Shikamaru despertou de seu sono com o barulho de alguém na cozinha e com o doce aroma da comida de sua mãe invadindo o quarto. Devia estar quase na hora do almoço quando o ninja acordou. E ele dormia até tarde de domingo, afinal era o único dia que ele nunca tinha missões, e ao menos uma vez por semana ele precisava saciar sua preguiça.
O garoto se espreguiçou, dando um longo bocejo, e quase engasgou ao ouvir uma risada de Temari vinda da cozinha. É mesmo, Temari estava lá! E ele havia se esquecido! Shikamaru não gostava muito de deixá-la a sos com os pais.. Não que ele não confiasse em algum dos dois lados, mas.. A imagem que vinha ao shinobi ao pensar no assunto era de sua mãe e Temari unindo forças.. Duas problemáticas teimosas eram suficientes para ele, mas duas unidas seria demais!
Shikamaru se vestiu o mais rápido que pode e desceu levemente apressado para o lugar onde sua família e Temari estavam. Tentava parecer calmo.
- "Yare yare, iam almoçar sem mim..?" – Reclamou o shinobi.
- "Claro que não querido, já ia te chamar.. Estava apenas conversando com Temari.." – Disse Yoshino. Era incrível como ela era mais doce com ele na presença de outras pessoas..
- "Falando mal de mim, suponho?" – Brincou Shikamaru, indo espiar o que a mãe havia feito de almoço.
- "Shikamaru, não se intrometa na fofoca das mulheres." – Disse Shikaku, aparecendo na cozinha.
- "Temari apenas teve uma boa idéia.. Só isso." – Disse Yoshino, impedindo Shikamaru de descobrir o almoço até trazer as travessas para a mesa.
- "Idéia?" – Disse Shikamaru, sentando a mesa com seu pai, enquanto Temari ajudava Yoshino a arrumar a mesa.
- "Sempre tão prestativa, Temari-chan!" – Disse Yoshino sorrindo para a garota.
- "Você que é prestativa, Yoshino-san.." – Disse Temari retribuindo o sorriso.
- "Que idéia?" – Indagou Shikamaru, arqueando a sobrancelha. Parecia até que queriam mudar de assunto.
- "Nada querido, apenas Temari-chan decidiu chamá-lo para passar o fim de semana que vem em Suna.. Mamãe viu que uma de suas missões semana que vem será no País do Vento, logo não haverá nenhum problema..."
Yoshino normalmente era muito perigosa quanto se auto-intitulava "mamãe". E mais ainda quando checava as missões que o filho faria.. Afinal, o medo de Shikamaru se concretizava, e sua mãe e Temari haviam unido forças para fazê-lo fazer coisas problemáticas.
- "Shikamaru, sua mãe tem sido tão boa comigo me deixando aqui.. Quero muito lhe retribuir o favor, por favor, passe um tempo lá em casa. – Disse, sorrindo, Temari.
Shikamaru unia as mãos em concha debaixo da mesa. Mas nenhuma solução lhe ocorria em mente para se livrar daquela armadilha.. Gostava de Temari. Gostaria de conhecer sua casa e Suna. Mas, ela não morava sozinha, e essa parte era a que mais preocupava o garoto.. Com certeza Temari não teria Shikamaru em suas mãos por dois dias sem fazer nada com ele. E seus irmãos não tinham idéia do relacionamento dos dois.. E seria extremamente problemático se eles descobrissem.
Mas. Shikamaru não estava diante de uma questão ou pergunta, e o "por favor" de Temari havia sido puramente simbólico. Sua decisão já havia sido tomada pelas duas mulheres que sorriam angelicalmente em sua frente.
- "Yare yare.." – Disse – "Não tem jeito.." – Balançou a cabeça negativamente.
Ambas sorriram ao ver a vitória atingida e voltaram a falar sobre algum assunto banal.. Shikamaru não era de preocupar com coisas que já haviam sido decididas e investiu seu tempo durante o almoço apenas para observar Temari. Horas depois ela iria embora, e sempre essa separação apertava o coração do garoto preguiçoso.
