Faltava pelo menos duas horas para o sol sair quando o acordaram. Não que em Azkaban o sol pudesse ser visto – era seu relógio biológico que o alertara da hora. Fosse como fosse, ele fora acordado rudemente (como sempre), com o arremedo de café da manhã costumeiro, mas com uma novidade: deram-lhe suas roupas, uma toalha, um pedaço de sabão em barra e lhe disseram para tomar banho.
Ele seria julgado naquele dia.
Não houve tempo para nada. Ele mal se deu conta do que estava acontecendo quando chegou à sala de julgamentos nº. 10 do Ministério da Magia, escoltado por nada menos do que quatro Aurores experientes, que entraram por passagens secretas a fim de evitar os repórteres. Fora posto na cadeira mágica, as correntes a imobilizá-lo. Ele vira aquilo acontecer anos atrás, vira outras pessoas naquela posição.
A sala estava coalhada de gente. Todos os assentos estavam tomados, tanto na audiência quanto no espaço reservado ao Wizengamot. Ele procurou não reparar muito nos rostos ou poderia reconhecer alguém. Era melhor não reconhecer quem quer que fosse.
Pena que isso era impossível.
No centro da fileira da frente, estava o ministro da Magia em pessoa, Rufus Scrimgeour, uma expressão grave no seu rosto leonino. A seu lado, a miúda Griselda Marchbanks, mais enrugada que um maracujá de gaveta, enfiada em suas vestes cor de ameixa com o emblema do Wizengamot, a Suprema Corte Bruxa. Ao final da primeira fila, Percy Weasley, com seus óculos redondos, encarava o acusado com desgosto indisfarçável.
Duas mesas haviam sido postas à frente da cadeira, uma poltrona estava numa posição lateral, mas de frente para o Wizengamot. Numa das mesas estava Aberforth Dumbledore, em magníficos trajes preto e branco, acompanhado de uma bruxa que estava com o nariz enfiado em papéis, mas parecia ser jovem, com cabelos castanhos. Na outra mesa, ele viu Alastor Mad-Eye Moody encarando-o com um misto de ódio, desprezo e agressividade que parecia destilar de seu corpo. Ele saiu detrás da mesa, olho mágico fixo no acusado, como se fosse um animal predador que cercasse a presa.
Os murmúrios no recinto diminuíram depois que Scrimgeour conjurou um sininho de timbre agudo e ergueu a voz possante:
– Atenção, por favor. Obrigado. Este é o início do julgamento de Severus Prince Snape. A sessão está sendo presidida por mim, Rufus Scrimgeour, em observância à totalidade do órgão julgador, o Wizengamot aqui reunido, presidido pela Bruxa-Mor Griselda Marchbanks. O acusado já se encontra na corte, bem como os advogados de defesa e o promotor de acusação, então podemos dar início aos procedimentos. Eis as acusações: Severus Prince Snape, você foi acusado do assassinato de Albus Wulfric Percival Brian Dumbledore, de ligação com o indivíduo que se intitulou Lord Voldemort, de participar de ações e de conspirações destinadas a matar, abduzir, torturar, estuprar e drogar bruxos e Muggles, incluindo Sirius Black, Emmelina Vance, Amelia Bones e outros. Como se declara?
Duas vozes se ergueram simultaneamente.
– Culpado – disse Severus.
– Inocente! – ergueu-se Aberforth.
A sala de julgamentos virou uma balbúrdia. Scrimgeour usou o Feitiço Sonorus e gritou:
– Ordem! – Não foi obedecido imediatamente e ameaçou: – Ordem, ou eu mando evacuar esta sala!
O burburinho foi morrendo rapidamente, e ele dirigiu-se a Aberforth.
– A corte reconhece o advogado de defesa, Aberforth Dumbledore. Sr. Dumbledore, pode nos indicar como seu cliente se declara?
– Eu sou culpado! – gritou Severus.
– Senhor presidente, meu cliente está profundamente perturbado e não pode fazer a declaração por si mesmo. Mas ele se declara inocente...
– Não! – Severus lutou contra as correntes, interrompendo-o. – Não!
– ... e culpado – completou Aberforth. O burburinho recomeçou, e o ministro tocou o sininho. – Ele se declara culpado pela morte de Albus Dumbledore, mas pede a leniência da corte devido a circunstâncias especiais. Mas quanto às demais acusações, ele se declara inocente.
