Capítulo 30 – Tragédia em Hogwarts

– Severus! Severus! – A voz era aflita, e não deixava margem a dúvidas: algo grave tinha acontecido. – Severus, se você estiver aí, por favor, atenda!

Helena correu até a lareira, onde a cabeça de Minerva McGonagall aparecia entre as chamas, uma expressão angustiada.

– Minerva?

– Oh, Helena, bom-dia. Por favor, eu preciso falar com Severus com urgência! Ele está em casa?

– Não, ele está no Beco Diagonal, cuidando do escritório da botica. Aconteceu alguma coisa? Lily está bem?

– Aconteceu uma tragédia, mas nada envolvendo nenhum aluno, principalmente Lily. Um dos nossos professores acaba de falecer e eu precisava falar com Severus. Sabe se a lareira dele está aberta para comunicação?

– Que tragédia, Minerva – horrorizou-se Helena. – Não sei ao certo sobre as lareiras de Severus, mas mandarei um recado imediatamente por Odin. Ele é um dos falcões mais rápidos.

– Eu ficaria muito agradecida, Helena. As crianças vão bem?

– Logan está dormindo agora. Ele tem se irritado muito, acho que os dentinhos estão para aparecer.

– Dê notícias sempre. Fique com Merlin.

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– Oh, Severus, graças a Merlin você veio.

– Mas o que aconteceu? Helena disse que alguém morreu.

– Horace Slughorn – disse a diretora de Hogwarts. – Foi uma complicação de saúde, muito repentina. Estamos nos preparando para mandar os alunos para casa por 10 dias. Esse tempo deve ser suficiente para reorganizarmos a escola depois do memorial.

– É uma grande perda – lamentou Severus.

– Por isso pedi que viesse, Severus. Não há como suavizar o golpe. Eu gostaria que assumisse o lugar de Slughorn, tanto como Mestre de Poções como quanto Diretor de Slytherin. Não é nenhuma novidade para você. Fez isso durante 15 anos.

– Sei que você tem necessidade de alguém com urgência, mas deve admitir que é uma posição muito importante para eu ocupar apenas até o final do ano letivo.

– Não, Severus, você não entendeu. Não estou fazendo um convite para uma solução temporária. Você é uma excelente aquisição para o corpo docente de Hogwarts. Gostaria que ficasse conosco durante muitos anos. Como você fez antes.

– Sim, mas agora eu tenho três filhos, uma família, um negócio próprio e alguns envolvimentos em organizações beneficentes. Naquela época eu era sozinho, e estava na escola perseguindo... outras atividades. No momento, tenho um bebê de uns poucos meses em casa.

– Entendo, mas você é minha melhor escolha. Claro que tenho outros candidatos, mas pessoalmente eu gostaria muito de ver sua cara nas masmorras novamente, assustando alunos. Ficaria muito feliz se você aceitasse, sem mencionar o fato de que isso me deixaria tranqüila a respeito do desempenho dos alunos. Você os manteria na linha, eu sei disso muito bem.

Severus quase sorriu e então um dos retratos do gabinete da diretora se dirigiu a ele:

– Seria muito bom poder falar com você novamente, meu rapaz. Faz tempo que não nos sentamos para um bom papinho.

– Albus – saudou Severus. – Que bom vê-lo.

– Também sempre é bom vê-lo por aqui. Espero que aceite o convite de Minerva. Poderemos tomar chá algumas vezes, não seria ótimo?

– Seria excelente. – Severus virou-se para Minerva. – Posso ter algum tempo para consultar a família?

– Claro. Infelizmente, não posso lhe dar muito tempo, pois preciso resolver essa situação o quanto antes. E Severus, devo alertar que tenho muitas intenções escondidas para que você aceite o convite.

– Intenções?

– Aposentadoria. Ao contrário de Albus, pretendo me aposentar como diretora de Hogwarts e depois curtir um pouco desse tempo livre. Mas não poderei fazer isso sem indicar um sucessor. Você, claro, seria uma excelente escolha para o cargo de diretor. Apesar de jovem, tem experiência e conhece Hogwarts muito bem.

– Minerva – ele tentou explicar, mas diplomacia nunca foi o forte de Severus. – Eu sou um ex-Comensal da Morte. Hogwarts tem uma reputação a zelar. Certamente os diretores vão mencionar algo a esse respeito.

– Você está mais do que reabilitado, Severus. Quem não conhece a Fundação Asclépio? Aliás, devo parabenizá-lo pelo nome de sua fundação para bruxos carentes. Não ia dar certo ter nome de deuses nórdicos em terras celtas. Eu sei que você queria manter segredo, mas sua reputação lhe precede desde a Suécia. Você não engana ninguém, dizendo que nada tem a ver com a Fundação. Além do mais, se alguém tinha alguma dúvida, elas foram desfeitas na sua entrevista ao Quibbler no ano passado. Se você realmente escrever um livro de memórias, então, vai ficar ainda mais rico do que já é – e respeitado. De qualquer forma, não que eu queira influenciá-lo, mas não precisa decidir neste minuto. Você tem alguns dias para pensar e consultar a família.

