HARRY POTTER E O OLHO DA ESCURIDÃO

Nota da Autora (1):Nossa... Não é que eu consegui atualizar nas férias mesmo! E, já avisando, acabaram minhas férias, pois segunda-feira inicio a trabalhar. E agora, só terei os fins de semana para escrever... Assim, podem esquecer atualizações tão cedo, infelizmente... Vamos ver o que consigo, de qualquer maneira, tentarei o meu melhor, ok!

Nota da Autora (2): Agradecimentos:

Mandinha Malfoy: Você realmente não esperava? Mas, olha, será uma coisa boa, eu acho... Para a Ametista e para o Harry... Ao menos, é isso que eu penso... risadas Beijinhos!
Anaisa: Olha... Sobre o que você disse da poção... Posso te garantir que a Ametista e o Draco, neste momento da história, não sentiam um pinguinho de atração um pelo o outro. Sim, eu sei que é estranho, mas eles realmente não se gostam. Aliás, acho até porque é comum ter a visão do Harry desta história ela o odeia da mesma maneira que odiava ele mesmo na 'Herdeira'. Mas, pode ter certeza que eles se odeiam... É como você ver seu reflexo no espelho, ligeiramente destorcido, mas é o reflexo... E caso você não goste de quem é, isso dói. AH! Sobre o beijo Harry/Gina. Bom... Nos capítulos anteriores, caso você tenha notado, nesse caso sim, e não como Draco/Ametista, o Harry sentia sim uma atração pela Gina! E uma atração que esteve escondida desde a 'Herdeira'... Mas, ainda assim, pode acreditar que ele agiu como um adolescente revoltado por ter visto a namorada beijar o seu inimigo. Foi puro instinto! wink Hey! Teoria da Conspiração é! Snape-Ártemis-Dumbledore! Jesus! Que medo de um trio desse! risadas Olha... O que ela quis com as poções também será explicado... Para os fãs da Ártemis, como eu, logo logo chegará um capítulo todo sobre ela! E opa! Confuso! comemora Era exatamente isso que eu queria! P Beijos!
Brousire: Novamente dúvidas sobre uma personagem que eu tanto amo! . Bem, a Ártemis está no lado que ela tem de estar ― e isto explica tudo! risadas Sobre os sonhos, tudo que coloco na história é relevante, mesmo os sonhos mais estranhos. Então, se não fizer muito sentido agora, posteriormente fará, tenha certeza! wink E olha... Acreditem: o Malfoy não tem culpa de nada, ao menos NESTA coisa toda Harry/Ametista/Draco. Ele odiou tanto o beijo quanto a Ametista, como vocês poderão ver neste capítulo. Ah! E sobre o shipper Slytherin! Bom... Tudo já está planejado, é tudo que posso dizer... Beijinhos e obrigada pelos elogios!
Ariadne Celinne: Sim, sim! Você leu, infelizmente... E olha... Você então terá muito que ler ainda... Muuuuuuito... risada maléfica Beijossss! D
Kirina-Li: Você também é Sonserina é! Poxa... Slytherins juntos são demais! Ainda que eles se odeiem! risadas E o beijo tinha que ser bem característico, ainda que sob o efeito de uma poção das brabas! P Fico feliz que você esteja esperançosa e prossiga com a leitura. E olha... O Draco/Gina... Sem dar esperanças nem nada, mas, cá entre nós, está tremendamente mal resolvido. Portanto... Não desanime... wink Hum! Quem estava na escada hein! E O QUE A MIONE VIU! Muita gente não deu atenção a este fato que, escutem, é um ponto IMPORTANTÍSSIMO deste capítulo! Beijinhos!
Adriana Black: Adoro ler que a Ártemis é sua personagem preferida! Acho que, pois ela costuma ser tão odiada, tadinha... Ela merece toda a nossa atenção! suspense Bom, nós não sabemos exatamente se ela conseguiu separar... Ou mesmo se era este o objetivo... E o Malfoy... Você vai vê-lo agora, uma pequena mas importantíssima participação, num dos diálogos mais curtos entre ele e Ametista, mas da maior relevância... Espero que eu não tenha demorado muito! Beijinhos minina!
Den Chan: Anjinha! SS – Pureza das Raças hein! Slytherins Together! risadas Fiquei muito feliz que você gostou do capítulo, dedicado a você após tanto planejamento! E também mamuto você muito viu! E olha... AMÉRICA! Não, não é a novela... risadas Acho que só a palavra diz tudo, não é mesmo! E H/A odioso! Peninha que você é minoria hein! wink Beijãoooooooo Anjinha! E PARABÉNS JÁ!
Bibynha: Já respondo as suas duas reviews... Primeiro que ATUALIZEI! No dia seguinte da sua mensagem hein! wink Bom... Agora sobre o capítulo... Ceninhas de ciúmes fazem parte, até porque eles são adolescentes... Mas isso está longe de ser o principal enredo da fanfic... Estes últimos capítulos juntarão muitas pontas soltas desde a 'Herdeira', portanto, fiquem atentos! E, novamente, MUITO OBRIGADA! Beijos! P
André Ferreira: Reafirmar a fé! Poxa... Não queria causar essas impressões nas pessoas, mas é necessário... E como eu já disse acima, você realmente achava que eu ia mantê-los juntos por muito tempo! Quer dizer, a 'Olho' quase inteira foi H/A, e a 'Herdeira' foi a montagem dos sentimentos e da relação deles, mas acabaria um dia... Até porque, sou verdadeiramente apaixonada pela Ametista da 'Herdeira'... Mesmo que ela esteja muito mais amadurecida na 'Olho', ela ainda é aquela garota que fala ríspida e que adora provocar quem está a sua volta. É o humor da mãe... risadas Mas, não morra não hein! Beijos!
Carol:
Perfeito! E... Explique: AE FINALMENTE! risadas histéricas Você gostou é! Se for assim, a Anjinha não estará mais sozinha! mais risadas Beijos!

Nota da Autora (2):Bom... Valeu mesmo por todas as reviews aqui e no meu site, nos fóruns... Agradeço mesmo! E não fiquem tão desconsolados pessoal! Tudo é por uma boa causa! wink Já li o Half-Blood Prince... FODA! Acho que essa palavra resume tudo! mais risadas Agora, repetindo, atualização novamente vai demorar MESMO! Mas, ao mesmo tempo, aproveitem, pois a 'Olho' tem mais, acho que, 5 capítulos...

Nota da Autora (3): AVISO – Capítulo contém linguagem inapropriada! Já aviso, pois quem não aceita ou se impressiona com os termos usados por Harry e Rony, não leia!

Resumo do Capítulo Anterior: Ártemis coloca Ametista e Draco em uma situação inusitada. O cumprimento da detenção, o roubo das poções de Severo Snape e, finalmente, o beijo mais intenso que ambos tiveram em toda a vida. Harry flagra os jovens e decide revidar, no auge de sua fúria, beijando a irmã de Rony, Gina. O resultado não poderia ser pior. Ametista também os encontra e decide colocar um ponto final no relacionamento.


CAPÍTULO TRINTE E SEIS ― O PEDIDO

Fidem...

O som da parede arrastando-se e movendo para dar passagem à jovem ecoou pelas paredes do corredor secamente. Estava difícil encontrar o caminho do dormitório, a visão embaçada e as mínimas noções de coordenação perdidas há muito passos já. O salão comunal na escuridão não permitia que os olhos achassem a direção da escada circular que levava aos quartos dos sextanistas.

Suas pernas paralisaram assim que sentiu a mudança do solo que pisava. As tábuas de madeira escura debaixo de seus pés denunciavam a posição de seu corpo no escuro, possivelmente ao lado dos sofás da sala. Sufocando um soluço, tornou-se para a esquerda e fitou a estátua de Salazar Slytherin. Encontrou-a com extrema facilidade no horizonte negro, os olhos da escultura brilhando como duas esmeraldas preciosas. Eternamente a observá-la.

Ametista não soube dizer o quanto estava enojada de ter seus olhos postados sobre aquela imagem que simbolizava todo seu ódio. As lágrimas não haviam cessado, irritantemente caindo de suas orbes e percorrendo o caminho até seu pescoço exposto levemente pela abertura da camisa e da gravata. O supremo ícone da cultura sonserina provocava tamanha repulsa naquele instante que pensou perder a consciência. Desejou correr, fugir, expelir com todas suas forças o efeito que a estátua e a simbolização da Sonserina possuíam dentro de si.

Fechando os olhos, a imagem de Harry tomou a mente e suas palavras batiam contra o próprio cérebro dolorosamente, segundo após segundo, partindo mais um pouquinho do que restava dentro de seu peito. Ele a odiava, com todo o ser colocado neste ódio, com todo o ar que restava em seus pulmões e o sangue que corria em suas veias. Podia garantir que a proporção do que ela mesma sentia por ele era a mesma.

É assim que ele vai te deixar? Dessa exata maneira, fugindo e se enganando? Como que as imagens eram mais fortes que os sentimentos em seu coração? Quem foi o rapaz que você namorou por todos esses meses, Ametista? Foi quase um ano inteiro, um ano de dedicação, de devoção, de confiança...

Confiança?

A jovem nunca pôde cogitar a idéia, a leve suposição, de que não havia confiança naquele relacionamento. Ainda mais para ela, que confiança sempre fora a base do namoro deles. Mesmo que o episódio de Cho Chang tenha abalado de alguma maneira a confiança que criara em Harry, Ametista soubera que poderia deixar sua vida nas mãos dele, nada aconteceria a eles se dependesse da grandeza daquela cega confiança. Cega confiança.

Tateando o tecido aveludado do sofá da Sonserina, Ametista apoiou-se vagarosamente até que o corpo, exausto até o último fio de cabelo, desabasse contra o assento. Suas pernas adormeceram quase como em passe de mágica, pedindo ajuda e descanso. Os braços estavam doloridos, assim como os ombros e o pescoço. Mas nada de seu caos físico poderia comparar-se com a tempestade que passava pelos seus pensamentos.

Recapitular as sensações sofridas nas últimas horas era muito mais difícil que poderia imaginar se estivesse de fora. Enquanto a mente latejava, não evitando as palavras de Harry contra ela, os olhos abriram mais uma vez e encontraram as esmeraldas de Slytherin. Por mais que se sentisse como uma verdadeira sonserina, Ametista saberia dizer que tudo dito a Harry não fora comandado por seu orgulho esverdeado. Aquelas acusações, as dúvidas, as ofensas... Nunca seu orgulho permitiria ouvir calada aos absurdos enlouquecidos impostos por Potter, mas, ao final, seria ele a dizer a ela aquelas injúrias. Harry. Seu Harry.

As mãos ergueram-se até o rosto para aliviar a pressão de seus olhos inchados e ardidos. A jovem sentiu os dedos se encharcarem com suas lágrimas e, à medida que eles percorriam sua face, o choro vinha com maior força. A lembrança das mãos de Draco Malfoy passando pelo seu rosto arredondado, detalhando suas expressões de desejo incontroláveis e as pálpebras pressionadas buscando o máximo de forças para entender aquelas ondas de luxúria. Malfoy tinha tocado em seu abdômen, envolvido seu corpo pequeno em seus braços e amassado sua carne contra os dedos, desesperado para conseguir arrancar-lhe mais do que gemidos. Como o beijo parecia completá-la e trazê-la para uma nova dimensão, como um encontro com sua alma gêmea, com seu destino finalmente. Naqueles curtos momentos de intensa emoção, ela estava pronta para absolutamente tudo. Enfrentar o quê fosse e quem fosse, ignorar conceitos e princípios, juízos morais, esquecer completamente que beijava com sua alma inteira um futuro Comensal da Morte. Um futuro assassino, o inimigo, o ser mais desprezível que já cruzara seu caminho.

E somente a idéia deste sentimento percorrendo sua mente uma vez novamente provocou mais do que um tremendo horror. Seu corpo reagiu fisicamente.

Ametista ergueu o tronco repentinamente, sentindo erupções furiosas em seu estômago. Erupções fora de controle. Colocou a mão direita sobre a boca e fechou os olhos, o gosto amargo atingindo seu esôfago, depois a garganta e finalmente a boca. Retirando a mão antes do estouro, impulsionou o corpo para frente, longe do alcance do sofá, e expeliu tudo que havia em seu estômago. Mantendo os olhos fechados, Ametista perdia completamente o controle da própria existência, de certa forma, o choro crescendo cada vez mais. Assim que o vômito acabou, o odor azedo subiu até suas narinas e ela limpou a boca com as costas da mão, olhando sem palavras para tudo que havia colocado para fora. Não era apenas uma questão de sentir-se enojada de ter beijado Malfoy, mas também por se sentir contaminada por tudo que desprezava. Alcançou sua varinha de prata no casaco e limpou o chão. O gosto permaneceu em sua boca, enjoando-a mais.