Severus ia protestar de novo, mas as correntes magicamente o apertaram ainda mais, tirando-lhe o fôlego. Ele se aquietou para não ser sufocado. Scrimgeour olhou-o severamente e argumentou:
– Se seu cliente está tão perturbado, é de se perguntar se ele está em condições de assistir a seu próprio julgamento.
Calado até então, o promotor de acusação manifestou-se:
– Ah, ele está em condição, sim, Senhor Presidente. Ele vai encarar todos os seus crimes diante de todo o Wizengamot.
– A corte reconhece Alastor Moody, da acusação. Sr. Moody, pode começar fazendo a preleção de abertura.
Severus não demorou a vaguear seu pensamento, enquanto Moody andava de um lado para o outro, furiosamente vituperando expressões como "traidor contumaz", "ações pérfidas", "desgraça para o mundo bruxo". A maior parte de seu pronunciamento, porém, foi dedicado à lembrança de Albus Dumbledore, suas contribuições para o mundo bruxo, seu grande poder, sua liderança fundamental no combate às forças das Trevas. A platéia reagiu de maneira emocional à lembrança do falecido diretor de Hogwarts, e Severus teve a certeza, naquele instante, de que seu destino já estava selado muito antes de ele ter posto o pé no tribunal.
Ele estava condenado.
Não obstante, logo que Moody encerrou sua fala (aplaudida pela audiência como se fosse um monólogo de teatro), a defesa foi convidada a fazer sua preleção. Foi quando Severus finalmente prestou atenção na assistente de Aberforth, que iria proferir a palestra: ninguém menos do que Hermione Granger. Ele não pôde deixar de se lembrar, com uma certa amargura, da tendência da Srta.Granger em causas perdidas. A referência ficou clara quando ela baseou sua preleção em "confiança inabalável de Dumbledore", "grandes riscos e sacrifícios pessoais", "anos de perigo diuturnamente, sua vida arriscada constantemente", "mais de 20 anos de serviços anônimos prestados à causa da Luz", "atuação heróica e decisiva na derrota de Voldemort", sem provocar qualquer reação na platéia. O escriba, Percy Weasley, anotava tudo diligentemente, com um ar jocoso, sem se esforçar para acreditar em uma única palavra do que ela dizia.
Aquilo estava começando a dar em seus nervos. Mas seus nervos foram realmente colocados à prova quando começou a fase de instrução: argüição de testemunhas e apresentação de provas. A primeira testemunha que entrou, Arabella Figg, pacientemente tomou as três gotas requeridas de Veritaserum (que Scrimgeour fez questão de informar ter sido preparado por técnicos qualificados do Ministério, e Severus olhou para o teto, sem querer imaginar o que os incompetentes tinham feito). A Sra. Figg testemunhou à defesa ser membro da Ordem da Fênix, assim como Severus, e disse jamais ter desconfiado de sua lealdade, já que Dumbledore depositava muita confiança nele. A audiência não reagiu muito ao testemunho, que Severus mal prestou atenção, sabendo que a Sra. Figg não seria de muita ajuda.
As testemunhas eram arroladas em ordem alfabética. Se estivesse viva, Bellatrix Lestrange poderia estar sendo chamada. Ela jamais ajudaria Severus de maneira consciente, mas seu testemunho poderia trazer alguns pontos favoráveis, como o fato de que entre os Comensais, ele não tinha boa imagem, e era grande a desconfiança de que ele fosse um traidor por causa de sua posição como espião. Mas isso não seria possível: a súdita tão fiel do Lord das Trevas tinha dado a sua vida na tentativa de salvar o Mestre. Ela tinha aproveitado um momento de distração de Harry Potter e mirara contra o rapaz.
Severus fechou os olhos, lembrando-se do momento em que ele próprio lançara a maldição que terminara com a vida da assassina de Sirius Black. Ela a matara antes que ela matasse Harry. Simples assim. Um barulho o devolveu à sala de julgamentos. Uma nova testemunha entrava.
