HARRY POTTER E O OLHO DA ESCURIDÃO

Nota da Autora (1): Nossa... Tanta explicação para dar... Mas o negócio é seguinte: eu estou fazendo faculdade, final de semestre, computador quebrado, formatando pc e perdendo capítulo, refazendo capítulo, fic nova, site novo, problemas novos e alegrias novas. A coisa é que eu realmente não tive COMO atualizar a fic e, assim, queria pedir um perdão enooooorme pra todo mundo que lê a fic e acompanha. Mas agora eu volto e com um capítulo super importante. Espero que todos gostem e vou colar aqui um recado que eu deixei no meu site, ok?

Antes que vocês me matem, as explicações. Tinha avisado sobre a minha lista de óbitos. E as primeiras mortes acontecem nesse episódio (Capítulo 32 - Lobo Em Perigo). Mas, antes que eu seja esquartejada como quase fui quando "matei" a Ametista, quero deixar claro que para todas as minhas decisões existem motivos. Portanto, se já revivi a Ametista, eu posso fazer coisas muito malucas com os outros mortos também - mas não garanto que reviverei nenhum. Espero que entendam... Mas vou também entender se quiserem me matar! (hahahahaha!) Mas esperem! Tudo há razão!

Nota da Autora (2): Gostaria de agradecer as reviews aqui do ff.net da Patrícia ('brigada pelo apoio! Aliás, você é portuguesa?), da Anny (minina, eu ri muito quando li a sua review. Desculpa mesmo pela demora, mas aqui está! Valeu viu! Espero que goste!), e da Carolina Lesache (recebeu meu e-mail minina??!! Espero que sim! Mas obrigada de novo!).

NO CAPÍTULO ANTERIOR: Tudo acontece rápido demais para os heróis e os vilões de nossa série. Harry e Ametista finalmente declaram-se, dizendo as três palavrinhas mais desejadas (Eu Te Amo) e Rony e Hermione têm sua primeira vez com a ajuda de um livro que passara pelas mãos dos marotos. Mas será que a calmaria durará quanto tempo?


CAPÍTULO TRINTA E DOIS – LOBO EM PERIGO

Poções sempre rendia boas revoltas aos grifinórios e gostosas piadas aos sonserinos. Snape era contundente em sua predileção pelos alunos da Casa que era diretor e não fazia nenhuma questão de esconder seu profundo desprezo pelos leões. Naquela manhã, nada de diferente se iniciara, os estudantes se dirigiam as masmorras para encontrar a primeira aula, seus livros balançavam em suas malas e seus corpos moviam-se quase que mecanicamente. Entretanto, havia um pequeno fato que realmente diferenciava aquela manhã de todas as outras. Snape estava parado, do lado de fora da sala, bloqueando a entrada dos alunos.

Aos poucos, os jovens juntando-se ainda levemente adormecidos, espremendo-se no estreito corredor da masmorra gélida daquela manhã de primeira semana de maio, todos passaram a encarar Snape com estranhamento. O mestre tinha os braços cruzados e a macilenta face contorcida. Assim que todos os estudantes estavam presentes, o professor ergueu a voz seca:

- Em silêncio, um de cada vez, irá entrar na sala e dirigir-se até a estante, onde estão suas poções prontas que usaremos na aula de hoje – seu olhar passeava pelos alunos com autoridade. – Os sonserinos vão primeiro, depois desçam até os jardins que a aula será feita do lado de fora.

Harry bufou desanimado, sentindo todo o corpo arder. Rony, que sacudia um de seus braços ao seu lado, tinha o mesmo semblante exausto que ele. Fechando os olhos por um momento, desejou estar tão doente quanto Ametista, que permanecia na Ala Hospitalar pelo segundo dia seguido. Se sua febre pudesse aumentar somente mais alguns graus, ele já estaria satisfeito. Rony o cutucou ligeiramente e sussurrou:

- Por que o Snape tinha que inventar isso bem hoje? – indagou, tossindo em seguida. – Eu nem consigo ficar em pé, quanto mais ter uma aula de Poções no jardim – Hermione pigarreou ao seu lado, descontente. – Afinal, que raio de aula é esta? O seboso aí nunca daria uma aula fora da masmorra...

- Eu estou surpreso que ele seja capaz de sair da masmorra, mon petit. – uma voz se ergueu atrás de todos os jovens.

Harry, Rony e Hermione, que já conheciam o sotaque inconfundível da mulher apenas piscaram, sabendo como Hauspie Bellacroix parecia não ser dar nem um pouco bem com o professor de Poções. Os sonserinos e outros grifinórios do sexto ano tornaram-se para a mulher extremamente pálida e cerraram os lábios, tentando conter um sorriso tímido. Ela era realmente muito bonita, mas bastante assustadora também.

- Snape está aqui, não está? – questionou para Harry, agitando sua vestimenta negra e seus cabelos tão escuros quanto um céu de noite de inverno. – Será que ele esqueceu da tarefa de hoje? – divagou, colocando um de seus finos dedos sobre o queixo.

- Grifinória! – gritou uma voz de dentro da sala de Poções.

Hauspie deu um gritinho contente e adentrou no âmbito junto de Harry e os outros grifinórios, numa fila. Seus fios de cabelo muito liso corriam pelas suas costas e Rony, que era quem estava exatamente atrás da mulher, podia jurar que pareciam tentáculos adormecidos de algum animal.

Harry ficou atento para a expressão de Snape assim que a visão de Hauspie encheu seus olhos. O mestre ergueu-se de sua cadeira e deixou o semblante ainda mais cavernoso. Bellacroix riu e paralisou a sua frente, as mãos guiando para sua cintura numa postura mandona.

- Esqueceu do nosso compromisso, petit amour? – Harry e Rony seguraram as risadas, tornando suas cabeças para a estante e procurando seus frascos. – Dumbledore não ficará nada satisfeito, sabia?

A voz de Snape veio incisiva, quase nervosa.

- Já tinha dito para você que Dumbledore havia deixado a mim esta tarefa, Bellacroix, e não a você.

- Oh, Severo – cantou Hauspie, seu sotaque francês quase escapando. Os garotos seguraram ainda mais a risada, agora deixando os outros grifinórios atentos. – Acabei de pedir com muito fervor ao diretor para que eu fosse junto de você, não é ótimo?

Rony soltou um soluço e Hermione o acotovelou, olhando feio. Snape pareceu não ter ouvido, pois já respondia para Hauspie, parecendo muito mais aborrecido que antes.

- O que você pensa que está fazendo aqui em Hogwarts, Bellacroix? – sibilou o mestre, sua voz ficando cada vez mais espantada. – Isto não é um parque de diversões para a senhorita ficar passeando por aí, e muito menos importunando a mim e aos meus alunos!

Harry, Rony e Hermione viraram suas cabeças, divertindo-se com a alteração do humor do professor. Os outros garotos e garotas da Grifinória continuaram ali, ouvindo igualmente.

- Não estou me divertindo ainda, Snape – desta vez, Hauspie se inclinou sobre o homem e sua voz veio mais forte que nunca. – Estou preocupada com a ameaça que nós recebemos, e nada mais que isso – Harry e seus amigos elevaram suas sobrancelhas, espantados com a afirmação de Bellacroix. – Termine a sua aulinha e depois venha até a entrada de Hogsmeade, as quatro em ponto – ordenou a mulher, dando meio volta e agitando suas vestes, passando o olhar pelos alunos perplexos da Grifinória. – E lave este cabelo, por favor, mon petit.

Snape, por mais incrível que aquilo podia parecer, ficou levemente vermelho diante do comentário da auror francesa e tornou-se para os alunos, que ainda assistiam sua expressão. Era clara a vontade extraordinária dos grifinórios rirem de sua face, mas o mestre não deixaria que aquilo acontecesse. Não dizendo uma palavra, Snape apenas indicou a porta e expulsou-os dali, seguindo-os de perto.

Nos jardins, todos os alunos possuíam seus frascos nas mãos, olhando para Snape e esperando que a tarefa do dia se iniciasse. O mestre ainda parecia um pouco perturbado, levando seu olhar frio para passear por todos os semblantes dos estudantes. Parando-os sobre Harry, Snape cerrou os olhos disfarçadamente e refletiu sobre as palavras de Hauspie. Um burburinho se iniciou e o mestre deixou de lado seus pensamentos.

- Hum, eu quero a atenção de todos – ordenou, retirando sua varinha de dentro das vestes negras. – A aula será prática, então eu espero que todos sejam maduros o suficiente para encararem-na – os estudantes ficaram surpresos. Tinham aulas práticas nas masmorras, não havia pretexto para saírem dela. – Alguém aqui sabe me dizer o que é uma Poção Polissuco?

Imediatamente, os rostos de Hermione, Rony e Harry se encararam com uma mistura de diversão e de saudosismo. No segundo ano, para descobrirem se Draco era o herdeiro de Salazar Slytherin e se havia aberto a Câmara Secreta, os três haviam se transformado em Crabbe, Goyle e, por acaso, uma mistura humana com felino – Hermione passara dias e dias na Ala Hospitalar por causa disso.

Assim, apenas a mão de Hermione ergueu-se no ar e Snape bufou, rolando os olhos e permitindo que ela respondesse.

- Polissuco é uma poção com poderes de transformação corporal, na qual, após sua ingestão, você poderá transformar-se em outra pessoa num determinado espaço de tempo.

