O lago


A estadia de Duo não havia sido nada agradável na fazenda. Primeiro sua chegada não trouxe maiores alegrias a seu pai. E ele conseguira chatear Zechs e Heero de uma única vez. Havia tido uma crise que o deixara de cama durante dois dias, e no caso de Duo dois dias lhe faziam grande falta, afinal ele era alguém com os dias contados.

Quando finalmente conseguira se sentir forte o suficiente para sair do quarto pela manhã, ele cruzou com Heero em um dos corredores. Seus olhos se encontraram, mas o japonês o ignorou passando reto pela sala onde se encontravam Zechs e Integro.

Duo protelou entre voltar para o quarto e encarar a família. Decidiu-se por tomar café junto aos seus, porém não fora boa idéia.

-Pai. Estou pensando em passar um tempo na fazenda daqueles amigos meus. – Zechs não encarou o irmão. –Eu acho que não tenho clima pra ficar sob o mesmo teto que esse menino. – ee referia a Duo.

-Como? – Integro olhou para o filho mais velho. – Se alguém tiver de sair dessa casa, meu filho, é esse menino. – Integro sempre tinha o cuidado de nunca chamar o nome daquele jovem de trança. –Ele é quem está sobrando aqui. Se você sair eu juro por Deus que arrasto esse garoto para fora na mesma hora, como já fiz há anos atrás. – o pai anunciou.

Duo ficou parado junto à mesa. A cabeça baixa. Sentia as lágrimas vindo, mas não queria chorar ali. Ele fechou os punhos com força sentindo o corpo tremer.

-Vou pensar ainda. – Zechs falou se levantando – Perdi a fome. – ele falou saindo da mesa.

-Eu também. O clima ficou intragável. – Integro comentou jogando o guardanapo sobre a mesa. –Suray! – ele chamou pela serviçal. –Retire a mesa. – mandou.

-Mas o menino não vai comer? – a mulher de corpo avantajado olhou para o rapaz parado perto da mesa.

-Se ele quiser comer alguma coisa eu não vou negar. Mas você não frita um ovo para ele. – Integro foi taxativo.

-O senhor quem sabe. – a mulher respondeu retirando a louça e as comidas da mesa.

-Heero! – Integro chamou e logo o japonês estava próximo a si de forma solícita. – Mostre a fazendo a esse menino. Mostre onde pode arrumar alguma coisa para comer, porque na minha mesa ele não senta, e nenhum de meus empregados trabalha para ele. Ouviu bem, Heero? Você não obedece a ele, nunca. Apenas vai mostrar a fazenda para ele. –Integro falou – Ah... Eu já falei com meu administrador, ele irá informar meus empregados de nunca fazerem nada para esse menino nesse curtíssimo tempo que ele vai ficar de favor na minha casa. – Integro fez questão de acentuar essa última parte, uma vez que Duo viveria muito pouco tempo ali. Na verdade ele tinha muito pouco tempo de vida, Integro sabia disso. Afinal essa foi a única razão para permitir a vinda do jovem de volta a casa.

Era uma maldita ordem por dois motivos para o empregado. Não queria estar muito próximo de Duo, uma vez que se passaram dois dias desde que Zechs os pegara se beijando e ainda não tivera como falar com o loiro, e outra porque Duo estava muito doente, ele não precisava ser humilhado dessa forma. Mas ainda sim aquilo era uma ordem.

Duo se retirou da sala esperando que Heero o seguisse. Assim o japonês fez. Eles não trocaram palavras enquanto seguiam para fora da casa, Duo se manteve caminhando a sua frente, a cabeça ia baixa, talvez estivesse chateado com a humilhação que acabara de sofrer, Heero pensou.

Pararam na varanda onde Duo buscou apoio no corrimão e ali parou sempre mantendo os olhos ocultos sob a franja marrom dourada. Heero parou em silencio ao lado dele notando finalmente que ele chorava, as lágrimas lhe escorriam pelo rosto uma a uma, vindas em silencio, quietas, talvez Duo tivesse chorado em silencio a vida toda. Lembrara de quando o próprio Zechs o maltratara no quarto, quando assistiu aquele beijo inocente, Duo nada falara em combate às acusações do irmão, apenas se deixara ser ofendido.

