POV Bella

A música era alta, as luzes piscavam na escuridão e as pessoas dançavam a nossa volta, animadas, alheias a tudo que passávamos, a tudo que sentíamos, a tudo que pensávamos; completamente ignorantes que tão próximas a elas tinham duas criaturas mortalmente perigosas, humanos eram tão frágeis, tão inocentes, completamente cegos do perigo que corriam só por estarem na mesma cidade que um vampiro, quem dirá no mesmo ambiente fechado.

Era quase cômico pensar nisso, os olhares de cobiça, inveja e desejo que os humanos a nossa volta nos dirigiam; eram exatamente o oposto do que deveriam sentir ao estarem perto de nós. Emmett sempre teve razão afinal, humanos eram frágeis com tendencias a fazerem coisas estúpidas.

-O que está pensando? – Jasper perguntou próximo a mim em um tom baixo; qualquer humano não conseguiria ouvi-lo com a música alta como estava a nossa volta, mas nossos ouvidos eram muito mais aguçados, eu podia ouvir tudo que ocorria dentro da boate com perfeição.

Dei de ombros desviando meus olhos da pista de dança abaixo de nós e me virando para encará-lo com um sorriso no rosto. – Nada realmente importante. – Mexi o copo de bebida em minha mão afim de parecer mais natural aos olhares que insistiam em nos cobiçar.

Embora minha mente estivesse tentando buscar se distrair com as coisas aqui, eu não conseguia deixar de pensar nas crianças em casa, estariam bem? Estariam dormindo? Meus pais teriam encontrado uma maneira de olhar a todos sem despertar as emoções de Sophie?

-Sabe que consigo sentir sua preocupação mesmo sem utilizar meus poderes, certo?

Ri levemente e tomei um pouco da bebida em meu copo, levemente enojada de como isso teria que sair em algum momento e nostálgica com o efeito que o álcool tinha sobre mim quando era humana. Daria tudo para me embriagar novamente e esquecer uma pouco toda a loucura que nossa vida virou.

-Você acha que as crianças estão bem?

Jasper tocou meu ombro, incentivando-me a encará-lo.

-Sabe que elas estão bem, Carlisle e Esme são perfeitamente capazes de lidar com eles, isso sem dizer na felicidade que devem estar em aproveitar todos os netos, brincar com eles sem se preocupar com a responsabilidade de educá-los e impor limites.

Sorri mais imaginando as crianças se divertindo com Carlisle e Esme. – Talvez estejam fazendo um acampamento na sala de estar.

Jasper concordou sorrindo. – É bem provável. Vamos aproveitar a noite de folga e confiar em nossos pais, eles sabem o que fazer. – Ele ergueu sua taça de champanhe, propondo um brinde. – A uma vida maravilhosa com nossa família.

Fiquei surpresa por Jasper estar propondo um brinde, ele era sempre o menos disposto a consumir alimentos ou bebidas humanas, mesmo que isso ajudasse a convencer as pessoas a nossa volta da nossa "humanidade".

Brindei e sorvi um gole do champanhe. – A nossa família.

Jasper sorriu quando terminou de beber e fitou a multidão abaixo de nós. – Sei que nunca gostou de lugares como esse, quer ir embora?

Dei de ombros negando a cabeça. Estávamos na ala vip de uma das baladas mais cobiçadas da região, o lugar era luxuoso e esbanjava status social para qualquer jovem que quisesse mostrar sua condição financeira. – Está divertido, não está? – Sorri.

Jasper riu alto perante a minha ironia e depositou seu copo na mesa próxima a nós. – Venha irmãzinha, vamos dançar e aproveitar esta noite. – Ele me puxou pela mão, guiando-me até a pista de dança, da mesma maneira que vi Alice fazer com ele tantas vezes no passado.

Deixei-me ser guiada sorrindo com carinho pelo esforço em que Jasper estava investindo para tentar me animar e me distrair, ele melhor do que qualquer um conseguia compreender minhas dores, conseguia senti-las, estava vivendo-as também.

Dançar com Jasper quase parecia natural, deixe-me ser guiada pela música, acompanhei as batidas da melodia e permiti que meu corpo acompanhasse seu ritmo, sempre próxima a Jasper, ciente que estávamos cercados de pessoas, mas ao mesmo tempo, sentido que apenas eu e ele estávamos ali, lavando nossas almas, nossas dores, nossos temores e nossos traumas.

