HARRY POTTER E O OLHO DA ESCURIDÃO

Nota da Autora (1): Chegou capítulo novo! Terminei hoje gente! Então, escutem... NÃO ESTÁ BETADO, NÃO LI UMA SEGUNDA MINUCIOSAMENTE OU QUALQUER COISA PARECIDA VIU! DESCULPEM OS ERROS! (desespero) Mas esse capítulo é ótimo, eu adorei! Já resolvi alguns problemas pendentes da fanfic, para no próximo começar a derrocada pessoal! Não vejo a hora! Tá acabando hein! Só mais oito capítulos:)

Nota da Autora (2): Agradecimentos dessa autora que demora para atualizar:
Kirina-Li: Melhor do que a tia J.! Acho que não hein! Hihihi! Então, o nosso lobinho preferido... Calma calma, nesse capítulo eu já explico algumas coisinhas sobre a morte dele... Aí você vê o que acha e me diz! E Heather agora só no próximo capítulo, então, mais um tempinho sem informações... E sobre as reviews, é que o pessoal costuma a ler pelo meu site.. E outra, a fic é antiga jàentão o pessoal até fala pelo MSN... mas vai espalhando para os seus amigos então! Hahahaha! Beijos!
Carol: Toda poderosa das fanfics! Hehehehehe! Nhai, os finais de capítulo tem que deixar uma tensão não acha! Mas olha, esse aqui é mais levinho, é bem acabado tá Hehehe! Olha, pós-hoggy é meu sonho! Juro para você! Então, é ter fé que eu terminei logo ela ainda em Hogwarts, depois é só esperar... Mas vai saber se será o Draco que irá visitar hein! (criando polêmica) AH! E Draco e Gina! Está chegando! Meu autógrafo! Hehehehehe! Beijos!
Anaisa: Quanto tempo mesmo! Como você tá menina! Gostou dela surtando! Uhulll! Eu adorei também, ela é brava:P E sobre H/A... Bem... Estamos chegando lá... Próximo capítulo PROMETE! Só posso dizer isso! PROMETE A MINHA MORTE! Hahahahaha! Beijokas!
Adriana Black: Oi minina! Você lia pelo site! Então, hoje em dia eu tenho atualizado geralmente nos dois no mesmo dia... Mas é primeiro aqui, depois eu faço a atualização pelo frontpage... Bom, espero mesmo que você continue com paciência para esperar novos capítulos... A vida voltou a ficar uma loucura total... Mas eu dou um jeitinho! 'Brigada viu! Beijos!

Nota da Autora (3): Gente, capítulo novo agora vai DEMORAR! Não sei quando mesmo, porque a faculdade tá ME MATANDO! E eu quero continuar indo bem né! Então, mais paciência galera, eu fico muito mal de demorar, mas é que realmente eu não tenho tempo... Desculpem-me desde já Obrigada a todos! Beijos! E espero que gostem do capítulo! Deixem reviews!

No Capítulo Anterior: Após o anúncio do assassinato de Remo Lupin, Heather Potter resolve usar sua única arma para tentar salvá-lo. Porém, a deusa Helderane tem de enfrentar os perigosos Cavaleiros de Merlin. E a maior dúvida é: será que Lupin quer receber uma nova vida ou não viver mais?


CAPÍTULO TRINTA E QUATRO - HUFFLEPUFF RESSURGE NA TROUXA E OS ESCOLHIDOS DE DRAGON

A movimentação estranha despertou o jovem de seu sono, demorando-se a erguer o corpo pesado daquele confortável colchão, desapoiando a cabeça do travesseiro. Suas mãos vasculharam os lençóis, ainda quentes pelo contato de sua pele, satisfeitos pela noite bem dormida, após tanto tempo. Porém, nenhuma pista de outro corpo, e Harry abriu os olhos, procurando Ametista.

O dossel verde-escuro do dormitório feminino da Sonserina cobria sua visão exterior, apenas a janela na cabeceira da cama trazia ligeiramente luminosidade para olhar ao redor. Assim que pensou em afastar uma fresta da cortina para encontrá-la, uma mão puxou a cortina no sentido contrário, fazendo-o tirar sua palma do dossel. Então, apurou os ouvidos e sacudiu a cabeça com força maior, tentando prender a atenção às vozes do dormitório.

Você só pode estar brincando, cara de buldogue!

Harry reconhecia a voz e o tom ofensivo e ríspido que Ametista possuía. Parkinson também estava presente, ao ouvir um resmungo e uma sentença em quase tom de riso:

Antes de tudo, Dumbledore, abaixe esse tom e esse dedo na minha cara, se não vou gritar até alguém ouvir e seu avô te mandar embora de Hogwarts, entendeu!

Cale a sua boca, sua idiota, eu coloco o meu dedo onde quero e falo da maneira que quero também! Só me responda: isso é uma de suas trapaças, de suas brincadeirinhas... Ou é verdade mesmo?

No momento, notando que Ametista parecia entretida na discussão, Harry tentou abrir uma nova fresta pelo dossel. Ligeiramente, o monitor deixou que seu olho direito ficasse observando a cena, e o esquerdo dentro do dossel.

Ametista estava de pé, ao lado da cama, o dedo esquerdo apontado diretamente para Pansy, mais alta que ela, e a expressão furiosa. Parkinson tinha um sorriso quase malicioso nos lábios, saboreando aquela situação toda.

Isso mesmo que você ouviu, Dumbledore – e o sorriso cresceu, o olhar brilhante. – O Ministério da Magia pegou fogo... Incêndio criminoso... E tem dezenas de mortos... – e assim, jogou o jornal sobre o colo da garota.

Cerrando os lábios, chocada demais para palavras, assistiu Pansy sair de seu ponto de visão e deixar o dormitório sonserino. Ametista esqueceu-se do dossel e caiu sentada no colchão, o Profeta entre seus dedos. Harry puxou a cortina que cobria o leito e acomodou-se atrás dela, sem dizer nada. Somente a imagem explicava o choque.

Tomando quase a página inteira do jornal, o Ministério da Magia em chamas. No subsolo do Big Ben, Harry pôde observar que aquela era apenas a fachada. O real edifício do Ministério da Magia pegava fogo intensamente, os medi-bruxos recolhiam corpos de dentro do prédio em macas, dezenas de feridos e queimados, gente gritando e funcionários do Ministério correndo de lado para outro, desesperados em ajudar o máximo de vítimas possível. Podiam-se ver também bruxos com varinhas em punho, tentando acabar com o fogo, porém as chamas resistiam. Um incêndio certamente criminoso.

E como se ele não conseguisse surpreender-se com mais nada, Harry observou que a matéria era ainda mais chocante. Parecia que, finalmente, Cornélio Fudge resolvera confessar o erro. Ao lado da imagem, em uma coluna somente, lia-se as palavras ansiosas do repórter. O ministro da magia estava assumindo que o ataque ao Ministério fora criminoso, e que Voldemort estaria no comando. A Era do Terror despertara com força total aos inocentes. Não mais Azkaban, Hogwarts ou Hogsmeade. O centro da atividade contra o Império do Terror havia sido atacado. E a reação parecera imediata.

Incêndio no Ministério da Magia é causado por Comensais da Morte

LONDRES – O Ministério da Magia fora alvo, na noite passada, de um incêndio criminoso provocado, de acordo com o próprio Ministro da Magia, Cornélio Fudge, por Comensais da Morte a mando de Voldemort, o Lorde das Trevas. O fogo iniciou a consumir o edifício próximo das oito horas da noite, e o Ministério ainda estava repleto de funcionários ao final de seu expediente. O número de vítimas ainda não fora divulgado para a imprensa, mas calcula-se que cerca de trinta pessoas morreram. O incêndio ainda persiste em pontos da estrutura, e a Comissão de Magos do Fogo (CMF) procura eliminar esses focos.

"Tenho a certeza plena de que este atentado ao Ministério tenha sido trabalho dos Comensais da Morte. Podem acreditar!", afirmou Fudge após assistir o espetáculo de terror, esforçando-se junto daqueles que sobreviveram a presenciar tal acontecimento. Entretanto, é constatado que o ministro tem negado a volta d'Voldemort desde a última tentativa dos Comensais, o ataque à Hogsmeade em março passado. Sobre isso, Fudge procurou desculpar-se com a população. "Sei que neguei nos últimos meses sobre a volta do Lorde das Trevas, mas estou pedindo perdão, um perdão nacional agora, pois fui inocente e ingênuo. Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado sempre esteve à nossa volta, porém deseja mais, deseja o mundo novamente e começou a colocar seu plano em prática", defendeu-se o ministro, ofegante e suado, o semblante ainda pálido pelo desastre.

Ministros do mundo têm demonstrado choque e perplexidade diante do acontecido. Todos ofereceram apoio incondicional para a reconstrução do principal centro político bruxo. Em visita à Inglaterra, a oficial norte-americana e chefe do Departamento de Espionagem dos Estados Unidos, Victoria Sacks, mostrou-se tocada e indignada com tamanha audácia dos Comensais da Morte. "Os Estados Unidos estarão à disposição do ministro da Magia para compor um esquadrão de combate aos ímpetos e tentativas de Voldemort. Ele não pode achar que estaremos sentados, esperando seu próximo ataque para a dominação. Lutaremos com todas nossas forças para impedir tal atitude!".

