Título: O Despertar Do Sol
Gênero: Yaoi, Lemon, U.A, Sobrenatural
Personagem principal: Dante De Sparda
Autores: Jade Toreador/ Scarlet Toreador
Status: Incompleto
Sumário: Em sua busca por vingança, Dharr se envolve com Dante de Sparda, um demônio metade humano que detém não somente uma força imensa, mas também as rédeas de seu destino. Vingança, ódio, desejo e amor se misturam nessa história.
O Despertar Do Sol
Capítulo 1
Dante dificilmente olhava para o passado ou se preocupava com o futuro. Vivia o presente, e só. Seu espírito indômito, imortal, o fazia beber da vida como se ela fosse um vinho saboroso, mas extremamente dispensável... Ao mesmo tempo em que sorvia os prazeres e alegrias da vida humana, o lado demoníaco do seu ego olhava tudo e todos com uma apatia extrema, temperada com um senso de humor cético e descrente de tudo que não fosse ele próprio...
Demônios nunca choravam, dissera ele uma vez para Mary, a garota de alcunha "Lady" que presenciara a sua desventura de se confrontar com Virgil, o gêmeo dele, Dante, pelos poderes de Sparda, o pai deles dois, o grande demônio que um dia selara o portal do inferno, isolando o mundo humano do demoníaco...
O inferno...
Dante estava naquele instante olhando para o céu. Uma lua cheia, muito avermelhada, saíra da paisagem e subia agora por de trás do letreiro luminoso "DEVIL MAY CRY"... Ali, onde aqueles dizeres em néon brilhavam, era o seu lar, o seu negócio, sua "toca", como gostava de dizer... Aquele nome, que o letreiro exibia, lembrava-lhe que ele, meio humano, meio demônio, fora capaz de soltar lagrimas um dia... Por Virgil... Seu irmão...
Demônios podiam chorar? Bem, ele podia. Tinha sangue humano misturado no sangue imortal dos demônios... Pensar em Virgil, diante daquela lua sangrenta, lhe dava um certo pesar, um mau presságio até... Muitos anos haviam se passado, e Virgil se fora para sempre... Mas o que lhe oprimia a alma então? Ah, sentia um perigo iminente...
O portal estava lacrado...Mas estariam os demônios planejando uma nova tentativa de unir as dimensões entre os mundos humanos e demoníacos? Nem Deus sabia...
Mas os sinais, ah, sim, ele, Dante, podia percebê-los: o papa morrera...As tsunamis destruíram cidades... As constelações se alinhavam de modo a propiciar a proximidade da dimensão demoníaca do mundo mortal... O próprio Apocalipse bíblico prometia, com esses sinais, a proximidade da "Besta", símbolo do reino das trevas! Seu pai, o demônio Sparda, retardara a invasão demoníaca e, ele, Dante, agora, jurara fazer o mesmo, mas... Um novo ciclo, uma nova ameaça, estava para acontecer... Sentia isso na pele!
Uma coisa era assistir "Constantine" no cinema e achar graça da capacidade humana de transformar a realidade numa ficção banal...Outra coisa era saber a verdade.
Se os humanos soubessem que os demônios estavam, exatamente como no filme, à espreita de uma chance de deslacrar o portal dimensional entre os mundos, imortal e mortal, e adentrar na terra... Ah, tolas criaturas os humanos, que não percebiam os sinais proféticos em tudo aquilo!
Achavam que era imaginação a intuição da verdade alarmante... E comiam pipocas no cinema enquanto viam Keanu Reeves lutar contra demônios tentando atingir as dimensões terrestres! Não era o que ele, Dante, fazia desde sempre? Lutava contra os demônios que tentavam derrubar o lacre que seu pai impusera ao portal...
Dante apanhou a espada de Sparda, seu pai, e a reluziu no ar... Que viessem os demônios! Estaria preparado para eles como sempre estivera desde a morte de seu pai... E os humanos que continuassem sem perceber a própria cegueira!
Dante de Sparda rodopiou a espada, brincou com ela, depois entrou no salão do seu escritório e a atirou na parede. Displicentemente, jogou seu sobre-tudo vermelho sobre a mesa, apanhou um pedaço de pizza fria que estava por ali e abriu o frigobar para pegar uma lata de cerveja. Não precisava alimentar-se. Mas gostava da sensação de mastigar e beber, exatamente como gostava de sexo. Sim, do sexo precisava bem mais do que de comida! Era uma sensação humana fútil para um demônio, mas... Muito prazerosa. Como aquela cerveja...
Apanhou a cerveja e a bebeu de um só gole... Foi quando ouviu um ruído estranho na porta...
- Ainda não abri, volte depois...
Mais um som estranho... Apanhou suas duas pistolas automáticas, que sempre ficavam presas em coldres ajustados em suas costas, e deu salto espetacular, indo parar na janela do escritório que ficava ao alto, quase junto ao teto.
Viu a hora em que três homens começavam a disparar uzzis contra sua nova moto e contra seu escritório... Entraram atirando em tudo...
Saltou, enquanto as balas furavam as paredes, sua bateria, e também suas caixas de som... A moto explodiu, fazendo uma bola de fogo incandescer diante do seu estabelecimento comercial, a agência mercenária "Devil May Cray...".
Ao contrário do que se poderia esperar, os olhos lindos de Dante brilharam de satisfação... Ele sorria! Seus cabelos louríssimos, quase brancos, reluziam o avermelhado das chamas...
- Ah, pelo jeito, a festa vai começar... Eu adoro isso...
De onde estava, Dante desceu num salto acrobático, atirando em tudo que se movesse... Piruetas fantásticas, possíveis graças apenas à sua natureza semi-demoníaca. Em fração de segundos, jaziam vários corpos pelo chão que agora recebia poças crescentes de sangue em toda a sua extensão...
O olhar translúcido de Dante era frio agora, mas havia ainda um sorriso cético nos lábios bonitos...
- Simples humanos...
Ajoelhou-se ao lado dos corpos e começou a examinar os bolsos das vestes... Não encontrou documento algum. Mas, subitamente, vislumbrou no pescoço de um dos cadáveres o desenho de uma cobra mordendo a própria cauda, símbolo do infinito. Dentro do círculo, desenhos egípcios representando Amon Rá, o grande Deus Sol... Estremeceu. A seita de Akenaton, o faraó que desafiara sacerdotes e Deuses para proclamar a existência única do Deus Supremo Amon.
Desde tempos imemoriais, esta seita cultivava o Deus egípcio e se dedicava ao ocultismo, principalmente à desvendar os mistérios do além... Do sobrenatural... O que queria a Akenatistas com ele, Dante? Matá-lo? Não, de certo que não. Ou não mandariam humanos simplórios com armas medíocres... Queriam despertar sua curiosidade e haviam despertado!
Ninguém sabia ao certo onde ficavam os praticantes dessa antiguíssima seita, nem mesmo ele, Dante, mas um semi-demônio, e também detetive, como ele, de certo não iria deixar de conseguir obter alguma informação...
