Crônicas de Amor e Confusão V

Mar Sem Fim

Capitulo 2:

I – Entre Deuses e Irmãos.

Era estranho como depois de tanto tempo aquele rosto lhe fosse tão familiar. Não pode evitar lançar-lhe um olhar carinhoso. Sentando em uma poltrona em seu quarto, Jullian jazia com a perna cruzada e as mãos com os dedos entrelaçados sobre o colo, servindo de apoio para o queixo.

Já fazia algum tempo que voltaram da praia e ela dormia tranqüilamente, enquanto ele velava-lhe o sono. Não desejava que ela acordasse agora, ainda havia uma coisa que deveria resolver antes.

O quarto estaria completamente escuro se não fosse por uma tênue luz entrando por uma pequena fresta na cortina. Onde estava poderia permanecer oculto pelas sombras e por enquanto era só o que desejava.

-o-o-o-o-

Com passos firmes e decididos ele desceu até a sacada, sentia a sua presença ali. Depois de séculos lhe veria de novo. Estava ansioso.

Um toque de leve, fez com que a porta de vidro se abrisse, fazendo as cortinas esvoaçarem com o vento noturno.

A túnica branca, canelada que usava, tipicamente grega, esvoaçou com o vento. Os cabelos dourados caiam-lhe até o meio da costa, completamente lisos e os orbes azuis brilharam intensamente ao vê-la al. Dormindo como a mais bela deidade que tivera o prazer de conhecer, porem que agora mal comparava-se a ela.

Caminhou com cautela, temendo acordá-la. Aproximou-se da beira da cama, mas ao abaixar-se com o intuito de tocar-lhe a face algo o deteve. Sentiu um outro cosmo se manifestar ali, não era possível que...; Ele não pode completar o pensamento.

-Não se atreva a tocá-la; o imperador dos mares falou com a voz cortante.

Posseidon mantinha-se impassível, os orbes agora se assemelhavam a um mar tempestuoso, como provavelmente estaria o tempo lá fora à mercê de seu humor que não estava tão pacifico.

-Irmão? –o onipotente falou surpreso, pensara que Athena houvesse o lacrado.

-Há quantos séculos, irmão? –ele perguntou sarcástico.

-Pensei que Athena houvesse te prendido na ânfora; Zeus comentou atordoado, não pensara que ele estivesse ali.

-E prendeu, porem ainda existo nessa época como Jullian Sollo; ele respondeu com naturalidade.

-Entendo; ele murmurou, lançando um olhar de esguelha para a jovem. –E Tétis, como ela esta? –ele perguntou, tentando não demonstrar o quanto frustrado estava por encontrá-lo.

-Melhor impossível; Posseidon respondeu pacificamente. –Diria que muito bem, é claro, longe de suas influencias deturpadas; ele completou ferino;

-O que quer dizer com isso? –Zeus falou irritado.

Nesse momento a porta abriu-se para um Sorento um tanto quanto preocupado, digamos que seja aflito, ao sentir o cosmo de Posseidon se manifestar de novo, junto de outro cosmo que ele não foi capaz de identificar o dono.

-O que quero dizer caro irmão, é que não vou permitir que você se coloque entre nós novamente; ele falou levantando-se da poltrona.

Sorento estava paralisado, vendo os dois homens de cosmos semelhantes, fitando-se friamente. Jullian parecia um adolescente, uma criança perto do porte que o outro demonstrava, mas aquele não era mais Jullian e a aparência era o que menos importava.

-Sorento, leve Tétis pra o seu quarto, ela não vai acordar tão cedo, não se preocupe; Posseidon falou.

Sorento assentiu, aproximando-se da cama com pressa, sentia o olhar de Zeus sobre si e isso lhe deixava mais aflito ainda. Suspendeu-a da cama, ao voltar-se pra sair, Zeus fez menção de deter-lhe o caminho, mas Jullian entrou na frente, mantendo o olhar desafiador, como de o desafiasse a ousar impedir o marina de passar.

