Os opostos se atraem? Almas gêmeas existem? Todo mundo tem sua cara metade? O coração sempre sabe o que faz? E o destino? O amor é eterno? A vida já está escrita? Ou nós fazemos nossa história?

Quem sabe...

Quanto mais eu penso nisso, mais eu acho que são perguntas inférteis, nunca levaram a lugar nenhum, ninguém nunca vai conseguir responder com certeza.

O dia começa a clarear. A janela aberta mostra com perfeição o sol tão raro nascer ao horizonte. Os pássaros cantam nas árvores próximas. Sinto seus braços, agora quentes, me puxarem para mais próximo de si, com carinho, com amor.

Eu posso não saber e até não acreditar em pessoas pré-destinadas, mas feliz? – Seus lábios roçam em minha pele do pescoço. Um sorriso surge em meus lábios. – Isso eu com certeza era.

-Eu já lhe disse o quão linda você fica quando os raios do sol tocam a sua pele? – Edward quebrou o silêncio agradável com um mero sussurro. Suas mãos percorreram minha pele brilhante por conta do sol.

Virei-me de frente pra ele. – Hoje ainda não. – sussurrei de volta, minha boca a centímetros da sua. Ele sorriu.

-Eu amo você. – sussurrou ele tirando uma mecha de cabelo de meu rosto.

-Eu também te amo. – Sorri e no mesmo instante, seus lábios capturaram os meus, com desejo, mas ainda sim tranquilos, não tínhamos pressa de nada. A eternidade era muito, para ser vivida as pressas.

-Não mereço ter um anjo como você ao meu lado. – Sussurrou ele de olhos fechados, suas mãos afagando meu rosto com cuidado, como se eu ainda fosse feita de porcelana.

-Estou longe de ser um anjo, meu amor. – Sussurrei com destreza, minha cabeça repousando novamente na curvatura de seu pescoço. - Os anjos pertencem aos céus e eu pertenço a você. – Mesmo sem vê-lo, eu podia sentir Edward sorrindo com minha declaração. Eu conseguia sentir seu coração se aquecer cada vez que eu dizia coisas assim, mostrando-o o quanto eu o amava.

Ele beijou meus cabelos e nada declarou inicialmente. Eu sabia bem que Edward gostava de degustar em seu intimo de palavras assim antes de permitir que elas se percam em lembranças do passado. Ele me amava, mas quando eu demonstrava ou dizia-lhe isso, ele parecia se sentir mais importante, mais querido... Mais amado. - Obrigado por me amar. – Sussurrou ele por fim.

Voltei a fitar seu rosto, apoiando meu queixo em seu peitoril, sorri travessa enquanto minha perna roçava-se levemente na perna dele. – É um prazer. – Sussurrei divertida enquanto ele gemia fechando levemente os olhos.

-Você é meu maior pecado. Vai me matar qualquer dia desses. – Disse-me ele, sua voz baixa, mas já coberta de desejo. Em um segundo eu estava deitada na cama e ele estava em cima de mim. - Mas se for para morrer assim. – Ele sussurrou de encontro a minha pele, seus lábios distribuindo leves beijos em toda curvatura do meu pescoço e ombro. – Será uma boa morte.

Gemi levemente. Deus, esse homem me deixava louca! Minhas pernas envolveram sua cintura enquanto suas mãos começaram a percorrer meu corpo deixando um rasto de fogo em seu caminho.

Eu estava prestes a responder-lhe quando o despertador tocou. Ambos ficamos estáticos onde estávamos. Eu não podia acreditar que aquilo estava acontecendo. Logo agora...

Em sincronia, Edward e eu gememos frustrados. Era hora de acordar Renesmee e nós não poderíamos continuar nossa... Bom. Não tínhamos tempo. Não agora.

Edward caiu derrotado ao meu lado. – Eu não posso acreditar nisso. – reclamou ele.

-Eu sei que está frustrado, eu também estou, mas está na hora de acordarmos Renesmee. – Expliquei mais para mim do que para Edward.

-Ela só tem aula daqui a três horas! – Reclamou ele. – Não podemos deixá-la dormir mais um pouquinho hoje? – Edward me olhou com um rosto pidão, fazendo-me rir.

