HARRY POTTER E O OLHO DA ESCURIDÃO

Nota da Autora (1): ATUALIZAÇÃO! Sim sim sim! Acreditem e não é uma miragem! Eu realmente estou atualizando! E bem hoje, dia 12 de Dezembro, pois hoje o site Varinha de Prata faz três aninhos de vida! Quanto tempo, não é mesmo! Estou felicíssima! E então, hoje mesmo concluí as oito páginas que faltavam e o capítulo está aqui. O último antes da AÇÃO! Ilha dos Ciclopes, aí vamos nós no próximo hein! Espero que gostem!

Nota da Autora (2): Os famosos agradecimentos:
Shadow.leat:
Imagine se eu deixaria o Harry levar o crédito por matar dois dos personagens mais polêmicos da fic! Afe mamys, nem mesmo em sua homenagem eu seria capaz de tanto! Hahaha! Saudades de você! Beijos!
Srta. Kinomoto:
Vixi, felicidade pra esse cara vai demorar muito, coitado! A OdE termina mal... Já até disse isso... Ele ainda sofre um bocadinho, mas vida de herói é assim mesmo. E outra, ele já foi bastante feliz nesse ano, olha o quanto de coisa ele curtiu com a namorada... hahaha! Beijos!
Nice:
Olá menina! Como você está? Então, a Ame-Ame é meio louca mesmo, esquizofrênica total... Mas mesmo assim, eu ainda a adoro! Hahaha! E olha, não precisa lançar rumores não hein! Não morri, estou vivinha e muito bem por aqui! E ria sim dos capítulos e do tio Voldie... Ele e seu plano são ÓTIMOS! Beijos querida!
Kirina
Malfoy: Olá garota! Adoro suas reviews, enoooormes, dá pra sentir o que você acha mesmo dos capítulos! Adoooro! Hahaha! Nossa, o que você disse na review está certinha sobre o tio Voldie, sabe. Com relação à Ametista, ele não a quer viva se for para ser sua inimiga, prefere que esteja ao seu lado por uma série de razões que aparecerão nos próximos capítulos, e, caso ficar contra ele, pode ter certeza que ele não hesita em dar um fim na coitada. AH sim! O Harry deu a louca nesse capítulo também, não é? Mas, fique calma que nesse agora ele está mais ajustado. Sobre a Gina, ela terá um importante papel agora nesse final da história, e a Ametista se rendeu SIM ao Lorde. Agora, resta saber porquê ela faria algo assim. E sobre a Ártemis, está chegando um capítulo SÓ SOBRE ELA! É isso mesmo! Overdose de Ártemis Figg! Vai ser demais! Valeu meeeeesmooo pelos comentários viuuu querida! Beijos!
Anaisa:
Olá menina! Ficou com raiva do Harry? Bom, o cara foi traído da pior maneira possível né? Vamos dar um crédito pra ele também... Hehehe! Então, sobre a Gina, como eu disse acima pra Kirina, ela terá um importante papel nesse final e um maior ainda na próxima fanfic, na Portal, mas ela não é uma herdeira não, sorry. Demorou, mas chegou hein! Beijos!
Bruna Lupin Black:
Conseguiu terminar? Agora tem mais um capítulo aqui para você! Nesse capítulo ainda não dá pra saber exatamente o que vai acontecer com a Gina, mas aí vem coisa boa viu, te garanto! E a Ametista e o Harry não foram precipitados... Alguns namoros terminam assim mesmo.. E outra, eles são orgulhosos demais para desculparem um ao outro ou aceitarem que estavam errados. Sobre o Remo, eu adooooro ele... Mas nessa fanfic não vai ter muita coisa dele e da Heather não... Até porque ela sumiu e ele está em coma profundo, ainda nem sabemos se ele vai ser forte o bastante para resistir, sobreviver e acordar... O lobinho tá muito machucado mesmo. E MUITO OBRIGADA MEEEEESMO pelos elogios viuuu! Espero que goste deste capítulo também! Beijos!
Karen13:
MUIÉÉÉ! AMIGA DO CORAÇÃO! Bom, você já sabe que nós comentamos muuuuuuuuito sobre esse capítulo né.. e aliás, se você der uma olhadinha nesse aqui, vai ver que eu mudei o nome do capítulo, é que ele estava trocado, infelizmente... Hehehehe! Acontece não é? E é claro que algumas cenas clássicas, do tipo pessoas que vomitam de nojo, outros que querem se tornar assassinos e outros que são perfeitamente IMATUROS... ou sem noção mesmo! (Rony é foda!) Espero que goste dele agora, completinho! AMO VOCÊ! Beijão!
Victor:
Chegou o capítulo! Hahaha! Faculdade tem dessas... Mas olha, o Harry ainda está numa fase de transição... E a Ártemis... Hum! Essa ainda vai dar o que falar, sabe como é.. Sempre há uns segredinhos para o último parágrafo da fic... Hehehe! Beijosss!
Tatiana Potter:
ATUALIZADO! HAHAHAHAHAHAHAHA! Valeu meninaaaa! Beijos!

Nota da Autora (3): Para quem queria um pouquinho do que é o "Olho da Escuridão", tem algumas pistas nesse capítulo... E o Senhor Severo Snape sabe muito bem o que é! Espero que gostem do capítulo MESMO e espero eu também que não demore para atualizar o próximo! RETA FINAL GALERA! Obrigada pela paciência todos esses meses... Vocês são uns amores! BEIJOS! Angie


CAPÍTULO TRINTA E SETE ― A JORNADA DE DUMBLEDORE

Olhando pela janela, Snape viu a noite cair e o céu se fechar. Haveria uma tempestade das boas naquele dia. As velas iluminavam seu dormitório enquanto ele permanecia em pé diante da abertura, assistindo o vento atingir e agitar as árvores da Floresta Proibida. Sua mão direita tocava o antebraço esquerdo de maneira leve, ao passo que o rosto do professor denunciava preocupação e incômodo. Há duas noites, a Marca Negra em seu braço ardia e sangrava. Um péssimo sinal, mas ainda sem a certeza, já que Voldemort ainda não havia se comunicado com os Comensais, ou mesmo Lúcio Malfoy, o chefe de todos eles. Supostamente.

Carregando o olhar até o antebraço dolorido, Snape retirou o manto de sua veste de cima da Marca Negra. Ela parecia viva, iluminada pelos pontos de sangue que deixara marcado seu membro superior esquerdo. Como uma tatuagem feita na hora, o líquido avermelhado produzia vida à pintura do mal. Snape franziu a testa e tentou encontrar respostas para o seqüestro da jovem Weasley. Não pensou que Voldemort precisasse dela novamente, de uma amante de trouxas, da simples sétima filha de Arthur e Molly. Razões aparentes não existiam, sequer ouviu qualquer assunto sobre isso nas últimas reuniões com o Lorde. A Trindade das Sombras também nada comentara. Não sabia o que pensar.

Voltando o olhar para a janela, assistiu uma coruja viajar diretamente a ele. Snape ergueu a cabeça e estendeu o braço direito, deixando que a coruja pousasse ali. Do bico do animal, retirou um pedaço de pergaminho enrolado e preso com uma fita esverdeada. Dando as costas para a janela, apoiando-se no parapeito, Snape afugentou a coruja e tratou de abrir a carta. Sabia que um recado de Voldemort não seria, afinal, ele nunca mandaria ordens por uma carta e uma coruja, isso seria estúpido demais. Com os dedos correndo rapidamente pela fita verde e desfazendo o nó, Snape segurou a respiração. Era uma grafia conhecida. A letra de Ametista.

Severo,
Tomei uma decisão e achei que deveria avisar-te. Sei que estou afastada de você e não pense que esqueci a nossa última briga, pois não esqueci mesmo. Porém, acho que, desta vez, você é o único que vai me entender. Caso eu não esteja mais nos terrenos de Hogwarts, esta carta estará em suas mãos, assim, preste atenção.
Nessa hora, você já deve saber que Gina Weasley foi seqüestrada. Pois bem. Eu acho que sei quem a raptou. Não me pergunte, sabe que não direi. Especialmente por uma carta e sem a confirmação, ainda que tudo indique a minha razão. Então, estou indo atrás do raptor. Já que você está lendo isso, estava certa. Como ambos sabemos que Voldemort está por trás disso, o raptor está do seu lado. Assim, se você ou alguém mais quiser saber onde estou, ache Voldemort. Sim, é isso mesmo, eu me rendi. Hoje pretendo acabar com todo o inferno que ele me fez passar durante esses anos. E não voltarei atrás. Portanto, aconselho que vocês achem logo onde Voldemort se esconde para me ajudar também.
Mas, antes que você corra atrás de mim ou faça questão de responsabilizar meu pai pela minha atitude ― e sei que está adorando a chance de fazer isto ―, tenho algo pra te contar. Há alguns dias, eu me meti em encrenca na aula da Figg. Ela colocou Malfoy e eu em detenção juntos. O problema era que tivemos de roubar sete poções de seu armário particular: Superbia, Avaratia, Priguitia, Ira, Invidia, Ingluvies e Luxuries. Por favor, vá atrás dela para descobrir o porquê. Fiquei muito intrigada, mas não podia negar, já que, caso ela relatasse ao meu avô e ao meu pai sobre uma nova detenção, eles me colocavam para fora de Hogwarts.
Acho que é isso... Espero que você possa ajudar a encontrar Voldemort e a explicar ao meu pai o que eu fiz. Quero colocar um ponto final em tudo, e só poderei fazer sozinha... Você me ensinou isso...
Ametista D.

Snape não sabia o que fazer com aquele pergaminho entre os dedos. Talvez, se corresse, se fizesse um feitiço, uma poção, a faria desistir de uma idéia tão estúpida. Ametista estava se rendendo ao pior inimigo, a quem deseja não matá-la, e sim usá-la para alguma coisa muito pior. O professor deixou o corpo ficar largado encostado no parapeito por mais alguns segundos, tentando processar o conteúdo daquela carta. E o que era aquela história de Ártemis? O que a bruxa poderia querer com suas poções, ainda mais aquelas poções?

De costas para sua janela, o mestre perdeu completamente a seqüência de seus pensamentos, o que precisava fazer, para onde correr, pois uma forte luminosidade invadiu sua sala pela janela. Snape sentiu o corpo gelar e tornou-se para trás. No alto da Floresta Proibida, o homem assistiu a Marca Negra conjurada, grande, majestosa, exatamente como Voldemort sempre exigiu de seus seguidores. A tatuagem em seu antebraço ardeu com maior intensidade e Snape ouviu baixinho, como o sibilo de uma cobra, três palavras: Ilha dos Ciclopes.

Deixando o pergaminho para trás e todo o resto de suas coisas, Snape saiu em disparada de sua sala, sequer pensando em como poderia estar Ametista naquele momento. Voldemort iniciara a reunião final de seus Comensais da Morte. Snape tinha de avisar alguém, então decidiu correr para a sala de Dumbledore sem pestanejar.

O que ele não sabia era que, naquele exato instante, criaturas invadiam os portões de Hogwarts.

Passando pela entrada da sala comunal da Sonserina, Snape ignorou alguns chamados de alunos e continuou a apressar o passo até a sala do diretor. Não tinha idéia de como chegar para o velho, dizer que a jovem Weasley deveria estar nas mãos de Voldemort, assim como sua neta, que se rendera ao raptor da filha de Arthur. E que, ainda por cima, ele não poderia guiá-los até a Ilha dos Ciclopes, pois inúmeros Comensais estariam também se dirigindo para lá e certamente desconfiariam dele.

Contudo, assim que dobrara o último corredor anterior até Dumbledore, encontrou uma algazarra. Arthur, Molly, os irmãos Weasley ― menos Percy, logicamente ―, a garota Granger, Black e Dumbledore estavam reunidos do lado de fora, gritando uns com os outros. A matriarca da família Weasley chorava a plenos pulmões, pedindo a presença e a recuperação de sua única filha mulher. Arthur tremia da cabeça aos pés, sendo amparado pelos filhos mais velhos, Carlinhos e Gui. Rony pedia explicações a Dumbledore, esquecendo-se completamente com quem falava, pelo tom da discussão. Hermione puxava o braço do namorado e tentava fazê-lo parar de gritar com o diretor da Escola. Black assistia a tudo, tentando acalmar a todos, mas era impossível. Assistindo toda aquela situação incontrolável, Snape aproximou-se de Sirius e pediu uma palavra.