-Feche a porta, por favor; Posseidon pediu, quando o marina saiu do quarto.

-O que pretende? –Zeus perguntou, vendo-o sentar-se novamente na poltrona e lhe indicar a que estava na sua frente.

-Vamos conversar irmão; ele falou, frisando a ultima palavra.

Zeus o observou com desconfiança mais acabou por obedecer, os dois se encaravam sem um pingo de hesitação.

-E então? O que veio realmente fazer aqui? –ele perguntou, frio.

-Pensei que fosse obvio; ele respondeu com um sorriso de escárnio nos lábios, sabia que a simples menção da sereia entre eles era um bom motivo para atracarem-se, e com relação a isso não admitia que o irmão levasse a melhor sobre ele, não importando se o assunto seria outra pessoa.

-Não, não é; Jullian respondeu seco. –Pelo simples motivo de que você é egoísta de mais para fazer coisas obvias; ele rebateu.

-Não vim aqui pra te ouvir falando isso; Zeus exasperou.

-Veio pra que então? –a voz saiu mais alta do que ele esperava.

-Vim ver se você sabe algo sobre o paradeiro de Harmonia; ele respondeu procurando se acalmar.

-A filha de Ares? –ele perguntou confuso.

-Com Afrodite, sim, ela mesma; ele respondeu, porem antes que o jovem pudesse responder, voltou-se pra ele com um olhar serio. –Já era de se esperar;

-O que? –Posseidon perguntou arqueando a sobrancelha.

-Não era pra você ter despertado após a batalha no santuário do mar; ele falou intimamente irritado com o próprio problema que causara pra si. –Harmonia usou o próprio cosmo para apagar alguns fragmentos de memórias seu, por isso agora você se lembra;

-Memórias, por que?

-Porque quando a sua alma fosse lacrada, sobrariam o cosmo e as lembranças, creio que ela pensou que a consciência de Posseidon, com a alma de Julllian entrariam em conflito e que não dominaria com segurança o cosmo; ele explicou.

-Então? –ele perguntou gesticulando impacientemente.

-Pra evitar que o Jullian pensasse estar enlouquecendo ou sofrendo de dupla personalidade, a memória foi lacrada; ele concluiu.

-Mas porque eu lembro de tudo?

-Porque Harmonia perdeu sua divindade, e até restaurar seu cosmo, aqueles que ela apagou a memória vão lembrar de tudo; ele respondeu, encostando-se na poltrona.

-O QUE? –ele gritou.

-Isso mesmo, ela trocou sua imortalidade para salvar a vida de todos os cavaleiros de Athena; Zeus respondeu com pesar.

-Isso é loucura, ela não pode perder a imortalidade só por isso; Posseidon falou exasperado.

-Ela convocou o conselho, essa foi a punição que lhe dei; ele respondeu.

-Como pode? –Jullian perguntou exaltado.

-Não permito que minhas decisões sejam contestadas, muito menos por você; Zeus respondeu elevando o tom de voz.

-Não é possível que tenha tido coragem de fazer isso justo com ela; ele falou balançando a cabeça com indignação.

-Harmonia agora é uma guardiã, retém em si um quarto de cosmo de cada cavaleiro e amazona que trouxesse de volta; Zeus explicou.

-Agora entendo; Posseidon falou irônico. –Quer achá-la antes de qualquer um para você mesmo acabar com ela no final, agora ela é mortal e mais forte que todo o conselho e a trindade juntos. Que patético, o que não foi capaz de fazer com a filha de Metis (1), quer fazer com a de Ares, não pensei que você fosse tão baixo; ele falou se levantando e olhando-o ameaçadoramente.

-Eu nunca iria feri-las, sabe disso; ele respondeu levantando-se indignado.