-Eu... Acho que vou arrumar minhas coisas, Heero. Acho que vou voltar para o colégio interno. – Duo falou finalmente. Estava triste.

-Duo... – Heero o olhou também triste. Ele sabia o que isso significava para Duo. Era morrer sozinho e frustrado tendo a certeza de que há 15 anos atrás havia sido varrido das vidas de sua própria família.

-Eu nem devia ter vindo. Vocês estavam bem. Levando suas vidas e eu cheguei aqui. – ele resmungou.

-Merda. Porque te fazemos chorar todas às vezes? – Heero estava confuso. Pela primeira vez notara os verdadeiros sentimentos de Zechs em relação a si, mas por causa de Duo o loiro havia se chateado e se afastado, mas vendo por outro lado Zechs sempre arrumava uma forma de acabar chateado com Heero, não fora só por causa de Duo.

O japonês tomou o rosto de Duo em suas mãos grandes o erguendo, seus olhos se encararam por um breve tempo.

-Vou lhe mostrar a fazenda e você vai gostar. Vai até ser divertido fazer a própria comida. – Heero sorriu lhe dando uma força.

Assim os dois saíram juntos, de mãos dadas, Heero esperava poder renovar as esperanças do mais novo com aquela atitude.


Enquanto isso em outro ponto da fazenda Zechs estava parado apenas ouvindo as ordens do administrador que falava cercado de empregados. Ele era um homem baixo, até bem jovem para o cargo que já ocupava. Era filho de um dos melhores amigos de Integro, vindo de uma família de chineses ele havia se formado com méritos e acabara sendo contratado para cuidar das partes de ofícios e cartórios da fazenda, bem como sempre era cogitado para passar algumas ordens especificas aos empregados.

-Como muitos sabem temos um jovem na fazenda que é o filho mais novo de nosso patrão. Por motivos pessoais eles não têm muita harmonia, e nosso patrão apenas o está deixando ficar esse tempo na fazenda porque é um bom homem. – Chang Wufei falava, sua voz era sempre pausada e calma. Ele mantinha os cabelos negros sempre presos em um pequeno rabo de cavalo, os olhos puxados característico dos chineses, se estreitaram ainda mais para falar o que vinha a seguir. – O senhor Integro, não quer que nenhum de vocês sirva esse menino e de forma alguma ele deve ser tratado como filho do patrão. – Chang informou. –È apenas um hóspede que ainda não entende que não foi convidado. –explicava.

Quando finalmente dispensou os funcionário Wufei caminhou junto a Zechs de volta para a casa.

-Ele não está sendo duro demais com o garoto? – Chang perguntou ao loiro.

-Meu pai tem as suas próprias razões... E no mais Duo já tem um guardião. – O loiro falou com desgostos. –Ou não sabia que ele e Heero estão transando? – Zechs falou.

-Não acredito. – Wufei olhou para Zechs. –Quer dizer que o japonês não perde mesmo tempo? – falou com um tempero de irônica. Não era novidade que os dois não se suportavam. Heero era quem cuidava de todos os assuntos da fazenda antes da intromissão do universitário chinês. Quando Wufei se formara e viera trabalhar como administrador da fazenda Yui perdera grande poder ali dentro, e culpava Chang por isso. Atualmente os dois tentavam se suportar.

-Dessa vez a culpa não é do Yui. Parece que meu irmão é quem vive pendurado no pescoço dele. E ele não vai recusar. Se o garoto tá se oferecendo... – o loiro comentou magoado. Ainda não tinha perdoado o irmão por aquele beijo que viu entre os dois.

Wufei nada comentou. Ele sempre jurara que Zechs e Yui se gostavam, mas parecia que o japonês havia preferido o irmão mais novo.


Os problemas enfrentados por Duo foram bem grandes. Todos na fazenda lhe viravam as costas e essa era a maior dificuldade. Uma que vez desde muito cedo aprendera a si virar sozinho o maior problema era mesmo se sentir um hóspede indesejado em um lugar que ele tinha como seu lar.

Ele fritava ovos e comia pão roubado da cozinha há uma semana. Ainda não havia conseguido se reaproximar do irmão, de seu pai nem pensar e Heero embora lhe cumprimentasse estava sendo evasivo, talvez com medo de alguma reação de Zechs.