Sobre a criação de uma força de elite para combater Voldemort, Fudge preferiu manter-se calado. "Ainda não montamos nada, o incêndio sequer foi apagado... Uma força de elite!", respondeu, mesmo que muitos aurores e espiões sobreviventes já comentassem sobre uma união para lutar contra o Lorde das Trevas. Todos pareceram achar um absurdo o silêncio e a indecisão do ministro. "Ele deveria estar pensando muito antes, todos nós sabíamos já da volta de Voldemort, mas Fudge desejou que ficássemos calados", alegou um espião que preferiu não se identificar. Diante dessas especulações, o Profeta procurou informações sobre um forte esquema de tortura e coação com funcionários do Ministério, comandado pelo próprio ministro. Mais informações sobre o caso na página 3.

O rosto de Ametista encontrou o de Harry, ambos chocados pela matéria e pelas informações. Em uma mesma matéria, Fudge havia confessado que sabia desde o início sobre a volta de Voldemort, culpara o Lorde pelo incêndio no Ministério e ainda encobriu informações sobre um esquema de coerção e tortura para com funcionários do Ministério, a fim de esconder a realidade.

Já na página 3, três matérias falavam sobre o acontecimento e ligações com Voldemort. A primeira, no canto superior esquerdo da página, trazia foto de uma das tendas montadas para a remoção de feridos e corpos. Havia pelo menos quinze corpos apenas naquela imagem. Todos cobertos com lençóis brancos. Ao lado, a reportagem mais detalhada sobre a notícia do dia – o incêndio no Ministério. A segunda era uma coluna à direita da página que ia até o final dela, uma entrevista especial com Fudge sobre o incêndio e Voldemort. E a terceira, que pegava boa parte da página inferior, uma foto pequena de Fudge e o Conselho do Ministério, denunciando o tal esquema de encobrimento de provas à tortura a funcionários que tentaram revelar a verdade sobre o retorno de Voldemort. Os nomes de funcionários de baixo e alto escalão do Ministério foram revelados, inclusive o da mãe de Arabella e Ártemis, Arabella Figg. Todos citavam coação, tortura e chantagem por parte do ministro e de ajudantes, sem conhecimento do Conselho do Ministério. A Sra. Figg comentou sobre o uso da Veritaserum, a poção da verdade, para que conseguissem informações sobre suas atividades fora do Ministério. Ainda tinham mais acusações sérias e reportagens especiais em duas outras páginas.

Olhando com certa dúvida para Ametista, Harry balbuciou:

Isso quer dizer que... Tudo o que Fudge tem tentado esconder durante estes últimos meses foi revelado? – seus olhos não podiam acreditar naquilo, naquele monte de palavras que pareciam desconexas e chocantes demais para serem entendidas.

Possivelmente, nos últimos anos, Harry – respondeu Ametista, tão receosa quanto ele. – Um incêndio a mando de Voldemort, os Comensais pondo fogo no Ministério, Fudge assumindo a sua volta e ainda essa porção de acusações contra ele e suas atividades no mínimo abusivas dentro do Ministério.

Você acha que ele pode perder o cargo? – perguntou, quase tão chocado com a hipótese quanto com tudo aquilo.

Ametista deu de ombros e não soube o quê responder. Não sabia o quê supor. Na altura atual do campeonato, nada parecia óbvio ou possível ou impossível. Qualquer coisa poderia acontecer no momento, de ficarem sem um ministro da Magia a um ataque-surpresa e violento de Voldemort que pudesse acabar com tudo.

Entretanto, enquanto Harry vestia o uniforme da Grifinória, Ametista folheou o jornal, os dedos duros de tanta surpresa, até chegar na última página, a "contracapa", e achar a lista de alguns nomes de vítimas do incêndio. Pensou em como seria duro ler por um jornal que um familiar seu poderia ter ido embora, causado por uma atitude sem sentido e irracional de Voldemort e seus cordeirinhos. Passando os olhos com pressa, após ver o horário, paralisou repentinamente. Sua respiração acelerou-se e ela arregalou os olhos de maneira imediata. Depois, puxou o braço de Harry, sua camisa, fracamente. O jovem colocava o sapato, e cruzou com o semblante de Ametista, ainda perplexo olhando para o jornal. O Profeta estava indicando o nome das possíveis vítimas até aquele momento. E ele percebeu onde o dedo da garota estava apontando, trêmulo. Parecia que o nome Percival Weasley brilhava em seus olhos.


A sala comunal da Grifinória estava silenciosa do lado de fora, o quadro da Mulher Gorda olhando para Harry e Ametista, impaciente. Ambos estavam calados, as mãos entrelaçadas, as respirações calmas... Era como se eles não estivessem lá. Ametista tornou-se para o namorado, os lábios apertados um contra o outro, e indagou:

O que iremos dizer se ele ainda não souber? – Harry continuou calado, olhando para o quadro. – Contaremos sobre o irmão dele ou não?

Harry não possuía a resposta. Encontrar Rony, seu melhor amigo, seu irmão, sabendo que Percy havia sido vítima daquele incêndio. Não sabia se o encontraria lá dentro, se o encontraria no Salão Principal, se não o encontraria. Não saber era terrível. Harry nunca tinha passado por aquilo. Logicamente, era órfão e a história de morte de seus pais não era das melhores. Mas ainda assim, perder um irmão em uma situação como aquela. Revoltante era pouco para definir, certamente.

Sem dizer mais nada, apenas puxou o braço de Ametista consigo e ditou a senha para a Mulher Gorda. A passagem abriu-se e, somente então, pôde ouvir. Ouvir um choro desesperado, as palavras desejando encontrar caminho de revolta, outras de conforto. Ouviu o grito e o choro mais uma vez, a desesperança tão explícita em pequenos soluços, em ligeiras lágrimas. A desesperança de saber que nunca teria o conforto da voz de alguém querido, de saber que o rosto não envelheceria e não sorriria com a primeira palavra de um filho. A desesperança de um pavor tão tremendo. Mas pior que essa desesperança, apenas a impotência. A impotência de saber que nada poderia ter feito, que nada poderia ter evitado, que nada poderia ter protegido. A impotência e a desesperança estavam gritando no semblante inconformado de Gina, assim que Harry adentrou na sala comunal da Casa.

A ruiva encolhia-se contra o parapeito da janela, aquele mesmo que Ametista costumava sentar-se quando refletia. Suas pernas flexionadas contra o peito, o short do pijama de algodão, de tom esverdeado, enrolando-se com as mãos e os braços que se metiam entre os membros inferiores. Harry assistiu uma garota do mesmo ano de Gina, sentada à frente dela, tentando dizer alguma coisa, porém com a boca entreaberta e incapaz de emitir som. A irmã de Rony variava, ora enfiando o rosto entre as pernas, ora olhando para o horizonte pela janela e apoiando sua cabeça no vidro gelado, ora escondendo-se atrás da cabeleira ruiva, ora chorando quase silenciosa. Contudo, o pior foi quando avistou Harry e Ametista, paralisados ao vê-la ali, tão desprotegida. Sem controlar os movimentos, ela retirou as mãos dentre as pernas e passou a esfregar elas nos próprios braços, de forma até violenta, como se desejasse sair daquele corpo, como se tivesse nojo daquela carne.

Harry aproximou-se com delicadeza, a boca seca, um rastro de raiva por Voldemort e pena por Gina ganhando força dentro de si. A garota que a acompanhava deu espaço para ele sentar-se ali, mas Harry ficou em pé, ao seu lado, assistindo o desespero, a desesperança e a impotência da jovem. E no momento, apenas conseguiu pensar naquela menininha que salvara aos doze anos, na Câmara Secreta. A menininha que se culpava por tudo, que ficara reclusa por meses, que sequer tinha coragem de olhar em seus olhos, tão envergonhada e embaraçada. E sabia, tinha a plena certeza... Gina pensava em culpa mais uma vez, pensava que Voldemort tivera a chance de pegá-la, mas preferiu tacar o irmão em um incêndio criminoso, preferiu usar de golpe sujo com alguém que nada devia a ele. Por isso ela esfregava a própria carne, desejando o pior para si mesma, conquanto o irmão fosse salvo. Mesmo que isso fosse completamente impossível. Harry sabia, pois fizera o mesmo tantas vezes seguidas.

E então, a imagem da garota renovada, daquele que lutava contra tudo e todos, que não se deixava levar pelo outros ou procurava demonstrar o mínimo de fragilidade possível, apareceu à sua frente. Aquela era a Gina que admirava, que um dia sentira um desejo especial e que sonhara por vezes enquanto não sabia se era ela ou Ametista que deveria pensar. A Gina na qual se odiava naquele instante era a mesma por quem Harry soube respeitar e amar, de uma maneira não como amava Ametista – como sua namorada – ou como amava Hermione – como sua irmã. Gina era e sempre seria a menininha que necessitara dele mesmo que ainda fosse apenas uma criança, mas que depositara todo seu amor e confiança naquele jovenzinho ingênuo. A mesma que confiara até hoje, até aquele momento. Aquela que estava erguendo-se do parapeito e passando os braços sobre ele, abraçando-o enquanto permitia que sua maior fragilidade fosse exposta. Gina apoiou a cabeça no ombro de Harry, poucos centímetros mais baixa que ele, e chorou. Deixou-se levar pelo desespero, enquanto murmurava palavras sem ligação.