-Ah! Agora é aquela parte que te venero como um santo? –Jullian perguntou sádico. –Me poupe desse seu falso sentimentalismo. Athena só sobreviveu graças as Deusas do Destino, mas nem por isso escapou daquela maldiçãozinha sua pra garantir que não seria avô, e você, sinta-se satisfeito, pode voltar para o Olímpo sentar o seu traseiro naquele trono de ouro e ver o mundo lá de cima, porque agora até a filha de Ares, esta sabe-se lá aonde, passando sabe-se lá o que, por sua culpa; ele acusou.

-Era pra ser assim; ele se defendeu.

-NÃO; ele gritou. –É assim porque você quis assim, ao longo da eternidade você só fez o que lhe deu na telha, agora vai querer que eu acredite que a troca equivalente, feita entre o conselho e Harmonia, é justa; ele falou indignado. –Não, não é; ele mesmo respondeu.

-Posseidon, vim aqui saber de Harmonia, não me importo com o que pense sobre mim, mas estou preocupado com ela. Éris esta a solta e quer matá-la, como você mesmo disse agora ela esta frágil de mais pra enfrentar isso sozinha, por isso tenho de achá-la; ele falou serio.

-Eris! Mas ela não esta morta? –ele perguntou assustado.

-Ela arrumou um jeito de voltar e vai matar Harmonia pra isso; ele respondeu.

-Infelizmente não sei de seu paradeiro e a julgar pelo que conheço dela, ela preferiria a morte ao ser protegida por alguém... Ainda mais se fosse você; ele respondeu casualmente, porem com um sorriso jocoso nos lábios.

-Pode passar anos, mas você continua o mesmo irritante e sádico de sempre; Zeus reclamou com os orbes estreitos de forma perigosa.

-Não será, tipo, porque eu tenho a quem puxar; ele respondeu com um sorriso sádico.

-Talvez; Zeus falou com um olhar vago para a janela entreaberta. –Mas às vezes tenho inveja de você; ele falou num tom de confidencia. Sentando-se novamente na poltrona, sendo acompanhando pelo irmão.

-Como? –Jullian perguntou, estranhando o comentário.

-Ela sempre te amou e mesmo através dos séculos isso não mudou, apesar de ter se casado com Anfitrite por causa do oráculo, você nunca deixou de amá-la, não importando as conseqüências; ele respondeu.

-E você, também a amava; Jullian respondeu serio, porem não gostado nada de lembrar-se desse fato.

-É, mas entre nós dois, seus sentimentos sempre foram os mais fortes;

-Algumas coisas nós talvez nunca saberemos; ele falou de forma enigmática.

-Infelizmente; Zeus respondeu, levantando-se. –Agora tenho que ir, me avisei se souber de seu paradeiro; ele falou aproximando-se da janela.

-Pode deixar, pelo menos isso; Posseidon respondeu.

-Foi bom revê-los, até a próxima, irmão; ele falou lhe estendendo a mão.

-Até; ele respondeu ao comprimento.

Logo o onipotente desapareceu no meio da noite. Jullian debruçou-se na grade da sacada, quando sentiu alguém se aproximar.

-Pode entrar Sorento, ele já foi; Jullain falo sem se virar.

-Imperador; ele falou, aproximando-se com cautela.

-Prefiro que me trate só por Jullian; ele falou, voltando-se pra ele com um olhar pacifico.

-Ahn! Aquele era...; Sorento não completou.

-Sim, o próprio, veio saber noticias de Harmonia; ele respondeu.

-Como recuperou a memória? –Sorento perguntou confuso.

Jullian explicou ao marina tudo que Zeus disse. Inclusive o fato de a memória ter começado a voltar por causa de Harmonia perder a imortalidade. Até que a jovem aprendesse a dominar os próprios poderes, os equilíbrios de algumas coisas poderiam ser abaladas.

-E Tétis, o que aconteceu com ela? –ele perguntou confuso.

-Apenas a coloquei para dormir, assim ela não sentiria o meu cosmo; Jullian respondeu. –Sei o que esta pensando, mas, por favor, não fale nada pra ela por enquanto; ele pediu.