Por mais que desejasse esconder o choro, a idéia de alguém encontrá-la ali, no escuro e sozinha, na madrugada, perdendo todo o pouco de esperança que ainda existia dentro de si, não a fez diminuir a demonstração de fraqueza. Sim, chorar na frente de outras pessoas era uma fraqueza que desprezava imensamente. Chorara outras vezes, inclusive diante de Harry. Contudo, agora era diferente. Que descesse a Sonserina inteira, ela não seria capaz de controlar uma única lágrima, uma única de todas as apunhaladas que sentia a cada instante. Que a encontrassem e deparassem com a verdadeira face de um coração partido de todas as formas imagináveis. Era uma traição de todos os anos em que se dedicara a descobrir quem era, qual sua missão e a quem confiar. Uma verdadeira traição consigo mesma.

As mãos circulavam o rosto, enfiado em tristeza profunda, soluços irrompendo em sua garganta dolorida pelo vômito há pouco, toda a exposição forçada e longa de seu estômago. O desespero havia tomado tudo que restava ali, naquela poltrona, no corpo de uma simples jovem de dezessete anos recém-completados. O ar entrava com dificuldade em seus pulmões, pois logo estava soluçando outra vez e mais outra em seguida.

A imagem de Gina Weasley há uma semana, no salão comunal da Grifinória, esfregando os dedos contra si mesma, furiosamente, desejando livrar-se daquela existência e daquela culpa tomava a mente de Ametista. A mesma reação se iniciou dentre a escuridão e a estátua de Slytherin. As mãos deixaram o rosto embargado da garota, agora uma apenas garotinha, e começaram a se friccionarem contra a pele de seus braços, ainda envolvidos pela camisa.

O choro era colocado para fora com toda a força, os soluços provocando eco na sala vazia, a escuridão se unindo contra ela. Os dedos desceram até o tórax e encontraram a abertura da camisa deixada por Malfoy e voltaram a esfregarem-se. Rastros vermelhos eram deixados por ali, as pernas da jovem se contorcendo em pura ira e agonia contra o próprio corpo, subindo e descendo da poltrona, como se pudesse soltar-se da pele que a cobria.

O tórax e a barriga ficando para depois, o choro ficando mais e mais alto, os dedos caminharam para o pescoço. As unhas raspavam contra a pele, desde o queixo até a abertura da camisa dela, repetidamente, sem parar. Os soluços cresceram com a dor, que quase passava despercebida, encoberta pelo desespero. Logo, as unhas estavam rasgando a pele, Ametista sentiu que a cútis cederia brevemente. Mas, era impossível parar suas mãos, estava completamente fora de controle, ela precisava se livrar daquilo, se limpar das mãos de Malfoy, de Harry, de qualquer um que tenha a colocado naquela posição, odiando a si própria de maneira tão incontrolável que sequer podia tomar conta de seus próprios movimentos.

A auto-flagelação continuou no mesmo tom furioso, sem fim, mesmo que as unhas realmente entrassem na carne exposta, deixando marcas perceptíveis no momento e no dia seguinte, certamente. Quando Ametista uniu ao choro compulsivo alguns gemidos de dor pelo que fazia contra si mesma, seus dedos enroscaram-se em alguma coisa presente em seu pescoço.

Imediatamente, as mãos de Ametista paralisaram. Era um cordão prateado, que carregava um pingente belíssimo – uma lua crescente e, em sua ponta, uma estrela vermelha. O cordão de Lílian Potter. O cordão que Harry me deu na noite de meu aniversário. O cordão que daria à mulher de sua vida. O cordão que daria à escolhida. Ametista mordeu o lábio inferior, paralisando todos seus pensamentos, concentrada somente naquela jóia tão delicada que se tornara parte dela. De alguma maneira, sequer percebia que ainda carregava o cordão no pescoço, pertencente a ela supostamente desde sempre, parecia. A jóia simbolizava o amor existente entre os pais de Harry, Tiago e Lílian, mas também o deles. Segurando o pingente entre os dedos, Ametista notou que a temperatura estava baixa demais. Estar com o cordão deixou-o com sua temperatura corporal, estranhamente, mas agora era diferente segurá-lo. Gelado. Não quente como quando ele colocou nela na noite debaixo do dossel da Sonserina.

Pela sua cabeça passou todos os momentos em que passara junto de Harry. O primeiro encontro, na mesa da Grifinória. Quando caíra sobre ele na noite em que Hogwarts ficou alguns segundos completamente no escuro. O olhar apaixonado dele quando ela dançara no Natal do outro ano a mesma dança mágica que sua mãe fizera para Sirius. Ambos em cima do parapeito da grande janela do salão comunal da Grifinória, beijando-se pela primeira vez. O segundo beijo, sentados na cama dele, logo depois de assumir que algum sentimento existia, por mais que ela hesitasse. As incontáveis discussões. Quando Harry correu junto com ela para longe de Lúcio Malfoy nos jardins de Hogwarts. O reencontro na Mansão dos Black, em Godric's Hollow. A bacia de Pandora entre eles enquanto se beijavam uma terceira vez. Ela levando-o para o píer de Godric's Hollow e revelando todo seu amor, o início do namoro. A noite da tempestade em Hogsmeade, seu primeiro encontro com Voldemort. O pedido de perdão de Harry por ter se deixado levar pelo beijo de Cho. A noite de Ano-Novo em que iniciaram uma nova fase no namoro. No dossel da Sonserina, em seu aniversário, que quase sucumbiram ao desejo. Há uma semana, em que Harry dormiu com ela em sua Casa, e Ametista soube que seria a última vez...

"Quando foi que nós nos perdemos, Harry?", pensou ela, as lágrimas e o choro preso agora na garganta, os dedos erguidos diante do rosto, carregando o cordão de Lílian. "Eles conseguiram nos separar, conseguiram afastar você de mim...".

Ametista chorou em silêncio por mais alguns instantes, sem saber no que mais pensar, relembrando as palavras duras e cruéis de Harry, dizendo que nunca acreditara nela e que não passaria a acreditar. Que ela nunca mais dissesse a ele que o amava. Nunca mais.

Quando que o amor passou para essa mágoa maior do que nós dois jamais poderíamos ser, meu amor? Como deixamos que estragassem nossa felicidade, nossa confiança? Para onde foram nossas promessas, nossas juras, nossa devoção?

Olhando para aquele cordão, Ametista largou o corpo no sofá, deitando contra o veludo, o rosto molhado demais para que conseguisse secar, a garganta dolorida, dentro e fora, pela flagelação e do vômito de poucos minutos atrás.

Como você pôde fazer isso comigo?

Como eu pude te amar dessa maneira?

E como eu vou deixar de te odiar pra te amar de novo?

Sim, porque agora, nesse exato momento, eu te odeio.

Como nunca odiei ninguém.

Não de uma maneira como odeio Voldemort pelo que ele fizera a mim e a minha família.

Ou como odeio Malfoy e seu pai por tentarem fazer da minha vida mais um inferno particular.

Odeio você, Harry, por ter-me feito confiar cegamente, escancarar minha alma e dedicar a minha vida sem pensar duas vezes, absolutamente tudo por você. Se puder me ouvir, em sonhos, em delírios... Te amarei eternamente... Na igual intensidade que te odiarei a partir de hoje...

O cordão dançou uma última vez dentre seus dedos.

E se isso deveria pertencer à mulher de sua vida...

O cordão escorregou de seus dedos e caiu contra o sofá, enquanto os olhos de Ametista se deixavam vencer pelo cansaço e ela desmaiava, já que certamente sua insônia tão costumeira não a deixaria adormecer. As lágrimas ainda caíam com os olhos fechados da jovem.

Então isso não pertence mais a mim.


Harry não soube quanto tempo passou até que despertasse de seu transe. Suas pernas pareciam ter sido enterradas bem fundo, no chão do corredor. Não se movia. Nem se desejasse muito. Tudo tinha parado. O tempo, os seus batimentos, sua respiração... Os passos de Ametista haviam morrido em seus tímpanos há muito, e ele ainda permanecia paralisado no corredor, o corpo tão próximo do quadro da Mulher Gorda e da Torre da Grifinória ― para longe daquele mundo paralelo em que se instalara sua vida em poucos minutos.

Está tudo acabado. A realização disto na mente de Harry parecia cair como uma bomba, mas certamente ainda não havia tomado consciência de toda a situação. Ametista nunca mais deixaria que Harry se aproximasse. De formas diversas ele poderia tentar, porém seria perda de tempo. Ametista sabia como se esconder e se defender quando preciso. Saberia como evitá-lo até o último dia em que tivessem de se encarar. Mas ele não queria encará-la mais. Não poderia encontrá-la nos corredores, vagando com o traje da Sonserina, não unindo as mãos nas suas. Saber que nada mais seria do modo que imaginara, que desejara... Perdera a chance de engolir o orgulho, de calar a boca e acreditar na palavra dela...

Gostaria de correr atrás dela e enfiar sua cabeça no mais profundo de seus pensamentos, deixa-la lá, em baú, esquecida. Faria tudo para nunca ter cruzado seu caminho naquele instante. Arrependeu-se de lutar, de acreditar. A sensação de um extremo vazio o atingiu. Era horrível pensar aquelas coisas todas, e saber que ainda podia senti-la logo ali, ao seu lado, ainda que estivesse a quilômetros de distância. Sentiria sua presença, pois ele necessitava dela, queria junto dele...

Não! Eu não quero mais saber de Ametista! Quero distância daquela cobra! Ela não poderia estar falando a verdade, não quando se agarrava daquele jeito com Malfoy, com aquela vontade... Ametista traiu minha confiança e esqueceu de todas as promessas que fez a mim quando decidimos namorar! Porra, ela disse que me amava, como pôde!

Sua mente estava em conflito. Acreditar no quê seu coração dizia ou acreditar no quê seus olhos viram há pouco instantes? Contudo, como definir isto se ambas indicavam uma única resposta: Ametista o traíra da pior forma possível. Não havia um porquê de duvidar, todos os sinais mostravam que aquela era a verdade. Harry passou os dedos nos olhos, molhando-os pela quantidade de lágrimas que continuavam ali, trilhando dois caminhos em suas bochechas. Era tão óbvio o que acontecera, tão escancarado durante todos aqueles meses, todas aquelas discussões. Ela iniciara sentimentos por ele da mesma forma, brigando, discutindo, beijando-se 'sem querer', negando...

Sim, a negação. Ela sempre negou. Tudo. Desde o início, comigo mesmo. A negação de Ametista Dumbledore. Filha da puta mentirosa! Dissimulada!

Harry mordeu o lábio e sentiu outras lágrimas descendo pelos seus olhos, as imagens formando-se sem parar na mente, como num turbilhão, o som dos passos dela ainda ecoando de alguma maneira pelos seus ouvidos, perseguindo-o. Queria voltar no tempo, não ter se deixado levar por um conto de liberdade, por promessas falsas, por sorrisos maliciosos, por beijos escaldantes e por sentimentos inexplicáveis. Muito distantes de seu entendimento. Ali, paralisado no corredor, poderia apenas entender o tamanho de seu ódio por ela, por tudo que ela representou nos últimos meses. Vaca maldita, mentirosa, enganadora! Continuou a xingá-la sem parar, um atrás do outro, cada vez pior. Os palavrões transbordavam, interrompendo seus pensamentos, misturando-se aos gemidos que ele costumava ouvir em seu ouvido quando a tocava, os mesmos gemidos que ouviu enquanto beijava Draco Malfoy.

Moveu o corpo até então paralisado, hipnotizado por tudo que acontecera, por todas as palavras, por todo o amor jogado para longe, para fora, transformado em pura fúria, em simples ódio. Tornando-se para o último corredor a ser percorrido até chegar à Torre da Grifinória, Harry tentou imaginar como poderia dormir naquela noite. Seria humanamente impossível! Mas, ainda mais que essa idéia perturbadora ― passar aquela noite toda em claro seria pior do que muitas noites desperto após pesadelos com Voldemort ―, gostaria de correr até a Torre da Sonserina e socar Malfoy até a morte, sem hesitar. E a idéia sequer o fez vacilar ou impressionar-se com a amplitude de sua cega fúria. O ímpeto assassino que surgiu dentro dele o fez olhar para trás, para o corredor escuro que Ametista percorreu, indo embora. Não seria difícil entrar na Sonserina, descobrir o quarto dele e acabar com a sua raça antes que conseguisse acordar para saber o quê o atingiu.

