesmo assim, Sirius, Heather percebia recentemente, que parecia muito envergonhado quando comentava sobre ela. A ruivinha, por sua vez, era filha de trouxas e parecia particularmente chata. Tiago dizia que, para ele, era a pior das três, mesmo que dificilmente dava conversa para ela e suas teorias políticas sobre trouxas e bruxos. Realmente, coisa boa dali não poderia sair.
- A-acordo? – gaguejou nervosa.
- Exatamente – continuou a morena. – Como você sabe, Hariel – ela apontou para a loira. – Lílian – depois para a ruiva. – e eu, Arabella, não somos especificamente as melhores amigas de seu irmão...
- Ele não gosta de vocês três, diz isso o tempo todo. – tagarelou Heather sem pensar, colocando a mão sobre a boca logo em seguida, num gesto bem infantil.
A loirinha bufou sem muita paciência, murmurando um "grande novidade" posteriormente.
- Lílian, isso tudo é ridículo. Sua idéia é ridícula – disse a garota do terceiro ano sem a menor vergonha. – A menina é apenas uma criança e não vai sair por aí contando os segredos do irmão para nós.
Foi à vez da moreninha suspirar num tom sem esperança.
- É Hariel, você tem razão – e ela tornou-se para Lílian. – Deixe isso pra lá, Lily! Você, eu e Hogwarts inteira sabemos que ela não dirá nada. Foi mesmo uma idéia idiota e nós duas fomos mais idiotas ainda de topar...
- Idéia idiota coisa nenhuma! – protestou a ruivinha, os olhos verdes se intensificando sobre Heather. – Srta. Potter, hum... Qual é o seu nome?
- Heather. – murmurou a menina, afundando cada vez na cadeira.
- "timo, Heather – repetiu Lílian sorrindo. Mas não parecia um sorriso particularmente sincero. – Será que você poderia fazer um pequeno favor para nós? Tenho certeza que não tomará muito o seu tempo.
A Senhorita Potter olhou de esguelha para as outras duas e o olhar de esperança parecia não ter voltado ainda. Hariel e Arabella pareciam nem um pouco interessadas em tentar convencê-la a investigar a vida de Tiago para elas.
- Você sabe o porquê de seu irmão e dos amigos deles fugirem uma vez por mês, à noite, por alguns dias e por que ficam cheios de segredinhos, até por que pararam de encher nós três? – Lílian disse tudo muito rápido e a garotinha do primeiro ano não entendeu muito bem.
Porém, Heather ergueu as sobrancelhas, querendo conter um riso. Se, um dia, aquela estória caísse nos ouvidos de seu irmão, Heather o ouviria rir por mais de uma semana. Nas férias de Hogwarts em que Tiago, eventualmente, passava em casa, costumava sempre a contar sobre um trio de garotas da Grifinória que ele, Sirius, Remo e Pedro adoravam torrar a paciência, como ela já havia recordado antes. Agora que ela fora aceita na Escola, em seu primeiro ano, as mesmas garotas estavam pedindo para que ela fizesse um relatório da vida do irmão?
- Você está me pedindo para espionar o Tiago? – perguntou Heather, receosa, mas ainda querendo rir.
Os olhos verde-esmeralda de Lílian brilharam com intensidade.
- Isso mesmo, Heather. Espionar Potter e os outros para nós três, que acha?
- Lílian, desista! – repetiu Hariel e Arabella num coro. – Ela não dirá nada!
- Vamos lá, Heather – continuou Lílian, ignorando as amigas. – Podemos combinar um acordo? Eu posso fazer suas tarefas, coisas assim...
- Lílian, deixe de ser tão teimosa! Ela não vai fazer nada que prejudicará o irmão! Isso foi uma idéia imbecil! – ralhou Arabella, nervosamente.
- Não, eu não vou descansar enquanto não acabar com a vida daquele grupinho infernal, vocês podem ter certeza! – retrucou Lílian, os olhos brilhantes. – E eu quero começar pelo Potter.
- Você quer começar o quê por mim, Evans? – perguntou alguém atrás de Lílian.
Heather sorriu ao ver o rosto do irmão mais velho, também pertencente ao terceiro ano. A expressão de raiva que apareceu no rosto de Lílian provocou uma crise de riso em Heather, que preferiu sair correndo da mesa antes que criasse briga com as inimigas prediletas do irmão".
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Lílian era mesmo bem cabeça dura. Quando colocava algo na cabeça, não desistia por nada no mundo. Provavelmente, Harry deve ter herdado essa teimosia dela. A mãe dele fora sempre tão persistente. Mesmo para que fosse tentar pregar uma peça no coitado do Tiago. Quem diria que ele se apaixonaria por ela?
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Quando ambos permaneciam se encarando e rindo, como dois possíveis idiotas, a quem olhasse de longe, pareceu a Harry que havia algo de muito importante naquela conversa, naquela mulher. Aos poucos, conforme sua risada ia se intensificando e se tornando quase numa gargalhada, uma felicidade imensa e incontrolável foi se espalhando pelo seu ser. Era como se o calor da plenitude estivesse tomando, muito rapidamente, cada pedacinho de seu corpo e da sua mente. Seu coração estava acelerado e fora de controle. Parecia que iria explodir a qualquer momento.
- Vo-você é ex-exatamente como eu semp-sempre imaginei.