Iria até o Al Mahakan, restaurante egípcio do centro da cidade... Lá, sempre havia vibrações cósmicas estranhas... Poderia ser um reduto da seita... Ali, de um jeito ou de outro, conseguiria informações para levá-lo até o cretino que mandara aqueles tolos para destruir sua moto nova e sua bateria...
Riu. Já era a terceira vez que comprava uma bateria musical nova para ser estraçalhada por monstros ou balas...
ooOoo
A decoração era a esperada de um restaurante egípcio... As paredes altas, como as antigas tumbas, repletas de símbolos e desenhos... Na decoração, enormes estátuas de Anúbis saudavam os visitantes. Eram estátuas que pareciam vivas, do mármore negro mais puro... Algo que impressionava leigos em egiptologia e também os experts do assunto...
Dante entrou devagar, daquele seu jeito gingado, meio boêmio, olhando tudo e todos com indiferença. Seu porte atlético, seus cabelos muitos brancos, e, principalmente, seu longo casaco vermelho, que usava sem camisa alguma por baixo, impressionavam os freqüentadores dali tanto quanto o ambiente exótico.
Era uma beleza ferina, que agradava olhares masculinos e femininos. Mas Dante, filho do grande Sparda, não dava a mínima para o frisson que sempre causava quando entrava num lugar público. Estava absorto em sentir auras, energias, queria vislumbrar ali espíritos, espectros ou mesmo demônios encarnados em gente possuída. Mas para a sua frustração, naquele momento, por ali parecia haver apenas humanos...
Será possível que errara no seu palpite? Não havia ali nada de anormal... Se fosse um reduto akenatista, bem, eram humanos, pelo que sabia, mas diziam os boatos que eram dotados de poderes telepáticos consideráveis... Boatos, pelo jeito. Se existissem mesmo, pela visita medíocre que ele, Dante, havia recebido no seu reduto, não passavam de humanos simplórios...
Pela câmera de vídeo Dharr Dhul Figar viu a entrada que pretendia ser discreta de Dante. Respirou fundo, esticou os dedos alongados e seu olhar felino se estreitou ainda mais. Sentiu sua espinha se arrepiar, mas não moveu nem um músculo de seu rosto perfeito. Ouviu uma voz...
- Ele entrou no salão, senhor... E agora?
Figar levou apenas alguns instantes antes de responder:
- Agora o temos onde ele precisava estar! Tenham calma e não se precipitem! Se alguma coisa sair errada hoje prometo pelos Deuses que não terão as cabeças sobre o pescoço amanhã.Vou descer ao salão...
A túnica branca cobria corpo de Figar com ambigüidade. Ele fechou sua mente para qualquer pensamento em relação a Dante e entrou no salão da boate dirigindo-se direto a sua mesa particular...
Sabia que Dante de Sparda iria perguntar pelo dono do lugar... E que iria se apresentar a ele... E assim foi. Logo um dos seus "leões de chácara" apareceram e disseram que o homem louríssimo exigia ser apresentado ao proprietário do restaurante...
- Mande-o entrar...
- Devemos desarmá-lo?
Figar sorriu, um sorriso lindo, mas frio...
- Ele é um matador mesmo com as mãos nuas... As armas não fazem a menor diferença... Deixe-o entrar...
Os seguranças obedeceram, e conduziram Dante à presença de Figar...
Olharam-se, medindo forças... Dante não se impressionava com nada, mas há centenas de anos, não se lembrava de ver um rosto exótico e singular como aquele... Bonito demais para ser humano... Uma pena... Em poucos anos, como a flor arrancada do plantio, iria fenecer...Um olhar altivo, nobre, mas de qualquer forma... Humano...
- Você é o manda chuva aqui?
Dahr sorriu... "Dentes perfeitos", pensou Dante...
- Sou, desde que o antigo dono se mudou novamente para o Cairo... Você é filho do Grande Sparda...
Dante abriu os braços, rindo, com ironia...
- Para minha fama me preceder até num boteco egípcio, é porque vocês de certo conhecem os Akenatistas, estou certo?
Darh ampliou seu sorriso...
- Antes de responder a sua pergunta, faço outra: porque deseja saber?
- Estou de muito mau humor, com minha moto, meu instrumento musical e meu escritório destruídos por três humanos idiotas, um deles tinha o símbolo sagrado de Amon...
Dharr Dhul Figar encarou Dante com seus olhos de gato enquanto seu sorriso morria no rosto, disse então num tom tão baixo que senão fosse Dante de Sparda metade humano, metade demônio, sequer teria ouvido:
- Siga em frente movido pelo animo e iluminando com esperança o seu caminho...
Ficaram se encarando por alguns instantes, por questões de segundos Dante quase se viu envolvido pelos olhos amendoados da cor de mel que produzia um contraste fascinante na pele morena..."Um feiticeiro talvez...!" Foi o que pensou Dante fazendo um esforço e livrando-se da presença forte daquele olhar.
- Não seja piegas! Não lhe cai bem esse tipo de dito popular...
Sem deixar de fitar Dante, Dharr perguntou:
- Posso saber porque não?
- Não são palavras para um assassino...
A boca perfeita de Dharr se abriu num sorriso, ele se aproximou de Dante e com uma ousadia singular passou a mão pelo seu peito nu por baixo do casaco vermelho, os cabelos negros ocultavam sua expressão e mais uma vez sua voz só foi audível devido à audição aguçada de Dante...
- Acredite, eu nunca... Nunca matei nenhum tipo de ser vivo... Você é tão... Quente... Pensei que não tivesse sangue correndo em suas veias...
Dante sentiu um arrepio delicioso de desejo, totalmente involuntário, mas que estava ali, atormentando-o, de qualquer forma... Não era um tipo que se envolvia com homens. De longe, preferia as mulheres, macias, tenras, e disponíveis... Era-lhe uma surpresa desagradável, até, perceber que aquele egípcio exótico tinha um forte poder sobre sua libido. Feitiço? Duvidava. Se havia algum, era o da carne, um feitiço natural entre corpos bonitos e fogosos... Um feitiço que existia desde os primórdios da humanidade...
O mestiço homem-demônio fez um esforço considerável para se afastar um pouco. Seus olhos claros percorriam a boca macia e o pescoço de Figar, perguntando que gosto teriam eles ao toque... Retrucou:
- Meu sangue agora não é a questão... Dharr Dul Figar. Não é esse o seu nome?
Dharr assentiu, sorrindo...
- Telepatia?
- Perguntei seu nome para uma das dançarinas...
As bocas ainda estavam muito próximas. Dharr estreitou os olhos, um brilho de pura libido brilhando nas íris, que pareciam feitas de puro mel...
Dante desviou mais uma vez o olhar...
- Porque recebi a visita indesejável no "Devil May Cry"?
- Lamarin, filha do antigo demônio celta Hamaron, uma híbrida, como você, foi seqüestrada e levada ao umbral que fica entre os mundos humano e demoníaco... Temo que ela esteja sendo usada em algum ritual para abrir a porta dos dois universos...
