Título:
O Despertar
Do Sol
Gênero: Yaoi, Lemon, U.A,
Sobrenatural
Personagens: Dante De Sparda, Vergil (Virgil), Dharr Dhul Figar(original), e outros
Autores:
Jade Toreador/ Scarlet Toreador
Status: Incompleto
Sumário: Em sua busca por vingança, Dharr se envolve com Dante de Sparda, um demônio metade humano que detém não somente uma força imensa, mas também as rédeas de seu destino. Vingança, ódio, desejo e amor se misturam nessa história.
O Despertar Do Sol
Capítulo 2
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Aquela sensação era única. O vento forte batendo no rosto, em seus longos cabelos. Era a mesma sensação de quando, na sua primeira encarnação, como o Faraó Akenaton, corria com sua biga pelo deserto...
A possante moto de Dante tinha o poder de aliviar seu espírito!
Tirou o boné para deixar que o vento desmanchasse seus cabelos e inconscientemente deixou que seu corpo descansasse as costas de Dante, o que lhe deu uma sensação ainda maior de segurança. Então, de repente, abriu os braços, uma saudação muda à natureza...
Há muito tempo não se sentia tão liberto, o corpo livre das amarras mundanas! Por um instante, gargalhou alto.
Percebeu que estava se sentindo cansado de tudo aquilo! Que Aton o perdoasse, mas por um instante quis apenas ser um ser comum ou não ser nada... Ser apenas aquilo que era de verdade! Um garoto de dezenove anos terrestres...
No instante seguinte, ao perceber o rumo que seus pensamentos tomavam, se perguntou o que estava acontecendo com ele. Como tinha coragem de pensar aquilo? Deixar para trás sua missão sagrada de séculos, que era a de ser o eterno Sacerdote de Aton na terra... Encarnação após encarnação, era sempre, ele, Akenaton, o que servia Amon, o eleito para trazer a luz de Aton até os homens e... Era mesmo um ingrato! Agora pensava em largar o sacerdócio...
Será que era a presença daquele corpo quente tão junto ao seu que o fazia pensar aquelas coisas insanas?
Não eram humanos, nem ele, nem Dante! Ambos, por motivos diferentes, haviam sido desgarrados do ciclo mortal. Eram almas eternas, mas que tentavam agir e sonhar como simples seres forjados em carne e osso! Tinham esse direito? Ah, duvidava... Na verdade, nem sabia se Dante realmente tinha alma naquele corpo que se mostrava com a forma humana, mas que, de certo, era totalmente desprovido de sentimentos... Afinal, ele matara Virgil, não matara?
A moto parou em um lugar aparentemente inóspito, um prédio abandonado no centro da cidade...
- Aqui funciona um centro de satanismo...
- Isso é tão medíocre... Porque viemos perder tempo aqui? Esses satanistas são pobres em espírito e em poder!
- Concordo, mas normalmente são guardados por vampiros psíquicos que, por sua vez, conhecem os senhores das trevas que passam pelos portais... É um desses distintos cavalheiros que temos que encontrar...Os sugadores de alma. Ou os "espíritos obsessivos" como gostam de dizer os espíritas... Eles podem dizer algo sobre o que está acontecendo.
Os dois deixaram a moto próxima ao prédio e foram caminhando até que Dante brecou Dharr, segurando-o pelo braço:
- Agora, espere aqui. Daqui para frente vou sozinho.
Dharr chegou a abrir a boca de indignação:
- EU NÃO QUERO FICAR DE FORA DISSO!
- Escute, isso é coisa de homem... Não vou ter tempo de ficar protegendo você...
Dessa vez Dharr não conseguiu se conter! Uma aura do mais profundo dourado o envolveu. Sua ira ultrapassou seus limites de auto-controle. Ele estava mesmo fora de si!
Sua aura se mostrou tão poderosa que iluminou tudo em volta. Era dourada e quente como o Sol! Suas mãos tremeram, seus olhos ficaram vermelhos e ele teve que fazer um esforço sobre-humano para não tentar queimar totalmente Dante ali mesmo. Respirou fundo e fez sua aura sumir gradativamente. Tudo acontecera em frações de segundos, mas teve certeza de que Dante tinha percebido o fenômeno paranormal!
Fitou os olhos do semi-demônio tentando dominar seus pensamentos e disse, ainda com muita raiva:
- Eu sou tão homem quanto você, mercenário! Na verdade, sou muito mais homem que você e se tem uma coisa que não precisão é de proteção! Se tivesse a mínima idéia do que posso fazer com um bando ridículo e satanistas e vampiros psíquicos... Ah, chega! Vamos fazer o que temos que fazer!