Duo estava considerando o fato de ir embora bem plausível a essas alturas, mas tinha que falar com Zechs antes e resolver aquele mal entendido. Por isso aproveitou que o irmão estava distante da casa.

O local onde antes era o lago que sua mãe havia perdido a vida, havia agora um grande aterro, porém havia um pequeno córrego que levava a água desembocando num rio, um pouco distante da fazenda.

Não havia ninguém a seus comandos naquela fazenda e Duo estava agora selando seu próprio cavalo. Pelo tino tentara escolher um que parecesse manso, mas era fato que fazia muito tempo que não lidava com aquilo, desde de criança entrava em contato com uma fazenda ou mesmo com a montaria.
Duo estava sozinho no estábulo, e isso era perfeito para alguém que estivesse mal intencionado, talvez alguém como Chang Wufei.

O chinês se aproximou do rapaz sorrindo de forma falsa.

-Bom dia, sou Chang Wufei. – ele se apresentou.

-Olá, Sou Duo. – o menino lhe sorriu de forma inocente. Talvez fosse o primeiro amigo que fazia por ali.

-Eu sou administrador daqui... Seu pai deu certas ordens a seu respeito, mas nessa manhã quando o vi sair na varanda imaginei que não conseguiria ficar sem lhe cumprimentar. – Wufei foi bem direto.

-Você é sempre assim? – Duo sorriu.

-Só perto de um rapaz tão lindo como você. – galante ele retirou a montaria das mãos do jovem. – Venha. Eu te ajudo, esse cavalo é bem arredio, você merece algo mais delicado. – ele sorria sendo o mais gentil que podia.

Quando finalmente terminou de selar o cavalo ficou a observar Duo de cima abaixo. Era muito bonito mesmo, na verdade um convite insano ao prazer, de fato o maldito Yui tinha sorte, mas se ele achava que ia se dar bem estava enganado. Primeiro seduzia o filho mais velho, depois o mais novo, Wufei pensava assim, afinal achava que Yui montava uma estratégia para se dar bem dentro daquela fazenda. –Não quer que eu te acompanhe? – o chinês sorriu gentil.

-Desculpe, Chang. Eu vou encontrar com Zechs. Agente precisa conversar. – Duo foi polido, ficava grato pela atenção que aquele sorridente rapaz estava lhe dando, mas não estava muito certo das intenções dele.

-Entendo. Bom, então fica sendo nosso segredinho que eu te ajudei. – Wufei sorriu tocando com a ponta do dedo no nariz de Duo.

-Muito obrigado, por tudo. – o jovem montou o animal. Ele era arredio, mas talvez fosse só a falta de costume, fazia muito tempo que não montava um eqüino. Assim Duo achou por bem seguir de forma bem cautelosa, sem provocar o animal, seguindo a trotes lentos para o rio.

-Que idiota mais gostosinho... – Wufei falou para si mesmo vendo Duo se afastar.


Zechs viu quando Duo desceu no cavalo. Quis sair dali, mas alguma coisa o manteve. Talvez já era hora de ouvir o que o rapaz tinha a dizer em sua defesa.

-Zechs. – Duo o chamou. Não ouve resposta. –Eu sei que pisei na bola com você, irmão. –ele falou sentando ao lado do loiro.

-Você deu o que era seu... Não me importo com isso. – o loiro falou sem olhar o mais jovem e soava um tanto quanto infantil e mimado.

Duo o olhou por um tempo e não deixou de achar engraçada a atitude do irmão, talvez ele tivesse sido muito mimado pelo pai.

-Não estou falando de mim. Eu falo do Heero. Se eu tivesse ido para cama com qualquer outro homem não teria problema, né? O problema é que foi com o Heero? – Duo perguntou.

-Porque voltou? – Zechs olhou finalmente. – Ninguém te quer aqui. Ah, sim. Ninguém, exceto heero. – O loiro foi irônico deixando transparecer uma irritação quase infantil.