― Oh, Snape, diga que tem alguma notícia boa, por favor, ― disse Sirius, a voz quase derrotada. ― Está impossível de acalmá-los. Quer dizer, acabaram de perder Percy, agora Gina também é seqüestrada...

― E eu imagino que você esteja querendo ser o herói e resolver tudo logo, não é? ― respondeu Snape, amargo como sempre.

Sirius apertou as sobrancelhas, os olhos azuis escuros brilhando contra Snape.

― Não faça isso agora, seu filho da mãe, não me provoque! ― garantiu Sirius, os dedos coçando para não puxar Snape pelo colarinho.

Antes que Snape fosse capaz de responder, Arthur chamou Sirius e puxou-o de seu alcance. O professor irritou-se, querendo logo avisar Black sobre o sumiço da própria filha ― como se odiava por ter de admitir aquilo ―, mas parecia que o bruxo realmente tinha razão. Com os Weasley naquele estado, seria inviável avisá-los. Respirando fundo, viu a porta que dava para a escada giratória da sala de Dumbledore aberta. Snape imaginou que alguém mais calmo deveria estar lá em cima, e desejou seguir em frente.

Na sala do diretor, Arabella controlava a respiração com certa dificuldade, enquanto assistia seu afilhado andar de um lado ao outro de sua sala. Sentada naquela cadeira, suas costas doíam de um jeito que nunca se arriscaram a incomodá-la antes. Pensou nos ensinamentos de Madame Pomfrey, até porque, ainda que o bebê não estivesse de fato chutando, era como se ele tentasse subir pela sua coluna e sair pelo seu pulmão. A morena fechou os olhos e tirou a imagem de Harry correndo pelo âmbito, com o pergaminho amassado entre os dedos. "Inspire... Expire... Inspire... Expire...". As costas chiaram mais uma vez e ela empinou a lombar contra a cadeira, sentindo o macio contra as batidas. Era como se enfiassem facas, cada vez mais fundo.

― Eu não consigo acreditar que seqüestraram a Gina aqui dentro, debaixo de nossos narizes, Bella, eu simplesmente não consigo acreditar! ― o som dos passos de Harry cessaram. A cadeira riscou o chão. ― Como ele conseguiu isso? Como?

Estava começando a suar frio. A mestra de Aparatação respirou outra vez da maneira indicada pela enfermeira de Hogwarts, e então percebeu que a imagem de Harry ficava ora fora de foco, ora extremamente embaçada. Seus sentidos começavam a enganá-la. Com os olhos fechados, imagens corriam pela sua cabeça. Imagens de homens vestidos em negro, formando uma grande roda, envolvendo uma mulher de cabelos vermelhos. Depois, de seres altos e lentos, que gemiam e sugavam o ar, como dementadores. Uma grande escadaria, uma colina, árvores se movimentando e escondendo um castelo destruído. Seu coração acelerou os batimentos, e ela teve medo. Imediatamente, paralisou sua mente e arregalou os olhos.

De olhos abertos então, Arabella viu Harry com as mãos na cabeça, apoiados nos joelhos. Certamente, estava se culpando novamente. Não era preciso ler seus pensamentos para saber. Prosseguindo com sua respiração, era capaz de ouvir a inquietação de Rony do lado de fora. Assim que descobrira sobre o sumiço da irmã, paralisou o jantar e saiu em disparada atrás de Dumbledore, cobrando explicações e uma reação imediata. Sirius fora convocado para reunir a Ordem da Fênix, enquanto ela tinha de cuidar dos ânimos de quem recebeu o maldito pergaminho: Harry. Mas era física e psicologicamente cuidar de Harry naquela situação.

― Onde podemos procurá-la, Bella?

Tocando a testa, procurando desviar a dor em suas costas para outro lugar, assim como aquelas imagens perturbadoras, Arabella bufou.

― Eu não sei, Harry, e já te disse isso...

― Mas você é da Ordem, você deve saber das investigações que estavam fazendo para achar Voldemort...!

Eu não sei, Harry, porque seu padrinho não me deixa chegar perto de qualquer ação da Ordem ― frisou Arabella, a voz tomada por agonia e uma pontinha de revolta. ― Tenho certeza que Bellacroix e Rawlings já estão atrás disso ― seu olhar cruzou com o de Harry e ela irritou-se. ― Oh, pelo amor de Deus, Harry. Pare com isso, por favor!

Harry olhou para longe e quebrou o contato psíquico. Ele estava ficando bom em ignorar os comandos da madrinha. Arabella soltou a respiração e engoliu longamente, concentrando-se na imagem embaçada de Harry à sua frente. A dor estava se intensificando.

― Se não fosse Gina, seria outra pessoa... Você sabe que Voldemort estará sempre atrás daqueles que importam a você, fazia assim com todos nós em minha época e continua fazendo desde que te encontrou em Hogwarts há seis anos.

― É Gina, Bella... GINA! Novamente!

Arabella rolou os olhos, sem saber o que dizer. Suas costas não estavam deixando que pensasse com clareza. Havia alguma coisa errada com seu corpo ou com seu bebê, não podia ser possível. Apertando os olhos e, agora sua vez, ignorando o afilhado, ela ergueu-se da cadeira e apoiou-se na janela.

Seus olhos fecharam-se rapidamente e ela, então, não foi capaz de abri-los mais uma vez. A cena de homens em preto apareceu outra vez, agora formando um círculo à volta de uma forte fonte de energia. No meio desta roda, existiam quatro pessoas que davam as mãos, enquanto quatro instrumentos de batalha estavam empilhados: havia um escudo azulado, uma flecha dourada, uma espada prateada e um cajado levemente esverdeado. Dessas pessoas e desses instrumentos saía uma forte bola de energia, negro no meio e avermelhado até o limite. Então, as criaturas que pareciam dementadores corriam atrás de pessoas, sugavam o ar. Uma dor fortíssima atingiu seu peito e Arabella desejou abrir os olhos, mas logo que conseguira, eles se tornaram arregalados e escuros, fixos em um único ponto da sala. Entretanto, ela estava perdida em visões. Alguém disparava a flecha dourada, outro segurava o escudo nos braços contra um raio esverdeado, uma outra pessoa apontava a espada para o coração de outro e um último erguia o cajado e iluminava ao seu redor, enquanto sangue escorria pela sua extensão. Havia muito sangue, o tempo todo. Havia muitos gritos, muitos pedidos de socorro, o choro desconsolado de uma garota. Sangue novamente que escorria pelo cajado e pela espada...

Quando a dor passou a ser incontrolável e insuportável, Arabella paralisou seu corpo. Uma força fora do comum a fez parar suas visões. Assim que recuperou sua respiração, Arabella assistiu Harry encará-la intrigado. Ele dizia alguma coisa, mas ela não podia ouvir. Assim, colocou uma das mãos na lombar e, com a outra, segurou-se no parapeito. Sua pele transpirava. Estava gelada.

― Harry, chame Sirius, por favor...

Harry ficou ainda olhando para a madrinha, aproximando-se aos poucos, notando como ela ficara estranha, quieta e incrivelmente pálida nos últimos e velozes segundos. Então, ouviu-a clamar pela presença de seu padrinho outra vez. O coração dela voltou a disparar, e Arabella continuava suando frio, os batimentos incontroláveis. Sua visão estava escurecendo.

― Harry... Sirius... Por favor...

O monitor da Grifinória apenas conseguiu murmurar qualquer coisa e saiu em disparada. Quando chegou ao limite da sala, de frente para a escada giratória, Harry encontrou-se com o professor de Poções. Seu corpo veio de encontro com o próprio, e Snape soltou um grunhido irritado. Harry sequer pediu desculpas ou quis se explicar, e deixou o mestre de Poções para trás. Snape ainda torceu o nariz para o aluno e disse qualquer coisa, mas paralisou assim que viu o corpo de Arabella Figg cair atrás da mesa de Dumbledore.

Correndo até ela, temendo pela queda, o homem percebeu que ela praticamente desmaiara. A mulher agitava a cabeça de lado a outro, as mãos sobre a barriga, os olhos cheios de lágrimas. Snape não soube como agir primeiramente, apenas assistindo-a agonizar naquele chão, até que Arabella conseguiu acalmar-se e então, puxou os braços de Snape contra o peito dela.

O professor macilento ficou sem jeito, enquanto Arabella tentava erguer-se levemente, a pele extremamente trêmula e gelada. Snape disse para ela manter-se deitada que seria melhor, mas então ela pediu que ele se abaixasse. Quase Snape não foi capaz de ouvir o que Figg tinha a dizer, mas abaixou-se até que a boca dela ficasse próxima de seu ouvido. Com os olhos concentrados na expressão desesperada e dolorosa de Arabella, Snape aquietou-se e ouviu-a:

― Severo... Chegou sua hora... ― Snape percebeu que o olhar cheio de lágrimas de Arabella parecia levemente perdido. Sabia sobre o poder de Arabella, a tal das visões que eram motivo de piada nos seus tempos de Hogwarts. ― Você terá de pagar pelo que fizera há dezessete anos... ― o ar desapareceu dos pulmões de Snape, e ele pediu para que Potter logo voltasse com ajuda. ― Você deve isso à Hariel... A todos nós... ― o olhar de Arabella estava difícil de ser encarado, especialmente naquela situação toda. A mulher continuava a puxá-lo para mais perto, ambos caídos contra o chão da sala de Dumbledore, escondidos atrás da mesa do diretor. ― Vá até Voldemort... Seja por uma última vez o seguidor perfeito que ele acredita você ser... Mas, desta vez... Salve quem deve ser salvo... ― Arabella derrubou as lágrimas de seus olhos sem ainda fechá-los desde o início daquele relato. ― Salve a filha de Hariel... Por ela... Se você realmente a ama como diz amar, faça isso... Salve Ametista das mãos de Slytherin...

No momento, Snape recebeu um estalo na mente.

― Salvá-la de Salazar Slytherin?

Arabella puxou suas mãos com maior força e ele sentiu as juntas dos dedos doerem.

― Não a deixe chegar perto de Slytherin... Voldemort é o menor dos problemas... ― Arabella suspirou e Snape notou que seu peito deveria estar pesado demais para que ela conseguisse respirar direito. ― Não permita que Slytherin a possua... Voldemort, Severo... Voldemort quer Harry, Hermione, Ametista e eu... Não permita que ele os possua... ― Snape ainda tentou retrucar, mas Arabella, então, ergueu o corpo e aproximou seu rosto do de Snape, seus narizes quase tocando. ― Voldemort é o mal, Severo... Ele trará de volta Slytherin, Gryffindor, Ravenclaw e Hufflepuff... Ele quer o Olho da Escuridão... ― os olhos de Snape se arregalaram e ele perdeu completamente a respiração. Voldemort nunca conseguiria algo como o Olho da Escuridão. ― Não permita! Dezoito anos atrás ele criou esse plano... E hoje colocará em ação... Salve Ametista... Salve ela e salve Harry também... Salve-os por Hariel e por todos nós... Somente assim, poderemos evitar que Voldemort conjure o Olho da Escuridão... Não importa que perca o seu disfarce, Severo... Apenas... Não permita que Voldemort conjure o Olho, Severo... Ou ele matará a todos nós...

Snape ainda tentou arrancar algo a mais de Arabella, mas a mulher perdeu a consciência e caiu de volta ao chão, desacordada. O professor somente conseguiu respirar então, ainda chocado demais para falar qualquer coisa ou ser capaz de soltar a mulher de seus braços. O som de passos chegou muito perto de seu ouvido, e pôde ouvir o grito de Black, empurrando-o de cima da mulher. Snape caiu contra a cadeira de Dumbledore, enquanto Sirius caía em seus joelhos à frente de Arabella e agachava diante da noiva.

― Bella! Bella! Pelo amor de Merlin, fale comigo! ― Sirius colocou o corpo contra a mesa de Dumbledore, seus joelhos ainda dobrados, suas mãos indo ao encontro dos ombros da mulher desmaiada. ― BELLA! BELLA! ACORDE! ― Snape continuou com os olhos arregalados, assistindo ao desespero de Sirius. ― ALGUÉM FAÇA ALGUMA PORRA, PELO AMOR DE MERLIN! BELLAAAAAAAAAA!