"Por quê?... Eu deveria... Injusto... Como?... Eu deveria estar... Ódio... Profundo... Morto... Morri... Morri com ele... Deveria estar lá... Por quê... Não pude... Rony... AH!... Muito ódio... Matá-lo... Tom... Voldemort... Maldito... Morto... Percy... Irmão... Deveria estar... Não pode... Não aconteceu... Impossível... Nunca... Por que não eu?".

Os olhos dele encontraram os de Gina ao momento em que ela distanciou o rosto de seu ombro. A impotência estava mais forte que o desespero e a desesperança. E ele sabia. Ela era tão forte e Harry podia ver com clareza o tamanho dessa força. Gina talvez suportasse isso com maior facilidade do que Rony, não por ele ser mais fraco que ela, de modo algum, mas porque Gina conhecia Voldemort. E conhecer Voldemort, estar de frente a ele, ouvir suas palavras mentirosas e seu método de persuasão sujo, não são todos que suportam. Gina suportou, resistiu e venceu ao lado dele e sem ele, nos seus sonhos, onde Voldemort aparecia para importuná-la e tirar sua paz. Era a forte e bela jovem de quase dezesseis anos que fora possuída pelo Lorde e sobrevivera. De alguma maneira, Gina era a força em pessoa.

Passando o dedo pela bochecha molhada dela, Harry sentiu um arrepio na espinha. E um ímpeto idiota de fazer algo para livrá-la daquele sofrimento o encheu de desespero. Beijá-la. Tocá-la. Tomá-la em seus braços e não permitir que o mal a alcançasse. "Minha nossa, no quê você está pensando, Harry?", pensou, enquanto admirava a expressão sofrida da jovem. "Essa é a Gina! E a sua namorada está ali atrás, olhando tudo!". De alguma maneira, Harry sabia que Ametista observava-os, e o pior de tudo era o olhar que dirigia à irmã de Rony. O mesmo olhar que dirigia a Ametista. Pigarreando baixinho, tentando despertar-se daquele transe estranhíssimo, Harry suspirou e sorriu levemente para a garota. Depois, tentou mudar o olhar e pensar em outras coisas, menos os lábios dela.

Gina, por sua vez, apenas exprimia sua tamanha raiva e revolta, a impotência tão visível e desesperada. Perder o irmão, daquela maneira idiota, daquele modo maldito e sujo e trapaceiro de Voldemort e os Comensais. Perder Percy, sempre tão consciente e correto – até demais em certas ocasiões –, queimado, carbonizado em um incêndio provocado pelos seguidores do Lorde.

Tudo vai ficar bem, Gina – disse Harry, o tom baixo e particular. – E Voldemort irá se arrepender disso.

Sacudindo a cabeça de modo a concordar com Harry, Gina soltou um novo soluço e disse:

Então cuide de Rony, Harry. Cuide dele.


Antes que Harry soltasse Gina do abraço, Ametista entrelaçava os dedos de ambas as mãos, expressando nervosismo. A visão deles juntos a incomodou de uma maneira tão profunda, muito maior que o ciúme por Cho. Podia vê-los logo à frente, os corpos unidos e os soluços da jovem ecoando por toda a extensão da sala comunal, até então silenciosa. Podia ver os dedos de Harry passeando pela coluna da ruiva, vê-lo distanciar-se dela e passar um de seus dedos pela bochecha encharcada pelas lágrimas. E ela travou no momento em que observou, mesmo de longe, a mudança facial dele. Seus olhos.

"Ele está olhando a Gina como me olha... Não! Isso é loucura da sua cabeça!", engoliu em seco, analisando a cena, tentando desviar os olhos escuros para longe, o coração pesado e doído. "A menina acabou de perder o irmão num incêndio, pare de ver coisa onde não existe!". Mordendo o lábio inferior, Ametista pegou fôlego e aproximou-se dos dois. Nunca seus passos pareceram tão lentos e difíceis.

Então cuide de Rony, Harry. Cuide dele. – a voz de Gina estava fraca, sem emoção.

Seu olhar dirigiu-se do rosto impassível de Harry para o de Ametista, pálido. A jovem passou as mãos pelas costas de Gina, como forma de conforto, e sorriu levemente, tentando disfarçar ao máximo o incômodo e despeito amoroso. A ruivinha sentiu as fraquezas mais uma vez venceram-na, e deitou a cabeça no ombro de Ametista, a sonserina passando os braços pelas costas dela e a abraçando com carinho, ainda que elas não fossem muito próximas ou íntimas.

De alguma forma, Ametista sempre viu os Weasley com dois passos atrás, sabia que nem Gina ou Rony simpatizavam muito com ela. Quando Harry retirou suas mãos de Gina, Ametista subiu o rosto até encontrar o olhar dele, temeroso. Por curtos momentos, ali ficaram, misturados ao choro desconsolado de Gina, analisando rapidamente aquele turbilhão de sofrimento e confusão. Harry manteve o olhar, ainda que tentasse disfarçar o temor de Ametista ter percebido, até porque ele mesmo não entendia a repentina onda de desejo pela ruiva.

Ametista respirou, uniu o corpo mais com Gina e murmurou a Harry:

Vá ver o Weasley, eu fico aqui com ela. – e seus olhos estavam frios, assim como a pele tão pálida.

Harry não hesitou, sequer por um instante, desejando ficar longe alguns minutos de Ametista e de seu olhar reprovador e magoado. Assim que colocou os pés na escadaria para o dormitório masculino, sentiu um ar pesado. Rony deveria estar transtornado. E Hermione, onde ela estaria? Esperava muito que estivesse com ele, tentando acalmá-lo. E cada vez mais perto do quarto dos jovens do sexto ano, Harry soube que Rony estava bem acordado.

A porta do dormitório estava emperrada. Tentando forçar, ouviu Rony gritar lá de dentro:

SAIA DAQUI, HARRY!

Suspirando, temendo o pior – uma reação de Rony causada pela sua relação com Voldemort – Harry encostou a cabeça na porta e disse:

Por favor, Rony, deixe-me entrar, eu só quero te ajudar!

VOCÊ QUER AJUDAR? – Harry desencostou a cabeça da porta e ouviu o tranco da passagem abrir-se, ao mesmo tempo em que o som de um choro apareceu. – ENTÃO VOCÊ VAI AJUDAR! – repentinamente, o semblante de Rony substituiu a porta de madeira escura.

Harry não teve muito tempo para reparar em Rony. Imediatamente, um punho atingiu seu nariz e, de tamanha a força, ele caiu para trás, contra a parede, e bateu as costas, caindo no piso. Levou a mão esquerda diretamente à área atingida e gemeu de dor, sabendo que seu nariz deveria estar quebrado. Logo após retirou, a mão do rosto e observou o sangue em sua palma. Não podia acreditar que Rony o socara! Erguendo a cabeça com dificuldade, assistiu o rosto do melhor amigo vermelho, inundado de lágrimas, os dentes cerrados e o lábio inferior sangrando. Os olhos exprimiam ódio, contrariando a impotência de Gina. Harry ainda tentou dizer alguma coisa, mas nada veio à mente, especialmente ao detalhar a expressão de Rony.

Seus sentidos ficaram ligeiramente perdidos. Harry estava zonzo e sem entender o soco de Rony, mas pôde perceber uma movimentação estranha. Logo, ouviu a voz de Hermione. A jovem, que estava dentro do quarto, saiu para ver o que acontecera, e colocou as mãos sobre a boca, os olhos arregalados em surpresa.

RONY! Você bateu no Harry! Ficou maluco! – indagou indignada, agachando-se ao lado do moreno, observando o estado de seu rosto. – O nariz dele está quebrado! – os olhos castanhos dela estavam inchados e Harry presumiu que ela estivera chorando igualmente. – Oh Harry, fique calmo que logo resolveremos isso... – sussurrou, a voz preocupada.

O monitor notou que Hermione levantou-se do chão e parou em frente do raivoso Rony. Harry não pôde ver com clareza o quê acontecia, mas sabia que estavam discutindo.

Rony, por que fez isso! Garanto que Harry está tão chocado quanto eu, quanto todos! – defendeu Hermione.

Por que eu fiz! Você quer mesmo saber! – indagou Rony, a voz rouca e o tom visivelmente transtornado. – Por que SE ELE NÃO TIVESSE DESPERDIÇADO TODAS AS CHANCES DE MATAR O FILHO DA MÃE DO VOLDEMORT MEU IRMÃO NÃO ESTARIA MORTO AGORA!

A cabeça de Harry começou a rodar com maior intensidade enquanto Rony gritava. Sua pressão possivelmente estaria caindo. Hermione ficou perplexa com a resposta de Rony e, subitamente, empurrou o namorado para trás, reclamando:

Como você pode ser tão IMBECIL! – e o empurrou mais uma vez. – O único culpado pela morte de Percy é VOLDEMORT! NINGUÉM MAIS! – Rony continuou revoltado, as veias em sua testa vermelha pulsando contra o suor. Hermione olhava para o namorado, carregada de aversão. – Harry só quer te ajudar, ele é seu MELHOR AMIGO, SEU IRMÃO! Todos nós estamos sofrendo por causa desse absurdo, dessa tragédia, mas a última coisa que necessitamos, que VOCÊ E GINA necessitam, é tornar-nos um contra os outros!

