HARRY POTTER E O OLHO DA ESCURIDÃO
Nota da Autora (1): Ok, acreditem, essa é a atualização do novo capítulo da OdE. Antes de tudo, quero dizer que esses seis meses em que fiquei sem atualizar foram malucos e acho que nem preciso dizer aqui o porquê. A palavra faculdade e terceiro ano já quer dizer tudo. Matérias para rádio, jornal, televisão, trabalhos longos, centenas de livros para ler, horas na biblioteca... Não foram dias fáceis. Mas isso não foi, somente, o que me impediu de atualizar esse capítulo mais cedo. Escrever essa Série e minhas outras fanfics é a hora em que eu me desligo de tudo, em que sento no computador e relaxo. E essa hora de relaxamento, com a demora pela atualização e uma série de outras coisas, transformou-se em obrigação, assim como os artigos, crônicas, seminários, análises e tudo que tenho feito para a faculdade. Durante esses seis meses, não houve o verdadeiro prazer que eu sinto em escrever esse capítulo. E escrevê-lo é muito importante, escrevê-lo bem, afinal a segunda fanfic da Série está acabando. Não, eu não abandonei a Série e nem pretendo. Vou continuá-la até que tenha tempo e vontade de escrevê-la. Mas, diante de toda a pressão que me foi colocada, as atualizações demorarão mais, certamente. Espero que vocês entendam o que quero dizer. Agradeço, mais uma vez, o apoio de muitos de vocês e a compreensão. Nunca esquecerei.
Nota da Autora (2): Então, deixando essa coisa chata de lado, vamos às respostas das reviews:
Carol: O Dumbledore é a oferenda? Só porque o homem foi fazer uma jornada... Sem idéia de quando volta? Rs.. A batalha na Ilha dos Ciclopes tem a ver com o sonho do Draco sim. De alguma maneira, aquele sonho remete ao que ele pode fazer na Ilha. Esse é um caminho que ele pode tomar, ou poderia. Seu shipper favorito é D/A? Nossa, acho que a gente já pode fundar uma comunidade, pois já achei quase uns 10 amantes desse shipper! Rs... E você gosta também da Hauspie? Bom, ela aparece bastante nesse capítulo. A espadachim é uma personagem forte, eu gosto bastante dela... Agora, se o tio Sevie gosta também, já é ooooutra história né? Rs... Vixi... E se você sentiu falta do Draco no capítulo anterior, nesse ele também não aparece não, minina! Mas, quem sabe no próximo, né? Beijo!
Thalita: Aqui está ele... Espero que goste desse como gostou do outro... Beijo!
Anaisa: Poxa, adooooro fazer personagens surtando. E na verdade, acho que todo mundo, por mais calmo e controlado que seja ― como o tio Sevie ―, é capaz de surtar repentinamente. Eu mesma, sou super tranqüila, até me tirarem do sério. Surto mesmo! Rs... E olha, aquela frase do Dumbledore é discutível, afinal, acho que tem que salvar todo mundo. Mas, ainda assim, tem um sentido que talvez seja como o seu, talvez não seja. E no caso, o Snape tem que salvar a Ametista por um motivo maior do que simplesmente salvá-la. O Olho da Escuridão ta aí no nome da fic pra isso... Rs... E a Helderane, tadinha, aparece... Não nesse capítulo... Ela desapareceu por um tempo, mas ela volta sim. Beijo minina!
Nice Egan: Opa, você teve uma idéia boa, minina! Mas não foi dessa vez que a Ametista foi para o Portal de Hades. Rs... AH! E ficou legal com a trilha? Esse capítulo necessita de músicas bem agitadas, é ação do começo ao fim! Vixi... E dessa vez, sorry, não foram nem 5 meses, foram 6 Angie cheia de vergonha agora Rs... Beijooo!
Mandinha Malfoy: Rs... Eu sou muito má? Você acha? Olha aí a outra comunidade que posso fundar! Rs... Muita gente me acha má! Pelas atualizações e pelo suspense que coloco no capítulo. Se for assim, meu Deus, você vai querer me matar no final desse! Rs... Beijo!
Dona JeH: Obrigada pelo elogio! Espero que gosto desse capítulo! Beijo!
Kirina Malfoy: Por que você demorou! E poxa, nem colocou aqui o que você achou! Você é uma das pessoas que deixa reviews mais longas do muuundo! Adoro lê-las! Rs... Espero que goste dessa atualização, ta cheeeeeia de mistério! Beijo!
Carne Assada: Nossa, e como eu demorei pra atualizar! Mas ao menos você vai estar no ritmo, já que não faz tanto tempo que leu os últimos capítulos! Mas aqui está a atualização e está repleto de ação e emoção! O final é cheeeio de suspense! E vou fazer uma bolsa de apostas para quem descobrir quem é a pessoa do final! Espero que goste! Beijo!
Patrícia Vilhena: Jogadora? Rs... É como eu disse, infelizmente, eu não tenho muito tempo para sentar e escrever... Mas se você gosta da Série, continue acompanhando! E espero que goste do novo capítulo! Beijo!
Nota da Autora (3): Mais uma vez, deixo aqui o recado e não digam depois que eu avisei! Este capítulo contém cenas recomendadas para maiores de 14 anos (violência) e contém linguagem inapropriada! Está avisado! Rs...
CAPÍTULO TRINTA E OITO ― A TRINDADE SAI DAS SOMBRAS
― Olá, querida Gina... ― disse o monstro, sua voz penetrando fundo na jovem acorrentada. ― E nós nos encontramos novamente, querida Gina... É hora do show...
Gina conhecia aquela voz. Ainda era o mesmo tom e o mesmo timbre que seu antigo melhor amigo, aquele homem que sugou toda sua felicidade e esperança no mundo, aquele que a marcou profunda e eternamente de uma maneira que ninguém nunca seria capaz. A jovem de quinze anos tentou puxar suas pernas e braços para longe das correntes, a fim de acabar com a imagem da criatura. Porém, era difícil demais.
Quando Gina fora levada para a Câmara Secreta, ainda em seu primeiro ano, a visão de Lorde Voldemort era completamente diferente desta. Tom Marvolo Riddle não possuía olhos vermelhos como sangue, sedentos por violência e destruição. Tom Marvolo Riddle possuía um nariz simétrico ao rosto, e não algo parecido com duas pequeninas fendas no lugar de narinas. E também possuía uma boca, com lábios vermelhos, e não aquela abertura estranha. A pele era pálida, quase com a impressão de deterioração, como quando o pão fica podre e ganha as manchas esverdeadas, o bolor.
Lorde Voldemort ainda era o mesmo garoto de dezesseis anos que a seduzira através de um livro e de promessas falsas. Contudo, agora, Gina tinha a certeza que morrer pelas mãos deste Tom Riddle poderia ser muito pior do que resistir às mentiras dele e a tudo que o homem lhe fez quando tinha apenas onze anos.
A imagem invertida da cabeça de Voldemort encheu o campo de visão da garota deitada, e então ele tocou, levemente, a bochecha direita de Gina. Ela virou a cabeça imediatamente, a expressão de asco visível em sua face.
― Oh... O que há, Virgínia? ― as unhas da criatura estavam compridas e tocavam o rosto de Gina com tudo, menos delicadeza. ― Você presenciará algo além do imaginável! Algo que nem mesmo o velho Dumbledore poderia acreditar!
Engolindo em seco, a garganta arranhando, assim que a voz seca e forte de Voldemort chegou aos seus ouvidos, Gina quis chorar.
― Vá para o inferno... ― ela sussurrou, os dentes cerrados.
O Lorde começou a rir, o rosto ainda invertido para os olhos de Gina. Seus dentes eram velhos, podres e pretos perto da gengiva, como se fossem cair em poucos dias. A jovem sentiu um arrepio no início da espinha, descendo vagarosamente até o final dela. Voldemort pareceu notar como Gina afetou-se com sua risada e saiu detrás de onde ela estava deitada, aparecendo na sua frente. Mais uma vez, a ruiva tentou impulsionar seu corpo para cima, na derrotada tentativa de se soltar das correntes de ferro. Voldemort riu mais alto.
― Sabe, Gina, eu fui e voltei do inferno... Supostamente... ― os olhos vermelhos de Voldemort se concentraram nos castanhos da jovem, agora de frente para ela. ― Acredito que você vá gostar de lá, quando se unir aos seus queridos amigos... Especialmente Potter.
Sem hesitar, Gina subiu os braços, bateu as correntes contra a superfície áspera em que estava deitada e elevou o pescoço, tentando dar uma olhada melhor no Lorde.
― Você nunca vai conseguir o Harry! ― retrucou ela, a voz em exclamação. ― Você tenha a certeza de que ele virá me tirar daqui e enfiará essa sua cara feia no...
A nova risada de Voldemort cortou o que Gina poderia completar, ao mesmo tempo em que o Lorde aproximou-se de Gina e tocou, desta vez com a mão completa, sua face direita. O toque da pele gélida de Voldemort contra o rosto quente de Gina provocou outro novo arrepio na jovem, enquanto ele ria descontrolado.
― Você é um monstro desprezível que merecia mais do que o inferno ― disse Gina, baixinho, usando de toda a sua força de vontade contra o Lorde. ― Tomara que Dumbledore venha junto com Harry e que os dois destruam essa sua idiota presunção.
Voldemort diminuiu a euforia e manteve o sorriso no rosto ― caso aquilo pudesse ser chamado de sorriso ―, enquanto continuava tocando a pele quente da jovem. Quando Gina menos podia esperar, a criatura enfiou suas unhas na superfície pálida, arrancando com as compridas garras o que ele mais desejava ver naquela noite: sangue. Para a surpresa do Lorde, Gina não conseguiu suprimir a agonia de ter unhas enfiadas em sua bochecha direita, rasgando sua pele de uma maneira anteriormente impossível, mas não para ele, e gritou. Gina gemeu de dor e gritou em perplexidade, em agonia pela imensa tortura. O sorriso no rosto de Voldemort cresceu junto com os gritos de Gina, ao passo em que ele enfiava mais e mais as unhas na carne suave da adolescente.
Aproveitando-se da fragilidade de Gina, Voldemort abaixou seu torso sobre o corpo da garota acorrentada, enquanto persistia enfiando suas unhas na carne pálida, o sangue começando a escorrer pela bochecha, suavemente. A poucos centímetros do rosto agonizante de Weasley, Voldemort abriu a boca e expeliu seu hálito putrefato.