Sem esperar por Dante, Dharr dirigiu-se a porta do prédio ainda tentando se controlar...
Dante havia ficado impressionado. Percebera a ofuscante luz que Dharr emanara do corpo com uma força sobre-humana assombrosa. Um sacerdote teria tamanha aura? Duvidava. O egípcio era algo acima do humano, mas... O quê? Não tinha aura de spectro, embora sua energia parecesse a de um... Também não era demônio ou vampiro...O que era ele, então?
- O que é você, exatamente, cara?
Dharr respirou fundo. Droga! E agora, o que diria?
Mas antes que pudesse responder algo, eles dois foram cercados por demônios que tomavam conta do lugar...
Colocaram-se, Dante e Dharr, um de costas para o outro. Dante puxou sua espada. Dharr estava desarmado. Os demônios tinham as formas mais horrendas possíveis, e avançavam lenta, mas inexoravelmente.
Dante, diante da situação perigosa, não pode deixar de se lembrar dos jogos de zumbi que às vezes jogava em seu Playstation dois. A realidade era bem pior...
- Não saia de perto de mim! Haja o que houver, não desencoste de mim! – disse Dante cortando a cabeça do primeiro demônio que se aproximou dele. – Pegue a minha arma!
Dante passou uma de suas automáticas para Dharr que no instante seguinte já estava atirando para cima dos demônios, tentando acertá-los e assustá-los. O semi-demônio e o sacerdote de Aton giravam em círculos, sempre de costas um para o outro, lutando contra os seus agressores...
Dharr odiava armas de fogo, sabia que podia fazer muito melhor com seus poderes mentais, mas não queria que Dante percebesse a extensão que esses poderes tinham... Por isso, atirava do melhor modo que conseguia.O que não era lá grande coisa.
- Vamos passar por eles e entrar no prédio! - disse Dante tenso – Me acompanhe! Eles são fortes apenas em grupo! Temos que separá-los...
Dharr ainda lutava contra a sua tentação de usar suas reais habilidades tele-cinéticas e cósmicas, mas, na verdade, queria ver Dante em ação! Por isso, deixou que um dos demônios o atacasse propositadamente, deixando-se ser atingindo com um golpe que fez uma ferida profunda em seu braço esquerdo. Dante gritou de raiva e reagiu, cortando a cabeça do agressor com um único golpe da sua poderosa espada.
- Eu disse que você era um inútil!
Dharr engoliu a raiva. Chegou a sorrir. Melhor que Dante pensasse daquela maneira, assim, se esquecia da exibição de poder e luz que ele, Dharr, deixara escapar instantes atrás...
Mesmo ferido, fingindo uma fraqueza que não sentia, Dharr estava atento para que nada de pior acontecesse. Dante lutava como um insano, mas naquele momento, o egípcio percebeu que ele usava mais a emoção do que a razão e talvez aquilo fosse um fato muito importante para a sua vingança! A metade de Dante que parecia ser muito mais humana do que a de Virgil... Ele era... Passional!
O sacerdote de Aton concentrou sua mente na miríade de demônios a sua frente. Voltou a encostar-se em Dante e, apenas com o poder do seu olhar, conseguiu afastar dois ou três dos demônios que estavam mais próximos. Tinha vivido tempo demais nesse mundo para não conhecer essas raças estranhas... Ah! Se todos soubessem que o mundo era povoado por uma infinidade de criaturas sobrenaturais e humanos abençoados (ou amaldiçoados) com as mais bizarras capacidades... Desta diversidade de culturas e poderes brotavam conflitos, alianças e, na maioria dos casos, uma convivência tensa, raramente pacífica...
Dharr lançou sobre Dante uma espécie de escudo invisível onde os ataques dos demônios não penetravam, mas foi algo sutil, para que Dante não percebesse...
Aqueles demônios eram apenas "soldados rasos" das falanges daqueles que pretendiam dominar todos na dimensão terrestre. Por isso, não foi difícil para os dois entrarem no prédio. Eles, ao entrarem, ainda podiam ouvir os gritos dos demônios lá fora!
Dharr seguiu Dante que corria com muita rapidez e acabaram os dois se escondendo no fim de um corredor comprido e escuro. Era uma espécie de corredor sem saída onde uma única porta tinha sido lacrada com madeiras e ferros. Pararam os dois ofegantes, olharam-se estavam muito perto um do outro:
- E agora? Tem idéia de onde estão os outros aqui dentro? – perguntou Dharr muito baixo sem deixar de notar como a boca de Dante tão próxima da sua era carnuda e perfeita.