Enquanto isso, passos eram ouvidos, subindo a escadaria, e Harry fechou os olhos, cansado de tanto rodar, seu nariz ainda ensangüentado. Hermione e Rony discutiam sobre alguma coisa, deveria ser o tal do soco – e a coisa parecia estar ficando feia. Logo, o tom ríspido de Ametista ressoou em seus ouvidos.

Que diabos aconteceu nesse lugar! – perguntou, aumentando o tom de voz, enquanto o tom de Gina substituía a confusão dela.

Rony! Você bateu no Harry! – soltou uma espécie de grunhido. – Olhe o nariz dele! Eu não posso acreditar em você! – exclamou ela, o som nasalado da voz causada pelo choro anterior.

Uma brisa atravessou o corpo de Harry assim que alguém interceptou a correnteza de ar, agachando-se ao seu lado. Os fios suados em sua testa soltaram-se, apesar do suor ainda presente ali. Ametista abaixou-se rapidamente, a respiração forte e pesada. Por um instante, soube que viriam gritos e repúdio dela para com Rony. Porém, ela soltou a respiração perto de seu ouvido e tornou-se para Rony.

Weasley, acho melhor você se acalmar, antes de tudo – Harry ficou surpreendido, mesmo que visse somente um vulto ao seu lado e outros ao seu redor, de tão zonzo... – Depois de fazer isso, pense que Harry, apesar de tudo, somente veio aqui para te dar algum apoio, já que é a única coisa que todos nós possamos fazer por você e pela sua irmã – Harry pensou que ouvira Rony murmurar alguma coisa, mas Hermione parecia tê-lo calado. – Eu já estive em seu lugar por situações parecidas... A raiva vem, depois o ódio, mas pode ter certeza que a calmaria vem também e você passa a entender e a aceitar.

Após um curto silêncio, Harry ouviu a voz de Rony mais uma vez, embarcada em raiva e sofrimento.

Pode ser, mas agora eu não quero saber de entender ou aceitar – deu um soluço e depois tossiu. – Só quero saber de vingança com quem matou meu irmão, só isso! E o resto da merda do mundo que vá para o inferno!

Senhor Weasley, eu o aconselharia a manter os modos com seus amigos, ainda que a situação seja extrema.

Todos se viraram na direção de Gina, a última na escadaria. Dumbledore e McGonagall estavam làambos abatidos e visivelmente exaustos. Hermione, Ametista, Harry e Gina ficaram paralisados, àquela hora da manhã presentes no salão comunal o diretor de Hogwarts e a diretora da Grifinória. Todos ficaram silenciosos, a não ser por Rony, que fechou ainda mais o rosto, tornando-se para Hermione com os lábios cerrados, os olhos revoltosos e inundados de lágrimas, a boca trêmula ainda assim, pegando em sua mão direita e apertando com força. Bufava vez ou outra.

Ronald e Virgínia, vocês terão uma licença de cinco dias para acompanharem seus pais e seus irmãos – disse McGonagall. – Infelizmente, não posso dar-lhes mais porque estamos no final do ano letivo. E também terei de impedir que o Sr. Potter e a Srta. Granger os acompanhem.

Apertando com ainda maior força a mão da namorada, Rony deixou que outros suspiros escapassem de sua garganta, a respiração tão trêmula e inconstante. Hermione engoliu em seco e soltou a respiração, da mesma maneira tensa como a de Rony.

Mas... Professor... E para o enterro? – a palavra saiu com dificuldade de sua garganta, olhando de Rony para Gina. – Quer dizer... Eu quero estar com ele... Com os dois...

Dumbledore pigarreou, enquanto McGonagall tocou o ombro de Gina e, surpreendentemente, acolheu a garota do quinto ano em seus braços, quase tímida. Aquela mulher tão forte e quase fria, a aparência mandona, abraçando Gina e passando a mão sutilmente pelos cabelos ruivos da jovem.

O enterro será adiado para daqui duas semanas, Srta. Granger, por razões especiais do Ministério – explicou McGonagall, parecendo tão sensível quanto todos. – Sinto muito, mas por enquanto poderão apenas dar apoio emocional de longe.


O café da manhã tinha sido doloroso para Harry, na Ala Hospitalar, enquanto Madame Pomfrey tentava cuidar de seu nariz. Percy estava morto. Era uma sensação tão estranha, novamente ter alguém conhecido morto de forma tão banal por Voldemort. Não negaria caso perguntassem se carregava algum pingo de culpa. Saber que o homem pudera ter sido eliminado por suas mãos e escapara. Harry sentia-se culpado, de alguma maneira, mas pior era imaginar que isso passara pela cabeça de Rony. Pensar que ele poderia ter feito, ter cometido qualquer impedimento. Olhando pela janela do hospital, sacudiu a cabeça, percebendo que os problemas insistiam em persegui-lo. E aquela história toda com Gina?

Soube que os irmãos Weasley haviam deixado Hogwarts há meia hora. Estariam fora até terça ou quarta-feira. O final de semana chegaria logo e poderia descansar. Sabia também que Ametista possuía um trabalho para fazer com Malfoy, talvez tivesse tempo para ficar sozinho e analisar a correria dos acontecimentos. Desejava que alguém pudesse dizer o que fazer, dizer como lidar e reagir.

Fechando os olhos, ouviu a porta da Ala Hospitalar ser aberta e passos leves contra o piso chegarem até bem perto de seu leito.

Oh, que estrago... - e uma risada suave seguiu a voz.

Harry deixou que a pessoa terminasse de rir e abriu as pálpebras, olhando diretamente a Arabella. A madrinha do jovem estava com o rosto bem redondo e rosado, como se tivesse corrido muito. Apesar da distância, a barriga de seis meses encostava-se ao limite lateral do leito. Sorrindo com os lábios cerrados, puxou uma cadeira e acomodou-se, sua vestimenta negra tentando enganar aos olhos mal-acostumados ao barrigão da grávida.

Achei estranho não encontrá-lo na mesa do café, achei que estivesse aqui – quando Harry pensou em perguntar o porquê da desconfiança do lugar para Arabella, a professora emendou. – Vamos dizer que suas visitas têm se tornado regulares com Madame Pomfrey, não é mesmo?

O monitor da Grifinória olhou para longe e concentrou o olhar na barriga da madrinha.

E como 'tá o bebê? – a voz nasalada pelos curativos envolta do nariz.

Bem, bem... Devo fazer mais um exame com Madame Pomfrey no final desse mês – disse ela, passando as mãos pela pele coberta por vestimenta. – Só para cumprir as regras, já que teu padrinho não me deixa fazer nada! – e riu novamente. – Nem mesmo conversar com Dumbledore ele permite que eu faça, acredita! Alvo passou em nosso dormitório depois do café e pediu para conversar conosco, mas Sirius dispensou-me do quarto! – Harry tentou sorrir. – Quer afastar-me o máximo capaz de problemas.

Um rápido silêncio irrompeu entre afilhado e madrinha até que ela olhasse diretamente nos olhos de Harry e perguntasse:

E como está Rony...?

Não muito contente comigo, como você pode ver. – respondeu ele, apontando para o centro do rosto e ao curativo, erguendo as sobrancelhas sutilmente.

Os olhos de Arabella arregalaram-se e sua feição transformou-se, séria e compenetrada.

Ronald fez isso! Mas... Por quê? Vocês dois são tão amigos, o que houve...?

Ele acha que tenho parte de culpa na morte do Percy – disse Harry, sem mostrar muita emoção ou incômodo. – Ingenuidade não acha?

Mordendo os lábios calmamente, Arabella apertou os olhos ligeiramente e ergueu uma das sobrancelhas em seguida.

Você acredita mesmo nisso, Harry? – o jovem de esguelha para a mulher e fugiu o olhar. – Acredita que tenha sido ingenuidade de Rony pensar que você tem parte de culpa? Afinal... Percy morreu em um incêndio criminoso comandado por Voldemort, e não por você.

Deixando os lábios entreabertos, Harry não tinha resposta para ela. Sabia que Arabella era centenas de vezes mais inteligente que ele, centenas de vezes mais esperta, e também centenas de vezes mais experiente.

Tal-talvez... Talvez essa idéia tenha passado pela minha cabeça... – sussurrou ele, o orgulho ferido.

Bom, eu espero que você acredite que não tem absolutamente nada a ver com as atitudes no mínimo psicóticas de Voldemort – e piscou para o afilhado. Fixando bem seu olhar no dele, Arabella retomou. – Hum, então essa sua expressão de intensa preocupação é somente pelo Rony?

O olhar completamente preso no de Arabella, Harry engoliu em seco e procurou não pensar em circunstância alguma em Gina ou Ametista. Porém, ao mover-se levemente na cama, quase que imperceptível, sentiu uma ligeira dor nas costas, e recordou que dividira a pequena cama de solteiro com Ametista naquela noite. Os pequenos olhos de Arabella se arregalaram.

Sabe, eu imaginava que fazia essas viagens até o dormitório da Sonserina, Harry, mas é perigoso, especialmente se você é pego... – murmurou bem pertinho do afilhado. – Minha irmã recebia visitas do noivo dela na Torre da Corvinal e quase perdeu o distintivo de Monitora-Chefe quando foi descoberta essa visitinha noturna – quando Harry pareceu perguntar algo sobre o tal 'noivo', Arabella salientou. – Disso você não vai se interessar, acredite. – e deu um sorriso.