― Sabe, Gina, essa história de que eu tenho medo somente de Dumbledore é uma ilusão ― Voldemort passou a detalhar partes do rosto da jovem, concentrando-se primeiro no cabelo. ― Quero que Harry Potter e Alvo Dumbledore venham, juntos, para nos divertirmos. Será inesquecível! ― com a mão esquerda, ele tocou alguns fios ruivos na altura dos ombros contraídos da jovem. ― Esse tom é tão característico dos Weasley... Sua família, adoradora de trouxas... É um verdadeiro vexame, um desperdício, uma vergonha para as famílias puro-sangue da Grã-Bretanha... Não! Do mundo todo! Uma família legitimamente puro-sangue se deixar apaixonar por trouxas, pela paria de nossa raça, pelo que há de mais desprezível e falso em nossa história...! Adorar serzinhos de sangue tão nojento, tão sem descendência... É admiravelmente imperdoável...
― Se for para manter a amizade com puros-sangues como você ou seus seguidores, prefiro ser chamada então de adoradora de trouxas... ― protestou ela, a voz vacilante.
Voldemort achou graça na resposta da jovem e passou a olhar para sua boca.
― Em todos os meus anos de Império de Terror, Gina, é impressionante lembrar como as pessoas costumavam implorar para que eu as salvasse da morte ― disse ele, encarando a boca com total atenção, de uma maneira quase maluca. ― Em horas como esta, exatamente como esta, nossa, elas começavam a contorcer suas bocas, os lábios se rachavam de pavor e elas enrijeciam todo o maxilar, trêmulas, sabendo o que as esperaria em... ― ele afundou suas unhas um pouco mais e Gina gemeu. ― poucos... ― mais e Gina gritou. ― segundos... ― completou ele, enquanto Gina berrou, mas não aceitou a idéia de implorar por qualquer tipo de coisa.
Por muito tempo, Gina não saberia explicar como não pediu, naquele exato momento, perdão para o monstro. A dor penetrava em suas entranhas, clamava para que ela desistisse de enfrentá-lo, de lutar contra o impossível. Porém, Gina sabia que não poderia decepcionar seus familiares, seus amigos, seus princípios. Estava cansada daquela vida, mas nem por isso daria de mão beijada sua alma para Voldemort. Não se venderia, não imploraria por sua vida. Queria apenas que o assassino de seu irmão queimasse no mais profundo dos incêndios, da mesma maneira que Percy fora torturado.
― Não canso de me impressionar com pessoas como você, Gina, que mesmo à beira da morte, da tortura, dos piores momentos de sua vida e possivelmente da passada e da próxima, simplesmente não desistem! Continuam com essa idéia fixa de que alguém, no último minuto, irá voltar e as salvará...
― Harry vai chegar logo... ― disse ela, fracamente, enquanto passava o delírio da dor que as unhas cravadas em seu rosto provocavam.
― Sim, querida Virgínia, logo... Mas sabe, para chegar até mim, ele terá de passar por coisas que você não é nem capaz de imaginar! ― garantiu Voldemort, agora olhando para os olhos castanhos da jovem.
Gina não tinha a mínima idéia de como fora parar ali, quem a seqüestrara, mas tinha a certeza de que Harry e a Ordem da Fênix passariam por maus bocados. Do âmbito onde a confinaram, a jovem não era capaz de ver muita coisa, de entender o que acontecia à sua volta. No entanto, carregava consigo as imagens de Voldemort, e aquilo já bastava.
― Patético... Esse olhar de esperança até o fim, mesmo que não haja esperança de fato. Vocês, meus inimigos, se enfiam nessa ilusão de que poderão me vencer, e eu realmente sinto pena ― Voldemort cuspiu parte de sua saliva no rosto da jovem, enfiando mais as suas unhas, sentindo os músculos pulsarem dentro de suas bochechas. ― E esse olhar, esse exato olhar, de pobreza, de pena, de uma confiança já derrotada... Engraçado, descreveram-me há quase um mês...
Voldemort subiu a altura de seu rosto sobre o de Gina, emparelhando-se com o dela, horizontalmente, e conseguindo o campo de visão total da acorrentada.
― Dizem que ele tinha esse exato olhar... Seu irmãozinho... Estou maravilhado...
― NÃO FALE SOBRE O MEU IRMÃO! ― Gina não soube de onde vieram forças para que fosse capaz de gritar, mas falar sobre Percy era o mesmo que mexer com o que havia de mais profundo, secreto e delicado dentro dela.
Antes que Voldemort pudesse responder a afronta de Gina Weasley, o âmbito sacudiu. Gina ouviu as paredes, destruídas pelo tempo, balançarem com a força de uma forte ventania, ainda que sem saber de onde vinha. Talvez estivessem no alto de uma torre, talvez em um pequeno casebre velho e ferido pela erosão e pelos anos que se passaram...
Entretanto, junto da ventania e do sacudir das paredes e do chão, Gina assistiu bolas de fumaça negra surgir de algum lugar além daquele âmbito e pousarem ao seu redor. Uma forte tensão começou a subir pela espinha, enquanto os dedos de Voldemort, ainda enterrados em seu rosto ensangüentado, permaneciam paralisados. Gina olhou para o rosto do Lorde das Trevas e percebeu que a criatura não gostara em nada da presença daquelas sombras. Uma a uma, as fumaças foram pousando ao redor de onde Gina estava deitada, como se fossem raios. A fumaça se dispersava e Gina não conseguia ver mais muita coisa, já que a dor e a sensação de seu sangue escorrendo pelo rosto a deixavam zonza e com a visão turva.
Uma corrente de ar ou algo parecido deixou sua pele gelada e as correntes, assim, pareceram mais presas junto de suas pernas e braços.
― Eu havia pedido para que não me interrompessem. ― disse ele, seco e ríspido.
Nada foi ouvido em resposta, enquanto Gina apertava os nós de seus dedos e soltava em seguida, desejando que o sangue percorresse sua pele. Estar ali, rodeada por aquele tipo de coisa provocava na ruiva algo inexplicável. Era como estar presente diante dos Cavaleiros de Merlim, porém carregados de uma intensa energia negativa. Era exatamente como ela se sentia ao redor de... Severo Snape e Ártemis Figg nas aulas de Aprendizes.
Voldemort retirou o olhar da garota e voltou-se para o que ocorria à sua volta. As bolas de fumaça negra se materializaram aos poucos, as sombras dando lugar a formas corporais como pernas, tronco, cabeça. Colorações suaves apareciam, os olhos brilhantes, os cabelos particulares... Ainda que enjoada e sentindo que ia possivelmente desmaiar em breve, Gina percebeu que ali estavam pessoas reunidas ao redor dela. Os Comensais da Morte. Os mesmos que seu irmão e Harry enfrentaram em janeiro, quando Azkaban fora invadida pelo Ministério da Magia após a fuga dos dementadores.
Ela não podia contar quantos estavam presentes. Possivelmente, de dez a quinze Comensais. Três deles, logo após terem se materializado, postaram-se de cada lado de onde estava acorrentada. Assim, Voldemort olhou para os Comensais ao seu lado, e os três abaixaram o torso, numa reverência ao Lorde das Trevas. Os olhos de Gina estavam agora cheios de lágrimas que ela custaria a deixar caírem, e também confusos. Estava tão apavorada internamente que sua visão piorava a cada bater de suas pálpebras, as imagens misturadas. Ainda que tonta, ela pôde reconhecer, lentamente, alguns. Como, por exemplo, os dois postados ao alcance de seus dedos. O terceiro, logo acima de sua cabeça, ela não reconhecera.
As três figuras humanas, assim como todas as outras, estavam vestidas em negro da cabeça aos pés. Um deles, Gina reconhecera por fotos que Harry e Rony haviam lhe mostrado no passado. O velho traidor, o antigo morador de sua casa, Pedro Pettigrew. Perebas, Rabicho. Aquele que traiu a confiança dos Potter, que revelou o paradeiro de Harry para Voldemort e que causou a prisão de doze anos para Sirius Black. O outro, ao seu lado esquerdo, tinha longas madeixas alouradas, quase douradas, e olhos acinzentados. Se Gina tivesse a capacidade de ver o futuro, saberia que Draco Malfoy ficaria exatamente como aquele homem, seu pai.
Lúcio Malfoy observou Virgínia Weasley de cima, superior como seu filho, e sorriu com os lábios fechados. No entanto, ao encontrar o olhar ameaçador de Voldemort, retirou a presunção da face e curvou-se outra vez. A garota ouviu a palavra "perdão" se dirigir de sua boca para o Lorde, e então levantar lentamente.
― Meu Amo... ― iniciou ele, vendo que Voldemort voltara sua atenção para as unhas fincadas na pele clara de Gina. ― Já são onze horas e sabemos que Dumbledore está a caminho ― Lúcio Malfoy também aproveitou para dar uma boa olhada no sangue escorrendo do rosto da jovem. ― Estamos todos prontos para o senhor, mestre.
Voldemort bufou, parecendo cansado daquilo, e num rápido instante, retirou suas unhas do rosto de Gina. Desta vez, a dor foi ainda muito maior, e Gina realmente acreditou que desmaiaria ali mesmo. A garota gritou e, em seguida, lembrou-se do sorriso de Malfoy. Suprimiu um soluço, lutando para que as lágrimas não caíssem de seus olhos. A retirada criou um ligeiro rastro de sangue na roupa de quadribol da ruiva, enquanto Voldemort abaixava sua mão direita e permitia que o sangue em suas unhas pingasse contra o chão.
Ao tempo em que Gina tentava recuperar-se da dor que sentia na pele, nos braços e nas pernas acorrentadas, Voldemort olhava ao seu redor e abria os braços, como se fosse abraçar todos os seus Comensais. Todos eles foram capazes de assistir o rosto da criatura se contorcer em algo que parecia, bem de longe, com um sorriso prazeroso.
― Meus fiéis seguidores, minhas criações malignas, meus braços sustentadores ― começou o Lorde, a voz rouca. ― Por longos dezesseis anos eu esperei... Fui vítima de uma surpresa e, agora, posso colocar meu plano em prática, algo que os fará balançar, que os fará jurar lealdade eterna a mim ― disse ele, deliciando-se com o momento. ― Todos vocês serão testemunhas de um segredo milenar, de uma manobra genial que somente eu poderia imaginar... Eu voltarei com força total, e vocês poderão se curvar outra vez diante de mim...