Era como se, lentamente, ele pudesse ouvir os passos de Ametista que ecoavam pelo corredor mais uma vez e embora enquanto ficava parado. Haveria algo a ser feito para tirar aquela mágoa tão intensa dentro de si, algo que curasse a tamanha revolta que desejava transbordar a qualquer momento de seu corpo. Pôr um fim em um dos dois. Na verdade, de novo, a cogitação de algum ato violento ou irreversível não pareceu absurda naquele minuto para ele.

Sua cicatriz, imediatamente, começou a ferver, tomando proporções fortes em sua testa. Ele levou a mão diretamente para o centro, apertando, recordando de como costumava doer sua cicatriz quando estava com Ametista. Como naquela noite, ambos em cima do parapeito da janela da Grifinória, beijando-se de uma maneira tão inocente e tão medrosa. Você é mais poderoso que eles, poderia fazer com extrema facilidade, ninguém desconfiaria. Você é o grande Harry Potter, o Menino-Que-Sobreviveu... Seria tão fácil...!

Os passos pareciam cada vez mais próximos, quase como se viessem em sua direção, um atrás do outro, latejando em sua mente obstinadamente. Harry continuou com a mão na cabeça, de maneira automática, desejando que a dor em sua cicatriz parasse e que os passos não ecoassem mais em seus ouvidos. Preciso pôr um fim em um dos dois. Repetiu ele, insistente, desejando muito mais que a morte, pois esta não daria o destino merecido aos dois, seguramente. Não o destino que ele desejava. Eles merecem pior, merecem sofrer o que Voldemort fez meus pais sofrerem no decorrer da vida deles, perdendo tudo. Merecem o que há de mais terrível... Merecem um ao outro, vagabundos!

Ainda assim, seus sentidos clamavam pela presença dela. O toque reconfortante, a suave expressão de compaixão, o delicioso aroma do perfume, as mãos entrelaçadas nas suas e o som da voz no pé do ouvido. Desejava, em seu íntimo, que ela viesse a socorrê-lo dali, que viesse dizer como toda a discussão não passara de um pesadelo, um temível pesadelo. "Eu quero você fora da minha vida", ela dissera, de modo que Harry não duvidou de sua certeza enfática. Antes disso, era Harry que não mais a desejava em sua vida! Como ela poderia exigir isto dele como se houvesse alguma culpa restante, algo de sua responsabilidade por toda aquela demonstração de suja traição com Malfoy à frente da sala de Ártemis!

As mãos em sua cabeça pressionavam a caixa craniana, como se pudessem apagar a dor incessante e aqueles passos malditos que não paravam de chegar mais perto, cada vez mais alto, mais irritante, mais impossíveis de suportar... Toc... Toc... Toc... Os olhos se fecharam uma vez novamente, Harry querendo ignorar as palavras dela que se misturavam com o som dos passos, com as batidas de seu coração descompassadas, dolorosas e furiosas. De novo e de novo.

Harry. A voz dela, ou ao menos uma voz parecida com a dela, encheu seus tímpanos, e Harry pensou que fosse enjoar imediatamente. Um gosto amargo tomou sua boca e ele fechou o rosto, desagradável. Precisava tirá-la da cabeça, temia encontrá-la e perder o controle. Seria fácil azará-la, mas Harry dava preferência em amaldiçoá-la por provocar-lhe aquelas sensações horríveis e cruéis, sentimentos que nunca passara antes e provavelmente não suportaria por muito tempo.

Tão logo, notou o toque leve de dedos em seu ombro esquerdo, contraído pelo choro e pelo ódio. A presença de alguém o enervou de certo modo, os olhos friccionados e a boca constrita, na intenção de fazer a pessoa ir embora, caso não respondesse.

― Harry? ― repetiu a voz.

Como ele pôde confundir a voz de Ametista com a voz de Hermione ele não soube dizer. Mas, logo, a imagem da melhor amiga tomou forma diante de seus olhos, tomados pelas lágrimas. A jovem parou à frente de seu corpo e ergueu os braços, tocando-o em seus ombros. A expressão dela era de intensa confusão e apreensão ― aquela era Hermione, eternamente preocupada com ele. Os olhos chocolate dela estavam levemente embaçados para Harry, e somente o tom confortante na voz da amiga aumentou sua fúria interna. Fúria pelo mundo ser tão injusto e maldito. A maldade estava espalhada por todos os lugares, em todas as pessoas, por mais que quiséssemos nos enganar, acreditar no contrário.

― Harry, o que foi que aconteceu contigo? ― indagou ela, de forma bastante parecida com que Gina questionou-o há poucos instantes. ― Deus, Harry, que houve?

Lentamente, os braços que tocavam os ombros de Harry se transformaram em um abraço e ele voltou a fechar os olhos, abrindo os lábios e soltando soluços repetidos. O corpo começou a tremer, espasmos do choro movendo seus batimentos rápido demais, e logo estava abraçando Hermione de volta. Enfiou o rosto no cabelo cacheado da amiga, desejando esconder-se. Por um breve momento, abraçado à Hermione, sentindo os dedos dela paralisados e medrosos de se moverem, Harry desejou morrer. Acabar com aquela sensação horrível, o sentimento de solidão, de incompreensão, de puro ódio. As mãos dele torceram nas costas de Hermione, as pontas de suas curtas unhas machucando as palmas, todo o corpo ficando quente subitamente.

Abraçada a ele, Hermione tinha o olhar perdido, sem palavras para dizer a ele, sem entender aquela reação. Harry nunca fora do tipo emocional daquela maneira, chorar descontroladamente, ter o corpo embevecido em tremores e soluços. A força com que ele passou a abraçá-la era quase assustadora, e o ar começou a faltar em seus pulmões, tamanha era a energia. Nunca imaginou encontrá-lo no início de sua ronda, paralisado no corredor próximo da Torre, vestido tão desmazelado. Pior ainda foi encarar seu rosto, visivelmente transtornado. Enquanto ele prosseguia em esmagá-la contra seu corpo, o abraço cada vez mais nervoso, ouvia-o murmurar coisas indecifráveis. O rosto misturado em seu cabelo solto, logo pôde escutar algo decifrável que a assustou mais do que tudo que já ouvira sair daquela boca:

Eu quero morrer!

Hermione entrou em pânico. Seu corpo ficou completamente rígido e não conseguiu mais notar qualquer coisa à sua volta. Harry realmente disse aquilo? Ainda que, com tudo que acontecera na sua vida, o amigo nunca desejou isso, então qual a razão agora? O pânico começou a se espalhar, e ela não soube o que dizer. Apenas soube que ele continuava a chorar e chorar, os espasmos de soluços ficando cada vez mais fortes.

Ajude-me Mione! ― disse ele, no mesmo tom de antes.

Desejando respirar com facilidade, mais difícil com o abraço de Harry, Hermione não sabia o que ele desejava. Como poderia ajudá-lo sem saber o ocorrido para deixá-lo daquele jeito! Aos poucos, o pânico crescendo ainda, levou suas mãos para o topo da cabeça do jovem e começou a acariciá-lo, dizendo baixinho que o ajudaria sem vacilar, sem fraquejar, sem dúvida nenhuma.

― Oh, Harry, é claro que eu te ajudo ― respondeu ela, em um quase gemido recheado de temor, seus olhos repentinamente ardidos por encontrá-lo assim. ― Eu faço qualquer coisa por você... Mas, me diga o que houve, Harry, por favor... Eu quero ajudá-lo, mas você tem que me deixar...

Mais soluços e choro descontrolado, palavras desconexas, até que Harry conseguiu responder de maneira a ser entendida pela monitora.

Então na-não conte pra-pra ninguém!

― Não contar o quê, Harry? ― questionou ela, os olhos enchendo-se de lágrimas de pavor por ele.

A pressão do abraço diminuiu consideravelmente e Hermione sentiu-se aliviada. Sua respiração iniciou o ritmo normal, as lágrimas em seus olhos desejando cair, todo seu corpo indicando a preocupação com Harry. O pânico ainda estava ali, abraçando ambos, Harry fora de si. O rosto de Harry saiu dos cabelos de Hermione e se ergueu diante dos olhos temerosos de sua melhor amiga. Estava ali, exposta, uma parte do Harry que Hermione nunca conhecera antes. Uma parte assustadora, muito pior do que a encontrada quando Harry desejou pegar Sirius na Casa Mal-Assombrada há três anos.

Havia ali um Harry temível. Hermione sentiu, pela primeira vez em toda sua vida, medo dele. Pior... Verdadeiro terror.

Eu vou matá-los, com minhas próprias mãos.

Hermione abriu a boca, mas nada saiu. Aquele Harry tinha os olhos vermelhos, vermelhos em tom de sangue, mergulhados em um instinto visivelmente assassino. Hermione encolheu o corpo de forma inconsciente, não reconhecendo em nada o amigo. Ao redor de Harry, ela pôde nascer uma luz estranha, de coloração dourada, brilhante, ofuscando o rosto apavorante dele. Hermione não soube explicar, mas todos os pêlos de seu corpo arrepiaram-se em alerta, sua mente admirada por aquela imagem, seu coração disparado, transbordando pavor. Nunca achou que teria tamanho medo de alguém como sentia naquele momento. Era um terror descomunal, inexplicável, de proporções imensuráveis. Um medo que se espalhava ao redor deles, e ela somente desejava correr para longe de Harry, para distante daquela 'aura' que se formou ao redor dele.

E então, no instante em que ele começou a se aproximar dela e Hermione acreditou cegamente que Harry iria fazer algo de muito mal a ela, o corpo do amigo desabou no chão. A luminosidade que havia ao redor dele desapareceu tão estranhamente quanto apareceu, e o corpo de Harry ficou estirado no piso, o rosto contra o solo do corredor e desacordado.

Hermione não foi capaz de se aproximar do corpo estirado e andou lentamente até bater com as costas na parede contrária. Assim que chocou o próprio corpo contra a parede, encolheu-se ali e abraçou as pernas, o corpo inteiro trêmulo. O terror ainda estava ali e ela era absolutamente incapaz de chegar mais perto e socorrer o amigo. Aquele não era mais seu amigo. Não era Harry Potter. E ficou ali, olhando-o de longe, chorando sem saber, o coração disparado e o pânico encravado em suas estranhas.


― O que você está dizendo, Srta. Granger?

Hermione rolou os olhos e respirou fundo. Não era fácil falar do que tinha acontecido, e ter de repetir pela terceira vez não ajudava em nada também. Os olhares de Dumbledore, Sirius e Arabella estavam sobre ela, todos tão confusos quanto ela mesma dois dias atrás.

― Nem mesmo Madame Pomfrey descobriu o que houve com o Harry, professores ― disse Hermione, apertando os dedos. ― Ele simplesmente... Enlouqueceu, eu acho.

Os olhos castanhos de Arabella exprimiam a intensa preocupação com o afilhado, e Hermione não pôde deixar passar essa semelhança enorme entre elas. A grávida sentou-se lentamente em uma das cadeiras da sala de Dumbledore e manteve o olhar sobre Hermione. A garota entendeu que falar qualquer coisa sobre Harry para Arabella era o mesmo que conversar com a mãe dele. A idéia apavorou-a. Como poderia explicar-lhe o que acontecera, sem que a professora subisse em seu pescoço?

Enlouqueceu? Oh, por favor, Hermione, você tem idéia do que está nos dizendo? ― questionou a bruxa impaciente, Hermione lamentando-se e assumindo seus pensamentos anteriores. ― Quer dizer, você nos acabou de falar algo incompreensível! Harry nunca falaria isso!

O broche de monitora brilhou assim que Hermione moveu as mãos ao lado do quadril, batendo-as forte contra ele. Sua cabeça estalou.

― Mas eu estou dizendo o que ouvi, e muito bem! ― reafirmou a morena, tão impaciente quanto Arabella. ― Sei que, para vocês, Harry sempre está na Ala Hospitalar e não é estranho encontrá-lo lá de novo, mas eu estou dizendo! Ele compareceu esses dois dias nas aulas, mas todas as noites, volta para a Ala para Madame Pomfrey fazer mais exames. Há algo de muito errado com ele e vocês não sabem! Não conseguem perceber! Alguma coisa aconteceu com ele há dois dias e eu preciso que vocês acreditem em mim!