-Nem ele. – Duo falou ficando triste. – Olha, você mesmo disse no quarto. Yui só aproveitou porque eu me entreguei. – Duo queria ser o mais claro possível. Mesmo que para ele aquela noite tivesse sido maravilhosa, ele sabia que para Yui não foi. Devia então mostrar isso para Zechs. –Ele só me comeu porque eu quis muito. Eu o seduzi. O coitado não teve como recusar. – Duo confessou se sentindo mal por usar tais termos, afinal ele sempre desejou estar nos braços de Yui e aquela noite estava apenas realizando um doce e puro sonho.

-Duo, você é muito promiscuo mesmo, não? – o loiro bufou, ia se retirar.

-Eu só fiz isso porque o amo. – Duo se apressou confessando seus verdadeiros sentimentos. –Eu não sabia de vocês dois. Se eu soubesse jamais teria me metido nisso. Eu juro. – Duo estava sendo sincero. Ele estava segurando o braço de Zechs evitando que este se afastasse.

-Duo. Você ama mesmo o Yui? – Zechs estava incrédulo. Ele vasculhou aqueles grandes olhos violetas do irmão.

-Sempre o amei. Ele tem muitas qualidades. É lindo, e por trás daquele empregado rude existe um sensível amigo para todas as horas. Dê uma chance a ele. – o trançado falou sem seguida.

-Você não vai tentar lutar por ele já que diz o amar? – Zechs se voltara para Duo ainda o olhando. O que significava tudo aquilo?

-Zechs. Eu já disse. Eu jamais teria transado com ele se eu soubesse que você se importava.

-Quem disse essa bobagem? – o loiro fechou o semblante, ele estava sendo tão transparente assim em relação ao que sentia por Yui?

-Zechs... Quando ele transou comigo ele em momento nenhum me disse àquelas coisas românticas que agente gosta de ouvir quando tem um cara dentro da gente. –Duo corou levemente. –Eu supus que ele tinha outra pessoa no coração... – Conclui sorrindo.

-Duo. Porque se feriu dessa forma? Se o amava e sabia que ele não te correspondia porque foi se deitar na cama dele? – o loiro não entendia.

-Eu queria muito ser dele ao menos uma noite. Eu tinha pressa, por isso teve que ser tudo meio que alucinado... – Duo sempre sorria, mas havia um brilho triste em seus olhos.

-Eu ainda não te entendo. Se porta como um qualquer. Sabe que Heero te teve apenas para sexo...

-Zechs, eu sei o que fiz e não me arrependo. Eu dei meu corpo a ele... – Duo assumira a culpa daquela noite. –Ele deve te amar muito... –as orbes violetas de Duo miraram as águas cristalinas do córrego. –Eu tenho certeza porque teve um momento, que ele alcançou o orgasmo... Ah... Ele chamou seu nome. – Duo confessou. –Foi baixo, mas ele te chamou. Eu apaixonado pelo cara, realizado por tê-lo dentro de mim e na hora H ele chama o nome do meu irmão... Nossa... Eu quis sair correndo. – o trançado falou, mas não demonstrava mágoa.

-Deve ter te ferido muito. – Zechs estava confuso.

-Nem tanto. Eu... Nunca imaginei que ficaria com ele.

-Deus. Ainda não consigo te entender. Sabia que não haveria nada entre vocês, então porque foi transar com ele? Você não é assim. Não é o tipo de cara que se realiza com uma noite de sexo, Duo. Você gosta de se apaixonar, de se envolver... – o rapaz mais velho agora o olhava tentando arrancar o que tanto o trançado escondia.

-Porque fui pra cama com ele? Irmão. Eu amo o Heero só que não posso ficar com ele. Não há tempo para viver alguma coisa ele. – Duo falou triste e baixo, não queria falar sobre sua doença com Zechs. – Eu ficaria muito feliz se você pudesse dar uma segunda chance pra ele. – o trançado tentou sorrir.

-Duo. Eu não amo o Heero. – a conversa estava ficando difícil, Duo parecia decidido a servir de cupido entre Yui e seu irmão.

-Mentira. Você quase me bateu quando viu o nosso beijo. E olha que nem teve língua.

-Ele nunca me beijou daquele jeito, como se você pudesse quebrar a qualquer momento. Com tanto carinho e cuidado. – Zechs nem se dera conta, mas havia confessado o que estava sentindo. Estava morrendo de ciúme da atenção que vira Heero dá a Duo.