-Como quiser; o marina respondeu. –Ahn! Trago-a de volta pra cá, ou peço a uma camareira para abrir o quarto dela? –Sorento perguntou.

-Traga-a pra cá, pelo menos por hoje, conhecendo aquele idiota como conheço, ele não desistiria de algumas coisas com tanta facilidade; ele comentou, sentindo uma veinha saltar-lhe na testa.

Sorento assentiu, dando-lhe as costas e indo em direção a porta, porem parou um momento, respirando fundo e sem voltar-se pra ele perguntou.

-O que ele disse era mesmo verdade?

-Sobre o que? –Jullian perguntou saindo da sacada.

-Tétis? –ele perguntou, voltando-se pra ele, que apenas assentiu. –Deveria dizer isso a ela, errar uma vez é humano, duas é burisse e deixar que alguém te passe a perna tem de ser muito idiota; ele falou, saindo do quarto sem esperar por uma resposta.

II – Lembranças;

Os três logo pela manhã reuniram-se pra tomar o café. Jullian e Sorento não pretendiam tocar no assunto do dia anterior. Tétis achou estranho o fato deles estarem tão silenciosos, mas preferiu não falar nada no momento;

-Ahn! Vocês já ouviram falar em alguém chamada Aishi? –Tétis perguntou de repente, quebrando o silencio.

-Como? –Jullian perguntou engasgando com um pouco de café que acabara de engolir.

-Isso mesmo, conhece alguém com esse nome? -ela perguntou curiosa, fazia muito tempo que não se lembrava dele e agora resolvera tirar essa duvida.

-Eu não; Sorento respondeu.

-Eu também não; ele mentiu –Mas esse nome me é familiar, vem de Aishiteru; ele falou.

-O que é isso? –Tétis perguntou confusa.

-Eu te amor; ele respondeu, sem notar o impacto causado na amazona. –Em japonês; ele completou.

-Como assim? –Sorento perguntou interessado.

-Aishi é a primeira parte de Aishiteru; ele explicou. –Uma vez eu ouvi dizer que Harmonia quando vinha a Terra, usava esse nome, para andar livremente entre os mortais; Jullian falou com um olhar vago, esquecendo-se que não deveria mencionar esse fato se não quisesse que ela descobrisse antes do tempo que suas memórias haviam voltado.

-Harmonia? –Tétis perguntou curiosa.

-Sim, a filha de Ares e Afrodite; Jullian respondeu, sem saber como mudar de assunto. –Digamos que Harmonia era a rebelde entre os deuses; ele falou com um meio sorriso. –Mas porque a pergunta Tétis?

-Ahn! Nada não, só curiosidade, esses dias tive a impressão de ouvir esse nome, só isso; ela respondeu, trocando um olhar serio com Sorento.

-Bem, aproveitando que estamos os três juntos aqui, queria avisar algo; Sorento começou.

-Algum problema? –Tétis perguntou preocupada.

-Não exatamente; Sorento respondeu.

-Então?

-Eu gostaria de retornar a Atenas por alguns dias, tenho alguns assuntos pendentes por lá e gostaria de resolvê-los antes de começarmos a viajar novamente; ele falou, voltando-se pra Jullian.

-"Uh! Ótima oportunidade para saber o que realmente esta acontecendo entre Harmonia e o conselho"; ele pensou. –Tudo bem Sorento; ele respondeu.

-Obrigado, eu vou, depois volto me encontrar com vocês aqui; ele completou.

-Tem mesmo certeza de que quer ir sozinho, posso te acompanhar se quiser, sem problemas; Tétis sugeriu sem notar uma discreta veinha saltar na testa do ex-imperador.

-Não precisa se incomodar; Sorento falou com um sorriso nervoso, vendo o olhar do garoto sobre si e que não era nada agradável.

-Mas...; Tétis insistiu, porem foi cortada.