- Impossível. Meu irmão Virgil foi o último que tentou a façanha e se deu mal...
Dharr estremeceu a simples menção do nome de Virgil. Por anos, dezenas deles, Virgil fora seu amor e amante, e por culpa do seu odiado irmão, Dante, Virgil estava desaparecido...
Morto... Um semi-demônio destruído pelo seu próprio irmão...
No confronto entre os filhos de Sparda, Dante fora o guardião do portal mais uma vez e frustrara a tentativa do irmão em se tornar o senhor do mundo demoníaco ao abrir o portal... Ah, mas isso não importava agora, além da sua... Vingança... Era uma palavra muito doce, mesmo para ele, Dharr...
Dharr caminhou vagarosamente, exibindo na transparência da túnica egípcia um corpo deliciosamente andrógeno. Parou diante de um pequeno baú, e sem delongas, abriu-o, espalhando centenas de gemas preciosas diante dos olhos de Dante...
- Preciso resgatar Lamarin... Desejo seus serviços para isso, e também para proteger a ordem dos ataques demoníacos quando formos resgatar a sacerdotisa de Amon...Tudo leva a crer que demônios a levaram...
- Lamarin é uma sacerdotisa de Amon?
- Sim, como ela, acredito que outros vão ser seqüestrados, e por isso quero seus serviços, para protegê-los e evitar que fiquemos vulneráveis... Cinco sacerdotes, mais os rituais secretos de Amon, podem quebrar o selo do umbral...
Dante estava pensativo...
- Mensageiros demoníacos conseguiram atravessar o umbral para fazer o seqüestro...?
- Ao que tudo indica sim... A elite do universo negro pode conseguir passar em pequeno número, mas jamais formar um exército de invasão na terra, fazendo o selo apocalíptico do umbral... É justamente esse o ponto... Se os sacerdotes de Amon forem obrigados a revelarem os seus antigos segredos de telecinese e transporte aos demônios, nem o encanto do grande Sparda evitará que a terra seja invadida pelo exército infernal...
Dante suspirou... Começou a brincar com uma grande esmeralda, rodopiando-a entre os dedos...
- E quebrar a minha moto fez parte do seu poder de persuasão para que eu os ajude?
A voz de Dharr soou cheia de segundas intenções...
- Peço desculpas, mas o teste era necessário para provar aos outros sacerdotes que você era capaz de protegê-los... Mas posso usar outros métodos para persuadi-lo, se você desejar...
Dessa vez, Dante resolveu não ignorar a tremenda atração que sentia: puxou Dharr para si, e atrevidamente, lhe deu um beijo deliciosamente longo, onde sua língua penetrou avidamente a boca do outro... Dharr gemeu de susto, depois de prazer. As línguas se entrelaçaram como cobras fogosas, acendendo o corpo de ambos, mas, subitamente, Dante interrompeu o beijo, e disse...
- Fico apenas com as gemas, é o suficiente.
Recolheu as pedras no baú e o colocou sob os braços... Dharr ficou indignadíssimo. Muito lindo com a respiração descompassada, os olhos brilhando em raiva e desejo. Atrevido! Ousara beijá-lo e agora... Repudiava-o? Nenhum mortal, homem ou mulher, ou imortal, como os demônios e spectros, haviam feito algo assim em centenas de anos... Iria Dante fazer engolir aquela empáfia, ah, iria!
Dante estava se afastando, mas Dharr o chamou...
- Filho de Sparda!
- O que é?
- Se aceitou as pedras preciosas, deve agora prestar lealdade aos sacerdotes para ser aceito como o nosso Protetor...
- De acordo com os rituais antigos de iniciação?
- Exato.
- E quem é o grande sacerdote?
- Na ausência de Lamarin, eu.
Dante gargalhou...
- Eu deveria ter imaginado... Muito bem, se me garantir outro baú desses, me submeterei ao ritual com você...
Dharr estremeceu como se houvesse levado uma bofetada no rosto bonito. Sua voz soou mais uma vez quase imperceptível, mas era cheia de ira contida agora:
- Jamais paguei mortal ou imortal para se deitar comigo, muito menos, nos rituais secretos do Templo de Amon...
Dante estava mesmo impressionado com a beleza ferina do outro... Mas fingiu que não. Deu um sorriso jocoso, como um cafajeste quando vê uma moça bonita...
- Ora, Dharr, para tudo há uma primeira vez... Se me quer no ritual como grande protetor do Tempo de Amon e que eu ache a sacerdotisa desaparecida, me arrume mais algumas pedras como essas... Caso contrário, não estarei no templo na noite de lua cheia para a iniciação...
As mãos de Dharr se crisparam de raiva... Tinha que vingar a morte de Virgil... Mas aquele atrevido não perdia por esperar... Sua vingança seria doce...
- Trato feito.
Sem dizer mais nada, Dante saiu sem olhar para trás.
Dharr estremeceu, a força, a áurea daquele homem era muito forte, estreitou os olhos respirou fundo, o corpo ainda clamando por satisfação. Mordeu os lábios, a única coisa que o deixara satisfeito era que tinha certeza de que Dante de Sparda o considerava apenas um humano. A prova de fogo estava feita e aquele que devia morrer não tinha sentindo a força poderosa dele, Dharr!
Lançou os olhos ao redor da boate. Um rapaz com jeito arrogante, muito masculino, chamou sua atenção. Concentrou-se nele até que o rapaz olhou em sua direção. Ele, Dharr sorriu, e então o rapaz começou a se aproximar. A garota que estava com ele ainda tentou segurá-lo, mas o moço a empurrou para longe Aproximando-se de Dharr e disse a voz com um forte sotaque:
- Eu te conheço de algum lugar?
- Abordagem medíocre a sua...
- Como?
- Nada, para o que eu quero você serve. - Dharr olhou para seus homens e com um gesto de cabeça indicou-lhes o que fazer e então disse para o rapaz... - Vá com eles que eu te prometo uma noite como você jamais teve em sua vida mundana...
Já rendido por uma forte hipnose o rapaz seguiu os asseclas de Dharr. A boca do egípcio ainda sentia o gosto de Dante, mas ele sorriu e seu sorriso foi frio... Ainda veria aquele demônio implorando por ele!
Dharr subiu para ficar com o humano pelo resto da madrugada...
ooOoo
Poucos dias depois, Dante foi avisado em sonhos, por dois sacerdotes de Amon, onde era o local sagrado do templo.
Acordou cheio de uma estranha paz interior, mas também movido por uma forte inquietação. Podia sentir um perfume adocicado no ar, um perfume que lhe lembrava... Dharr, os olhos de mel... Era como se a energia dele estivesse impregnando o ar...
Dante dormia completamente nu. Ergueu-se da cama e abriu a janela, deixando a luz fria da lua iluminar seus músculos deliciosamente perfeitos, sem se importar com a excitação que intumescia a virilidade do seu órgão.