-Hahahahaha... – Duo apenas sorriu bem animado. Seu irmão estava apaixonado, mas não queria dar o braço a torcer.

Zechs sorriu também. Duo era um rapaz de bom coração, uma pessoa amiga daquelas raras de se encontrar. Ele amava Heero, mas não se importava nem um pouco em não ficar com ele se fosse para a felicidade de todos.

-Mas... Não é justo brigar por ele... Brigar com você. – inseguro o mais velho falou olhando a grama.

-Zechs. Você não vai brigar para ter algo que já é seu. Heero te ama, isso é um fato. Dê mais uma chance a ele. – Duo ficou sério. –Por favor. Se você não o procurar eu vou me sentir tão culpado que vou cortar meus pulsos quando estiver na banheira. – ele falou de forma muito séria.

Zechs o olhou confuso sustentando aqueles olhos grandes de cor ametista. Mas Duo logo sorriu de forma doce. –Te peguei... hahahahaha.. –ele era mesmo muito especial.

-Seu safadinho. – Duo estava desculpado. Zechs o abraçou caindo sobre ele fazendo cócegas. –Como tive saudades de você, meu anjinho da guarda. Nem sei como vivi tanto tempo sem ter contato. – o loiro sorria.

-Vamos apostar aquela corrida? – Duo saltou correndo na direção do cavalo. –Só que você vai ter que me dá um desconto, afinal eu não cavalgo há muito tempo. Eram muito pequenos da última vez.

-Sei... Mas parece que anda praticando muita montaria ultimamente, com homens. – Zechs o provocou de forma divertida.

-Ah, loiro. Você vai me pagar essa provocação. – eles sempre apostavam corridas em seus pones, quando crianças. Embora Duo fosse bem novo naquela época.

Sorridentes eles saírem montando seus animais. Duo subiu no arisco cavalo e cometeu o maior erro que podia. Ele puxou as rédeas com forças fazendo o animal empinar de forma agressiva como se exigisse ser desmontado imediatamente, a seguir partiu trotando rápido e sem controle.

Zechs viu que o irmão tinha problemas, mas foi tudo muito rápido. Num instante Duo montara o eqüino feroz e esse empinara nas patas dianteiras para depois partir em uma disparada feita. O loiro assistiu em pânico Duo ser arremessado contra o ar caindo pesadamente ao chão e rolar inúmeras vezes até parar detido pelas pedras próximas ao rio.

O loiro galopou até o local saltando de seu cavalo correndo até Duo. Havia sangue nas roupas do irmão, o medo se instalou no coração do mais velho.

-Duo. Fala comigo! – chamou movendo o jovem de posição. Sabia que não devia, mas estava nervoso demais. O rosto tão lindo de Duo estava pálido e inerte, havia muito sangue turvando sua face perfeita.

Zechs nem soube como conseguiu chegar com Duo em casa, porém chegou fazendo alarde. Gritando para que chamassem o médico para Duo, mas por incrível que pudesse parecer ninguém, nenhum nos empregados se movia.

-Que estão fazendo? Chamem o médico! – Zechs gritou nervoso.

-As ordens são que não devemos ajudar esse menino. – um dos empregados deu às costas saindo.

-Mas... Wufei! Chame o médico. – Zechs falou com o chinês.

-Desculpe, Zechs. Eu queria muito ajudar, mas seu pai nos deu ordens. Se eu for chamar um médico ele vai saber. – o chinês falou sem poder fazer nada.

O loiro não sabia o que fazer. Duo perdia sangue demais e não acordava, a queda do cavalo havia sido muito feia. Não queria se afastar dele, afinal podia ter alguma recaída e sabia que ninguém ali o ajudaria em sua ausência. O que faria?

-Heero. É claro. – ele falou deixando um Duo ferido no quarto. –Meu pai não vai saber que você ajudou. Apenas fique com meu irmão enquanto eu busco ajuda. – o jovem loiro pediu a Chang e saiu correndo pelo corredor atrás de Heero.