A expressão de Sirius adquiriu uma preocupação que Hermione admirou. O padrinho de Harry olhou de esguelha para a noiva, borbulhando em nervosismo, e depois voltou para a amiga do afilhado. Hermione tinha certeza que Sirius iria preocupar-se com a situação, já que dava para sentir cheiro de confusão, cheiro de maldade, de Voldemort por perto. Assim, a menor diferença no estado dele era alerta máximo.

Hermione sentiu-se fraca e perdida. Só a lembrança do que ocorrera já lhe provocava arrepios. Ainda não sabia como Rony tinha a encontrado no corredor, metros a distância de Harry, o corpo inteiro ainda aterrorizado pelo que acontecera. Rony carregou Harry até a Ala Hospitalar e Hermione ficou ao lado, acompanhando, sempre com certa precaução. Tinha muito medo se ele acordasse e voltasse ao estágio anterior.

Quando deixaram Harry aos cuidados de Madame Pomfrey, ambos ficaram do lado de fora, esperando o diagnóstico da medi-bruxa. Hermione relatou com muita dificuldade tudo que acontecera entre ela e Harry, desde o encontro até ele dizer que iria matar alguém. Hermione pensou em ir atrás de Ametista, afinal quem melhor para saber o que havia com Harry do que ela, mas Rony aconselhou-a a ir no dia seguinte. Seu namorado desconfiava que ela estivesse metida naquilo, e Hermione resolveu acatar ao pedido dele. Hermione sabia que Rony nunca simpatizara muito com a namorada do amigo, então não discutiu. Contudo, a procura pela sonserina já durava dois dias, e ainda não tinha localizado a amiga. Nem sinal dela pelo castelo. Ametista não compareceu às aulas que a Sonserina possuía com a Grifinória, e pelo que Hermione conversara com os outros monitores, de Lufa-Lufa e Corvinal, também a aluna não havia dado as caras. Nas refeições, desaparecida.

Assim, sem saída ― Rony ainda não havia tido tempo para conversar com Harry sobre o que acontecera ― Hermione decidiu ir atrás do padrinho e da madrinha do jovem. E Dumbledore junto, talvez pudessem ter uma idéia do que ocorrera. No entanto, se eles não fossem capazes de acreditar nela, tudo seria muito mais complicado.

― Mas dizer que ele falou em matar alguém é loucura, Hermione! ― protestou Arabella, sem entender todo aquele descontrole visível da monitora da Grifinória. ― Harry nunca falaria isso...! ― repetiu mais uma vez, porém a voz de Sirius interrompeu logo a fala da bruxa.

― Hermione... ― chamou a atenção o moreno, os olhos azuis concentrados na jovem. ― Você já tentou conversar com ele?

Imediatamente, o rosto de Hermione corou e ela começou a gaguejar, sem saber o que responder. Sirius, Dumbledore ou Arabella não entendiam a situação, e provavelmente nunca entenderiam. Nenhum deles assistiu a reação de Harry naquela noite. Como vou dizer a eles que estou tão aterrorizada com aquilo que sequer tive coragem de chegar perto de Harry nesses dois dias!

Não que ele também não estivesse estranho. Harry não dirigira a palavra à Rony ou Hermione desde a fatídica noite. Assistia as aulas separado, o rosto muito abatido, e suas ações sempre mecânicas. Não se alimentava, não estudava, não fazia nada aos olhos deles. Sequer questionou o que aconteceu para acordar na Ala Hospitalar no dia seguinte. Rony imaginou que ele estivesse junto de Ametista, já que ela também não dava sinal de vida, mas Hermione não acreditava nisso. Havia algo de muito errado com Harry e com Ametista.

― Ele está incomunicável, Sirius ― respondeu ela e o padrinho grunhiu em descrença. ― Não foi por falta de tentativa, Rony tem tentado falar com ele desde aquela noite, mas Harry não quer...

― Perguntei se você tentou conversar com ele, Hermione ― retomou Sirius, sabendo que havia ali alguma coisa. ― Afinal, se foi como você falou, talvez possa explicar a ele e Harry te contar o que houve.

Hermione mordeu o lábio inferior, querendo escapar daquela situação, mas sabia que Sirius era inteligente demais, não deixaria passar seu desconforto.

― Perdoe-me, Sirius, mas eu não consigo falar com ele. ― admitiu finalmente, abaixando os olhos.

Antes que Arabella pudesse protestar, Dumbledore levantou sua mão e chamou a atenção dos dois adultos.

― Que quis dizer com isso, Hermione? ― questionou, em tom grave.

― Quis dizer que aquele não era o Harry que eu conheço, como já disse para vocês ― respondeu suavemente, ainda envergonhada. ― Aquela aura que surgiu ao redor dele, não era certa. Tinha alguma coisa de errado ali, era como se estivesse despertando de dentro dele uma vontade assassina que nunca presenciei em ninguém antes! O Harry que eu conheço nunca reagiria daquela maneira. Não foi o ímpeto raivoso que despertou nele quanto te encontrou em Hogsmeade no terceiro ano ― ela disse a Sirius. ― Era completamente diferente. Não posso me aproximar dele enquanto não souber o que houve.

Os três adultos ficaram em silêncio e, logo, Arabella e Sirius trocaram olhares. Dumbledore ergueu-se de sua cadeira e desceu do nível de sua mesa, juntando-se a Hermione, tocando o ombro da monitora.

― Você disse... Despertar, Hermione?

Enquanto a jovem concordava com a cabeça, o olhar de Dumbledore a fez juntar algumas peças. Recordou uma conversa de alguns dias atrás, logo depois que descobriu sua descendência com Helga Hufflepuff. Dumbledore dissera a ela que Voldemort estava atrás dos quatro herdeiros de Hogwarts e, mesmo que ainda não soubessem o motivo, que logo ele tentaria despertá-los. Será que...?

― O senhor acha que algum herdeiro está despertando em Harry? ― questionou ela, incerta, os olhos brilhando naquela costumeira excitação de descobrir algo novo. ― Talvez... Godrico Gryffindor?

Dumbledore continuou por alguns instantes apenas encarando Hermione, como se tentasse ler sua mente, ainda que ela soubesse sobre esse dom pertencente à Arabella. Logo, o diretor levantou o tronco e dispensou Hermione da sala, dizendo que procuraria alguma solução. Detesto tanto isso, Deus! Quando estou chegando em algum lugar, Dumbledore sempre dá um jeito de me mandar embora. Como ele quer que eu ajude?

Saindo profundamente frustrada da sala de Dumbledore, a monitora tomou o rumo da Grifinória naquele fim de tarde. Encontrou duas agitações nos corredores e uma gritaria estranha a atraiu para os jardins de Hogwarts. Saindo atrás dos alunos do quarto ano de sua Casa, Hermione usou de seu poder de monitora para controlar a baderna ― tudo por causa da proximidade da Final de Quadribol. Quando desejou voltar à Torre para colocar suas idéias em rumo, descobrir o que necessitava sozinha, avistou uma ruivinha sentada debaixo de uma das árvores do jardim. Um jovem a acompanhava. Gina olhava para o rapaz ao seu lado, sentados praticamente colados, e ele a olhava de volta. O garoto de cabelos castanhos agitou a cabeça negativamente e tentou pegar na mão dela, mas Gina hesitou e retirou suas mãos do alcance dele.

Hermione não entendia muito bem o namoro de Gina com Julian Hawking. Assim como nunca entendeu também a história do ano anterior, em que Gina e Draco Malfoy se enrolaram em alguma coisa que nem ela mesma sabia classificar. Claro que o moreno da Lufa-Lufa possuía qualidades como a beleza ― ainda que de uma forma bastante jovem ― e a coerência ― Hermione o conhecia pelo que ouvia da monitora da Lufa-Lufa ―, mas não parecia exatamente combinar com sua cunhada. Os dois namoravam escondido ― escondidos de Rony, por assim dizer ― e a idéia disto não parecia certa para Hermione. Esconder do ciúme de Rony era uma coisa, mas ela sabia que Gina namorava Julian em segredo por outros motivos, motivos que nem ela tinha idéia. Eram poucas oportunidades como aquela, encontrá-los sentados lado a lado em um local público como o jardim. E não somente isso, quando as duas conversavam, Hermione não enxergava a compreensível e comum empolgação dela, caso existisse, em relação ao namoro. Pelo que Gina relatava, Julian andava aborrecido por terem de esconder. O rapaz parecia gostar bastante da grifinória e se dizia estafado por ter de esconder o relacionamento. Propôs conversar com o irmão da namorada, mas ela não permitiu. Entretanto, ao menos na semana anterior, com a notícia da morte de Percy, Gina dissera que Julian nunca fora tão compreensivo e prestativo a ela.

A cunhada também lhe contou algo sobre os pais de Julian serem prisioneiros em Azkaban, antigos Comensais da Morte. ― Agora, o rapaz batia as mãos na grama, irritado, como se tentasse a convencer de algo. Gina abaixou a cabeça. ― E, provavelmente, a idéia de Percy ter sido assassinado naquele incêndio no Ministério, provocado por Comensais, estivessem os afastando.

Naquele momento mesmo, assistiu Julian erguer-se do chão e sair andando, pisando duro na grama. A monitora rapidamente deu as costas, fingindo que não vira nada e acelerou o passo para dentro do castelo. Odiava que metessem o nariz em seu relacionamento, mas odiava ainda mais meter o seu no dos outros.

― Granger... ― ouviu alguém chamá-la e tornou-se para trás, fechando os olhos levemente, arrependidos por ficar observando demais. ― Oi, tudo bem? ― cumprimentou Julian, os olhos azuis não condizendo à cordialidade do ato. ― É que a Gina pediu para te chamar... ― antes que tentasse dar uma desculpa, Hawking completou. ― Por favor... Fale com ela.

O tom de súplica do rapaz impressionou Hermione. Era como se ele estivesse pedindo por ajuda. A morena apertou os lábios, sem ter palavras para escapar da situação, desconcertada. Hawking suavizou o olhar duro e decepcionado, e acertou a postura.

― Talvez você possa trazer alguma clareza para a cabeça dela ― disse ele, colocando a mão sobre o símbolo da Lufa-Lufa em seu casaco. ― Acho que não sou capaz de mais...

― Mas eu...

― Granger, você sabe como são os Weasley, quer dizer, você namora o irmão dela, deve entender como eles são... Sabe, estou apenas pensando no melhor para ela.

Hermione desejou soltar uma risada suave e percebeu como Hawking não tinha muito tato ― só não sabia se era somente com ela ou com as mulheres em geral. Bom, de qualquer maneira, foi Gina que o beijou, pelo que ela contara.

― Posso dizer que sou amiga dele muito antes de ser namorada ― respondeu, tendo de aumentar a voz quando notou que os alunos baderneiros de antes estavam ficando descontrolados novamente. ― Vou... Ah... Fazer o possível... ― assegurou ela, ainda que sem ter idéia do que faria.

Julian agradeceu, o rosto corado, e deu as costas, virando-se para o castelo. Hermione acompanhou-o com o olhar e então se voltou para a árvore do jardim em que Gina estava sentada. Notou que a cunhada observava folhas de jornal entre suas mãos.

Assim que chegou perto, percebeu que Gina tinha os olhos inchados. Abaixou-se até seu lado e sentou-se ali, na grama, ao lado da jovem. Sem dizer nada, esperou que ela dissesse algo. Observou como o dia estava bonito e as coisas fora dos trilhos. Em poucos dias, o namorado perdeu o irmão, ela descobriu que era herdeira de um dos quatro grandes de Hogwarts e que Voldemort provavelmente deve estar atrás dela, Harry desejara matar alguém e ameaçara machucá-la e algo ainda dizia a ela que algo de muito ruim estava para chegar...

― As coisas podem ficar piores?

Hermione abaixou os olhos até encontrar a face de Gina, abaixada entre seu cabelo avermelhado. A voz dela estava dura e firme, contrariando a expressão enfraquecida e frágil. Os fios caíram entre elas e Hermione não pode mais observar o rosto de Gina. Ela não soube o que dizer, era como se Gina tivesse ouvido seus pensamentos. Infelizmente Gina, o pior ainda está por vir, se você realmente quer saber.

As mãos finas e longas da esguia ruiva esticaram-se até o colo de Hermione e depositaram ali a página interna do Profeta Diário. Lia-se na matéria principal da página três a notícia da fuga de outros dois Comensais da Morte, os Hawking. Os pais de Julian. Naquele instante, Hermione entendeu o porquê da reação de Gina, a reação dura que contradizia sua expressão. A monitora não soube o que dizer.