A próxima testemunha entrou envolta em vestes grossas, um capuz que lhe cobria o rosto, usando luvas e botas, mancando acentuadamente, apoiando-se numa bengala. A audiência se perguntava quem seria enquanto ele caminhou, lentamente, a bengala fazendo toc-toc ritmado no chão de pedra. Quando ele se sentou, voltou seu rosto para o Wizengamot. Alguns bruxos crisparam o rosto ao ver que a testemunha tinha horrendas cicatrizes no rosto. Cicatrizes mágicas, do tipo que nenhum healer jamais poderia curar. Uma parte do rosto tinha sido comida por alguma queimadura ou maldição das trevas, e era apenas uma massa disforme que o deixava quase irreconhecível como humano, mas alguns tufos de um cabelo muito claro escapavam de seu capuz negro.
Scrimgeour indicou que a testemunha deveria tomar sua dose requerida de Veritaserum, mas Aberforth se ergueu e disse:
– Sr. Presidente, esta testemunha invoca o direito de dar seu depoimento sem tomar a Poção da Verdade devido à sua frágil condição física. Um dos ingredientes do Veritaserum é capaz de colocá-lo num coma mágico. Eis a declaração dos healers de St. Mungo's que o examinaram essa manhã.
Ele entregou um pergaminho a Rufus, que o examinou atentamente e assentiu:
– Pode prosseguir. A testemunha deverá dizer seu nome completo à corte.
– Draco Abraxas Malfoy.
O salão quase veio abaixo.
O destino de Draco Malfoy era um das maiores fontes de mistério do mundo bruxo. Depois de fugir de Hogwarts, na noite da morte de Albus Dumbledore, ninguém sabia dizer com segurança o que tinha acontecido a ele. Sua mãe Narcissa tinha sido encontrada morta num local usado por Comensais para se livrar dos corpos de suas vítimas, o que apenas aumentou as especulações. Rumores indicavam que Draco também tinha sido assassinado, mas muita gente jurava tê-lo visto cumprindo pena em Azkaban. Eram grandes os boatos de que ele tinha assumido uma nova identidade e se refugiado em outro país. Entretanto, ali estava ele – diante do tribunal, testemunhando no julgamento de Snape.
– Ordem no tribunal! – gritou Rufus, avermelhando-se, sua vasta cabeleira movendo-se com fúria. – Já avisei! – O burburinho ficou mais aceitável, e o ministro indicou. – Pode prosseguir, Aberforth.
– Sim, sr. Presidente. Sr. Malfoy, o senhor é ou foi membro do grupo que se autodenominava Comensais da Morte?
– Eu fui. – Murmúrios altos. – Durante nove meses, no meu sexto ano escolar em Hogwarts.
– Mas não é mais?
– Não, há mais de um ano que eu fui expulso.
– Pode nos contar sobre sua expulsão?
– O Lord das Trevas me expulsou porque eu falhei numa missão que ele me confiara.
– Pode contar ao Wizengamot que missão era essa?
– Matar Albus Dumbledore.
De novo o salão veio abaixo. Esse detalhe jamais tinha sido divulgado antes. Mais uma vez Scrimegour rugiu, usando o feitiço Sonorus:
– Ordem! Ordem!
A muito custo, a audiência se acalmou e ouviu, embevecida, o relato de Draco sobre os acontecimentos que levaram à fatídica noite de junho no alto da Torre de Hogwarts. Severus mal ouvia, ainda sob o impacto de ver Draco não apenas vivo, como, aparentemente, são – na medida do possível.
Assim que Draco terminou seu relato, Aberforth começou suas perguntas:
– Sr. Malfoy, pode nos dizer o que aconteceu naquela noite depois que o senhor, o Prof. Snape e os demais Comensais desaparataram de Hogwarts?
– Fomos direto à presença do Lord. Fenrir Greyback fez um relato do que aconteceu, e a fúria do Lord foi grande, porque eu tinha desobedecido a suas ordens. Sem qualquer hesitação, ele matou minha mãe com uma Maldição da Morte, ali, na minha frente. – Ohhs de espanto. Draco desviou o olhar. – Tudo que minha tia Bella fez foi agradecer que ela tivera uma morte rápida. Depois ele torturou o Prof. Snape longamente por ter feito o Voto Perpétuo que o obrigou a matar o Prof. Dumbledore no meu lugar. Finalmente, o Lord começou a me punir. Quando eu achei que não fosse sobreviver, o Lord das Trevas me entregou ao lobisomem Greyback para que ele terminasse o trabalho da maneira que quisesse. O problema é que Fenrir gosta de provocar dor e fazê-la durar bastante. Ele jamais iria me matar rapidamente. Torturou-me durante horas. Depois fui abandonado num local ermo e distante para terminar de agonizar e morrer. Mas eu praticamente não estava consciente. Só fui acordar dias mais tarde, na casa de um agente da Ordem da Fênix.
