POV Bella
-Nessie querida, você tem certeza que não quer brincar um pouco com seu irmão e seus primos? – Indaguei novamente olhando para minha filha mais velha deitada na cama dela com minha filha mais nova enquanto assistiam a um filme qualquer.
Eu me sentia mal o suficiente por minha caçula não poder brincar e desfrutar como qualquer criança normal e ver o quanto Renesmee abdicava de ser uma criança e aproveitar sua infância como deveria em prol de passar mais tempo com a irmã só fazia meu remorso aumentar.
Todos os dias nos últimos dois meses Renesmee reservava os finais de tarde para fazer algo com a irmã, era quase uma rotina.
-Não, mamãe, eu vou assistir aqui com So-So, não se preocupe. – Minha filha abre um sorriso tranquilo e envolve a irmã nos braços, acomodando-a. – Estamos bem, certo So?
Sophie olha para a irmã, seu rosto parecia cada dia mais sem expressão, uma face neutra e tranquila, desprovida de emoção. Ela estava aprendendo cada vez mais rápido e eu não conseguia decidir se isso era algo bom ou ruim.
Abri a boca para ignorar totalmente meu bom senso e chamar minhas duas filhas para brincar comigo, talvez sair apenas nós três e ter um momento de garotas, qualquer coisa que as deixasse feliz, sem aquela aparência que precisavam crescer e amadurecer antes de sua idade, quando o choro de Edward em algum lugar na sala roubou toda a minha atenção.
Saí rapidamente fechando a porta atrás de mim e corri de encontro ao choro de Edward, ignorando as crianças correndo pela casa, desviando com facilidade deles, embora eu tenha certeza de que se fosse humana teria trombado com um deles e provocado algum acidente; eu deveria repreende-los, eu deveria alertá-los sobre a importância de não correr, mas agora não me importava, apenas o choro de Edward.
-Ele só está com cólica, querida. – Meu pai estava com ele no colo balançando-o tentando acalmá-lo, mas não parecia adiantar.
-Tem certeza? – Minhas mãos acariciaram a cabeça de Edward, sofrendo com ele por sua dor.
-Tenho filha, não se preocupe.
-Tia Bella, vovô, cuidado! – A voz de Emm soou segundo antes de eu bloquear uma bola que estava indo em direção a Carlisle.
-Quantas vezes já conversamos sobre bola dentro de casa, Emm? – Indaguei encarando-o séria.
O menino pareceu envergonhado. – Desculpe.
Suspirei olhando adiante para meu filho a poucos metros de Emmett também envergonhado por sua postura. – Coloquem seus casacos e gorros e vão brincar lá fora. – Ofereci um sorriso tranquilo. – Mas quero vocês dentro de casa antes de escurecer. – Os meninos assentiram animados. – E não vão para dentro da floresta!
-Sim senhora! – Ambos gritaram correndo para pegar seus casacos e saírem.
Voltei minha atenção para meu pai; Edward ainda chorando. – Você quer que eu o pegue pai?
Carlisle negou com a cabeça, seu sorriso tranquilo nunca desviando os olhos de Edward. – Não se preocupe filha, eu cuido dele.
-Tem certeza?
-Tenho sim, querida.
-Tudo bem. – Suspirei em derrota, sabendo o quão inútil seria tentar levar Edward de Carlisle; tanto ele quanto Esme estavam a cada dia mais deslumbrados com os netos. – Vou começar o jantar das crianças então. – Informei olhando o relógio. – Você pode observar os meninos da janela, por alguns minutos? Acredito que mamãe e Jazz estarão em casa em breve com as meninas.
Carlisle assentiu sem me encarar, ainda concentrado em Edward. – Pode deixar filha, estou de olho neles. – Abri a boca para falar quando meu pai completou. – E qualquer problema com Edward vou chamá-la, não se preocupe.
Assenti e me voltei para a cozinha, meus ouvidos atentos a todos os barulhos ocorrendo em torno da casa; Carlisle acalmando Edward, Emmett e Ian jogando bola no quintal e o barulho da televisão no quarto meu quarto.
Comecei o jantar mecanicamente enquanto minha mente divagava para meus filhos e Edward.
Ainda era difícil para mim enxergar em Edward um filho e ignorar o fato que um dia aquele lindo e inocente foi meu marido. Eu invejava a maturidade e o discernimento de meu irmão que conseguia separar completamente o fato de Alice hoje ser uma de suas filhas.
Embora o apreço e o amor que ele sentisse por Alice era visivelmente mais forte do que por Emmett e Rosalie, ele tinha incorporado os dois como seus filhos, era fascinante de ver. Não parecia haver qualquer tipo de conflito em sua cabeça quando se tratava de seus filhos.
Eu realmente o invejava nesse aspecto.