Nesse momento, Gina conseguiu retomar parte de sua visão, olhando para todos os lados que podia, a fim de encontrar outro rosto conhecido no meio daqueles homens sujos e corrompidos. Ao virar o rosto para a sua direita, sentiu o sangue escorrer para sua orelha e pensou que iria enjoar e vomitar. Respirando fundo, ela percebeu que o âmbito era muito maior do que imaginara. Havia ali mais de quinze Comensais, certamente, e todos eles faziam um grande círculo ao redor dela e de Voldemort, todos curvados ao Lorde.
Percebeu também que o Lorde das Trevas continuava a falar.
― ...e daqui um ano vocês se reunirão a mim mais uma vez e provarão sua lealdade, coisa que não fizeram com muita excelência nos últimos dezesseis anos ― continuou ele, deixando Gina arrependida de não ter ouvido mais sobre isso. ― Hoje, cada um de vocês terá a chance de provar que me são fiéis. Alvo Dumbledore, Harry Potter e seus seguidores pisarão na Ilha dos Ciclopes em poucos minutos e todos vocês deverão estar dispostos a dar suas vidas e almas para que o plano se complete. Deverão me trazer Harry Potter vivo... E os outros eu permito que matem...
Seu lábio ficou trêmulo enquanto ouvia aquelas coisas. Gina não sabia como reagir, tinha de fazer alguma coisa para que eles não matassem seus amigos. Voldemort não poderia ter um plano tão bom assim, não poderia vencê-los. A garota queria realmente acreditar que Dumbledore e Harry estivessem a caminho logo, para que essa loucura não chegasse muito longe.
― ...e isso, é óbvio, caso consigam passar por Dumbledore e seus seguidores ― alfinetou Voldemort, sem culpa nenhuma, estranhamente reconhecendo o potencial do maior bruxo de todos os tempos. ― Hoje, meus caros, é a chance única que darei durante toda a sua existência ― prosseguiu ele, olhando vagarosamente cada um dos Comensais. ― Provem que vocês são gratos pela minha compaixão, provem que são bruxos imbatíveis, que eu os treinei bem durante os anos de glória. Eu saberei, mesmo de longe, quem de vocês falhou e quem de vocês venceu... Estou ansioso para descobrir meus traidores, os fracos desde grupo... Talvez eu até dê um prêmio aos melhores, quem sabe a cabeça de Potter depois que ele me seja útil...
― NÃO! ― protestou inconscientemente outra vez Gina, seu corpo inteiro ofegante e pavoroso. ― Você nunca sairá daqui vitorioso, já lhe disse isso, seu porco nojento!
Alguns Comensais soltaram exclamações de surpresa pelo modo com que Gina falou diretamente a Voldemort. Enquanto isso, um outro retirou a varinha de sua capa e a colocou na direção da jugular de Gina. A jovem ruiva segurou a respiração de forma imediata, inúmeras idéias passando pela sua cabeça do que ele seria capaz de fazer. Ela sabia que aquele era o Comensal que não reconhecera, parado atrás de sua cabeça. A grifinória somente era capaz de ver os olhos castanhos profundos do homem, assim como suas sobrancelhas grossas. Ele trazia um capuz cobrindo seu cabelo.
Todos ouviram Voldemort rir de um jeito debochado.
― Não precisa de tanto, Adams ― disse ele, tornando-se para os dois e agora sim os vendo daquele jeito, com David apontando sua varinha para o pescoço de Gina e ela presa pelas correntes, congelada. ― Não vale a pena... ― Voldemort aproximou-se mais uma vez do corpo deitado de Gina e falou alto para que todos os Comensais da Morte o ouvissem. ― Esse vermezinho aqui é parte do meu plano e, infelizmente, não poderá ser sacrificado, a minha segunda escolhida ― Gina relembrou de quando vira Tom Riddle numa visão há poucos meses. ― Não é preciso se incomodar com a Srta. Weasley aqui, ela em breve ficará quietinha ― o Lorde virou-se para Adams. ― Abaixe sua varinha, David.
Erguendo a cabeça para olhar o mestre, David retirou a varinha da jugular de Gina e deu um passo para trás, assim como Voldemort se afastou dela também. O bruxo parado à sua direita levantou uma de suas mãos e tocou o ventre da garota. O rosto dela se contorceu em asco e Rabicho sorriu horripilante para ela. Aquela mão de metal tocou outra vez o ventre coberto de Gina e ela não soube como ainda poderia estar acorrentada.
― Pequenina Gina ― sussurrou Rabicho, o sorriso como de um louco. ― Quem diria... Serviria para alguma coisa...
― RABICHO! ― gritou Voldemort de repente, os olhos vermelhos. ― Não toque nela, entendeu! Ninguém toca na adoradora de trouxas aqui, estão todos entendendo! Agora... Todos para seus postos! Não quero saber de derrota! Orgulhem o seu Mestre, provem sua lealdade!
Rapidamente, todos os Comensais transformaram-se nas bolas de fumaça negras e foram embora. Gina não teve idéia para onde eles poderiam ir, mas somente desejou que Harry fosse capaz de vencê-los. Fechando os olhos, ela suspirou e percebeu que dois dos Comensais ainda não haviam deixado o âmbito. O tal David Adams, que enfiou a varinha em seu pescoço, e Lúcio Malfoy.
Talvez Lúcio Malfoy quisesse dizer alguma coisa, mas então uma nova sombra negra invadiu o âmbito e pousou ao lado dele. Malfoy parecia não esperar a presença deste outro Comensal e deu um passo para o lado, rolando os olhos. Adams olhou de esguelha para a fumaça que se materializava e sorriu levemente. Outro humano, este todo encapuzado. Apenas os olhos podiam ser vistos. Gina percebeu que eram olhos escuros, mas não podia ver mais do que aquilo. E muito brilhantes.
― Minha querida Trindade das Sombras ― anunciou Voldemort, agora então elevando a mão direita até a altura de seus olhos e analisando as pontas de seus dedos ensangüentados. ― Que notícias trazem a mim?
Lúcio pareceu ainda mais perdido que antes e descontente, enquanto David indicava Voldemort para o outro Comensal. Este, os olhos ainda mais intensos, deu um passo à frente e disse, em uma voz que parecia distantemente conhecida por Gina:
― O herdeiro de Hufflepuff, meu Amo ― curvando-se, o Comensal riu. ― Na verdade, a herdeira. A amiga de Harry Potter, a sangue-ruim Granger.
Voldemort pareceu extasiado e enlouquecido ao mesmo tempo com a notícia do Comensal. O Lorde deu um passo à frente e sorriu.
― Não me canso de dizer... Você não desiste de me surpreender.
No mesmo momento, o terceiro Comensal a aparecer na sala desapareceu. Assim, como veio, foi. Em seguida, Gina percebeu que Adams também se desfez em fumaças negras. Como uma última tentativa, Voldemort tornou-se para Lúcio Malfoy.
― Mestre, perdoe-me dizer, mas Snape acabou de chegar à Ilha e parece preso na colina. ― disse o homem, os fios dourados caindo sobre seus ombros e ele erguendo a cabeça, enquanto Voldemort procurava seus olhos.
― E...? Diga-me qual é o seu ponto, Lúcio. ― ordenou Voldemort, insatisfeito.
― Bom, como Chefe dos Comensais da Morte, ele não correspondeu ao meu chamado e ainda não tomou seu posto ― justificou Malfoy, mantendo o contato visual com o Lorde corajosamente. ― Acredito que ou deva estar com problemas, ou está sendo simplesmente insubordinado, como sempre...
― Malfoy, se não sabe ser um líder e se impor sobre seus inferiores, não há problema, certamente farei questão de colocar outro responsável em seu lugar ― Voldemort riu ao notar que as bochechas de Malfoy coraram levemente, raivoso. ― Snape, Lúcio, está provando sua lealdade a mim nesse momento ― esclareceu Voldemort, seus olhos vermelhos brilhando de antecipação. ― Ou ao menos, para seu próprio bem, espero que ele esteja.
Ela andava por um corredor, em passo acelerado, procurando alguém. Na mão esquerda, a varinha brilhava. Na direita, uma espada pontiaguda. Olhava de lado a lado, portas abertas, um antigo refúgio. O tempo estava acabando. Girou a ponta da espada e viu um raio de luz azulado quase atingir um rosto pálido. Suspirou em alívio, abaixando a arma. Erguendo os fios de cabelos que caíam sobre seu rosto, ela rolou os olhos. Você me assustou, disse em um tom baixo. Estou sentindo... Estamos perto dele, eu sei que estamos.
Sim, respondeu o rapaz enquanto puxava a varinha do bolso do sobretudo. Mas não temos mais muito tempo. Ele está nos observando. Ela ouviu passos. E quando menos esperava, o homem sorriu e ela reconheceu como Malfoy parecia sangrar pela têmpora. Até a beira da morte você é capaz de fazer tipo, seu idiota?, questionou ela, elevando uma das sobrancelhas.
Ouviram um som muito alto, como se algo pesado tivesse caído no chão. Não muito longe. Acho que ele nos achou, disse o loiro, pegando o rosto de Ametista com força e batendo sua cabeça contra a parede, repentinamente. Ela sentiu-se tonta, querendo gritar, mas logo em seguida, o homem colou os lábios nos seus. Ela gelou e sentiu a palma da mão dele atingir seu rosto.
Acorde! Vamos, acorde!, ele exclamava, o tom de voz tenso. Ela tentava dizer que estava acordada, que ele estava agindo como um completo maluco, mas era impossível. Malfoy bateu novamente em sua face, mas com menos força dessa vez. Repetiu:
― Acorde, Ametista! Acorde!
Alguém estava batendo de leve em sua bochecha direita, o lado esquerdo caído contra uma superfície dura e fria. A água da chuva continuava a cair sobre seu corpo e ela não tinha condições de abrir os olhos, não naquele momento. Dentro de sua cabeça, os gritos ainda ecoavam, o lamurio desesperado de centenas de pessoas em sofrimento. As palmadas persistiam contra sua face. Aquele havia sido um sonho sem coerência. E outra pessoa batia nela agora.
― Ametista! Você tem que levantar, agora!
As pálpebras demoraram a obedecer os comandos de seu cérebro e daquele que gritava com ela. Lembrou da seqüência absurda de atitudes de Malfoy em seu sonho. Agitou a cabeça devagar, também na intenção de fazer a pessoa parar de bater em seu rosto. A jovem sentiu as dores em seus joelhos, ardência contra a carne vermelha. Aos poucos, um rosto pálido entrou em foco. Fios de cabelo escuro emolduravam suas bochechas e a voz começava a ser distinguida em seus pensamentos.