Agora só importava a música, só importava a batida, só importava as mãos de Jasper me guiando, minhas próprias mãos em meus cabelos, arrancando deles todas as vozes que insistiam em gritar em minha cabeça.

Eu ri. Eu dancei. Eu cantei.

Eu extravasei.

Horas se passaram sem que perdêssemos o ritmo, música atrás de música, continuamos ali dançando, nos divertindo como a muito não fazíamos.

Jasper as vezes ria comigo, as vezes ria de mim, mas eu podia senti-lo tão feliz quanto eu me sentia.

Senti pela primeira vez em meses que eu estava leve, estava me divertindo, estava privada de toda a responsabilidade e toda a dor.

Foi tão bom, tão leve, tão... Libertador.

Já passava das quatro horas da madrugada quando deixamos o local, abraçados, rindo um do outro, provocando e brincando um com o outro, ignorantes aos olhares que recebíamos.

Quando me dei conta estávamos sentados na beirada de um penhasco, observando a natureza a nossa frente, afastados de toda a civilização, a claridade tentava pouco a pouco tomar engolir a escuridão da noite, dando indícios que logo o nascer do sol viria, mas isso não era um problema. Não precisávamos nos esconder, ninguém poderia nos ver ali.

Apoiei minha cabeça no ombro de Jasper, degustando a paisagem a nossa frente. – Eu amo você, Jaz, obrigada por estar sempre aqui para mim.

Mesmo sem ver seu rosto, eu podia sentir o sorriso se abrir em seu rosto, seu braço envolveu meu corpo, trazendo-me mais próximo a si, sua cabeça repousou sobre a minha.

-Eu também amo você Bells, você é minha irmã favorita.

Ri alto e bati levemente em sua perna em uma falsa repreensão.

-Sou sua única irmã atualmente.

Ele deu de ombros, sem se importar. – Estar perto de você sempre faz eu me sentir mais humano, menos um monstro, você parece sempre trazer o melhor de mim.

Abracei sua cintura com força, tentando passar-lhe conforto e amor.

-Você é uma pessoa maravilhosa, Jaz, sempre me ajudou, sempre tenta ajudar a todos, mesmo que isso doa em você. Você nunca poderia ser um monstro.

-Sempre fui uma máquina treinada para matar Bells, mesmo quando ainda era humano.

-Você está sempre mexendo com as emoções de todos para que ninguém sofra, você aceita o título de menos controlado, mesmo quando sua sede de sangue é maior porque além de sentir sua sede você sente a de todos nós também e não deixa ninguém saber. Me diz, como isso pode ser obra de um monstro?

Ele se afastou levemente para me encarar, espantado. – Como você sabe sobre isso?

-Não é difícil de compreender Jasper, você sente todas as nossas emoções, por que não sentiria a nossa sede? Nossa emoção mais poderosa quando não estamos alimentados ou quando estamos próximos a sangue fresco? – Dei de ombros voltando a me aconchegar em seu abraço. – Você sempre foi o mais sensível e compreensível de nós, nossa família apenas não sabe disso.

Ele ficou em silêncio, chocado com minhas palavras, eu nunca imaginei que conversaria sobre isso com ele. Se eu fosse sincera, eu nunca teria me imaginado tão próxima de Jasper, mas cá estávamos nós, cada dia mais próximos.

-Você também sabe que estou sempre mais no controle quando estou com você, certo? – Foi minha vez de encará-lo com espanto. – Estar perto de você abranda minha sede de sangue pelos humanos, assim como sinto a sede dos outros, eu também sinto seu controle.

Senti meu peito se aquecer, mesmo sabendo o quão impossível isso era. – Fico feliz de saber que posso ajudá-lo também de alguma maneira. – Apertei o abraço. – Fazemos uma boa parceria, Jaz.

Jasper riu levemente, também apertando o abraço. – Sim, fazemos mesmo, irmãzinha.

O sol foi nascendo e nenhum de nós falou, desfrutando a calmaria que aquele momento trazia a nós dois.

