POV Edward
O vento sopra silencioso na janela. Caminho à passos lentos entorno do quarto. Meus braços balançam levemente a criança em meus braços. De meus lábios, uma canção suave escapa, tentando acalmar o pequeno junto a mim. O sorriso revigora em meu rosto. Meus olhos percorrem meu filho. Tão pequeno. Tão perfeito. A graça de tê-lo aqui, em meus braços era quase que sufocante. Eu o amava. Ele havia se tornado meu mundo.
Eu amava minhas filhas, claro que as amava. Mas seria este pequeno em meus braços é quem levaria meu nome, que seria o herdeiro do nome da família Cullen. Seria este um pensamento antiquado? Não para a minha época.
Renesmee estava na escola... Bella estava dando banho em Sophie. E eu estava ali, em um momento tão intimo, tão singelo com meu filho. Meu único filho homem. Olhar dentro de seus olhos, tão puros e ignorantes a toda a minha intensa felicidade de tê-lo ali só fazia-me sorrir. Provavelmente ele jamais viria a compreender o quão importante era para mim ter este filho homem, nem mesmo Bella viria um dia a compreender. Ela não pertencia a esta época e em respeito as minhas filhas, não era um tipo de sentimento que seria correto compartilhar.
Que o tempo e o silêncio fossem meus únicos confidentes destes sentimentos tão arcaicos. O orgulho de tê-lo ali, vislumbrando seu sucesso já era suficiente para me preencher.
Ian seria grande. Um bom homem. Honrado. Honesto. Poderoso. Talvez um grande médico como o avô. Talvez um advogado correto e famoso, ou quem sabe ele não se tornasse o cientista responsável por descobrir a cura de uma doença horrenda como o câncer ou uma doença degenerativa. Sorri. Sim... Ele seria grande. E eu já me orgulhava disso. Mesmo agora, quando ele ainda cabia no pequeno acolhimento do meu braço.
Todos os meus irmãos, bem como Bella e meus pais, acreditavam que Ian não possuía poder algum uma vez que Renesmee apresentou seu poder de super-desenvolvimento metal logo nos primeiros dias e Sophie apresentou o seu poder de controlar o clima logo nos primeiros meses e Ian... Nada até agora.
Meus abraços o trouxeram para mais perto de mim. Minha boca se fechou numa fina linha, interrompendo por um breve instante a canção antes de retomá-la. Todos eles estavam errados. Eu sabia que sim. Ian seria poderoso. Ian ainda mostraria seus poderes. Só precisava de mais tempo... Só precisava aprender a se controlar melhor. Ian tinha seus poderes. É claro que tinha. Eu sabia que no momento certo eles viriam. Tão grandiosos e poderosos quanto os das irmãs.
-Você vai ser grande, meu filho. – Afirmei com convicção esquecendo a canção. Ele apenas me olhou com intensidade, sua boca mordendo despreocupadamente sua pequena mão.
Minhas feições se suavizaram. Como eu o amava...
Segurando-o com apenas uma das mãos permiti que a outra tocasse com verdadeira adoração a face tão angelical e perfeita de meu filho. Meu pequeno tesouro. Em um ato totalmente inocente e despreocupado, Ian segurou meus dedos, com as duas mãos. Um sorriso com apenas dois dentes surgiu em seu rosto, iluminando meu dia. Iluminando minha vida.
Tudo era tão incrivelmente simples para ele.
A dor acertou-me como um tiro. Rápida e catastrófica. Eu teria matado-o. Eu teria matado meu filho. A verdade era alucinadamente insuportável. Eu teria feito coisas abomináveis... Alice havia salvo minha família da única pessoa que eu jamais pensaria em proteger; eu mesmo. Mesmo agora... Tempos depois de termos "conversado" na floresta, ainda não tínhamos um bom relacionamento. Provavelmente jamais seria igual a antes.
Mas eu devia muito a ela. Ela fizera por minha família o que eu não consegui fazer. Eu jamais poderia lhe pagar por tudo que fizera... Minhas mãos protetoras trouxeram meu filho para mais perto de mim.
Eu era um monstro.
Retirando-me de meu martírio particular... Meu filho emitiu um som desconexo e mesmo com as mãos cobrindo-lhe a boca, eu pude perceber um ligeiro sorriso em seus lábios. Sorri largamente no mesmo instante em que toda aquela dor e culpa se transformaram em adoração e conforto.
No fundo dos olhos de meu filho eu pude ver seu perdão por meus atos monstruosos. Eu pude ver conforto para meu remorso infinito e amor para todo o ódio que corria em minhas veias.
Estaria eu louco? Ian não tinha como saber da verdade. Provavelmente sim. Mas aquele conforto imaginado já era o bastante para mim.
-Tudo é tão fácil para você, não é meu filho? – Me peguei invejando meu próprio filho. Não se tratava de um ciúme desmedido ou maldoso... Mas sim uma inveja boa, aonde eu comemoro com meu menino sua sorte e faço minhas preces para que ela jamais mude.
Peguei-lhe uma das mãos e a beijei. – Queria eu ter a sua idade... Ter a sua inocência. – Afirmei aleatoriamente, mesmo com a canção esquecida, eu ainda caminhava de maneira tranquila pelo quarto. – Eu queria poder esquecer tudo que fiz e começar de novo... Do zero. Igual a você, para quem sabe talvez, essa culpa que carrego dentro de mim seja arrancada e eu me faça digno de ser seu pai.
As palavras pronunciadas descreviam com tanta honestidade meus desejos que até mesmo me surpreenderam; talvez aquela fosse a única maneira de um dia ser merecedor da família que eu possuía.
Assim que as palavras se finalizaram selando meus lábios em uma fina linha, algo inimaginável aconteceu. Um clarão saindo das mãos de meu filho me cegou e meu corpo inteiro pareceu implodir. Um grito assustado escapou de meus lábios no mesmo instante em que minhas pernas cederam; tentei manter meu filho seguro em meus braços, contudo não consegui segurá-lo.
Tudo que houve em minha vida passou em uma fração de segundos por minha mente até que por fim, o clarão sumiu dando vazão a uma escuridão tão ensurdecedora que poderia assustar até o mais valente dos adultos trazendo-o de volta a um olhar inocente e temeroso de uma indefesa criança.
Foi naquele momento, em uma tarde qualquer, em uma situação tão comum quanto o nascer do sol, em que eu experimentei, pela primeira vez em anos, o que era ter medo de dormir e nunca mais acordar.
Pesso mil desculpas pela demora, mas tive problemas pessoais sérios, espero que entendam...
Para compensar vou postar dois capítulos de uma só vez.
Comentem por favor.