A face de Severo Snape parecia aflita quando foi encontrada pelos olhos escuros de Ametista. Ela não conseguiu falar, sua garganta estava dolorida. Recordou-se de ter gritado muito quando os gritos da criatura atingiram seus tímpanos, ainda que não tivesse conseguido ouvir a própria voz. Era de tal volume e intensidade que provavelmente nunca esqueceria.
― Vamos logo, não podemos ficar aqui ― disse Snape, os pequenos olhos negros urgentes. ― Precisamos ficar longe do alcance deles.
Não soube dizer quem eram aqueles que Snape se dirigira, mas tinha a certeza de não perguntar. Não havia muito tempo e ela desejava tão pouco ficar esperando virar lanche de criaturas bizarras. Pouco a pouco, Ametista foi erguida do chão pelo homem, apoiando os braços ao redor dos ombros dele. As pernas estavam levemente fracas, mas o cérebro perturbado não permitia que houvesse muita coordenação nos passos.
Ela não soube dizer qual a velocidade com que subiram os duzentos degraus restantes da escadaria, mas tudo passou rápido demais. Seus joelhos doíam bastante e era difícil movê-los no movimento de subir a escadaria de pedra.
Todavia, logo Snape e ela estavam no topo da colina, diante de um jardim de vegetação rasteira. Galhos de árvores enrolavam-se no chão, retorcidos pelo tempo e pela erosão. Mais à frente, um alto castelo, de torres pontiagudas e janelas compridas. Parecia abandonado.
Quando Ametista virou-se para Snape, o homem estava olhando silencioso para o estado físico da jovem. Ela imaginou como seu cabelo deveria estar desgrenhado e molhado, assim como suas roupas, ao olhar para si mesma, ensopadas contra o corpo pequenino dela. Seus cotovelos e joelhos pareciam feridos. Por um momento, ela desejou disfarçar e tentou fugir dos olhares do professor, enquanto limpava pouco do sangue que se acumulava nos joelhos machucados. Toda sua veste estava enlameada, o que antes era branco agora tinha uma coloração acinzentada e amarronzada. A chuva continuava a cair impiedosamente.
― O que deu na sua cabeça! ― questionou Snape repentinamente, no tom de voz mortal que somente ele tinha. Ametista olhou outra vez para o palácio à frente deles. ― Você ficou completamente louca! Nada do que já viu durante esses dois anos serviu para te deixar longe de tudo isso!
Numa expressão de rebeldia, Ametista simplesmente deu de ombros e passou a caminhar para longe de Snape. O professor soltou o ar pelo nariz e correu atrás dela.
― Não! Não! ― protestou ele, furioso. ― Você não vai se portar comigo desta maneira, não agora, não aqui! Escute o que vou lhe dizer! Durante todo esse tempo, deve mesmo ter sido ótimo ter essa postura de irresponsabilidade, de rispidez e de descaso. Mas você nunca enfrentou o perigo! Você nunca esteve tão perto de assinar seu atestado de óbito, criança estúpida! Será que nada do que te falei serviu para alguma coisa!
Ela sentiu Snape pisar em seu orgulho e virou-se para ele, seu corpo todo trêmulo. Morria de frio. E de mais um monte de sentimentos negativos.
― Eu nunca enfrentei o perigo! Nunca! Eu morri uma vez, Severo! Pelas mãos de Voldemort, esqueceu? Eu presenciei tudo o que há de maligno! E se você acha que estou sendo irresponsável, estou mesmo é tentando pôr um fim nisso tudo! Se, para isso, arriscarei minha vida, eu simplesmente não dou a mínima!
― Isso não é brincadeira, Ametista! ― gritou ele em resposta, a voz rouca e cansada. ― Você não tem idéia do que vai enfrentar hoje se entrar neste castelo! Nós estamos em sério perigo! E eu prometi que vou levá-la de volta para Hogwarts!
― Você prometeu! Prometeu! ― Ametista tossiu, arranhando a garganta, e riu em seguida. O tom era de deboche, de descrença. ― Severo, eu sei quem você é! E posso imaginar que sua consciência está pesando. E é por isso que você veio atrás de mim até aqui!
Enquanto Ametista falava, Snape sentiu uma dor pungente em seu antebraço esquerdo. Colocando a mão sobre a Marca Negra em sua pele, o homem olhou para Ametista, sabendo que o tempo era curto. Teria de aparatar, de dar um jeito na menina e responder aos chamados de Lúcio, antes que caísse em desconfiança. Descer a escadaria seria loucura, os moribundos amaldiçoados do Pântano dos Lamentos estariam à sua espera. Seguir em frente causaria um mal ainda pior a ela. Severo sabia que o tempo estava acabando, que Malfoy requeria sua presença.
― Sei que é um Comensal da Morte e sei que tem de obedecer às ordens de Voldemort! ― dizia ela, percebendo que Snape incomodava-se com algo em braço. ― É ela, não é? A Marca Negra? Estão chamando você, Severo...
WOOSH...
Ambos paralisaram. Na mata que os circundava, o pisca-pisca voltava a chamar a atenção deles. As criaturas estavam por perto. Snape deu um passo na direção de Ametista e tomou o braço direito dela em sua mão, a varinha na outra. Os dois passaram a olhar ao redor de seus corpos, as luzes pequeninas brilhando em todos os cantos.
― Fique de varinha em aguardo, Ametista ― sussurrou ele, imóvel. ― Os ciclopes estão nos farejando.
Ametista arregalou os olhos, sentindo uma pontinha de pânico.
― O-o quê! ― gaguejou a jovem. ― Ciclopes? ― ela engasgou por um segundo e não pareceu acreditar. Ouvira falar de ciclopes quando ainda era uma criança, lendas para assustar infantes. ― Você só pode estar brincando...
― Não se mexa! ― ordenou Snape, olhando para baixo. Havia um farfalhar muito perto deles. O homem sentiu o chão se mover debaixo de seus pés. ― Você está sangrando e eles podem seguir você pelo sangue. ― observou ele, os olhos em alerta.
― Eu já estou sangrando, não adiantará de nada ficar quieta! ― ela protestou, também sentindo algo se mover no chão.
― Não discuta comigo agora, porra, e me obedeça!
Antes que Ametista pudesse responder, Snape puxou-a em direção ao palácio. A sonserina saiu em disparada ao lado de Snape, enquanto, subitamente, os galhos das árvores em que pisavam começaram a se levantar magicamente. Os troncos de madeira erguiam-se até dois metros de altura e se atiravam contra os corpos do Comensal e da garota.
Era como se a natureza tivesse se rebelado contra ambos. Ametista sentia os galhos rasparem contra sua vestimenta e sua pele exposta, como se espinhos entrassem em sua carne. Ela quase foi arremessada para longe quando um deles especialmente feroz atravessou seu caminho. Ametista pulou e soltou do braço de Snape, desvencilhando-se por muito pouco.
Ela pensou em ouvir o professor dizer algo ao seu lado, mas ela não conseguiu distinguir. A terra se mexia debaixo dela, deixando o solo instável e sua coordenação, que já estava fraca, pior ainda.
De imprevisto, Ametista ouviu um baque forte contra o chão enlameado. Virando-se para trás, ainda correndo, viu Snape caído. O mestre devia ter tropeçado em um dos galhos que investiam contra eles. Assim que o homem chegou ao chão, outros troncos passaram a envolver seu corpo, como se o envolvessem por completo. De varinha em punho, ela gritou:
― Desectio!
Rapidamente, os galhos se romperam ao redor de Snape e ele pôde soltar-se do poder deles. Tossindo forte, o mestre começou a erguer-se, mas não demorou até que outros troncos aparecessem para atingi-lo.
Tudo acontecia muito rápido e ela não sabia como agir ou o que fazer para salvá-lo. Abaixou-se, pulou, lançou uma azaração. Nada conseguia parar a natureza contra eles. O chão cheio de terra que se transformara em lama também dava chance para um erro.
E apenas um único erro seria o suficiente. Ela entenderia poucos segundos depois.
Logo após fugir de mais alguns galhos retorcidos e tentar investir outro feitiço para salvar Snape, Ametista sentiu um deles envolver sua cintura, enquanto outro a puxava para longe. A garota foi arremessada contra a mata que havia ao redor do jardim diante do castelo.
Ametista bateu as costas contra uma das árvores e não houve tempo para recuperar a respiração. Logo foi atingida por um galho na altura do estômago. O ar fugiu de seus pulmões. Sem demora, expeliu sangue pela boca.
Deixou o corpo cair contra a relva, batendo o rosto direto na terra batida. Sem poder respirar por alguns segundos, sentiu o estômago atingido pressionar os pulmões, impedindo-a de recuperar-se logo do ataque. Pelo paladar, podia sentir o sangue que vinha do esôfago. Tonta pelo impacto contra a árvore, ficou imóvel, quieta. Talvez essa estratégia desse certo.
Com o ouvido contra o solo, pensou em fechar os olhos e simplesmente ficar. No fundo, não queria que fosse um erro, não queria reconhecer. Mas, se chegar a Voldemort já era tão difícil assim, quando o encontrasse ― e se o encontrasse ― precisaria de muito mais que força de vontade ou sorte.
Precisaria de uma nova vida.
"Obtemperare... Natura rerum omnium mater... Obtemperare".
O som de vozes a despertou dos devaneios e da concentração em sua dor. Ela afundou mais o lado direito da face contra a terra. A mesma frase foi ouvida pela segunda vez. Então, outra e outra vez, como em um mantra. Havia alguém falando com a natureza, aparentemente. A voz vinha do solo, de dentro do chão, do centro da terra.
Enquanto descansava por alguns minutos o corpo ferido, sentindo mais do sangue chegando entre seus dentes, Ametista ouvia o mantra. Se ali estava Voldemort, aquele deveria ser ele ou um de seus seguidores. Eles deveriam estar controlando a natureza e, provavelmente, tudo ao redor que existia naquela ilha.
Havia alguém os observando? Ela desejou erguer a cabeça do chão, mas optou por continuar quieta, os olhos fechados. Debaixo de seu corpo, sentia a terra mover-se e tentou não imaginar com o que aquelas plantas poderiam estar fazendo com Snape. De muito perto, como uma brisa, percebia que existiam galhos circulando seu próprio corpo, na esperança de encontrar atividade física viva ainda nela.