Snape sequer respondeu algo a garota e prosseguiu com a aula.

- Quero que vocês se unam em duplas – a sala começou a se movimentar, e o mestre ergueu seu tom de voz. – as quais eu escolherei, e tomarão a Poção Polissuco que preparei especialmente para hoje – sua voz veio agora, com um certo prazer. – E colocarei uma dupla para exemplificar... – seus olhos percorreram a turma de sonserinos e grifinórios, contorcendo os lábios maliciosamente. – Potter e Malfoy.

Aquilo pareceu tão óbvio, que Harry já tinha se prontificado a dar um passo à frente, tendo a certeza de que Snape o colocaria numa enrascada, provavelmente junto de Malfoy. O jovem sonserino, que andava bastante quieto nas três últimas semanas, proferiu algo que Harry tinha certeza ser bastante contrariado.

- Agora, Malfoy e Potter, arranquem um fio de cabelo e depositem dentro desses frascos – Snape indicou os frascos nas mãos dos jovens, e ambos cumpriram o combinado. A mistura amarronzada e acinzentada borbulhou e exalou um perfume não muito agradável. Os jovens gemeram em nojo. – Esperem... – Harry e Draco preparam-se para aquilo. O grifinório recordava muito bem o gosto horrível de uma poção polissuco. – Tomem!

Antes que ambos pudessem levar o líquido grosso e desagradável até suas gargantas, trocaram um olhar. Por cerca de duas horas, eles conservariam suas imagens. Harry Potter seria Draco Malfoy e vice-versa. Quão assustador isto poderia soar a qualquer um minimamente lúcido? "Essência de Potter", pensou Draco, enojando aquele frasco em sua mão. "Tão asqueroso quanto Malfoy", desanimou Harry.

A poção desceu azeda pela garganta dos jovens e ambos não conseguiram tomar o líquido até o final do frasco. Snape ia dizer alguma coisa, mas foi impedido, pois no mesmo momento, Draco e Harry vomitaram parte da poção sobre a grama. Os sextanistas da Grifinória e da Sonserina soltaram exclamações, e as garotas estavam ficando tão enjoadas quanto os dois alunos. Limpando o resto de poção que escorria de sua boca, Harry ouviu Draco gritar:

- Que merda é essa?! – Malfoy pareceu tossir e gemer novamente. – Isso é horrível!

Snape não pôde gritar uma repreensão pelo linguajar do sonserino porque a voz aguda de Pansy Parkinson espalhou-se pelos jardins, gritando em direção ao jovem.

Os corpos moles dos jovens iniciaram uma tontura no gramado. Enquanto Draco ia caindo lentamente no chão, Hermione e Rony corriam para socorrer Harry, que também caía. Snape passou a pedir calma e silêncio aos alunos, mas era como se a situação dos jovens – que era completamente rotineira diante de uma poção polissuco – apenas agravasse o escândalo das garotas e a perplexidade dos garotos.

- Professor! Professor! O que está acontecendo com o Draco? – exclamou Goyle, enquanto Snape simplesmente bufava, impaciente.

Pansy jogou-se sobre Malfoy e arregalou os olhos, puxando a franja platinada da testa do sonserino.

- Olhem isso! É a cicatriz do Potter! – gritou a garota, olhando para Harry caído nos braços dos grifinórios, a poucos metros dela e dos sonserinos, agarrando Draco.

Os sonserinos seguraram exclamações de surpresa ao assistirem Draco transformar-se em Harry Potter, enquanto o mesmo acontecia com os grifinórios, a exceção de Rony e Hermione. Snape bufou nervoso e caminhou até os sonserinos agachados na grama. Em um único impulso, enrolou os dedos no colarinho da camisa de Malfoy e ergueu-o do solo, colocando-o de pé ao seu lado. Soltando-o de seus dedos, Draco – ou o novo Harry – cambaleou e Pansy e os outros sonserinos aproximaram-se para deixá-lo em pé. Longe dele, Snape fez o mesmo com Harry.

Um de frente para o outro, todos soltaram uma exclamação. Era realmente incomum ver Draco Malfoy – de óculos – junto dos grifinórios, vestindo o leão em seu peito, e o mesmo com Harry Potter na Sonserina. O mestre bateu as mãos em suas vestes negras e ameaçou falar algo quando Draco, ou melhor, Harry Potter da Sonserina deu um passo à frente e estendeu um dedo ameaçador na direção de Draco Malfoy da Grifinória.

- Devolva minhas roupas, Malfoy! – gritou descontrolado.

Harry, disfarçado de Draco, com as roupas da Grifinória, não entendeu e somente retrucou um "cala a boca, Malfoy", apoiando-se em Rony. Draco, na imagem de Harry, deu mais um passo e continuou estendendo o dedo.

- Saia do meu corpo, Malfoy! Estou avisando!

Hermione enrolou um de seus braços no de Harry e assistiu confusa Draco caminhar até eles, gritando descontrolado para que o verdadeiro Harry devolvesse suas roupas.

- Vá se danar, Malfoy! – retrucou, desta vez, o verdadeiro Harry Potter, apoiando-se na amiga. – Você não é Harry Potter, eu sou!

Snape tentou interromper o início da discussão, mas não foi permitido, pois Draco Malfoy já estava respondendo atravessado para Harry.

- Deixe-me em paz, Malfoy! Pare de falar coisas sem sentido! – ralhou o sonserino. – Eu sempre soube que você tinha inveja de mim, mas isto também já é demais!

Harry franziu a testa, como todos, não só da Grifinória, como também da Sonserina, além do próprio Severo Snape.

- Você ficou maluco?! Por acaso a poção fez você ficar mais problemático do que já é, Malfoy? – indagou Harry, seus olhos arregalados ao visualizar a reação do sonserino.

- Cale a boca, Malfoy! – gritou em resposta Draco, na pele de Harry. – Você vai me pagar por querer roubar meu corpo!

O monitor da Grifinória segurou em Rony e Hermione, sentindo-se ainda levemente tonto, e viu Draco dar um último passo à frente e lançar-se sobre ele, dando-lhe um soco direto no nariz. Todos gritaram, e Snape correu até eles. Harry cambaleou e puxou Hermione junto, quase caindo com o impulso e soco de Malfoy.

Draco, por sua vez, caiu no chão, ainda com o punho fechado, e tentou erguer-se da grama com dificuldade. Suas pernas não permitiram, não lhe deram força, e foi aí que Rony aproveitou. O ruivo largou Harry com Hermione, que tinha o nariz sangrando, e aproximou-se de Malfoy, na imagem de seu melhor amigo. Sem pensar uma segunda vez, agachou-se, suas pernas colocadas ao lado do tronco do sonserino, e deu também um soco em seu rosto.

Pansy gritou, pedindo que Rony não fizesse aquilo com Draco, mas o grifinório continuou a ignorá-la, socando mais e mais Malfoy. Harry segurava seu nariz ensangüentado, ao lado de Hermione, e berrou algo bastante forte para Malfoy, não entendendo o porquê daquela reação do sonserino. No meio daquela confusão, Simas e Dino conseguiram, com muito esforço, retirar Rony de cima de Malfoy, que tinha o rosto bastante vermelho por causa dos socos de Weasley. Deixaram-no cair contra o solo, respirando fortemente. Snape passou por Rony, parecendo mais furioso que nunca, e abaixou-se ao lado de Harry, ou melhor, Draco, caído contra o chão, parecendo incapaz de dizer algo mais, sacudindo levemente a cabeça, transtornado.

O professor de Poções notou que no momento seguinte Draco desmaiara, e então o ergueu do solo, carregando-o em seus braços. Em seguida, tornou-se para Hermione e deu a ordem de que os grifinórios levassem Harry também para a enfermaria. O nariz de Harry ainda sangrava, e Lilá, Parvati, Hermione e Neville arranjaram um jeito de levar Harry. Ou melhor, Draco Malfoy da Grifinória. Os sonserinos correram atrás de Snape com Draco nos braços, e Simas, Dino e Rony estavam tentando articular uma resposta para tudo aquilo, mesmo que Rony ainda estivesse bastante alterado e seus dois companheiros não parassem de dar-lhe parabéns pelos grandes e fortes socos no repugnante sonserino, inimigo número um de qualquer um da Grifinória.


- Somente diziam que seria Hogwarts. Mas nós ainda não temos certeza plena, sabe como são essas ameaças de Voldemort, Alvo. Ainda assim, confio que todos nós deveríamos ficar em alerta. Nunca podemos assumir os passos dele e de seus Comensais.

Ametista respirou fundo, acordando com relutância, o nariz ainda bastante inchado e sentindo que, ao menos, a pele parecia mais fria que no dia anterior. A pouca incidência de luz em sua janela indicava que não passava de nove horas da manhã e tentou virar-se na cama. Abrindo levemente seus olhos, a jovem conseguiu deixar a visão focar três pessoas não muito longe de seu leito. Eram seu avô, Victoria Sacks e Asís El Kassab. Suas vozes podiam ser ouvidas com pouca clareza, mas seus tons pareciam bastante preocupados.

- Gostaria muito que Cornélio pudesse nos ajudar nesse momento, mas ele continua irredutível – disse Asís, pigarreando em seguida. – Eu ainda tentei dizer que a vida de crianças estava em perigo, mas nada o faz mudar de idéia. Aquele é tão surdo quanto uma porta.