O mestre de Poções não percebeu de onde Madame Pomfrey apareceu, mas a enfermeira veio ágil até eles, agachou-se como Sirius e apontou a arma para o abdômen de Arabella. Sua varinha brilhou num tom azulado, e então rosado. Suavemente, a mulher soltou um suspiro aliviado, e tocou o rosto da professora caída, puxando suas pálpebras e analisando o estado das pupilas. Sirius parecia enlouquecido ao lado da enfermeira e de Arabella, Snape notando como o homem estava pálido e tinha os olhos cheios de água. Severo recordou-se de quando viu Black pela última vez antes do homem ser capturado e mandado por doze anos para Azkaban. Era uma noite chuvosa, logo após o encontro dele com Hariel Dumbledore, na época já Black. Snape tinha revelado há uma semana sobre o sangue nobre da filha deles. Voldemort havia mandado Snape seguir os passos dos Black naquela semana, portanto, Sirius havia descoberto sobre a origem da filha e deixado Hariel. Num bar da cidadezinha, Severo Snape encontrou Sirius Black daquela exata maneira ― como se houvesse perdido a vida, por alguns momentos.

Naquele ponto, Severo percebeu o que Arabella tinha dito sobre Voldemort e Ametista, e sobre o quanto seria responsabilidade sua salvar quem ajudou a destruir. Apenas a idéia de Black perder outro filho, perder outra esposa, outro sentido de família, provocou aquela mesma cena pela segunda vez na vida de Sirius e de Snape. Não que o professor macilento sentisse pena ou piedade por Black, ele realmente odiava quem era, o quê era e o que representava Sirius Black. Entretanto, aquela lembrança... Snape havia destruído tantas vidas no decorrer da própria. Era hora de colocar um final nisto. Ou um final na própria vida.

― Ela está bem? Por favor, me diga, ela está bem? ― questionou Sirius, ainda no tom alucinado, os olhos vidrados na figura desacordada e pálida caída no chão. ― Me diga que ela está bem... E o nosso filho, por favor, me diga logo... Ela está bem ou não? Oh, por favor!

Madame Pomfrey ajeitou as costas e passou a varinha sobre o corpo adormecido de Arabella outra vez, os tons das cores variando entre o azul e o rosa. Sirius levou as mãos sobre a cabeça, e então mexeu nos fios escuros do cabelo. Seu desespero era visível.

― Sim, ela está bem, senhor Black ― confirmou Pomfrey, a voz pausada. ― Arabella tem feito exames regulares... Sua pressão deve ter caído, seu corpo está visivelmente cansado ― ela tornou-se para Snape. ― O que houve, Snape?

O professor engoliu em seco e sentiu o quanto estivera transpirando naqueles últimos segundos. Enquanto Madame Pomfrey esperava uma resposta, Snape notou como a sala estava cheia de gente. Potter, em pé, aguardava uma resposta assim como Black e Pomfrey. Dumbledore olhava de esguelha, enquanto dois aurores do Ministério da Magia detalhavam alguma estratégia. Os filhos mais velhos de Weasley, Gui e Carlinhos, observavam de longe a conversa entre os aurores e o diretor. Parecia que tinham ouvido uma explosão.

― Ela estava delirando quando cheguei aqui ― disse ele, o tom vazio e amargo mantido. ― Apenas fiquei ao seu lado até que perdeu a consciência e vocês chegaram.

Para sua surpresa, Sirius não se deu ao trabalho de protestar. Ergueu-se do chão, pediu espaço para Madame Pomfrey e levantou o corpo de Arabella nos seus braços. Aninhando a mulher no colo, indicou com a cabeça algo para Pomfrey e ambos deixaram a sala de Dumbledore. Harry ainda agitou-se por uns segundos, tentando ver qual era o estado da madrinha. Snape gastou alguns instantes para se recuperar, até que imaginou como poderia obedecer ao pedido de Figg. Dumbledore ainda conversava baixinho com os aurores do Ministério, e interromper naquele estado não seria o melhor. Toda a situação sobre a caçula dos Weasley estava afetando a todos.

Com isso, despertou em sua mente uma das idéias mais estúpidas que já tivera. Erguendo-se do chão, tornou-se para Harry e disse:

― Potter, uma palavra.


Harry sinceramente não tinha idéia do que Severo Snape poderia querer falar com ele naquela altura do dia. Primeiro que seu estômago estava positivamente embrulhado, a lembrança da pequena Gina de onze anos dominada por Voldemort não saía de sua cabeça. Depois, era difícil controlar os ânimos quando sua madrinha, a mulher que escolhera acolher ele como um filho, desmaiar e perder os sentidos numa hora como àquela. Sem contar que algo dizia a ele, bem no âmago, que precisava ir atrás de Ametista. Por mais que não desejasse vê-la pintada de ouro, Harry tinha a estranha sensação de que, caso não fosse procurá-la, talvez fosse tarde demais.

Desceu as escadas junto de Snape, deixando para trás toda a confusão na sala do diretor de Hogwarts. O pouco movimento nos corredores denunciava o tarde horário. Possivelmente, passava de nove horas. O mestre de Poções levou Harry até dois corredores após a sala de Dumbledore e mandou que ele falasse baixo e apenas escutasse.

― Acredite Potter, você foi a minha última opção nesse caso, mas preciso que... Preciso que... Que...

Enquanto o professor engasgava e não era capaz de dizer o que precisava de Harry, o jovem da Grifinória foi capaz de notar como Severo Snape estava com a expressão duvidosa. Caso fosse capaz de ler pensamentos como sua madrinha, certamente tentaria ler os pensamentos do velho Snape e descobrir o que o fez ficar daquele jeito. O homem tremia da cabeça aos pés, não respirava direito, tossia e suava visivelmente. E, não obstante, tentava não demonstrar como era um poço de insegurança e nervosismo para aquele que odiou desde o primeiro momento em que seus olhos se cruzaram.

O gaguejar de Snape paralisou assim que colocou os olhos em Harry. Não havia como controlar, mas era uma vitória notar algum tipo de fraqueza no velho e ranzinza desprezível Severo Snape. Harry não conseguia imaginar o que causaria isso, porém logo que descobrisse, iria cumprimentar a pessoa com orgulho.

― Tire esse olhar presunçoso da cara, Potter! ― protestou Snape, aborrecido como nos velhos tempos.

― Que olhar presunçoso, professor? Somente não entendo o porquê de o senhor me chamar aqui. ― respondeu o jovem calmamente.

Snape respirou fundo e resmungou alguma coisa que Harry não conseguiu entender, entretanto teve a leve impressão de que o nome de Ametista estava envolvido. O mestre encarou o aluno e questionou:

― De quem Ametista foi atrás, Potter?

O monitor olhou para os lados e desejou responder de maneira ácida algum nome que dedilhou a ponta de sua língua. "Sua protegida andou por aí atrás do seu outro protegido, seu filho da puta. Aliás, você adoraria saber disso, não é mesmo?", pensou ele amargo.

― Potter! Responda-me e não fique me olhando com essa cara estúpida! ― Snape esbravejou quando Harry não respondeu, as suas bochechas cada vez mais pálidas.

Harry deu de ombros.

― Eu não tenho idéia do que está falando, professor.

― Não brinque comigo, seu fedelho...

― Não estou, professor, não sei o que a sua protegida anda fazendo por aí...

Foi tão rápido que Harry não teve tempo de reagir, apenas sentiu os dedos gelados de Severo Snape alcançarem seu pescoço e agarrarem o colarinho de sua camisa, elevando-o a uma considerável altura e batendo suas costas e cabeça contra a parede do corredor. Harry gemeu quando a parte posterior de sua cabeça atingiu a superfície áspera.

― Potter, seu miserável, não me provoque! Dumbledore não está aqui e ele nunca saberá como você se machucou, seu idiota ― Snape puxou e depois empurrou o corpo de Harry pendurado pelos seus dedos contra a parede. ― Diga-me atrás de quem Ametista foi!

Harry procurou ignorar o incômodo de toda aquela situação, tentando se desvencilhar do homem, uma fúria intensa surgindo dentro de si, disse a primeira coisa que lhe veio à cabeça:

― Ainda não procurou no dormitório masculino da Sonserina, Snape? É só procurar debaixo dos lençóis do Malfoy que vai encontrá-la lá rapidinho!

Nunca o jovem tinha parado para imaginar que tipo de poderes Severo Snape poderia ter sendo ele um ex-Comensal da Morte. E, possivelmente, nunca tivesse a oportunidade de conhecer. Porém, naquele momento, soube como podia existir força humana naquele alto e magro corpo coberto por vestes negras. Harry foi puxado contra Snape novamente, no ataque de ira repentina, e impulsionado para trás, contra a parede no final do corredor, a cinco metros de onde estava anteriormente. Seu corpo bateu contra a vidraça do corredor e trincou, caindo contra o piso logo após.

Sua cabeça girou levemente, um pouco perdido, sem saber explicar como tinha voado cinco metros apenas pelo impulso dos dedos no colarinho por Snape. Jogando a cabeça para trás e apoiando-a contra a parede, ouviu como os vitrais ainda se moviam com o choque de seu corpo. Um zumbido atingiu seus tímpanos e ele não quis abrir os olhos, dolorido. Ou levantar do chão. Deu-se conta de que deveria erguer-se quando o tom seco e grave de Snape chegou aos seus ouvidos.

― Como você pode falar uma coisa dessas, seu verme? ― Harry sabia que Snape estava enojado. ― Você é sim igualzinho ao seu pai, Potter ― tocar no nome de seu pai fez com que Harry erguesse os olhos até encontrar Snape. ― Ele também não tinha o mínimo respeito por nada, por nenhum ser humano, por que eu deveria esperar isso de você para com Ametista?

O professor abaixou-se até encontrar-se no nível de Harry e puxou o rosto dele na sua direção, forçando-o a abrir os olhos. Harry sentiu os dedos de Snape puxarem suas bochechas fortemente.

― Realmente, eu deveria estar louco quando pensei em falar com um fedelho petulante como você ― ele encarava Harry firme. ― Ao menos, seja prestativo em avisar Dumbledore disso ― o jovem respirou fundo e tossiu com dificuldade, enquanto os dedos de Severo se enterravam mais ainda nas suas bochechas. ― Ametista foi atrás de alguém que a levou direto para as mãos de Voldemort ― Harry arregalou os olhos. ― Isso mesmo, seu imprestável. Ametista deve estar nesse momento se rendendo à Voldemort, e eu pretendo ir ao encontro dela. Avise isso a Dumbledore, ele sabe para onde eu vou.

Snape soltou o rosto de Harry e sua cabeça caiu para trás, o jovem ainda ligeiramente zonzo. Quando o mestre levantou-se, o som de passos atingiu seus ouvidos e ele tornou-se para um dos corredores. Dumbledore estava lá, assistindo a tudo. Snape apenas agitou a cabeça e saiu em disparada, sem dizer nada.

O diretor caminhou lentamente até Harry, enquanto o jovem tentava sacudir a cabeça e ganhar novamente balanço e estabilidade. Dumbledore aproximou-se de Harry, estendeu a mão e puxou o aluno para cima, ajudando-o a erguer-se do chão. Antes que Harry abrisse os lábios, Dumbledore disse:

― Vamos logo, Harry. Os Cavaleiros localizaram Voldemort e vão abrir a passagem para nós.


Arabella respirava com dificuldade, deitada no leito macio da Ala Hospitalar, os olhos fechados em concordância com as dores em seu corpo. Chegara há pouco mais de dez minutos, e seu noivo ainda repousava ao seu lado, a mão esquerda envolvendo a sua carinhosamente. Como ela poderia convencer Sirius àquilo? Nunca o bruxo aceitaria a condição de deixá-la daquela maneira para lutar... Em seu lugar.

― Como está se sentindo, Arabella? ― questionou Madame Pomfrey repentinamente.

A imagem da enfermeira tomou sua visão, deixando seus pensamentos sobre o que deveria fazer. Sirius ergueu a cabeça e encarou Arabella, miserável.

― Estou um pouco melhor, Papoula ― respondeu, a voz fraca e vacilante. ― Minha cabeça ainda dói muito. Minhas costas também.

― Bom, tenho certeza de que daí ― a enfermeira apontou para a barriga de sete meses da mulher. ― sairá um guerreiro... Ou uma guerreira. Daquelas bem invocadas que adoram passeios à minha Ala.