Talvez sim, talvez houvesse alguém observando seus passos, alguém que já soubesse de sua presença naquele lugar. Quem sabe o próprio Malfoy não tivesse avisado Voldemort? O Lorde das Trevas parecia de posse de tudo que ocorria por ali. Deveria haver algum buraco. Teria de haver.
― Ametista! Ametista!
Os gritos de Snape despertaram-na. Ainda de olhos fechados e de membros imóveis, ela o ouviu clamar. Sabia que o homem deveria estar apavorado por ela, precisando saber como ela estava, seu estado. Não havia escapatória. Ela teria de enfrentar o que quer que fosse aquela força desconhecida e correr para dentro do castelo.
Encheu os pulmões, firmou a varinha nos dedos. Contou até três. Seus olhos ― daquele azul-escuro profundo que somente os Black tinham ― abriram-se logo após sua contagem. Imediatamente, ela pôde ver que haviam dezenas de galhos elevados ao redor de seu corpo, prontos para atacar. Antes de se erguer, apenas virou o corpo, do jeito mais rápido que podia e apontou a varinha para cima, gritando um feitiço para espantá-las para longe dela.
Os galhos foram partidos acima de sua cabeça, caindo contra o corpo deitado na terra. As gotas de água gelada da chuva se misturaram com os pedaços dos troncos. Ela protegeu levemente o rosto, sentindo pesados galhos caindo contra partes já feridas de seu corpo. Segundos preciosos se passaram e ela se levantou, ouvindo a investida da natureza contra Snape.
Diante dela, a poucos metros, o corpo na vestimenta negra de Snape estava coberto parcialmente pelos galhos, e ela não soube explicar o porquê dele continuar ali. Afinal, Snape era um Comensal da Morte e tinha muito mais poder que se imaginava, não era daqueles que se rendia aos movimentos de uma natureza controlada. Ainda que fosse por alguém de poder igual ou superior ao dele próprio.
Ametista olhou ao redor, procurando encontrar alguma saída para o professor, mas percebeu que, parada ali, era mais uma isca para a natureza. Quando viu alguns sinais que poderiam ser usados para livrar Snape, ouviu-o gritar para que seguisse em frente, que ele logo a alcançaria.
Então, ela fez a única coisa ao seu alcance. Voltou a correr em direção ao castelo.
Não soube dizer, estavam relativamente perto do palácio, mas nunca foi tão difícil percorrer aqueles tão poucos metros. Os galhos ainda tentavam agarrar suas pernas, seus braços, jogá-la mais uma vez contra as árvores que envolviam o jardim. A varinha manteve-se sempre forte entre seus dedos, e ela soube como abrir a porta do castelo sem sequer apontar a varinha e proferir algum feitiço.
Quando chegou próxima à porta, ela abriu sozinha. Quando um leve sorriso chegou aos seus lábios, um que ela admitia ser de dor e de alívio ao mesmo tempo, viu algo que congelou todos os nervos de seu corpo. Alguém esperava por ela, especialmente por ela. Vestia preto da cabeça aos pés. E sorria, a mão na varinha. Apontada para ela.
― Crucio!
Foi tudo que ouviu. A imagem do rosto de Lúcio Malfoy estampou-se em sua memória no momento em que o feitiço atingiu-a e ela caiu contra o chão. Gritando com toda a pouca força que ainda resistia em seus pulmões.
Harry ainda segurava firme o braço de Sirius quando todos pousaram na Ilha. Por algum motivo, seu coração estava pesado, como quando se acaba de perder alguém que vai embora, sem volta. Engoliu fundo quando levantou os olhos para ter uma visão de onde haviam parado. Ao seu lado, ouviu Rony sussurrar algo para Hermione. Eles pareciam apreensivos. E também, quem não estaria numa situação como aquela?
Não conseguiu deixar de pensar em como estava Hogwarts, agora sem a proteção de Dumbledore e tendo de se defender do ataque de dementadores. Ele apenas esperava que o Ministério da Magia conseguisse garantir a segurança dos estudantes. Os professores lutariam lado a lado com os aurores e espiões do Ministério, mas parecia que havia algo errado. Pensou em Hagrid. Será que ele estava bem?
Observou onde havia chegado. O lugar era escuro. Os pés de todos estavam imersos até os joelhos, haviam caído dentro do mar, no raso. A água era escura, feia e muito gelada. Para ajudar, estava chovendo acima de suas cabeças. No horizonte atrás deles, podiam ser visto raios caindo contra a água do mar do Pacífico. Uma tempestade pior que a que já caía estava chegando, sem dúvida. E isso não era bom sinal.
― Então aqui foi onde Voldemort resolveu se esconder ― disse em um tom analítico Silver Zylkins. Ele passou as mãos úmidas sobre o cabelo loiro e tremeu de frio. ― Que lugar mais desagradável. Por que não pôde escolher ficar nos trópicos?
O duelista deu um passo à frente, Juliet Stevens e Rudolph Rawlings ao seu encalço. Os três observaram ao redor, como se procurassem algo.
― Essa ilha é bem como eu imaginava de pequena ― divagou Juliet, enquanto movimentava as pernas debaixo d'água. ― O mar de águas escuras, a escadaria que levava ao castelo dos ciclopes no topo da colina... Voldemort não podia escolher lugar melhor, na minha opinião Silver, bem ao estilo dele.
De fato, Harry observou, havia uma ilha há poucos metros deles, assim como um píer à esquerda. A terra parecia escura pela chuva, transformando-se em lama lentamente. Uma escadaria se estendia pouco adiante, longa e íngreme. Sem dúvida, mais de quinhentos degraus. Altas árvores, parecidas com pinheiros, circundavam a escadaria de pedra, todas elas indo e voltando no ritmo do vento proporcionado pela tempestade.
No topo da colina estava o castelo. Agora, parecia bem pequeno, quase ínfimo. Lá, Voldemort e seus seguidores esperavam por eles, prontos para levar aquela batalha às últimas conseqüências. Harry não podia esperar mais.
― Vamos Harry ― chamou Sirius, caminhando junto a Carlinhos, Gui e Jack Wingnut. ― Não podemos perder mais tempo. Temos poucas horas.
Seus pés moveram-se contra a água gelada do Pacífico. Não percebeu como seus membros inferiores estavam fincados contra a terra do fundo do mar. Lentamente, seus pés estavam submergindo à areia, como se fosse movediça. Ergueu a perna direita, pisou sobre alguma coisa disforme. Quando ergueu o pé esquerdo para dar o primeiro passos, de súbito, tombou contra o mar, afundando e batendo o rosto no fundo.
Harry tentou soltar o ar dos pulmões e bateu as mãos para chamar a atenção dos outros. Abrindo os olhos debaixo da água, os óculos atrapalhando sua visão, assistiu olhos brilhantes o observarem. "Mas que merda é essa?", pensou, a respiração difícil de chegar ao seu cérebro. "Isso são pessoas?". Tentou alcançar a varinha no bolso da calça, mas seus braços estavam presos. Mãos seguravam seus membros superiores com força. Em pânico, começou a agitar o corpo da maneira que podia, semi-paralisado.
Sirius ouviu o som de algo se movendo na água atrás dele e se tornou para onde estava anteriormente. Debaixo d'água, ele podia ver Harry caído no mar. Sua visão estava dificultada por conta da água turva, mas o afilhado parecia se mover loucamente contra alguma coisa invisível. Sem entender o que acontecia, Sirius voltou na tentativa de ajudá-lo. Próximo ao jovem, um corpo levantou-se do mar, pálido e enrugado. Sirius paralisou e retirou a varinha do casaco, apontando-a para a criatura.
Assim que Sirius tentou uma azaração sobre a criatura, foi como se todos os corpos submersos tivessem despertado. Não muito distante dele, Gui e Carlinhos observaram dezenas de criaturas levantarem-se das águas, todas como a que investia contra Sirius. Hermione olhou para Rony, o jovem parecendo confuso, e disse para todos:
― Lembram da lenda! Esse aqui é o Pântano dos Lamentos! ― anunciou ela, percebendo olhares arregalados em sua direção. ― Aqui ficam as almas aprisionadas pelos ciclopes, as pessoas que serviram de alimento para eles!
Uma voz veio detrás de todos eles.
― Hermione tem razão! ― gritou Hauspie Bellacroix, colocando as mãos dentro do casaco. ― Eles são mortos-vivos, nós não podemos matá-los. Vamos afastá-los para conseguir passagem até a terra firme!
Ela mal terminou a frase e logo luzes azuladas surgiram ao lado de seu corpo, acompanhando o movimento de seus braços. Duas espadas apareceram em suas mãos. Rawlings, Stevens e Zylkins entenderam o recado, cada um deles tomando suas varinhas. Gui e Carlinhos fizeram o mesmo, assim como Hermione e Rony, a mão dela ainda na do namorado, tensa.
Repentinamente, Harry levantou do mar, emergindo enquanto lançava um gancho levemente desajeitado num dos moribundos. A criatura cambaleou e finalmente se rendeu, caindo contra o mar. No momento, todos os outros moribundos presentes gemeram alto, como em defesa daquele que havia sido atingido pelo golpe de Harry.
E foi o pandemônio.
Harry não conseguia contar quantos se aproximaram dele para atingi-lo. Muitos. Dezenas, centenas dele, não sabia dizer. Munido de sua varinha e de punhos e pernas, ele investia como podia contra os mortos-vivos. Uma mulher que parecia ter cerca de trinta anos correu até ele, as unhas compridas e curvadas, diretamente no rosto dele. Harry abaixou-se e deu um soco no estômago da criatura. No mesmo segundo, um homem de quase um metro de noventa alinhou-se com ele e tentou socá-lo direto no queixo. Ele não soube como escapou, mas conseguiu dar uma rasteira no homem, elevando-o um metro do chão e levantando muita água. Parou um segundo para respirar. Todos estavam em mesma posição que ele.
Ao seu lado, Hermione e Rony lutavam juntos para se livrar de um grupo de jovens, talvez antigos estudantes, todos com cerca de quinze anos. Dez deles fizeram uma roda envolta dos grifinórios e vieram para cima. Rony afastava-os com os punhos, enquanto Hermione usava sua varinha. Com o estupore, ela chegou a colocar no chão ― ou na água, no caso ― cerca de seis deles. Um deles atingiu-a nas costas, mas ela conseguiu virar-se a tempo de enfiá-lo direto na água de novo. Rony era ágil e conseguia distribuir socos e chutes a quem chegasse muito perto, especialmente de Hermione.