-Façamos assim, vamos nós três, Sorento resolve o que tem que resolver e nós ficamos de férias, o que acham? –ele perguntou fazendo-se de inocente.

-"Uh! Ai tem coisa"; Tétis pensou desconfiada. –Sorento o que acha? –ela perguntou, voltando-se para o ex-marina.

-Por mim tudo bem; ele respondeu engolindo em seco ao ver o olhar que ela lhe direcionou, ultimamente estava ficando preocupante aquele fogo cruzado em que ele se metia por tentar fazer um meio campo entre os três.

-Tétis? –Jullian perguntou esperançoso.

-Que seja; Tétis respondeu seca. –Bom se me dão licença; ela completou se levantando.

-Ahn! Vai aonde? –Jullian perguntou curioso, porem com uma pontada de cautela.

-Dar uma volta, encontro com vocês depois; ela falou saindo, sendo acompanhada pelo olhar atento dele.

-Jullain, você é um péssimo mentiroso ou um idiota de carteirinha; Sorento falou com um sorriso debochado.

-O que quer dizer com isso? –ele perguntou com os orbes estreitos.

-Quero dizer que se continuar mentindo pra Tétis que você não lembra de nada, quando ela descobrir, vai afogar qualquer possibilidade sua de conquistá-la; Sorento explicou.

-Eu sei, mas simplesmente não sei como contar a ela; ele falou desanimado.

-Vai lá, quem sabe você não consegue ter alguma idéia descente; ele sugeriu.

-Talvez; Jullian falou se levantando. –Até mais;

-Até; ele respondeu. Sorento ainda ficou observando-o sumir no corredor do hall. Lembrando-se de tudo que teria de fazer em Atenas, realmente havia muitas coisas pendentes a resolver e ele nem sabia ao certo por onde começar.

III – Segundas Intenções.

Tétis andava calmamente pelas ruas sicilianas, as pessoas eram gentis e hospitaleiras. Vez ou outra acabava se detendo em alguma loja e passando alguns minutos conversando com as pessoas dali, sentia-se bem naquele ambiente, isso pelo menos servia para aplacar aquele recente mal estar que a idéia de voltar a Atenas lhe dava.

-Srta, quer um jornal? –um Sr de idade perguntou, quando a viu parar em frente a sua banca de jornais.

-Tem algum só com noticias internacionais? –ela perguntou.

-Sim, este; ele falou lhe entregando.

-Obrigada; ela respondeu, enquanto pagava a nova aquisição.

Não havia andando muito até encontrar uma praça com alguns bancos, procurou um onde o sol na batesse muito forte. Tétis sentou-se abrindo o jornal em seguida. E qual não foi a sua surpresa ao ver o que estava na primeira pagina.

-" Herdeira da Fundação Graad fixa residência definitivamente em Atenas, deixando a matriz no Japão sob a administração de Shun Amamiya, a jovem Srta Kido pretende implantar vários projetos sociais na capital grega, até o final do mês pode ser facilmente encontrada em almoços e jantares beneficentes"; ela completou a leitura balançando a cabeça, chateada.

Ignorando a sensação de que estava sendo seguida, resolveu voltar para o hotel. Seriam férias longas, bem longas.

-o-o-o-o-

-Sorento? –Jullian chamou, batendo na porta do quarto do ex-marina.

-Entre; ele respondeu lá de dentro.

-Ahn! Preciso te perguntar uma coisa; ele falou hesitante, enquanto sentava-se numa poltrona no canto do quarto que ele acabara de indicar.

-O que é? –Sorento perguntou arqueando a sobrancelha.

-Você sabe se a Tétis não esta bem? –Jullian perguntou.

-Porque? –Sorento indagou, embora soubesse o motivo. Quando a sereia voltara do passeio jogando por baixo da porta do quarto o jornal, não foi preciso muito tempo pra entender o que ela dizia com aquilo.