A madrinha ficou ainda analisando Harry, os olhos bem fixos nele, lendo tudo que passava pela sua cabeça.

E é natural sentir-se atraído por outro ser humano enquanto se ama alguém – disse ela, movendo-se na cadeira pelo peso incômodo da barriga. – Não se sinta um canalha por ter simplesmente desejado beijar Virgínia. O problema é se este desejo tornar-se constante e você querer apenas isso – Harry concordou com a cabeça, ouvindo a experiência, ainda que se sentisse muito mal. – Acho que depois de tudo que Ametista e você enfrentaram, nada mais certo que ser completamente sincero e justo com ela, não acha?

Apertando a mão do afilhado com delicadeza, Arabella finalizou:

Apenas desejo que você seja feliz, querido. Com quem quer que seja, da maneira com que você deseje. Só não se magoe mais. Você já tem problemas bastantes na vida, decepções grandes. Cuidado para você mesmo não se magoar ou magoar a outros.

Arabella ergueu-se e deixou um beijo leve no topo da cabeça do jovem. Enquanto a assistia deixar a Ala Hospitalar, Harry soltou um suspiro. Imaginou como deveria estar sendo difícil para Rony e Gina. E ele se preocupando com quem deseja beijar. "Eu me odeio", pensou ele, mal humorado.


Dirigindo-se à sua sala, Arabella diminuiu a velocidade dos passos assim que sua visão captou a imagem de Hermione Granger, encostada do lado de fora de seu escritório, os braços cruzados, mirando provavelmente o nada. Imaginou o que passaria pela sua cabeça, enquanto seu namorado estava longe, chorando e sofrendo uma das piores dores já suportadas pelo ser humano.

Hermione? – chamou a professora, a cabeça da jovem tornando-se rapidamente para ela. Seus olhos estavam encharcados. – Oh, Merlin. Você está bem? – perguntou, aproximando-se dela.

Fungando o nariz e passando os dedos pelos olhos, Hermione engoliu e apenas indagou numa voz levemente fraca:

Será que poderíamos conversar, professora?

Sem pensar duas vezes, Arabella concordou e abriu a porta, dando passagem à aluna primeiramente. O escritório ainda estava fechado, escuro e frio. Ainda que naquela manhã estivesse um tempo ameno, Arabella abriu as janelas para deixar que o cheiro de lugar fechado se dissipasse. Hermione sentou numa das cadeiras à frente da mesa da Arabella e sussurrou alguma coisa. A mestra tornou-se a ela, acomodou-se em sua poltrona, e sorriu.

Diga-me o que está acontecendo, Hermione. Você parece agoniada...

Soltando a respiração rapidamente, a monitora da Grifinória tomou alguns segundo para acalmar sua fala, desejando que aquilo saísse da maneira correta. Não gostaria de criar um novo mal-estar entre qualquer pessoa, já não bastasse Rony perder Percy, socar Harry e ela sequer poder estar com ele. Ficaria provavelmente uma semana inteira sem vê-lo, sem poder confortá-lo.

Não sei se já está sabendo... Mas... A professora Figg quer pedir minha expulsão de Hogwarts.

O canto direito da boca de Arabella subiu, num meio sorriso, como que quase de descrença. Era impossível que Hermione estivesse falando sério. Ártemis nunca teria poder suficiente para mandar embora de Hogwarts qualquer aluno, quanto mais a melhor da escola.

Do que você está falando? – indagou quase que rindo. – Ártemis quer sua expulsão? Como?

Pegando ar, Hermione segurou os braços da cadeira com força e iniciou:

Você deve saber sobre os treinamentos dos Aprendizes, certo? – indagou Hermione, enquanto Arabella afirmava com a cabeça. – Bem, na última aula, ontem por acaso, nós faríamos uma ronda pelas Torres da escola. Harry e eu iríamos para a Lufa-Lufa, e quando ela nos mandou para làeu... Eu...

Por um momento, Arabella achou que Hermione iria chorar novamente, mas então percebeu que a garota não encontrava os termos certos para explicar o problema. Esperou até que ela pudesse explanar com clareza.

Bom, acho que é melhor primeiro me falar o quê aconteceu para Ártemis ter esse súbito ataque, não acha? – apontou Arabella, tentando ajudar a jovem, nervosa demais.

Oh, desculpe professora, é que eu estou um pouco confusa demais hoje, muita informação e muita coisa para apenas um dia, sabe? – e deu um sorrisinho envergonhado para a mulher, incapaz de tirar a imagem de desespero de Rony da cabeça. – Bom, eu já tive umas 'sensações' como essa antes, mas nunca dei importância, sempre achei que eram loucuras minhas, que minha mente era imaginativa demais, ainda que parecesse real... – Arabella ergueu as mãos e depois as abaixou, pedindo para que a monitora fosse um pouco mais calma e mais clara.

Vá com calma, Hermione. Que tipo de sensações são essas? – questionou.

Geralmente começa quando eu toco alguém. Não todas as pessoas, logicamente, mas certas pessoas que a minha pele entra em contato, eu... Primeiro eu fico parecendo grudada nela, não consigo de jeito maneira tirar minha mão da região que toquei – Arabella franziu a testa. – Logo depois que minha mão está bem presa à pessoa, eu sinto um choque. É realmente como se tivesse tomado uma descarga elétrica bem forte, quase que me nocauteia, entende?

Arabella levantou a mão direita, levando o corpo para frente na poltrona.

Quer dizer que você fica primeiramente fixa à pessoa, depois recebe uma descarga mágica de poder – Hermione concordou. – Por acaso, você inicia como se fosse uma flutuação? Como se estivesse deixando seu corpo e indo para outro lugar, para uma outra dimensão ou outro mundo!

Hermione notou que a mestra parecia realmente aflita. Questionou de forma bastante apreensiva, e a aluna não soube definir o porquê. Mas, vê-la perguntar se havia uma flutuação, sendo que era exatamente o que ocorria... Hermione ficou perplexa.

Sim, é isso mesmo que acontece! – respondeu, soltando os dedos dos braços da cadeira, sentindo mais confortável, mas não mais calma. – Eu sempre tenho essa impressão tão real, tão viva, de que estou flutuando, levitando! Parece que estou sendo carregada para outro lugar! E quando eu me dou conta...

Agora, era a respiração de Arabella que estava inconstante, preocupadíssima com o tom daquela conversa. Hermione olhou para o chão e recordou do encontro de Ártemis e Thomas Black, depois de Snape e Hariel Dumbledore. Invadir a privacidade, saber que tinha algo de tão errado em ver aquelas cenas. Como era possível digerir a série de informações? E como se não bastasse, ainda havia toda a confusão de serem aquelas visões do passado ou outra coisa?

Não sei explicar o que são essas sensações que eu tenho, essas... Essas imagens de algumas cenas particulares das pessoas...

Arabella ergueu-se da poltrona imediatamente, sem pensar duas vezes e aproximou-se da cadeira de Hermione. Desejou flexionar os joelhos e olhar direta e profundamente para a garota, a ansiedade corroendo seu interior, imaginando que depois de tanta procura, de tanto sofrimento, esteve ali, apenas ali, sentada à sua frente. Tentando entender.

Hermione – disse ela em tom de extrema gravidade, enquanto a jovem encostava-se à cadeira, quase medrosa. – Você vê cenas do passado? Quero dizer... Como se fosse visões?

Temerosa com o que sua resposta poderia significar, Hermione ajeitou-se na cadeira e suspirou.

Talvez seja melhor que eu explique uma dessas cenas... – disse ela, enquanto pegava fôlego. – No caso da sua irmã, eu me encontrei em um quarto qualquer, e ela estava conversando com o irmão do Sirius – os olhos de Arabella rapidamente fixaram-se nos de Hermione, e enquanto a jovem explicava, era como se ela pudesse saber exatamente do que Hermione falava. – Eles estavam brigando porque ela não queria que o irmão do Sirius se tornasse um auror ou coisa assim, ela não queria que ele se metesse no meio da guerra. E o Thomas Black dizia que mesma ela não iria impedi-lo de realizar seu grande sonho, desejava lutar contra o império de Voldemort, destruir o maldito, e a professora Figg não queria de jeito algum. – Hermione notou que as mãos de Arabella pareciam trêmulas.

Notando que a mestra ficara pálida, suas pupilas se dilatando e a boca cerrada com certa força, Hermione ergueu-se da cadeira e andou até a estante de livros da sala, parando ali. Preferiu não encarar a bruxa, mesmo sem ter idéia do porquê.

– Era tão real, vê-los ali, desesperados, era quase como se eu pudesse sentir o que eles sentiam, saber o sofrimento... A professora deve ter percebido isso, eu imagino. Por isso ela deve querer que eu seja expulsa, porque invadi suas memórias, sua privacidade...

Hermione não soube mais o que dizer, apenas assistiu Arabella colocar a mão na própria barriga e andar de um lado ao outro, vez olhando para fora, vez olhando para ela, paralisada naquela sala, aflita por ajuda. Não conseguia entender o quê de tão importante tinha em suas palavras, de que importava se possuía um poder estranhíssimo e definitivamente indesejável? Talvez tenha sido a reação de alguma comida, ou então uma poção que tenha tomado erroneamente. Essas coisas eram bem comuns no mundo mágico, não eram?

