Possibilidades

Capítulo 6

Descobertas

A chegada de Toma havia animado a noite e Lithos estava adorando a companhia. Já tinham dançado várias músicas juntos e hora ou outra paravam para jogar conversa fora. Na verdade, não tinham saído um minuto sequer de perto um do outro.

Na mesa onde estavam os casais a conversa também girava animada, só Aioria permanecia com uma cara de meter medo a qualquer um, de olho em Lithos que não desgrudava do irmão de Marin. Apesar do ciúme imenso, ele até tentava disfarçar, participando da conversa e indo dançar uma música ou outra com Marin.

Ele só não esperava que o assunto da mesa fosse chegar naquele ponto delicado:

- O irmão da Marin heim? Mal chegou e já deu um jeito de arrumar uma namoradinha. – Shura comentava distraído.

- Esses dois são parecidos mesmo, para gostarem de pessoas da mesma família. – Miro comentava evasivo.

- Os dois formam um belo casal. – Kamus sempre discreto também comentou.

Aioria, que estava distraído com a dança, pegou a conversa pela metade. Encarou Kamus com certa raiva. Seu rosto encarava cada um que falava sobre os dois para logo voltar a pista de dança.

- Concordo Kamus, os dois estão uma graça juntos. – Sara disse observando Lithos e Toma voltarem para a pista de dança. – Não é engraçado Marin, parece mesmo que você vai virar cunhada dupla.

- Vou ter que concordar que os dois estão realmente fofos juntos, mas são só amigos. – Marin que já percebera a cara de Aioria tentava mudar o enfoque sobre o "casal".

- Só amigos, ruiva? – Afrodite comentou chegando à mesa junto com Carlo. – Eu acho é que em breve vamos ter a notícia de mais um casal feliz.

Embaixo da mesa, Aioria se continha para não levantar e meter as mãos no pescoço daquela biba intrometida.

- Gente, eu acho que nosso amigo Aioria não está gostando nem um pouco dessa idéia. –

Mu disse tentando alertar o pessoal. – É um irmão ciumento. – completou.

Logo o rumo da conversa virou para o ciúme do leonino, lembrando de alguns micos básicos que ele já tinha passado por ser tão impulsivo. Lembraram até mesmo de uma crise de ciúmes que ele tivera com Marin, antes mesmo de começarem a namorar. Mas, mesmo assim, os olhos do leão somente voltaram a pista, sem prestar atenção a mais nada a não ser a Lithos e Toma.

Enquanto na mesa a discussão continuava, envolvendo ainda o mesmo tema. Os dois jovens em questão dançavam animadamente na pista de dança, totalmente alheios aos comentários.

Toma estava cada vez mais encantado com Lithos, quando a conhecera no avião, não pensara que ela era tão especial. A conversa entre eles fluía de um jeito único e ela era encantadora. Tanto na maneira de conversar, como de dançar e sempre atenciosa com ele.

Nos pensamentos de Lithos também se passavam as mesmas idéias, do rapaz desajeitado que conhecera no avião ao que dançava agora com ela, realmente não imaginava que o mesmo rapaz fosse tão gentil e atencioso. E como estar com ele a fazia esquecer todos os seus problemas, era uma sensação tão boa.

Perdidos em seus pensamentos, nem reparam quando a música mudou, apenas sorriram um para o outro quando notaram o que estavam fazendo.

- Gosta de músicas lenta? – ele perguntou.

- Gosto. – ela sorriu para ele.

Logo estavam abraçados e dançando a melodia suave e romântica, todos os demais casais também começaram a dançar. Na mesa a atenção foi completamente voltada para os dois jovens.

- Que bom que vim! – Toma disse baixinho no ouvido de Lithos. – Acho que não iria me perdoar se não estivesse aqui com você.

- Também estou feliz por ter vindo. – Lithos respondeu calmamente. – Estava me sentindo muito sozinha.

- Então éramos dois solitários. – ele sorriu rapidamente.

A dança continuava e a discussão envolta da mesa onde estavam os cavaleiros se formou.

- Não disse? – Afrodite disse sorridente. – Esses dois... Já estava desconfiado desde hoje à tarde quando os vi se abraçando na porta do templo de leão.

- Você comentou mesmo. – Sara disse meio sem jeito, já notando o olhar furioso de Aioria.

- Aposto que eles vão se beijar. – Miro disse.

Aracnídeo desgraçado! Quem era ele para comentar assim da vida alheia como um reality show ou uma novela? Principalmente quando essa vida alheia era a da sua irmã.