– Que agente é esse? – exigiu saber o ministro da Magia. – Qual é o nome desse tal agente?
– Isso não vem ao caso – disse Draco, sem lhe dar muita atenção, escandalizando alguns dos presentes, inclusive no Wizengamot. – Essa pessoa só forneceu um abrigo seguro, mais nada. Essa foi toda a sua ajuda, mas o Prof. Snape tratou de mim como pôde. Foi ele quem me salvou a vida. Se não fosse por ele, eu teria morrido sozinho e sem ninguém.
Pelo burburinho na sala, muita gente achava que esse destino era o mais condizente a um ex-Comensal, filho de Comensais. Aberforth ignorou os ruídos e continuou a interrogar:
– Então, você não recebeu tratamento adequado?
– Mais tarde, sim, durante a temporada que passei em Azkaban. – O burburinho voltou a crescer, e Rufus Scrimgeour mexeu-se na cadeira, desconfortável e vexado. A seu lado, Griselda Marchbanks se inclinou para cochichar-lhe ao pé do ouvido. Draco ignorou o barulho no recinto e prosseguiu. – Minha prisão foi secreta, e consegui uma redução de pena em troca de informações sobre o Lord das Trevas e seus seguidores. Segundo soube mais tarde, minhas informações levaram à captura de aproximadamente dez Comensais, incluindo os dois irmãos Lestrange. Só então eles deixaram medibruxos me verem em Azkaban. Mas... não sobrou muita coisa para eles curarem. Deixei Azkaban há pouco tempo e agora estou foragido num outro país, com um nome falso e outra identidade. Obviamente, estarei me mudando para outro lugar assim que deixar essa sala.
Mad-Eye Moody soltou um resmungo alto, inconformado por ver um Comensal escapando diante de seus próprios olhos. Aberforth fez um gesto para a platéia, dizendo:
– Então, você foi testemunha de que o acusado matou Albus Dumbledore?
Draco abaixou a cabeça, escondendo a maior parte de seu rosto desfigurado, e assentiu:
– Sim. Ele apontou sua varinha para ele e pronunciou a Maldição da Morte, para não morrer.
Alguém na audiência gritou "Assassino!", e a barulheira recomeçou. Scrimgeour gritou:
– Ordem! Este é o último aviso!
– Diga ao tribunal – prosseguiu Aberforth quando o tumulto se acalmou – o que quis dizer exatamente com essa observação "para não morrer".
Aquilo pareceu aborrecer Draco:
– Eu já disse antes: o Prof. Snape fez um Voto Perpétuo para cumprir a minha missão, caso eu falhasse. Eu falhei. Portanto, se ele não cumprisse o Voto, ele iria morrer.
– E você acredita que ele matou Dumbledore para não morrer?
Mad-Eye Moody pulou com sua perna de pau:
– Objeção! Isso é pura especulação, Sr. Presidente. Além do mais, o que a testemunha acredita ou deixa de acreditar não é relevante.
– Com a permissão da corte – retrucou Aberforth, dirigindo-se a Scrimgeour – , a testemunha tem conhecimento de fatos muito importantes, que podem ajudar a esclarecer o crime.
Scrimgeour olhou para Moody, olhou para Aberforth e finalmente dirigiu-se a Draco:
– Eu vou permitir que a testemunha responda. Mas sua resposta deve se ater a fatos, rapaz.
– Sim, senhor. Não, eu não acredito que o Prof. Snape tenha feito isso só por causa do Voto. Acredito que ele fez isso para impedir que eu matasse o Prof. Dumbledore.
– Por que motivo?
– Porque essa foi uma exigência do Prof. Dumbledore.
– Poderia explicar melhor?
– O Prof. Dumbledore exigiu que o Prof. Snape cumprisse o Voto para impedir que eu cumprisse a missão.