Pouco distante deles, Hauspie Bellacroix dava um show de como ser a melhor espadachim da Europa. Próxima dela parecia haver uma verdadeira fila de moribundos prontos para serem cortados ao meio ou partidos em três. Naquele momento, quatro morto-vivos estavam tentando jogá-la contra o mar, mas ela conseguia afastá-los girando o corpo junto com as espadas, como num balé, cortando-os no meio. Os pedaços caíam no chão e Hauspie retirava os fios negros do cabelo liso da testa, pronta para receber mais deles. Havia quase um sorriso triunfante e prepotente naqueles lábios vermelhos.
Juliet Stevens e Silver Zylkins tinham modos parecidos de lidar com as criaturas. Silver era incrivelmente habilidoso e rápido nos feitiços, usando uma variedade rara deles, espantando-os para longe. Juliet, por sua vez, mutava o corpo para parecer um deles, então os moribundos ficavam confusos e não conseguiam identificar de onde vinham os feitiços que partiam seus corpos. Eles eram, depois de Bellacroix, os mais próximos do píer.
Sirius e Rawlings lutavam também lado a lado, o padrinho de Harry usando os punhos e a varinha. Rawlings tinha um jogo interessante, ele parecia girar a capa preta que sempre usava contra as criaturas e elas caíam de volta na água escura do Pacífico. Ele apontava as mãos, abertas, para os mortos e seus corpos caíam, saindo de seu caminho.
Gui e Carlinhos, lutando próximos de Sirius e Rawlings, trocavam golpes e feitiços com as criaturas, rápidos e cheios de destreza. Em certo tempo, Sirius caiu enquanto dois homens bateram-no, um dando um chute em suas costelas, e outro torcendo um de seus braços. Gui surgiu de algum lugar e imobilizou os mortos-vivos, ajudando Sirius a erguer-se do mar.
― Não adianta apenas lutar, temos de prosseguir ― gritou Bellacroix, a que parecia mais perto do píer que os levava para a terra. ― Eu vou continuar e espero vocês no topo da colina!
Harry ainda tentou responder algo para Hauspie, afinal de contas, ele precisava que procurassem Gina antes de tudo. Precisava que a encontrassem e que a mandassem de volta para Hogwarts, salva. De alguma maneira, ele sentia que devia isso aos Weasley, especialmente a Sra. Weasley que sempre o tratou como um filho.
Porém, não houve tempo. Durante o segundo que se descuidou, pensando em Gina e em Bellacroix, três criaturas ― uma delas, uma criança próxima aos dez anos que se agarrou em suas pernas ― aproveitaram a chance e começaram a arrastá-lo para o fundo do mar. Tentou ainda conjurar algum feitiço, qualquer coisa, mas um deles abriu a boca e simplesmente fincou os dentes no punho direito de Harry. O jovem soltou um grito, a dor dos dentes afiados do moribundo cravados em seu braço.
Em meio àquela loucura, Harry foi capaz de ouvir um tiro que cortara o ritmo da tempestade. De repente, o morto-vivo que havia mordido seu punho abriu a boca e o soltou, caindo para o lado esquerdo e afundando na água. Os outros que puxavam Harry para o fundo do Pacífico logo também o soltaram, e ele não sabia o motivo. Deixou seu corpo submergir na água gélida desequilibrando-se. Sentiu o braço arder quando o enfiou nela, sal entrando em contato com a ferida aberta.
Não queria esperar mais para alcançar o píer, sem se importar quem o havia salvado. Inesperadamente, sentiu alguém retendo seu corpo sob a água. Como se presas subissem da areia do mar, braços agora o prendiam contra o chão. Seguravam seu corpo do pescoço até o tornozelo. Harry começou a se debater, imaginando que não agüentaria muito mais ― o ar estava acabando em seus pulmões. Os seis pares de braços que o prendiam na areia do mar começaram a pressionar suas entranhas, como se tivessem a intenção de puxá-lo para dentro da terra.
Pouco a pouco, o ar chegava mais lentamente a seu cérebro e ele não conseguia mais respirar direito. Os dois pares de braços na região de seu tórax não paravam de apertar e puxar e fazê-lo ficar ainda mais sedento por oxigênio. E quando ele imaginou se Bellacroix já tinha escalado a colina e chegado até Gina Weasley, pontos pretos atingiram sua mente e visão. Harry apertou os olhos, tentando recuperar a consciência, mas era difícil demais.
Provavelmente deveria estar delirando também, pois ainda conseguiu notar coisas parecidas com flechas entrando na água e perfurando os braços que o retinham. E para sua surpresa, nenhuma delas o atingia. Caso o atingissem, a perda de consciência quase completa permitia que não sentisse mais dor.
Todavia, logo as mãos soltaram seu corpo e era como se não houvesse mais nada que o prendesse à água. E ele estava respirando novamente.
― Harry! Harry!
Abrindo os olhos com dificuldade, focalizou a face de Jack Wingnut observando-o apreensivo.
― Harry, você está bem? Vamos lá, estamos quase conseguindo! ― disse Jack, enquanto movia partes do corpo de Harry para checar que o jovem estava bem.
O grifinório agitou a cabeça, sentindo o toque de Jack. A pressão parecia ter se estabilizado e ele estava consciente outra vez. Somente naquele momento, percebeu que estava muito próximo ao píer. Jack colocou-o de pé e ambos começaram a andar, as criaturas caindo ao seu lado. Alguém deveria estar dando cobertura.
― Caramba, Jack, você tem uma pontaria incrível ― comentou Harry, olhando para seu corpo intacto. ― Não me acertou nenhuma vez.
― É para isso que estou aqui, Harry. Não é por menos que sou o campeão de arco e flecha do Reino Unido. ― respondeu com uma pontinha de humor o moreno, carregando Harry pelos ombros.
Quando Harry alcançou o píer, Silver e Juliet estavam ao seu lado. Assistiu ainda Sirius, Rawlings, Rony e Hermione saírem do mar, enquanto Jack conjurava flechas e distraía as criaturas. O arqueiro era capaz de conjurá-las em pensamento. Estendia o arco com a mão esquerda e em sua mão direita surgia uma flecha dourada. Uma atrás da outra.
Não demorou muito mais até que todos estivessem reunidos e começassem a subir a escadaria. Para Harry, o início fora dificultado pela respiração lesionada há pouco. Apoiando-se a princípio no padrinho, conseguiu chegar a quase metade da escadaria, e depois seguira por sozinho. À sua frente estavam Bellacroix e Rawlings, ela ainda munida de suas espadas. Não havia luminosidade, portanto, todos andavam relativamente juntos, seguindo os passos e as respirações alheias. A chuva prosseguia conforme subiam rapidamente, todavia cautelosos, os degraus de pedra.
Harry pensou por um momento estar delirando, mas podia jurar que vira algo parecido com vaga-lumes entre a folhagem alta. Não parando para observar, continuava a escalada, quieto. Sirius cutucou-o e apontou para as árvores, sussurrando para o afilhado se ele havia visto algo. Harry concordou com a cabeça.
Cada degrau ultrapassado, ele percebia que a escadaria ficava um centímetro mais difícil de ser terminada. Não sabia dizer se os degraus eram menores, mais curtos, mais inclinados. Sua mente passeou pela preocupação com Gina. Como ela poderia estar? A responsabilidade estava em seus ombros dessa vez, muito mais do que no segundo ano quando ainda era um menino. Agora, ele era o comandante, um jovem à beira de completar sua maioridade e pronto para destruir Voldemort. Ou isso era o que sua confiança dizia. Pena que ela não era tão constante quanto deveria.
"Há vaga-lumes demais nesse lugar", pensou ele perturbado por aquele pisca-pisca. Na parcial escuridão em que se encontrava, aquela luminosidade instável chamava atenção de seus olhos e sua visão estava ficando cansada. Tentou imaginar quanto tempo mais demoraria, quanto mais de sua força teria de usar, quanto esforço bastava para salvar a irmã de Rony. A Sra. Weasley não poderia suportar uma nova perda, Percy já fora demais. Talvez para ele mesmo, perder mais alguém seria muito para agüentar. Lupin estava em um coma irreversível, sua tia desaparecera, Dumbledore escolhe pior hora para uma jornada e... Sequer precisava recordar uma atitude no mínimo estúpida de Ametista ao se entregar para Voldemort.
Sirius repentinamente paralisou ao seu lado. Ouviu contra o ar o movimento das espadas de Bellacroix e tentou enxergar à frente. A espadachim tinha ao seu lado o caçador Rawlings e ambos pareciam entorpecidos diante de alguma coisa. Quando Harry subiu mais um degrau, Sirius colocou a mão para impedi-lo. Às suas costas, Jack Wingnut e Silver Zylkins sibilaram algo que não chegou completo aos seus ouvidos. Sirius virou o pescoço e pôde ver.
A criatura tinha provavelmente bem mais de dois metros de altura. Parecia um gigante. No lugar de um rosto normal, com olhos, boca e nariz, a pele era uma só, dando lugar a apenas um globo ocular, grande e anormal. Sirius nunca tinha visto nada parecido, somente em livros quando era menor e lia sobre as lendas da Ilha dos Ciclopes. Aquilo não podia ser verdade.
― Zylkins, Wingnut, não se mexam. ― disse Sirius, em tom de alerta. ― Ele pode encontrar vocês dois. Não tem narizes, mas sei que podem farejar seu medo, seu pânico, de alguma maneira desconhecida.
Harry quis perguntar o que havia de tão estranho e incomum naquilo que aparecera diante de Bellacroix, Rawlings, Zylkins e Wingnut, mas apenas pelo tom de temor de seu padrinho, achou melhor ficar calado e confiar.
― Fico feliz que tenham nos encontrado. Não é sempre que recebemos presenças tão ilustres...
Todos se silenciaram. Poucos degraus à frente faltavam para que alcançassem o castelo. A voz vinha próxima às folhagens, mas Harry não sabia dizer exatamente de onde. Sentiu Sirius enrijecer ao seu lado, tomando nas mãos a varinha de dentro do casaco e apontando para a escuridão.
― Apareça Adams!