Dumbledore retirou os óculos de seus olhos e olhou-os contra a luz, procurando algo que interrompia sua visão. Victoria cruzou os braços e torceu a cabeça, olhando duvidosamente para o diretor.

- O que poderemos fazer então, Alvo? – indagou a mulher, observando-o com atenção, sua voz vindo com o forte sotaque norte-americano. – Eu realmente estou temendo os próximos passos de Voldemort, espero que você se recorde da invasão dos dementadores em janeiro...

- Eu recordo sim, Victoria – respondeu o velho, voltando os óculos no rosto. – Os Cavaleiros ainda estão trabalhando nisso para mim. Infelizmente, não estão tendo muito progresso, mas tenho certeza de que proteger Hogwarts de um novo possível ataque, como disse esta última ameaça, eles serão capazes.

- Assim eu espero, Alvo – murmurou Asís, diminuindo o tom de voz. – Eles já têm melhores pistas dos herdeiros?

Quando Dumbledore ia responder para Kassab, a porta da Ala Hospitalar se escancarou e Snape adentrou com Harry Potter nos braços, estranhamente vestido nas cores da Sonserina. O diretor deu quase um pulo, ao assistir a multidão logo atrás, também de sonserinos.

- Severo, o que está acontecendo...

Mas a pergunta do velho foi interrompida, agora pela entrada dos grifinórios, e Hermione, Lilá, Parvati e Neville carregando um Draco Malfoy trajado nas vestes da Grifinória, com o nariz ensangüentado. Logo atrás, Rony, Dino Thomas e Simas Finnigan invadiram a enfermaria, acompanhando os jovens de sua Casa.

Madame Pomfrey irrompeu dos fundos da Ala e quase soltou um grito de ordem, perturbada com tamanha bagunça. Os sonserinos gritavam, especialmente Pansy, com a enfermeira, enquanto os grifinórios faziam exatamente o mesmo. Em camas de frente uma a outra, Draco e Harry foram deitados, o primeiro ainda desmaiado. Snape largou Draco ali e deu um passo para trás, puxando os sonserinos com ele. Dumbledore parou ao lado dele, com a testa franzida, não entendendo aquela confusão toda.

- Esse garoto, o que aconteceu com ele? – perguntou Madame Pomfrey, tornando-se para o professor de Poções. – Snape, o que Harry Potter está fazendo vestindo roupas da Sonserina?

O mestre ajeitou-se inconfortável, sentindo o olhar de Victoria, Asís e Dumbledore sobre ele.

- Não que isto seja da sua conta, Papoula, mas este é Draco Malfoy, sob efeito de uma poção polissuco – respondeu Severo, notando o olhar de Dumbledore se intensificar. – E aquele é Harry Potter, também sob o efeito da mesma poção.

- Mesmo assim, que raio de coisa aconteceu entre eles? – continuou a enfermeira, olhando atentamente para Draco ainda desacordado. – Um está desmaiado e o rosto inchado e o outro está com o nariz ensangüentado!

Ametista ergueu-se da cama, completamente desperta pela agitação na Ala Hospitalar, e encostou suas costas contra o final dela, notando quanto devia ter suado durante a noite. Viu, agora com uma melhor visão, Harry com as vestes da Sonserina, e Draco com as da Grifinória. Imediatamente ela sacudiu a cabeça. Aquilo deveria ser um terrível pesadelo.

- Malfoy, depois da transformação, começou a agir de um modo estranho, como se ele fosse o Potter – explicou o homem, a pele ficando mais macilenta conforme dizia. – E então, ele deu um soco no Potter, o verdadeiro.

- E como ele acabou desacordado? – desta vez, quem perguntou foi Dumbledore.

Antes que Snape respondesse, Rony pigarreou alto e se prontificou.

- Eu... Hum, eu bati nele, professor – disse Rony, ficando incrivelmente vermelho, num misto de vergonha e de orgulho por ter deixado Malfoy desmaiado. – Não deixaria ele se safar tão fácil.

A sala ficou em total silêncio. Rony Weasley estava confessando ao diretor de Hogwarts que socara tanto Draco Malfoy a ponto de deixá-lo desmaiado. A maioria não sabia bem o quê dizer ou o quê fazer naquela situação. Porém, nem todos.

Repentinamente, um som acordou a todos. Um riso tão alto que todos olharam para o responsável. Ametista parecia gargalhar. Os estudantes notaram que jovem estava ali, os sonserinos franzindo as testas. Rony deixou que um sorriso escapasse de seu rosto, e sem querer, os garotos da Grifinória também passaram a rir. Snape olhou perigoso para Ametista, e a sonserina o ignorou completamente, gargalhando.

Pansy Parkinson, assistindo àquela reação patética, em sua visão, de Ametista, aproximou-se da cama da companheira de quarto e cerrou os olhos para ela. Ametista percebeu que os olhos da cara de buldogue estavam cheios de água.

- E o quê é tão engraçado para você, Dumbledore? – sua voz veio cheia de raiva e mágoa.

Ametista sentiu-se chocada com aquilo e arregalou os olhos, segurando ainda mais sua gargalhada.

- Oh, Parkinson! – exclamou, olhando de Pansy para Harry, ou melhor, Draco, desmaiado, e de volta para a aluna da Sonserina. – Vai me dizer que você gosta daquele projeto de gente?! – exaltou-se, a voz levemente nasalada, soltando a risada ao assistir a passividade de Pansy diante de sua pergunta. – Não provoque me provoque a rir ainda mais!

Os olhos emocionados de Pansy apertaram-se, ao mesmo tempo em que seus punhos cerravam.

- Eu aconselho que você feche essa boca para falar de Draco! – respondeu, deixando algumas das lágrimas retidas caírem.

Aquilo não comoveu Ametista, que aumentou o tom e o volume de sua risada. Pansy rangeu os dentes.

- Sabe, Parkinson, o amor é mesmo cego. Tenho o exemplo aqui mesmo, na minha frente – a sonserina abriu um grande sorriso. – Suas lágrimas não afetaram o Malfoy de nenhum modo, não vê? E sabe o que mais?! Malfoy merece uns bons socos de vez em quando, eu mesma daria se fosse capaz – e a jovem ergueu a cabeça na direção da de Rony e gritou. – É isso aí, Weasley!

Soltando um grunhido de seu interior, Pansy revoltou-se. Sem hesitar, a jovem lançou-se sobre Ametista e agarrou os cabelos da sonserina num piscar de olhos, puxando-os para sua direção. Ametista gritou em surpresa e dor, tentando empurrar Pansy de si e fazê-la largar seu cabelo imediatamente. Os garotos da Grifinória correram até onde as garotas estavam. Harry ergueu-se num impulso da cama, tentando sair para ele mesmo socar Pansy, mas Hermione o deteve.

- Você não é humana, Dumbledore! – berrava Pansy, enquanto puxava cada vez mais o cabelo de Ametista. – Você merecia morrer! Você é um lixo! Você não merece carregar a Sonserina em você! Sua vaca!

Ametista tentava afastar Pansy de si, fincando suas unhas nos braços da companheira de quarto na Torre da Sonserina. Snape também chegou no mesmo instante que os garotos da Grifinória, que retiraram Pansy de Ametista. A garota feiosa da Sonserina saiu gritando, tentando bater também em Neville e Simas, os que puxaram-na.

Rony e Snape foram até Ametista, que estava colocando as mãos delicadamente no topo de sua cabeça, sentindo o couro cabeludo arder de tanta dor e ainda sendo capaz de sentir a força de Pansy, tentando arrancar seus fios de cabelo. Rony olhou para os braços de Pansy, cheios das marcas de unhas de Ametista. Aquilo seria no mínimo engraçado se não fosse a situação tão séria.

- Sua maluca! – gritou Ametista, em resposta a sonserina que ainda era barrada por Neville e Simas. – O único lixo aqui é você! E se você realmente quer saber, eu não tenho orgulho algum de pertencer ao mesmo lugar que você e aquele idiota! – Ametista falava de Draco, e isto apenas parecia enfurecer mais e mais Pansy. – Vá para casa junto de seus pais Comensais! Vá e lamba os pés de Voldemort, sua filha da mãe!

- CHEGA! – ordenou Dumbledore, as bochechas muito vermelhas e a respiração visivelmente alterada.

Todos paralisaram e encararam o diretor. Victoria e Asís estavam muito sérios e Snape olhava de esguelha para Ametista, ainda tentando colocar o cabelo de volta para trás. Pansy parara de se chacoalhar nos braços de Neville e Simas, começando a sentir os arranhões de Ametista em seus braços.

- Papoula – chamou Dumbledore, a voz ainda imponente, mas mais calma. – Cuide dos senhores Malfoy e Potter – pediu, enquanto Madame Pomfrey observava os alunos, extremamente contrariada, odiando aquele papelão em sua enfermaria. – Srta. Parkinson e Srta. Dumbledore, não terão direto a cura, e eu espero que apreendam com a dor destes ferimentos. Isso que aconteceu foi uma tragédia e um absurdo – Pansy abaixou os olhos e Ametista permaneceu encarando-a com muita raiva. – Vocês duas, mais o senhor Weasley e o senhor Malfoy receberão detenções pelas confusões causadas na aula do Professor Snape – Rony pensou em relutar, mas Snape não permitiu. – Sr. Weasley, você deverá ir até a sala da Professora McGonagall após o término de suas aulas, e ela lhe dará uma detenção. O mesmo com os três sonserinos – ordenou Dumbledore, olhando furiosamente para Snape. – E eu realmente espero que nunca mais isto se repita, seja na minha frente, seja em qualquer circunstância, entenderam? – todos concordaram. – E Srta. Dumbledore, teremos uma conversinha séria mais tarde.