Eu olhava para meus filhos e olhava para Edward e só conseguia pensar em todos os conflitos e dificuldades que eu encontrava.
Minha filha mais velha se fazendo cada dia mais madura pela irmã mais nova. A mais nova impedida de aproveitar qualquer emoção e eu sabia que em virtude disso eu era muito mais permissa com meu filho do que deveria.
Em meu íntimo eu esperava que se Ian aproveitasse ao máximo sua infância ele poderia aproveitar por Sophie também diminuindo assim minha culpa.
Meus pensamentos foram interrompidos quando um raio de sol entrou forte pela janela fazendo minha pele cintilar no mesmo instante em que o riso alto de Sophie vindo do quarto.
Larguei tudo e corri em direção ao quarto ignorando meu pai e mesmo os meninos que entraram correndo. Nessie estava segurando a boca de Sophie tentando fazê-la parar de rir.
Em um instante tomei Sophie em meus braços tapando gentilmente sua boca com os dedos. – Shhh... Não não querida. Não pode sorrir, lembra? – Pedi gentilmente. Pelo canto do olho vi meu pai chegando com Edward no colo falando ao telefone com alguém e os meninos em seu encalço.
Não precisava perguntar para saber que ele estava em contato com Esme e Jasper para garantir que não tinham se exposto.
Sophie me observou com intensidade, seu sorriso morrendo lentamente até por fim voltar a sua expressão neutra.
-Diculpa. – Pediu ela em um sussurro.
-Está tudo bem. – Garanti levemente. – Mas você precisa estar no controle filha, sempre no controle de suas emoções. Nossa segurança depende disso.
Os olhos de minha filha encheram de lágrimas, beirando ao choro, mas bastou um olhar mais severo para a pequena se firmar e engolir a vontade de chorar.
Sorri levemente, satisfeita com o quão bem Sophie está lidando com tudo.
-Muito bom. Agora acho que você deveria ficar com a mamãe na cozinha enquanto eu preparo o almoço. Nessie vai brincar um pouco lá fora com Ian e Emm.
-Mamãe eu... – Renesmee começou a falar, mas a cortei.
-Nós já conversamos sobre isso Renesmee, se você não pode garantir que vai passar um tempo com a sua irmã sem instigá-la a expressar suas emoções então eu prefiro que você não fique muito perto de Sophie.
-Mas mamãe...
-Não Resnesmee. Isso é de importância máxima. – Falei com dureza encarando minha filha mais velha. Sophie encostou a cabeça em meu ombro e minha mão cobriu-lhe a cabeça protetoramente. – A segurança de toda a nossa família depende disso.
Nessie me encarou com um olhar ferido ao mesmo tempo que meu pai tentou intervir. – Bella...
-Não pai. – Cortei-o. – Renesmee sabe a importância e a seriedade da situação, eu gostaria que fosse diferente, mas não é. Sophie precisa controlar suas emoções e se Renesmee não compreende isso, eu prefiro que ela não fique muito próxima a ela. – Voltei a encarar minha filha mais velha. – Agora eu quero que você vá brincar com os meninos lá fora ou se entreter sozinha até que suas primas cheguem. Sophie está vindo comigo para a cozinha.
Nessie manteve a cabeça baixa e não me encarou. – Sim mamãe. Sinto muito por ter causado tanto transtorno.
Assenti em concordância e me virei para meu pai, não precisei perguntar. – Eles estão bem filha, não se preocupe. Já estavam no carro retornando para casa quando aconteceu. Logo estarão aqui.
-Bom. – Assenti satisfeita. – Você pode colocar o chiqueirinho na cozinha para mim, por favor?
Meu pai assentiu e juntos seguimos para lá. Momentaneamente fiquei com Sophie e Edward no colo enquanto meu pai ajeitava o cercadinho para mim na cozinha e logo minha filha caçula estava ali brincando com algumas pelúcias enquanto eu terminava o jantar.
Não demorou até Esme e Jasper retornaram com Alice e Rose, mas nada mais foi comentado do incidente com Sophie.
Eu queria que minha filha tivesse uma infância normal, eu queria poder permitir que ela risse e brincasse como os irmãos ou ao menos que Edward pudesse estar aqui para me ajudar a dar a nossa pequena uma infância tranquila e feliz dentro de suas limitações, mas que escolha eu tinha?
Não apenas eu, mas meus pais e Jasper estávamos constantemente enchendo Sophie com presentes e qualquer coisa que ela pudesse querer tentando suprir essa limitação, mas eram apenas bem materiais, não era isso que minha filha queria. Não era isso que ela precisava.
Por mais de uma vez ela me pediu apenas para ir à escola como os irmãos ou brincar de bola com as primas e não apenas assistir eles brincando, mas como eu poderia permitir isso se ela perdia o controle assistindo um simples filme engraçado?