Dentre as árvores, do lado esquerdo da escadaria, o Comensal da Morte David Adams surgiu. Em sua vestimenta negra, apenas seu rosto era visível claramente. Todos apontaram as varinhas para Adams, menos Hermione, Rony e Harry, que aproximaram os corpos um do outro. Harry sabia muito do que Adams era capaz.
― Oh, quanta agressividade ― zombou o Comensal. ― Todo cuidado é pouco quando estão tão próximos aos ciclopes, pensei que tivessem noção disso ― disse ele, enquanto Harry engolia em seco. Ciclopes? ― E eu que vim somente fazer-lhes um convite. O castelo estará aberto para todos vocês, meu Lorde os está esperando ansiosamente ― David girou o olhar e postou-lhe sobre Rony. ― E também aquela garota ruiva.
Hermione e Harry viram o queixo de Rony trancar ao ouvir o Comensal falar sobre Gina.
― Vocês não vão encostar um dedo na nossa irmã! ― gritou Gui, não muito distante de seus irmãos, tão furiosos quanto ele. ― Entendeu? Não irão machucá-la!
― Não, garoto? ― Adams abriu um sorriso e moveu as mãos, como se quisesse chamar alguém ao seu lado. ― Aposto que vocês também achavam isso até seu querido irmão Percy gritar como uma garotinha enquanto queimava vivo...
Hermione soltou uma exclamação e colocou a mão sobre os lábios. Gui, Carlinhos e Rony gritaram feitiços diversos ao mesmo tempo, enquanto David ria da reação emocional dos irmãos. Harry não soube distinguir quais foram eles, mas nenhuma das azarações atingiu o Comensal. Adams bloqueou os feitiços apenas estendendo os braços. Um segundo depois, os três irmãos foram atingidos de volta pelos encantamentos.
Rony foi lançado contra Harry e Hermione, que caíram contra os degraus e bateram as cabeças, protegendo o amigo com os próprios corpos. Gui e Carlinhos voaram na direção de Juliet Stevens, mas ambos paralisaram os corpos no ar e colocaram-nos de volta ao chão. Os Weasley levantaram rapidamente e apontaram mais uma vez as varinhas para o Comensal.
― Não sejam idiotas de quererem lutar contra mim ― disse Adams. ― Não vou gastar meu tempo. Tentem atingir o topo e adentrar no castelo. Certamente, esperaremos todos vocês ― David fitou Sirius, um sorriso malicioso nos lábios. ― E nós dois teremos uma nova chance, Black. Estarei aguardando ― quando ele parecia ir embora, já que seu corpo estava tornando-se invisível, ele sorriu. ― E sua filhinha também.
Harry não conseguiu ver a reação de Sirius ao ouvir Adams, pois ainda erguia-se de chão junto com Rony e Hermione, mas podia ter certeza de que o duelo entre os dois seria feio. Como Sirius deveria ter encarado isso? Era da filha dele que estavam falando. Então, de fato, Ametista havia se rendido e já estava sob o poder das mãos do Lorde. Procurou não pensar no que aquilo significava, mas imaginar o que ela poderia estar passando naquele instante arrepiou todo seu corpo.
Os outros viram o Comensal desaparecer nas sombras ao passo em que outras criaturas saíram das folhagens. Cerca de quatro ciclopes apareceram onde Adams localizava-se anteriormente. Do chão, Harry, Rony e Hermione entreolharam-se e nada disseram. Era como uma troca de palavras, de promessas não ditas. Eles deveriam tentar chegar ao castelo o mais rápido possível. E se chegassem juntos, melhor ainda. Porém, caso não conseguissem, que deteriam o máximo de ciclopes.
― Faltam apenas cinqüenta degraus, vamos correr! ― gritou Rawlings quase no fim da escadaria, ao lado de Bellacroix. ― Não tentem destruir os ciclopes, apenas desviem deles e corram para o topo!
Diante dos três amigos caídos contra a escadaria, os outros componentes da Ordem saíram em passos largos, tentando pular dois ou três degraus por vez. Jack e Silver dividiram-se, assim como Bellacroix e Rawlings no topo. Sirius tornou-se para os três, o olhar ligeiramente perdido. Harry entendeu sem que o padrinho abrisse os lábios.
― Ficaremos bem, Sirius, continue. ― disse ele, a confiança na voz.
Os jovens olharam para Sirius, reunindo todas suas forças, e o homem seguiu em frente. Não havia solução, eles deveriam continuar até o último degrau, da forma que fosse. Harry, então, bateu as mãos nas pedras da escadaria e levantou-se, estendendo a mão para os amigos. Entretanto, não pôde deixar passar despercebida a expressão de pânico no rosto de ambos. Havia algo como um sussurro que conseguia notar logo acima de sua cabeça.
― O que há em cima de mim? ― questionou ele temeroso para os rostos apavorados de seus amigos. Hermione moveu seus lábios, mas som nenhum se propagou.
Lentamente, ele torceu a cabeça para o lado esquerdo e sentiu seus músculos paralisarem. A alguns degraus de distância, uma criatura como aquelas outras que haviam atacado Hauspie anteriormente estava lá, observando-o, assim como Silver e Jack. Apenas um olho em todo o rosto. Uma visão assustadora.
Antes que pudesse mover o corpo um centímetro para o lado, Harry viu Rony rolar o corpo para o lado, caindo alguns degraus. Esse movimento chamou a atenção do ciclope, que se ergueu e se virou para baixo, onde Rony rolara. Harry ajudou Hermione a levantar do chão e ambos observaram Rony fazer o mesmo, apenas alguns degraus para baixo. No momento em que o ruivo ergueu-se, o ciclope gritou.
Nenhum deles sabia explicar o que era aquele grito, aquele lamurio, mas os três acabaram por reunir-se alguns degraus acima, correndo agora não só da criatura, mas também do som que ela provocava. Rony era o que estava mais atrás dos três, subindo os degraus com tudo que podia, mas sentiu aos poucos suas pernas bem mais lentas, formigando, cansadas. Suas noções de tempo e espaço não estavam as mesmas e ele tropeçou.
Pouco à frente, Harry e Hermione largavam quase ao mesmo tempo suas varinhas e ajoelhavam contra os degraus de pedra, levando as mãos em seus ouvidos. Não dava para suportar mais, a canção desesperadora estava deixando-os malucos. Harry jogou a cabeça para frente e apoiou-a contra o lance mais alto, batendo-a levemente contra a parede. Hermione suspirou e, ainda cobrindo os tímpanos, tomou a varinha do chão e apontou-a diretamente para Harry:
― Surdatis Temporale!
Sem qualquer explicação, Harry parou de bater a cabeça e conseguiu respirar. Melhor ainda, pensar com clareza. Sua cabeça parecia livre dos gritos dos ciclopes, era como se uma nuvem de silêncio pousasse sobre seu corpo, sua mente, e ele pudesse ficar na total passividade, parado ali, ouvindo apenas seus próprios pensamentos. Olhou para o lado e viu Hermione apontando a varinha para alguém logo atrás de ambos. Virou-se e viu Rony abrindo os olhos lentamente e parecendo chocado, tanto quanto ele.
A jovem percebeu seus dois amigos fitarem-na confusos, mas apenas gesticulou que deveriam levantar e continuar em frente. Que genial, ele não pôde deixar de pensar. Hermione havia conjurado algum feitiço que os deixavam imunes ao canto enlouquecido dos ciclopes. Ao menos, temporariamente. Assim, os três ergueram-se mais uma vez e continuaram. Tiveram no meio do caminho de passar por ciclopes de todos os lados, vezes iam um por um, vezes davam as mãos e corriam o máximo que podiam. Seus corpos voltaram a lhes obedecer e o topo da colina não parecia mais tão longínquo.
Chegando ao topo, Hermione tornou-se para os dois jovens e retirou o feitiço. Rony e Harry agradeceram-na, enquanto o primeiro não deixava de reclamar sobre como os ciclopes podiam fazer aquele som se nem boca possuíam. Enquanto isso, Harry e Hermione viam o que faltava para chegarem ao castelo. A porta estava aberta e precisavam apenas ultrapassar uma espécie de jardim de galhos. Supostamente.
Os três encontraram os outros companheiros paralisados diante de uma cortina de galhos e folhagens. Ao menos, era aquilo que parecia. Harry recordou-se do labirinto que teve de ultrapassar no Torneio Tribuxo no quarto ano. Aquela folhagem era bem parecida com a traiçoeira terceira tarefa. Ouviram Bellacroix dar um passo para trás e colocar suas espadas em posição de ataque.
― Esperem aqui enquanto eu tento descobrir o que é isso. ― avisou ela, enquanto enfiava suas espadas contra a cortina de folhas e galhos à frente.
De longe, todos conseguiam ver que Bellacroix abria caminho entre as plantas com facilidade. Alguns metros adiante e ficou difícil de encontrá-la no meio daquela folhagem. Silver, Jack e Juliet ficaram atrás dos três jovens para certificarem-se de que os ciclopes não chegassem perto novamente. Harry chegou mais perto de Sirius, notando que o padrinho parecia levemente ofegante.
― Hey Sirius ― disse ele, colocando a mão nas costas do homem. ― Não se preocupe, ela não deixaria ninguém chegar um metro perto dela.
Harry preferiu ignorar o fato de que Sirius prendeu a respiração por um momento e olhou para o céu, na intenção de conter as lágrimas.
― Eu sei, Harry ― respondeu ele, mas como se não estivesse sendo totalmente sincero. ― Eu só queria que ela tivesse me dito ― o homem olhou fundo para o afilhado. ― Perdi minha filha uma vez, mas consegui reconquistá-la, Harry. Mas, sinto que dessa vez, estou lutando contra o inevitável.
O jovem não queria concordar com Sirius, por mais que sentisse o mesmo que ele. Enquanto pensava no que responder para o padrinho, Bellacroix voltou em passo acelerado.
― Caminho livre, a porta está aberta.
Entraram no corredor primeiramente a espadachim, seguida de Harry, Sirius, Hermione, Rony, Carlinhos, Rawlings, Gui, Juliet, Jack e Silver. O corredor era estreito, portanto, todos tinham de acompanhar o ritmo ditado por Bellacroix ― cauteloso. De tudo que tinham passado até então, aquilo era fácil demais. E Harry entendia toda a preocupação de Bellacroix.