Ametista rolou os olhos e Dumbledore deu meia-volta, ignorando-a, e saindo da Ala Hospitalar acompanhado de Asís e Victoria. Os sonserinos assistiram Madame Pomfrey aparecer dos fundos da sala, carregando um frasco e estendendo o para Draco, ainda desmaiado. E lá terminara mais uma sempre tão surpreendente aula de Poções.


Naquela mesma noite, na Torre Oeste, Harry, Hermione, Rony, Gina e Neville conversavam do lado de fora da sala de Aprendizes, esperando a chegada dos outros alunos e de Snape e Ártemis. O assunto, logicamente, não poderia ser outro se não a aula de Poções. Snape enlouquecera definitivamente ao pensar que uma lição sobre Poção Polissuco daria certo em alguma circunstância. Harry tinha o nariz levemente vermelho e Rony resmungava sobre sua detenção, agora para re-catalogar os livros com Madame Pince.

Interrompendo a discussão entre os grifinórios, das sombras da Torre Oeste, surgiu Ametista, enrolada numa capa negra e segurando uma grande chave enferrujada entre os dedos. Passando pelo grupo, sozinha, ela nada disse e apenas enfiou a chave na porta e a abriu. O clima alaranjado da sala tomou contorno do corpo da jovem e Harry notou que ela estava ligeiramente trêmula. Notando que os outros prosseguiram com a discussão, Harry aproximou-se da jovem e percebeu que ela estava deixando a sala, dirigindo-se para o banheiro da Torre.

Seguindo-a, Harry bateu a porta do ambiente, ainda sem provocar nenhuma reação em Ametista. Ela arregaçou as mangas da capa escura e girou uma das torneiras, inclinando-se sobre a pia e molhando o rosto. Harry andou até ela, assistindo-a banhar a face por três vezes, e paralisou ao seu lado. Ametista suspirou e subiu o corpo, olhando para o espelho e a imagem do namorado ao seu lado. Seu olhar encontrou-se com o dele e ela fugiu rapidamente. Harry decididamente sabia que havia algo de errado ali. Ela caminhou até o canto e secou o rosto. Harry apoiou o corpo na pia e cruzou os braços.

- Não vai me dizer o quê houve? – sua voz ecoou pelo banheiro, sério.

Ametista deu as costas para ele e bateu as mãos contra a capa, como se nelas houvesse poeira.

- Não está tão frio assim, tire essa capa. – disse ele novamente, numa quase ordem.

A jovem pigarreou e se tornou para ele, caminhando e paralisando a sua frente, ficando na ponta dos pés e dando-lhe um ligeiro encostar de lábios. Harry notou que ela iria se afastar novamente e segurou seu braço. Ametista soltou o ar, parecendo incomodada.

- É apenas minha cabeça, o cabelo ainda está sensível... – murmurou ela, tentando desviar-se de Harry.

- Ametista, não minta para mim – pediu, levando as mãos nos ombros dela e deslizando a capa deles. – O que aconteceu, me diga...

A capa caída no chão, Harry percebeu que Ametista não estava com as roupas da Sonserina. Ela vestia uma simples calça jeans e um casaquinho de zíper esverdeado que a deixava muito charmosa, mas nada parecida com uma aluna de Hogwarts. Não era final de semana. Sem querer perguntar pela terceira vez, notou que Ametista fungou o nariz e lançou o olhar para longe dele.

- Meu avô disse que a próxima que eu aprontar, estarei fora de Hogwarts.

"Ahn?", ecoou estupidamente em sua cabeça. Ametista estava realmente trêmula, mas seus olhos brilhavam de raiva.

Harry franziu a testa, querendo segurar a surpresa e a piada, já que Dumbledore nunca arriscaria deixar Ametista novamente escondida em algum lugar aos cuidados de Snape ou de qualquer outra pessoa, longe de Voldemort. Hogwarts era o lugar mais seguro para ela naquele momento, ao lado do avô, e somente ali. Como ele poderia ameaçar sua permanência na Escola? O velho deveria ter enlouquecido!

- Disse que a briga com a Parkinson foi o auge – continuou a explicar, os olhos ainda no piso. – Eu disse que não haveria jeito daquilo acabar, fosse com a Parkinson ou com o Malfoy, especialmente com ele, enquanto eu continuasse na Sonserina – por isso Harry imaginou dela estar usando vestes de uma jovem trouxa. – Eu ainda tentei reivindicar minha volta a Grifinória, ou que me transferisse para a Corvinal ou até para a Lufa-Lufa – Harry quis rir ao imaginá-la em qualquer Casa que não fosse a Sonserina, atualmente. – Então ele me respondeu que se eu saísse mais uma vez da linha, não haveria solução e ele teria de me mandar de volta para Godric's Hollow, ou mais longe...

Ao notar a tensão vinda dela, o monitor fitou o lábio inferior de Ametista e notou que estava tremendo, assim como todo o resto de seu corpo. Ela parecia estar em ebulição.

- Mas se ele fizesse isso, Ametista, ele estaria jogando você praticamente nas mãos de Voldemort! – protestou Harry.

- Eu sei, acredite, eu sei! – respondeu, aumentando a voz e demonstrando o quanto à idéia de reencontrar Voldemort a assustava.

Harry engoliu em seco, imaginando o quê poderia estar passando pela cabeça de Dumbledore para ameaçar Ametista de algo como sua reclusão novamente. A jovem parecia muito mais do que revoltada. Era como se aquela fosse a arredia Ametista Dumbledore que ele conhecera há quase dois anos e a odiara profundamente.

- Mas isso não é possível! Dumbledore nunca faria isto novamente, Ametista, tenho certeza! Ele não te entregaria de mão beijada ao Voldemort!

O semblante da garota estava frio e repleto de ira. Quando ela disse, sua voz veio nervosa e decidida.

– Quando eu voltei a vida depois do Pacto de Sangue, meu avô e Severo me avisaram de que o Pacto de Sangue só poderia ser realizado uma vez em um humano, e minha chance já havia sido usada – Harry procurou encontrar os olhos da namorada, mas Ametista não permitia. Porém, sua voz apresentava todo o temor que deveria estar explicitado em seus olhos. – Se eu me reencontrar com aquele maluco e ele decidir tentar me mandar para o inferno novamente, eu não voltarei, Harry! Mas parece que isso não tem nenhuma importância para o meu avô! É como se ele estivesse cansado de mim, e então eu devo começar a me cuidar sozinha... Só que eu não deixarei que ele me mande embora daqui!

Finalmente, Harry conseguiu segurar seu rosto em suas mãos. A única coisa que fora capaz de fazer foi sorrir, tentando disfarçar o próprio temor que tomou conta dele.

- E é claro que você não irá embora! Você esqueceu que tem a mim? Eu não vou permitir que você me deixe, lembra-se? – insinuou Harry, com calmaria e simpatia. Seus olhos brilhavam.

Ametista pareceu engasgar com aquilo, encarando Harry com relutância. Havia mais. Agora ele tinha certeza.

- Meu pai também participou da reunião...

"Oh não...", gemeu o jovem. Harry quis fechar os olhos, lamentando e imaginando a reação de seu padrinho diante daquilo.

– Claro que ele não considerou a idéia de me mandar embora de Hogwarts, eu pude perceber – nessa hora, ela engoliu em seco. – Só que ambos concordaram com outra coisa... – Harry olhou para o alto e já imaginou. Aquilo era só o que faltava. – Se algo acontecer mais uma vez, e você estiver envolvido, eles prometeram, realmente prometeram, que não vão nos deixar ficar juntos, Harry. Disseram que se alguma coisa acontecer e um de nós dois provocar, que o nosso namoro estará acabado.

Desta vez não veio sorriso ou simpatia. Harry simplesmente ficou boquiaberto e não imaginou o quê responder. Aquilo sim era uma sandice. Caso estivessem cansados da situação com Voldemort, não colocassem a coisa mais preciosa que ele tinha no meio. Ametista era sagrada. Além de que aquilo não tinha nenhuma coerência.

- Mas isso é uma completa loucura! – retrucou o jovem, afastando-se de Ametista. – O que o nosso namoro tem a ver com qualquer dessas coisas?!

- Eu sei disso! – respondeu Ametista, o brilho em seus olhos se intensificando. – Eu disse a eles! Mas não sei o que aconteceu! Parece que eles estão achando que tudo tem ligação!

Uma fúria subiu em suas estranhas, perfurou seus sentidos e Harry reagiu: bateu os pulsos numa das portas dos boxes do banheiro e ela chocou-se contra a parede fortemente, fazendo um grande estrondo. Ametista quase pulou surpreendida, soltando uma exclamação de espanto.

- É CLARO QUE TEM! – sua voz estava alterada e Ametista recordou-se do quanto não queria que Harry soubesse daquela reunião. – TEM PORQUE UM MALDITO GRIFIN"RIO RESOLVEU NAMORAR UMA SONSERINA!