- Tenho.
Antes que Dharr dissesse algo, Dante passou as mãos fortes pelos lábios dele, mostrando ao outro que pensara na mesma coisa, em um beijo furtivo no meio de uma louca aventura, mas, para a frustração do egípcio, o outro se afastou, deixando os lábios dele latejando a frustração de não terem sido beijados...
- Escute, se acha que eu sou do tipo...
Dante riu, e cortou o que outro ia dizendo...
- Você é do tipo que não nega fogo... E não me venha com papo puritano...
Irritado, Dharr mostrou a língua como uma criança. Dante riu, mas, de repente, a expressão dele tornou-se séria...
- Estou captando algo... Não consigo entender o quê, mas não é bom...
Dharr aguçou seus sentidos, e como era poderoso cosmicamente, viu o que Dante não conseguia ver. Seu coração se agoniou...
- A sacerdotisa... Ela está aqui... Morta.
Dante ficou por alguns segundos a olhar para Dharr, vendo seus olhos brilharem. Respirou fundo, não perguntou como ele sabia, as perguntas podiam ficar para depois:
- Venha comigo! Precisamos ver o que está acontecendo!
Dante caminhou devagar por onde a intuição o levava. Dharr o seguiu.
Logo chegaram numa bifurcação perto de uma lápide de mármore. Dharr colocou a mão sobre o ombro de Dante e com um gesto de cabeça fez sinal para seguirem a esquerda. Dharr, Dante notou, parecia agora estar em transe. Seus olhos estavam vidrados e sua mão gelada como se ele fosse um cadáver!
Dante resolveu seguí-lo sem discutir...
Agora, eles estavam numa espécie de segundo andar, e lá em baixo, pelo vão erguido pela espiral das escadarias do prédio, eles podiam ver várias pessoas vestidas de togas pretas. Pessoas que entoavam cânticos soturnos... Havia um corpo nu sobre o pentagrama desenhado no centro daquele palco funesto!
Dharr, ainda em seu transe, disse, tenso...
- Estes daí são marionetes, spectros medíocres do mal... Mas quem a matou... Foi uma grande força... Foi um ser de incrível poder que esteve aqui para levar a vida da sacerdotisa...
- Depois você me explica como consegue saber desses detalhes e me diga com se acerta os números da loteria! Agora, vamos primeiro dar cabo desses cretinos aqui...
- Loteria? Você é mesmo um...
Dharr não teve tempo de pensar num insulto a altura de Dante. Os humanos e sobre-humanos que estavam ali avançaram sobre eles e houve mais uma luta, sangrenta, violenta, mas rápida. Num instante, os corpos humanos estavam jogados pelo chão, sem vida, enquanto que os corpos dos sobre-humanos atacados por Dante e Dharr haviam estourado como bolhas!
Dharr, como sempre, havia ocultado seus poderes, lutando como se fosse apenas um humano ágil, apenas com alguns poderes energéticos e telepáticos... Mas Dante, depois que tudo acabou, olhou para ele e disse, desconfiado...
- Como sabia que ela estava morta?
Dharr respirou fundo e bloqueou a sua mente, não olhou diretamente para Dante quando respondeu:
- Sabia porque como era a pessoa mais próxima dela eu podia ler sua mente... Quando entramos aqui, consegui captar seus últimos pensamentos de agonia e morte!
Dante não ficou nem um pouco impressionado ou convencido:
- Não vai de contar a verdade?
Dharr soltou lentamente um suspiro e encarando Dante com seus olhos amarelos disse:
- Estou falando a verdade, mercenário! E agora isso tudo se revela um grande problema... Sem a sacerdotisa tudo muda de figura, temos que ir até o templo e encontrar alguém que seja o grande sacerdote de Aton!
- Por que não você Dharr Dhu Figar?
Dharr hesitou... Não podia dizer a verdade a Dante, não podia dizer que ele tinha que estar livre para achar e combater aquela força tão forte e ruim que tinha sentido ali. E mais... Não podia contar que ele, Dharr, era muito mais do que um sacerdote mortal! Ele era a encanação de Akenaton!
Assim, ao invés de responder aquela, fez uma outra pergunta a Dante:
- E você Dante de Sparda? Sabendo que a sacerdotisa está morta ainda assim continuará nos protegendo?