― São os pais dele, Hermione ― disse Gina, o tom enojado em sua voz. ― Eu sabia que eles eram Comensais e eu garanti a mim mesma que não seria empecilho para nós... ― o rosto ainda entre o cabelo, Hermione não podia enxergar Gina. ― Ele...

Os olhos da morena corriam pela manchete, lendo quase desesperadamente, um turbilhão de coisas enchendo sua cabeça, uma atrás da outra. Voldemort estava ganhando força, seus aliados estavam mais perto do Mestre, tudo ruía, toda a objetividade, toda a intenção de Dumbledore. Não demoraria mais, logo Voldemort descobriria sobre os herdeiros, logo tudo seria somente sonho e Hogwarts ruiria junto de seu maior diretor.

― Ele acha que vão procurá-lo...

Aquela frase despertou Hermione de seus terríveis devaneios.

― Procurá-lo por quê? ― questionou, quase como se fosse uma piada. ― Querer saber do filho! Depois de todos esses anos em Azkaban, todos os anos que perderam com o filho para seguirem um maluco que se achava o imperador do mundo? Vamos combinar Gina, mas Comensais da Morte não costumam ter coração...

Gina soube que Hermione tinha razão. Draco Malfoy era a maior prova disso. Lúcio Malfoy apenas defendia seu filho, procurava 'protegê-lo' por uma questão suficientemente compreensível: Draco seria o próximo seguidor de Voldemort, e caso o filho não fossem bom, para onde iria o nome dos Malfoy's?

― Julian acha que eu posso correr perigo...

― Não dentro de Hogwarts! ― protestou Hermione.

― Malfoy entrou aqui ano passado, e os dementadores esse ano...

― Todos os feitiços foram refeitos e reforçados pelo próprio Dumbledore, Gina, não pense besteiras! ― a monitora da Grifinória não podia acreditar no que ouvia. Aquela definitivamente não era a Gina que conhecia. ― Sei que está frustrada por Hawking agir desse jeito, mas ele está nervoso, tenho certeza, você não pode concordar com isso, Gina, você conhece o funcionamento de Hogwarts tão bem quanto eu, sabe...

― ESTÁ TUDO ERRADO! ― gritou a jovem repentinamente, erguendo o rosto para a amiga. Seus olhos estavam mais inchados ainda e refletiam seu desprezo por toda a situação. ― Estou cansada, Hermione, ESTOU REALMENTE DE SACO CHEIO, SE VOCÊ QUER SABER! Quero que tudo VÁ PARA O INFERNO, Voldemort, Dumbledore, TODOS JUNTOS! Quero VIVER MINHA VIDA sem ter que ficar olhando para trás, com MEDO, com desconfiança! PARA MIM, JÁ CHEGA! CHEGA DE SONHOS COM TOM RIDDLE, DE TREINOS DE DUELOS, DE APRENDIZES, DE TUDO!

Hermione ficou sem palavras com a súbita reação de Gina. Bastante semelhante com a de Rony quando soube da morte de Percy, mas desta vez, Hermione notou que havia mais ali do que poderia entender. Existiam vezes que ela se esquecia do passado da irmã de Rony. Um passado movido por manipulação, por dominação, por enganação. O episódio da Câmara Secreta e do Diário de Riddle ficaria para sempre na mente de Gina, atormentando-a. Havia perdido a conta de quantas vezes Molly veio conversar, pedindo que Hermione ajudasse Gina de alguma maneira. Mesmo que Gina não precisasse em absoluto da ajuda de alguém, muito menos da dela.

― Eu só... Eu só desejo viver um pouquinho, Mione... ― disse ela, o volume da voz agora baixinho, temeroso, arrependido. ― Já cheguei ao meu limite, não consigo mais lutar contra algo que parece não ter remédio! Eles levaram meu irmão, Hermione! Quase levaram minha mãe, certamente ela será uma mãe desgostosa pelo resto da vida! Já tentaram matar Rony, você, Harry! Vocês são minha família! Agora, conseguiram que meu namorado se afaste tanto de mim por causa dos pais seguidores dele!

― Gina, por favor...

― Não dá mais, Hermione! Juro que não entendo de onde você tira forças para continuar lutando contra isso, por todos esses anos, mas eu não tenho mais... Ver Percy naquele esquife me matou! Não sei como Rony resistiu, como está conseguindo se recuperar, mas me levaram junto de Percy naquele dia, Mione, me mataram também!

Gina limpou as lágrimas de seu rosto de uma maneira ríspida e notou como sua pele estava quente.

― Não consigo parar de derramar isso desde aquele dia! ― Gina olhou as palmas das mãos molhadas e sentiu raiva. ― Eu odeio quem sou, odeio por não ter conseguido parar Voldemort de alguma maneira, por ter me deixado levar pelas palavras imundas e enganadoras dele, por não ter alertado meu irmão! ― Hermione continuou paralisada, enquanto Gina balançava levemente o corpo, os espasmos do choro tomando conta dela. ― Ele está por todos os lados! Está aqui, conosco, posso senti-lo, em todo o lugar! Ele sabe o que estamos planejando, Hermione! Está vindo me pegar, está furioso e quer minha carne!

Esta afirmação fez Hermione reagir.

― O que você quer dizer com isso, Gina!

Visivelmente a ruiva vacilou. Havia dito demais. Nem Hermione nem ninguém poderiam saber daquele encontro. Julian sabia, mas não do conteúdo da conversa que tivera com o Lorde das Trevas. Porém, de certa forma, não havia muito mais a ser feito. Percy já estava morto, sua família em frangalhos... Não saberia se seria sábio contar para Hermione, mas naquela altura, o que mais poderia perder?

― Acho melhor não, Hermi...

― Nem PENSE NISSO, Gina, entendeu! Eu quero ajudar, quero encontrar uma solução para todos nós, e se ficarem escondendo de mim, EU NÃO CONSIGO!

Gina engoliu em seco, não impressionada com o nervosismo de Hermione. A monitora sempre demonstrou firmeza, mas deste tipo, somente nas discussões com Rony no passado. E Hermione era uma das poucas pessoas que Gina sentia-se livre para falar sobre seus problemas. E Tom Riddle era um deles ― o mais importante deles.

― Na noite do incêndio... E-eu sabia que tinha alguma coisa errada. Sonhei com fogo ― Gina olhou em dúvida para a cunhada e notou que Hermione não a levaria em descrédito. ― Com gritos, clamando por socorro ― ela fungou e Hermione arregalou os olhos. ― E então, ele apareceu. Como naquele dia na aula de Aprendizes...

― Voldemort apareceu no seu sonho? E em Aprendizes, Gina? ― indagou Hermione de maneira enérgica, interrompendo a jovem.

Gina concordou com a cabeça.

― Apareceu no dia em que tentei conjurar meu patrono ― disse ela, recordando acordar na Câmara Secreta, no corpo de onze anos. ― Falou que logo nos encontraríamos... Disse algo sobre eu ser sua segunda escolhida...

― Segunda escolhida! Do quê ele estava falando, Gina? ― Gina moveu a cabeça negativamente. ― Você tem que saber, Gina! ― Gina continuou a negar e Hermione soltou a respiração sem muita paciência. ― Escute o que vou te dizer ― Hermione ajoelhou-se à frente da garota. ― Você sabe que Voldemort não é para brincadeira! Sabe que ele fará absolutamente tudo para se vingar de Harry e Dumbledore! Então, você tem que me prometer, Gina!

― Prometer o quê? ― não entendeu a ruiva.

― Que tudo que você fizer, e eu falo tudo mesmo, quero que comunique a mim ou ao seu irmão. Aonde vai, com quem e por que...

Gina não teve escolha a não ser concordar com Hermione, prometer a ela. Era como se a monitora soubesse de mais e estivesse procurando pistas para solucionar suas dúvidas.

― Agora, Voldemort te disse mais alguma coisa? Qualquer coisa?

Por um breve momento, Gina hesitou.

― Ele disse que eu estaria sob o poder dele de novo...

A mente de Hermione começou a borbulhar com tantas informações. Formulando centenas de teorias, fez Gina prometer novamente a ela e saiu em disparada para a biblioteca. Gina ainda ficou durante alguns segundos observando a figura da amiga correr pelo jardim em direção ao castelo. Achava que, de fato, as coisas poderiam ficar muito piores.


A tarde começava a cair em Hogwarts e Harry retornava ao seu dormitório, depois de mais um exame com Madame Pomfrey. A cabeça sempre retornava latejando, e naquele terceiro dia não seria diferente. Os pés pisando duro no assoalho, o monitor chegou até o quarto dos sextanistas da Grifinória e ficou aliviado de estar, mais uma vez, quieto em seu canto. Tentou evitar Rony e Hermione nas últimas 48 horas o máximo possível. As memórias de tudo que acontecera ainda estavam tão vivas em sua mente como se tivessem ocorrido há um minuto.

Jogando o casaco da Grifinória acima de sua cama, o rapaz sentou-se ao lado e suspirou, apoiando a cabeça no cotovelo, este sobre o joelho esquerdo. Seus fios de cabelo escuro caíram no rosto e ele fechou os olhos, desejando acabar com o mal estar que insistia em persegui-lo. Eram imagens de beijos, de declarações, de traição, de seres negros e Comensais da Morte. Voldemort passava em sua mente, assassinando, torturando, procurando-o em seus sonhos. Estava sendo um inferno sem fim.

O som de batidas em sua janela despertou-o das dores de cabeça. Retomando o olhar para fora, encontrou Edwiges. A coruja estava bicando a janela, na esperança de entrar. Harry permitiu e a Edwiges pousou na cabeceira de sua cama, estendendo a perna esquerda e revelando um pergaminho enrolado. Harry estranhou, pois Edwiges não costumava realizar entregar a ele que não fossem de respostas suas, e puxou o pergaminho.

Desenrolando-o, algo automaticamente caiu em seu colo. Olhando intrigado para o que tinha caído, notou um brilho prateado. Puxando o pergaminho na linha de seus olhos, pôde ler a única frase escrita em letra curvilínea e delicada.

Isto pertence a você, não mais a mim.

Largando o pergaminho ao seu lado na cama, puxou o brilho prateado de seu colo. Era a corrente que Heather dera a ele e que, posteriormente, Harry dera a Ametista. O cordão de Lílian Potter. Engolindo em seco, observando como a corrente parecia intacta, sempre bela como quando sua tia deixou-o a seus cuidados, Harry soube como a decisão da noite anterior não fora mais acertada. Ametista nunca seria a mulher de sua vida, nunca deixaria que ela carregasse algo tão pessoal como aquele cordão em seu pescoço, fingindo ser a escolhida. O pingente com o sangue de seus pais ainda estava lá, a estrela vermelha brilhando na ponta da lua. Ela estava certa, aquilo pertencia a ele, não mais a ela. Nunca deveria ter pertencido a ela.

― Harry...?

O jovem retirou o olhar do cordão, o peito estranhamente pesado, e tornou-se para a porta do dormitório. Rony tinha o olhar duvidoso e, como Harry pôde descobrir, quase ansioso por ter encontrado-o ali. Era como se ele não pudesse fugir.

― Hey. ― respondeu sem muita emoção, enrolando o cordão entre os dedos da mão direita.

Rony adentrou incerto, sentando-se na própria cama, à frente Harry. Passando a mão esquerda na franja ruiva, ele limpou a garganta e pareceu criar coragem.

― Eu vinha querendo conversar com você, cara... ― Harry nada respondeu, o olhar ainda na corrente em sua mão. ― É sobre...

― Eu sei... Sobre Hermione, certo? ― interrompeu ele, retirando os olhos do cordão e encarando o amigo. Rony percebeu como Harry parecia devastado. ― Mas antes da Mione, eu também queria falar com você sobre outra coisa.

O ruivo deu de ombros, um pouco tenso para Harry, e deixou que ele continuasse.

― É sobre Percy ― Harry observou a expressão de Rony mudar levemente, as sobrancelhas caídas e o olhar obtuso. ― Nós não tivemos a chance de conversar desde que você e a Gina voltaram há três dias, então...

― Também não dei muita chance, Harry ― respondeu Rony, dando as mãos, desajeitado. ― Eu queria até pedir de...

Harry ergueu a mão, impedindo de Rony prosseguir.