-Uhn! Fui falar com ela e bem, ela não quis me atender; ele falou com um sorriso nervoso.

-Não será porque você fez alguma coisa que a irritou? –ele perguntou, jogando verde.

-Eu? Que eu saiba não; ele respondeu achando estranho.

-Tem certeza? –Sorento perguntou, no momento que jogava sobre o colo dele o jornal.

-O que é isso? –Jullain perguntou franzindo o cenho.

-Um jornal; Sorento respondeu irônico.

Jullian serrou os olhos, para depois abrir o jornal dobrado na primeira pagina. Lendo a mesma reportagem que os marinas já haviam lido.

-E daí? –ele perguntou arqueando a sobrancelha.

-Não se faça de inocente, que você não é; o marina falou de forma perigosa.

-Não sei aonde quer chegar Sorento, mas não vejo nada de mais nesse jornal; Jullian respondeu impassível.

-Esquece; ele falou balançando a cabeça, cansado. –Tétis só deve estar cansada... De você; ele completou num murmúrio.

-O que? –ele perguntou, assustando-se ao ouvir a ultima parte.

-Isso mesmo. Tétis é jovem, bonita, uma mulher admirável, forte e desejável; Sorento falou com ar sério. –Ainda não sei porque ela não arrumou ninguém, porque a meu ver, seria a mulher ideal para se passar o resto da vida; ele alfinetou.

-" Sorento esta certo e se ela for embora? Ou se arrumar alguém? E eu?"; ele pensou desesperado, fazendo Sorento sorrir satisfeito com o impacto causado, se ele precisava de estimulo para tomar uma atitude arrumara todos agora. –Ahn! Tenho que ir; ele falou apressado, saindo do quarto.

-o-o-o-o-

-Tétis, posso entrar? –Jullian perguntou batendo na porta, faltava pouco tempo para irem para o coquetel que teriam com o dono de uma grande empresa italiana que iria patrocinar um evento em prol de algumas instituições espalhadas por toda a Itália para fornecer o suporte necessário para as vitimas das enchentes.

Não podiam se atrasar, mas agora ele tinha outra coisa mais importante pra se preocupar.

Mais uma vez tentou afrouxar o nó da gravata que usava, embora sempre acostumado a usar terno e roupa social, aquela gravata já estava lhe irritando, mesmo porque sua ansiedade era imensa.

-Entre; a voz da sereia soou seca do outro lado da porta.

Respirou fundo, levando inconscientemente a mão para dentro do sobretudo, encontrando uma caixa fina em forma de retângulo, onde guardava uma pequena preciosidade. Tocou a maçaneta da porta virando-a em seguida.

-o-o-o-o-

Tétis acabara de se arrumar. Mirava-se criticamente diante do espelho. Não era nenhuma narcisista, mas não se permitiria não estar de acordo naquela noite, quando provavelmente estaria entre algumas pessoas no mínimo arrogantes.

Faltava pouco para partirem para Atenas, algo lhe dizia que alguma coisa importante aconteceria lá, mas não negava que agora preferia ficar. Descobrir de forma inesperada as intenções do ex-imperador lhe deixou muito chateada, mas não podia fazer nada. Cada um fazia sua escolha.

Ouviu-o chamar e pouco sem importou com o tom de voz que respondera.

Jullian entrou no quarto ficando paralisado com o que tinha a frente. Tétis voltou-se em sua direção dando uma ultima ajeitada na saia do longo vestido que usava.

De um tecido em tom de petróleo, o mesmo era justo no busto ao quadril, depois a saia descia até o pé mais solto. Um decote em V pequeno na frente e outro bem maior nas costas. Os longos cabelos loiros jaziam agora presos em um coque de fios soltos. Na face nada muito escuro, uma sombra tênue sobre os olhos, destacando a intensidade dos orbes azuis e os lábios rublos chamavam a atenção a quem olhasse.

-Ahn! Esta linda; ele falou fitando-lhe dos pés a cabeça com um olhar fascinado.