Dante fitou os olhos dourados por alguns segundos...
Era algo estranho, uma intuição forte, sentia que, por algum motivo, Dharr não confiava nele. Na verdade, era ele, Dante, um mercenário, e, lógico, mercenários não são confiáveis, mas não era essa a questão... Intuía que Dharr sentia-se atraído por ele, como homem, e que também... Não gostava dele, talvez justamente por causa dessa atração. Ou talvez porque ele fosse um demônio... Ou talvez houvesse alguma coisa mais... Deu de ombros:
- Vamos embora, no caminho, conversamos.
- Precisamos fazer o ritual de passagem da nossa sacerdotisa...
- Você quer dizer, enterrá-la? Não temos tempo para isso!
- Não enterrá-la, nosso ritual de purificação abomina o enterro, a decomposição dos corpos...
Dante cruzou os braços, com um sorriso irônico nos lábios bonitos...
- E o que pretende fazer? Embalsamar o corpo dela, conforme os costumes do antigo Egito?
Dharr estremeceu de raiva. Ainda hoje, apesar dos tempos modernos, respeitava os rituais fúnebres dos seus antepassados e não gostava quando um forasteiro ria dos antigos costumes...
- Não quero que você compreenda o antigo Egito... Compreendo que eram primitivos, mas a essência da vida após a morte era o que...
- Escute, deixe as explicações paleontológicas e históricas para o Discovery Channel, não temos tempo, já disse.
- Não vou sair daqui sem fazer o ritual de purificação dela!
- Mas que porra!
- Respeite os mortos, mercenário!
Dante resmungou algo ininteligível, obviamente desaprovando a demora ali em um território inimigo... Por fim, disse mais alto, com uma carranca adoravelmente mau humorada:
- Muito bem, desde que não demore mais do que meia hora...
Dharr não retrucou e deu as costas para Dante. Sabia que o ritual era algo poderoso demais, algo que levantaria as suspeitas de Dante sobre sua pseudo-humanidade, mas não tinha escolha, era a sacerdotisa a sua discípula favorita, a sua querida menina, a quem ensinara por anos todos os segredos dos Mistérios de Aton... Não poderia deixar o corpo dela ali, apodrecendo e virando carniça!
Dharr começou a murmurar um cântico em aramaico antigo e em egípcio... Dante entendia algumas palavras, mas não o todo, porque era mesmo algo antigo até para ele...
Subitamente, uma luz amarelada e intensa surgiu das mãos de Dharr, bem diante dos olhos surpresos de Dante Sparda. A luz foi se tornando fulgurante e, como uma serpente, zigue-zagueou por todo o corpo da sacerdotisa. O corpo dela foi se iluminando. Tornou-se azulado como a noite iluminada e depois dourado como o sol, e simplesmente desapareceu...
Dante estava mesmo surpreso. Os átomos havia se desintegrado como por magia! E era magia!
Poucos humanos conseguiam dominar a transmutação da matéria... O garoto fresquinho era mesmo especial:
- Você fez bonito agora, podia trabalhar num show de mágica. Ou quem sabe, na Enterprise, no tele-transporte...
- Escute, você precisa sempre ser sarcástico assim?
- Vamos de uma vez...
- Para onde?
- Procurar respostas com alguns amigos meus... Uns caras que estão me devendo um favor...
- Humanos?
Dante sorriu...
- Pode ser, pode não ser... Isso é uma surpresa.
Mais uma vez em cima da moto e realmente esgotado pelo ritual de purificação do corpo de sua sacerdotisa, Dharr queria poder esvaziar sua mente dos pensamentos ruins e descansar nem que fosse pelo menos por um instante, mas bem sabia que Dante riria dele. Sacudiu seus longos cabelos e dessa vez sem grandes pudores ou pensamentos nobres deixou que seu corpo descansasse nas costas sólidas de Dante de Sparda mais uma vez!
Se foram horas ou minutos que os dois seguiram por estradas estranhas e distantes, nenhum dos dois soube dizer. "Uns caras que deviam favores...! Havia dito Dante... Não humanos? Ele Dharr precisava tomar muito cuidado com os amigos de Dante para não cruzar com algum feiticeiro ou spectro, do bem ou do mal, que o pudesse identificar como era e quem era de fato...
Haviam poucos no mundo atual, mas eles existiam... Rodopiava no ar um cheiro de morte e a sensação de perigo era palpável, no entanto, ao mesmo tempo, ali, entre os dois, havia um clima forte e sensual.