Hauspie foi a primeira a entrar no castelo. Harry apenas seguiu os outros. Assim que colocou o pé dentro do palácio, ouviu o grito de Juliet e Silver. Virou-se para trás e conseguiu ver ainda Hermione e Rony adentrarem até que dois vultos negros bloqueassem a passagem. Bellacroix gritou algo em francês que ele não soube traduzir, enquanto ela e Sirius aproximavam-se da entrada do castelo. O mais distante deles, Silver Zylkins, parecia estar sendo enrolado por galhos e folhagens no pescoço e no tronco. Juliet Stevens tentava ajudá-lo, assim como Jack Wingnut.
Harry pôde observar como os dois vultos negros cobriram a porta e se tornaram para eles, bloqueando a passagem dos irmãos de Rony e os outros. Sirius deu um passo para trás.
― Avery, seu canalha, nos deixe passar!
Os dois Comensais sorriram e colocaram as mãos nas maçanetas da grande porta de madeira. Era um homem e uma mulher, os dois muito parecidos.
― Black, essa é a sua chance. Continue seu caminho sem seus amigos. — respondeu o homem, fechando lentamente uma das portas do castelo.
Bellacroix, por sua vez, tentou investir contra o outro Comensal com uma de suas espadas, mas foi bloqueada por uma espécie de parede invisível.
― Vocês estão presos aqui e só sairão mortos. ― disse a mulher vestido em preto.
Hermione, Rony e Harry ouviram quando a voz de Rudolph Rawlings propagou-se até eles dentro do castelo.
― Sigam em frente, nós alcançaremos vocês mais tarde! Continuem!
Os dois Comensais sorriam.
― É melhor ouvirem seu amigo ― disse o homem, Avery. ― Nós cuidaremos deles para que isso não aconteça, de qualquer forma.
Sirius ainda tentou apontar a varinha para os Comensais da Morte, mas sentiu o braço de Bellacroix puxá-lo para trás.
― Rawlings e os outros podem cuidar disso, Black. Vamos prosseguir.
Puxando o braço do homem, Bellacroix guiou-os para dentro do castelo. Os Comensais fecharam a passagem entre o jardim e o castelo e tudo ficou mais uma vez escuro demais. Os cinco que adentraram conjuraram feitiços de luz em suas varinhas e se entreolharam. Se os cinco haviam conseguido entrar primeiro que os outros, então algo grande estava os esperando do lado de dentro.
De varinhas em punho, os cinco saíram juntos, em fila, cautelosos. Nada poderia passar despercebido. Nenhum som poderia escapar de seus ouvidos, absolutamente nada. Harry viu Hermione apertar a mão de Rony por um momento e passar a ele aquela confiança que existia somente entre os dois. Uma coisa particular, um sentimento íntimo, uma confiança intocável e inatingível.
Caminhando vagarosamente, atento, desejou que estivesse ao lado dela novamente. Em Azkaban, lutaram lado a lado. Trocaram olhares como confidências, sabiam como agir. Foi assim que ele conseguiu reverter a Cruciatus. Assim como quando os dementadores invadiram Hogwarts e ele teve de quebrar a proteção que cercava Hogwarts. A mão dela, o contato, o saber de sua presença fizeram-no conjurar um de seus mais poderosos patronos. Seria provavelmente mais fácil lutar ao lado dela.
Mas hoje, ela estava sob o poder do inimigo. E nada mais desejava do que salvá-la e recuperar o que havia perdido para Voldemort. Tinha de se manter alerta, a postos para enfrentar qualquer ataque, de qualquer Comensal. Até mesmo dele, do Lorde das Trevas. Sentiu Hermione tocar seu ombro e aquele pequeno gesto trouxe um bocado de alívio para Harry. Tinha seus amigos, as melhores pessoas que já cruzaram seu caminho.
"Vamos prometer que, não importe o que aconteça nesta noite, nós sairemos vivos da Ilha dos Ciclopes, juntos".
Um pequeno sorriso apareceu em seus lábios e ele pensou em como ainda era capaz de sorrir num momento como aquele. Olhou para trás e viu Rony observá-lo da mesma maneira, o semblante preocupado, mas feliz por terem chegado até ali juntos, como haviam prometido poucas horas antes.
Continuaram a caminhar, virando corredores, investigando salas, portas e fechaduras separando-os de um novo desafio. Passaram por, ao menos, três grandes salas que pareciam as referências do castelo. As madeiras do chão do castelo rangiam com o peso das passadas deles. Não conseguiriam esconder sua presença, mas estavam preparados para sacar suas varinhas e atacar com todas as suas forças.
Não demorou muito até que chegassem a um grande espaço aberto. Deveriam estar quase no centro do castelo. Era uma grande sala circular ― não, uma enorme sala circular ―, assim como a maioria dos cômodos do palácio. A diferença é que no centro havia uma redoma larga redoma de vidro, vazia por dentro. Não conseguiam ver o teto da redoma, já que o vidro parecia ir até o mais alto do castelo. Ao menos, esta sala era iluminada por velas e pela pouca claridade que oferecia aquela redoma e a clarabóia mais acima. O som da chuva batia contra o vidro e Harry lembrava-se de como o jardim de inverno no Casarão dos Black em Godric's Hollow provocava aquele mesmo som. De dia, aquele vidro da redoma deveria promover um bonito reflexo de cores em contato com a luz do sol.
Aproximando-se levemente da redoma, Harry pôde ver através dela que, não muito distante, havia uma grande e larga escadaria que pegava quase toda a parede adiante. Era como um novo andar, mas que fazia parte da sala. Depois da escadaria, era impossível enxergar, já que apenas as velas que clareavam a parte superior do recinto era poucas. À sua direita e esquerda, havia duas mesas repletas de velas, como se fossem altares.
Bellacroix foi a primeira a olhar com maior cuidado a sala. Andou paralelamente à redoma de vidro, olhando o altar do lado direito e continuando até chegar próxima à escadaria da sala. Aquele lugar era majestoso, deveria ter sido num passado bem distante onde reis e rainhas promoviam bailes e festas.
Caso não tivesse tão preocupada em saber se estavam ou não sozinhos no âmbito, conseguiria perceber como ao lado das escadas existiam correntes penduradas. Como se costumava existir em castelos medievais, em seus calabouços, para torturar traidores. Passando ao lado dos castiçais pendurados nas paredes, ouviu passos que não eram os dela. Virou-se para Sirius.
― Tem algo de errado por aqui. ― a espadachim aproximou sua varinha sobre os degraus da escadaria e começou a subir cuidadosamente. Ficou quieta, enquanto Sirius checava o outro da sala e os três jovens ficaram perto da entrada, esperando o sinal dos adultos.
Nada se foi ouvido por alguns curtos segundos. As velas começaram a se movimentar, como se houvesse uma brisa presente para apagá-las. Hermione observou-as e franziu a testa, apontando a varinha para o lugar em que parte delas estavam localizadas, como em um altar. Chegando com a varinha bem de perto, pôde notar que havia manchas nas paredes. Vermelhas.
Trêmula, tornou-se para Harry e Rony.
― Pessoal, ela está certa, tem algo de muito estranho por aqui. ― e com isso, os garotos se aproximaram dela e viram as manchas na parede iluminadas pela varinha de Hermione, coisa que as velas do altar não conseguiam.
― Isso é... Sangue? ― questionou Rony, algo preso em sua garganta.
Harry seguiu as manchas que desciam pela parede até o alto. No topo, ainda longe do teto já que a sala era alta demais, pôde ver algemas de ferro penduradas por anéis de correntes enferrujadas. Nas algemas, anéis de espinhos pareciam afiados o bastante para fazer todo o sangue do pulso de um ser humano acabar lenta e dolorosamente.
O jovem começou a seguir pela sala, apontando sua varinha para o teto, observando que a cada cinco metros, havia um novo par de algemas como aquela. Seu estômago começou a revirar-se e ele não soube o que pensar. Voldemort havia escolhido aquele lugar para esconder-se e para, posteriormente, atrair seus inimigos numa batalha final.
Ouviu a voz de Hermione chamá-lo, despertando-o de seu estupor. O rosto da jovem estava enjoado e sua voz urgente.
― Harry, nós precisamos sair daqui. Agora.
Assim que Harry abriu os lábios, pensando numa resposta ágil e confiante para dar a alguém que parecia tão temeroso quanto ele, ouviu o grito de Bellacroix, no andar superior, após a escadaria.
― GINA ESTÁ AQUI!
Quando os quatro restantes na sala se tornaram para a escadaria, ouviram um barulho forte, uma luz avermelhada e o corpo de Hauspie Bellacroix voar do andar superior. Hermione gritou e Rony correu para o lado de Harry, enquanto ambos assistiam Bellacroix cair na escadaria, bater com o corpo duas vezes seguidas nos degraus e chegar finalmente ao piso inferior, desacordada.
Hermione correu até a espadachim desmaiada e caiu de joelhos, colocando a cabeça da mulher sobre seu colo. Sirius ficou paralisado, observando o topo da escadaria. Harry e Rony aproximaram-se de Bellacroix e Hermione. Lentamente, a mulher moveu o pescoço, gemendo baixinho algo em francês.
Harry e Rony quiseram falar algo, Rony desesperado para subir as escadas e encontrar sua irmã, mas ouviram o som de saltos batendo contra o chão. Alguém estava indo na direção deles. Sirius, Rony, Harry e Hermione ergueram suas cabeças para o topo de escadaria, esperando descobrir quem fora o inimigo de Bellacroix.
Vagarosamente, as pernas chegaram, trazendo o corpo do oponente. O Comensal da Morte vestia negro, como todos os outros. Em sua mão esquerda, a varinha. Um capuz cobria sua face e cabelos. Harry tentou apertar os olhos para que fosse capaz de identificar, mas não demorou muito até que ele mesmo se revelasse.
A mão direita subiu até o topo da cabeça e puxou o capuz com lentidão. Assim apareceu o cabelo, a testa, os olhos fechados, o nariz, a boca curvada num sorriso vencedor, o queixo, parte do pescoço, a pele branca. Com os lábios cerrados, o sorriso presente ali, apenas abriu os olhos.
Os quatro presentes ficaram sem reação. Sem voz. Não podiam acreditar. O Comensal, diante do choque dos quatro oponentes, abriu os lábios e sorriu levemente, dizendo:
― Esperei anos por esse momento. E agora é a minha vez.
Nota da Autora (4): Vamos fazer uma bolsa de apostas? Quem é? Quem é? Nosso terceiro integrante da Trindade das Sombras deu as caras para nossos heróis finalmente! Mas quem será ele?