Sorriu... As estrelas mostravam que era o dia da iniciação dos seguidores de Amon... Dharr estava lá, esperando por ele. Como grande sacerdote, substituindo Lamarin, teria que fazer com ele, Dante, todo o cerimonial do templo... Isso seria no mínimo... Interessante. Percebera no humano uma leve irritação na aura, como se não gostasse dele... O que deixava aquilo muito mais... Promissor!
Dante, de repente, saiu do quarto e deu um salto acrobático descendo para o andar de baixo sem usar um único degrau.
Vestiu-se com velocidade sobre-humana, colocou nas costas os coldres com sua automática e subiu na moto, uma outra nova, que comprara com uma ínfima parte do que valia uma única gema preciosa que o Sacerdote lhe dera. A moto ficava guardada ali mesmo na sala. Dante acelerou e abriu a porta frontal do "Devil May Cry" com seu poder telepático. Saiu dali numa velocidade assombrosa, numa roda só, "voando baixo" rumo ao tempo secreto do poderoso Akenaton, o faraó que fora punido por adorar Amon e desprezar os outros Deuses...
ooOoo
Dharr estava de frente ao espelho, mas seus olhos estavam fechados. Tinha as mãos postas como se fosse em oração, no entanto, a palidez de sua pele morena denotava uma espécie de transe. Ele não parecia presente, um ar gelado percorreu o salão fazendo com que os seus seguidores estremecessem:
- Ele não diz nada. Há horas, está assim parado nessa posição como se...
- Fique quieto! - disse um rapaz louro de belos olhos verdes-jade – ele está sempre presente mesmo que não pareça estar!
- Mas como pode?
- Ele é a espada do profeta! Ele tudo pode e nem precisa de permissão! Se quiser ser um de seus seguidores apenas observe e obedeça!
Naquele instante Dharr abriu os olhos e foi como se uma luz ofuscante inundasse todo o salão.
- Ele já esta seguindo para o templo. Vão todos, estarei com vocês em breve. Deixem tudo preparado!
ooOoo
Sozinho no grande salão, Dharr dessa vez fitou-se no espelho. A túnica branca e transparente mal disfarçava seu corpo nu! Os longos cabelos negros caiam em suas costas, brilhantes como um manto de estrelas de ônix:
- Virgil esteja ao meu lado, hoje começara a nossa vingança!
Sem esperar mais ele foi para o templo que estava oculto nos subterrâneos do da boate. Ninguém que visse o bar por fora poderia imaginar que pudesse esconder tanta riqueza em suas profundezas, as paredes pareciam feitas de puro ouro!
Dharr Dhul Figar entrou no templo seu corpo envolto em uma capa branca que escondia a transparência da túnica.Os olhos dourados estavam marcados pelo kajal dando-lhe uma expressão ainda mais fascinante. Em suas mãos trazia um baú delicado do mais puro alabastro. Só se ouvia o mais profundo silêncio no interior daquele lugar que parecia muito, muito distante do século XXI.
Seus pupilos, altos sacerdotes de Amon, em número de dez, ao todo, se colocaram em volta dele entoando canções em uma língua antiga que evocava os espíritos elementais criadores do mundo...
Dharr fechou os olhos mais uma vez e, com sua força energética poderosa, fez o grande pentágono se fechar em raios de luz que passava pelos sacerdotes que serviam de vértices e criava um campo energético poderosíssimo...
ooOoo
Na câmara que levava as profundezas subterrâneas do templo oculto sob o restaurante, Dante sentiu aquela força energética assustadora. Pouca coisa o assustava, mas o fato é que aquela quantidade de emanação cósmica era possante demais, até para um demônio ou spectro! Apenas anjos, ou semi-Deuses, eram capazes de ter uma energia daquela... Quem estaria emanando aquela força, que era tão onisciente que ele podia senti-la mesmo dali, de onde estava?
Dante caminhou... Foi recebido pelos servidores do templo. Apaticamente se deixou banhar e se perfumar... Havia ali, indistintamente homens, mulheres e espectros...
Dante percebeu também um discreto vampiro, sim, sabia-o assim porque sua aura era própria dos da espécie... O cara ficava ali, parado, esperando o desenrolar daquele banho cerimonial... Era um segurança de certo, mas estava num silêncio respeitoso... Sabia que ele, Dante, poderia cortar seu coração vampírico no meio com a grande espada de Sparda...
O nível energético que Dante sentia ainda o impressionava... Aos poucos, aquilo foi diminuindo, mas ainda havia uma forte emanação em todo o local.
Dante recusou a túnica branca:
- Prefiro o meu casaco vermelho de sempre...
- Não pode entrar no ritual com suas roupas comuns...
- Se me quiserem nele, vai ter que ser assim...
Sem esperar que o vestissem, enfiou-se na sua calça justíssima, colocou o casaco vermelho e as botas... Entrou altivo na sala principal do tempo... Soltou uma exclamação súbita de admiração quando viu Dharr na sala principal do templo...
Era mesmo impressionante a figura Dharr parado no centro de luz que emanava do pentágono! Os olhos abertos exibiam um brilho impressionante! Dante sentia seu coração se acelerar, a adrenalina correr mais forte... Dharr caminhou descalço sobre o mármore negro aproximando dele, Dante! Seus pupilos fizera um semicírculo atrás dele, cinco de cada lado. Por um instante Dante pensou que fossem todos iguais, tão parecidos eram...
Os olhos frios de Dharr fixaram-se nele, abriu o baú do mais puro alabastro egípcio e ali dentro brilhava uma pedra enorme acomodada sobre o veludo vermelho... A voz de Dharr soou então como se fosse música:
- Uma luz no céu que parecia um segundo sol se aproximava. Na verdade, ela estava guardando a cidade de Akhet-Aten desde cedo naquele fatídico dia. Seu brilho aumentava na medida em que se aproximava do palácio real. Os saqueadores, atemorizados, ficaram estáticos, brandindo as suas armas manchadas pelo sangue. E o faraó, profundamente entristecido, entregou-se a um poder imenso e desconhecido. Nosso faraó Akhenaton foi à voz escolhida de Áton, pois o próprio Deus Único, como um disco flamejante, se aproximou da Terra e o levou, como se fosse um redemoinho de vento, sem voz. E Ele foi elevado, porque houve sublimes mãos que, de fato, O elevaram. Quem vai protegê-lo agora?
Dharr estendeu o baú para Dante, enquanto dois de seus discípulos retiravam sua capa deixando-o apenas com a fina túnica transparente envolvendo seu corpo.
Dante estremeceu. Conhecia aquela língua antiga, egípcia, falada pela alta nobreza: Faraós e sacerdotes... Era a lenda de Amon. Talvez nem fosse lenda. O ritual tinha uma poderosa força mágica!
Dante subitamente sentiu uma força telepática poderosa, era os discípulos de Dharr lhe dando mentalmente as palavras que deveriam ser respondidas no ritual... Estremeceu. Sentiu uma excitação estranha, que sentia só quando via o perigo pela frente... Respirou fundo e respondeu...