Até que Arabella, repentinamente, deixou a sala e Hermione. A aluna ficou perplexa, olhando para o espaço vazio do escritório, completamente sem palavras. Onde poderia ter ido a professora? E por que a deixara làsozinha e mais confusa que nunca? Mordendo o lábio, pensando em como estaria Rony e Gina, desejando que aquele dia não passasse de um terrível pesadelo, Hermione olhou à sua volta. Uma sensação estranha a tomou, como se fosse mais uma vez aquela menininha de onze anos, mandona e superior, que tinha um medo da desaprovação alheia que chegava a assustar. Não que essa sua característica tenha sumido, já que ela continuava perseguindo a aceitação geral e unânime. Porém, ainda que não possuísse, e ainda que provasse pelos seis anos presentes em Hogwarts de que era a melhor aluna, mesmo que filha de pais trouxas, mesmo que uma sangue-ruim, Hermione sentia-se como a menininha medrosa. Será que o teor de sua confissão à Arabella era sério demais? Era errada? Era proibida?

Srta. Granger? Srta. Granger?

A voz de alguém a chamando tomou sua atenção de seus pensamentos. Hermione cruzou a visão com os olhos azuis de Dumbledore. O temor diante do diretor foi maior ainda, especialmente quando o homem tocou seu ombro esquerdo e disse calmamente:

Precisamos ter uma conversa séria, Hermione.


No meio da tarde, os alunos da Grifinória e da Sonserina estavam trancados dentro da sala de Defesa Contra a Arte das Trevas, já que a aula da semana não pudera ser aplicada pela professora Figg. Assim, em sua reposição, visivelmente, os estudantes sequer moviam-se nas cadeiras. Os sonserinos estavam eufóricos, ou ao menos a maioria, mas ainda assim procuravam conter o ímpeto de gritar a todos que seus pais foram bem sucedidos na tarefa do Lorde das Trevas. Já os da Grifinória sentiam-se mal pela morte do irmão de Rony. Os garotos não brincavam, sem a presença de Rony, como em respeito. Harry girava a pena entre os dedos, o olhar longe e o curativo no nariz. As garotas sequer cochichavam como de costume, especialmente para Parvati e Lilá.

Harry não tinha a mínima idéia do que a professora dizia lá na frente. Seus pensamentos viajavam de Rony para Gina, de Gina para Ametista. A namorada estava sentada bem à frente, junto de seu parceiro de aula, Draco Malfoy. Distante, conseguiu reparar que, vez ou outra, o sonserino abaixava sua cabeça até a altura do ouvido de Ametista e sussurrava alguma coisa. Ao mesmo tempo, as mãos da jovem contorciam-se sobre a mesa. Em uma das ocorrências, Ametista quebrou a própria pena. Harry começou a achar estranho demais, ela não costumava agir daquela maneira junto de Malfoy. E para finalizar a total estranheza daquela tarde, Hermione também não estava na aula... E Hermione nunca perdia uma.

Notando a mestra acima do tablado, Harry sabia que Ártemis estava de olho na disputa de nervosismo entre Malfoy e Ametista. Não entendia o porquê da sonserina não ter desfilado um belo soco no rosto do jovem, ou então respondido algo. Não, ficava simplesmente silenciosa.

Contudo, como um furação, veio a conversa que tivera com ela na noite anterior. "Meu avô disse que a próxima que eu aprontar, estarei fora de Hogwarts", ela dissera em tom grave, escondendo os olhos, ele recordava. "... se eu saísse mais uma vez da linha, não haveria solução e ele teria de me mandar de volta para Godric's Hollow, ou mais longe...". Harry sabia que ela estava, então, lutando para não enfiar um direto no queixo do companheiro de casa.

E por dez minutos seguintes, a mesma cena acontecia. Harry começara a ficar preocupado. Sabia que ela não agüentaria por muito mais tempo. E o pior era imaginar que a mestra estava vendo tudo, estava reparando. Estava notando ele mesmo, assistindo a cena com total atenção. Era como se Ártemis tivesse um radar ligado por vinte e quatro horas sem interrupções. A mestra pegava exatamente tudo que ocorria dentro de suas áreas de comando. Porém, Harry não conseguia tirar os olhos, segurando a respiração, mesmo que aquele momento pudesse ser o último que Ametista suportasse Malfoy e explodisse. Conseqüentemente, levar a relação deles a pique, já que Ártemis não perderia por nada no mundo a chance de destruir qualquer vida.

E logo aconteceu...

CALE SUA BOCA SUJA, SEU VERME NOJENTO! VÁ SE DANAR E FIQUE LONGE DE MIM, SEU FILHO DA MÃE!

Os gritos de Ametista ecoaram possivelmente para fora da sala também. Todos os alunos, tão dispersos e perdidos em seus próprios pensamentos, paralisaram ao ouvir os berros da sonserina para com Draco Malfoy. Harry ergueu-se da cadeira no mesmo minuto, desejando correr até ela e quebrar o focinho do idiota, mas Ártemis logo se virou para a sala.

Nem pense em sair de onde estàSr. Potter! – disse em tom decisivo e mandão a professora. – Melhor ficar quieto se não o problema cairá no senhor também! – Ártemis tornou-se para Ametista e Malfoy, ambos encarando-se repletos de ódio, ainda que um sorriso malicioso ficasse permanentemente nos lábios de Draco. – E vocês dois! Estão achando que a minha aula é um circo! Acham que podem ficar destilando xingamentos e provocações! Estou cansada de toda aula colocá-la de detenção, Srta. Dumbledore! E já cheguei ao ponto de explosão pelas suas piadinhas mal colocadas, Sr. Malfoy!

A sala inteira estava em silêncio, assistindo agora aos berros de Ártemis Figg. Harry paralisara por completo, especialmente ao assistir o semblante de Ametista ficar cada vez mais angustiado. "Meu Deus, a Ártemis não pode dar uma nova detenção a ela!", pensou consigo desesperado.

A mestra tornou-se para o restante da sala.

Façam um resumo de 40 centímetros das páginas 90 a 127 para o final da aula! – todos pensaram em protestar, mas a professora ergueu as mãos. – Façam o resumo ou todos irão para uma deliciosa detenção comigo, que acham?

Sonserinos e grifinórios procuraram suas penas e livros, e iniciaram o resumo, apavorados por cumprir a meta desejada pela mestra. Harry ainda ficou observando as atitudes da professora para com os dois sonserinos. Ártemis apontou com a cabeça a porta e ambos dirigiram-se para fora, seguidos por ela.

Do lado de fora da sala, Ártemis cruzou os braços, os sonserinos encarando-a.

Vocês dois passaram dos limites durante todo este ano – iniciou Ártemis, seca. – Pertencem à mesma casa, à mesma irmandade, e ficam se desafiando a primeira oportunidade do dia. Não falo para sustentarem uma amizade ou que saiam por aí de abraços e sorrisos, apenas peço que deixem essas picuinhas de lado e assistam à minha aula! E não somente aqui, já basta na aula anterior à de ontem que vocês dois resolveram dar um show de duelo e acabou com ambos na Ala Hospitalar!

Ártemis olhou diretamente para Ametista e disse:

Sei de sua situação crítica aqui, Srta. Dumbledore – e no momento, era como se a professora estivesse se divertindo. – Toda a postura, toda a atitude e o desafiar de regras tão característico do seu namoradinho... – o tom da palavra fora no mínimo ofensivo. – A senhorita está na corda bamba há semanas, e resolveu se pegar a tapas com a Srta. Parkinson, também da sua casa, olhe a coincidência! – e soltou uma risadinha em seguida. – Bom, imagino que saiba que com cada ação, provoca-se uma reação, e espero que a senhorita esteja pronta para elas. Assim que minhas palavras chegarem ao ouvido do diretor, a senhorita está correndo para fora dessa escola, não é mesmo...?

Ametista cerrou os olhos e pareceu desacreditada.

A senhora está se deliciando com isso! – ela disse realmente chocada. – Você viu o Malfoy me provocando, só esperando até a hora que eu explodisse! Como...! Como...!

Como posso ser tão calculista, Srta. Dumbledore? – e Ártemis riu claramente, seus olhos brilhando fortemente. – Antes que a senhorita queira pular em meu pescoço e pronunciar algo como verme nojenta a mim, como fez com o senhor Malfoy, aliás, com toda razão – e Draco olhou furioso para a mestra. – Proponho um acordo para salvar sua pele.

Tanto Ametista como Draco arregalaram os olhos.

Um acordo! A senhora só pode estar brincando! – surpreendeu-se Draco.

Preciso dos melhores alunos da Sonserina para isso, afinal trabalhinhos envolvendo Severo Snape são sempre feitos pelos sonserinos, não é mesmo! – e ela piscou para Malfoy, como um predador pronto para enforcar a presa. – Quero que você dois peguem algumas poções para mim dentro do estoque secreto do professor.

A senhora é uma auror, deveria ter um vasto conhecimento de poções, não precisa invadir o armário do Snape... – retrucou Malfoy, aborrecido e surpreso ainda.

E pior, mandar alunos fazer o serviço sujo para você – completou Ametista, tão perplexa quanto Draco. – Sempre desconfiei que fosse suspeita, mas chantagear alunos... Isso é realmente surpreendente, professora, parabéns!