-Edward... Já conversamos inúmeras vezes sobre isso. – Falei enquanto me sentava na cama, ele gemeu novamente. Por conta dos gêmeos, grande parte do nosso tempo era ocupado com eles, e foi por isso que Edward e eu concordamos em acordar Renesmee duas horas mais cedo que o normal para poder brincar com ela, mostrando-a que ela é tão importante para nós quando os irmãos, uma vez que as vezes, sutilmente, Renesmee se mostrava enciumada . Havia sido uma decisão conjunta e muito bem pensada... Mas não quer dizer que não tínhamos nossos contra-tempos.

Edward suspirou e se sentou também, esfregando os olhos. – Vá acordando-a. –declarou ele enquanto se levantava. – Eu preciso de um banho frio antes.

Ri abertamente então tirava minha camisola e me trocava. – Muito engraçado. – Mumurrou ele, emburrado; enquanto seguia para o banheiro. Edward era único. A cada dia que passava, meu amor por ele, bem como minha adoração, aumentavam. Eu era a mulher mais afortunada desse mundo.

Prendi meus cabelos em um perfeito rabo-de-cavalo alto e segui para o quarto de Renesmee; minha menina ressonava com tranquiladade e paz. Suas feições tranquilas e angelicais me diziam com segurança que ela estava tendo bons sonhos. Sorri. Minha filha era tão linda. Tão preciosa...

Ajoelhei-me ao lado de sua cama e afaguei com carinho seus cabelos, surrurrando um simples "Hora de acordar, querida.". Nessie se remexeu na cama, manhosa, não querendo abrir os olhos. – Só mais cinco minutinhos... – Pediu ela preguiçosa; agradeci por Edward não estar ali naquele momento, ou ele teria deixádo-a dormir e teria me arrastado novamente para o quarto. Sorri maliciosa com tal pensamento.

-Vamos meu amor, lenvante-se, já está na hora. – Beijei-lhe a testa e caminhei em direção a janela, abri as cortinas e permiti que a luz, ainda fraca, da manhã adentrasse no quarto. Renesmee pestanejou e cobriu a cabeça com o cobertor, fazendo-me rir.

Liguei uma música suave no aparelho de som, a fim de despertar minha menina gradativamente, sem assustá-la e por fim, segui para o closet, para escolher a roupa de Renesmee.

Não durou alguns poucos segundos aquele calido silêncio, quebrado apenas pela suave música. - Ainda estou com sono, mamãe. – ouvi a voz angelical de minha filha mais velha reclamando. Coloquei minha cabeça para fora do closet e a encontrei sentada na cama, uma das mãos enfreguando seus olhos e a outra abraçada ao ursinho de pelucia. Foi impossível não sorrir.

-Tem certeza que quer voltar a dormir? – Perguntei sorrindo. – Se não me engano, acho que ouvi seu pai dizendo que faria waffes para o café da manhã. – No mesmo instante Renesmee pulou da cama e correu em direção ao banheiro.

-Por que não disse logo? – indagou ela levemente irritada; ri abertamente enquanto pegava a roupa escolhida – um vestidinho lilás de mangas compridas e uma fita rosa bebê amarrada na cintura, meia calça branca e sapatinhos rosa bebê. – e segui-a até o banheiro.

-Você não perguntou. – dei de ombro, bem-humorada. Minha rotina agora se baseava em felicidade, risos e muito amor; todos os dias eu aradecia imensamente por toda aquele magoa e tristeza, hoje fazer parte de um passado muito distante.

Dei banho em Renesmee, surpresa por Edward não ter aparecido em meio ao processo. Geralmente ele sempre vinha para me ajudar ou apenas para fazer compania. Mas não hoje. Ele deve ter ficado realmente irritado com a interrupção de mais cedo; eu teria que compensá-lo depois. Novamente o pensamento malicioso tomou minha mente fazendo-me sorrir. Deus! Como eu era viciada naquele homem.

Vesti minha menina e penteei seus cabelos em duas tranças perfeitas, dividindo o cabelo exatamente ao meio. Passei a colonia em suas ropas e sorri. Minha menina era a bonequinha mais linda deste mundo. – Está linda! – declarei orgulhosa. Renesmee abriu um sorriso radiante e deu uma volta em torno de si mesma. Graciosa. Radiante.