Um frasco amarelado foi dirigido à garganta de Arabella. Madame Pomfrey deu as costas e voltou a seus afazeres.

Sirius abaixou a cabeça e beijou o peito da mão da morena, olhando-a de lado. Arabella possivelmente vira Sirius daquela maneira poucas vezes durante todos os anos em que se conheciam. Vê-lo miserável. Infelizmente, não havia muito que pudesse fazer. Talvez Pomfrey acreditara que fora somente um mal estar, mas Sirius sabia. Arabella havia tido visões diante de Sirius, ele conhecia as reações em seu corpo. Com a gravidez, provavelmente, os efeitos colaterais do dom se intensificaram. E isso não escapara de seu domínio. O homem ergueu a cabeça levemente e disse:

― Às vezes, odeio isso...

O modo com que Sirius olhou para a noiva foi surpreendente. Será que ele já sabia? Arabella engoliu em seco, a dor em suas costas pedindo que ela respirasse com mais calma. Sirius teria de aceitar que pedi-la em casamento, criar uma família com ela, não trazia exatamente paz. A bruxa esperava que Sirius continuasse, mas seu olhar era imponente pela primeira vez naquela noite. Era como se apenas a forma com que a observava já queria esclarecer que nunca faria os desejos de Arabella. A grávida mordeu o lábio, desviou e suspirou.

― Não serei capaz de te deixar aqui...

Arabella franziu a testa, com dificuldade ainda, e questionou do quê Sirius falava. O bruxo forçou os profundos olhos azuis escuros sobre a noiva e pareceu, mais uma vez, ainda mais devastado que anteriormente, quando beijava sua mão.

― Estou de mãos atadas, Bella. Com você, com Harry, com Ametista... Não posso fazer nada ― ele desviou o olhar e algo barulhento foi ouvido bem longe. ― E não adianta dizer, pois não vou fazer o que você quer ― Sirius frisou, ao tempo em que notou como uma movimentação acontecia do lado de fora da Ala. ― Eu repito... Às vezes, odeio esse seu dom...

Os olhos de Arabella se encheram de água, e foi a vez dela olhar para longe do rosto de Sirius. Não faça isso agora, Sirius, pelo amor de Deus, não agora. Não me faça arrepender-me de tudo que passamos juntos e tudo que batalhamos e vencemos...

― Isso sempre se meteu entre nós dois... ― continuou ele, a voz distante e rancorosa. ― Entre você e seu pai... Você e o filho da puta do Adams... Você e sua irmã...

― Não faça isso agora, Sirius ― disse ela, o tom duro e magoado, as lágrimas querendo cair de seus olhos. ― Se for para falar sobre isso, então cale a boca e me deixe sozinha ― Sirius voltou a olhar para ela, assustado com sua reação. ― Esse dom é parte de mim, e se as pessoas não entendem isso, se você não entende isso, então realmente não sei como pude confiar em seus julgamentos sobre nós durante todos esses anos.

― Bella...

― NÃO! ― exclamou ela, um soluço escapando de sua garganta. ― Você quer ouvir isso mesmo, Sirius? Quer ouvir que esse dom pode ter destruído todas as minhas relações, e está prestes a estragar a nossa também se você não aceitar qual é a realidade! ― a expressão de Sirius amoleceu. Era difícil demais encará-la daquela maneira, exausta, sem forças e magoada. ― Se você sabia, por que então pediu para que eu ficasse àquela noite contigo?

― Amor, não...

― Por que pediu para que eu me cassasse com você!

Sirius tentou tocar os dedos das mãos da noiva, mas Arabella não permitiu. A mulher ergueu suavemente o corpo do leito, tentando encarar Sirius em totalidade, por mais que aquilo machucasse ainda mais seu coração.

― Esse dom, Sirius, é parte de mim. E ele também será parte do nosso filho, queira isso você ou não ― Sirius nada respondeu e esperou que Arabella terminasse. ― Também esta gravidez é parte de mim, e ela interfere sim no meu dom... E irá interferir nessa batalha...

― Eu não vou...

― Sim, você vai, Sirius, e vai pelo seu afilhado! Por Tiago e Lílian! Eles depositaram em nós toda a confiança em proteger e criar Harry! Quer decepcioná-los?― interrompeu Arabella, a voz ainda em tom duro. ― Seu filho somente estará seguro se você aceitar esse meu pedido e fizer o que eu mando, Sirius, eu preciso que você entenda isso! Não haverá nosso filho caso você não proteja aqueles que serão capazes de destruir a ameaça real! ― Sirius tentou novamente interromper, mas Arabella continuou. ― Você tem de me prometer que fará o que eu te disse há duas semanas, Sirius, por favor.

O bruxo olhou para longe, uma lágrima caindo de seu olho esquerdo, desejando esquecer as palavras ditas pela noiva naquela noite de maio. "Já que Dumbledore e você ficam de segredos comigo, vou ser direta, Sirius. Caso seja necessária a minha presença nessa batalha contra Voldemort, e sei que não poderei lutar, o meu dom será seu por vinte e quatro horas... E não adianta você querer impedir!", ela dissera, o tom magoado que andava carregando desde que ele decidiu afastá-la da Ordem. O dom de Rowena Ravenclaw seria, certamente, transferido para o filho deles. E, para piorar, caso o dom fosse necessário para a batalha final contra Voldemort, enquanto Arabella estivesse grávida, o risco de colocar a vida do filho deles em perigo era enorme. Portanto, Arabella sacrificaria-o por alguns instantes, enquanto Sirius receberia parte do dom, já que fora criado um vínculo entre eles. Um vínculo eterno, crescendo no ventre da única descendente viva da grande feiticeira Rowena.

Era terrível saber que nada o faria escapar. Sirius não sabia o porquê do uso do dom, mas se Arabella dissesse que era necessário, então era. Ela nunca dera um palpite errado. Sirius fora testemunha, por todos aqueles anos. Arabella sabia do que falava, e então não havia como fugir. Repentinamente, Sirius Black viraria o descendente de Ravenclaw, ainda sem saber o motivo. Coisas parecidas já tinham ocorrido com ele anteriormente em relação à Hariel. Era difícil lembrar de como Arabella previra a morte de Hariel, de uma forma inusitada, mas previra. Tinha ele de usar todo seu controle para dominar o que havia dentro dele, manipular suas emoções e acreditar que aquilo seria para o melhor. As vinte e quatro horas mais duras desde os tempos em Azkaban, certamente.

Com os olhos fechados, Sirius subiu na cama. Havia um pequeno espaço no leito da Ala Hospitalar, ao lado do corpo da noiva, ainda chorosa, e sentou-se. Respirando fundo, ele tocou os dedos da mulher e assistiu o semblante de Arabella mudar. A pele ganhou um tom macilento e sua respiração ficou desigual. Sirius não soube como aconteceu, apenas abaixou o torso e abraçou a noiva com carinho. Arabella soltou um soluço, passou os dedos pelo cabelo escuro do bruxo e disse, num sussurro:

― Eu nunca vou deixar de te amar, e agora você é parte de mim também.

Uma gostosa corrente de calor saiu das mãos delicadas e finas da bruxa, ao mesmo tempo em que Sirius beijava a fronte da noiva. Um pequeno sorriso surgiu nos seus lábios e ele soube como exatamente fazer uso daquela benção. Imaginou se Arabella sempre carregava aquela energia tão poderosa em suas estranhas, e gostou da sensação. Arabella puxou o rosto de Sirius na direção do seu, beijando seus lábios com cuidado, como se tivesse o poder de feri-los ao menor toque. O ar desapareceu dos pulmões do bruxo, e ele desejou que ele momento ainda não tivesse fim. Não gostaria de pensar como uma despedida, mas tinha de entender que todo o poder passado a ele significava a salvação de Arabella, de seu filho e de todos do mundo bruxo. Se ela garantira o poder a ele, então Sirius faria o uso certo dele.

Separando os lábios suavemente dos do noivo, Arabella, ainda de olhos fechados, disse:

Abençôo-te com o poder de Rowena Ravenclaw, do clã da sabedoria e da grandeza da feitiçaria do bem.

A energia teve seu fim assim que Sirius abriu os olhos e foi capaz de ler exatamente o que passava pela mente de Arabella. Ela dizia que o amava e que seria eternamente grata. E que ele teria apenas 24 horas. Vinte e quatro horas. Sirius entreabriu os lábios, incerto do que dizer, mas foi impedido ao ouvir uma explosão. Uma forte luminosidade esverdeada atingiu suas vistas. Sirius soltou-se do abraço, segurando as mãos frias da mulher, pulando em um susto. Sentiu uma forte tontura, um enjôo subindo pela garganta e o gosto amargo chegando até o limite de sua boca. O bruxo segurou com toda a força e respirou fundo, antes de prosseguir. Aquela reação corporal deveria ser normal. Arabella sentiu uma forte dor no peito assim que Sirius levantou da cama e soltou sua mão, indo até a janela oposta. A bruxa foi capaz de perceber que Sirius abafou uma reação de surpresa, e então se virou para ela tomado por um desespero.

― O que está acontecendo lá fora, Sirius? ― perguntou ela, aflita.

Sirius nada respondeu, apenas voltou para onde estava em passo acelerado, acomodando-se no mesmo espaço do colchão ao lado da noiva debilitada. Arabella não precisava de respostas àquela hora, já que Sirius abraçou-a, protegendo a bruxa debaixo de seus braços, quando uma série de explosões foi ouvida, e um dos vitrais da Ala Hospitalar estilhaçou com a força da bola de fogo que subia aos ares. Arabella suprimiu um grito e encolheu-se contra a cabeceira do leito, apavorada. Sirius abraçou-a mais forte e Arabella ergueu o olhar para ele, outro vitral se quebrando. Foi possível ouvir Madame Pomfrey correndo na direção deles, gritando desnorteada sobre o quê poderia estar acontecendo.

― Black! Que diabos está ocorrendo em Hogwarts! ― a enfermeira viu-os abraçados e então, envoltos numa nuvem de energia.

Sem entender absolutamente nada, Pomfrey saiu da Ala Hospitalar pedindo ajuda. Gritava que Hogwarts estava sob ataque. Arabella trocou um olhar de desespero com Sirius e ele soube. O dom de Ravenclaw tinha suas vantagens, e rapidamente ele tentou imaginar o que Arabella já tinha lido na mente de várias pessoas. Porém, o que aparecia em sua mente era muito mais importante, e ele respondeu:

― Não posso prometer isto a você, Bella...

― Não! Prometa a mim ― Sirius negou e outra explosão chegou aos seus ouvidos. ― Por favor, pelo amor que você possui por eles, Sirius. Sei que é capaz... Fique junto da Ordem... Mas não se aproxime de Harry, Ametista ou Hermione diante de Voldemort... Proteja-os, mas de longe. Prometa-me.

― Eu...

Antes que Sirius finalizasse, Harry adentrou na Ala Hospitalar, o rosto pálido e a respiração agitada, os cabelos escuros por toda a parte de seu rosto. Dumbledore estava logo atrás.

― Más notícias... Há dementadores no jardim, Sirius! E Ametista...

― O que há com Ametista? ― Sirius ergueu-se do leito velozmente, num tom desesperado.

― Ela... ― Harry desviou o olhar, constrangido, e completou. ― Rápido, Sirius... Ela se rendeu a Voldemort.


Os jardins de Hogwarts haviam se tornado uma praça de guerra. Dementadores, mais de vinte, tentavam circular o castelo, deixando todos sem saída. Os alunos estavam reunidos em suas Casas, os professores McGonagall e Flitwick responsáveis pelos feitiços de segurança em cada uma delas. Outros mestres acompanhavam os defensores do castelo nos jardins. Um sinal foi enviado para toda Hogwarts, mandando os estudantes voltarem para suas Torres urgentemente. Os monitores deveriam conter a histeria dos jovens e tentar transmitir o máximo de calma possível naquela situação.