Levando as mãos nos cabelos, Harry bufou profundamente, e Ametista abaixou-se para pegar a capa que a cobria anteriormente. Fechando os olhos por uma fração de segundo, assistiu Harry apoiar-se na porta que havia socado e abaixar a cabeça.

- Por que tudo tem que ser difícil para nós dois? – sussurrou, respirando fundo. Ametista encarou-o e se aproximou, arrastando a capa entre seus dedos, lentamente. – Por que você tinha que ser filha do Voldemort?

Os olhos azuis escuros de Ametista fixaram-se no corpo de Harry, a ira espalhando-se ao ouvir aquilo.

- Não foi minha escolha, sabia! – interrompeu, sem acreditar naquilo.

Harry ergueu os olhos, com os braços ainda estendidos no topo da porta, mirando-a com nervosismo.

– Infelizmente eu sei bem disso, Ametista – a garota suspirou, olhando para ele com raiva. Mas, ainda assim, Harry prosseguiu. – Por que você tinha que pertencer a Sonserina? – Ametista fechou os olhos, ficando transtornada com aquelas questões idiotas do namorado. – Por que eu não podia continuar ignorando o que eu sentia por você? – a jovem ergueu a cabeça e assistiu-o fitá-la com uma certa nostalgia. – Por que você me fez ficar assim?

Ele retirou as mãos que seguravam seu corpo à porta e sentou sobre a tampa do vaso sanitário, levando as mãos ao rosto e ao cabelo, e os cotovelos apoiando-o em suas pernas. Ametista permaneceu imóvel, a raiva ainda presente entre eles.

- Nossas vidas seriam tão mais fáceis – murmurou o jovem. – Eu poderia continuar tentando esconder tudo que eu sentia por você... – Harry enfiou ainda mais o rosto nas mãos. – Não queria que tudo isso acontecesse, não queria mesmo! Eu não sei se eles não gostam de nós dois juntos ou se nós estamos infringindo, sei lá, alguma lei universal! – um riso escapou da garganta do jovem. – Não queria que fosse assim.

- Talvez alguém queira que seja. – disse Ametista, aumentando a voz novamente, mas muito pouco, ainda cheia de nervosismo e aborrecimento.

Ambos ficaram em silêncio. Harry pensou como aquele dia estava sendo longo. Primeiro Bellacroix e a tal ameaça, que até agora ele não sabia do que se tratava, depois a idéia insana de Snape a provocar uma troca corporal entre ele e Draco Malfoy, as brigas na Ala Hospitalar e no jardim, e agora isso.

Porém, o quê ele mesmo falara sobre algo estar errado na relação deles, como infringir uma lei ou coisa parecida, o deixou incomodado. Será que era por causa disso que Dumbledore estava agindo daquela forma tão estranha? Nunca ele ameaçaria tirá-la de Hogwarts. Quanto mais forçá-la acabar o namoro...

- Você acha que isso realmente dará certo, Harry?

A voz de Ametista o despertou de seus devaneios e ele então notou o conteúdo de sua fala. Erguendo a cabeça rapidamente, ela encarou-o com um brilho diferente nos olhos, agora de quase desapontamento.

- O qu? – foi tudo que saiu de sua garganta.

Por um momento, Harry notou que havia uma insegurança tão grande nela que poucas vezes pudera perceber. No entanto, a necessidade e urgência de uma resposta plausível para aquela questão gritavam em sua mente, e certamente na dela também. Ela demorou um pouco para refazer a pergunta.

- Você acha que realmente poderemos atravessar todas essas barreiras para ficarmos juntos? – Harry nunca sentiu tanta tensão antes como naquele momento. – Você acha que vale a pena? Que realmente fomos feitos um para o outro e que ninguém poderá destruir isso...?

Nesse exato instante, a porta principal do banheiro abriu e Hermione colocou a cabeça para dentro. Seus olhos arregalaram-se ao notar as roupas de Ametista e nenhum sinal de Harry, a jovem apenas em pé, segurando a capa negra que a cobria, olhando para um ponto fixo, na direção dos boxes.

A monitora da Grifinória pigarreou pouco mais alto que o normal. Ametista girou sua cabeça no mesmo segundo, olhando quase assustada para Hermione. A jovem engoliu profundamente e sorriu desajeitada para a amiga.

- A aula vai começar. – avisou.

Ametista pareceu mover sua cabeça mecanicamente, olhando diretamente para a cabeça de Hermione, mas como se não a visse. A grifinória retirou-se enquanto Ametista puxava a capa do chão com maior intensidade, dirigindo-se à porta. Harry ergueu-se num pulo e a seguiu.

Antes que Ametista chegasse à saída, Harry paralisou-a e virou-a em sua direção, olhando com muita preocupação para a namorada. Aquele momento parecia delicado demais para ser substituído por uma aula de Aprendizes.

- Você acha que eles podem acabar com o nosso namoro? – indagou com uma seriedade poucas vezes vistas nele. Parecia que estavam dizendo que Voldemort estava do lado de fora, suplicando por sua presença.

Os lábios da sonserina se contorceram por um pequeno instante, e então ele a ouviu responder:

- Se nós realmente quisermos, acho que não – ela não estava mais trêmula. – Mas nós estaríamos enfrentando o bruxo mais poderoso de toda a comunidade bruxa. Somente isso. Realmente vale a pena, Harry?


Ficara visível para todos ali presentes que algo estava muito errado. Snape agitava-se numa maneira estranhíssima, os olhares frios indo de todos para todos, concentrando-se especialmente em Draco. Ártemis continuava a circular pela sala, ajeitando sua roupa, seu cabelo, e dirigindo os olhos violetas da mesma forma que Snape. Quando Harry e Ametista adentraram na sala alaranjada, a tensão aumentara ainda mais. Os namorados postaram-se longe um do outro, Ametista ao lado de Gina e Malfoy, e Harry junto de Hermione e Rony. A monitora da Grifinória olhava obtusa para ambos, incerta do que poderia ter acontecido ou estar acontecendo.

- Somente gostaria de fazer uma observação antes do início de nossa aula – disse Snape, unindo as mãos nervosamente. – Não tolerarei atitudes infantis e imaturas como as de hoje de manhã – seu olhar intensificou-se sobre Draco e Rony. – Sem socos, entenderam Malfoy e Weasley? Um bem longe do outro.

Ambos concordaram com a cabeça, mesmo que estivessem bastante nervosos com tudo que acontecera. Snape pediu que todos sentassem e ouvissem com atenção a tarefa do dia.

- Recebemos uma ameaça ontem – explicou Ártemis, seu tom sério e observador, quebrando o silêncio. – Hogwarts seria invadida, desta vez não por dementadores, e sim pelos próprios Comensais – Harry ligou aquilo com o assunto sério de que Bellacroix parecia falar com Snape. – Então procuraremos treinar um pouco mais de duelos e feitiços de ataque, certo?

Os alunos permaneceram calados. Era claro que os professores não falariam algo além daquilo. Isto, de certa forma, acalmou Harry. Naquele instante, nada entraria na sua cabeça. Pela primeira vez, sentia-se completamente desconcertado com toda a situação de seu namoro problemático com Ametista. Aquele não era o melhor momento para concentrar-se em Comensais da Morte.

- Dividiremos vocês em duplas. Quero um trabalho de checagem nas quatro torres principais de Hogwarts – continuou a falar Ártemis, enquanto Snape apenas observava os alunos, o semblante preocupado e ligeiramente distante. – Littlewood e Longbottom para a Torre da Corvinal – Gina ficou incrivelmente aliviada que não precisaria ir junto com Babelon para qualquer uma das torres. – Weasley e Dumbledore para a Torre da Sonserina – Rony e Ametista ficaram felizes de não ir com Draco ou Harry. – Weasley e Malfoy para a Torre da Grifinória – Gina franziu a testa e lamentou-se, não pretendia fazer nada mais na parceria de Draco. – E Potter e Granger para a da Lufa-Lufa. – e Ártemis disse que passaria a senha para ambos.

Nem um pouco motivados para uma vigilância nas Torres das Quatro Casas de Hogwarts, as duplas levantavam-se do chão e iniciavam sua caminhada pela noite escura. Apenas Harry e Hermione ficaram com os mestres.

Hermione acompanhou Ártemis até uma das altas janelas da sala circular. Parecia que a professora tinha algo a dar para a jovem. Porém, antes que pudesse descer do palco, tropeçou. Para não cair direto com o rosto, Hermione estendeu os braços e alcançou a mestra de Defesa Contra a Arte das Trevas. Neste segundo, quando seus dedos encontraram o braço desprotegido de Ártemis, um choque atingiu Hermione e ela teve certeza de que tudo ficara escuro.

Quando abriu os olhos, teve a nítida impressão de que levitava. Estranho, pois notou que seus pés estavam no chão, ela estava em pé, ereta. Olhou a sua volta e encontrou-se numa varanda de uma casa. O dia estava incrivelmente ensolarado e havia um vasto gramado que se estendia até para lá do horizonte. A brisa a atingiu e seus cabelos se moveram. Por que ainda sentia como se flutuasse? Ouviu barulhos e olhou para trás. Seus olhos chocaram-se com Ártemis Figg. Entretanto, a mulher possuía a sua idade certamente. Era mais nova, sua pele alva e sem as pequenas rugas que apareciam em seu rosto. Trajava a veste azul e bronze da Corvinal. Olhando novamente para depois da varanda, notou que estavam em Hogwarts ainda, mas nunca havia ido àquele lugar. Mas Hermione foi pega de surpresa por algo maior: havia luz. Uma luminosidade envolvia Ártemis. Ela não parecia estar feliz naquele certo instante, mas seguramente era feliz. Todo seu corpo reagia de forma diferente, e seus olhos violetas eram mais profundos e largos e belos.