-Obrigada; Tétis respondeu corando, diante do olhar intenso do ex-imperador sobre si. –Bem... O que você queria? –ela perguntou, desviando o olhar.

-Ahn! Faz algum tempo que eu queria lhe dar algo, mas nunca surgia a oportunidade certa; ele falou aproximando-se da jovem que pensou em recuar, porem o mesmo repousou uma mão sobre cada ombro, fazendo-a virar-se e caminhar até o espelho.

-Jullain, o que...; ele a cortou.

-Espero que goste; ele falou, retirando a caixinha de dentro do sobretudo e lhe entregando.

-...; Em silencio, ela abriu a caixinha, ficando completamente surpresa ao ver o que tinha lá dentro, uma gargantilha fina, duas linhas de estras que terminavam com uma corrente de ouro branco e na ponta da mesma uma solitária pedrinha azul.

-Me permite? –ele perguntou, estendendo-lhe a mão. Tétis lhe ergueu a caixinha pra ele pegasse o conteúdo.

Colocou com delicadeza a corrente em volta do pescoço dela, deixando que os dedos corressem com suavidade pelas costas esguias e desnudas, centralizando a corrente solitária nas costas.

Tétis não foi capaz de reprimir um leve tremor, fazendo-a engolir em seco.

-Perfeito; ele falou num sussurro ao pé do ouvido.

-Jullian, não precisava; ela falou tocando a gargantilha e olhando-o através do espelho.

-Não é uma questão de precisar, e sim de eu querer; Jullian respondeu com uma voz sedutora.

-Jullain, eu...; Ela começou, porem ele a cortou novamente.

-Preciso lhe contar uma coisa; ele falou ficando serio.

-TÉTIS, já esta pronta? –Sorento perguntou, batendo na porta.

Jullian praguejou contra os céus, quando tinha a oportunidade de fala a ela, algo acontecia.

-Já vai; ela respondeu. –Uh! Então, o que queria me dizer? –ela perguntou, com um sorriso tímido.

-Besteira, esquece, depois a gente conversa, vamos se não podemos nos atrasar; ele falou calmamente, estendendo-lhe o braço. –Me daria a honra?

-Claro; ela respondeu sorrindo, não podia negar que estava intrigada com o fato do que ele pretendia dizer, mas deixaria para outra hora.

Jullian abriu a porta dando passagem a jovem, deixando um Sorento, literalmente de boca aberta, ao vê-lo sair dali junto com ela. Ambos lançaram um olhar, quase que cortante ao marina que engoliu em seco, sem saber o que estava acontecendo, porem intimamente, sabia que havia atrapalhado algo.

-o-o-o-o-

Muitas pessoas importantes estavam presentes naquele coquetel, mal chegaram alguns empresários e representantes das principais empresas italianas, puxaram o jovem herdeiro para as típicas e chatas conversas de negócios, quando deveriam apenas estar falando de coisas banais.

Jullian pediu que Tétis ficasse com Sorento, enquanto isso. Tétis e Sorento se afastaram, ainda mais porque ele notara que o humor da sereia estava meio sensível diante do olhar devastador de algumas garotas sobre o ex-imperador.

-Vou pegar uma bebida, você quer algo? –Sorento perguntou, ao vê-la desanimada.

-Trás uma bem forte pra mim, por favor; ela pediu.

Sorento assentiu, afastando-se e indo até uma mesa de bebidas, disposta no salão. Tétis o observava a distancia, quando se sentiu sendo observada. Achou estranho, voltou-se na direção da pessoa.

Viu um homem alto, cabelos dourados e longos, que caiam até a altura da cintura, olhos azuis, intensos e hipnotizantes, transpirava a segurança. Ele parecia fitar-lhe de maneira enigmática. Tétis corou, desviando o olhar. Procurando por Soenreto no meio do salão, acabou por encontrá-lo na mesa de bebidas com ar entediado, ouvindo uma insistente Sra que falava sobre orquestras e musicas de sua época, deixando-o sem ter escapatória para aquela situação.