A frase ofegante que saíra da boca de Helderane fizera com que Harry parara totalmente de rir. Seu semblante tornou-se sério e chocado. Do que aquela mulher poderia, em toda a face da Terra, estar falando? Ela imaginava como ele, Harry Potter, poderia ser?
- A Senhora está bem? – indagou Harry completamente confuso. – Porque eu estou totalmente perdido.
A mulher parara de rir igualmente. Parecia a hora certa a se iniciar a grande notícia ao sobrinho. Helderane respirou fundo. Sua face estaria tão séria quanto à de Harry, se não fosse por aquele sorriso pequeno e radiante que fixara em seus lábios e parecia não querer desvanecer.
- Eu conheci o seu pai, Sr. Potter...
Os olhos de Harry arregalaram-se lentamente. Aquela mulher, a Deusa Helderane, a mais poderosa dentre os Cavaleiros de Merlin, conhecera seu pai, Tiago Potter? Seu pai? Seu pai?
- Vo-você conheceu meu pai? – sua voz se diminuiu e ficou fraca diante da revelação de Helderane. – Meu pai?
Mais algumas lágrimas caíram dos olhos da Deusa. O sorriso permanecia ali.
- Tiago Potter – disse ela, a voz não mais parecendo com a de uma canção. – Conheci muito bem o seu pai, Sr. Potter.
Harry percebeu que sua respiração ficou ruidosa. O quê ela poderia querer dizer em relação ao seu pai? E por que ela continuava ali, com aquele sorriso e aquele rio de lágrimas caindo de seus tão brilhantes olhos?
- Conheci sua mãe também...
- Mamãe? – surpreendeu-se Harry, ficando boquiaberto.
- Sim, Lílian Evans – respondeu Helderane, seu sorriso se abrindo novamente. – Uma garota muito teimosa. Muito.
Agora, eram os olhos de Harry que, relutantemente, se enchiam de lágrimas. Toda vez que encontrava alguém com informações sobre seus pais, especialmente após a visita na Penseira de Sirius, provoca-o de uma maneira intensa.
- Como você os conhecia? – questionou Harry, sua voz se tornando quase um sussurro.
Helderane sorriu plenamente mais uma vez. As estrelas pareciam iluminar seu sorriso.
- Não sei se já lhe contaram, Sr. Potter – iniciou Helderane. – Mas todas os Cavaleiros de Merlin foram, um dia, humanos comuns como você. Que tiveram famílias, pais, amigos, irmãos. E eu também tive a minha. Meu verdadeiro nome é Heather.
Harry engoliu em seco, pensando que já havia ouvido aquele nome antes.
- Eu vivi na mesma época que seus pais, Sr. Potter. Quando entrei em Hogwarts, eles estavam no terceiro ano, eram dois anos mais velhos que eu.
- Então, vo-você real-realmente os conheceu? – Harry parecia não acreditar.
A Deusa Cavaleira de Merlin concordou com a cabeça. Harry ficou com os olhos mais cheios de água ainda. Helderane notou e ampliou seu sorriso.
- Eu pertenci a Grifinória – Harry arregalou os olhos. – Seu pai, uma vez, teve um romance com uma amiga minha – dizia Helderane, Harry sentindo as pernas formigarem. – Eu recordo que ele estava tentando a monitoria no quinto ano, mas só por diversão, já que ele e os outros três amigos viviam aprontando na Grifinória.
- O Sirius, o Lupin e o Pettigrew. – interrompeu Harry, sorrindo.
- Isto, mesmo que na maioria das vezes, eu os ouvia chamando mais por Pontas, Almofadinhas, Aluado e Rabicho – Harry riu, as lágrimas teimando dentro de seus olhos. – Eles se auto-intitularam Os Marotos.
***
"- Os Marotos? – engasgou Heather, segurando a risada. – Que raio de nome é esse?
Tiago sorriu, enquanto seus três outros amigos piscaram um ao outro discretamente. Aquela era a segunda vez que os novos amigos de seu irmão mais velho iam a sua casa. Sirius Black era o que tinha cabelo bem escuro e os olhos de um lindo tom azul escuro. Pedro Pettigrew era o meio gorduchinho com o olhar geralmente sonhador.
Entretanto, desta vez, Tiago trouxera um novo amigo. Naquela semana, Heather estava o conhecendo pela primeira vez. Os olhos mudavam constantemente de cor – ela reparara no jantar, na partida de quadribol, no almoço, no café da manhã – e o cabelo era castanho claro, com alguns fios dourados. Apenas não seria mais bonito se não fosse pela aparência exausta que chegara há um dia em sua casa – e que parecia não deixá-lo. Heather ficou especialmente fascinada por ele. Seu nome era Remo Lupin.
Agora, os quatro garotos haviam invadido o quarto da irmã mais nova de Tiago para contar algumas coisas sobre Hogwarts, já que em duas semanas ela estaria ingressando na Escola de Magia e Bruxaria. Mesmo que os garotos não parecessem muito favoráveis a conversas com garotas, especialmente uma dois anos mais nova que eles, ainda assim, ali estavam presentes para distraí-la.
- Foi repentina, mas adoramos a idéia e o nome – dizia Tiago, mascando um chiclete, sentado na ponta da cama da irmã. – Também demos apelidos a cada um de nós.