- Eu não posso acreditar nisso Thomas! Simplesmente não posso! Não vou conceber essa sua idéia maluca!

Hermione notou que a jovem olhou para a sacada, cruzou os braços, mas não notou sua presença ali. Rapidamente, um vulto surgiu e bateu a porta furiosamente, aproximando-se de Ártemis. Hermione ficou boquiaberta. O homem era lindo. Olhos azuis hipnotizadores, lábios carnudos e vermelhos como sangue, cabelos negros como uma noite de inverno. E vestia o uniforme da Sonserina, com o botão de Monitor-Chefe no peito. Passou os braços pela cintura da corvinal e a jovem não permitiu o contato, afastando-se.

- Oh Arty! Não me venha com essa agora! – protestou o jovem. – Você sabia desde o início que meu sonho era esse! Por que essa implicação agora?

Ártemis assistiu o rapaz afrouxar sua gravata verde e prata da Sonserina. Ela rolou os olhos e voltou-os para a varanda.

- Simplesmente porque eu amo você e ainda assim não consigo dormir um dia sequer sem imaginar que vai se meter nesse campo de batalha ridículo! Você pode ser morto! Eu não quero ter te dividir você com algum Comensal maluco por aí! Não me faça tomar uma decisão drástica!

- Que decisão drástica?! – repetiu o sonserino, largando as mãos da gravata. – Escute Arty... Eu prometi a mim mesmo que iria me tornar um auror. Minha família inteira achou-me louco, mas ainda assim eu não vou desistir! Sirius ficou um mês sem falar comigo por causa disso, não vou permitir que você se intrometa também!

A garota olhou para cima e bufou nervosamente. Hermione não estava entendendo até que recordou Harry contando a ela sobre Ártemis ter sido noiva de Thomas Black, o irmão mais velho de Sirius.

- Seu irmão é um idiota que não sabe e nem tem idéia de nada, Thomas – respondeu Ártemis, fazendo Hermione cerrar os punhos. Então havia aquela certa tensão entre eles desde Hogwarts? – Você não tem idéia de nada! Não consegue imaginar quantas pessoas pode deixar aqui se algo acontecer?! Inscrever-se para este treinamento de verão na América foi uma das coisas mais estúpidas que te vi fazer! Não quero receber a notícia de que algo lhe aconteceu, é tão difícil entender isso?!

Hermione assistiu Thomas retirar seu robe da Sonserina pela cabeça, num ímpeto de fúria, e jogá-lo no chão, olhando para Ártemis.

- Ártemis! Escute de uma vez por todas! Eu te amo mais que tudo, mas eu NÃO VOU deixar meu destino por SUA causa! Eu nasci para ser um auror, eu quero me tornar o Chefe do Departamento de Aurores do Ministério da Magia e destruir o máximo de Comensais da Morte possíveis! Se, para isso, eu tenha que deixar você para trás, eu DEIXAREI!

Os olhos da jovem estavam cheios de água. Pela primeira vez, Hermione realmente ficou com pena daquela mulher.

- Vocês sonserinos... – murmurou a aluna da Corvinal, olhando diretamente para o rapaz da Sonserina, amarga. – Sempre tão determinados e ambiciosos. Sempre capazes de tudo para alcançar suas glórias. Sempre dispostos a deixar quem for para trás...

Hermione segurou a respiração assim que viu os olhos azuis de Thomas ficarem arregalados. Recordava daquela cena por algum motivo. Talvez fosse a incrível semelhança de Thomas com Sirius. Quando Hermione, Rony e Harry o encontraram pela primeira vez, na Casa dos Gritos, no terceiro ano, aquele rosto, aquela expressão. Os Black eram definitivamente charmosos, mas também ficavam iguais ao exprimirem suas revoltas.

Ele aproximou-se de Ártemis e respirou profundamente sobre ela. A jovem pareceu tão gigante quanto ele, sem aparentar impressionada com aquilo. Thomas tocou seus dedos.

- Posso ser sonserino, ambicioso, passar por cima de tudo – disse Black, com toda sua destreza que Hermione lembrava em Sirius. – Mas ainda assim tenho coração. Eu ignorei tudo que todos me falaram sobre você ser uma corvinal, de ser uma menina estranha e reclusa e mandona, de parecer vigiar a todos e sempre ter um plano na manga, e até de ter algum segredo ligado ao sangue da sua família. Eu ignorei as baboseiras do meu irmão, falando de você e da sua irmã. E até mesmo o seu jeito ríspido de me tratar por seis meses eu ignorei – Ártemis permanecia sem mover-se. Hermione admirou-se. – Não espero que você entenda meu desejo, meu sonho. Somente achava que, mesmo com essa toda loucura nossa e minha, você pudesse me apoiar. Há um mês eu te pedi para me esperar. Te pedi para casar comigo. E você aceitou. E me abriu seus pensamentos. Sei tudo sobre você e seus temores e raivas, Arty. Eu fui a única pessoa que confessou todos os seus segredos – nesse momento Ártemis engoliu longamente e Hermione foi capaz de ouvir. – Quero que seja minha esposa, que esteja ao meu lado, que escolha me entender e me amar, incondicionalmente. Se não for capaz, eu não hesitarei em deixá-la livre para encontrar alguém que a faça mais feliz que eu.

Hermione começou a sentir que sua levitação estava diminuindo. As imagens começavam a escurecer. Olhou para o céu e viu o sol distante. Aquilo parecia estar acabando. Mas antes, Ártemis uniu-se a um abraço com Thomas e disse:

- Eu tomei uma decisão, Thomas. Tornarei-me uma auror – o rapaz ergueu a cabeça da curva de seu pescoço e olhou-a com surpresa. – Essa é minha penúltima saída. Seu tornando-me uma auror eu seja capaz de te proteger, de te comigo para sempre, eu serei a melhor. Tudo para te ter comigo. Eu farei de tudo.

O homem beijou de leve seus lábios e distanciou-se. Hermione sentiu um de seus pés tocando o chão.

- E qual seria a outra opção? A última saída, meu amor?

Hermione iniciou sua caída ao chão, mas não sem antes notar os olhos de Ártemis pesados, fechando com dificuldade. Sua voz estava fraca e tomada por pesar.

- Você não vai querer saber. E caso necessário, nunca saberá.

Assim que sentiu seu peso contra o piso gelado da sala alaranjada, Hermione soltou a respiração e um grito. Era como se uma corrente elétrica tivesse passado por toda a extensão de seus nervos. Surpreendentemente, um grito acompanhou o seu, exatamente no mesmo tempo e no mesmo tom e volume. Seus olhos abriram-se com choque e encontraram os de Ártemis Figg.

- LARGUE-ME! LARGUE-ME AGORA!

De alguma forma, Hermione não sabia entender como, mas seus dedos estavam envolvendo o pulso esquerdo da mestra fortemente. Ela ainda tentou largar, tirar sua mão dali, mas havia algo mais forte que ela unindo-a àquela mulher. Ártemis puxava seu braço com urgência, e gritava sem parar. Parecia que Hermione estava machucando-a.

A jovem, olhando ao redor, viu Harry vindo em sua direção, o semblante tão surpreso e confuso quanto o dela. Snape, por outro lado, estava paralisado, imóvel, sem reação alguma. Antes que Harry chegasse até ela, viu o braço de Snape impedi-lo de prosseguir. Hermione ainda tentou gritar algo para que o professor de Poções permitisse que ele a ajudasse, mas nada saiu de sua garganta. De Ártemis, por outro lado, saiu.

- SNAPE! TIRE-A DE MIM! ELA NÃO CONSEGUE ME SOLTAR! TIRE-A DAQUI!

Nessa altura, Hermione estava sentindo perder a consciência. Algumas imagens sem sentido formavam-se na sua cabeça. Duas mãos unindo-se, rodeadas de anéis prateados. Uma mulher vestida de lilás, belamente. Os olhos azuis de Thomas Black arregalando-se novamente, enquanto algo o fazia berrar de pavor e dor. A Marca Negra e o choro sem controle de Ártemis. Assim que as imagens começavam a se unir em sua mente e, assustadoramente, Hermione parecia entender parte daquilo, alguém a puxou do toque da mulher.

Harry assistiu Ártemis recuar rapidamente contra a parede da sala, gritando descontrolada, sem final. Seu olhar voltou para Hermione e viu que Snape segurava a jovem pelos ombros, erguendo-a do chão. Tentou aproximar-se e não conseguiu. Notou que Snape não permitira.

Enquanto isso, Hermione flutuava uma segunda vez. Neste instante, ela se viu num alto de uma colina, o solo instável e cheio de pedras e rochas. Era noite, uma noite fria e nublada. Havia um homem vestido de negro da cabeça aos pés. Ele parecia impaciente, nervoso, inconstante.

Alguém aparatou diante de Hermione. O vento gélido da noite agitou os cabelos longos e loiros da mulher que acabara de postar-se à frente do homem com rapidez e imponência.