Para Hermione, aquele parecia ser o fim de Hogwarts. A jovem estava encostada numa das grandes janelas do Salão Principal, assistindo estarrecida a luta contra os dementadores do lado de fora. Os jardins estavam tomados por pessoas vestidas em branco e preto, os aurores e espiões do Ministério da Magia. Matt Holm estivera há poucos minutos com Dumbledore e enviara um recado para o Departamento de Execução das Leis Mágicas, pedindo reforços para o Departamento de Aurores e o Departamento de Espionagem. Eram pelo menos quinze bruxos pertencentes aos dois departamentos para controlar a ação dos mais de vinte dementadores. Hermione sentiu um arrepio e o coração disparou de imaginar o que poderia acontecer caso os espiões e aurores não fossem capazes de conter a investida dos dementadores.

― Eles darão conta, mon petit... Não se preocupe.

Hermione virou a cabeça para encontrar a espadachim Hauspie Bellacroix. A mulher tinha um feio hematoma no braço direito, pouco acima do cotovelo, quase como se houvesse queimado aquela região. Os olhos profundamente azuis da francesa encontraram os de Hermione e ela colocou a mão direita no ombro da monitora da Grifinória, tentando algum tipo de apoio. Hermione, então, olhou os Weasley reunidos num canto do Salão. Molly havia aparado de chorar, mas sua expressão parecida de alguém morto, sem razão de viver. A pele estava tão pálida quanto a da espadachim, a esperança há muito deixada para trás. Rony andava de lado a lado, à frente de seus pais, apavorado e sem saber o que fazer para tentar salvar a irmã.

― Nós iremos salvá-la, descobrimos o paradeiro de Voldemort, certamente a encontraremos, fique tranqüila... ― continuou lentamente a mulher. ― Mas, sabe... Você também tem que manter as esperanças, Granger...

"Como manter as esperanças quando acontece tanta desgraça junto?", pensou Hermione, concentrando-se no semblante calmo de Bellacroix. A garota não tinha a mínima idéia que Dumbledore possuía algum plano articulado para salvar Gina, porém certamente imaginava que algo grande viria logo. Mais adiante, estavam reunidos todos os membros da Ordem que Hermione conhecera na debandada de Comensais e dementadores de Azkaban em janeiro. E mais do que isso, a monitora podia sentir que algo de muito sério a esperava, mas que, ao mesmo tempo, teria de ser forte e, caso fosse, venceria os desafios. Hermione sentiu um calor incomum ao seu redor e ouviu um burburinho entre os presentes no Salão Principal.

Dumbledore adentrou, sério e compenetrado em seus passos, Harry ao seu lado. Hermione havia visto o amigo abatido e bastante furioso após receber o recado do seqüestro de Gina. Entretanto, agora o jovem estava tão pálido quanto a Sra. Weasley e Hauspie Bellacroix. Por um curto momento, Harry ergueu a cabeça e encontrou o olhar de Hermione, preocupada, em sua direção. Hermione podia jurar que Harry parecia querer vomitar ou coisa assim.

Atrás de ambos, três figuras os acompanhavam. A imagem do assustador Hades renasceu em Hermione lembranças aterrorizantes. O fogo, o sofrimento, a agonia infinita... Os três Cavaleiros de Merlin, conhecidos como Ares, Hades e Cronos, andavam lentamente, arrastando suas longas capas brilhantes e em postura de vitória. Hermione não podia entender como poderiam sentir-se bem com tudo aquilo acontecendo. O estouro e uma explosão despertaram a jovem de seus devaneios, voltando o olhar para fora. Dois segundos depois, as velas do Salão Principal vacilaram e todas se apagaram. Hermione ouviu o guincho da Sra. Weasley, e sentiu a força da mão de Bellacroix em seu ombro aumentar.

Dumbledore acenou para que todos se reunissem ao seu redor, no centro do Salão Principal.

Agora era mais difícil poder ver quem estava presente, mas Hermione tinha a certeza de que vira Sirius Black chegar pouco depois, iluminado pela intensa luminosidade esverdeada da Marca Negra que se estendia sobre a Floresta Proibida. O homem lançou um olhar de esguelha para Dumbledore, Hermione notando como parecia intensamente furioso. Quase alucinado, ela diria.

― Meus amigos, isso é mais difícil do que poderia imaginar ― iniciou o diretor, sua barba prateada também tomando um tom esverdeado. ― Hoje, preciso da força e do empenho de todos. E mais, de sua lealdade ― Bellacroix soltou do ombro de Hermione e deu um passo a frente. ― Voldemort iniciará hoje, ou melhor, já iniciou, um plano desejado há mais de dezessete anos. Voldemort fora, no passado, impedido por Lílian e Harry Potter de prosseguir com a conquista do mundo bruxo ― Hermione notou que Harry continuava imóvel. ― Mas agora, ele tem algo mais forte ao seu lado: Voldemort possui a nossa franqueza, o amor que todos temos por nossos amigos ― Dumbledore olhou para Bellacroix e Hermione. ― O amor que temos por nossos filhos ― a Sra. Weasley deixou escapar um gemido de sua garganta, enquanto Dumbledore lançou-lhe um olhar de compaixão, seguindo logo para Sirius, que retribuiu com uma expressão ainda mais furiosa. ― O amor que temos pelo próximo, por aqueles que nos acompanharam nessa jornada da vida...

O deus Ares deu um passo a mais, ficando ao lado de Dumbledore, e puxou sua varinha de dentro da vestimenta de Cavaleiro de Merlim. Apontando-a para o alto do Salão Principal na parcial escuridão, conjurou uma imagem que Hermione já havia sonhado antes. Parecia um castelo antigo, no alto de uma colina, rodeada por águas escuras e feias. Luzes de diversas cores eram conjuradas de dentro do castelo, enquanto uma grande Marca Negra estendia-se sobre a colina.

― Os Cavaleiros de Merlim realizaram a missão que fora pedida por mim há alguns meses ― disse Dumbledore, olhando para os três deuses. ― Na verdade, duas... A primeira fora descobrir quem seriam os quatro herdeiros de Hogwarts, as quatro pessoas que Voldemort e seus Comensais da Morte estariam perseguindo para possuir ― Hermione olhou para Harry, que apertava os nós dos dedos fortemente, olhando para baixo. ― Tínhamos o conhecimento do herdeiro de Ravenclaw até então ― as pessoas pertencentes à roda se entreolharam. ― Arabella Figg, a nossa professora de Aparatação e filha da minha querida amiga, a Sra. Figg do Ministério da Magia. Arabella nascera com os dois dons de Rowena Ravenclaw, ler mentes e possuir visões proféticas.

― Encontramos recentemente o herdeiro de Hufflepuff ― continuou Ares, o líder dos Comensais da Morte, o tom forte e a voz grossa. ― Na verdade, uma garota trouxa que possui o poder de ver o passado e o poder da verdade.

― A Srta. Granger soube que, por uma razão ainda difícil de entender, era herdeira de Helga Hufflepuff ― completou o diretor mais uma vez, todos na roda passando a olhar para Hermione chocados com tal revelação. Hermione tentou não sustentar os olhares curiosos sobre ela, mas percebeu que Rony e Harry ficaram boquiabertos com a notícia. A jovem olhou para longe até encontrar os olhos verdes inquisidores de Harry em sua direção, sério e ainda muito pálido. Logo depois, desvencilhou-se do melhor amigo e achou o namorado, as bochechas vermelhas e o rosto visivelmente perdido e... Seria traído? Rony não poderia, agora, ficar achando que Hermione havia escondido de propósito e traído sua confiança, não é, pensava ela. ― E Hermione também sabe que possui agora uma tarefa a cumprir.

Bellacroix dirigiu seu olhar para baixo, Hermione ainda olhando para Rony sem saber o que pensar, e tocou seu cabelo cacheado.

― Tudo dará certo, petit amour, não precisa se preocupar ― cochichou Bellacroix, seu cabelo escuro caindo sobre seus olhos azuis, os lábios vermelhos curvados em um suave sorriso. ― Nós confiamos em você e em sua incrível capacidade como uma legítima bruxa.

Hermione sorriu levemente de volta para a espadachim, sentindo uma súbita simpatia pela mulher. Naquele momento, Bellacroix talvez não tivesse noção do tanto que aquelas palavras ajudaram Hermione a se acalmar.

― O herdeiro de Slytherin viria, certamente, da família Riddle, de Voldemort... ― prosseguiu Dumbledore, o olhar querendo dirigir-se para Sirius, mas fixo em um ponto do teto do Salão Principal. ― Sabemos o porquê, portanto, de Voldemort ter planejado o nascimento da minha neta.

― E, finalmente, o herdeiro de Godric Gryffindor, ao nosso lado ― apontou Ares para Harry. ― Potter é uma das chaves que podem destruir Voldemort também nessa noite e que devem, com toda a garra, ficar distante dos planos do Lorde. Nós nunca sabemos o que Voldemort pode querer...

― Com os quatro herdeiros reunidos debaixo do teto de Hogwarts e ao meu lado, é aqui que entra a importância da segunda missão dos Cavaleiros, a ajuda de todos vocês e, especialmente, como vencer essa batalha e salvar nosso mundo ― anunciou Dumbledore, ajeitando os óculos meia-lua e apurando seu olhar sobre cada um dos presentes e ao que Ares conjurou logo acima da cabeça de todos. ― Ares, Cronos, Hades e Helderane ― Harry engoliu em seco. ― encontraram, de boa vontade e muito esforço, onde exatamente ficava a chamada Ilha dos Ciclopes. O exato lugar que Voldemort está localizado e onde, infelizmente, Gina Weasley certamente fora levada.

Minha Gina... Minha filha... ― sofreu Arthur, apoiando-se ao lado da mulher e do filho mais velho, Gui. ― A Ilha dos Ciclopes, Alvo, é apenas uma lenda... Uma lenda para assustar crianças, quer dizer... Isso tudo é uma loucura...!

― Não é Arthur, acredite em mim ― retrucou Dumbledore, o reflexo esverdeado em seus óculos. ― Severo foi até lá e me confirmou, depois os Cavaleiros confirmaram uma segunda vez ― respirou fundo. ― Voldemort realizou um contrato mágico com os ciclopes, donos da ilha, para que pudesse usufruir da Ilha e de seus segredos, enquanto prometera novas almas para que se alimentem, acredite quando eu digo. Voldemort realmente foi longe dessa vez, sua ambição cada vez maior. Porém, para adentrar na Ilha, há um método que, para nós, não-seguidores de Voldemort, seria impossível ingressar...

Hades, pela primeira vez, adentrou na roda e interrompeu Dumbledore.

― Porém, nós iremos abrir o portal que leva este mundo para onde está a Ilha dos Ciclopes ― disse o deus, seus olhos esbranquiçados focalizados nas imagens que Ares conjurara logo acima de suas cabeças. ― A Ilha dos Ciclopes fica na região do Pacífico, mas todos têm de estar em um vilarejo entre Portsmouth e Southampton, no sul...

― Às onze horas da noite, daqui exatamente uma hora e quarenta e sete minutos ― completou precisamente Cronos, o deus do tempo. ― E não pode haver atrasos, o portal somente poderá ser aberto por um minuto e todos devem passar.

― HEY! ― todos se tornaram para a Sra. Weasley, a voz vacilando e ainda dolorosa. ― Quem vai embarcar nessa maluquice, Alvo? Você não pretende deixar que Harry, Hermione e Ametista embarquem nessa loucura junto com a Ordem, pretende? Colocar essas crianças em perigo máximo, de cara com Você-Sabe-Quem! Quero que a Ordem vá, você vá, que salvem minha filha, mas PELO AMOR DE MERLIM, não envolvam mais crianças nessa imundice de guerra, Alvo!

Dumbledore ficou visivelmente calado e impressionado com a reação de Molly. Hermione sabia que a culpa deveria estar comendo o diretor de Hogwarts, mas não havia como evitar. Esse era o plano de Voldemort enfraquecê-los das mais diversas formas, especialmente pelo amor que cada um sentia ali pelo outro.

― Não adianta mais, Molly. Já é tarde demais.

A voz gutural de Sirius atingiu a todos e fez com que concentrassem seus olhares de pânico nele. Sra. Weasley não entendeu o que Sirius quisera dizer com aquilo, a expressão ainda mais chocada que anteriormente.

― O que você quer dizer com isso, Sirius? ― questionou ela, tensa. ― Quem mais está envolvido nessa história que nós não sabemos?