– Muito bem. Já marcou o memorial para Slughorn?

– Será amanhã à tarde. Depois da cerimônia, os alunos estarão liberados para viajarem. Você gostaria de comparecer?

– Claro que sim. O Prof. Slughorn foi muito importante na vida de muitos alunos de Hogwarts, inclusive a minha. Depois da cerimônia, posso levar Lily para casa. Bom, é melhor eu deixá-la agora. Certamente, você tem muito a fazer. Se puder ajudar, não hesite em pedir.

– Até amanhã, Severus.

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– Você vai ser meu professor? – Lily estava de olhos arregalados.

– A Profª McGonagall me convidou. Eu ainda não dei uma resposta, mas preciso responder logo. Mas eu queria primeiro perguntar se você está confortável com isso.

– Pai, vai ser que nem era quando eu era pequena e você me ensinava Poções lá na Suécia.

– Mas não espere nenhum tratamento especial só porque é filha do professor e do chefe da sua casa.

– É claro. Você nunca deu colher de chá para mim nem quando eu era pequena. Imagina se vai dar agora.

– E se eu tratar você com severidade é para não demonstrar favoritismo, entende isso?

A garota olhou para ele e indagou, do alto da sua sabedoria de 11 anos:

– Minha vida vai ser um inferno daqui para frente, não vai ser?

– Agradeça a Merlin pelos poucos bons meses que você teve.

Lily revirou os olhos, angustiada. Severus sorriu e encarou Helena, que também sorria suavemente.

– Uma das minhas mulheres parece estar de acordo com minha nova profissão. E a minha outra mulher?

Ela estava com Logan no colo e indagou:

– E você teria que morar na escola?

– Eu abriria a lareira para uma conexão direta aqui em casa. Você me acharia a qualquer hora do dia e da noite, sem precisar depender de Odin. – Ele garantiu. – Helena, se você não quiser, eu não aceito. Estou também dividido em aceitar. Com Logan tão pequeno ainda...

– Severus, não é como se ele fosse crescer longe de você.

– Vou ficar com saudades dele. – Severus chegou perto de seu filho caçula, nos braços da mãe, e acariciou-lhe o cabelinho preto. – Como tive saudades de todos os outros quando eram pequenos.

– Quando eu conheci você, Severus, você era professor em Hogwarts. É natural que aceite o cargo.

London indagou:

– É verdade, né, papai? Você era professor lá.

– Sim, meu filho. Dei aulas para tio Harry, para o tio Draco...

– Eu vi um troféu em homenagem ao tio Harry lá na escola! – disse Lily, excitada. – E também tio Ron e tia Mione! O retrato do papai está no Salão Comunal de Slytherin, galeria dos ex-Diretores da Casa.

– Se você procurar, vai ver um troféu também em homenagem à Vovó Prince. Ela era mãe de seu pai.

– Vou procurar, sim! O Sr. Filch deve saber onde está.

– London, meu filho, venha cá, por favor. – chamou Severus. – Preciso ter uma conversa séria com você.

O garoto de oito anos foi até o pai, os olhinhos brilhando. Severus o colocou no colo, e fez sua voz mais séria:

– Filho, agora que vou voltar a dar aulas em Hogwarts e sua irmã também está estudando lá, conto com você para proteger sua mãe e seu irmãozinho enquanto eu estiver fora. Você é o bruxo mais velho da casa agora.

– Mas e quando eu for para Hogwarts, papai?

– Ainda tem alguns anos até isso acontecer. Até lá, Logan já vai deixar de ser um bebezinho. Mas, enquanto isso, conto com você, filho.

– Pode contar comigo, papai!

Severus sorriu e encarou Helena, que o fitava, o bebê nos braços. Depois ele olhou London e Lily, que sorriam para ele também.

Nem 10 anos se passaram desde a morte de Voldemort e Severus tinha uma vida com a qual jamais ousara. Uma mulher que o amava, três filhos que se orgulhavam dele. Ele tinha reconhecimento de seus pares, apesar de seu passado conter fatos dos quais ele não tinha orgulho.

Durante grande parte de sua vida, por escolha própria ou compulsoriedade, Severus Snape tinha vivido nas sombras, entre as trevas e a luz. Não totalmente num mundo, nem no outro. Felizmente, agora, esses anos estavam atrás de si.

Severus sorriu de novo, pronto para a próxima virada de sua vida. Fosse o que fosse que o destino lhe tinha reservado adiante, ele tinha aquele momento.

E aquele momento era melhor do que ele jamais poderia ter imaginado.

The End