– Então o Prof. Dumbledore sabia que você tinha a missão de matá-lo?
– Eu já disse que ele mesmo me disse isso no alto da torre. O que eu não sabia era que ele estava disposto a se sacrificar para evitar que eu me tornasse um assassino. Ele arrancou do Prof. Snape uma promessa de que faria tudo para evitar isso.
– O Prof. Dumbledore então pediu ao Prof. Snape que o matasse, é isso?
– Isso mesmo. Com isso, eu poderia... – ele engasgou – ter uma chance de não sucumbir ao lado das Trevas. Se não fosse isso, eu jamais teria conseguido o acordo com o Ministério e estaria em Azkaban até agora. Eu não teria uma vida.
– Como você sabe de tudo isso?
– O Prof. Snape me contou tudo enquanto me tratava. Contou tudo. De sua condição de espião de Dumbledore. De como ele traiu o Lord das Trevas durante todos esses anos. De como ele tentou se desviar das desconfianças de minha tia Bellatrix e dos outros. De como ele tentou proteger minha mãe o quanto pôde... Eu jamais poderia imaginar o quanto ele fizera para derrubar o Lord das Trevas e proteger Potter.
– Na sua opinião, Severus Snape matou o Prof. Dumbledore para cumprir a vontade de Lord Voldemort?
Muitos dos presentes se encolheram ao ouvir o nome, incluindo Draco, que respondeu:
– Com certeza, não. Eu acabei de dizer que não. Só vim aqui para deixar isso claro: Snape sempre foi um homem de Dumbledore e ele fez muitos sacrifícios pessoais para derrotar o Lord das Trevas. Acho que fez muito mais coisas, coisas que não me contou. Mesmo que ninguém queira acreditar nisso, essa é a verdade.
Aberforth assentiu e declarou ter encerrado com a testemunha. Scrimgeour passou a palavra a Moody, que chegou bem perto de Draco Malfoy, o olho azul mágico rodando furiosamente, o local todo em silêncio nervoso.
– Eu só quero lhe perguntar uma coisa, garoto. – O ex-Auror falou devagar, num tom misto de ameaça e admoestação. – Você viu Severus Snape assassinar Albus Dumbledore?
– Sim, senhor.
– E você tem certeza de que era ele? Não era alguém com Polissuco?
– Não, senhor. Era realmente ele.
– E, até onde você saiba, ele estava submetido a alguma poção, feitiço, veneno ou Maldição Imperius?
– Não, nada disso.
– Só para confirmar: o assassino era Snape, com certeza, e ele sabia o que estava fazendo?
– Sim, mas...
– Sem mais perguntas, senhor presidente! – Moody o interrompeu e deu-lhe as costas. Draco pareceu não gostar muito daquilo, mas não protestou.
Scrimgeour franziu o cenho e disse:
– Normalmente, a testemunha estaria dispensada, mas o Wizengamot tem algumas perguntas a lhe fazer a respeito de sua atuação na guerra contra o Lord Voldemort.
A expressão de Draco se tornou dura, acentuando ainda mais o dano a seu rosto. Aberforth reagiu:
– Protesto! Esse julgamento é de Severus Snape, não do Sr. Malfoy! Além do mais, ele teve imunidade garantida quando forneceu informações sobre Comensais da Morte! Sr. Presidente, essa corte precisa honrar esse acordo, um acordo que o senhor mesmo avalizou.
O ministro avermelhou-se sobremaneira no rosto leonino, enquanto o barulho crescia na sala, e ordenou:
– A testemunha será levada por dois Aurores para que os procedimentos possam ser efetuados em outro recinto. Já está decidido.
Foi então que Draco se ergueu e calmamente disse:
– Vocês podem decidir o que quiserem. Minha decisão já foi tomada. Se me derem licença, tenho outros lugares a ir.
Ele tocou a cabeça da bengala (uma peça de madeira sem qualquer ornamento, muito diferente da efígie prata na forma de uma serpente, usada por seu pai) e ativou a chave de portal, desaparecendo na frente de todos, sob as barbas da integralidade do Wizengamot, de dentro do quartel-general da Divisão de Aurores.
A algazarra foi tanta que Rufus Scrimgeour teve que fazer um recesso de emergência.