- Eu o protegerei! Eu, o Grande Protetor do Templo, escolhido por Ísis, Senhora da Terra, para proteger Amon, Senhor Eterno dos Céus... Eu, Filho de Sparda, me torno agora o grande protetor, o senhor absoluto da antiga sabedoria, o guerreiro que irá fazer o Alto e o Baixo Nilo serem eternos... Eu sou o Protetor de Amon... Eu acolho o seu sacerdote...
Os olhos de Dharr brilharam como se tivessem luz própria. Seus lábios perfeitos pareceram encarnados, cheios e saborosos quando perguntou na antiga língua egípcia:
- Agora e sempre?
Dante respondeu antes mesmo de perceber:
- Agora e Sempre!
Dharr então se ajoelhou aos pés de Dante e erguendo o baú que continha o mais puro Rubi brilhante como sangue disse:
- Salve, belo sol, Governante do Dia. Nasça pela manhã para iluminar meu caminho. Por todas as manhãs enquanto durar o meu desígnio...
Dante respondeu:
- Recebo você com a luz que reverbera na alma e na paixão que queima em cada ser vivente...
Dante disse a si mesmo que fazia o ritual por causa do enorme rubi que brilhava a sua frente, mas, no íntimo, sua alma fria, semi-humana, lhe dizia que não era bem assim... Aquele ritual estava mexendo com ele, de um modo paradoxalmente inesperado!
Aproximou-se de Dharr e o tocou, abraçando-o, o trazendo para si, como exigia o momento.
Ele, Dante, estava ali representando o Deus máximo Amon, o protetor. O sacerdote representava Akenaton e a humanidade acolhida e protegida... O êxtase da união entre divino e humano era a síntese do antigo ritual...
Não havia entre Deuses a conotação carnal mundana e estereotipada que havia entre humanos. Pouco importava se eram dois homens que estavam ali no momento. O que valia realmente era o que eles energeticamente estavam simbolizando no sagrado momento da união... A união espiritual deveria ser simbolizada pela união física.
E Dante, mais uma vez, sentiu uma forte inquietação tomando conta dele... Era-lhe difícil manter o controle mental, e principalmente, o físico. Como o "Grande Protetor" ele deveria aceitar o corpo de Dharr como sua âncora de fervor e paixão...
Dante colocou o antigo baú sobre o altar sacerdotal e se voltou para Dharr, seus olhos claros brilhando uma cobiça agora não mais disfarçada. O brilho dos olhos de Dante eram agora os de um demônio... Ele, lentamente, puxou para cima a túnica de Dharr, desnundando-o...
Dharr estremeceu não tanto pelo ar frio que percorreu sua pele, mas quanto pelo olhar do homem, semiDeus, Deus - demônio, alma andante que tinha a sua frente... Quem era aquele homem, de que fibra era feito...? Ergueu seus olhos que encontraram o olhar perscrutador de Dante de Sparda que mesmo sem saber, parecia perguntar a mesma coisa a ele... De onde você vem...? O que estamos fazendo aqui!
Os corpos se uniram, o corpo nu de Dharr colou-se ao corpo ainda vestido com o casaco vermelho de Dante. Estremeceu, as mãos de Dante pareciam ter calor além do humano naquele instante. A custo segurou gemido que seria profano naquele momento, as bocas quase se uniram, mas também não era direito, apenas o ato consagrava o elo espiritual...
Não se sabe de onde aconteceu uma chuva de trevos de quatro folhas, Dante sentiu-os caindo em sua pele enquanto mãos invisíveis tiravam o seu elegante sobre-tudo. O trevo de quatro folhas era considerado símbolo de Ísis, a Grande Deusa, e utilizado nos Rituais de Iniciação e em Rituais para o Amor e para a Sorte.
Vozes começaram a soar a volta deles num cântico:
"Ísis, Grande Deusa, eu te agradeço o presente que me deste e te rogo para que satisfaças o meu grande desejo de amor e proteção. Em nome do meu povo e minha crença guardarei este teu símbolo, mesmo quando tiver conseguido aquilo que desejo, em nome do amor que tenho por ti. Obrigado, Minha Senhora".
Depois que as vozes se calaram os corpo colados de Dante de Dharr que separavam-se apenas pela calça do humano-demônio pareceram se fundir em um só. Dharr afastou-se e deitando-se na grande pedra de mármore do altar de sacrifício disse:
- Eu me uno às Forças Cósmicas no Grande e Eterno Ciclo, que tudo pode e que tudo é. EU sou tudo. Grandes Forças Cósmicas descei sobre a minha alma e tornai-me poderoso. Eu vos agradeço, minhas Grandes Forças Cósmicas, e vos entrego meu amor e minha força. Estou protegido por seu poder Ó majestoso Deus e graciosa Deusa, de dia e à noite. Estou a partir de agora a sua mercê...
Dharr estendeu o baú para Dante, enquanto dois de seus discípulos retiravam sua capa deixando-o apenas com a fina túnica transparente envolvendo seu corpo.
Dante estava sob o forte impacto das forças mágicas do ritual... Sentia fremir sob a pele uma energia cósmica inexplicável. Era mesmo como se o próprio Amon lhe enviasse forças! Respirou fundo. Tolice. Era um semi-demônio, sobre-humano, não um impressionável! Os cânticos, os trevos de quatro folhas, tudo muito lindo, mas ele estava acima disso tudo! E se ele agora, representava Amon, podia agir ali como bem entendesse... Pelo menos, assim seria, durante o ritual...
Dante puxou para si o corpo de Dharr... Dessa vez, segurou a boca do moreno com força, e lhe deu um exigente beijo, que não admitia recusas. Dharr Dul Figar gemeu, primeiro de espanto e prazer, depois de indignação. Conseguiu desviar os lábios com dificuldade...
- Herege! Você...
Não conseguiu terminar o que dizia... O olhar de Dante era mesmo puro encantamento e cobiça. Por segundos, os olhos de Dante ficaram vermelhos incandescentes, demoníacos, depois novamente claros, azuis como um lago onde ele, Dharr, mergulhava profundamente...
A respiração de Dharr estava descompassada, pela magia, pela excitação. Por segundos, Figar tentou rebelar-se contra a terrível atração física que aquele semi-demônio lhe despertava. Era irmão do seu Virgil, o assassino dele, e ele, Dharr, estava ali para armar vingança, para seduzir Dante, não para ser seduzido!
Mesmo assim, algo mais forte do que seus pensamentos parecia lhe tirar as forças, a vontade própria... Libido, excitação... Uma força invisível parecia empurrar um para o outro...
Dante deitou novamente Dharr, com firmeza e ao mesmo tempo carinho, sobre a fria pedra de mármore que era o altar do templo... Acariciou o corpo macio com um toque firme e possessivo... Disse, sereno, mas decidido:
- Como Grande Protetor, eu exijo o meu direito ao seu corpo!