- Isso é tão infantil... – balbuciou Heather para si mesma, fazendo com que os outros ainda assim ouvissem-na. – AH! Vocês agora então me dirão que isso não é infantil?! – os quatro olharam feio para a garotinha de onze anos. – Tudo bem, podem pensar que eu sou uma pirralha chata, mas é a verdade.
Tiago olhou de esguelha para Heather e notou como sua irmã andava agindo estranha desde que seus amigos haviam chegado em sua casa. Na verdade, ela somente ficava daquela forma quando não estava na presença de seus pais ou de, estranhamente, Remo.
- Bem, você vai querer saber nossos apelidos ou não? – retrucou Tiago, ficando nervoso.
Heather deu de ombros e o irmão mais velho bufou. Sirius riu e disse:
- Eu sou Almofadinhas, Tiago é Pontas, Pedrinho é Rabicho e Remo é Aluado.
- Almofadinhas? – estranhou Heather, levantando uma de suas sobrancelhas, num tom irônico.
Tiago e Pedro riram da face engraçada de Sirius, não gostando da insinuação da irmã mais nova do amigo. Então, ouviram alguém bater na porta entreaberta e o terceiro convidado da família Potter entrar. Era aquele amigo de Tiago que Heather não cansava de olhar. Instantaneamente, as bochechas da garotinha rosaram.
- Então, Heather, há muitas coisas que você precisa aprender quando entrar em Hogwarts – dizia Sirius, piscando para a moreninha. – Por exemplo, depois que for selecionada para a Grifinória, você deve saber muito bem com quem andar.
- Sirius tem toda a razão – continuou Pedro. – Nunca! Nunca ande com as garotas do terceiro ano! – avisou Pedro, frisando bem, com os outros três concordando piamente.
- E qual é o problema com as meninas do ano de vocês? – perguntou Heather, sentando direito na cama e dando espaço para que Remo sentasse em seu leito também, ao lado de seu irmão.
- Ora, são cobras! São desocupadas que existem para infernizar nossa vida! – brigou Sirius, cruzando os braços e se apoiando diferentemente no chão. – Especialmente a neta do diretor!
A garota levantou suas sobrancelhas e indicou positivamente com a cabeça, querendo rir por dentro. Via-se claramente que os garotos não gostavam nem um pouco das tais garotas. Mas, de qualquer forma, sua mãe vivia dizendo a ela que garotos na idade de Tiago odeiam o sexo oposto. Isto talvez explicaria suas constantes brigas com o vizinho, Bruce.
- Mas vocês não me disseram o porquê de criarem esse nome... – murmurou Heather.
- Oh... – ouviu Pedro e Tiago balbuciarem, quase que em silêncio.
Heather olhou para seu irmão, que olhava de esguelha para Remo. Heather percebeu que havia perguntado demais e abaixou a cabeça, ainda concentrada no amigo de Tiago. Havia algo de muito misterioso com ele. Muito".
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E quando Tiago me contou que havia se tornado um animago! Quer dizer, não é todo dia que um garoto do quarto ou quinto ano se transforma num animago, ainda mais num cervo! Ele me fez jurar segredo e poucas semanas depois eu acabei descobrindo o porquê dele se tornar um animago clandestino. Foi quando eu comecei a namorar o Remo. Antes que ele me pedisse em namoro, namoro sério, Tiago fez questão que ele contasse tudo a mim. Tudo sobre ser um lobisomem, sobre fugir uma vez por mês, sobre se esconder no subterrâneo do Salgueiro Lutador e principalmente, sobre a ter três amigos que toparam se transformar em animagos clandestinos para curtir com ele. Curtir. E Tiago falava mesmo em tom de diversão. Mesmo que eu visse a dor nos olhos de Remo.
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- Mas, como a senhora sabe de tudo isso? – indagou, curioso, sentindo o coração palpitar cada vez mais forte dentro do seu peito.
Helderane riu.
- Fácil. Eu me tornei amiga de uma das garotas do ano deles – completou a Deusa. – O nome dela era Arabella Figg.
- Arabella é a minha madrinha! – ressaltou Harry, animado.
***
"Heather andava sem destino certo pelos corredores de Hogwarts. Era Natal e a Escola estava quase vazia. Nevava fortemente do lado de fora e já estava quase anoitecendo. Agora, Heather pertencia ao segundo ano. A Grifinória não tinha mais do que vinte alunos hospedados e o Salão Comunal estava sempre cheio deles, por conta do forte frio que fazia do lado de fora.
Como sempre fora alguém mais calada perto de pessoas desconhecidas – todas as suas amigas haviam viajado com a família ou simplesmente passado o feriado com os pais – preferia ficar vagando pelos corredores ou na biblioteca, folheando páginas e mais páginas. Catherine e Anthony, seus pais, haviam conseguido folga em seus respectivos trabalhos, Hogwarts e Ministério da Magia, para fazerem uma viagem especial. Sua mãe ainda havia perguntado se Heather não gostaria de viajar com eles, mas a filha disse que não iria, afinal, aquela seria como uma segunda lua-de-mel dos pais e a garota de doze anos não pretendia atrapalhá-los.
Então, quando estava muito perto do corredor da Torre da Grifinória, ouviu um soluço. Parecia que alguém estava chorando. Procurando lentamente, olhando para todos os lados, Heather encontrou uma pequena porta à sua esquerda, pouco atrás da onde estava localizada. Assim, segurando um livro em seus braços, caminhou até a passagem e tocou na porta discretamente. Não houve resposta. Assim, ela decidiu entrar.