-Como eles são ingênuos. – Chang falou baixo se aproximando de Duo. Sorrindo ele acariciou o rosto jovem e belo, estava sangrando tanto na nuca. -Você fica lindo assim. – o chinês lambeu os lábios do trançado. –Infelizmente vou ter que te jogar nos braços do japonês. O que é uma pena, dizem que japoneses tem um pinto pequeno, acho que você precisa de um homem de verdade. – Wufei falava ao ouvido e Duo o tocando com certa vulgaridade.

Um Duo desacordado era um bom aperitivo para alguém sem escrúpulos. O chinês seguiu beijando os lábios do pobre rapaz e passando sua mão ousava sobre as partes íntimas dele. Por fim o beijou com mais gana retirando uma peça íntima de dentro da própria camisa. Arrumando-a abaixo dos travesseiros o trançado. –Prontinho. Do jeito que Zechs é quando descobrir isso aqui vai tirar conclusões precipitadas.

Sorrindo o Chinês abriu as gavetas do menino trançado mexendo nas peças e retirou uma cueca, bege. – Essa? Acho que uma preta fica mais ousada. – ele comentava consigo mesmo. – Essa aqui está ótima. – sorriu em vitória cheirando vulgarmente a peça íntima de Duo. – É meu belo vadio, sinto muito te usar dessa forma, mas tudo pelo poder. – ele sorriu escondendo a cueca de Duo dentro da blusa.

-Wufei? Ele teve alguma melhora? – Zechs retornara com Heero a tiracolo no exato momento que o chinês escondera a cueca de Duo dentro da blusa.

-Não. Nada! – Ele fingiu uma preocupação extrema.

-É bem estranho como você se importa tanto com o Duo. – Heero não gostara nada de ver aquele verme no quarto de Duo. Alguma coisa ele estava aprontando.

-Eu só não vou responder porque sei o quanto está apaixonado por esse pobre garoto, isso deve te deixar bem possessivo e quem não seria com um namorado desses? – Chang comentou.

-Ele não é meu namorado, Wufei. – Heero estava ficando furioso. Aquela insinuação do chinês fez Zechs corar. –Eu e Duo não temos nada demais, Zechs. – Yui não sabia qual o motivo, mas estava jurando isso ao loiro.

-Deus. Não é hora para vocês dois começarem. – o loiro falou chateado com os dois. –E Heero, pelo amor de Deus, tenha algum sentimento pelo Duo, pelo menos enquanto ele está assim de cama. – ele completou. O próprio irmão havia lhe confessado que passara uma noite perfeita com Heero e agora o japonês acabava de lhe dizer que não havia nada entre eles. Será que Yui era mesmo esse cafajeste? Mas não era hora para isso, Duo precisava de cuidados.

-Desculpe, Zechs. Devem chamar um médico. Eu não posso chamar infelizmente por causa das ordens... – Wufei ia falando.

-Não se preocupe, Chang. Eu vou fazer isso, acho que você pode voltar a engraxar as botas do senhor Integro. – Heero o provocou.

-Certo... Está nervoso porque o garoto está se esvaindo em sangue. Coitado, talvez tenha sido melhor assim. Acabar logo com o sofrimento dele. – o chinês comentou se retirando.

Zechs ia perguntar o que Wufei quisera falar com tal insinuação, porém Duo gemera de dor e isso alertara seus sentidos. Atento ao estado delicado do jovem, Heero trocou um olhar confiante com Zechs e saiu correndo para trazer o médico.


Quase uma hora havia se passado. Agora Zechs estava sentando no sofá na sala de cabeça baixa. Heero sabia que devia manter certa distancia, mas não suportava vê-lo daquela forma. Sem trocar palavras se sentou ao lado dele o puxando com firmeza para seu peito. O loiro não protestou, ele queria mesmo ficar naquele peito forte e quente.

Yui era um homem completo. Lindo e forte, daqueles que qualquer um poderia passar a vida inteira esperando.

-Vai ficar tudo bem. – o japonês falava acariciando o liso cabelo de Zechs, quando o médico veio até a sala.

-Zechs. Ele só vai dormir um pouco com os analgésicos que eu dei. Repouso e boa alimentação. O resto ele já sabe. – o médico da família falou entrando na sala.

-Não foi nada grave então? – o irmão do trançado estava agora mais aliviado.