-Obrigada. – Ela fez uma breve reverencia segurando as laterias do vestido. Uma perfeita princesinha. As vezes me pergunto se ter educado Renesmee com atitudes e costumes utilizados na época vivida por Edward fora um erro, quer dizer, que criança de cinco anos faz mensura ao agradecer por um elogio? Ou ainda trata os pais por senhor e senhora ao invés de você? Hoje eu sabia que quando havia educado-a de maneira antiquada e arcaica, era mais uma das formas que, inconcientemente, encontrei de deixar Edward vivo em minha vida, certo ou errado, era muito mais bonito ver uma garotinha com costumes tão graciosos como Renesmee do que as crianças sem educação que se via hoje em dia, falando palavrões e agredindo as pessoas.

Meu bebê era mais do que especial. Toquei sua face com delicadeza, deslumbrada. Ela era uma jóia rara.

Quebrando aquele momento tão intimo para mim, eu me levantei e ofereci minha mão. – Hora de waffes? – perguntei sorrindo. Renesmee assentiu animada e quase me arrastou para a cozinha, tamanha sua pressa.

Ao chegarmos na cozinha, Edward estava sentado a mesa, o café da manhã de Nessie estava lindamente colocado em frente a sua cadeira. O sorriso grandioso de Edward era de tirar o fôlego. – Bom dia minha princesa. – Disse ele se abaixando e abrindo os braços; prontamente, Renesmee correu até o pai e o abraçou com vontade.

-Bom dia papai! – Apoiei-me no batente da porta e cruzei os braços enquanto admirava aquela cena tão doce. Pai e filha hoje eram tão unidos, tão próximos. Eu tinha que agradecer aos céus todos os dias por isso. Renesmee era muito mais feliz agora que tinha pai. –Mamãe disse que você preparou waffes para mim, é verdade? – sussurrou ela no ouvido do pai, como se esperasse que eu não fosse ouvir. Sorri.

-Uhum. Com cobertura de chocolate. – sussurrou ele de volta. Revirei os olhos, esses dois adoravam "esconder" as coisas de mim. Pai e filha riram, Edward ajudou Nessie a se sentar e cortou seus waffes.

Sentei frente as duas preciosidades de minha vida e fiquei a admirá-los. Minha cabeça apoiou delicadamente sobre meu braço em cima da mesa. Eram tempos tão doces, tão cálidos. Como consegui sobreviver tanto tempo seu Edward ao meu lado? Eu não tinha idéia.

Mesmo Renesmee, desde que Edward chegara em sua vida, seu vinculo se mostrou muito mais solido com ele do que comigo. Talvez fosse porque ele estava sempre agradando-a, tentando compensar todo tempo que perdera, ou talvez as lembranças de quem eu fui quando tinha perdido Edward ainda assustavam minha menina. Eu não sabia ao certo. Mas o laço pai e filha era tão poderoso em minha casa que... Eu tinha certeza, nunca se quebraria.

Próximo ao horário do colégio, Carlisle veio buscar Renesmee para levá-la a escola. Neste horário, os gêmeos sempre acordavam afoitos para serem alimentados e limpos, Edward e eu conseguíamos administrar bem tudo isso, mas se um de nós se afastasse para levar Nessie ao colégio desestruturaria toda nossa rotina.

Por ser no mesmo horário que Carlisle ia para o hospital, ele sempre nos fazia este favor de levar Nessie para a escola, as vezes um dos tios ou até mesmo Esme vinham buscá-la, mas o comum era que fosse Carlisle. No começo eu fiquei preocupada que isso pudesse atrapalhá-lo ou incomodá-lo, mas sua devoção por Renesmee tornava esse pequeno habito, uma doce rotina.

-Onde está a princesinha do vovô? – Carlisle perguntou sorrindo ao entrar.

-Vovô! Vovô! Vovô! – Renesmee saiu correndo e gritando e se atirou nos braços do avô, o qual a pegou erguendo-a no ar.

-Ah que saudades que o Vovô estava de você! – Carlisle beijou Renesmee.

-Renesmee! Não grite! – chamei-lhe a atenção. – Você vai assustar seus irmãos! – Balancei levemente Ian, o qual estava mamando na mamadeira em meu colo.

