No início Kanon não entendeu a repentina mudança de comportamento do irmão, mas aquilo não importava no momento; queria apenas se concentrar no carinho e deixar-se dominar pela sensação boa que o preenchia.

Aos poucos Saga foi se despindo da túnica, enquanto Kanon o livrava de suas calças, devagar. A maioria das pessoas, na primeira vez, sente receio ou medo, por não conhecer bem o corpo do companheiro, ou mesmo por não saber direito quem o outro é. Mas os dois se conheciam tão bem, tanto no comportamento quanto no corpo, que aquilo era tão natural quanto irem treinar de manhã.

- Venha... - disse Kanon, puxando-o de leve até o divã que havia no fundo da sala.

Ele foi o primeiro a acomodar-se, esperando Saga, que logo se sentou no colo dele para continuarem a se beijar, as bocas se atraindo como ímãs.

- Ainda acha que penso mais na Dalila do que em você? - disse Saga, enquanto Kanon beijava seu pescoço. O mais novo parou apenas para responder:

- Não, querido...

Logo eles foram novamente ao beijo que encontra as bocas; as mãos que exploravam os corpos um do outro não encontravam novidades, pois cada músculo, cada membro, até mesmo cada fio de cabelo, eram iguais aos seus próprios. Isso os fez sorrir.

- Eu te amo, Saga... não como um "enamorado", ou um irmão, ou o que quer que seja. Eu te amo como a alguém que já foi parte de mim, e que com certeza o é e será sempre.

Saga assentia, e entendia agora os ciúmes que Kanon tinha de si. Pois ao imaginar repentinamente o irmão com outra pessoa que não consigo, seu coração doeu. Mas logo voltou ao que estava antes, afinal estavam juntos, e isso valia mais que tudo...

Logo ambos se deitaram no divã, Kanon em cima de Saga, os cabelos deste último espalhados em cima do móvel, escorrendo ao chão. Kanon entrelaçou as pernas às de Saga e beijou-o com avidez mais uma vez, uma avidez que requeria muito mais da alma do que do corpo.

Quanto a Saga, envolveu os quadris do irmão com as pernas, mostrando que estava pronto para aquilo. Todos diziam que doía, mas ele, que convivia diariamente com a dor e sua superação nos treinos, não se importava com isso.

Porém Kanon retirou as pernas de debaixo das dele, colocou-o sentado, passou as suas próprias por cima dos quadris dele, sentou-se em seu baixo-ventre e em seguida ergueu-se um pouco, para ir baixando devagar, intencionando guiar a ereção de Saga para dentro de si.

O mais velho, que esperava justamente o oposto, teve um sobressalto. Não havia problema se doesse em si; mas no outro... não sabia como encarar isso.

- Kanon... não quero feri-lo! - Saga ainda tentou se desvencilhar, mas o irmão o impediu, pressionando as coxas contra as laterais dele.

- É impossível que me fira, Saga.

- Mas... não! Isso dói, você deve saber!

- Eu já me preparei antes.

O mais novo sorria. Sim, havia lido algumas "coisas" antes de tomar aquela decisão, embora não gostasse muito de ler. E durante algum tempo, algumas vezes por dia, ia se preparando com os próprios dedos, para que não houvesse um grande impacto quando chegasse o dia. E queria, mesmo, doar-se a Saga na primeira vez. Não se importava; pelo contrário, fazia mesmo questão de ser um "presente" a seu querido gêmeo.

Ao ver a confiança de Kanon, o outro não insistiu mais no contrário. Ao passo que o membro foi entrando, o mais novo fechou os olhos, esperando pela pior dor possível. Mas tudo lhe pareceu, no final das contas, apenas um incômodo inicial moderado, algo que era bem mais como um estranhamento por nunca ter entrado um pênis ali dentro, do que dor. Isso talvez se devesse a ele estar acostumado a sentir muita dor todos os dias, ou por ter uma resistência física fora do comum, ou simplesmente porque esperava desde sempre algo muito pior. Ou ainda, talvez, porque a coisa não fosse realmente como os boatos diziam.