O bruxo retirou a capa que vestia e seu rosto revelou-se. Hermione já esperava que aquele fosse Severo Snape, tão pálido e mal humorado como sempre. Porém, suas feições nunca estiveram tão audaciosas como naquele momento. Seus olhos negros miravam a mulher, que, aliás, muito bela, com destreza, como se estivesse esperando para dar o bote.

Pigarreando, sua voz veio tão seca e vazia como em Hogwarts como o velho professor de Poções.

- Pensei que não viria ao nosso encontro. Estou surpreso.

Hermione "flutuou" até parar ao lado de Snape e assistiu a mulher parecer ainda mais divina. Tinha longos cabelos loiros, olhos azuis deslumbrantes, e aquela vestimenta também negra deixava sua pele branca, mas incrivelmente bela. Uma pequena semelhança com Hauspie Bellacroix passou pela cabeça de Hermione. Se não fosse pelo cabelo alvo, poderiam ser parentes de tão parecidas, mesmo que a beleza desta não fizesse comparação à de Bellacroix. Esta mulher era infinitamente mais bonita.

- Eu disse que viria e cumpro com minha palavra, Snape. – seus dentes também eram alinhados e deixavam os lábios dançarem em sua face.

- Sei que cumpre, Dumbledore...

- Black, Snape – interrompeu a mulher, enfatizando o sobrenome. – Sou Hariel Black.

Um riso paralisou no nariz de Snape e Hermione distanciou-se levemente. Não gostava de proximidade com aquele homem, parecia extremamente perigoso. Todos os seus movimentos pareciam assustadores. Hermione imaginou como Snape não parecia mais ser tão intimidante. Nem mesmo quando dizia que sua poção não estava perfeita ou que o interrompia sem ser chamada, no meio de sua explicação, como uma nojenta sabe-tudo.

- Ok, como quiser, Black – riu Snape, olhando intensamente para a mulher. – Diga-me... Trouxe o que pedi?

Aquela era a mãe de Ametista, e isto fez com que Hermione notasse como aquela bruxa era parecida com a filha. O modo com que seus lábios se contorciam ligeiramente, e como olhava. Os olhos de Ametista, antes do Pacto de Sangue, eram exatamente iguais ao daquela bela mulher.

Hariel estendeu o braço, puxando uma parte de seu longo casaco negro junto. O olhar de Snape recaiu sobre sua cintura, onde havia uma pequena caixinha pendurada. O homem colocou o braço na direção da mulher, mas Hariel deu um passo para trás, recuando para longe do alcance de seus longos dedos. Snape riu novamente.

- Vai se fazer de difícil como sempre, Black? Poupe-me do trabalho, por favor.

- Não será assim – disse a mulher, jogando os fios que caíam sobre seus olhos naquela ventania. – Arrisquei meu emprego para recuperar isto. E mais, arrisquei o emprego do meu melhor amigo. Não pense que será fácil. Não sou uma idiota.

Hermione viu Snape abrir os braços e rir bem mais alto. Hariel fechou o casaco e olhou perigosa para o homem.

- Fale logo o que quero saber, Comensal! – ordenou Hariel, os dedos no bolso, envoltos em sua varinha. – Diga se é verdade. Diga o que vocês fizeram comigo!

Um sorriso despertou nos lábios de Snape e ele, rapidamente, respondeu:

- Onde está o seu marido agora? Não estou vendo o famoso Sirius Black por perto...

Hermione notou visivelmente como Hariel vacilou. Seus olhos encheram-se de água, de temor, de ódio. Por um momento, imaginou como Snape poderia ser tão frio e tão calmo diante dela. Sabia que Hariel fora espiã do Ministério por anos, além de, aparentemente, ser ainda um Comensal da Morte de Voldemort naquele dia. A mulher engoliu e tentou disfarçar seu incômodo.

- Ele está em casa, cuidando da nossa filha.

Uma expressão contorcida, mas ao mesmo tempo prazerosa, apareceu em Severo.

- Nossa filha? Não imaginava que você fizesse tanta questão de ainda falar assim daquela criatura. Ela não é filha sua e de Black...

- SIM, ELA É! E CALE A SUA BOCA! – protestou Hariel, os olhos enchendo-se de água.

Snape riu novamente e, finalmente, Hariel deu um passo à frente e deu um forte tapa no Comensal. Hermione soltou uma exclamação surpresa, mas também sentiu compreensão e compaixão.

Lentamente, o bruxo ergueu o rosto, e assistiu Hariel deixar as lágrimas caírem. Mordendo o lábio inferior, Snape sentiu quando a caixa, que anteriormente estava em posse de Hariel, atingir seu peito e cair no chão. Ela rangia os dentes.

- Diga-me logo! O que vocês fizeram comigo?! O que vocês fizeram com Ametista?! O que eu tenho de fazer?!

E nesse instante, Hermione notou como parava de flutuar. "Não, não!", pediu, curiosa e precisando ouvir o final. "Não me faça voltar agora, por favor, não me faça!", suplicou, assim que seus pés tocavam o solo.

- A criança que você nomeou Ametista Dumbledore Black é apenas Dumbledore... Preencha o nome Riddle no lugar de Black e está feita a justiça, Black... A criança não é filha de Sirius de Black... Ela foi o resultado da sua união com Tom Riddle e um feitiço originado deste livro, o Turbatio Sanguinis... – o homem apontou a caixinha caída aos seus pés. – Não há o que se fazer... A garota é filha de Voldemort e isto é certo e irremediável... Não adiantará se matar ou oferecer-se ao poder do Lorde das Trevas, pois ele não terá piedade e não voltará com a maldição... Ela é filha dele e sua, e Black terá de conviver com isso, além da criança... Eu ajudei a realizar este feitiço e acabei perdendo o livro... Você o achou... – as vozes estavam distantes agora. Eles pareciam discutir. Hermione somente entendia a voz de Snape. – Você foi amaldiçoada, Black foi amaldiçoado e a sua filha também... Morta Hariel... Não há nada para se fazer... Lamento...

Ao abrir seus olhos novamente, Hermione ouviu:

- Solte-me lentamente, Srta. Granger... – aos poucos, ela foi capaz de soltar as vestes de Snape. Não tinha notado que agarrara o professor, segurando-se para ouvir até o final a conversa entre ele e Hariel. – Solte...

Harry estava paralisado, sem entender nada do que acontecera. Fora tudo tão rápido. Hermione tropeçara e caíra sobre Ártemis que, imediatamente, iniciou o escândalo. Logo em seguida, Snape a puxou e Hermione agarrou-se a ele quase que instantaneamente, os olhos fixos e perdidos, para logo se soltarem novamente. Agora, sua amiga estava caindo no chão.

Assim que pensou em correr para socorrê-la, a porta da Torre Oeste abriu num estrondo e McGonagall adentrou, o coque caindo e sua respiração rápida. Olhando para a cena, sem entender, sacudiu a cabeça e disse, num tom extremamente aflito:

- OS COMENSAIS INVADIRAM O MINISTÉRIO! – as cabeças de Ártemis e Snape miraram a mestra, em surpresa. – Dumbledore acabou de mandar Lupin, Bellacroix e Zylkins para lá. É melhor que vocês também acompanhem-nos!

Harry notou que Snape ficou sem reação, ainda soltando Hermione de si. Ártemis permanecia ali no chão, encolhida, olhando confusa para Minerva. A diretora da Grifinória mordeu o lábio e deu meia-volta, saindo com rapidez da Torre. O jovem voltou sua atenção para Hermione e tentou acudi-la.

- Hermione! Hermione! – ele ajoelhou ao seu lado. – Hermione! Acorde!

Seu olhar recaiu sobre Snape, que se distanciava devagar do corpo da jovem, o cabelo seboso desalinhado, caído sobre os olhos, como se tivesse acabado de lutar com um dragão. No outro extremo da sala, assistiu Ártemis erguer-se do chão, olhando contrariada e desconfiada para Hermione, os olhos temerosos. A mulher paralisou ao seu lado.

- Sr. Potter, vá para a Torre da Lufa-Lufa sozinho – e estendeu-lhe um papel. Harry notou como sua mão estava trêmula. As veias de sua carne estavam saltadas em sua pele. Levantou seus olhos e encontrou os da mestra. Estavam mais assustados do que assustadores. – A Srta. Granger ganhará uma bela detenção – Harry tentou interferir, mas Ártemis não permitiu. – E farei questão que seja expulsa de Hogwarts!


- O Ministério está cercado – comentou ofegante Hauspie, retirando o capuz que cobria seu rosto. – Oh! Minha nossa...

Parados diante do Ministério, Hauspie Bellacroix, Silver Zylkins e Remo Lupin perderam o ar. O edifício parecia um pandemônio. O fogo consumia as janelas, as portas, as paredes. Havia uma dezena de bruxos ali, vestidos todos em vermelho, com suas varinhas, tentando apagar o fogo. O Ministério da Magia fora vítima de uma emboscada e ali estavam os três integrantes da Ordem da Fênix, paralisados, sem a mínima idéia do que se fazer.

- Mas... Mas... Eu pensei que eles tinham falado que atacariam Hogwarts... – disse Zylkins, ainda chocado.

- Nós fomos enganados, mon petit. Não acredito! – rugiu Hauspie, retirando as duas varinhas de dentro de seu casaco, transformando-as em espadas, num jato de luz azulada. – Não vamos perder tempo aqui! Eles ainda podem estar lá dentro!