Edward abriu aquele sorriso torto e nada falou, ele gostava de ver a alegria e o entusiasmo de Renesmee, mesmo que isso agitasse os gêmeos. Acho que no fundo ele se sentia mal por não podemos permitir que Sophie sorrisse e se divertisse tanto quanto os irmãos.

Seu apego pela nossa pequena bibelô era algo fora do comum, qualquer mínimo movimento era fortemente monitorado. Um pequeno tombo era motivo de preocupação pode dias a fio.

-Pronta para ir? – indagou Carlisle mantendo Nessie em seu colo com um braço e com o outro pegou sua mochila.

-Aham! – garantiu Renesmee, ela nos fitou mandando um beijo com a mão. – Tchau, mamãe. Tchau, papai!

Sorri e me aproximei beijando sua testa. – Tchau meu amorzinho, tenha um bom dia! - Edward fez o mesmo e então Carlisle partiu levando nossa mais velha com ele.

O dia transcorreu como qualquer outro. O sorriso era parte de nosso cotidiano. Tínhamos a vida que sempre sonhamos, três filhos maravilhosos e a eternidade para desfrutarmos. Edward adorava brincar com Ian e fazê-lo gargalhar, era como se seu dia se tornasse mais precioso ao ouvir a risada de nosso único menino.

Sophie estava tranquila em meu colo mordendo um de seus brinquedos enquanto assistimos Edward e Ian brincando no tapete. Foi quando o telefone tocou. Edward e eu nos entreolhamos surpresos. Nosso telefone não costumava tocar no meio da tarde.

Edward deixou Ian brincando no tapete e foi atender. – Alô? – As sobrancelhas de meu marido iam se franzindo a cada palavra dita do outro lado da linha. – Ela o que? – Ele gritou. Me assustei, coloquei Sophie no tapete junto a Ian e me aproximei de Edward, mas ele apenas fez sinal para que eu esperasse. – Já estou a caminho. – Então ele desligou o telefone.

-O que houve? – Indaguei preocupada.

Edward me encarou seriamente. – Renesmee bateu em alguns coleguinhas na escola.

-Ela fez o que? – perguntei descrente. Renesmee sabia muito bem, de tempos em que Edward nem mesmo existia na vida dela, que briga com quem quer que fosse era completamente proibido. Eu sempre fui muito enfática quanto a isso por conta de sua força.

-Parece que alguns amiguinhos a provocaram, e ela bateu neles. – Edward falou numa voz neutra, mas eu podia sentir a preocupação e o desapontamento emanando de seu corpo.

O choque que percorreu meu corpo. Como ela poderia ter feito algo assim? Eu sempre... – A raiva tomou-me. Quer dizer que agora que o pai, os tios e os avós a bajulam, as regras não eram mais importantes? Pois eu mostraria a ela que nada havia mudado.

-Eu vou até lá! – declarei firme enquanto ia buscar minha bolsa. Renesmee havia passado dos limites.

-Mas não vai mesmo! – Edward me seguiu, lendo em meu olhar minha raiva, decepção e mágoa. – Você vai bater nela! – acusou-me.

-E você espera um tratamento diferente para algo assim? – perguntei pegando as chaves do meu carro e seguindo para fora. – Por favor, cuide dos gêmeos.

Edward me segurou pelo braço. – Você não vai sozinha! E principalmente, você não vai bater em Renesmee! – seu tom era sério. Encarei-o fria.

-Eu eduquei Renesmee, Edward! – Declarei séria. – Ela precisa compreender que não é porque vocês apareceram que as regras mudaram! – Minhas mãos apertaram minha bolsa e a chave do carro.

-Você educou Renesmee sozinha naquela época Bella! Mas agora estamos juntos, essa responsabilidade não é sua mais, é nossa. – Ele me encarou no fundo dos olhos. – E bater não é a solução! Vamos resolver isso; juntos.

-Não vou levar os gêmeos, Edward. – rebati impaciente.

-Não vamos levar os gêmeos. Vou chamar os meus irmãos para ficar com eles. – Ele pegou o telefone e começou a discar. – Mas Renesmee é nossa filha. É nossa responsabilidade. Vamos juntos!

Nem dez minutos depois os Cullens haviam chegado em nossa casa para ficar com Ian e Sophie e Edward e eu estávamos a caminho da escola de Renesmee. Edward dirigia sério, com uma mão no volante e outra firmemente segurando a minha. Fosse para me dar apoio e mostrar que estávamos juntos ou fosse para me segurar impedindo-me de fugir e ir até a escola sem ele.