― Você tinha razão, em parte ― disse ele, os olhos verdes concentrados nos sem jeito de Rony. ― Não fui capaz de acabar com Voldemort quando pude ― Rony negou com a cabeça, mas Harry ignorou. ― Sim, é verdade, Rony, eu não consegui. Nem quando ele possuía o Quirrel, ou quando possuiu a sua irmã ou mesmo quando voltou à vida naquele cemitério. Perdi todas as oportunidades ― Rony tinha as bochechas coradas. ― E isso resultou na morte de gente que não deveria ter esse fim, por minha causa...

― Não, Harry. Aquilo que eu disse quando soube da morte do Percy ― Rony ainda negava com a cabeça. ― Foi uma idiotice, eu falei merda demais, por isso mesmo queria te pedir desculpas...

― Não, você não disse, Rony, você só falou o que muitos gostariam de ter dito, tenho certeza ― interrompeu mais uma vez o monitor. ― Mas eu vou colocar um ponto final nisso tudo, posso dar minha palavra. Não preciso de desculpas, não quero. Ainda acho que é um erro Hermione e você me seguirem nessa coisa toda contra o Voldemort, mas como não posso mudar a cabeça de vocês, posso te assegurar que, caso eu tenha a mínima chance de fazer o vagabundo pagar por tudo isso, eu farei, Rony. Pelo seu irmão e por todos que ele matou até hoje...

Rony não soube o que dizer ao amigo, apenas ficou em silêncio. Harry abaixou o olhar para a corrente uma outra vez e desejou que Voldemort tivesse sido morto muito antes de matar seus pais, o irmão de Rony, Lupin... Ainda que não soubessem o verdadeiro resultado da oferenda de Heather ao amigo de seus pais, Harry sabia que Lupin ainda estava em coma profundo e, talvez, nunca mais despertasse. Tudo por causa do maldito.

― Se você não aceita minhas desculpas pelo que disse, por mais que eu me arrependa, ao menos aceite pelo soco... ― pediu Rony repentinamente, quebrando o silêncio.

Harry deixou escapar um riso pelo nariz e subiu o olhar para o melhor amigo. Como seriam as coisas se não tivesse topado com os Weasley naquele vagão do trem de Hogwarts? Como seria não desejar entrar para a Grifinória? Ou ainda, não ser capaz de confiar naquela amizade incrível entre Rony, Hermione e ele?

― Bom, do soco eu aceito mesmo ― riu o moreno, passando a mão esquerda pelo nariz. ― Você tem uma ótima direita, seu filho da puta.

Ambos sorriram um ao outro, como velhos companheiros de estrada, e Rony chutou a perna esquerda de Harry. Passando o ar amistoso, Harry ficou mais uma vez em silêncio e Rony não deixou passar como seu amigo parecia realmente arrasado.

― Preciso falar com a Hermione ― disse Harry de súbito, despertando Rony da impressão do amigo. ― Não sei o que deu em mim... ― estava com vergonha do que fizera. ― Era como se eu não tivesse controle sobre mim, Rony. Como se alguém possuísse o meu corpo...

― Mas...

― Eu só sentia muita raiva, ódio... Só queria saber de matá-los, de realmente pôr um fim na vida de um dos dois ou de ambos mesmo. Estava pouco me importando com o que pudesse acontecer depois, só queria saber de matá-los, de eliminá-los da minha vida.

― Mas quem? Quem você poderia querer matar dessa maneira!

Harry tentou disfarçar, mas era tarde. Por mais que não quisesse contar, não seria possível voltar atrás. O ímpeto assassino que surgiu em seu peito naquela mesma noite parecia ainda acordado, esperando a melhor oportunidade para extravasar de seu corpo uma vez mais.

― O que aconteceu? ― perguntou Rony, não podendo mais deixar passar a visível situação miserável de Harry. ― A Mione disse que você estava chorando quando ela te encontrou, que disse que queria morrer. Ela falou que nunca te viu tão desesperado.

Harry olhou para o amigo com uma grande dúvida. Como dizer para Rony que tinha visto a namorada se agarrar com Draco Malfoy? Como explicar que, no auge de sua revolta, beijou Gina, a irmã dele? E que, depois de uma discussão horrível, eles haviam terminado, possivelmente, para sempre?

― Ametista e eu terminamos.

Houve um novo silêncio. Harry ainda ouviu o eco de suas palavras de novo e de novo na mente. Não pareceu o fim do mundo. Era ainda pior. Imaginar tudo, novamente, sem ela ao seu lado. Muito pior que o fim do mundo, que o apocalipse, que enfrentar Voldemort de uma vez por todos e morrer tentando. Seu estômago dobrou-se mais uma vez, a urgência de se refugiar e esquecer todos os meses que passara antecipando o momento em que ficariam eternamente juntos. Não haveria mais Ametista em sua vida. Exatamente como ela mesma dissera, o cordão não o pertencia mais, assim como sua vida não pertencia a Harry.

Talvez aquele fosse o fim do mundo...

― Ah... ― o som da voz de Rony encheu seus ouvidos e o fez perceber que ele ainda estava lá. ― E isso é... Mau?

O olhar de Harry ergueu-se e encontrou o de Rony, confuso. Harry ficou ainda mais atrapalhado que o amigo, sem entender que raio de pergunta era aquela.

― O quê? ― questionou ele mesmo, sem entender.

O rosto de Rony ficou vermelho e ele fez uma careta.

― Oh... Hum... Eu suponho que... Que seja mau, então... ― completou Rony.

Harry não pôde acreditar na expressão e na fala do amigo. Seu próprio rosto ficou avermelhado e, agora sim, ele teve uma urgência feroz de enfiar um soco na cara do ruivo.

― Você supõe que seja mau, Rony? ― repetiu Harry, a revolta súbita subindo sua garganta. Ele seria capaz de rugir. ― Supõe? ― Rony encolheu bem de leve, afundando o quadril no colchão. ― Lógico não é? Por que eu estaria mal com isso! Não dá para ver como estou radiante com o meu rompimento!

Rony levantou as mãos como proteção.

― Hey, ok, Harry, ok ― admitiu rapidamente, não gostando das lembranças que Hermione contou-lhe sobre o ataque do rapaz. ― Então eu estava errado, ok, isso é mau, muito mau.

Harry ergueu o corpo da cama e chegou mais perto de Rony, sentado em sua cama. Poderia pular sobre seu amigo e socá-lo até ele limpar aquela expressão idiota do rosto.

― É LÓGICO QUE ISSO É MAU, RONY! ― vociferou, perdendo o controle. ― COMO VOCÊ PÔDE PENSAR QUE NÃO ERA!

Rony começou a gaguejar, sem ter idéia do que responder, realmente preocupado com a reação de Harry. Como poderia ter cogitado dizer que não era algo ruim? Por que abrir a boca estúpida e não demonstrar apoio a ele, como o amigo mesmo fizera em agosto, quando rompera com Hermione?

Entretanto, Harry saiu da sua frente e mudou inteiramente o semblante, de arrasado e fervendo em fúria para ainda arrasado e pretensioso. Mordendo o lábio inferior e escondendo um meio sorriso ― não que fosse um real sorriso, mas algo parecido com um ―, Harry disse, afastando-se de Rony:

― Humpt! Por que foi que eu me enganei? ― Rony franziu a testa e Harry voltou a sentar-se na cama. ― Você nunca gostou dela mesmo, não é?

Harry não precisou erguer o rosto para encontrar a resposta de sua indagação nos olhos de Rony. Era claro que ele nunca gostou de Ametista. Recordou de quando contou a ele, no ano anterior, que a havia beijado. Ou mesmo quando dissera sobre realmente gostar da garota, ou ainda quando começaram a namorar.

Diante do silêncio constrangedor de Rony, Harry prosseguiu, a voz embargada em desânimo.

― Mas, acho que você, infelizmente, tinha razão.

O monitor pôde notar o sobressalto do amigo.

― Como assim? ― questionou Rony, o tom culpado na voz.

― Bom, você tinha razão em dizer que ela não servia para mim ― ele pigarreou. ― Ou que eu não servia para ela, não sei bem... Só sei q ue, se tivesse te ouvido, talvez não passasse por tudo que estou passando agora...

― Harry, eu não 'tô te entendendo...

― Eu peguei ontem à noite, a Ametista e o Malfoy se beijando... Bem, o termo agarrando seria mais bem colocado para aquilo...

― O quê! Você só pode estar brincando! ― protestou Rony. ― Sei que não gosto da Ametista, e não gosto dela contigo, mas não quer dizer que desconfiava de que ela tinha alguma coisa com... Argh! Com o Malfoy!

― É, então você imagine como eu fiquei quando vi aquilo.

Rony não soube o que dizer. Nunca imaginaria isso. Malfoy e Ametista não se deram bem desde o início, ele recordava muito bem. Poderia dizer que o relacionamento de Harry e Ametista não era para durar, não estava escrito em livros de destino, que eles cairiam de amores um pelo outro e que logo levantariam novamente, esquecendo toda a besteira de estarem apaixonados... Mas isso!

― Mas, Harry, vamos concordar que... Mesmo que eu não goste da Ametista... Ela nunca ficaria com o Malfoy.

Harry preferiu não responder. Sabia que tinha algo de estranho, sabia que Rony estava certo novamente... Mas, na atual altura dos acontecimentos, preferia confiar no que vira: um puro atentado ao pudor na frente da sala da Ártemis Figg. Sua namorada, aos beijos e abraços e carinhos, com nada menos que Draco "Fuinha" Malfoy. O enjôo voltou com força ao seu estômago.

― Não quero saber mais disso, se você quer realmente saber ― assegurou ele, ignorando o que Rony dissera. ― Eles se merecem! Que fiquem juntos e vão para a puta que pariu, porque eu simplesmente não quero mais saber! Ametista morreu para mim...!

Mordendo o lábio, Rony olhou incerto para Harry.

― Então... A fúria que você sentiu naquela noite ― Harry finalmente ergueu o olhar para Rony. ― Assassinar... Você queria matar o Malfoy e a Ametista ― Harry assentiu com a cabeça, impressionando-se por não estar chocado com a idéia. ― Mas... Por acaso... Você ainda pensa nisso?

Harry engoliu em seco, sem saber direito como responder aquilo a Rony. Porém, não poderia continuar escondendo. Havia algo de errado para acontecer com ele e à sua volta, também. Assim, respondeu com clareza:

― Sinceramente não posso te responder ainda, Rony ― o tom era obscuro. ― Mas eu tenho certeza que não foi um desejo passageiro. Certeza.


A biblioteca estava vazia naquela tarde. Gina apoiou a cabeça no braço esquerdo e passou a ler o livro de lado. Somente havia ela na mesa, as outras destinadas ao estudo praticamente desertas, não fossem por dois ou três alunos da Corvinal ― quer dizer, Hermione também estava lá, mas parecia tão enlouquecida com a quantidade de livros a sua volta que Gina simplesmente optou por esconder-se da amiga. Todos os alunos eram do mesmo ano que Gina, ela percebeu, possivelmente estudando para os N.O.M.s. À sua frente, o volume de quatrocentas e onze páginas detalhava a história da guerra dos duendes no século dezessete. E ela que imaginava as aulas de História de Magia...

Não que estivesse com a cabeça centrada nos contos dos duendes, bem longe disso, mas ainda assim precisava estudar e não podia afundar-se nos próprios problemas. O dia estava bonito lá fora. Seus olhos divagaram pelas letras do livro e dirigiram-se para a janela da biblioteca, um bonito pôr-do-sol se formando no horizonte. A ruiva passou os dedos da mão direita nos olhos, a cabeça ainda deitada no outro braço, e bocejou.

O rosto ainda estava molhado, poucos minutos antes havia discutido com Julian e explodido com Hermione. O final do semestre não poderia ser diferente. A página do Profeta ainda vagava pela sua mente, a notícia de que os pais de Julian haviam participado da fuga de Azkaban na última noite. Não seria problema enfrentar famílias, no mínimo, de tendências obscuras. O problema verdadeiro era lidar com alguém tão inflexível e teimosa como ela. Gina admitia que a idéia dos pais de Julian serem Comensais da Morte tinha dado-lhe o que pensar, mas nada que tenha interferido nas suas emoções. Contudo, para o rapaz o mesmo não poderia ser dito. O namoro não resistiria uma batalha interna do jovem. E Gina realmente já tinha esgotado suas possibilidades de agüentar uma nova proteção.

Quer dizer, Julian era uma maravilhosa surpresa. Os humores eram parecidos, assim como os gostos, e toda a coisa 'lufa-lufa' de ser, suave e fiel, apenas acrescentou. Porém, Gina entendia que logo a surpresa acabaria. Não era proposital, mas Julian tinha algo que a irritava demais, que a afastava dele: a sombra eterna de Voldemort.