Os soluços estavam mais altos e provocavam eco na sala vazia e parcialmente escura. Aproximando-se da janela, onde a claridade era maior, encontrou uma garota esguia contorcida, abraçando as pernas e balançando, ao som dos soluços. Heather deu mais um passo e viu quem era. Arabella Figg, uma das amigas de seu irmão – naquela época, Heather sabia que Tiago e os outros haviam se entendido com as garotas porque já não se ouvia tão constantemente os berros deles. A morena estava com o rosto coberto pelos braços flexionados sobre os joelhos, e as pernas unidas, pressionadas contra o corpo. Suas costas pulavam ligeiramente, enquanto os soluços aumentavam.
- Hei, posso ajudá-la? – indagou Heather, aproximando-se do corpo de Arabella e tocando as costas da jovem.
A garota levantou a cabeça e encarou Heather. Suas bochechas estavam molhadas e o rosto completamente pálido. Estranho, já que geralmente, quando alguém chora, suas bochechas coram. Os pequeninos olhos negros da jovem também pareciam estranhos. Estavam enormes, quase que cobriam todo o globo ocular e ainda tinham as pupilas incrivelmente dilatadas. Heather engoliu em seco, assustada.
- Vá embora, Potter – disse Arabella, a voz rouca. – Por favor, me deixe sozinha.
Sentando-se à frente de Arabella, Heather ignorou-a e tocou mais uma vez a garota, desta vez o braço.
- Figg, você não pode ficar aqui – repreendeu gentilmente Heather. – Esta sala está gelada, amanhã será Natal...
- Eu não quero saber de Natal. – respondeu Arabella seca, fungando o nariz levemente.
Heather comprimiu as sobrancelhas e continuou ali, olhando para a garota do quarto ano.
- Eu sei que nós não somos amigas, mas eu posso te ouvir – falou a garotinha, os grandes olhos castanhos transparecendo sinceridade. – O que aconteceu?
Arabella ergueu a cabeça novamente e sorriu levemente para Heather. Tiago costumava dizer que quando estava passando por tempos ruins ou algo o incomodava, ia direto para sua irmã. Heather sempre o ouvia e, quando necessário, costumava repreendê-lo ou consolá-lo. Talvez não fosse tão ruim assim conversar com ela.
- Parece que milhares de coisas decidiram acontecer comigo – tartamudeou Arabella, olhando para longe de Heather. – Não agüento minha irmã gritando a todo tempo no meu ouvido, as brigas dela com minha mãe, odeio quando Sirius não me leva a sério e odeia ainda mais quando ele ri da minha cara!
- Sua irmã não se dá bem com sua mãe? – perguntou Potter, recordando que Arabella tinha uma irmã dois anos mais velha chamada Ártemis e que pertencia a Corvinal.
- Não é isso... É que, bem, há uns problemas entre nós três – Arabella não parecia muito confortável de discutir aquilo com Heather. – Coisas de família, você deve saber como é.
Na verdade, Ártemis, pelo que Heather ouvia de Tiago, não era muito simpática ou mesmo gostava dos grifinórios – da turma da irmã. Arabella e ela pareciam não muito próximas e Sirius vivia dizendo besteiras sobre ela, afinal, Ártemis era a nova namorada de seu irmão mais velho, Thomas Black, pertencente a Sonserina. Thomas era do sétimo ano e o Monitor-Chefe. Ártemis era do sexto e monitora.
- E você continua brigando com o Sirius?
Arabella encarou Heather quase que assustada. Uma estreita linha se formou entre suas sobrancelhas.
- Como assim? Continuo brigando? – indagou a garota.
- É que eu notei nessas últimas duas semanas – corrigiu Heather, corando. – Eu e toda a Grifinória. O Sirius anda brigando mais com você do que costuma brigar com a Dumbledore.
Os olhos negros de Arabella se abaixaram e ela desviou mais uma vez o olhar de Heather.
- Você gosta dele? – perguntou repentinamente a irmã de Tiago.
Arabella arregalou os olhos e assim, finalmente, suas bochechas ficaram rubras, enquanto sua boca abria num misto de surpresa e vergonha. Heather engoliu em seco e estava prestes a pedir desculpas quando Arabella suspirou e olhou para fora da sala, pela janela.
- Eu não consigo reprimir isso – riu a jovem, encarando Heather de volta. – Acho que gosto sim. E é também por isso que eu não paro de brigar com ele. Eu odeio isso!
Heather sorriu e percebeu que Arabella parou de chorar. A jovem aparentou mais calma.
- Mas você tem que me prometer que não dirá uma só palavra a ele! – disse Arabella firmemente, assombrando-se com a idéia de que aquilo chegasse aos ouvidos de Sirius.
- Não! Não! Pode confiar, eu não direi nada a ele ou a ninguém! – confirmou Heather decidida.
Arabella piscou para Heather, que devolveu uma piscadela também. Diante disso, Heather falou:
- Então... Será que podemos nos tornar amigas daqui por diante? – Arabella abriu a boca para responder, mas Heather levantou a mão direita e prosseguiu. – Eu até posso te contar por quem eu tenho uma caidinha...
Os olhos negros de Arabella diminuíram de tamanho e a jovem sentou-se propriamente perto da janela.
- Não precisa dizer – respondeu. – Eu já sei.