Assim que arriscou dar um passo, um homem vestido em um puro branco aproximou-se. Olhando para o nada, disse silenciosamente:

- Acompanhem-me.

Hauspie olhou para os companheiros e reconheceu aquele agente, Matt Holm, auror do Ministério da Magia, outro componente da Ordem. O auror guiou-os para um pequeno compartimento a alguns metros do caos. Era uma barraca branca. Adentrando, encontraram cerca de dez medi-bruxos, correndo de lado a outro, com inúmeros frascos entre os dedos. No mesmo instante, Lupin segurou a respiração e retirou o feitiço de invisibilidade.

- Arthur! – exclamou o bruxo, andando veloz até a cama onde o Sr. Weasley estava deitado.

O pai de Rony tinha o rosto repleto de cortes profundos. Seu nariz sangrava, assim como a têmpora esquerda. O braço e a perna direita estavam em carne viva, queimada pela explosão. O homem murmurava palavras sem sentido para Lupin, e o homem encostou-se ao ferido, pegando sua mão. Enquanto Remo procurava dizer que tudo ficaria bem, os medi-bruxos voltavam até o corpo do Sr. Weasley e despejavam um líquido pastoso amarelado sobre as regiões queimadas. Silver e Hauspie ficaram de lado, impressionados com o estado corporal do homem. Matt parou ao lado deles, não podendo vê-los ainda, e disse:

- Estávamos fora, os aurores – sua voz estava pesada, quase que culpada. – Os poucos que ficaram aqui foram atingidos. Não sabemos de onde veio a explosão, o foco do incêndio... – Hauspie engoliu em seco e notou que Zylkins moveu-se incomodado. – Os espiões conseguiram capturar um deles, mas acabou escapando no final, com toda essa correria...

O som fraco e desesperado de Arthur fez com que Holm parasse de falar.

- Lupin... Lupin... – Remo segurava ainda a mão dele, a raiva cada vez maior por quem fizera aquilo. – P... Pe... Percy...

Matt Holm olhou duvidoso para Lupin. O ex-professor de Hogwarts sentiu a pressão cair levemente e suar frio. Os Comensais não poderiam... Perder um filho... Não... Arthur continuava a balbuciar palavras impossíveis de serem entendidas, ao meio do nome de seu filho que trabalhava lá. Remo sustentou o olhar sobre Holm por alguns segundos. Eles não poderiam ter deixado Percy para trás, muito menos deixá-lo na mão de algum Comensal, indefeso, pronto para ser assassinado. "Por favor, que isto não aconteça!", suplicou Lupin para si mesmo, como se ainda pudesse restar alguma esperança.

Enquanto ouvira diversas janelas se quebrando do lado de fora, o fogo ainda explodindo, parecia que o tempo tinha parado. A entrada da barraca foi invadida por outros medi-bruxos, misturados com alguns agentes vestidos de negro – os espiões. O coração de Lupin paralisou ao assistir Joseph Fletcher com o corpo contorcido e mole de Percy Weasley nos braços.

Seus olhos fecharam-se no mesmo instante. Nunca tinham planejado aquilo. Envolver jovens naquela guerra horrível e tenebrosa. Como poderia agüentar aquilo? Ao abrir os olhos novamente, a visão atraiu-os para o corpo de Percy. Ele estava coberto em sangue, sem vida. Sua boca estava entreaberta, como se ainda pudesse voltar e gritar por socorro. Os olhos ainda terrivelmente arregalados, tomados por um terror jamais visto antes do Lupin. Ele era apenas uma criança.

Mordendo o lábio, sentindo que Arthur ainda apertava sua mão, mesmo que fracamente, Lupin olhou de esguelha para Matt Holm uma segunda vez. O auror sacudiu a cabeça negativamente e, no mesmo instante, Hauspie Bellacroix apareceu. A mulher retirou o feitiço e vários medi-bruxos passaram a olhar, assim como os agentes do Ministério. Seus olhos azuis estavam embevecidos por ódio. As espadas em suas mãos passaram a brilhar, a refletir. Logo em seguida, Silver também retirou o feitiço e puxou sua varinha da roupa e acenou para Lupin. Ambos desapareceram no instante seguinte. Ninguém teve sequer tempo de reagir.

- Lu... Lupin... – chamou mais uma vez Weasley e Remo olhou para o rosto cansado e ferido do senhor. – E... Encontre P... Percy...

Lupin concordou com a cabeça, prometendo mentalmente que aquilo seria para o bem de Arthur, e puxou a varinha de seu casaco. Era hora. Olhando para Matt Holm e Joseph Fletcher, ambos concordaram e fizeram um sinal para o homem. Respirando fundo, sentiu uma intensa pontada em seu coração antes de deixar a barraca. "Tiago, Lílian, protejam a todos", disse em baixo volume, como se pudesse ainda pedir proteção.

Aparatou dentro do edifício. Estava numa sala aparentemente já tomada pelo fogo. As paredes, os móveis, as fotografias e todos os pertences de pessoas que ali trabalhavam estavam afogados num mar escuro e negro. Tudo havia sido consumido pelo incêndio. Antes que pudesse evitar, seu olhar captou um corpo. Jazia caído o corpo, a carne ainda brilhando em partes que existia sangue, outras completamente queimadas, o rosto irreconhecível. Lupin segurou o embrulho em seu estômago.

Rapidamente, notou que não havia apenas aquele corpo. Pelo menos três estavam caídos ali. Seus olhos guiaram-se para as mãos, quase totalmente incendiadas, unidas. Os mortos ainda tinham as mãos dadas. Um soluço parou em sua garganta. Nunca imaginou que Voldemort poderia ser tão baixo. Se quisesse tanto matar a todos que não o apoiavam, por que então não lutar cara a cara? Por que não mostrar sua verdadeira face? Não era corajoso o suficiente de colocar o rosto para o tapa? Tinha que incendiar um edifício completo, repleto de inocentes? Tinha que fazer tudo por baixo do pano?

Lupin pensou que não agüentaria mais um segundo ali. O cheiro que invadia suas narinas era nojento. O perfume putrefaço dos corpos carbonizados era impossível de ser suportado. Tossiu fortemente, como se pudesse engolir aquele cheiro como um líquido. Porém, não importava quão difícil e horripilante aquilo pudesse ser. Tinha que procurar por vidas ainda. Mas é claro, desejava cruzar com um Comensal, qualquer que fosse. Uma raiva subiu por suas estranhas e depositou-se em seu coração. Mataria. Mataria aqueles assassinos. Não importava mais se fosse para Azkaban no piscar de olhos seguinte.

Começou a caminhar, tentando desviar de tudo que estava caído, fossem objetos, fosse corpos. Imaginar que Voldemort provocara tudo aquilo. Imaginar quantas famílias ficariam pelo resto de suas vidas assombradas por aquela noite. Imaginar quantas pessoas estariam mortas. Imaginar quantos sobreviventes seriam perseguidos por tais pesadelos. Não tinha certeza do que faria se estivesse ali. Não teria certeza de como reagiria quando Arthur acordar e descobrir que perdera um filho.

Estava agora em um longo corredor. Sem a mínima idéia de onde estava, passava pelas salas, procurando algum resquício de vida. Algum pedido de ajuda silencioso. Alguma respiração entrecortada. Algum choro sem consolo. Sua boca permanecia fechada, mas era como se pudesse sentir a morte daqueles ali presentes. O odor piorava a cada passo à frente e as idéias de como a morte daqueles seres humanos poderia ter sido apenas o deixava mais transtornado. Nunca imaginara que o Ministério fosse o alvo do ataque de Voldemort. Mas aquilo era covardia.

Andava cada vez mais rápido. Cada vez mais aflito. Cada vez mais furioso. As imagens de rostos carbonizados não saíam de sua mente. Seus ouvidos pareciam ter sido rompidos, pois nada conseguia ouvir. Sentia calor. Sabia que estava chegando perto de um foco do incêndio. Precisava apagá-lo, precisava achar sobreviventes, precisava trazer alguma esperança para o seu coração.

Ao chegar perto do final do corredor, assistiu o fogo consumir a sala. Colocou a mão sobre o rosto e abriu a boca, respirando a fumaça e o odor de morte. Recordava-se de abaixar-se. Ajoelhou-se e passou a engatinhar, a varinha na mão direita, à procura de algum ser ainda vivo. Olhava ao redor, sem nada encontrar. Sabia que estava correndo perigo. Perigo de não achar ninguém e mergulhar em desespero. Perigo de achar alguém, mas que seja tarde demais. Perigo de morrer ali, carbonizado ou pelo ar pesado da fumaça tóxica. Perigo de...

- Socorro... – gritou uma voz muito fraca, em meio à tosse.

Imediatamente, Lupin ergueu-se do chão e passou a acelerar seu passo. Mesmo que estivesse aspirando toda aquela fumaça e toda aquela essência da destruição de Voldemort, mesmo que aquilo estivesse o consumindo e mesmo o matando. Não importava o perigo, não importava as conseqüências. Precisava encontrar uma esperança. E naquele segundo, no meio do perigo, ele somente ouviu:

- AVADA KEDAVRA! – e tudo desapareceu. O perigo foi mais esperto que ele.


Nota da Autora (3): Não me matem!