Após guiá-lo inteiro para dentro de si, sentando-se finalmente e relaxando os quadris, Kanon riu. Afinal, a "pior parte" havia sido muito mais simples do que imaginara.

- E... e então? - disse Saga, que mesmo adorando a sensação nova, quente e apertada, não deixou de pensar no que Kanon estaria sentindo.

- Foi tranqüilo. Eu disse que era impossível você me ferir.

O jovem Cavaleiro de Gêmeos sorriu, aliviado, e acariciou as pernas de seu irmão, rindo um pouco também.

Kanon inclinou o tronco, fazendo com que Saga saísse um pouco de si, para beijá-lo na boca outra vez. E foi como se as duas almas se unissem. Nesse momento, Saga percebeu que tinha razão ao pensar que se um dia sentisse atraçãio sexual, seria motivada por algo muito maior do que a simples libido, e que aquilo que estava vivenciando era, realmente, quase divino.

Ainda embalado no beijo, Kanon começou a levantar e sentar com os quadris, devagar, o coração dizendo-lhe sempre o que fazer. Saga não se movia, com medo ainda de machucar o irmão com algum movimento brusco. Mas logo até mesmo o simples incômodo inicial passou, e Kanon começou a mover-se com mais desenvoltura. Um espasmo delicioso de prazer percorreu o corpo de Saga, que não conteve um gemido.

Isso apenas excitou Kanon mais e mais. Erguendo-se novamente e sentando-se outra vez, começou a se mover mais rápido, gemendo também, sentindo as gotas de suor aflorarem.

O gêmeo mais novo tomou uma das mãos do irmão e começou a fazer movimentos de vai-e-vem com ela em seu próprio membro, no mesmo ritmo em que se movia. Saga logo foi pegando o jeito, e não precisou mais que Kanon o guiasse, estocando o membro dele logo por conta própria.

Kanon levantava-se bastante, para sentar com tudo logo em seguida, sentindo o irmão entrar inteiro em si, tocando em seu ponto sensível. Quando isso acontecia, gemia mais profundamente, mesclando o nome de Saga aos simples sons emitidos por sua boca.

O mais velho intumescia-se de prazer, aproveitando a mão livre para explorar o corpo quente e escorregadio de suor do mais novo. Passava as mãos por suas costas úmidas, subindo por sua coluna, fazendo-o ficar arrepiado e arrancando-lhe sorrisos. E ao olhar aquele rosto corado, aqueles cabelos grudados na fronte, viu que eram um só, e que ninguém poderia ser tão querido a si quanto ele.

Ambos começaram a sentir o prazer mais intenso, ao passo que um calor se espalhava pela região do baixo-ventre. Nessa hora, Saga, que já não pensava, passou a mover-se finalmente junto com o irmão. Ambos não precisaram dizer nada para que o ritmo estabelecido fosse igual da parte de um e outro: eles simplesmente sabiam.

Com as mãos livres se entrelaçando, também repletas de suor, as bocas repetindo vez após vez o nome do gêmeo que estava consigo, ambos atingiram o clímax. Foi como uma implosão que os levou a exceder o prazer, tendo de expelir um pouco para fora por conta disso. As mentes foram capazes apenas de pensar no respectivo irmão, e em como eram inseparáveis, principalmente a partir de então.

Um cansaço delicioso tomou conta dos dois após isso, e Kanon não tardou em desencaixar-se de Saga, para em seguida deitar-se sobre ele com um sorriso no rosto e os olhos fechados. O mais velho abraçou-o, e ficaram daquela forma por um tempo, entre a consciência e o sono. Até que o mais novo quebrou o silêncio:

- E então? Como se sente após isso tudo?

- De alma limpa... - foi a primeira coisa que lhe ocorreu, e era verdade.