Sem esperar pela resposta de Dharr, Dante jogou seu casaco no chão e se despiu lentamente, fazendo seu corpo resplandecer uma luz própria e uma masculinidade deliciosa! Não se importava de serem assistidos pelos discípulos do templo. Sabia que há séculos intermináveis, assim podia acontecer nos rituais sagrados de Amon...
Dharr estremeceu, teve mesmo que usar de todo seu alto controle para não sucumbir àquele momento tão perigoso. Via o desejo nos olhos de Dante por mais que ele quisesse esconder, conseguia ver até um brilho de... Receio, mas não podia se regozijar, pois esse receio ele também tinha. Não podia desejar aquele corpo, aquele corpo era seu objeto de vingança e por Amon não iria se deixar envolver por ele.
Ergueu seu belo e exótico rosto e respirou fundo quando viu Dante nu em sua plena masculinidade.
- Por Amon, como seu sacerdote... Sou seu!
Dharr não fechou os olhos, eles estavam fixos nos olhos de Dante que assumia tonalidades variadas, mal sabia ele que seus olhos como Dante os viam pareciam feitos de puro ouro naquele instante. Dante cobriu seu corpo com o dele como um macho cobre uma fêmea. Os dois prenderam a respiração ao contato de suas peles, frio e calor, uma excitação que era quase dor. Muito baixo no ouvido de Dharr Dante disse:
- Levante suas pernas!
- Eu odeio você!
Dante riu ao mesmo tempo em que erguia as pernas de Dharr como se este fosse mesmo uma fêmea...
- Isso para mim não faz a menor diferença. Abra-se para mim e me aceite como... Seu dono!
Dharr não conseguiu responder a custo evitou um grito de dor quando Dante invadiu seu corpo de uma só vez com seu falo avantajado.
O cântico, os incensos, a cavalgada frenética, a dor... Dharr fechou os olhos por uns instantes, tentando ignorar tudo que não fosse a dor daquela posse rude. Seria bom sentir apenas dor, a humilhação de uma posse, mas... Céus, não era assim que estava acontecendo!
Logo depois das primeiras estocadas, a cavalgada furiosa foi se tornando prazerosa, tanto para um como para outro. A dor ainda existia, mas havia também um prazer crescente no ato carnal. O corpo de Dharr reagia deliciado a posse furiosa do semi-demônio. Mesmo que sua mente recusasse violentamente aceitar a se subjugar a Dante, seu corpo se entregava como um violino tocado por um spala.
De repente, o suor, o atrito dos corpos, a magia, tudo foi crescendo num grande frenesi. Dharr gritou, um grito que jamais havia ecoando antes nas paredes do templo. Um grito que era de êxtase e agonia ao mesmo tempo. Dante tapou os lábios deliciosos com uma mordida forte, e continuou sua cavalgada. De repente, no momento em que os dois quase atingiam o máximo do clímax deles, Dharr viu o corpo de Dante se transformar. Sua pele se tornou da cor azul púrpura, da cor do mar num dia nublado, a pele, ainda sedosa, era como um mármore polido... E asas. Dante era agora todo demônio, e tinha asas, e ainda tomando seu corpo, o levava para longe dali, galgando os céus de outras dimensões que ele, Dharr, ainda não conhecia... Não, era delírio aquilo, um delírio por causa do frenesi e dos incensos do templo...
Dharr fechou os olhos e respirou fundo, tentando dominar-se, livrar-se daquela visão estranha, que de jeito nenhum parecia ser alucinógena... Era o demônio Dante, agora, visto em sua plenitude! Como era possível uma visão tão linda de um demônio alado? Virgil, seu amor, irmão de Dante, quando se deitara com ele, jamais se mostrara na sua plenitude demoníaca... E agora, estaria Dante vendo também a verdadeira natureza dele, Dharr? Isso não podia acontecer... Não enquanto sua vingança não se completasse!
Dharr manteve os olhos profundamente fechados e a respiração suspensa. A coisa mais importante naquele instante era desviar sua mente dos pensamentos primordiais, das coisas que realmente importavam, pois não podia ter seu verdadeiro eu revelado a Dante. Mesmo enquanto tentava pensar em outras coisas Dharr era levado aquele momento... Sublime. Tentava pensar em alguma montanha no Tibet, tentava pensar no pior pesadelo de Hades, mas ainda assim continuava sentido Dante fortemente ligado a ele, muito mais do que qualquer outra pessoa jamais esteve...
Soltou a respiração lentamente, cada poro seu estava ligado de forma indelével a Dante. Os nervos ligados um a um. Alem de estar recebendo o sêmen de Dante dentro dele tinha a exata impressão de que estava o sangue do demônio como numa transfusão, uma hemodiálise... Simbiose perfeita! Por um instante teve certeza absoluta de que os corações dos dois batiam no mesmo ritmo... Uníssono.
Quando soltou todo o ar, como num exercício de fôlego Dharr ficou a esperar para ver quanto tempo conseguia ficar sem puxar o ar outra vez... Ainda sentia Dante latejando dentro dele... Sentia também latejando a vergonha dentro dele de ter gritado no êxtase, de ter se descontrolado. Na verdade tinha medo de abrir os olhos e ainda ver Dante em sua transformação, tinha medo do que isso podia significar! Estremeceu... Tinha medo de abrir os olhos e ver nos olhos maravilhoso de Dante o triunfo e zombaria.
Lentamente começou a sentir as coisas a sua volta. Ao longe podia ouvir o cântico dos discípulos, o ato tinha acabado e agora o ritual tinha que continuar, mas seria capaz de matar se abrisse os olhos e Dante estivesse olhando com aquela frieza e ironia singular dele. Assim enquanto o cheiro do incenso penetrava em suas narinas ele puxou lentamente o ar e disse baixo:
- Agora saia de cima de mim, seu mercenário! Tenho que cumprir o resto do ritual...
Dharr esperou, o peso de Dante parecia aumentar em cima dele ao mesmo tempo em que suas emoções voltavam ao seu controle embora soubesse que jamais fosse esquecer aquele momento de êxtase inigualável... Apenas pediu em silencio a Amon que não tivesse sido descoberto!
Dante se mexeu devagar, provocando um delicioso calafrio em Dharr, e logo depois, o desconforto por ter os corpos de ambos separados. Dharr então, finalmente, tomou coragem e abriu seus olhos, fitando o semi-demônio. Ah, antes não o tivesse feito! Não era o grandioso demônio de pele azulada e asas imensas como a de um anjo caído, mas sim, o jovem belíssimo de cabelos louros, quase brancos, com um olhar que inquietou o grande Sacerdote de Amon ainda mais! Um olhar de... Ternura. Não. Definitivamente, não. Ele, Dharr, esperava zombaria, superioridade, arrogâncias... Mas... Ternura? Não podia ser verdade. Isso não combinava com um desumano que matara o próprio irmão... Ao pensar em Virgil, o coração de Dharr apertou-se ainda mais. Como podia ter sentido prazer com o assassino do seu amante daquela forma? Como podia... Chega! Deveria consentrar-se no ritual sagrado!