Quando ela sorria ficava ainda mais bonita, como se isso fosse possível. O garoto teve a nítida impressão de ver o seu pai rindo ao perceber a cara de bobo que Shikamaru fazia ao observar Temari, mas achou que seria problemático demais olhar para ele e confirmar a suspeita.
O fato era que o shinobi preguiçoso não se sentia mal por poder ir ver o lugar onde Temari havia nascido e morava até hoje. Conhecê-la mais era algo que ele necessitava, e ficar mais tempo com ela era uma necessidade tão básica como beber água. Os problemas e repercussões que teriam se eles fossem descobertos pareciam ínfimos quando ele se imaginava novamente nos braços quentes daquela kunoichi do deserto. Toda sua lógica e racionalidade ruíam no momento que ele pensava em Temari.. Ao olhá-la rindo com Yoshino, tão linda e feliz, ele não pode deixar de abrir um leve sorriso, ao pensar que dentro de poucos dias a veria de novo.
Quando a garota finalmente partiu de Konoha, escoltada por Shikamaru até os grandes portões que guardavam a vila, eles apenas puderam se abraçar formalmente, e tentar guardar na memória o toque da pele de cada um, o cheiro, e o olhar saudoso. Shikamaru sentiu uma sensação amarga lhe subir a garganta enquanto via a kunoichi se afastar dele. Abençoou o fato de poder vê-la logo. Queria ficar mais próximo a ela. Talvez alguma das estrelas que Temari tanto amava o ouvisse.. Talvez.
Os dias passaram até depressa no tempo que Shikamaru ficou afastado de Temari. Possivelmente o fato de Tsunade entupi-lo de missões, a ponto dele não ter tempo nem para respirar direito, fazia o tempo andar mais rápido. E a missão no país do Vento não passava de uma entrega simples de alguns papéis, logo o garoto não tinha muito o que se preocupar. Tsunade poderia ter muito bem enviado três Genins ao invés dele, mas como todos estavam ocupados com outras missões ele acabou sendo o escolhido.
A viagem até lá era longa, demorando de três a quatro dias. Atravessar a floresta e o calor do deserto era muito problemático, e o garoto das sombras ainda teve que enfrentar um grupo de ninjas exilados de Suna que tentavam roubar os papéis. Com toda sua estratégia não foi difícil enfrentar os shinobis arruaceiros, mas numa distração Shikamaru acabou se ferindo na luta surpreendido por um jutsu de fogo. No fim a entrega foi efetuada, e ele estava exausto e com parte das costas chamuscada. Mesmo que não quisesse, seria obrigado a parar em Suna para descansar.
Depois de pedir informações para os escassos viajantes que se aventuravam no deserto, Shikamaru não teve dificuldade em chegar até a vila de Suna. Entrou sozinho, sofrendo os olhares curiosos, e ás vezes até hostis, dos moradores. Ninguém ousou perturbá-lo, afinal Konoha era aliada de Suna, mas o povo do deserto estava acostumado com uma vida repleta de guerras, ataques e traições. E não era surpresa que a maioria deles não confiava em Konoha. E era extremamente problemático ser encarado como um possível inimigo na rua.
Temari havia lhe explicado mais ou menos onde e como era a casa que morava. Todas as casas da vila pareciam iguais aos olhos de um estrangeiro, todas casas baixas, com cor de areia, com pessoas de pele bronzeada e homens de turbantes espiando. Mas a mente incrível de Shikamaru havia sido capaz de se guiar pelas ruas mesmo estando lá pela primeira vez. Ao fundo o shinobi pode ver o grande e imponente palácio do Kazekage. Por muitos motivos, envolvendo a relação complicada e por vezes caótica que os três irmãos haviam tido com o pai, eles abominavam totalmente a hipótese de morar na mansão. Aquele lugar era assombrado por fantasmas do passado, gritos e brigas que deviam ser enterradas para sempre sob a areia.