Então foi a vez de Heather arregalar seus olhos e suas bochechas quase explodirem de tão vermelhas.
- Exatamente porque você fica assim – e Arabella apontou para suas bochechas coradíssimas. – toda vez que está perto dele. É o Remo, não é?
As duas ficaram em um pequeno silêncio, somente encarando uma a outra. E assim, caíram na risada, dando as mãos e selando o segredo.
- Amigas? – indagou Heather, com um grande sorriso despontando na sua face vermelha.
- Amigas! – assentiu Arabella, sorrindo como a nova amiga".
***
Arabella tornou-se minha segunda melhor amiga. A princípio, eu sabia que gostava dela, pois, assim, poderia ficar mais tempo perto de Remo. Eu e minha paixão bobinha por ele. Mas, com o passar dos meses, ela foi se mostrando alguém tão justa e maravilhosa que acabei mesmo aceitando o fato de que tinha a melhor segunda melhor amiga do mundo. Nossa, isso ficou tão repetitivo...
***
A Cavaleira de Merlin notou a ansiedade na voz do jovem.
- Depois, eu acabei ficando amiga das amigas dela. Hariel Dumbledore, a filha do diretor, que vivia se pegando em qualquer lugar e em qualquer oportunidade com Sirius Black, os dois pareciam gato e rato – contou Helderane, rindo. – E a sua mãe, Harry, Lílian – Harry sorriu à menção de seu nome de batismo saindo dos lábios da Deusa e a primeira lágrima caiu de seu olho esquerdo, pensando na mãe. – Assim, quando o seu pai, Tiago, começou a ter o romance com a minha amiga, do meu ano, eu descobri pela Arabella e até por ele mesmo que já havia algo no ar entre ele e Lílian.
- Você lembra de quando eles começaram a namorar? Como?
Helderane levantou as mãos para o céu estrelado e fechou os olhos, ainda com o sorriso nos lábios. Harry notou que uma corrente de ar mais forte batia em seus cabelos e as folhas das árvores da Floresta Proibida começavam a se movimentar mais rapidamente. Olhou para o alto. Instantaneamente, o céu escuro e estrelado tornou-se um mar de chuva de estrelas cadentes. Harry deu um passo para trás e segurou um grito de exclamação e maravilha. A Deusa conseguira provocar que as estrelas, antes suspensas calmamente no espaço, ficassem tão rápidas que se transformaram em cadentes.
- Foi uma noite assim – voltou a falar Helderane, ainda com os braços estendidos ao céu e os olhos fechados. – A noite de estrelas cadentes. Estava acontecendo um baile aqui em Hogwarts e Tiago resolveu criar coragem para ir até Lílian e pedi-la em namoro, revelando todos os sentimentos que tinha guardados por ela durante aquele tempo – Harry estava sem ar. – A partir de uma noite com um céu como este, seus pais começaram a namorar.
Harry suspirou e imaginou como aquela noite deveria estar perfeita. Tão ou mais quanto àquela tarde de verão no píer de Godric's Hollow, ao pôr-do-sol do último dia de Julho, quando pediu Ametista em namoro.
- E então seu pai, no sétimo ano, pediu sua mãe em casamento, no antigo casarão de Sirius, em Godric's Hollow – Harry não tinha conhecimento daquela informação e sorriu. – Ele deu a ela este cordão em sinal do amor eterno deles.
Helderane postou as próprias mãos em sua nuca e retirou delicadamente o cordão prateado que ela insistia em tocar toda hora. Harry arregalou os olhos e encarou Helderane petrificado. Agora ela também tinha o tal cordão dos seus pais?
A corrente era prateada e havia um pequenino pingente ali pendurado. Harry aproximou-se, ainda chocado com aquele objeto, e olhou atentamente. Era uma lua prateada, com uma pequena estrelinha na ponta inferior. Nela, um brilho vermelho destacava-se fortemente e conforme Helderane ia virando o cordão com a força do vento, como um pêndulo, Harry via o quanto ele brilhava. Tanto o cordão quanto a corrente e ainda a estrela vermelha.
- Que é isso? – indagou intrigado e maravilhado.
- Seu pai deu a sua mãe este cordão que era da sua família e passava por gerações – disse Helderane, ainda com Harry colado no cordão. – A lua crescente significava que o amor nunca pararia de crescer, passando pelas estações cheias, minguantes e novas, onde especialmente o amor é renovado – Harry encarou Helderane finalmente. – O cordão está em época de nova, Harry. Está na hora do próximo da família passar o cordão e renová-lo.
Harry olhava com cuidado para a face ainda úmida da Deusa. Era aquilo mesmo que ela estava querendo dizer?
- Você... – Harry engoliu em seco e corrigiu. – A Senhora está dizendo que eu devo ficar com o cordão?
***
"Tiago estava sentado ao lado de Heather, a face tão emburrada quanto a dela. Ambos odiavam aquelas reuniões de família em que os avós ficam sentados roncando na sala, as avós ajudando as mães na cozinha e os primos pentelhos gritando ou correndo pela casa. Obviamente, os menores. Na família Potter, que era significativamente grande, todos corriam de um lado ou outro, gritavam um com o outro, riam um para o outro. Logicamente, nem todos eram Potter, mas muitos dali eram considerados. Tiago e Heather eram os primos mais velhos, tirando Ryan, que tinha dezessete como Tiago, Charlotte, com quinze como Heather, e Phillip, o mais velho, com dezenove.