― Molly, nós não temos somente Gina para salvar ― disse Sirius, algo dentro dele emitindo um sofrimento quase palpável em Hermione. ― Ametista rendeu-se a Voldemort há poucas horas ― vários soltaram exclamações de surpresa e medo, assim como Hermione, que arregalou os olhos e perdeu a voz. ― Não sabemos como ainda, mas temos a certeza que, em muito breve, ela estará nas mãos de Voldemort assim como sua filha.

― Por isso mesmo, Molly, precisamos colocar um ponto final em toda essa história, nesse plano arquitetado há anos ― reiterou Dumbledore, ainda bastante culpado. ― Estão em jogo vidas de pessoas que amamos, que fazem parte da nossa vida... E não somente isso, Harry e Hermione irão protegidos pela Ordem, todos farão o possível para trazê-los perfeitamente bem... Mas entenda, Molly, precisamos acabar com Voldemort, com qualquer vestígio de seus seguidores ou qualquer coisa de sua seita do mal.

Um curto silêncio caiu sobre todos e foi Rony quem o quebrou, dando um passo para dentro da roda, sem olhar para Hermione e Harry. Seu cabelo vermelho parecia ofuscado pela intensidade da luz verde que incidia pelo teto e pelas vidraças do Salão. Ele pegou fôlego, uma admirável coragem em sua face, típica dos grifinórios autênticos.

― Tudo isso é muito importante, mas e como nós iremos invadir a Ilha dos Ciclopes, derrotar os Comensais da Morte, descobrir qual é a de Voldemort e, o mais importante, salvar a minha irmã!

Dumbledore caminhou até Rony, colocou a mão no ombro do jovem e tornou-se para os outros.

― Nós venceremos, Sr. Weasley, com tudo que temos ― assegurou Dumbledore. ― Nós possuímos três dos quatro herdeiros ao nosso lado e podemos recuperar Ametista. Ainda não sabemos qual é o papel da sua irmã em todo o plano de Voldemort, mas certamente a tiraremos de lá! Às onze horas, todos estarão posicionados no vilarejo, esperaremos os Cavaleiros abrirem o portal até a Ilha dos Ciclopes e destruiremos Voldemort. E faremos dessa maneira...


WOOSH...

Suas pálpebras piscaram levemente, como se estivesse entrando em sono profundo, mas ainda quase lá. Havia um som distante, de algo que se movia, que se aproximava e então, afastava-se novamente. O ciclo se repetia outra vez. Estava deitada, certamente. E seus lençóis se movimentavam como um suave navegar. Estava suada, pois sentia o corpo úmido, quase molhado.

WOOSH...

As pálpebras piscaram outra vez, algo mordiscando sua roupa com gentileza. Sentia em várias partes de seu corpo, atingindo-a lentamente, ao mesmo tempo, na ponta de seus pés até o limite entre seus ombros e o pescoço. Metade de seu rosto não parecia enfiada em um macio travesseiro, como o da sua cama, e sim em alguma substância pegajosa e também úmida. Fria demais contra sua pele.

WOOSH...

Havia também um 'escorrer' distante, como se alguém deslizasse sobre um ringue de patinação no gelo. E um dos sons que ela mais adorava... Aquele em que as folhas se moviam tão delicadamente contra a água da chuva. O som de uma garoa, o anseio do início de uma tempestade... Parecia se intensificar, assim como aquilo que atingia toda a extensão de seu corpo, antes com gentileza, agora com nervosa inquietação.

Não havia mais razões para seguir com aquele pensamento distante, aquele sonho persistente, as sensações que lhe pareciam tão deliciosas e que começavam a incomodar. As pálpebras piscaram fortemente desta vez, e então ela abriu os olhos, pensando em como aquela manhã deveria estar nublada, já que não havia a costumeira luminosidade sobre sua cabeça. Não conseguiu abri-los em totalidade, embaçados, e fechou-os. Seu dormitório também parecia estranhamente silencioso, não fosse pelo som que lhe agradava tanto, o som da chuva. Apertando as pálpebras, com dificuldade para notar a manhã lá fora, pela sua janela, Ametista conseguiu, finalmente, despertar.

Abriu os olhos, o embaço sumiu e pôde enxergar.

WOOSH...

― AAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH! ― o grito soltou-se de sua garganta com toda a força imaginável em suas cordas vocais.

Havia um homem olhando para ela. Boiando naquelas águas negras que a envolviam. Ele tinha a pele enrugada pelo tempo que deveria estar imerso naquela água toda, os olhos tremendamente arregalados em pavor, a boca aberta, enquanto a água entrava e saía com toda a liberdade de seus pulmões. Um morto, imerso em águas negras, olhando-a despertar de um sono sem sonho. Era impossível de processar tudo que acontecia à sua volta. Porém, era claro distinguir sua cama na Sonserina para aquele lugar odioso e, no mínimo, digno de pavor. Ainda com o grito solto querendo outra vez pular de sua garganta, ela ergueu-se rapidamente de onde estava deitada e olhou ao redor.

Mortos.

Centenas deles.

Corpos boiando... Defuntos... Misturados naquela água negra...

Todos absolutamente mortos.

Ametista não soube por que permanecia em pé ali. Segurou a respiração e procurou entender o que acontecera para estar ali.

Era noite. Possivelmente, três horas após o pôr-do-sol. O céu estava escuro, sem lua e sem estrelas, tomado por nuvens negras que despejavam todo o conteúdo ali, sobre ela. A chuva estava se intensificando e ela olhava para cima, para os lados, e não podia encontrar um ponto de referência a Hogwarts. A noite estava escura e deprimente como um céu do litoral no inverno. Não havia nada, somente a chuva, agora se transformando em tempestade.

Seus dentes começaram a baterem uns contra os outros, a pele fria e inundada em água, colada contra sua roupa, deixando-a em similaridade com um estado febril, pela reação de seu corpo. Ela se batia sem parar, gelada e com medo. Sim, estava com muito medo, e odiava ter de admitir isso para si mesma. Contudo, largada naquele lugar, sem entender o que se passava ou como fora parar ali, não encontrava motivos razoáveis para não perder o pouco de controle que ainda restava. Passando os braços pela fronte e abraçando o próprio tórax, na tentativa frustrada de amenizar o frio que sentia, Ametista pensou no que seus pés estavam afundados. Somente a lembrança de seu despertar a deixou de estômago enjoado.

Guiando seus olhos para baixo, para o monte de água tão escura, Ametista podia observar as gotas da chuva batendo contra a superfície. Existiam centenas de homens como aquele. Imersos. Mortos. Eram os mais diversos corpos, de crianças, de velhos, e jovens que deveriam ter muitas perspectivas, assim como de bebês... Como poderiam bebês estarem imersos naquela água nojenta, suja e aterrorizadora? A mesma água em que ela estivera adormecida.

Tinha que sair dali, tinha que deixar aquele lugar, encontrar-se, descobrir o porquê de estar lá. Mas então, não foi muito preciso para que as lembranças voltassem à sua mente. Os gritos de Ronald Weasley espalharam por toda a escola que sua irmã mais nova havia sido raptada. No mesmo momento, desconfiou. Não, teve a certeza. Ametista foi atrás do raptor, do seqüestrador, numa fúria infinita e numa certeza absoluta. Uma certeza que era somente sua, pelo visto, já que o sonserino fazia parte, supostamente, do esquadrão dos Aprendizes, daqueles que foram escolhidos e decidiram abraçar a guerra. Draco Malfoy tinha seqüestrado Gina Weasley em seus pensamentos e em seu mais profundo, tinha esta certeza. E naquela noite, quando adentrou gatuna pelo quarto de Malfoy e o surpreendera, ganhara sua aposta interna. Todas as conversas cheias de jogadas implícitas, de mensagens subliminares que ele tentava deixar passar. Assim, cumprira sua missão. Encurralou-o, provocou-o, fez Malfoy confessar, não dizendo, mas agindo. Bastava o sonserino ter pedido, feito um único desejo. Ametista achava-se, no topo de seu convencimento, que estava muito mais preparada para enfrentar Voldemort do que qualquer Gina Weasley poderia estar. "Você só pensa desse jeito agora, pois foi ela quem Harry beijou naquela noite", soou em sua mente, fazendo-a negar veemente e reafirmar que sim, se achava muito melhor do que Gina. Ao menos no quesito feitiços. Mesmo que a mesma tenha sido possuída por Voldemort há anos.

A última lembrança em sua mente, portanto, era de Malfoy agarrar seu braço e a vassoura, e voar para longe de Hogwarts, até que, em certo ponto do trajeto, perdeu a continuidade e a consciência. E acordara ali.

O som da chuva insistia em bater contra seus ouvidos e penetrar nas águas escuras, enquanto Ametista tornava-se para trás. Era como se uma espessa camada de névoa abrisse à sua frente, e ela fosse capaz de ver. Não muito longe de suas pernas imersas entre os corpos estava um píer. Uma saída daquele horripilante cemitério flutuante. Era somente alcançá-lo... E havia muito mais a ser alcançado. Parecia um castelo, longe, no alto daquela ilha. Sim, havia uma ilha ali, logo após o término do píer. Ou, ao menos, era o que parecia ser o monte de terra com uma enorme e longa escada sem fim. Árvores circundavam a escadaria, e ela sabia então de onde viera o som da garoa contra a folhagem. Ametista notou que havia mais além daquela escadaria, como o tal castelo, mas suas pernas fraquejaram ao passo que pensou sobre o que poderia encontrar ali. Perguntou-se que razão a trouxe, por que fora pedir isso para o maldito Malfoy. Voldemort estaria lá em cima, a algumas centenas de degraus, mas lá em cima, próximo demais. Você pediu que ele a trouxesse para cá, então, vá! Vá, encontre Voldemort, solte Gina e faça alguma coisa até que cheguem e possam destruir Voldemort, antes que ele próprio a destrua, exatamente como fizera com sua mãe e sua avó.

Ametista ergueu uma de suas pernas, retirando lentamente a canela, o tornozelo e então o pé da água imunda e escura. A chuva já havia encharcado toda sua roupa provavelmente até sua alma, e ela tentou dar um passo em direção ao píer. Abraçando a si mesma ainda, Ametista sentiu algo agarrar seu tornozelo esquerdo, quando estava prestes a caminhar naquele lago mórbido. Mordendo o lábio inferior, soltou-se e olhou para trás e para baixo, encontrando a mão do mesmo homem que vira no seu despertar puxar seu tornozelo para ele. No momento, não era apenas o som da chuva que tomava conta de seus ouvidos. Podia ouvir gritos, sussurros, desesperos e desatinos, clamores por socorro e ajuda, escândalos por morte e por dor, pelo fim da maldição.

A sonserina não era capaz de acostumar-se e, agora, distinguir aquele som odioso. A única coisa que parecia motivá-la a sair dali era a mão que envolvia seu tornozelo, puxando-a de volta para o fundo das águas negras. Os gritos de desespero enchiam seus tímpanos, e era como se pudesse sentir a dor e agonia daquelas vítimas, daqueles corpos imersos. Deveria haver alguma maldição ali, pois todos pareciam mortos há cinco segundos, e agora começavam a gritar e clamar e se levantar.

Não havia muito que fazer, se não tornar-se por completo para trás e socar, com toda a força existente no seu punho direito, o rosto daquele ser. O corpo caiu para trás, sem antes urrar de dor, enquanto outros se erguiam para pegá-la. Ametista puxou a perna com toda a força possível e fez questão de correr para longe, pisando sobre muitos rostos e corpos, ainda que tentasse ignorar esta visão logo abaixo de seus pés. Havia dois ou três também à sua frente, e ela simplesmente ergueu suas mãos e socou um deles da mesma maneira que o outro, bem no meio do rosto, enquanto deu um chute e logo uma joelhada em tantos outros. Ametista nunca foi uma lutadora, não tão boa quanto diziam Gina Weasley ser, mas seus socos e tapas sempre foram atrações, como aquele em Malfoy. "Mas ainda sou melhor que ela em feitiços e maldições".

Não demorou até que chegasse, finalmente, ao píer. A estrutura enfraquecida de madeira tomada pela água negra e possuída por aqueles corpos rangeu assim que o corpo de Ametista subiu nele e correu para longe. Escorregou assim que seus sapatos entraram em contato com o lamaçal que se formou da terra com toda aquela tempestade, e tomando seu equilíbrio de volta, tornou-se para o lago negro. Não havia nada por perto, a não ser aquela ilha. Deveria estar tão longe da costa, e o oceano parecia se estender diante de seus olhos, unidos naquela névoa e cortina de água. Não havia nada por perto, a não ser as árvores e a escadaria que se estendiam logo atrás de seu corpo. Assim que a terra, agora lama, encerrava-se, uma longa escadaria de pedra subia a colina. Uma escadaria com, possivelmente, quinhentos degraus ou mais.