Afinal, havia feito algo novo, mas com seu conhecido irmão. Se o fizesse com qualquer outra pessoa, talvez sentisse que havia "ultrapassado" algum limiar; era o que diziam quando acontecia a primeira vez, não? Mas fora com Kanon, aquele que ele não somente conhecia desde o útero, mas tamém alguém com quem já fora uno. Sentia-se exatamente igual ao que era antes, sem ganhar malícia, como chamavam; apenas havia reforçado e aprofundado um laço que sempre existira.

- Alma limpa? - gracejou Kanon - Até pouco tempo atrás era algo sujo...

Saga riu:

- Eu estava enganado. É muito mais puro do que a maioria das coisas...

Kanon o abraçou e o beijou na testa, acariciando seus cabelos.

- Me perdoe, Saga, se fui exagerado em meu ciúme.

- Eu entendo. Na verdade, se uma garota pegasse em sua mão com certa intenção, como Dalila fez com você pensando que era eu, eu ficaria bastante chateado... mas não se preocupe. Vou dar um jeito de deixar claro para ela que não a vejo dessa forma.

Kanon aconchegou-se ao peito de Saga, sentindo seu coração leve. O ciúme havia amainado, dando lugar à tranqüilidade.

- Espere aí! - exclamou após um minuto - Como sabe que a moça pegou na minha mão! Por um acaso andou me seguindo!

- Não há mesmo como escapar! Segui sim. Queria saber o que ocasionava aquele seu comportamento estranho. E agora que sei...

Ambos riram, partindo para um doce beijo em seguida.

- Engraçado! Quando cheguei da casa de Gianopoulos, foi como se o sentisse indo embora, Saga. Precisei jogar uma água fria sobre o corpo, para não enlouquecer! E veja você, agora o sinto tão meu que esses momentos parecem quase longínquos!

- Sim! O tempo tem um caráter muito mais psicológico do que físico.

- E veja também que tanto eu quanto você precisamos de outro banho! Ande, vamos!

Kanon deu um tapa amigável no ombro de Saga antes de se levantar e ir ao banheiro.

O mais velho seguiu-o, e logo estavam numa algazarra de jogar água um no outro. Kanon apanhou Saga de surpresa, derrubando ambos na banheira.

- Kanon, veja só! Você fez uma molhação danada aqui! Pra limpar vai ser uma coisa!

O mais novo ria um riso solto:

- Fique sossegado. Agora o mais importante é dar banho em você, e não no chão.

Kanon fingia inspecionar algo novo. Levantava as madeixas do gêmeo, como procurando alguma coisa perdida. Logo pegou o xampu e foi espalhando nos cabelos dele.

- Está vendo? Eu sei como cuidar do meu irmão...

Saga sorria, enquanto esfregava o próprio corpo.

- Você é uma pessoa maravilhosa, Kanon. A paixão não é algo cego ou impensado quando direcionada a você, querido.

Eles se abraçaram, sentindo a luz do sol entrando pela janela e enchendo o recinto. A vida, no entanto, logo trataria de plantar uma semente de sombras na vida dos dois, a qual cresceria primeiro no coração de Kanon, por ambição, mas também por ciúmes. Não haveriam mais Dalilas na vida de Saga, mas sim uma tal deusa Atena, por quem ele seria todo cuidados. Kanon sabia que, além de tudo, ela também era mulher. E como não seria tão fácil extirpar ela do coração do irmão, ao contrário do que acontecera com a filha de Gianopoulos, Kanon levaria a cabo o que prometera já com a aldeã grega: matar a intrusa. E não o concretizaria, pois seu próprio irmão, o seu adorado Saga, o impediria com um castigo mortal.

Mal sabia Saga que quebrar algo sagrado como o amor dos dois, muito mais do que a devoção por qualquer deus os deusa, lhe traria inevitavelmente a pior das loucuras que poderia experimentar.