Ao chegarmos na escola foi só decepção. Renesmee estava impecavelmente ilesa e quatro coleguinhas estavam muito machucados, Edward e eu nos desculpamos inúmeras vezes com a direção da escola e com os pais das crianças, e meu marido se prontificou a pagar todos os gastos médicos que as crianças possam vir a ter.

Renesmee nada falou.

Enquanto voltamos para casa o silêncio era absoluto. Edward estava visivelmente desapontado. Renesmee sempre fora uma boa menina para ele, ela nunca havia desobedecido depois que ele chegara, mas eu estava irritada, Renesmee nunca batera ou mordera um de seus coleguinhas antes, mas já havia desobedecido inúmeras vezes e minha única vontade era mandar Edward ir passear com os gêmeos enquanto Renesmee e eu conversávamos sobre o que aconteceu e eu a disciplinava devidamente.

Mas eu não podia fazer isso. Não era mais eu e ela apenas. Edward estava certo. A educação de Renesmee não era mais uma responsabilidade unicamente minha. Edward tinha o direito e o dever de participar agora.

Subitamente, quando já estava próximos de casa, Edward quebrou o silêncio. – Por que você fez isso, filha? – sua voz era composta, mas eu podia perceber sua ira, sua mão estava firmemente no volante.

Pelo retrovisor, vi Renesmee dar de ombros e fitar a paisagem na janela, ignorando completamente a pergunta do pai. A raiva em mim só aumentou. Virei-me para olhá-la. – Seu pai lhe fez uma pergunta Renesmee! – exigi severamente.

Ela me encarou com olhos feridos e desafiadores. – Porque me deu vontade. – foi a única resposta que ela deu.

A raiva me dominou. Não era porque essa menina já estava com quase cinco anos de idade que poderia nos tratar como bem entendesse. – Escute aqui mocinha... – rugi irritada, mas Edward calou-me ao segurar meu braço. Em seus olhos eu pude ver seu pedido de calma, embora eu conseguisse ver também sua irritação para com Renesmee.

Poucos segundos mais tarde, Edward estacionou o carro em frente a nossa casa. Descemos e Renesmee fez o mesmo, agora já conseguindo fazer isso sozinha. Parei em frente a ela e cruzei os braços, claramente esperando uma explicação descente do que havia acontecido. Mas Nessie me ignorou, passou por mim e seguiu em direção a porta de casa.

-Renesmee... – Chamei-a impaciente.

-Me deixa em paz! – gritou ela revoltada. O choque atingiu com força total, não só a mim, mas a Edward também. Como ela ousava gritar comigo?

-Renesmee Carlie Cullen! – Grunhiu Edward, sua calma aos poucos sendo esquecida. Eu sabia que ele jamais bateria nela, mas eu sabia também que ele não permitiria que ela gritasse assim conosco.

Renesmee virou, encarando-nos, seus olhos mareados, criando uma perfeita mistura de dor e ódio. - EU NÃO SOU UMA CULLEN! – Gritou ela a toda força. - ME DEIXEM EM PAZ! – Ela correu floresta a dentro.

Edward e eu ficamos chocados com aquela atitude. Nos olhamos confusos, sem conseguir compreender. Como assim ela não era uma Cullen? Mas é claro que era... – Quase que no mesmo instante que Edward compreendeu toda aquela revolta, eu também o fiz.

Renesmee realmente não era uma Cullen.

A culpa atingiu Edward e a mim no mesmo instante, fazendo-nos contrair levemente. Era abominável e inconcebível que nunca tivéssemos nos atentado aquilo. Quando Renesmee nascera, os Cullens não faziam parte da nossa vida e ela fora registrada como Renesmee Carlie Swan.

Eu tenho certeza que Edward teria sim mudado o nome de Renesmee se as coisas não tivessem acontecido tudo muito rapidamente. Quando ele conheceu Renesmee, eu já estava grávida de Ian e Sophie, então veio nosso casamento e o nascimento dos bebês, acredito que nunca lhe ocorreu, assim como não acorreu a mim, que Renesmee poderia se sentir menosprezada por isso.

