Capítulo 7 – Adiante com o plano

Lily era uma menina adorável. Ela ficou um pouco desconfiada de Kingsley a princípio, mas, ao ver sua tia Emma interagindo com ele normalmente, ficou mais relaxada. Isso foi bom na hora de aparatarem, porque Emma ficou um tanto nervosa e terminou se abraçando a Kingsley, mesmo com Lily em seus braços.

A chegada a Grimmauld Place foi bastante cheia de eventos. A família Snape-Prince-Svensson foi recebida por Tonks, que imediatamente simpatizou com Emma e se apaixonou pelas crianças. Também muito jeitoso com crianças, Lupin mostrou aos dois os quartos.

Se havia qualquer dúvida sobre a identidade das crianças, ela se desfez quando London pediu a Lupin que o colocasse no colo e tocou nas cicatrizes de seu rosto, curando-as instantaneamente. Ele ganhou um beijo da tia Tonks por isso.

Lily estava muito intrigada com a casa. Ela estava de mãos dadas com tia Emma, observando tudo com os olhinhos cheios de curiosidade. Helena, que começava a se acostumar à realidade que só descobrira há menos de vinte e quatro horas, tentava deixar todos à vontade com as novidades.

Kingsley se curvou para falar com a menininha:

– Lily, por que não vai com a tia Tonks e escolhe a cama que você e London vão dormir no quarto? Vou precisar roubar sua tia Emma um pouquinho para conversa de gente grande.

– Ela vai sair?

– Não, querida, nós só vamos conversar na cozinha. Tonks, por que não mostra para Lily os retratos da casa? Alguns não vêem uma criança há mais de 100 anos.

– Claro, King. Ei, Lily! Quer ver um espelho que fala?

– Eba!

Kingsley levou Emma e Helena até a cozinha, o local mais apropriado para reuniões desse tipo. Ele tinha que revelar a verdade sobre Severus para sua prima. A pobre mulher mal tinha tido um choque ao descobrir que era bruxa e tinha poderes mágicos, mas saber que o primo era um assassino podia ser ainda pior.

E foi. Ainda bem que Helena estava junto e explicou o que sabia. Mas Kingsley ficou penalizado de ver a mulher tão tensa pelo que seu primo passava. Emma explicou que Severus, Helena e as crianças eram toda a família que ela tinha perto, desde que os irmãos tinham decidido se fixar na Suécia, terra dos antepassados do seu pai, Erik.

– E agora? – indagou Emma.

– Não sei o que podemos fazer – confessou Helena. – Não conheço as leis deste mundo, mas eu preciso ver Severus antes de qualquer coisa. Aparentemente, porém, visitas não são muito comuns nessa tal prisão.

– Vocês precisam entender que – Kingsley tentou explicar – há até pouco tempo, os guardas da prisão eram criaturas terríveis chamadas Dementadores. Eles sugavam toda a felicidade de uma pessoa e, dependendo da sentença, eles tinham permissão de sugar a alma do condenado, deixando apenas uma casca vazia.

– Oh, meu Deus – Helena ficou ligeiramente esverdeada.

– Eles não estão mais na prisão, mas a própria presença deles deixou marcas muito fortes no local. É um lugar muito lúgubre.

– Ainda não posso acreditar que Severus tenha matado alguém... Não há dúvida quanto a isso?

– Infelizmente não – disse uma voz diferente. – Mas estamos trabalhando em circunstâncias atenuantes.

O rosto de Helena se iluminou:

– Aberforth! Quero que conheça Emma Svensson, ela é prima de Severus. Emma, esse é Aberforth Dumbledore, o advogado de Severus. Com ele, está Harry, o dono da casa. Harry Potter, que derrotou Lord Voldemort.

– Prazer – disse Emma, apertando mãos. – Obrigada por nos receberem.

– Essa é a jovem senhora que vai cuidar das crianças? – sorriu Aberforth, sentando-se. Harry não disse coisa alguma, sentando-se e observando a recém-chegada. – Encantadora. Isso deve liberá-la para que possa me acompanhar a alguns dos lugares que precisamos ir, Srta. Sharp.

– Sim, claro. E quanto à minha visita à prisão?

– Está bem encaminhada, mas o próprio ministro da Magia em pessoa vai ter que decidir essa questão. – Aberforth se virou. – Kingsley, meu caro, eu esperava contar com sua ajuda. Receio que o velho Rufus esteja preocupado demais com as repercussões políticas para fazer o que é correto. Poderia refrescar a memória do ministro a esse respeito?

– Não se preocupe, Aberforth. Cuidarei disso sem problema algum. Mas do que se trata?

– Bom, o plano é extremamente secreto. Diga a Rufus que eu estou seriamente preocupado com a saúde mental de Severus, o que não está longe de ser verdade. Consiga dele a autorização para uma visita.

– Certo.