-Só o tombo. Ele bateu com a cabeça, mas isso não influiu em nada, graças a Deus. Quando Heero me disse que ele havia levado um tombo montando e havia batido a cabeça eu achei que era o fim, mas graças a Deus parece que não afetou o tumor. – o médico falou aliviado. – De qualquer forma, fiquem atentos às reações dele. Se depois do efeito dos remédios vai ficar sonolento, se vai lembrar do acidente, se vai falar coisas sem nexos. – o doutor explicava, mas Zechs parecia não ouvir nada. Havia parado de registrar o que o médico dizia quando ouvira a palavra tumor.

-Que tumor? – finalmente o irmão mais velho perguntou.

-Ele ainda não sabe? – o doutor parou o receituário e olhos para Yui erguendo as sobrancelhas brancas.

-Nem Duo, nem o pai contaram. – Yui explicou.

-Filho. Seu irmão... Eu sinto muito. Ele só deve ter mais uns quatro meses de vida. – o doutor lamentou.

Foi um choque e tanto para o loiro.

-Que brincadeira é essa? – ele se levantou beirando uma histeria.

-Não é brincadeira. Ele sempre carregou esse tumor na cabeça, e como é bem raro se desenvolveu de forma estúpida nesses últimos anos, ele não tem muito tempo. Foi apenas por isso que seu pai deixou que ele voltasse para casa. Para que pudesse passar os últimos dias com vocês. – o médico tentava explicar, porém sabia que a reação de Zechs seria péssima, afinal ficara sabendo da pior forma possível.

-Mentira! – Zechs não acreditaria naquilo. Era absurdo. Duo era lindo, vivaz, não parecia alguém que só tinha mais três meses de vida. Aquilo só podia ser mentira. Assim, movido de uma vontade imensa de arrancar de dentro de seu peito aquela dor ele agarrou o médico pela gola do jaleco o sacudindo. –Faça alguma coisa! Temos dinheiro, deve haver algum tratamento.

-Filho, tenha calma. – o médico tentava em vão.

-Não! Tem que haver cura! – Zechs gritava entre as lágrimas de desespero.

-Não há. Não podemos operar. – o medico explicava. –Heero, me ajude aqui. – pediu.

Yui o agarrou por trás o imobilizando. Mas o loiro queria se livrar. Queria pôr para fora àquela mágoa, a dor de saber que depois de tanto tempo longe do irmão o ia perder, a dor de saber que fora enganado por todos. Até Heero já sabia.

O loiro voltou sua fúria contra o japonês o socando como podia, mas estava sendo seguro pelo rapaz que era bem mais forte. Ele estava se machucando naquela tentativa de se livrar do abraço firme do japonês, por isso Yui tomou a decisão de o golpear com força.

-Sinto, muito, Zechs. – o japonês falou quando o corpo mole de Zechs veio a seus braços.


Agora Heero estava no quarto de Zechs velando seu sono. Há quase duas horas havia se passado toda aquela confusão na sala, quando o loiro soubera que o irmão estava à beira da morte.

-Ele é tão viril às vezes. Um homem lindo e forte, mas em outros momentos parece apenas um garotinho assustado. – Heero pensou olhando para o loiro na cama.

-Duo... – O rapaz na cama se moveu acordando. Quando abriu seus olhos Zechs viu Heero sentado a sua frente com uma séria expressão. Como precisava ver aquela imagem de segurança ali. Sem palavras ele se lançou nos braços do japonês. –Pelo amor de Deus, não fala nada. Apenas fica assim... – ele gemeu no peito macio daquele belo homem.


Shanty pediu lá vai capítulo novo.. (beijo)

-Quando eu acabei de escrever esse capitulo dei com a cabeça no móvel do micro incontáveis vezes. Eu via que o Wufei está pintado como um completo verme, eu tive tanta raiva dele, sem nenhum escrúpulo. Jogando com as pessoas... Ele está dando um baita nojo...

-Outro que está de dar raiva é o Zechs, que de tão mimando e infantil... Nem sei.

-Bom... Eu acho que o Heero merece um homem de verdade, alguém leve e divertido como o Duo... Acho que o loiro vai perder o amor e atenção do japa se continuar assim... Não sei... Veremos.

Beijos,

Hina