Suspirei. Como eu poderia ter deixado passar algo tão importante quanto isso. – Eu vou atrás dela. – Declarei, mas antes que eu começasse a correr, Edward me segurou.

-Eu vou com você. – Declarou ele, mas eu neguei com a cabeça, me soltando.

-Não... – Edward fez menção de protestar, mas fiz sinal para que parar. – Isso é muito mais do que uma briguinha na escola, Edward. É sobre ela se sentir importante nessa família. Eu devo resolver isso. E sozinha. Trata-se de uma época em que você não existia para ela. – Expliquei. – Eu irei. Por favor, fique aqui.

Sem nem ouvir a resposta de Edward, eu comecei a correr floresta a dentro, o cheiro de Renesmee estava impregnado no caminho que ela havia trilhado. Não foi difícil encontrá-la. Ela estava sentada sobre uma pedra, ao lado de um rio. Seu choro era claro como o barulho do rio.

Meu coração se apertou com aquela cena. Como pude negligenciar tanto minha menina?

Aproximei-me com cautela, eu não sabia dizer se ela havia ou não percebido minha presença, mas não me importei, sentei-me ao lado dela e a envolvi em um abraço, sem nada dizer. Por alguns instantes, ficamos assim. O silêncio era o mais propício para o momento, cortado apenas pelos soluços comedidos de Renesmee.

Meu coração sangrava em ver minha menina naquele estado. Demorou alguns instantes, mas ela finalmente me abraçou de volta e quando isso aconteceu, eu soube que podia me aproximar.

No mesmo instante trouxe-a para o meu colo. Minhas mãos afagaram com cuidado seus cabelos e meu corpo começou um leve balançar a fim de aconchegá-la melhor. Eu queria cuidar dela, acolhê-la, mostrá-la que naquele momento, só existia nós duas e ninguém mais. Como nos velhos tempos.

Baixinho, quase em um sussurro, uma doce melodia começou a escapar de meus lábios, procurando confortá-la, procurando acolher meu pequeno tesouro:

Chiquitita, tell me what's wrong / Chiquitita, me conte o que está errado

I have never seen suchsorrow / Eu nunca vi tal tristeza

In your eyes / Nos seus olhos

How I hate to see you like this / Como eu odeio te ver desse jeito

Minhas palavras eram verdadeiras, assim como meu amor por ela. Eu estava assustada em ver aquela dor nos olhos de minha menina, minha pequena Chiquitita estava sofrendo silenciosamente e eu fora cega ao não perceber que algo estava errado.

There is no way you can deny it / Não há nenhuma maneira de negar isto

I can see / Eu posso ver

That you're oh so sad, so quiet / Que você está… Oh tão triste, tão quieta

Renesmee levantou a cabeça e encontrou meu olhar, suas lágrimas eram tão puras e cristalinas dignas de um anjo, meu anjo. Ela sabia que eu a conhecia bem demais para ignorar tudo aquilo. Eu queria a verdade. Eu queria saber exatamente o que estava magoando-a para erradicar isso.

Chiquitita, tell me the truth / Chiquitita, me conte a verdade

I'm a shoulder you can cry on / Em meu ombro você pode chorar

Your best friend / Sua melhor amiga

I'm the one you must rely on / Eu sou a pessoa em quem você tem que confiar

You were always sure of yourself / Você sempre estava segura de si mesma

Now I see / Agora eu vejo

You've broken a feather / Você quebrou como uma pena

I hope / Eu espero

We can patch it up together / Que nós possamos consertar isto; juntas

Eu queria que Renesmee percebesse que ela estava segura em meus braços. Eu faria silêncio em meio a sua confidencia. Eu lhe acolheria, fosse o que fosse. Eu seria seu ombro amigo. Seu consolo. Sua mãe. Juntas, nós resolveríamos o que quer que estivesse magoando-a, nem que isso me custasse a vida. Minha filha abandonaria aquela dor.