Em todas as reuniões de família, Ryan, Phillip, Heather, Charlotte e Tiago costumavam reunirem-se num quarto e se trancarem lá dentro, custe o que custar. Era melhor do que ter de agüentar a criançada agitada no andar de baixo. Daquela vez, a reunião estava sendo na casa dos Potter, Catherine e Anthony. Obviamente, Anthony não estava mais presente porque havia falecido um ano antes. E eram tantas famílias misturadas ali que chegava a confundir. Isso porque, por exemplo, retirando o casal e a mãe de Anthony, Marie Potter, todas as outras famílias ali eram os King – Charlotte era filha deles – os Moore, os Kot – Ryan e Phillip eram – os Gulshan, os Richmond, os Miller e os Snider.
- E como andam as coisas em Hogwarts para vocês? – indagou Phillip, um moreno de grandes olhos estranhamente amarelados.
- Nada mal – respondeu Tiago, mal humorado. – Certamente melhor que esta reunião.
Ryan, um loiro de rosto bastante macilento, riu. Ele tinha os mesmos olhos amarelados que o irmão mais velho.
- Hum, está emburrado por quê, Potter? – perguntou, fazendo Phillip rir também.
Tiago sempre se deu muito bem com os primos, mas especialmente naquela tarde, eles estavam parecendo extremamente insuportáveis. Olhou de esguelha para a irmã.
- Deixe-o, Kot – mesmo os primos costumavam se chamar pelos sobrenomes. Menos entre as meninas. – Como andam as coisas em Beauxbatons?
- Bem, as garotas de lá são sem dúvida mais bonitas e mais liberais, se é que você me entende priminha – disse Ryan, piscando para Heather. – Mas bem que eu gostaria de voltar a morar aqui na Inglaterra. Mamãe só nos mandou para Beauxbatons porque não nos suportava em casa.
- O quê ele não fala, Heather – disse Charlotte, a ruivinha de olhos azuis. – é que está de namorico com a minha melhor amiga, não é Kot?
As bochechas de Ryan coraram furiosamente. Phillip e Tiago seguraram a risada.
- Cale a boca, King! – retrucou Ryan. – A Jasper não é nada...
- Jasper? – engasgou Tiago. – Este é o nome dela, King?
Charlotte riu ao ver Ryan ficando cada vez mais vermelho.
- Linda Jasper, é o nome dela. Também achei estranho... Mas acho que o Ryan achou uma gracinha!
Imediatamente, Ryan lançou o travesseiro que estava sobre a cama onde sentara em Charlotte, que desviou e gargalhou junto de Phillip, Tiago e Heather.
- Mas e você, Potter? – Ryan tornou-se para Tiago. – Continua com aquela ruiva? Qual era mesmo o nome dela...?
- Lílian – disse Tiago, pouco mais tímido. – Estamos juntos sim. Aliás, amanhã estarei indo para a casa do meu amigo e me encontrarei com ela.
Eram férias pré-sétimo ano para Tiago e ele não via a hora de ir para Godric's Hollow, no famoso casarão dos Black, para encontrar Lílian e fazer o quê deveria ter feito há muito tempo. Inconscientemente, apertou algo em seu bolso.
- Nossa, isso vai acabar dando em casamento hein! – piscou Charlotte para o primo, divertida.
E então eles ouviram um grito vindo do andar inferior. Era hora do grande almoço. Lentamente, todos bufando nervosamente, Phillip, Ryan e Charlotte deixaram o dormitório. Quando Heather estava para sair, Tiago puxou seu braço e a garota do quinto ano virou-se para ele, encarando-o. Discretamente, Tiago pediu que Heather fechasse a porta.
Assim, guiou a irmã até a cama novamente e pediu que ela sentasse. Em seguida, retirou um cordão prateado com um pingente em forma de lua e estendeu-o na direção da garota. Heather colocou a mão sobre a boca, surpreendida.
- Tiago! Tiago! Como você conseguiu isso?! – perguntou Heather freneticamente, tocando o cordão com a ponta dos dedos.
- Mamãe me deu há três noites atrás, logo que chegamos de Hogwarts – disse ele, olhando para Heather. – Ela disse que não queria mais usar depois que papai morreu – Heather encarou Tiago gravemente. – Ela me deu para dar a Lílian.
Heather arregalou os olhos.
- Mas Tiago – suspirou Heather, pasma. – Você tem certeza que deve dar a Lílian? Digo, você sabe muito bem que só devemos passar este cordão à frente quando estamos realmente certos daquilo que queremos, da relação que estabelecemos e tudo mais...
E assim Heather paralisou, pois a voz morreu em sua garganta. Tiago estava encarando-a fortemente, com um grande sorriso nos lábios. Seus olhos brilhavam.
- Vo-você vai pe-pedir a Lílian? Pedir em casamento? – perguntou, gaguejando de incredulidade.
Tiago sorriu plenamente.
- Vou, Harry. – respondeu simplesmente.
Heather sabia que Tiago somente a chamava pelo apelido "Harry" quando estavam sozinhos e quando o assunto era sério. Ninguém mais sabia que ele a chamava daquele jeito. E agora, num motivo tão importante, ele estava a chamando de Harry novamente. Heather sorriu.
- Eu estou sem palavras. – disse a irmã sorrindo e com os olhos ainda arregalados.