Os anos que se passaram desde o primeiro período em Hogwarts foram delicados. Primeiramente, Gina era retraída e tímida. Não confiava em ninguém, pensava que os amigos poderiam ter vergonha de andar do seu lado... O andar insistente dela com o diário de Tom Riddle debaixo do braço a fez adquirir apelidos como aberração. Depois de toda a batalha emocional contra Voldemort, Gina precisou de muita força de vontade e apoio para livrar-se do estigma que se criara sobre ela. Um estigma que ganhou por desejo próprio. Então, as visitas e viagens junto dos amigos de seu irmão, Harry e Hermione, a fizeram se tocar de que, muitas de suas paranóias, eram apenas suas. Gina poderia ser a garota falante, impulsiva, simpática que costumava ser ao redor dos familiares.

E então, vieram os garotos. Quer dizer, sua primeira experiência fora completamente fora do esperado. Internamente, ainda se arrependia de maneira surpreendente. Mas, não podia negar que aprendera muita coisa com aquele ser repugnante. Olhando ao redor, elevando levemente a cabeça do braço e desviando o olhar do pôr-do-sol, Gina recordou como tudo acontecera naquela mesma biblioteca.

"Srta. Weasley, eu sou perigoso!". Gina deu um meio sorriso, recordando da frase mais ridícula que já ouviu Malfoy dizer, olhando os corredores cheios de livros, as estantes paralelas umas as outras, os rostos de ambos olhando-se entre as pilhas de obras diversas. Era como se ontem mesmo Malfoy tivesse caído sobre seu corpo e a beijado entre as prateleiras, sorrindo levemente contra seu lábio.

Gina manteve o sorriso e fechou os olhos, um pouco sonolenta, os olhos ardidos ainda pela choradeira de poucos minutos atrás. A lembrança seguinte foi da última noite do ano anterior, no banheiro feminino, em que Malfoy a surpreendeu. "Está com medo de não resistir a mim?", ele tinha perguntado a ela. Mordendo o lábio inferior, Gina sabia como era difícil lutar contra aquela maldita borboleta batendo as asas na sua barriga. Malfoy era, na mesma escala, tão desprezível quanto irresistível. Naquela mesma noite, ela tinha questionado o porquê dele ir procurá-la, depois de tudo que passaram, e ele respondera que não se sentia vazio quando ao seu lado estava. "Eu não me importo se você não estiver sendo sincero comigo. Eu vou entender. Agora, nesse momento, eu não quero saber", ela havia dito. Mas, a questão é que Gina não podia mais suportar, de absolutamente ninguém, uma nota a mais de falsidade, de mentira.

O relacionamento com Julian veio para dar um ponto final em tudo que havia de mal resolvido no seu coração e na sua vida. Ou ao menos, esta foi a intenção. Agora, nem ela mesma sabia onde estava situada em tudo. Julian havia terminado o namoro, colocado um final na tentativa de Gina. Tentara também jogar limpo, ainda que vagarosamente, com Malfoy uma vez que ele a interceptara no caminho de uma aula. "O problema com você, Malfoy, é que tudo que você diz, para mim, é mentira. Todo aquele papo de que você se sente sozinho e que comigo não é assim, para mim, é mentira!", ela dissera, gastando todas as suas energias em algo que já tinha destino certo. Recebeu a resposta de que ele nunca fora totalmente sincero com ela, e que Gina deveria estar ciente disso.

E a lembrança da última real conversa que tivera com Malfoy retornou à sua mente com toda a força. A única discussão de Gina com o sonserino que, de uma forma estranha, fizera sentido. Gina estava tão furiosa, tão derrotada por todos os acontecimentos, por saber que não parecia haver mais saída. Não podia mais agüentar as presunções e acusações do futuro Comensal ― ao menos, para ela, tinha quase certeza disto ―, encontrá-los nos corredores de Hogwarts, enfrentá-lo dia após dia, tentar apagar o quanto de razão ele achava que possuía. As palavras de Draco logo retornaram aos seus pensamentos. As frases de maior impacto que Malfoy jamais dissera a ela:

"Eu não me importo se caso me tornar Comensal da Morte, terei de matar centenas de pessoas, pois este sou eu. Eu quero conseguir poder, não há mal nisso. Sou uma pessoa ambiciosa, senão não estaria na Sonserina. Mas quero também admiração e isso não terei de todos nunca, seja ficando ao lado de Dumbledore ou do Lorde. É uma escolha minha, Weasley, e ninguém tem a ver com isso, nem você, nem Dumbledore, nem Voldemort. Uma escolha minha, somente minha. Entre a vida e a morte."

Gina abriu os olhos e voltou a mirar o horizonte quente daquele final de tarde na primavera. Seu destino estava escrito. Lutar ao lado de sua família, resistir aos exércitos das trevas de Você-Sabe-Quem, nunca desistir. Porém, nada era tão simples. Não era fácil sacrificar tudo em sua existência para lutar, assim como não era fácil sacrificar aquele maldito desejo por Malfoy. Dividir seus pensamentos entre dois filhos de Comensais da Morte, tentar entender o porquê de estar perdendo Julian para uma guerra sem solução, a não ser a morte de Voldemort ― e não somente dele, como também de todos os seus ideais. Tom Riddle estava tão vivo em suas memórias como o gosto dos beijos de Draco e a quentura dos abraços de Julian. O Lorde das Trevas estava à espreita, pronto para dar o bote, para acabar com ela e com todos os outros aliados de Dumbledore.

A visão de vassouras correndo pelo ar despertou Gina da visível desesperança. No horizonte, elas dançavam uma contra a outra. Rapidamente, os olhos dela se arregalaram, e fechou o livro bruscamente.

― O treino de quadribol! ― exclamou de súbito, levantando da mesa.

Saindo em disparada da biblioteca, Gina correu para a Torre da Grifinória, pegou sua vassoura, colocou seu traje de quadribol, e desceu até os jardins em velocidade recorde. A imagem de Harry, reclamando de seu atraso, bateu diretamente contra seus pensamentos. O capitão podia estar furioso...

Os passos de Gina diminuíram devagar. Correndo os olhos pelo chão, virou-se para trás, notando que tinha acabado de deixar a Torre, e notou onde estava localizada. O mesmo corredor da noite passada. O corredor em que passou para voltar da Torre da Corvinal, com Julian. A passagem em que encontrou o capitão do time de quadribol da Grifinória. O mesmo capitão que a pegou de surpresa e a beijou, debulhado em lágrimas.

A idéia de que Harry Potter a beijara realmente tirou Gina dos trilhos na noite passada. Não que tenha renascido algum tipo de sentimento que ela nutria por ele anteriormente, mas fora uma experiência, no mínimo, inesperada. Havia algo de tão errado com Harry que ela mesma não soube como reagir quando sentiu os lábios dele contra os dela. Não revelou a ninguém sobre o que acontecera, e também não cruzara com o rapaz os últimos dois dias. Sequer foi capaz de entender o motivo da reação de Harry, desde o choro descontrolado até o beijo sem explicação. E o depois... A expressão de Ametista ao vê-los foi sufocante. Gina correu dali, apavorada, não de algo acontecer a ela, mas por ter causado algo de proporções inimagináveis. Também não cruzou com Ametista durante os dias.

Engraçado era imaginar que, depois de todos os anos fantasiando com aquela cena, assim que acontecera, passara tão rápido e estranhamente que Gina sequer foi capaz de sentir o gosto de beijá-lo. Não que tenha feito muita diferença, já que seus sentimentos por Harry tinham sido enterrados, bem fundo no seu peito, há meses. Mas ainda assim, perturbou-a de algum jeito.

E se ele estiver lá, esperando para dar desculpas ou para ralhar contigo pelo atraso?

Gina voltou a acelerar o passo, não querendo imaginar como poderia ser encontrá-lo depois de tudo que acontecera nas últimas 48 horas. Mas também, não poderia fugir para sempre. Afinal, é só o Harry, pensou ela, sorrindo como poderia estar sendo boba com toda a história.

Repentinamente, o som de guincho chegou aos seus ouvidos. Gina parou e tornou a cabeça para o lado esquerdo, onde havia uma porta entreaberta. Ficando alguns segundos paralisada, apurando os tímpanos, nada voltou a ouvir. Assim que ameaçou dar um novo passo, o guincho tomou seu ouvido novamente e ela tornou-se para trás, observando a porta entreaberta.

― Socorro!

Gina arregalou os olhos, o guincho transformando-se num grito de socorro. Parecia ser uma menininha. Retirando a varinha de dentro da sua veste de quadribol, a jovem colocou-se paralela à porta e silenciou. O choro realmente parecia de uma garotinha, que agora soluçava e pedia bem baixinho, por ajuda.

A ruiva não esperou por muito e escancarou a porta, a varinha apontada para a escuridão da sala. Não havia nada.

Lumus! ― ela agitou a varinha e então a sala pareceu viva em seus olhos... E vazia.

Franzindo a testa e não encontrando nenhuma garotinha em perigo, deu uma melhor visualizada da sala, mas finalmente percebeu que nada havia ali. Suspirando em alívio, recobrando os ensinamentos de Snape e Ártemis nas aulas de Aprendizes, Gina deu as costas e voltou-se para a porta. Neste exato momento, a passagem se fechou em um estrondo e a mesma voz da garotinha em perigo tomou seus ouvidos, sussurrando:

Expelliarmus!

Antes mesmo que Gina fosse capaz de impedir o ataque, sua varinha voou de sua mão e seu corpo foi arremessado para trás, com muita força contra o chão frio da sala. Tudo escureceu e ela levou as mãos à cabeça, dolorida pelo impulso do feitiço contra seu corpo. Gina gemeu baixinho e procurou tatear o piso, na esperança de encontrar sua varinha. Enquanto engatinhava pelo chão, os olhos começavam a se acostumar com a escuridão da sala.

― Quem está aí? ― ela questionou à escuridão, olhando para todos os lados ao mesmo tempo em que suas mãos percorriam o piso atrás de sua varinha.

Ninguém respondeu. Gina começou a ofegar, sentindo que algo estava para se aproximar de seu corpo. Sentindo uma mudança no ar à sua volta, fechou os olhos, esperando um novo golpe, mas nesse momento suas mãos encontraram sua varinha. Ela virou-se velozmente contra o oponente, ainda de olhos fechados e gritou:

Estupefaça!

Gina não soube dizer se atingiu alguém, mas logo o brilho saiu de sua varinha e ela foi capaz de evitar outro ataque do oponente, já que, por alguns segundos, ficou estatelada no chão como antes, a varinha em punho. Ofegante, voltou a gritar o feitiço que iluminava a ponta da varinha. A sala voltou a clarear levemente, mas não que fizesse muita diferença, já que ninguém parecia estar ali. Olhando para todos os lados, tentando equilibrar-se nos membros doloridos, Gina ficou atenta.

Um barulho chamou sua atenção. Tornou-se para as janelas da sala, fechadas, e nada ouviu. Andando de costas na direção da passagem, checando a frente e os lados de seu corpo, passo atrás de passo, Gina paralisou quando sua mão atingiu a porta. Era como se estivesse de mãos atadas, encurralada, pronta para o bote do inimigo. Girando a maçaneta com suavidade, a respiração e o coração descompassados, virou-se para deixar a sala, sem ter idéia do que acontecera. Talvez eu tenha mesmo estuporado a pessoa.

Assim que chocou o olhar contra a passagem, a voz morreu em sua garganta pelo susto. O coração pareceu ter paralisado, assim como sua respiração. Ele sorriu a ela e disse:

Olá Gina.

E tudo escureceu novamente.


Uma fina garoa caía do lado de fora de Hogwarts e a brisa costumeira da primavera parecia ter sido substituída por uma típica das tardes de outono. Malfoy desligou a torneira e passou as mãos pelo cabelo, retirando o excesso de água. Puxando a toalha para secar o corpo, notou como a sua figura estava cheia de hematomas e arranhões. Fechando os olhos e passando a toalha fofa neles, Draco suspirou. Já devia ter passado de nove horas da noite, a janta havia terminado há horas e tudo que ele podia pensar era na agitação visível e descontrolada de Ronald Weasley. Parecia que sua irmã tinha sido raptada e que um bilhete de aviso fora deixado para Harry Potter.