Ártemis olhou divertida para Ametista, como se quisesse fazer alguma pergunta.

Chantagem! Ninguém falou em chantagem aqui, Srta. Dumbledore.

A senhora acha que sou idiota! Sabe da minha situação, então deixou que Malfoy chegasse ao mais irritante de suas provocações até que eu explodisse. Assim, você me tiraria da sala e então faria uma proposta, em que eu seria obrigada a aceitar em troca do silêncio da senhora.

Humpt! – e Ártemis soltou uma risada leve, os lábios contorcidos num belo sorriso. – E não é que a garota é esperta que nem a mãe! Bom que tenha entendido o recado, agradeço muito – e indicou o corredor. – Agora quero os dois fora daqui, e que me encontrem na terça-feira na minha sala, e então passarei o que quero dos dois...

Mas por que eu tenho que fazer isso junto! Quem 'tá enrascada aqui é a Dumbledore, não eu! – protestou Draco, cruzando os braços.

Ártemis afundou o rosto até encarar a face de Draco a poucos centímetros. Era possível ele sentir a respiração quente da professora, de tão perto e, repentinamente, ameaçadora que ela pareceu ser.

Se não fizer o que eu mandar, Sr. Malfoy, garanto que arranjo alguma coisa para te colocar numa posição idêntica à da senhorita Dumbledore. – e o final foi quase um sussurro, o olhar violeta completamente ameaçador.

Enquanto Ártemis retornava à sala de aula, Malfoy saiu andando, profundamente irritado. Ametista ainda queria tirar satisfações com o idiota, mas ficou muito mais preocupada com a proposta da professora. O que Ártemis poderia querer com poções de Snape? E pior, por que ela e Draco teriam de ir pegá-las? A coisa não estava cheirando bem.


Deitada naquela cama, quase paralisada, definitivamente não era como Hermione desejava passar o final de semana. Ainda não sabia ao certo de quem era aquele dormitório, apenas sabia que tinha de ficar quietinha, olhando o teto, encantado para observar todas as constelações do universo. Enquanto seus olhos percorriam sem pressa os detalhes e as características de cada uma delas, Hermione foi sentindo-se sonolenta. Passara toda a sexta-feira deitada naquele leito macio, parte por confusão e queda de pressão, parte por recomendações do próprio diretor.

Os dedos passeavam pelo corpo estirado, notando como ela era comum. Nada de mais. Pernas, braços, barriga, pés, cabeça... Uma moreninha nascida na Inglaterra, com pais carinhosos, ambos dentistas... Amigos que levaria até a morte, sem dúvida alguma... Um amor eterno dentro de seu coração naquele último que chamaria sua atenção em uma multidão...

Hermione jogou a cabeça para o lado direito e viu aquele enorme espelho ao seu lado. De madeira avermelhada, de aparência tão velha, antiga, gasta. Aquele era o Espelho do Passado, apresentado há meses numa aula de Defesa Contra a Arte das Trevas pela professora Ártemis. O Espelho que mostrava o antepassado mais nobre de nossa família. Hermione assistia diante do largo espelho de madeira, uma mulher de cabelos escuros compridos e cacheados, vestindo um belo vestido amarelo, correndo sorridente por campos lindíssimos, carregando uma varinha e uma flecha.

Aquela era Helga Hufflepuff.

Um dos fundadores de Hogwarts.

Uma das maiores bruxas de todos os tempos.

O antepassado mais nobre no sangue de Hermione.

Uma bruxa filha de trouxas.

Ao tempo que admirava a imagem da bruxa correndo e dançando contra o vento naqueles enormes campos verdes e repletos de flores, Hermione ainda tentava acreditar no que fora lhe conferido. Um segredo. Um segredo que teria de esconder até mesmo de Harry e Rony. Ao menos por enquanto.

Dumbledore, junto da Ordem da Fênix e dos Cavaleiros de Merlin, estavam na procura atrás dos herdeiros dos quatro fundadores de Hogwarts. O porquê ela não tinha idéia, além de Dumbledore optar por não revelar ainda. Também sabia que Voldemort estava atrás dos herdeiros, exatamente como o esquadrão que ajudava Dumbledore. Este por que também era desconhecido.

Mas a questão maior não era essa. A própria herdeira de Rowena Ravenclaw revelara à Hermione a verdade daquela surpresa durante a conversa. Arabella esclarecera o porquê de suas visões, o porquê de ter as sensações estranhas e de assistir cenas e episódios tão particulares da vida das pessoas.

Hermione era uma das herdeiras procuradas.

Hermione era herdeira de Helga Hufflepuff.

Ainda o tique-taque do relógio do escritório de Arabella acompanhava suas idéias, o exato momento em que fora revelada esta bombástica situação. A princípio, Hermione rira, não acreditara, achara uma grande confusão. Claramente, ela nunca seria herdeira de qualquer bruxo. Era uma simples filha de trouxas, que se esforçava dia após dia para não ser rotulada. Não recordava de bruxos muito próximos, a não ser um tio distante. Como poderia ter correndo ainda em suas veias, o sangue de Hufflepuff? E por que não fora selecionada para a Lufa-Lufa então?

O velho diretor pedira que Hermione ficasse em estado de atenção durante o final de semana. Uma série de bruxos faria alguns testes, e possivelmente na segunda-feira, Hermione encontraria os Cavaleiros de Merlin. A legião decidiria se a informação era correta. "E como você sendo herdeira de Ravenclaw, foi escolhida para a Grifinória?", recordava ter questionado à Arabella, quando estiveram no Templo de Ravenclaw, no castelo de Saint-Pierce. "Na verdade, isto acontece de acordo com a personalidade da pessoa. Eu posso ser herdeira de Rowena, mas não preciso estar necessariamente na Corvinal. Tenho a personalidade dos grifinórios. Por isso fui escolhida para a Grifinória", a mestra respondera, e Hermione não podia deixar de ficar curiosa. Por que ela?

Observando mais uma vez o universo estendendo-se à sua frente, a monitora suspirou, desejando mais calma e paciência. Desejava falar com Rony, contar como ficara no mínimo chocada... Era uma simples estudante, uma filha de dentistas de Londres, uma garotinha que ainda receava ao enfrentar os terrores do mundo adulto. Fechou os olhos, o sono pegando de vez a sua mente cansada por um dia tão desastroso e impressionante.

E em seus sonhos, corria por campos verdes e repletos de flores, enquanto cantava uma canção de ninar que os pais costumavam cantarolar para que pudesse dormir logo. E disparou uma flecha com seu arco tão divino, rompendo uma barreira negra à sua frente.


Formem duplas! Trabalharemos em rodízio, quero ver o que conseguem fazer hoje! É um pequeno teste, lembrem-se! Ninguém sairá daqui para a Ala Hospitalar desta vez, eu espero!

Os alunos riram, ainda que bastante sonolentos depois de um fim de semana bastante sério e triste. As famílias estavam desesperadas, todas desejaram que seus filhos voltassem para casa, ao menos até que Voldemort e seus Comensais fossem destruídos mais uma vez. Outros pediam, imploravam, para que mantivessem longe de Harry Potter a todo custo. E chegar naquela segunda-feira, na aula de Transformação Humana, com o professor agindo como se nada tivesse acontecido, era maravilhoso.

Sirius encostou o corpo na mesa e assistiu os estudantes fazerem as duplas. Hermione não comparecera à aula, e ele imaginava que após a descoberta, deveria estar bem guardada, sendo acompanhada de perto pelos inspetores de Dumbledore. Afinal, tinham a segunda herdeira conhecida em Hogwarts. Não poderiam deixar que isto escapasse para os ouvidos de qualquer um. Voldemort não cogitaria ir atrás de uma garota filha de trouxas como Hermione. E era bom que ele continuasse pensando assim.

O difícil mesmo era conseguir se concentrar naquela aula, enquanto tinha de esconder da própria noiva que o melhor amigo deles estava em um coma profundo. Remo Lupin, após o ataque mortal no Ministério da Magia na quinta-feira à noite, entrara em um estado além do que os medi-bruxos pudessem fazer.

De acordo com as informações de Dumbledore, Heather tentara, com todo seu poder e majestade de Helderane, ressuscitar Lupin. Aparentemente, a deusa escolhera doar sua imortalidade, o dom passado por Godric Gryffindor a ela. Lupin deveria aceitar ao pedido de Heather e estar recuperado agora, após ganhar uma nova vida. Entretanto, sem motivo conhecido ainda, Lupin não aceitara o dom de Heather, e está possivelmente vagando por um mundo paralelo.

Agora – pigarreou em seguida, procurando se concentrar. – Como treinamos durante nosso curso, quero que vocês façam um rodízio entre as duplas, primeiramente tentando transformar um único aspecto físico da outra pessoa, e depois a outra transforma um aspecto físico teu, ok? – todos concordaram com as cabeças.

Logo, os estudantes começaram o exercício. Sirius sabia que era um nível ainda fácil para eles, mas não conseguia pensar em controlar uma sala em puro caos causado por uma transformação desastrosa.

Dumbledore não soube dizer quando Lupin poderia acordar ou se ele iria acordar de fato. "É possível que Lupin não tenha aceitado o dom e o tenha passado à outra pessoa, e assim está procurando o caminho do mundo da luz. Por isso o coma". Mas Sirius ainda não conseguia entender com exatidão. "Então, isso significaria que Remo já está morto, sem chances de voltar?". Quando Dumbledore confirmou, o desespero tomou conta do bruxo.