Dharr ergueu-se e deixou que seus discípulos cobrissem seu corpo com a túnica branca. Entoou as rimas finais do ritual, enquanto os discípulos agora jogavam pétalas de rosas sobre o altar. Dante caminhou devagar, ainda nu, e apanhou a espada de seu pai. Girou-a no ar e fez com que um raio de energia se elevasse até o ponto mais alto do tempo, onde o sol, todas as manhãs, mandava seus primeiros raios para o ritual do nascer do dia... O templo inundou se de uma luz tão forte quanto a solar... Dante disse, solene...
- Eu, o protetor, desse momento em diante juro defender com minha vida imortal o templo e a eternidade de Amon...
Um silencioso respeitoso se fez até que a luz se dissipasse. Dharr não esperava que Dante fosse capaz de emanar uma energia quase tão poderosa quanto a de um Deus. Virgil nunca conseguira aquela façanha...
O culto havia acabado... Os sacerdotes se retiraram silenciosamente e agora, apenas as tochas iluminavam o interior do templo... Rosas e incensos ainda impregnavam o ar com um doce aroma...
Dharr caminhou devagar para próximo de Dante, enquanto esse vestia suas roupas habituais. Dharr estremeceu. Dante naquele casaco gótico, vermelho, era uma visão afrodisíaca...
- Suas palavras... Parecerem sinceras, mercenário.
Dante parou diante de Dharr. Era como se os dois medissem forças... A voz de Dante soou acusadora...
- Porque pensava em meu irmão durante o ritual?
Dharr recuou para trás, como se levasse uma bofetada...
- Eu... N- não... Conheço seu irmão.
- Mentira. Você projetou a aura dele durante o nosso... – sorriu, um sorriso frio - como devo dizer? Porque não a palavra certa? Sexo.
Dharr inquietou-se. E agora...?
- Eu conheci Virgil uma vez... Ele tentava aprender os segredos do templo... Para derrubar o selo do umbral...
- E você lhe negou ajuda?
Os olhos de Dharr mostraram um sofrimento profundo, mas logo depois, se nublaram, tornando-se inexpugnáveis.
- Eu jamais quebraria o lacre dimensional que Sparda criou... Defendo o senhor da Luz, Amon, não as trevas...
- Porque evocou Virgil então? Ele estava em suas lembranças durante o ritual...
- Apenas comparei-o com você, Dante de Sparda. O demônio que foi assassinado por você.
Era uma acusação. Desesperadamente, Dharr queria que Dante negasse, ou que confirmasse, mas os olhos de Dante ficaram tão inexpugnáveis quanto os dele próprio, Dharr... Ele se virou sem nada dizer... Dharr se inquietou ainda mais...
- Aonde você vai?
- Não vou ficar parado aqui enquanto a elite infernal se infiltra na terra para achar um meio de quebrar o selo dimensional. Vou caçar alguns demônios. É isso o que eu faço.
- Você o caçou, mesmo sendo seu irmão?
Dante respirou fundo...
- Não vou responder sua pergunta, Dharr Du Figar. Meu passado pertence só a mim...
ooOoo
"Meu passado pertence só a mim!" As palavras de Dante de Sparda ainda ecoavam nos ouvidos de Dharr. E aquela sensação, o olhar terno, quase... Dharr sacudiu seus longos cabelos negros e mirou-se no espelho de seu quarto! A íris de seus olhos pareciam circundadas de ouro, dilatadas pelas emoções recentes, ainda sentia o cheiro de Dante, ainda sentia seu toque e bastava recordar das asas magníficas para se arrepiar como um...
- Foi melhor do que você esperava não foi! – perguntou a si mesmo no espelho, a vaidade fazendo perguntar-se se Dante tinha ficado tão aturdido quanto ele. Ainda estava impregnado de Sparda! – Mas não pode esquecer seus princípios... – continuou falando para sua imagem no espelho. - Ele caçou Virgil e merece morrer!
- A banheira já estava pronta para o banho senhor!
Nu, Dharr caminhou até a sala de banhos onde uma enorme banheira de ouro estava repleta de água fumegante e o odor suave dos sais e óleos invadiam o ambiente! Dharr entrou na banheira e quando um dos discípulos começou a esfregar suas costas disse seco:
- Saiam, saiam todos.
- Mas senhor!
- Quero ficar sozinho!
- Mas...
- Quero ficar sozinho, quando precisar de ajuda eu chamo! – queria colocar em ordens suas emoções, pois de seus atos seguintes dependeriam sua vitória. Fechou os olhos e reencostou-se na banheira, deixou sua mente vagar, queria aproveitar a intimidade que tinham tido para ver se conseguia penetrar na mente de Dante.
Fechou os olhos e se concentrou... Estremeceu quando viu Dante adormecido, como um garoto grande, no seu quarto, no Devil May Cry... Entrou na sua mente como um incubus faria, mas na verdade, nada conseguiu. Viu cenas de lutas contra terríveis demônios, mas nada mais, nada que lhe revelasse como havia sido exatamente a morte de Virgil! Droga! A mente de Dante era inexpugnável!
Irritado, Dharr saiu do banho, enrolou-se num hobby felpudo e usou um método bem convencional: o telefone.
Três chamadas depois, Dante o atendeu...
- Ora, já com saudades?
- Não se trata disso, eu... Apenas quero achar logo minha sacerdotisa!
- Então, resolveu me acompanhar na minha caça aos demônios?
- Exato.
- Não acho uma boa idéia você ir junto. Só vai me atrapalhar. Não tenho tempo para proteger seu lindo pescoço.
- Escute, você me convidou lá no templo para caçá-los.
- Eu... mudei de idéia.
- Dante, eu exijo participar disso.
Dante respirou... Mais essa...
- Tudo bem, esteja então aqui em dez minutos. Não vou esperar por você se você se atrasar.
- Estarei aí em menos.
Dante desligou... Dharr deu um suspiro exasperado. Dizia a si mesmo que estava se aproximando de Dante apenas para ter uma melhor chance de... destruí-lo.
Dharr parou em frente ao closet onde estavam penduradas as mais variadas túnicas, dos tecidos mais finos de todos os lugares do mundo. Pantalonas de seda, batas do mais puro algodão, lãs tingidas especialmente para ele, mas já imaginou a cara de Dante se chegasse vestindo alguma daquelas roupas. Como iria convencer a ele que era um mortal comum vestido assim?
Fez uma careta que tornou sua feição sempre séria um pouco mais relaxada e muito graciosa. Sorriu, se Dharr soubesse como ficava lindo sorrindo, talvez sorrisse mais. No entanto não era nisso que pensava naquele instante. Com uma ruga na testa abriu o armário e quase com cara de nojo, pegou roupas que normalmente evitava até olhar!