- Mas o que eu realmente queria pergunta a você é outra coisa – retomou Tiago seriamente. – Você não vai ficar chateada com o fato de que eu ficarei com o cordão e não você?
Heather franziu a testa, surpresa com aquela pergunta.
- Tiago, eu não irei poder usar o cordão – frisou a garota, desfazendo o sorriso. – Você sabe muito bem disso...
- Sim eu sei. Mas o problema é que, bem, é um patrimônio dos Potter, não é? E eu gostaria que você também o usasse. Eu queria te ver com um amor eterno como eu, Harry.
Heather suspirou e indicou negativamente com a cabeça. Ela sorriu a seguir.
- Não quero porque não preciso de um cordão para me mostrar isso, Tiago – respondeu a jovem, a voz polida. – Se um dia tiver a sorte de encontrar um amor eterno, eu saberei. Não precisarei de um cordão para me demonstrar.
Tiago sorriu e abraçou Heather. Apesar de serem irmãos e todos os irmãos no mundo brigarem, as brigas eram lentamente deixadas para trás no caso de Tiago e Heather. Os Potter haviam perdido o pai recentemente e agora tiveram a notícia de que a garota seria transformada numa Deusa em breve.
- Eu quero que você seja muito feliz, Tiago – disse Heather, ainda em meio ao abraço. – Eu te amo e quero que você seja amado também pela Lílian, porque eu sei que ela te ama muito.
Heather ouviu uma ligeira fungada de nariz do irmão.
- Eu também te amo, Harry – disse ele, ainda chamando-a pelo apelido carinhoso. – E eu prometo a você que, se tiver um filho e ele for mulher, chamarei Heather. Agora, se for homem, eu chamarei de Harry. Em sua homenagem, irmã.
Ambos continuaram abraçados por mais alguns momentos e quando se separaram, secaram as lágrimas que caíam de seus olhos. O destino havia sido selado naquele momento. Os irmãos Potter nunca seriam os mesmos. Ele seria um futuro Auror de nome, um dos principais inimigos de Voldemort. Ela seria uma futura Deusa, uma Cavaleira de Merlin, que por onde passasse, todos ajoelhariam e beijariam o chão".
***
Helderane sorriu.
- O cordão é da sua família, Harry – prosseguiu Helderane com muita calma. – Esta pequena estrela vermelha é o simbolismo do amor eterno. Dentro dele há duas pequeninas gotas do sangue de seu pai e de sua mãe – Harry arregalou os olhos e voltou a encarar a corrente prateada e o pingente lunar. – Quando a estrela parar de brilhar ou o sangue secar, tornando-se negro, é porque o amor acabou. Assim, você pode descobrir se a pessoa ainda te ama ou não.
- É inacreditável – murmurou o monitor da Grifinória surpreso. – É incrível.
- Como você pode ver, o sangue ainda está aí, vermelho e brilhante – disse Helderane, girando novamente o cordão. – Isto significa que, mesmo com o falecimento de seus pais, o amor deles prossegue eterno – Harry olhou para Helderane, segurando um gaguejo. – O amor deles vive em você, Harry. Você, aqui, vivo. Você é que nutre esta estrela a brilhar. Você e sua vida.
Harry deixou mais uma lágrima cair. A estrela vermelha brilhava incrivelmente e até parecia uma fonte infravermelha, como daquelas que Duda tinha para ficar apontando para seus olhos. Ou ainda aquelas usadas nas miras de armas de fogo trouxas. Era admirável.
- E como eu disse, o pingente está na estação nova – retomou a Deusa. – Então, está ao seu encargo renová-la ou não – Helderane estendeu o braço e o cordão até Harry. – Se há alguém em sua vida que você sente que viverá um amor eterno por você, dê a ela.
O jovem abriu a mão direita e virou a palma para cima, logo abaixo do cordão. Lentamente, Helderane soltou o até chegar e pousar no centro da mão de Harry. Imediatamente, o jovem sentiu um calor emanar da corrente e, assim, apertou-a contra sua palma, sentindo a felicidade que ele irradiava. Harry encarou Helderane e a mulher deu um passo para trás.
Harry colocou o pingente envolta de seu pescoço e o escondeu dentro de suas vestes da Grifinória. Helderane sorriu e indicou positivamente com a cabeça. Então, ele suspirou e endireitou-se, encarando-a.
- E... – começou Harry, quase que aflito. – A Senhora pode me explicar como isso veio para em suas mãos durante todos esses anos?
Helderane segurou a respiração e aquele constante brilho que havia à volta dela desapareceu. Harry franziu a testa e deu um passo para trás. Naquela hora, Helderane pareceu menor a Harry e sem toda a majestade magnífica que a circundava, apesar de continuar bela aos seus olhos.
- Eu peguei este cordão, Harry – disse Helderane, o tom de voz baixo. – Peguei este cordão do pescoço de sua mãe – continuou, fechando os olhos lentamente. – Peguei logo após seu falecimento, quando ela ainda jazia no chão de sua antiga casa em Godric's Hollow.
Harry ficou paralisado.
- O quê?! – indagou, achando que não havia entendido direito.
Helderane suspirou e abriu os olhos novamente. Não gostava de fechá-los quando falava sobre Lílian ou Tiago, pois as lembranças de seus corpos sem vida não eram agradáveis e realmente provocavam uma metade de sua personalidade que Helderane não gostava nem um pouco.