Chiquitita / Chiquitita

You and I know / Eu e você sabemos

How the heartaches come and they go / Como as preocupações vêm e vão

And the scars they're leavin' / E as cicatrizes elas trazem

You'll be dancin' once again / Você estará dançando uma vez mais

And the pain will end / E a dor terminará

You will have no time for grievin' / Você não terá mais tempo para se afligir

Nessie esteve comigo nos momentos mais difíceis da minha vida. Ela viu, mesmo nova, como a vida pode ser cruel, como as preocupações e os medos podem trazer cicatrizes dolorosas, mas ela viu também como o tempo sabe curar tudo isso. Sim... Renesmee conheceu tudo isso. Viu tudo isso acontecer. E mesmo no silêncio de nossas palavras, eu sabia que ela conseguia entender que eu estava ali para compreender qual era sua tormenta, e que eu não sairia do seu lado até que ela tivesse sido totalmente erradicada.

Eu a faria sorri novamente. Custasse o que custasse.

Chiquitita / Chiquitita

You and I cry / Você e eu choramos

But the sun is still in the sky / Mas o sol ainda está no céu

And shining above you / E brilha sobre você

Let me hear you sing once more / Me deixe a ouvir cantar mais uma vez

Like you did before / Como você fez antes

Sing a new song / Cante uma canção nova

Chiquitita / Chiquitita

Sua dor era minha assim como sua alegria. Eu queria vê-la cantar novamente. Eu queria ver o sol brilhar sobre si, iluminando seu caminho, iluminando sua vida. Minha pequena Chiquitita não merecia sofre, não merecia perder o sorriso que deveria reinar eternamente em seus lábios. Eu estava ali para ela, eu estava ali por ela. Nada ficaria entre nós. Nem agora, nem nunca.

Então, para minha surpresa, foi a voz de Renesmee, num sussurro quase inaudível que terminou a canção.

Try once more like you did before / Tente mais uma vez como você fez antes

Sing a new song / Cante uma canção nova

Chiquitita / Chiquitita

Seus lábios abriram um sorriso cálido, mas verdadeiro, então eu soube, ela estava pronta para falar. Com cuidado, como se ela fosse feita de porcelana, limpei o resquício de lágrimas que manchavam seu lindo rosto. Minhas mãos afagaram seus cabelos levemente desgrenhados, então eu a trouxe para mais perto de mim, acolhendo-a num abraço protetor. Meus lábios beijaram seus cabelos, e eu jurei, em palavras silenciosas, que eu seria uma mãe melhor para Renesmee. Ela merecia isso.

Ficamos quietas, eu pensei em perguntar o que aconteceu, mas eu sabia que Renesmee já havia escutado essa pergunta em seu coração. Ela falaria. Quando estivesse pronta. Eu só precisava... Esperar.

E foi assim que aconteceu, pouco tempo depois ela começou a falar. Suas mãozinhas brincando em seu colo. Sua voz abafada pela vergonha e pelo resquício de choro. – Eles disseram que vocês amavam mais o Ian e a Sophie do que a mim...

Meu coração quebrou. Eu via o ciúme que as vezes Renesmee sentia pelos irmãos, mas não imaginei ser tamanho. – Eu não queria ouvi-los... – Ela mesma se justificou antes que eu conseguisse dizer alguma coisa. – Mas quando eles disseram que eu era uma Swan e não uma Cullen como meus irmãos... – Um soluço escapou por seus lábios. Meus braços apertaram o abraço entorno dela.

-Eu sei que você nunca desejou ficar grávida de mim... Sei que por minha causa você passou por coisas horríveis e sei também que o papai prefere os meus irmãos por ele ter podido participar da vida inteira deles, diferente de mim, mas... As vezes... – Não deixei que ela terminasse, tapei sua boca com as mãos.

-Eu não quero nunca mais ouvir você falando algo assim! – Declarei séria. Virei Renesmee para que ficasse de frente para mim e encontrei seu olhar. – Você salvou a minha vida, filha! Se eu não tivesse ficado grávida de você, eu teria morrido... Você foi o meu único motivo de viver. Único! E se fosse para tê-la... Eu passaria por tudo que passei infinitas vezes. Só para poder tê-la aqui. Nos meus braços.

-Você foi a jóia mais preciosa que ganhei. E eu agradeço a Deus todos os dias por tê-la aqui comigo. Nada nem ninguém pode substituir o seu lugar dentro do meu coração. E com o seu pai não é diferente filha! Ao contrário do que você pensa, seu pai bajula muito mais você do que seus irmãos, justamente por não ter podido fazer parte de toda a sua vida como fez com seus irmãos! Nós te amamos, muito. E nada nem ninguém pode mudar isso.