- Será? Acho que timidez não vai deixar. – Shura disse.

- Por Athena! Já começaram a fazer aposta. – Kamus disse desolado.

- Aioria, não fique assim, sua irmã não é mais criança. – Mu disse tentando acalmar Aioria. – Deixa os dois namorarem!

- Assim como? – Aioria disse nervoso. – Não tem ninguém nervoso aqui Mu.

Marin acenou para Mu deixar quieto por enquanto. Os dois estavam só dançando, não havia nada de mal em dançar.

Na pista Toma e Lithos se aproximavam cada vez mais um do outro, a respiração conjunta acariciando a face de ambos. Os sorrisos, as palavras doces... Por um momento tudo pareceu desaparecer da vista dos dois jovens e só eles estavam ali, naquele imenso salão. Dançando juntos.

- Posso beijar você? – Toma perguntou, enquanto erguia o rosto de Lithos suavemente.

Não houve respostas. Só o beijo suave que começaram a trocar. Sorriram um para o outro ao se separarem e tornaram a se beijar.

Na Mesa

- Pode passar o dinheiro Shura, eu ganhei! – dizia Miro enquanto Shura passava desolado o dinheiro para ele.

- Que lindo! – alguns exclamavam.

Aldebaran chegou de repente.

- Ué, Aioria? Desde quando você deixa que mexam assim com sua irmãzinha? – ele riu gostoso.

- A irmãzinha cresceu! – Afrodite disse rapidamente.

A fúria de Aioria chegou ao extremo, estava tentando ao máximo se segurar naquela cadeira, mas ouvir aquilo foi demais pra ele. Na verdade, ele nem sabia o que estava sentindo... Ver Lithos, a pequena Lithos que nunca saia do seu lado, ali beijando. Beijando alguém, que sendo irmão ou não de Marin era praticamente um estranho... Não agüentou, levantou-se da mesa e foi em direção aos dois.

- Aioria, o que você vai fazer? – Marin ainda tentou segurar o noivo.

- Me deixa! – ele disse esbravejando.

- Será que foi algo que eu disse? – Aldebaran se arrependeu da frase de minutos antes.

- Vamos ter de ir atrás. – Mu disse também se levantando.

- Não Mu, agora não é hora. – Sara segurou Mu pelo braço. – Pode piorar a situação.

- Deixem, eu vou... – Marin suspirou. – Só espero que eles não comecem a brigar aqui dentro.

Lithos e Toma já dançavam normalmente, quando um furioso Aioria os separou.

- Vamos embora Lithos. – disse fuzilando o jovem anjo.

- Ei, o que houve? – Toma perguntou.

- Não, estou dançando! – ela disse tentando se livrar das mãos de Aioria.

- Se você não vier comigo, eu quebro a cara dele. – disse olhando autoritário para a irmã.

A boate parou ao ouvir a última frase e todos voltaram a atenção para os três na pista de dança. Alguns ao fundo começaram a gritar...

- BRIGA! BRIGA! – Lithos olhou indignada para Aioria e se soltou dele, indo em direção a saída. O cavaleiro saiu logo atrás. – Ahhhhhhhhhhhhhhhh! – as vozes ao fundo lamentaram.

- Marin o que houve? – Toma perguntou ao ver a irmã se aproximar.

- Melhor a gente ir atrás daqueles dois. – disse também saindo da boate.

Do lado de fora da boate

- Por que fez isso Aioria? – Lithos dizia indignada.

- Por que fiz isso? Eu é que tenho de perguntar o que você estava fazendo, o que pensou pra beijar aquele cara?

- Aquele cara tem nome, ele se chama Toma. E que eu saiba ele é irmão da sua noiva. – Lithos evitava olhar para o cavaleiro.

- E por isso você o beija na frente de todos e eu fico na maior cara de tacho vendo meus amigos fazendo apostas sobre o que vocês iam fazer. E questionando que tipo de irmão sou eu... – Aioria levantava ainda mais a voz.

- Eu não sou mais criança Aioria, eu cresci, ou você não percebeu isso? – Lithos também levantara a sua. – E você não tinha o direito de se intrometer daquele jeito.

- Claro que tinha, sou seu irmão! – disse furioso. – E...

- VOCÊ NÃO É MEU IRMÃO! – Lithos gritou, liberando toda a raiva que sentia.

Gritou de raiva, primeiro pela vergonha que passara, depois pela intromissão na sua vida... Gritou porque queria deixar aos quatro cantos de que entre eles não havia nada... Nada... E que ele não tinha o direito de tratá-la daquela forma. Ele não era irmão dela...