Sirius ainda não sabia com certeza como conseguira esconder durante todo o fim de semana o assunto de Arabella. Estava angustiado o tempo todo, chorara pelos cantos, inconformado de perder outro melhor amigo, da mesma maneira que Tiago morrera. Não poderia conceber ainda a idéia de que Lupin ou estava morto, ou estava procurando o caminho de volta ou ficaria nesse estado de coma pelo resto da vida. "Por que ele não aceitou!", perguntou-se mais uma vez, como pela milésima vez num único dia.

Troquem! – anunciou, desligado.

Sacudindo a cabeça e passando os dedos pelos olhos, desejando estar bem mais concentrado para uma das últimas aulas do ano, quando assistiu Harry e Ametista caindo juntos após o primeiro rodízio. Os dois estavam estranhos, e sabia que o culpado disso era ele – ou ao menos, grande parte da culpa. Ter ameaçado a filha de acabar seu namoro fora errado, e causara até uma discussão feia com Arabella. Mas o que poderia ele fazer se o namoro apenas prejudicava-os, e não os ajudava?

Enquanto Harry apontava a varinha para Ametista, tentando mudar aparentemente a coloração de seu cabelo, Sirius podia ver que ele cochichava alguma coisa para a namorada.

Por que você me evitou durante o fim de semana? – perguntou em tom baixo, mirando a varinha nos fios do cabelo dela.

Ametista concentrou seus olhos escuros em Harry. Como poderia dizer que precisava pensar na relação deles? Como dizer que sabia de seu súbito interesse por Gina? Como explicar que vira a atração? E a conversa com o avô e o pai na quinta-feira à noite... Harry naquela mesma noite questionara se ela realmente achava que eles eram mais forte que os dois juntos. Ametista começara a duvidar, e sem saber o motivo certo. Era como se uma pontinha de confiança que existisse entre eles estivesse se dissipando. E confiança era absolutamente tudo na relação para ela. Como explicar isso?

Eu precisava pensar, Harry. – respondeu evasiva, ainda que enfrentasse o olhar dele com valentia.

Lentamente, os fios de Ametista iam tomando um tom amarelado sutil.

Pensar em quê? – voltou a indagar o jovem.

Em uma porção de coisas...

Não fuja das minhas perguntas! – interrompeu a fala da garota, ainda em volume baixo. Entretanto, no momento que perdera a concentração, a coloração do cabelo de Ametista voltou ao castanho.

Troquem! – a voz de Sirius ecoou pela sala.

Ametista tomou a varinha prateada nos dedos e mirou no centro do rosto de Harry. Esquecendo a acusação de Harry, começou a mudar o tom de pele do jovem. Rapidamente, a pele foi escurecendo e escurecendo, quase em um tom negro.

Não vai me falar o que está acontecendo? – insistiu Harry, notando a mudança que ela provocava com certa facilidade.

Harry, aqui ou agora não é o melhor momento ou lugar, não acha? – retrucou, procurando não perder a concentração.

Mas hoje eu tenho que fazer alguns trabalhos para Poções...

Então conversamos amanhã. – finalizou a jovem, exatamente no mesmo momento em que Sirius mandou um novo rodízio.

Deixando um aborrecido Harry para trás, Ametista emparelhou-se com Draco Malfoy. Soltando um suspiro de quase desânimo, esperou o que o sonserino poderia aprontar para ela desta vez.

Sirius, por sua vez, notou a expressão descontente de Harry assim que Ametista trocou-o por Malfoy. Esfregando as mãos na testa, imaginou o que poderia estar acontecendo mais uma vez. Será que não poderiam levar o relacionamento calmamente? Não gostaria de vê-los magoados, tanto a filha quanto o afilhado. Por que Tiago não estava vivo para ajudá-lo? Ou mesmo Lílian? A ruivinha costumava ter tanto tato para essas coisas... Fechando os olhos e imaginando os amigos, assistindo enquanto seus filhos se apaixonavam cada vez mais, desligou-se do que acontecia na sala.

E lá estava Ametista de Draco enroscados novamente em outra discussão.

Então, recebeu notícias do pobretão e da pobretona? Tiveram que vender aquele lugar que chamam de lar para pagar o enterro do falecido? – instigou Draco, um sorriso prepotente na face, enquanto tentava mudar a cor dos olhos dela.

Bom, se fosse no seu caso, nem precisar preocupar-se com isso você precisaria, não é mesmo? Afinal, já vendeu o corpo e a alma para o demônio... – respondeu a garota, dando de ombros.

Não deveria falar assim do próprio sangue, Dumbledore. Isso pode magoar teu pai, sabia?

Ele não é meu pai, seu imbecil! – retrucou nervosa. – Já disse que não tenho nada a ver com a sua gente suja!

Sem Ametista ter conhecimento, no calor da discussão, Draco iniciou uma mudança veloz da cor de seus olhos, sem interrupção. Todas as cores passavam pelos globos oculares da sonserina, cerrando os mesmos de ódio. Draco aproximou-se do ouvido da jovem e respondeu:

A Weasley pobretona não me achou nem um pouco sujo quando se agarrou comigo na cama da Ala Hospitalar... Garanto que se você quisesse provar, seria igualmente prazeroso... Imagine, Draco Malfoy se agarrando com a filha do Todo-Poderoso? Não seria excitante...!

Ametista grunhiu qualquer coisa, embevecida em ira, e postou as mãos nos ombros de Malfoy e empurrou-o com força para longe dela. No mesmo momento, ouve um estrondo dentro da sala de aula. Foi aí que Sirius percebeu que, mesmo com exercícios simples, alguém arranjaria briga, especialmente a filha dele.

Todos fizeram uma roda envolta dos dois. Ametista estava recuperando o equilíbrio, tentando pegar o ar, revoltada até o último fio de cabelo com Malfoy, enquanto o companheiro de casa estava encostado na parede da sala, achando tudo aquilo hilário de se ver. Até que não tinha mais graça.

Não estava mais à frente de Draco a conhecida e odiada Ametista Dumbledore, e sim a conhecida e estranhamente desejada Virgínia Weasley. Tão ruiva, de olhos castanhos e lábios vermelhos como somente Gina. E diante de Ametista estava um Draco Malfoy bem mais velho, de cabelos loiros bem longos, olhos acinzentados repletos de escárnio e superioridade. Ninguém menos que Lúcio Malfoy, o mesmo Comensal da Morte que tentou sufoca-la no ano passado, durante a prova dos duelos de Lupin e Arabella para ela e Harry.

Perplexos com as imagens de Gina e Lúcio, todos começaram a afastar-se dos sonserinos. Ninguém entendia coisa alguma, todos absolutamente confusos. Sirius aproximou-se vagarosamente de ambos e deu uma boa olhada. Ametista era, sem sombra de dúvida, Gina Weasley, ainda que no corpo da sonserina. O rosto era idêntico, sem qualquer diferença. Uma outra pessoa. Depois, caminhou até Draco e detalhou o rosto odioso e asqueroso do pai do jovem. As mesmas rugas, os mesmo dentes perfeitos, o mesmo olhar.

Harry, assim como todos os alunos, ficaram sem palavras e sem idéia do que poderia ter ocorrido ali. Somente por que Ametista empurrou Malfoy? De provocações, ambos já estavam vacinados e bem acostumados. De contato físico violento, também. Se não bastasse o jogo de quadril do outro ano, as constantes contusões na Ala Hospitalar, e socos e tapas que ela já dera nele.

Merlin... Não posso acreditar... – murmurou Sirius, a mão sobre a boca.

O que aconteceu conosco? – indagou Ametista, tocando a ponta dos cabelos tão vermelhos quanto fogo de Gina Weasley.

Eu... Eu desconfio... – Sirius iniciou, depois foi até a mesa, pegou sua varinha e apontou para Ametista um feitiço desconhecido. A jovem voltou a ter sua aparência. Depois, repetiu o mesmo efeito com Malfoy e o resultado foi igual. – Para isso acontecer, vocês dois têm que ter o índice máximo de transformação...

Você não 'tá querendo dizer que nós dois... – tentou interromper Draco, mas Sirius logo finalizou.

Isso mesmo. Vocês são mais dois Escolhidos de Dragon no mundo – e todos ficaram chocados. – Parabéns. – resumiu Sirius, ainda não acreditando na força dos jovens em tão pouca experiência de transformação humana. Mas também, o que se poderia esperar da filha de Voldemort e do filho de um dos chefes dos Comensais da Morte?


Nota da Autora (4): Um finalzinho legal, não acham! Hihihihihi! Quero as reviews de vocês hein! Estarei esperando! ;)

PRÓXIMO CAPÍTULO: Hermione tem de se acostumar com a idéia de ser uma herdeira procurada por Voldemort e ainda passar pelo teste dos Cavaleiros de Merlin. O que será que eles esperam para ela! E ainda há uma surpresinha de Ártemis Figg, mostrando realmente para quê veio! E Harry e Ametista serão os primeiros atingidos... Será que eles resistem às audaciosas manobras do destino?

Vejam o porquê das poções de Severo Snape para Ártemis em "O BEIJO QUE ENCERRA".