Enquanto controlava a própria respiração do pânico que se instalara em seu corpo desde o despertar, Ametista pensou em como seria subir todos aqueles degraus. Apertando os braços contra a fronte mais uma vez, suspirou e ganhou confiança. Perguntou-se rapidamente sobre sua varinha e passou a bater as mãos contra o corpo, procurando-a. Somente naquele momento percebeu que sua varinha estivera ao alcance do homem nas águas, dentro da longa meia branca ― agora, um misto cinzento e barrento ― até a altura de seus joelhos. Retirou-a e armou-se.

De varinha em riste, Ametista começou a subir os degraus. Parte deles estavam bastante escorregadios, devido à forte chuva que se estendia desde que a jovem despertara. Pisando duro contra a superfície de pedra desnivelada, a sonserina passou a observar as longas e altas árvores que a acompanhavam pela extensão da escadaria. Não saberia defini-las, mas possivelmente seriam pinheiros, daqueles que servem para árvores de Natal. As folhas se moviam com velocidade contra o vento da tempestade, e Ametista sentiu a necessidade urgente de um casaco. Seu corpo estava tão gelado e molhado... A mão esquerda ergueu-se até o braço em riste e passou a friccioná-lo. A camisa branca da Sonserina, acompanhada da gravata, não oferecia nenhum conforto para sua pele fria. As juntas começavam a doer e imaginou como fora burrice não trazer um casaco. Ainda que estivessem na primavera, nunca era demais uma proteção. Foi então que algo piscou e brilhou diante dela.

A jovem parou o ritmo. Olhando para o ponto em que imaginou ter visto algo piscar, sacudiu as pálpebras e apertou os olhos para tentar ver melhor contra todo aquele aguaceiro caindo sobre sua cabeça. Não havia nada... Mas ela podia jurar que havia algo ali. E então, do lado esquerdo de sua visão, piscou novamente. Tornou-se veloz para tentar captar, mas era um brilhar e apagar rápido demais para que pudesse capturar. Engolindo em seco, desejando que a chuva parasse, Ametista resolveu ignorar aquilo e continuar seu trajeto. Desta vez, o ritmo era ligeiramente mais rápido, e ela não soube nem explicar a razão da aceleração. Precisava subir logo.

O único problema era que o tal 'brilhar e apagar' começou a acontecer com maior freqüência e em maior quantidade. Era como se houvesse uma chuva de estrelas cadentes ou então como aquele céu que vira na Torre de Astronomia junto de Harry no Ano-Novo de seu quinto ano. As estrelas piscando, misturando-se com os fogos de artifício trouxas de toda a parte do mundo. Brilhava e sumia depressa demais. Ela apertou o passo, quase subindo correndo todos aqueles degraus. Tinha alguma coisa no meio daqueles pinheiros e ela fugiria e correria o máximo possível.

Sua burrice foi olhar para trás. Havia uma coisa logo ali, a poucos metros dela. Uma coisa grande.

Ametista arregalou os olhos e quase diminuiu o ritmo, chocada com aquilo. Era uma coisa do tamanho de Hagrid... Não, bem maior que ele. Era como um daqueles gigantes que viu no jornal. Um verdadeiro gigante. Ele andava com muita demora, quase como se rastejasse. Ametista foi tomada por um terror muito maior do que aquele no oceano lá embaixo. Um pânico começou a se espalhar pelas suas estranhas, e acabou por diminuir o passo. Tinha de ver o que era aquilo. Estendendo a varinha na direção do gigante, respirou com dificuldade, dizendo:

Lumus!

Diante de seus olhos, a pequena varinha prateada iluminou o pequeno espaço formado entre a coisa e ela. E, de fato, não era um gigante. Pois, gigantes não possuíam somente um olho no meio da cabeça e mais nada. Ametista suprimiu uma outra reação escandalosa, e fez questão de não demorar mais um minuto ali. Tornando-se para trás, com a varinha luminosa dentre seus dedos, correu. Subia dois degraus da mesma vez, três se preciso, subia veloz e cada vez mais, para longe daquilo. Os brilhos entre os pinheiros eram levemente ofuscados pela varinha, mas ela ainda podia vê-los por ali, esperando para revelar-se.

Bastou cinco dezenas de degraus ultrapassados em correria para Ametista largar a varinha no chão e levar as mãos diretamente nos ouvidos. Um lamurio desesperador foi ouvido, como se houvesse centenas de pessoas gritando juntas no mesmo tom elevado, como um enxame de abelhas rainhas, prontas para atacar. O som era alto demais para suportar, então ela caiu de joelhos na escadaria e ralou-os fortemente. Ignorando a dor e o sangue que possivelmente apareceria logo ali, ela tentou inutilmente tampar os tímpanos daquela infernal canção demoníaca.

Ametista ergueu a cabeça e observou os degraus que ainda faltavam. Duzentos, talvez. Apenas mais alguns degraus até o encontro que Voldemort aguarda desde que o Turbatio Sanguinis caíra em suas mãos, e ele realizara a maior obra de sua vida. O início da conquista do mundo... E ela impediria isso de alguma maneira. Nem que fosse com a própria vida. Entretanto, antes que pudesse dar um novo passo, sentiu mãos frias pegarem-na pelas costas e erguerem seu corpo do chão. Ela gritou e bateu as pernas, mesmo que não fosse capaz de ouvir o próprio chamado, abafado pelos sons que aqueles seres colocavam para fora. Um formigar começou a se espalhar por todo o corpo, e pensou que perderia a consciência. Suas pernas e braços ficavam moles, logo desmaiaria. A pressão caía... E então uma forte luz tomou forma diante de seus olhos e ela caiu contra o chão, batendo os joelhos e o rosto outra vez contra a escadaria, perdendo finalmente toda a noção de espaço e tempo.


Harry, Hermione, Rony, Gui, Carlinhos, Dumbledore, Sirius, Hauspie Bellacroix, Rudolph Rawlings, Juliet Stevens, Jack Wingnut e Silver Zylkins estavam prontos para a abertura do portal para a Ilha dos Ciclopes às dez e cinqüenta da noite. Arthur havia ficado com a mulher, Fred e Jorge em Hogwarts, tentando ajudar os outros professores, os aurores e espiões do Ministério a defender Hogwarts dos dementadores. E, claro, também não conseguiria mais assistir outros três filhos seus dirigindo-se à batalha. Gui e Carlinhos faziam parte da Ordem da Fênix, e estavam de lado, reunidos com os outros pertencentes. Azíz El Kassab e Victoria Sacks ficariam em terra firme, na Grã-Bretanha, resolvendo os pendentes administrativos e políticos com o Ministério da Magia e o ministro.

Rony, por sua vez, teve de lutar contra seus pais para que pudesse embarcar junto com Harry e Hermione. Convencê-los de que era um combinado entre os três melhores amigos lutarem sempre juntos fora mais difícil do que imaginara. Muita lágrima rolou dos olhos de sua mãe e de seu pai até que mostrou como Harry e Hermione deveriam tê-lo ao seu lado na hora da batalha contra Voldemort. Ele poderia não ser herdeiro de nenhum dos grandes, mas sua lealdade nunca seria questionada, levada de graça ou mesmo esquecida. Rony fazia parte daquela tríade perfeita entre Harry, ele e Hermione.

Os três estavam perto da água escura da praia, Hermione olhando o mar perdida em pensamentos, Rony desenhando algo na areia, agachado, e Harry observando uma conversa particular entre Sirius e Dumbledore. O vento da noite de primavera ainda era forte, e no ar parecia existir um perfume de flores forte.

― Eu não quero ir...

Harry e Rony despertaram de seus próprios devaneios, olhando para a amiga, enquanto seus cabelos cacheados dançavam no céu escuro da noite. Rony ergueu-se da areia e colocou-se ao lado direito de Hermione, assim como Harry caminhou até ela e postou-se do lado esquerdo. Somente assim puderam perceber como ela parecia apavorada, suas bochechas vermelhas, os lábios trêmulos e os olhos molhados.

― Pela primeira vez, meninos, eu não quero ir... Não quero enfrentar o que há além daqui...

Ambos continuaram calados e notaram quando lágrimas silenciosas caíram dos olhos de Hermione. Talvez ela não soubesse, mas ambos estavam tão incertos quanto ela desta vez. Nas outras oportunidades em que enfrentaram Voldemort ou seus seguidores, parecia tudo muito diferente. Sim, já havia o risco de morte e da separação dos três amigos, mas nunca tão forte como desta vez. Querendo ou não, Voldemort estava muito mais forte agora, ainda mais após estar de posse de Gina e Ametista.

A água escura do Canal da Mancha os trazia a noites escuras como aquele mar, em Hogwarts ou em Godric's Hollow, ou ainda na Toca. Em que passavam horas conversando, decidindo o que seria de seus futuros, o que fariam após Hogwarts, como lidariam quando adultos... E a possibilidade de tudo isso desaparecer era muito mais persistente para eles do que em outras ocasiões. O trio nunca poderia se separar, não daquela maneira cruel. E até mesmo Hermione, a mais corajosa deles, parecia agora temerosa demais para continuar.

― Também não gostaria de ir, mas preciso salvar minha irmã ― disse Rony, baixinho, como se falasse consigo mesmo. Os fios avermelhados de seu cabelo caíam em seus olhos, compridos, fazendo com que os amigos não pudessem ver como seus próprios olhos deviam estar encharcados. ― E, de uma forma muito estranha, querer tirar Gina de lá me faz acreditar que nós vamos sair dessa também ― Rony elevou a cabeça e olhou os dois amigos ao seu lado esquerdo. ― Juntos.

Harry e Hermione deixaram um leve sorriso atingir seus lábios e agradecerem mentalmente pela força de Rony. Hermione tocou a mão esquerda de Rony e entrelaçou seus dedos com cuidado. No momento, o que Hermione sentia pelo namorado pareceu crescer.

― Ainda não vejo como a Ametista teve coragem de se render a Voldemort... ― murmurou Hermione, ignorando a agitação repentina de Harry, chutando a areia repetidamente ao ouvir o nome da ex-namorada. ― Eu nunca conseguiria deixar vocês... ― e ela abraçou os dois jovens vagarosamente, soltando logo em seguida.

Por mais alguns momentos agradáveis e também tensos os três amigos ficaram em silêncio. Até que Harry parou de chutar a areia e olhou adiante.

― Às vezes é preciso deixar seus amigos para estar com eles mais tarde ― balbuciou Harry, quase tímido ao redor dos dois. Mas, ambos sabiam que ele estava magoado. ― Ou então, para que eles estejam sem você, mas seguros...

Hermione deixou a mão de Rony e tornou-se para Harry completamente, dando as costas para o mar.

― Você também pensa assim, Harry? ― indagou a jovem, em um tom extremamente sério. ― Porque eu preciso saber agora mesmo se você também pensa assim... Se você está disposto a render-se à morte por seus amigos, para que eles fiquem seguros...

Harry encarou Hermione da mesma maneira séria que ela o questionara, e então respondeu:

― Vocês dois sabem que eu acho loucura se envolverem em toda essa guerra entre Voldemort e mim somente pela nossa amizade...

― Harry, nossa amizade é tudo! Absolutamente tudo! E é para isso que amigos, verdadeiros amigos servem! ― protestou Hermione. ― Eu não me importo de enfrentar os mais diversos perigos para lutar ao seu lado e de Rony, pois vocês são a minha família, a minha base!

― Então, você está disposta a render-se à morte por seus amigos também, Hermione? ― perguntou Harry, do mesmo jeito que ela.

― Sim ― respondeu ela, sem vacilar. ― Mas, ao contrário do que Ametista fez, eu lutaria ao lado dos meus amigos, e não sozinha, porque sei que somos mais fortes juntos e que, assim, poderíamos todos vencer juntos. E é isso exatamente que faremos hoje, Harry. Venceremos Voldemort juntos.