As lágrimas caíram e o silêncio surgiu aterrador. Aioria olhava assustado para a jovem a sua frente, chorando, os olhos repletos de mágoa... A frase ainda ressoando em sua cabeça... Ela estava certa, ele não era seu irmão e ela não era mais criança. Ele não tinha mais nada haver com ela, estava atrapalhando. E só tinha feito aquilo por... Ciúmes.

Ciúme por que a atenção dela não era mais para ele, porque a garotinha que estava sempre ao seu lado tinha crescido... Ciúme porque... Simplesmente não queria vê-la junto de quem quer que fosse.

Marin e Toma chegaram nesse momento. Aioria estava arrasado em um canto, em silêncio e Lithos chorava... Marin ouviu as últimas frases e sabia o porque daquele clima. Toma se aproximou em silêncio da garota, oferecendo sua mão.

- Vem Lithos, eu te levo pra casa! – disse pegando-a pela mão para depois abraçá-la e saírem juntos em direção ao santuário.

Aioria ainda tentou contestar, mas seus olhos se encontraram com os de Marin. E não gostou do que viu, o brilho deles era severo e triste ao mesmo tempo.

- Acho que precisamos conversar Aioria. – disse ríspida.

- Marin eu... – ele não sabia o que fazer.

Aioria abriu e fechou a boca varias vezes, tentando encontrar na sua mente, alguma palavra, alguma frase com nexo, que pudesse explicar tudo o que estava acontecendo a Marin. Mas como explicar, se tudo estava tão imerso no caos? Antes que ele pudesse pensar mais, e tentar dizer o que não conseguia, Marin levantou a mão, num gesto de interrupção.

- Antes de você falar alguma coisa, eu quero saber, Aioria, o que é que deu na sua cabeça para fazer essa besteira?

- Eu...

- Me ouça. A Lithos já disse Aioria, pare de se preocupar com ela! Ela já é crescida! Ela é madura o suficiente para saber com quem se envolve.

- Crescida? A Lithos é só uma criança! O que são dezoito anos? Nada, Marin! Dezoito anos não são nada! – o leão finalmente reagiu. – E se aquele cara fizesse alguma coisa com ela, eihn? Eu sou responsável por ela e não me arrependo do que eu fiz.

Marin sentiu uma certa raiva em seu peito.

- Com dezoito anos nós já servíamos Athena e até antes disso, enfrentamos Titãs. Viramos defensores de Athena com dez, nove anos. Mas dezoito anos não são suficientes para um beijo? Para uma dança? – a voz de Marin estava calma. – Ou simples fato de ela estar com alguém te irrita tanto assim? Ciúme?

Aioria ficou mudo. Mas não houve silêncio. Marin continuava a dizer tudo que mais tarde ele reconheceria que estava certo.

- Ela não pediu sua ajuda, Aioria! Você não tinha e nem precisava se meter! O que eles estavam fazendo de errado? Se beijando! Por Zeus! Isso não pode existir Aioria, esse ciúme de irmão não é assim!

Aioria sentiu uma pontada no peito.

- Se não é ciúme é o que então? Eu não conheço direito aquele cara! E todos estavam falando dela! Que droga! Agora nem proteger a Lithos eu posso mais!

- O que pretendia com aquela ceninha ridícula, eihn? Se impor? Dizer que a Lithos só faz o que você quer? Dizer que nenhum homem pode chegar perto dela? Ela não é sua irmã e tem todo o direito de fazer o que quiser da vida dela! Aquilo não é proteger, Aioria! É proibir! O que o Toma tem de errado pra Lithos ser protegida dele? Ele não é uma ameaça! E aquele cara é meu irmão e confio nele!

- Como pode confiar nele? Você mal passou sua vida com ele, Marin! Você nem o conhece direito e até pouco tempo atrás ele era nosso inimigo! Eu o mataria se fizesse qualquer coisa com ela.

Marin sentiu seus olhos queimarem e no estante seguinte não viu mais nada, a não ser sua mão na face do leão. No instante seguinte se virou. Não queria mais ver Aioria. Uma noite estragada por um ataque ridículo de ciúmes.

- Marin... – ela ouviu ele chamando.

- Quando você estiver mais civilizado, me procure. Mas resolve seus problemas, por que esse ciúme está passado dos limites de irmão pra virar outra coisa.

E foi tudo que ela disse, antes de ir embora.