-Mas eu não sou uma Cullen! – Contrapôs Renesmee. Abracei-a novamente.

-Você não é uma Cullen apenas no papel, justamente porque para nós, o papel não significa nada. Aqui. – Apontei seu coração. – Você é uma Cullen e sempre vai ser.

-Mas... – Ela tentou argumentar, contudo, eu a calei novamente.

-Na sua certidão de nascimento diz que você não tem pai. – Tentei lhe explicar. – Por conta disso você não considera e não ama Edward como seu pai?

-Mas é claro que sim! Ele é meu pai.

-É a mesma coisa com o fato de você ter ou não o nome Cullen na certidão de nascimento. – Sorri maternalmente. - O que importa é o que está aqui. – Apontei novamente seu coração. – E nada mais. Você entende isso?

Renesmee ficou alguns segundos em silêncio até que por fim, assentiu. – O que importa é o nós sabemos e não os outros. – concluiu ela.

Sorri. – Exatamente. Mas nada disso lhe dá o direito de bater em seus coleguinhas, você sabe que é mais forte que todos eles, e pode acabar por machucá-los gravemente. – Minha postura era séria agora, por mais que eu a amasse e estivesse machucada por dentro ao ver que ela não se sentia tão parte da família quando os irmãos, eu precisava que ela entendesse a gravidade da situação que causou. – Se seus amiguinhos estão te importunando, você deve ir até a sua professora e dizer, ou então vir até o papai ou até mim, mas não deve bater neles, filha, isso é muito feio e você sabe que é contra as regras! – Falei severamente. No mesmo instante Renesmee se encolheu, culpada.

-Desculpe... – Sussurrou ela. – Você vai... Me bater? – Perguntou ela, timidamente. Suspirei. Edward me mataria se eu batesse em Renesmee, mas ela não precisava saber disso.

-Hoje não. – declarei por fim enquanto puxava-a para outro abraço. – Mas eu não quero que isso se repita! Ouviu, dona Renesmee?

-Sim senhora. Prometo que nunca mais vou bater em alguém. – Seus bracinhos me envolveram e eu amoleci. Meus lábios beijaram sua testa e minhas mãos afagaram seus cabelos.

-Eu te amo, filha. – falei simplesmente, sem saber se Renesmee compreendia a magnitude de minhas palavras. Eu jamais conseguiria sobreviver em um mundo em que Renesmee não existisse.

-Eu também te amo mamãe.

Quando voltamos para casa, Edward não estava lá, de acordo com Rosalie, ele havia saído poucos minutos depois de ter chegado sem dizer a onde ia e ainda não havia retornado. Suspirei, preocupada de como aquela situação tinha repercutido para Edward.

Disposta a provar a Renesmee que ela era tão importante quanto os irmãos, pedi a Rosalie e Alice que continuassem ali cuidando de Ian e Sophie e me dediquei exclusivamente a Renesmee. Dei-lhe banho e a ajudei com o dever de casa.

Já era noite quando Edward retornou, Rosalie e Alice já haviam ido embora, os gêmeos estavam dormindo no chiqueirinho enquanto Renesmee e eu estávamos no tapete montando quebra-cabeças. Nosso velho passa-tempo.

Edward parou em frente a nós e nada disse inicialmente. Também o encaramos, ele se ajoelhou na frente de Renesmee e lhe estendeu um papel. – Você é uma Cullen. – foi tudo que ele disse.

O papel era uma nova certidão de nascimento de Renesmee, onde não apenas reconhecia Edward como pai dela, como também alterava seu sobrenome para Cullen. A emoção banhou rapidamente os olhos de Renesmee, aquela era a prova viva que ela era tão importante quanto os irmãos.

Nessie se atirou nos braços do pai e escondeu o rosto em seu ombro. – Eu amo você, papai. Obrigada por ser meu pai.

Edward sorriu carinhosamente e a envolveu em seus braços. – Eu também amo você meu amor. Amo tanto quanto amo seus irmãos e isso nunca irá mudar. Não importa o que aconteça, você sempre será a minha querida filha! – Sorri diante daquela cena. – Eu tenho muito orgulho de você, querida... Muito orgulho.

Comovida, abracei os dois, fazendo um "sanduiche de Renesmee". Foi daquela forma que minha família com Edward começou, e nada iria mudar isso.