Vestiu a calça jeans, devia ter engordado um pouco nos últimos anos desde que vestira aquela peça pela última vez! Estava muito justa, mas agora não tinha tempo de procurar outra coisa, tinha certeza de que Dante iria mesmo sem ele se não se apressasse. Vestiu uma camiseta folgada e prendeu os cabelos num boné. Olhou-se no espelho e sentiu-se ridículo. Estava mesmo horrível... Deu de ombros, paciência! Tinha menos de cinco minutos para chegar até Dante... Jogou algumas coisas que sabia poderia precisar dentro de uma mochila e então teve certeza de que o "jogo" iria começar!
ooOoo
Os primeiros raios da manhã estavam surgindo quando Dharr parou seu jeep em frente ao Devil May Cry. Não pode deixar de sentir uma certa excitação. Era a aventura começando, pensava ele. Não, não tinha nada a ver com o ritual de Amon que haviam feito...
- Ora, ora, ora... Se não é o sacerdote do templo... Entre, não vou me demorar... Temos muito trabalho a fazer...
Dharr respirou fundo quando viu Dante ali na porta, um ar de deboche, a lâmina de barbear na mão e o rosto meio ensaboado ainda... O dorso nu, delicioso, resplandecendo um cheiro delicioso de sabonete. Usava apenas um jeans, tão desbotado quanto o dele, cujo zíper nem se dera ao trabalho de fechar direito... Uma visão no mínimo, perturbadora, até para um santo. Dharr adentrou com o máximo de dignidade. Era muito mais do que um "santo", mas estava encarcerado em um corpo, com todos os desejos e anseios que um corpo tinha...
Dharr estava quase... Encabulado se é que um dia ele tinha ficado encabulado em sua existência. Dante o olhava de uma maneira tão... Ergueu seu narizinho perfeito e disse autoritário:
- Vamos deixe de ficar me olhando como um paspalho! Temos muitas coisas a fazer! Você me deu dez minutos para chegar aqui e quando chego ainda está assim. Não se recebe ninguém nesse trajes!
Dante sorriu e seu sorriu fez as entranhas de Dharr se contorcerem. Num gingado delicioso ele se aproximou de um espelho e em duas passadas acabou de fazer a barba. Passou uma toalha pelo rosto muito bem escanhoado então e disse numa voz... Suave:
- A caçada é minha e eu é que resolvo a hora de sair. Se chegou aqui no horário marcado apenas serve para me dizer que no mínimo você é um bom cumpridor de ordens, eu espero. Depois, a casa é minha e eu recebo minhas visitas como eu quero! Primeiro você não é uma visita, está aqui porque se convidou e depois... Ora vamos sacerdote, você já me viu com muito menos do que isso...
Dharr corou, de vergonha e raiva. Raiva pura. Como aquele cretino ousava falar com ele daquele jeito?
- Ora, seu...
Chegou a erguer a mão para mandar uma bola de energia sobre o peito atlético daquele arrogante, mas se conteve. Humanos não tinham o poder que ele tinha. Seu disfarce de mortal medíocre iria por água abaixo. Respirou fundo, fingiu que engasgava e que, subitamente, se interessava em apanhar um óculos na sua mochila para ler algumas anotações, fingindo ignorar o atrevimento e a masculinidade deliciosa do outro...
- O que o ritual significa não diz respeito a minha vida comum...
Dante ainda sorria...
- Não mesmo?
- Chega de conversa fiada! Veja, trouxe aqui uma lista de lugares suspeitos onde ela pode estar aprisionada.
Dante tirou o jeans e colocou a habitual calça de couro e seu inseparável sobre tudo vermelho. Apanhou a espada de Sparda, suas pistolas automáticas...
- Guarde a lista para você. Eu já tenho aonde ir. Basta me seguir...
Dharr teve que literalmente virar de lado para não ficar observando Dante se trocar. Como podia estar daquele jeito com alguém que era apenas meio humano e meio demônio? Justo ele que... Respirou fundo, por vezes era mesmo difícil estar encarcerado dentro de um corpo tão... vulnerável como o dele... Mas para ter o que dizer do quê por querer propriamente saber já que seu objetivo era estar mesmo ao lado de Dante fosse onde fosse ele perguntou:
- E para onde vamos?
- Já disse basta me seguir! Nunca quis e nem quero guias agora...
Dharr não se conteve e abrindo os braços virou-se para Dante agora já vestido e disse:
- Por séculos eu nunca cruzei com ninguém assim tão arrogante!
Dante ergueu as sobrancelhas claras e seus olhos brilharam?
- Como disse?
Dando um sorriso que pretendia ser amigável Dharr então disse com voz indiferente:
- Disse que acho que você deveria ser mais... Simpático já que vamos prosseguir juntos, no entanto se prefere ser sempre assim tão... Espinhoso, por Amon eu agüento! - Os olhos cor de mel de Dharr agora se enevoaram escondendo o brilho e a força. Tinha que ter muito cuidado com Sparda, ele era perceptivo, muito mais do que Virgil jamais fora. Parecendo então muito interessado, quase idiota, perguntou: - Nós vamos como? Com a sua moto? Enquanto vamos estar fora quem toma conta do Devil May Cry para você?
Dante sorriu, um sorriso de menino, agora...
- Uma secretária eletrônica por enquanto será o suficiente.- Dante ligou a secretária, apanhou a chave de moto e caminhou para ela. - Vamos.
Dharr era um espírito antigo como a humanidade. Era o próprio Akenathon, o grande faraó que difundira a crença única em um Deus! Perseguido por suas crenças, ao morrer, ganhara de Amon, o Deus Sol, a missão de encarnar a cada geração em um corpo humano para perpetuar a missão de divulgar a fé no grande Deus Sol. Tornara-se um espírito errante, espectro, com um poder ilimitado, capaz de tomar para si o corpo escolhido sob a égide do sol. Um poder assombroso, que, apesar de tudo, ao encarnar, assumia para si as dores e limitações de cada mortalidade. Era sobre-humano. Era mortal. Era espírito, era carne. Era Deus, era homem... Uma vida eterna enclausurada no ciclo do homem. Uma benção... Uma maldição...
- Suba de uma vez! Não temos o dia todo!
Perdido em seus pensamentos, somente então Dharr percebeu que Dante já abrira a porta da sala e subira na moto. O motor dela roncava impacientemente, fazendo o próprio Dante parecer um dos grandes leões que ele, Dharr, enquanto Faraó, um dia caçara no deserto... Dharr estremeceu. Vida após vida, ciclo após ciclo encarnado... mesmo assim, ele, Dharr, ainda trazia em si a essência da sua primeira encarnação... Akenathon.
- Sim, já vou!
Ajeitou-se na moto, imensamente constrangido por ter que ficar tão próximo daquele corpo perigoso... Dante sorriu...
- Pode segurar na minha cintura. Eu não vou processar você por abuso...
- Ora, seu...
Dharr praguejou baixinho, mas sua voz foi abafada pela grande arrancada da moto, que da sala mesmo, partiu em alta velocidade...
Continua...
Jade Toreador