Desde a boate até o caminho do Santuário Lithos não disse nada. Vez por outra Toma ainda checava seu rosto, ás vezes para secar suas lágrimas, ás vezes para ver se estava bem. Ao mesmo tempo, tentava achar uma palavra de consolo. Às vezes era difícil consolar alguém, principalmente pela raiva que sentia por Aioria. Se tentasse talvez machucaria Lithos e isso era o que menos pretendia.

Ao entrarem no Santuário, puxou-a pelo braço, até sentarem num dos degraus da escadaria de Touro, e ele falou, sem jeito, mas com toda a sinceridade possível:

- Sei que essa pergunta é estúpida, mas está tudo bem? Eu não sei consolar as pessoas direito, mas... Se quiser desabafar, eu fico quieto e te escuto.

Lithos sorriu tristemente.

- Obrigada por perguntar. Ai, Tôma... Porque ele tinha que fazer aquilo? A noite estava sendo tão legal...

Em seu interior, Tôma se sentiu feliz por saber que a noite estava sendo boa. Ele também pensava o mesmo. Mas não quis interromper a garota.

- Eu sei que ele se sente responsável por mim, foi ele quem me criou e tudo, mas mesmo assim, ele não tem o direito de mandar na minha vida, né? Poxa, a gente não tava fazendo nada de errado ali. Eu sinceramente confio em você e a Marin é sua irmã, por isso o Aioria devia confiar em você também. Mas é tudo tão difícil... Eu acho que não tinha necessidade desse ataque todo de ciúmes. O Aioria me decepcionou muito. Eu não esperava isso por parte dele. Eu sou crescida, sei o que é bom ou ruim para mim.

Ele colocou a mão no seu ombro e apertou suavemente. Como se assim pudesse passar toda a força para ela.

- O Aioria é um idiota. – foi o que falou. – Tem uma irmã linda, que o ama tanto... e nem se quer valoriza isso.

Lithos corou levemente, mas Toma não percebeu.

- Eu demorei muito tempo pra achar minha irmã, Lithos. Estava até desistindo. Hoje ela é tudo para mim. E sei que não quero perde-la de forma alguma. Eu vi o Aioria e sei que ele cuida muito bem da Marin. Só que infelizmente, é um cabeça dura do caramba, que não vê que tem uma irmã para proteger e não para ditar o destino.

Ela sorriu, relaxada. Em tão pouco tempo, Toma já lhe parecia um ótimo amigo. Era inteligente, bonito, educado. E além do que, a noite tinha sido tão boa... O beijo tinha sido maravilhoso...

- Não o culpe, Lithos. Ele está errado, mas acho que só estava mesmo tentando te proteger. Só que fora dos limites. Não concordo com a atitude dele, mas até entendo.

Toma sorriu de volta. Colocou sua mão sobre a dela, e gostou do fato de ela não ter puxado a mão. Ficaram assim... um tempo em silêncio, só pensando no que dizer um ao outro.

- Está com muita raiva? – Lithos perguntou.

- Estou um pouco. Mas deixa, eu melhoro depois. E você?

- Só decepcionada. Acho que minha raiva passou no caminho do santuário e com essa conversa. Agora estou mesmo é cansada.

- Então eu te levo até a casa de Leão. Toma um banho quente pra relaxar e dorme bastante. Acho que ele não vai querer te incomodar, minha irmã não ia deixar eu fazer isso.

Toma se levantou e puxou Lithos delicadamente. Subiram as escadas até leão.

- Obrigada por me ouvir. Vou fazer o que você disse, só não sei se vou relaxar.

- Bom, pelo menos tenta. E qualquer coisa, eu estou aqui. É só ligar que eu venho correndo, viu?

A garota sorriu e Toma quase cedeu a impulso de beija-la.

- Que foi? – ela estranhou o tanto que ele olhava.

- Nada... É que você tem um sorriso bonito. Bem, está entregue. Estou cansado também, vou dormir.

- Boa noite.

- Boa noite!

E ele foi embora. Lithos ainda ficou na porta esperando ele sumir pela casa de Câncer. Que noite, eihn! Só esperava que tudo se normaliza-se amanhã. Mas sabia que não seria tão fácil e nem tão rápido que tudo se resolveria.

Durante o banho sorriu pensando em Toma. Toma... queria muito que as coisas dessem certo entre eles. A vida dava tantas voltas, não é? Mesmo assim, sabia que não era nem paixão, nem amor que sentia pelo rapaz. Era uma amizade gostosa. Infelizmente era por Aioria que seu coração batia forte. Mas era ele quem mais estava a machucando.

Continua...