-É realmente um pecado uma Srta tão bela, estar sozinha nesse salão; uma voz imponente e sedutora falou-lhe ao pé do ouvido, fazendo-a estremecer.

-Uh! - ela murmurou confusa, voltando-se para trás dando de cara com o homem que vira há segundos atrás lhe observando, porem agora ele estava a sua frente.

-Boa noite, Srta; ele falou com um sorriso gentil, numa breve reverencia. Tão encantador; ela pensou.

-Boa noite, ahn, Sr? –ela falou, lhe estendendo a mão.

-Armand; ele falou, tomando-lhe a mão e com suavidade, depositando um cálido beijo. –E a Srta? Qual a sua graça? –ele perguntou, com um sorriso charmoso, moldando-lhe os lábios bem desenhados.

-Tétis; ela respondeu sorrindo. Estranhamente sentia-se à vontade com aquele estranho, isso lhe deixava confusa.

-É um prazer conhecê-la; ele falou. –A Srta não é a jovem que viaja junto com o Sollo, é? –ele perguntou curioso, recebendo um aceno afirmativo, vindo dela. –Ele é um rapaz de sorte, tendo uma moça tão bonita e encantadora junto de si; Armand completou.

-Ahn! Nós não...; Ela falou, gesticulando de maneira nervosa, com a face corada.

-Ah! Mil perdoes, pensei que fossem um casal; ele falou com falso pesar.

-Somos só amigos; ela falou, porem não conseguiu esconder um certo pesar nisso.

-Ele deve ser um cego por não ter-se apaixonado pela Srta; Armand falou sedutoramente. –Quer dar uma volta, Srta Tétis? –ele perguntou, estendendo-lhe a mão, gentilmente.

-Porque não, seria um prazer; ela respondeu sorrindo, aceitando o convite.

Continua...

(1)Quando Métis e Zeus se envolveram, ele a amava muito, desejando casar-se com ela, consultou o oráculo de Delfos para saber o que as Deusas do Destino preparavam para eles. Mas qual não foi a sua surpresa, ao descorir que teria o mesmo destino que seu pai e avô. Ser destronado por um descendente, pois Athena, a criança que Metis esperava, viria futuramente a ter um filho, esse filho, seria capaz de destronar Zeus, tornando-se o Sr absolunto dos mundos, subjugando até mesmo os outros dois deuses. Não querendo que isso acontecesse, Zeus engoliu Metis (isso mesmo, ele engoliu nesse sentido mesmo de engolir), porem, algum tempo depois, ele sentia fortes dores de cabeça. Pediu a Hefestos que lhe desse uma martelada no local, ao fazer isso, um buraco abriu-se e de lá saiu Athena, uma bela jovem vestida com armadura, segurando um escudo e uma espada, prota para uma guerra. Até agora nenhuma historia da mitologia foi capaz de explicar porque Athena é a única divindade do panteão olimpico a nunca se envolver com ninguém. E isso da-se ao fato de seu destino ter sido mudado.

N/a: Na antiguidade Posseidon e Zeus eram apaixonados por Tétis, a titanaede mãe de Aquieles. Pouco antes da guerra de Tróia acontecer. Posseidon consultou o oráculo de Delfos e ficou sabendo que se, se casasse come Tétis o filho que tivessem seria o responsável pela queda de Tróia, nessa época, Zeus o convenceu a não casar-se com ela, já que isso colocaria em risco a segurança da cidade que ambos protegiam. Para não correr o risco do irmão cair em tentação, Zeus convenceu Posseidon a entregar Tétis em matrimonio a um mortal, única forma de mantê-los afastados, assim ele o fez, Tétis casou-se com um mortal e teve Aquiles, um dos principais colaboradores da destruição de Tróia, embora casado com Anfitrite, Posseidon nunca deixou de ama-la.