Meu coração pesava e sofria, entretanto eu nada podia fazer.
Quando as crianças estavam prontas para começar suas rotinas noturnas; banho, jantar, filme e cama; meus pais e Jasper vieram me encontrar quando eu estava separando um troca de roupa para banhar Edward. Meu pai com Sophie no colo, a cabeça encostada em seu ombro.
-Filha?
-Sim, pai?
-Sua mãe e eu queremos falar com você e Jasper por um minuto. – Parei o que estava fazendo e encarei os três. Carlisle fez sinal para que meu irmão e eu nos sentássemos na cama para ouvir o que tínhamos a dizer. Não precisei olhei uma segunda vez para meu irmão para saber que ele também não tinha ideia do que nosso pai queria nos dizer.
Esme foi até o berço e tomou Edward nos braços, embalando-o com amor e devoção como fazia a todo momento. Segurei minha língua para não perguntar onde as crianças estavam, eu podia ouvi-los brincando na sala. Carlisle puxou a poltrona a nossa frente, acomodou Sophie no colo e entregou-lhe um urso de pelúcia antes de começar a falar.
-Desde que nos mudamos, nem você nem Jasper tiveram um momento de folga dedicando-se em tempo integral as crianças.
-Isso não é um problema pai. – Jasper garantiu com um sorriso tranquilo no rosto. Era um prazer para ele ser pai dos trigêmeos da família.
Eu me sentia da mesma maneira muito embora ainda me sentia sobrecarregada com Sophie e levemente desconfortável com Edward.
-Eu sei que não filho, vocês dois são excelentes pais e sua mãe e eu não poderíamos estar mais orgulhosos. – Carlisle sorriu brandamente. – Desde que nossa família se modificou nenhum de vocês mediu esforços para cuidar, amar e proteger todos os seus filhos, mas Esme e eu somos avós de sete crianças maravilhosas e pouco temos exercido nosso papel de avós em apenas estragar nossos netos. – Ele riu. – Gostaríamos de dar a noite de folga para vocês.
Franzi as sobrancelhas e tombei levemente a cabeça em confusão. Como assim nos dar a noite de folga?
-Não sabemos por quanto tempo as crianças ficarão assim ou se vão crescer em velocidade normal. Queremos que vocês vivam e aproveitem também, nos deixem sermos avós, tirem a noite para saírem, vão passear ou a alguma boate, eu não sei, mas queremos que vocês aproveitem e se descubram também.
-Não foi a vida que vocês esperaram ter. – Minha mãe se manifestou se aproximando. – E sabemos que vocês estão felizes assim, mas também achamos que vocês precisam de um tempo longe das crianças para compreenderem quem vocês são agora e como vocês podem aproveitar a vida agora.
Eles queriam que saíssemos? Que deixássemos as crianças? A ideia era atordoante.
-Mãe, Edward é muito pequeno e Sophie... – Comecei a argumentar, mas ela fez sinal para me parar.
-Filha, pode ir tranquila, vamos cuidar bem de Edward e sabemos como você gosta de trabalhar com Sophie, vai ficar tudo bem.
-Mas e se...?
-Nos de um pouco de crédito, filha. Podemos lidar com as crianças. – Carlisle insistiu bem-humorado.
-Vocês têm certeza que dão conta, pai? – Jasper falou. – Meus filhos são três pequenos delinquentes. – Zombou ele humorado. Foi impossível não rir.
-Ian também. – Garanti. – E Sophie e Edward.
Carlisle desprezou com a mão. – Não nos subestimem. – Ele sorriu se levantando com Sophie no colo. – Agora vão se arrumar e saiam daqui. Talvez vocês querem viajar pelo final de semana?
Jasper e eu nos levantamos também. – Acho que você já está exagerando, pai.
-Apenas divirtam-se meus filhos. – Pediu ele se virando para sair.
-E nos deixem saber se vocês não pretenderem voltar hoje ok? – Pediu Esme naquele tom de mãe preocupada.
-Pode deixar. – Garantiu Jasper e nossos pais deixaram-nos a sós. – Você gostaria de sair comigo, Bella? Ou prefere um tempo sozinha.
Sorri. Meu irmão era incrível e atencioso. As vezes eu me esquecia do quanto. – Seria ótimo sair com você, Jazz.
Ele sorriu assentindo. – Podemos nos encontrar na sala em uma hora então?
Concordei com a cabeça. – Em uma hora na sala. – Ele sorriu uma vez mais e saiu para se arrumar, eu ainda tomei alguns minutos absorvendo tudo que acabou de acontecer.
Pela primeira vez desde que nossa família assumiu esse formato eu ficaria longe dos meus filhos, sem saber dizer se isso me trazia angustia ou alivio.