Rony postou-se ao lado de Hermione e encarou o melhor amigo, querendo dizer o mesmo que Hermione. Harry sentiu-se cheio de emoção dentro do peito, uma adoração e confiança cega pelos seus melhores amigos naquele momento, pelas melhores pessoas que haviam cruzado seu caminho desde que entrara em Hogwarts, possivelmente desde que nascera. Como poderia retribuir, um dia, tanta lealdade e respeito? Agora foi a vez de seus olhos marejarem, mas certamente não deixaria que lágrimas caíssem e tornasse a situação mais triste do que já era.

― Vamos fazer uma promessa. ― afirmou Harry, engolindo o choro preso na garganta.

O jovem estendeu sua mão na direção de Hermione. A garota apertou a palma do amigo, enquanto Rony envolvia a mão dos dois.

― Vamos prometer que, não importe o que aconteça nesta noite, nós três nunca esqueceremos o que a amizade significa para nós ― propôs o moreno, o cabelo voando de sua testa e mostrando a famosa cicatriz. ― E que nós sairemos vivos da Ilha dos Ciclopes, juntos.

― Prometo. ― respondeu Hermione, sorrindo e deixando que outras lágrimas derramassem de seu rosto.

― Prometo. ― cumpriu Rony, o sorriso largo no rosto que há tempos Harry não via.

― Prometo ― fechou o mesmo, agradecendo aos céus por ter encontrado duas pessoas tão perfeitas em seu caminho. A amizade cega, a confiança mútua, a doação eterna. Os melhores amigos se abraçaram. Era como se algum campo de força os envolvesse naquele singelo momento e Harry não conseguisse pensar em vida sem eles. ― E sabe o que mais? Hermione, você chora demais... Seja menos garota, vai!

Os três jovens caíram na risada, separaram-se do abraço e sorriram um ao outro, a gratidão voando entre eles. Assim, poderia vir Voldemort, Comensal da Morte ou qualquer outra criatura, mas aquele elo de amizade nunca seria destruído. Nunca.

― Harry... ― o jovem tornou-se para trás, o sorriso ainda no rosto. Dumbledore estava ali. ― Posso dar uma palavra contigo? Faltam apenas três minutos, serei breve.

― Claro, professor ― concordou ele, deixando Rony e Hermione para trás e caminhando um pouco mais adiante junto do diretor de Hogwarts. ― Aconteceu mais alguma coisa?

Dumbledore respirou fundo e soltou um baixo riso, quase como que de deboche. Harry pôde ver que, através dos óculos meia-lua do diretor, havia uma mistura de tristeza e amargura. Dumbledore ergueu sua vestimenta prateada e pisou com os pés descalços na água gelada do mar escuro. Harry acompanhou-o ao lado, na areia.

― Harry, essa noite é exatamente o que conversamos há dois anos... Sobre decidir entre o que é certo e o que é fácil ― Harry franziu a testa, enquanto Dumbledore retirava seus óculos e limpava-os na roupa. ― Hoje, você deve agir como um verdadeiro bruxo. Um bruxo que possui no sangue a nobreza de Godric Gryffindor, que foi protegido pelo amor de sua mãe e de seu pai, pessoas maravilhosas e justas... Deve salvar quem pode ser salvo, Harry, não quem quer ser salvo...

― Professor, me desculpe, mas não entendi...

― No momento, você lembrará disto que estou lhe dizendo, Harry ― respondeu Dumbledore, colocando os óculos no rosto novamente. ― Ao seu lado estarão pessoas que querem arriscar sua vida para que vençam. E isto, eu espero que você entenda, não garante a vitória completa. Garante que você não lutará sozinho. Ainda.

― Ainda!

Dumbledore sorriu para Harry e paralisou o andar. Soltando a veste prateada, a roupa caiu sobre as leves ondas do raso do mar. A lua daquela noite fazia sombra sobre o diretor e Harry, no exato momento, nunca vira Dumbledore mais como um simples humano, e não o maior bruxo de todos os tempos. Talvez nunca veria novamente.

― Queria ter tido mais tempo para prepará-lo, Harry ― havia ali um tom de profundo arrependimento. ― Mas, seu padrinho e Arabella farão o trabalho perfeitamente... ― o olhar que Dumbledore dirigiu a Harry deixou o jovem sentindo o peso do mundo em suas costas. ― No final de tudo, Harry, você enfrentará Voldemort sozinho, sem absolutamente nenhuma ajuda, sem ninguém ao seu lado. E você, somente você, deverá destruí-lo ― Harry pegou ar no fundo do pulmão, apavorado. ― E hoje, você terá a chance de encontrá-lo mais uma vez, antes que esteja preparado para enfrentá-lo, nem que tenha de ir até o inferno para isso.

― O senhor não quer dizer que...?

― Humpt! Você é mesmo bem perspicaz, Harry. Entendo porque Ametista simplesmente se encantou com você ― um buraco no estômago de Harry se abriu e rasgou-o por dentro. ― Sim, eu quero dizer que não serei capaz de estar ao seu lado hoje... Ou no momento em que estiver preparado para enfrentar Voldemort e destruí-lo de uma vez por todas.

― Mas... Mas, como! O senh-senhor vai embora?

Dumbledore subiu um dos lados de seu lábio, o sorriso que somente aqueles que sabem de tudo podem ter.

― Vamos dizer que preciso fazer uma longa jornada agora, Harry ― disse o velho, o mesmo sorriso no rosto. ― Somente Sirius e você sabem disso e é realmente uma pena que eu não tenha sido capaz de me despedir de minha neta... Porém, entenda, essa é uma jornada única e minha, que não posso dizer não ― Harry ficou sem palavras. Dumbledore ia embora, sem se despedir das pessoas? E somente ele e Sirius sabiam? ― Sei que é difícil para você entender, mas quero que confie em mim... Nós vamos nos encontrar novamente, Harry.

― Mas como o senhor pode ir embora! E ir embora sem dizer adeus às pessoas...?

― Harry...

― Não! Isso não é certo! Quer dizer... Como nós poderemos continuar sem o senhor? E Hogwarts! Ainda mais com tudo isso que tem acontecido, professor, por favor! O senhor...

― Harry, não há escolha... Ou melhor, eu já fiz a minha escolha...

― Senhor! Não! Como vai embora? ― Harry respirou fundo, não podendo acreditar no que ouvia. ― Professor! Todos estão achando que o senhor irá conosco, que estará aqui quando voltarmos, que continuará comandando Hogwarts...!

― E eu continuarei Harry...

― Não, não continuará! Quanto tempo essa tal jornada vai demorar! ― questionou o estudante, perdendo o controle. Perder o apoio de Dumbledore seria impossível de suportar, de superar. Ele sabia tanto sobre tudo, ele era um amigo para Harry. Aquele era Alvo Dumbledore, o melhor bruxo de todos os tempos! O único que Voldemort temia! ― E-e-e... E AMETISTA!

Dumbledore ainda tinha o sorriso no rosto, mas naquele momento, o sorriso morreu. O semblante ficou sério, quase como se alguém houvesse morrido naquele mesmo instante.

― Ela vai entender...

― Não, ela não vai! O senhor sabe que ela não vai! Ela nunca entende...!

― Pensei que você não se importasse mais com ela, Harry... ― cutucou o diretor, aborrecido em tocar em Ametista.

Harry não viu outro modo de convencer Dumbledore melhor do que pisar no próprio orgulho.

― O senhor sabe que eu... Bem... Eu amo a Ametista.

― Pois então, você deve entender também que eu vou abençoá-la e cuidar do seu bem-estar todos os dias, ainda que de longe. E deve entender que ela terá você para se apoiar quando tudo ficar mais difícil... ― Harry não tinha mais tanto essa certeza, estava magoado demais, mas Dumbledore prosseguiu. ― Eu cuidarei de você, Harry. Assim como da minha neta. E de todos vocês, pode confiar. Mas, não da maneira que vocês estão pensando...

― DUMBLEDORE! TRINTA SEGUNDOS! ― anunciou Rudolph Rawlings.

― Harry... Confie nos seus instintos... Confie em tudo que lhe ensinei nesses anos e, mais do que tudo, confie em você mesmo. Seus amigos estarão ao seu lado, assim como eu. Nunca se esqueça disso. Eu tenho certeza que, no momento certo, você triunfará e será o melhor bruxo de todos os tempos...

Harry ainda tentou relutar, mas Dumbledore deu um passo à frente e pegou o rosto de Harry entre as mãos enrugadas e trêmulas, beijando suavemente o topo da cabeça do jovem.

― Sempre terei muito orgulho de você, Harry Potter. E sempre estarei com você, nunca se esqueça. Você é meu verdadeiro pupilo. O melhor Potter que eu já tive a felicidade de encontrar.

― ATENÇÃO, O PORTAL! ESTÁ SE ABRINDO!

O jovem ergueu a cabeça, encontrou os olhos marejados e valentes de Alvo Dumbledore. Rony e Hermione postaram-se ao seu lado, enquanto os outros também se aproximavam. Uma cortina esverdeada e nebulosa se abriu diante deles no mar. Uma forte ventania os atingiu. Harry pôde ver quando Dumbledore e Sirius se abraçaram fortemente, as palmas de cada batendo nas costas do outro. Dumbledore disse algo para Sirius, que concordou com a cabeça e sorriu com os lábios fechados. A cortina de força começou a puxá-los em sua direção. Todos se seguraram uns aos outros, deixando que a ventania os levantasse do chão. Harry ainda olhou uma última vez para trás e viu a imagem de Alvo Dumbledore, o homem mais admirável do mundo, acenar e sorrir de um modo seguro que somente ele sabia sorrir.


Parecia difícil demais acordar naquele momento. Claro que a sensação de tudo rodar, a superfície dura e áspera, o tempo gelado e as pernas e braços presos por alguma coisa tão gelada quanto o tempo eram pontos fortes para que despertasse. As pálpebras pesadas impediam que conseguisse acordar logo no momento que desejou. Engoliu toda a saliva acumulada dentro de sua boca e sentiu um gosto incomum...

Era definitivamente sangue.

Abrindo os olhos como se tivesse tomado um susto, Gina Weasley tentou ergueu o corpo de onde estivera deitada por algumas horas, possivelmente. Entretanto, seu tronco foi de maneira veloz impulsionado para trás, de volta à superfície desconfortável que fora submetida. Desejando levar as mãos até a cabeça para amenizar a dor da batida contra a superfície, Gina notou que não poderia erguer seus braços. Levantando a cabeça devagar, assistiu seus membros superiores envolvidos por fortes anéis de ferro. Mais adiante, seus pés também. E como aquelas correntes foram parar ali?

Olhando ao redor, viu que se encontrava no alto de uma sala, como se fosse num tablado. Não conseguia ver muito mais além de que suas pernas amarradas, assim como o teto alto e velho. Que lugar era aquele afinal? Gina começou a pensar o que fizera pela última vez no dia para ter parado naquele âmbito estranhíssimo e úmido. Julian havia rompido com ela. A conversa com Hermione. A biblioteca. O treino de quadribol...

Hey, não houve treino de quadribol...

E tudo veio rapidamente de volta às lembranças. Os gritos por socorro, a escuridão, o soco ou o que quer que a tenha atingido na cabeça, a voz... Gina havia sido seqüestrada. Mas, seqüestrada por quem!O desespero começou a subir pela sua garganta, lentamente, a incerteza de onde poderia estar corroendo-a por dentro com facilidade. As memórias da última vez em que fora raptada não eram as melhores, marcaram-na pela vida. Mas, não... Desta vez, Voldemort não poderia estar envolvido... Não desta vez...

― Olá, querida Virgínia.

O tom daquela voz. Gina sentiu o corpo todo dolorido endurecer em um instante, como se houvessem espremido seu corpo e ela não pudesse se mexer. Seus olhos se encheram de pavor e ela não soube se obedeceria sua vontade de fechar os olhos para não guardar mais essa imagem dele ou se preferia enfrentar o perigo. Mais uma vez.

E a segunda opção venceu. Ele estava logo acima de sua cabeça. E Gina quase desmaiou.

― E nós nos encontramos novamente, querida Virgínia ― disse o monstro, prazeroso. ― É hora do show...


Nota da Autora (4): E agora, o que eles vão encontrar na Ilha dos Ciclopes? Acabou o tempo, pessoal... Agora é a batalha planejada há dezesseis anos que se inicia. E não dá para voltar atrás...