Desta forma, Temari, Kankuro e Gaara, mesmo sendo o Kazekage, moravam em uma casa consideravelmente simples, que se confundia com as outras do bairro. Possuía dois andares e um sóton, ainda mantendo o padrão das casas baixas e simétricas da vila. Shikamaru andou a passos vagos ao se deparar com a casa que correspondia perfeitamente à descrição de Temari. Olhou para o lugar, notando que uma das janelas da casa possuía um vaso com um belo cacto sendo banhado pela luz forte do sol. Temari adorava plantas, passou na mente do shinobi de Konoha se aquele seria o quarto da lourinha teimosa.. E quando se deu por si, viu que seus pés haviam o levado até a porta da casa.
O homem que sempre tinha um plano, Shikamaru, não conseguia pensar em nenhum plano naquele momento. Na verdade, custava a compreender a mistura explosiva de sentimentos de felicidade, medo, nervosismo, insegurança, e tantos outros que pareciam se chocar dentro dele. Sua mente se julgava ridículo ao notar que suas mãos erguidas até a metade para tocar a campainha suavam e tremiam levemente.
Não havia mais volta. Nunca houve. Ele estava ali por vontade própria e queria que os problemas que pudessem ocorrer por culpa de gostar de Temari fossem pro inferno.
Por fim terminou por tocar a campainha, que lhe pareceu demasiada histérica naquele momento. Sentia um grande frio na barriga ao imaginar que a problemática mais maravilhosa do mundo iria abrir aquela porta a qualquer instante.
Shikamaru já se preparava abrir um sorriso quando a porta abriu, mas quase pulou para trás. Ele olhava de cima a baixo aquele que se encontrava em sua frente, com uma camiseta preta e bermudas de mesma cor, pés descalços, e cabelo totalmente desarrumado. Passava a mão pelo cabelo castanho escuro, e coçava os olhos bocejando.
- "Mas.. Quem é você?" – Disse, indignado, Shikamaru.
- "Hm? Eu estou na minha casa e você vem me perguntar quem eu sou é?..Jan." – Ele deu uma longa espreguiçada e esfregou os olhos novamente, tentando focalizar a pessoa em sua frente – "Ah.. É você? ...O que você quer aqui? Jan, quando Temari me mandou abrir a porta imaginei que era algo importante.. Mas o quê você quer?"
Pela voz, depois e algum esforço, Shikamaru pode reconhecer aquilo como Kankuro. Ele era realmente irreconhecível sem a pintura kabuki e a roupa ninja. Mas como iria dizer que estava apenas indo visitá-la? Kankuro não parecia nada feliz com a invasão do ninja de Konoha em sua casa.
- "Kankuro, seja educado uma vez na vida e deixe ele entrar. Mas quê estado deplorável que você está, vá ao menos pentear o cabelo e jogar água no rosto antes de atender uma porta!" – Disse a voz que Shikamaru reconheceu imediato como Temari irritada.
- "Hm? Mas porquê você pode trazer pessoas aqui e eu não?" – Esbravejou Kankuro com Temari.
- "Baka, eu não quero pessoas como o seu tipo de amigos aqui!"- Gritou Temari de dentro da casa.
- "Então, eu quero paz e sossego e não quero o geninho de Konoha aqui! E além disso, "ele" deixou?" – A pergunta de Kankuro não teve resposta.
Shikamaru sentiu-se mais nervoso. A situação era desagradável, e Temari não parecia envergonhada de brigar com seu irmão na frente dele, e vice-versa. Mas a parte do "ele" não deixou só podia significar uma coisa. Problemas com Gaara. A coisa mais problemática que Shikamaru conseguia imaginar naquele momento.
Kankuro olhou para baixo alguns instantes, pensativo, também vendo que aquilo geraria problemas. Por fim olhou novamente para Shikamaru, e com uma expressão de que não tinha jeito, fez com a mão um movimento indicando para o shinobi de Konoha entrar. Vagaroso, Shikamaru entrou na casa.
Sua epopéia de sobreviver dois dias naquela casa estava acabando de começar!
27-06-06 - Yo Minna-san! Segundo chappy pra minha querida Rama-chan, cuja a fic desapareceu por culpa desse site aqui.. Malditos.
..Bom, eu estou com muito sono para raciocinar.. Espero que vocês gostem do fic, e que deixem os reviews que eu tanto amo..! Huahuahua! Tchauzinho!