- Hades é o responsável pelo destino das almas – explicou Helderane, agora parecendo bem amargurada. – Ele foi encarregado de levar as almas de seu pai e de sua mãe para o Portal das Sete Estrelas e lá encaminhá-los ao Paraíso – Harry continuava boquiaberto. – Como ele sabia que eu conhecia seu pai e sua mãe, chamou-me para vê-los ao menos uma última vez.
- Isso não interessa! – respondeu Harry, nervoso e sem entender. – Eu quero saber como você pegou este cordão da minha mãe!
A Deusa deu um passo a frente.
- Harry, este cordão não poderia ser enterrado com sua mãe, creio que você tenha entendido isto – falou Helderane, erguendo as mãos. – E ele tem que ser passado a outro membro de sua família. Este cordão é um cordão das inúmeras gerações dos Potter, não entende?
- E então por que este cordão esteve todos esses anos com você e não comigo? – indagou Harry.
Helderane suavizou a expressão e olhou fixamente para Harry. Não parecia muito segura, mas via claramente que, provavelmente, suas expectativas seriam frustradas. Harry parecia realmente aborrecido com aquela notícia. Porém, chegara a hora. Não adiantava mais se esconder atrás de uma imagem bela e falsa. Seria Heather Potter.
- Eu também sou uma Potter, Harry. – disse ela simplesmente.
Harry sacudiu a cabeça e riu.
- Como?! Como?! – repetiu nervoso.
A Deusa encheu os pulmões e a mente com coragem. "Pense em Tiago, pense em Tiago", murmurou Helderane enquanto olhava firmemente para Harry. E então ela disse:
- Eu sou irmã do seu pai, Harry – disse Helderane calmamente. – Meu nome é Heather Potter, e era filha de Catherine e Anthony Potter antes de ser transformada numa Cavaleira de Merlin e numa Deusa – Helderane fechou os olhos. – Eu sou sua tia.
Harry não esboçou nenhuma reação. Sua mente pareceu ter congelado. À sua volta, imaginava que as árvores prosseguiam em seu farfalhar, que o vento continuava batendo em seu cabelo e que aquela mulher permanecia à sua frente. Não era possível, não poderia ser.
Em todas as estórias que seu padrinho, Sirius Black, contara, até aquela noite, nenhuma citara sequer uma única vez o nome Heather Potter. Muito menos nos registros históricos de Hogwarts ou em alguma coisa que recebera de seu pai, fossem folhas escritas, fotos ou qualquer coisa parecida. Lupin nunca havia dito nada sobre alguma Heather. Arabella nunca havia mencionado este nome a ele. Dumbledore muito menos, sempre tão contido ao falar sobre seu pai ou sua mãe. Não era verdade, não poderia ser.
Firmemente, tentou procurar dentro de sua mente qualquer imagem familiar daquela mulher, ou ao menos alguém parecido a ela. Mas não havia nada em seus pensamentos e em suas lembranças. Nunca conhecera aquela mulher em toda sua vida. Nunca ouvira falar nela. Nunca vira evidências ou fatos de que Tiago tinha alguma irmã, quanto mais uma irmã que era uma Deusa e uma Cavaleira de Merlin que vive viajando por galáxias distantes e tentando resolver problemas maiores e mais preocupantes que Voldemort e a volta do seu Império do Terror. Não, havia algo de errado, não poderia ser.
E então, voltou a realidade. As árvores continuavam a se mover, o vento permanecia batendo em seu cabelo e a mulher prosseguia em sua frente, esperando ansiosamente uma resposta. Harry podia ver que suas bochechas estavam molhadas novamente.
Estranhamente, uma raiva tomou conta de Harry. Vê-la daquela maneira, perdendo a majestade e dizendo que era uma Potter como ele, que era, pior, tia dele, o fez subir aos céus de ódio.
- Mentirosa! – gritou Harry repentinamente. – Como alguém como você, uma Deusa, tem a coragem de vir até Hogwarts e tentar estragar minha vida? Você é mais uma das armadilhas de Voldemort? Você é apenas uma mentirosa de quinta categoria! Falsa! Mentirosa! Desapareça da minha vida e desapareça de Hogwarts também! Ou senão, eu gritarei a todos quem você realmente é! Sua farsante! Sua mentirosa!
Heather ficou completamente chocada com os gritos do sobrinho sobre ela e gaguejou alguma resposta, as lágrimas vindo com toda força desta vez.
- E-eu não sou mentirosa! – retrucou ainda que com a voz muito baixa. – Eu sou irmã de Tiago...
- E NUNCA MAIS FALE O NOME DO MEU PAI NESSA SUA BOCA SUJA! VÁ EMBORA! MENTIROSA! VÁ EMBORA! E ESTOU TE AVISANDO, NUNCA MAIS FALE NADA SOBRE MEU PAI, ENTENDEU? NUNCA MAIS!
***
NO PR"XIMO CAPÍTULO: Heather corre para Remo Lupin, Harry para Ametista Dumbledore. Depois de sua conversa nos jardins de Hogwarts, ambos correm para seus refúgios. Entretanto, como terminará a noite? Além disso, o mês de fevereiro fica para trás e está na hora para o segundo jogo da temporada de Quadribol. Como Harry voara contra Cho Chang? E o jogo será completamente limpo?
O choque quadribolístico de Hogwarts em "NEGRA HIPNOSE NOS ARES"