Minha cabeça divagou e divagou por todos os acontecimentos que tivemos nos últimos meses, nosso mundo virou de cabeça para baixo, os poderes de Sophie, os poderes de Ian, Alice, Rose e Emmett se transformando em crianças.

Eu perdi Edward.

Ah Edward, como eu sinto a sua falta. Tivemos tantas reviravoltas, tantas dores, tantos medos e agora, eu estou aqui, sentada na beira de um penhasco com um irmão que um dia foi seu e hoje é meu, tranquila, serena, conformada e até feliz, o que você acha disso meu amor?

-Posso ouvir seus pensamentos gritando, Bells, só não sei o que eles dizem. – Jasper tirou-me de meus devaneios.

Um sorriso cálido se formou em meu rosto. – Você acha que eles vão se transformar de volta ou cresceram normalmente?

Jasper hesitou em responder, mesmo sabendo que eu já sabia a resposta que ele me daria. Surpresa em perceber que nem mesmo essa constatação me causava mais dor, eu me sentia segura enquanto Jasper estivesse comigo.

-Sabe que quinze ou vinte anos não são nada para nós, eles poderão aproveitar a humanidade como sempre desejaram. – Jasper respondeu com ternura.

Sorri tristemente, deitei meu corpo na pedra, dobrando apenas uma das pernas enquanto a outra balançava no penhasco abaixo de nós, minha cabeça apoiada no colo de Jasper enquanto eu absorvia suas palavras.

Suas mãos passaram a acariciar meus cabelos, acalmando-me.

-Sabe que eles vão passar pela adolescência e se namorados aparecerem nesse período? – Perguntei sentindo o ciúme apertar meu peito.

Jasper riu abertamente, jogando a cabeça para trás, desviei meu rosto do horizonte para fitá-lo, surpresa com sua reação. Ele não tinha esse medo?

-Você vai ficar com ciúme, Bellz? – Perguntou ele divertido.

-Você não? – Devolvi indignada.

Ele deu de ombros, relaxado, sem o menor sinal de preocupação que tanto me envolvia.

-Enquanto Alice não tiver a idade adulta, não conseguiria olhá-la como homem, Bella, não posso prever o futuro, mas não acredito que vê-la no início da adolescência com algum namoradinho vai me incomodar. – Além do mais, vou adorar ser o pai aterrorizante.

Foi minha vez de rir.

-E mesmo que Alice não me queira mais quando crescer, apenas estar próximo a ela e garantir que esteja segura e feliz, basta para mim, Bellz, sempre vai bastar. – Sua voz era repleta de amor. – Alice é minha companheira e nada que ela faça vai mudar isso.

Refleti sobre as palavras de Jasper. Jasper tinha razão. Se Edward estivesse feliz, como eu poderia não estar? Já passei por isso mais vezes do que eu gostaria de contar, mas não importava o que ele fizesse, eu sempre estava de volta para ele, sempre. Só de tê-lo próximo me bastava.

Isso trouxe paz a minha alma. Ter Edward, não importasse em quais condições, bastava para mim.

Eu queria me sentir revoltada e indignada com aquilo, mas só sentia paz, Edawrd feliz era o que bastava. Lembrei-me de Jacob me contando sobre os imprints que os lobos tinham. Não se tratava de afeto carnal, era sobre o que seu companheiro precisava de você, fosse como amigo, companheiro, protetor, o importante era estar com ele, o resto o faria feliz, fosse como fosse.

Joguei uma pedra do penhasco e falei o que sabia que encerraria o assunto em bom clima, deixando Jasper saber que eu tinha entendido e aceitado.

-Espero que a namoradinha seja péssima na cama.

Como previa, Jasper gargalhou, sua cabeça tombando para trás. Me levantei em um salto, em poucos minutos mandei uma mensagem para Carlisle lhe avisando que demoraríamos mais a voltar. Assim que guardei o celular puxei Jasper para se levantar.

-Que tal uma caçada? – Sugeri alegre. – Aposto que consigo pegar um urso antes de você.

Jasper limpou as vezes em uma falsa prepotência. – Você não conseguiria nem se conseguisse, irmãzinha. Primeiro você precisa me alcançar – Jasper se jogou do penhasco, sumindo de vista, não tardei a segui-lo.

Nós não tínhamos a vida que imaginávamos, mas tínhamos uma boa vida e seria assim pelos próximos anos.