Um meio sorriso insistiu em se depositar na face do rapaz, mesmo que a toalha passasse pela sua pele ferida e causasse dor. Realmente, a guerra parecia estar muito mais para o Lorde das Trevas. A fuga de Azkaban em janeiro, a invasão dos dementadores nos jardins de Hogwarts dias depois, o incêndio no Ministério da Magia há uma semana, e agora isso. O seqüestro da Weasley. Talvez seu pai tivesse razão. A guerra já estava ganha.

Deixando o banheiro, encontrou o dormitório vazio e escuro. Acendendo algumas das velas ainda restantes no quarto, Draco puxou do armário camiseta e calça, a toalha ainda envolvendo o quadril. Antes de colocá-las, sentou-se à frente do único espelho do quarto, depositado acima de uma mesa encostada na parede. Começou a analisar sua face. Estava pálido, de olheiras fundas, de um meio sorriso derrotado. O tórax, visto parcialmente no espelho, tinha as marcas das batalhas. A indecisão de qual lado tomar, de deixar levar-se pelo poder oferecido por Voldemort ou pela piedade de Dumbledore.

Humpt! Piedade... Eu não preciso disso.

Mas, apesar de todo seu fascínio pelo poder, seja ele obtido por Voldemort ou Dumbledore, haviam questões a serem resolvidas internamente. Como um exemplo, Draco ainda não tinha idéia do por que não contara a seu pai que não sabia qual lado Snape estava em toda aquela guerra. Pelo que seu pai dizia, nas reuniões de Comensais da Morte, Snape continuava o mesmo, jurando fidelidade e tudo o mais para o Lorde. Porém, nas aulas de Aprendizes, Snape sempre dizia sobre o quanto era importante a defesa das Artes das Trevas, já que Voldemort, cedo ou tarde, todos enfrentariam.

Os dedos encontraram um arranhão recém adquirido na bochecha direita. Draco respirou fundo e imaginou como sua missão seria recebida. Seu pai, certamente, ficaria orgulhoso. Contudo, isso não significava que ele tinha ficado satisfeito com o resultado final. Após muito relutar consigo mesmo, teve de realizar o desejo de seu pai e de Voldemort. Não entendia também o porquê de ter de realizar aquela missão, já que para o Lorde seria ainda mais fácil. No entanto, tinha mesmo de provar que poderia ser um bom Comensal ― caso escolhesse esse caminho.

Perdendo bastante de sua concentração observando aquele arranhão em sua face, as velas fazendo um jogo de sombras em seu rosto, Draco não notou que havia mais alguém naquele quarto.

Alguém encostado ao lado da janela de sua cama, assistindo-o hipnotizado em seus pensamentos.

― Imagino que esteja feliz, Malfoy.

Arregalando os olhos, despertando dos próprios devaneios, olhou para sua expressão chocada no espelho e a notou no fundo da pintura. Ao lado de seu leito estava ela. Maldição.

Tornando-se rapidamente para a cama, seu olhar encontrou o de Ametista Dumbledore. Draco ficou silencioso, apenas admirando a audácia da jovem em entrar no seu dormitório, sem ser convidada, e ainda ficar ali, presunçosa. A recordação de dois dias atrás o atingiu em cheio, algo que ele pretendia não mais pensar, pois revirava seu estômago. Como eles podiam ter se beijado, ele ainda não sabia. Por mais que Ametista fosse alguém por quem ele poderia se atrair pela personalidade, no mesmo grau, era alguém que Draco havia jurado a si mesmo uma única coisa: distância.

― Surpreso em me encontrar aqui? ― questionou ela, os braços cruzados, numa posição descontraída.

Draco apertou a toalha ao redor do quadril e apoiou as mãos nos joelhos, a postura quase ameaçadora.

― Aqui, talvez. Mas eu nunca me deixo de surpreender contigo, Dumbledore ― respondeu ele, intrigado. ― Hum... O que exatamente você procura por aqui? Não estou vendo o Potinho...

A menção do nome do ex-namorado fez o coração de Ametista bater mais rápido em seu peito, a expressão corporal intacta, não desejando mostrar o quanto apenas tocar no nome de Harry Potter poderia fazer-lhe mal. Malfoy apertou os olhos, procurando alguma reação visível na garota, erguendo o tórax. Ametista viu como Malfoy ainda podia ser um garoto franzino e patético.

― Queria somente provar uma teoria minha... ― disse Ametista, a voz vacilando imperceptivelmente no início.

― E conseguiu? ― perguntou Draco, elevando uma de suas sobrancelhas, puxando a calça acima da mesa e tentando colocá-la.

Enquanto Ametista observava a cena em que Draco levantava da cadeira e puxava as calças pelas pernas e acima da cueca que havia por baixo da toalha, analisou-o. Ele realmente acha que pode me enganar com toda essa postura. Mas, ele esquece que eu posso ser bem mais esperta que ele. Olhando para fora, enquanto a garoa caía, respirou fundo. As marcas e os hematomas espalhados pelo corpo de Malfoy indicavam como sua teoria era verdadeira. Ametista sabia demais sobre ele, sem ter prova alguma. Contudo, podia assegurar unicamente pela sua intuição de que estava certa.

E colocaria um ponto final agora mesmo.

― Pode ter certeza disso, Malfoy.

Draco olhou diretamente para Ametista enquanto jogava a toalha contra o leito e pegava sua camiseta. O rosto de Ametista não podia ser lido naquela hora. Malfoy odiava estar um passo atrás dela, sabia o quanto Ametista poderia ser perigosa e traiçoeira. A jovem era capaz, incrivelmente, de ler seus pensamentos ou coisas parecidas. Pois, sempre que podia, um passo a frente dele estava.

― E que teoria era essa que diz respeito a mim, esquizofrênica?

Um suave sorriso apareceu nos lábios dela. Draco ganhou um arrepio ao pensar como fora completamente inexplicável beijar aqueles lábios. Não da maneira que os beijou. Violento, sagaz, interminável, faminto. A poção que Figg colocou na de invisibilidade para tomarem era, certamente, a mais forte que Draco já se arriscara a beber. O efeito ainda corria pelas suas veias. E tinha de admitir que alguns dos arranhões na própria pele foram causados pelas unhas dela.

― Não disse que era sobre você, egocêntrico...

― Mas para estar no meu quarto, deve ser, eu presumo ― respondeu, notando que Ametista erguera levemente a cabeça e que arranhões apareceram em seu pescoço. Estranhou. ― Então, Dumbledore, não ocupe meu tempo...

Ametista deu uma risada que quebrou completamente a linha de raciocínio de Malfoy. Draco paralisou e fechou a cara, cruzando os braços da mesma maneira que ela cruzava os próprios. Elevando a cabeça para rir, Ametista denunciou melhor as marcas no pescoço e que desapareciam por baixo do uniforme da Sonserina. Malfoy franziu a testa.

― Realmente não sei o que você quer comigo ou o que está fazendo no meu quarto, mas eu vou te dar duas opções ― e ele descruzou os braços, os olhos procurando a varinha, pronto para estuporá-la, se necessário. ― Ou você me diz logo o que quer e sai voando daqui, ou então faço você engolir a risada sarcástica, esquizo...

― Nossa, fuinha, pode ir com calma ― lentamente ela parou de rir, o sorriso ainda no rosto. ― Pensei que te encontraria de mais bom humor, mas acho que me enganei...

― E por que eu estaria de bom humor? ― indagou, a varinha longe de seu alcance, ao lado de Ametista, em seu leito.

A expressão, de divertida, passou para enigmática. Draco observou como Ametista parecia ter o controle de suas ações e emoções.

― Acho que está perdendo seu tempo aqui, Dumbledore ― disse ele, ainda paralisado, as velas brincando com as imagens que se formavam dos móveis e dos corpos. ― Vá para a Grifinória, para a Casa dos patetas, dar um apoio para os pobretões, vá que é o de melhor que pode fazer...

― Sabe, eu fico impressionada como você tenta fugir de mim ― Ametista tinha no tom da voz uma certeza infinita. ― Não adianta querer esconder mais, Malfoy...

― Esconder o quê! ― perguntou, sua voz fria e seca como de costume. ― Os leões devem querer um apoio, vá embora do meu quarto, não quero mais ver a cara da namorada do Cicatriz, sai...!

Ametista abaixou a cabeça, riu mais uma vez, e então Malfoy ouviu o som da porta trancar-se. Olhando rapidamente para a maçaneta e depois de volta para Ametista, ouviu alguém tentar abri-la. A jovem ergueu a cabeça e ficou observando suas reações. Draco engoliu em seco e sustentou o olhar duro, caminhando de lado até a porta. Tocando na maçaneta, notou que não poderia movê-la. Imediatamente, do lado de fora, foi capaz de perceber os chamados de Crabbe e Goyle.

Alguém aí dentro! Abram essa porta!

Malfoy tornou-se para Ametista. A sonserina havia se movido, saído de perto da janela e dava passos em sua direção.

― Não há mais porque esconder de mim, seu porco nojento ― desta vez, o tom ríspido comum de Ametista aflorou e Draco tornou-se para ela, as costas contra a porta, ouvindo os socos dos seus brutamontes. ― Já sei qual é o seu plano, eu desconfiei desde o ano passado, quando você quis se aproximar da Gina, e a coitada caiu... ― as vozes de Crabbe e Goyle ficavam cada vez mais altas. ― Primeiro, a coisa toda do filho arrependido, depois do garoto incompreendido, e finalmente do cara arrogante e indispensável ― Ametista estava a cinco passos dele e as velas faziam sombras tenebrosas em seu rosto. ― Eu soube desde o início, Malfoy...

― Você simplesmente enlouqueceu, Dumbledore...

Abram essa porra, agora! Crabbe, vamos derrubar se não abrirem!

― Enlouqueci? ― a expressão de Ametista era de quase loucura. ― Mesmo? ― Draco ergueu a cabeça, num tom superior, sentindo a proximidade da jovem. ― Você seqüestrou a Weasley, eu sei que foi você...

― O quê! AH! Pelo amor de Merlin, Dumbledore, teorias de conspiração não! Você definitivamente ficou maluca...

― Mas sabe qual é o pior, Malfoy! É que eu entendo perfeitamente a intenção dessa sua atitude ― ela o atropelou e continuou se aproximando. ― Voldemort quer uma isca... Para Potter, para meu avô, para mim...

― Dumbledore, abra essa porta maldita, sua louca...!

― Só que, antes de executar esse rapto ridículo, tudo que você precisava era dizer.

― Do que você está falando! ― esbravejou finalmente Draco, vendo que Ametista tinha cessado a caminhada até ele, o coração dentro de seu peito disparado.

Ametista voltou a dar o meio sorriso, a cabeça indicando algo negativamente.

― Tudo que você precisava fazer era pedir.

E então, antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa, Ametista deu um passo para trás e estendeu as mãos. Unindo-as como se fosse algemá-las, a jovem apertou os olhos e respirou fundo. Somente naquele momento, Draco percebeu o que ela queria dizer. Sua boca entreabriu-se em surpresa.

Pedir? Um pedido...?

― Esta é a sua chance, Malfoy. Eu estou me rendendo. Leve-me até Voldemort.

Para Draco pareceu uma verdadeira eternidade. Vê-la estendida, rendida daquela maneira, pedindo para ser levada à, possivelmente, morte. Ametista estava simplesmente desperdiçando todos os anos em que Dumbledore tentou defende-la e esconde-la do alcance do Lorde das Trevas. Mas, Draco sabia que vinha com um preço.

― E então, Malfoy! ― questionou ela, o tom forte e seguro. ― É pegar ou largar. A sua chance. Leve-me a Voldemort e acabe com toda essa palhaçada. Chega de fazer os outros sofrerem por causa de um capricho do seu Mestre ― Draco desencostou da porta, ouvindo o escândalo de Goyle e Crabbe. ― Tudo que você precisava fazer era pedir. E aqui estou eu, aceitando. Leve-me.

Dois minutos depois, a porta do dormitório masculino dos sextanistas da Sonserina estava sendo colocada abaixo. Crabbe e Goyle respiraram fundo, cansados, a porta em seus pés. Os jovens ergueram os olhos e não viram ninguém no quarto. Apenas a janela da cama de Draco Malfoy aberta, as cortinas agitadas pela ventania da noite de primavera.


No Próximo Capítulo: Hogwarts está enlouquecida e a Ordem da Fênix tem que descobrir para onde Gina Weasley foi levada. Ainda sem consciência de que Ametista rendeu-se a Draco Malfoy, Dumbledore e seu esquadrão correm atrás do relógio e de um único paradeiro: A Ilha dos Ciclopes.