– Poderia ser agora, Kingsley? Enquanto isso, a Srta. Sharp e eu podemos ir ao Beco Diagonal providenciar umas roupas de que ela vai precisar, se conseguirmos entrar em Azkaban.

– Roupas? – Helena estranhou. – Eu trouxe algumas; será que vou precisar de mais?

– Oh, não, minha querida, essas são especiais. É melhor Tonks ajudá-la a adquirir algumas roupas normais. Digo, normais para bruxos.

– Desculpe, mas eu não vim preparada para fazer compras. Talvez meu dinheiro não seja suficiente.

– Não se preocupe com isso. Severus deixou uma conta de emergência no banco bruxo, uma conta sob um nome falso, e eu posso movimentá-la.

– Nome falso? – Emma ficou intrigada. – Será que ele realmente usa o nome de George Lazenby?

– Não, mas seria um nome interessante. Ele tem a identidade bancária de Perseus Evans, que é um nome bruxo bem peculiar.

– Ele nunca mencionou esse nome – disse Helena. – É de alguém que ele conhece?

– Não, na verdade, é um anagrama de seu próprio nome, Severus Snape. Esperto, não? Mas é melhor irmos, Srta. Sharp.

– Sim, eu preciso apenas dar um beijo nas crianças e explicar que vou passar um tempo fora. Se eu simplesmente sumir, elas podem ficar assustadas.

Tonks estava com London no colo e Lily pela mão quando eles desceram as escadas, Lupin junto. Helena foi despedir-se das crianças, mas London se debateu todo:

– Dodói, mamãe! Dodói!

– Calma, querido. Onde foi dodói?

Ele apontou:

– Ali, mamãe! Dodói!

Os presentes começaram a comentar o fato, mas o menino continuava a apontar para Harry Potter, sentado à distância. Ele se livrou dos braços de Helena e foi até Harry:

– Oi. Dodói?

Harry não entendeu e Lupin explicou:

– O menino é um curador natural. Quer curar você.

– Mas eu não estou doente.

– Dodói! Dodói grande! – London se impacientou e se lançou nos braços de Harry, subindo no colo dele. – Aqui, dodói!

Ele encostou a mãozinha no coração de Harry e uma luz emanou dela. Os olhos verdes de Harry se arregalaram e London começou a tremer. Então ele tirou a mãozinha e olhou para Harry, com um sorriso:

– Fica bom. – O garoto saiu do colo de Harry e correu para os braços da mãe. – Agora dodói pequenininho, mamãe!

– Que bom, querido – Ela beijou o filho, ainda maravilhada que ele pudesse fazer essas coisas. – Você está bem, Harry?

– Sim, eu... Como ele fez isso? Eu... nem sabia que tinha esse... esse peso aqui dentro.

Lupin disse:

– Harry, você lutou contra forças muito poderosas, forças das trevas. Isso desgasta uma pessoa. Alguém puro como London viu imediatamente essa escuridão e quis curá-lo.

– Tem certeza de que ele é filho de Snape?

– Você viu o menino. Acha que resta alguma dúvida? Além disso, Snape também tem um dom de cura muito acentuado. Ele não só tem uma habilidade incomum para Poções mas também manteve Dumbledore vivo no último ano que você freqüentou Hogwarts.

Harry tentou dar um sorriso, mas a morte de Dumbledore ainda era um assunto muito dolorido para ele, mesmo depois de quase um ano. Tonks se voltou para as crianças e disse:

– Enquanto a mamãe está fora, vamos preparar uma surpresa para o papai? Ele vai querer ver fotos de vocês. Estão prontos para tirar umas fotos bem legais?

A idéia foi bem recebida pelos pequenos, que assim ficaram entretidos e Helena saiu com Aberforth, enquanto Kingsley se dirigiu ao Ministério da Magia.

Foi realmente uma audiência difícil, com Rufus Scrimgeour. O ministro não entendia por que deveria autorizar uma visita para um prisioneiro, especialmente um perigoso e conhecido como Severus Snape. O Auror alegou que isso poderia minar a tese da defesa, se Aberforth tentasse alegar insanidade. Aquilo funcionou bem até demais. Terminou que Kingsley conseguiu a permissão, mas com a condicionante de que ele também fosse junto a Azkaban. Ele não se incomodaria em acompanhar Helena, mas ele tinha sentimentos dúbios em relação a Snape. Em vários níveis, se ele tinha que ser honesto consigo mesmo.

Ele estava cada vez mais atraído pela mulher de Snape.

Mas ele não podia pensar nisso. As complicações eram grandes e a mulher parecia tão apaixonada por Snape que isso provavelmente a faria se sentir insultada. E que raios de novidade era essa? Ele jamais se sentira atraído por uma mulher casada antes, nem achava que isso fosse atraente.

E quando ele chegou de volta em Grimmauld Place, descobriu que o grande plano de Aberforth consistia em levar Helena a Azkaban usando um disfarce. Um disfarce que em nada o deixou confortável sobre seus sentimentos.