Dharr ficou imerso em seus pensamentos. Tentava não ligar para o corpo de Dante tão próximo ao seu e também não ligar para maneira como essa proximidade o perturbava...
Lembranças do peso daquele ser estranho, metade humano metade monstro sobre seu corpo mexia com ele... Mexia demais!
Dali para frente, no entanto, tinha que tomar muito cuidado para não deixar sua identidade transparecer. Já tinha abusado demais da sua sorte e Dante era muito intuitivo e esperto mesmo para um... Monstro assassino!
O sacerdote deu um suspiro delicado e deitou a cabeça de vez no ombro forte daquele que era para ser o seu inimigo mais odiado...
Dante, por sua vez, era capaz de sentir o perfume dos cabelos de Dharr apesar do vento. E nenhum calor poderia ser mais forte do que o daquele corpo. Mas ele, o filho do demônio Sparda, também sentia o perigo no ar...
- Por que esse suspiro profundo?
Dharr fingiu não ouvir e respondeu com outra pergunta:
- Para onde estamos indo Dante? Já calculou o risco que estamos correndo?
- Talvez estejamos indo para o inferno! – disse Dante, gracejando.
Dharr riu e seu riso foi cristalino e arrepiou o corpo de Dante...
- Mediocridade não Dante de Sparda! O inferno é um lugar muito especial para se ir assim, do nada, numa moto! – no instante de silêncio que se seguiu Dharr tentou vasculhar a mente de Dante para saber o destino deles ou para saber alguma coisa de Virgil... Seus corpos estavam colados o quê facilitava um pouco a intromissão cerebral...
Mas para a sua frustração, Dante parecia manter sua mente fechada, como se adivinhasse o imenso poder telepático que ele, Dharr, possuía... Maldição...
o0o
Egito...
Havia ainda nos dias atuais, oculto, um imenso templo dedicado a Aton, num lugarejo não muito distante de Tebas.
Depois de sua ascensão ao trono do Egito, o jovem Tutankamon, orquestrado com os sacerdotes politeístas, mandara destruir tudo o que pudesse recordar Akenaton e seu Deus Aton, mas, ainda hoje, no atual Egito, secretamente havia seguidores, seguidores fervorosos, e nesse templo eles se reuniam secretamente.
Um homem magro, esquálido vestido de branco, parou perto do altar que ficava sob uma grande abóbada cujo centro era aberto para o céu sob a forma de um grande círculo. A latitude e longitude do altar e da grande abertura sagrada tinham uma sincronia perfeita com o nascimento do sol naquela parte do planeta... Em poucos instantes, o sol, ao nascer, entrou em sintonia perfeita com a linha do céu e do altar, fazendo os raios solares invadir todo o tempo com sua aura dourada. Era o sol símbolo máximo de Aton, o sagrado disco solar...O cheiro das ervas era intenso... A voz do sacerdote se ouviu:
- A sacerdotisa está morta... Mas sinto que ele está vivo... O servo vivo de Aton... O grande mestre...Temos que achá-lo e trazê-lo para casa, para seu altar, seu lugar sagrado para sua eternidade... O eterno representante de Aton na terra! Ele vive um grande perigo...
Um coro de vozes se fez ouvir ao redor do sacerdote... Os discípulos entoavam em uníssono:
- A ke naton! A ke naton!
o0o
México...
A moto rodou por horas. Mesmo acostumado com o calor do deserto, Dharr começou a sentir sede. Muita sede. Ali não era como o deserto do Egito, era o México, mas estava acostumado a ser servido pelos seus seguidores como o faraó que um dia fora, como o representante vivo de Aton na terra! Não podia dizer isso a Dante, podia? Sua idéia de vingança, fizera-a por vários meses... Imaginando horas a fio como prender e magoar Dante, fazê-lo sofrer mais do que fisicamente, fazê-lo sentir na alma o arrependimento por ter deixado seu próprio irmão morrer, mas agora...
Ali, naquele deserto, a idéia de vingança ficava esmaecida...
Talvez fosse a sede ou talvez... Ah, bem que Aton, o Deus, lhe mandara avisos de que a vingança nunca trazia boas coisas...
Mas, às vezes, ao longo das várias encarnações que assumia como humano, a serviço do Senhor Aton, sentir como um mortal era inevitável. Apaixonará-se por Virgil. Sabia-o ambicioso demais, mas não conseguira evitar... E agora, ah, não queria deixar a morte dele passar em vão! Dante, bem, Dante tinha que pagar de alguma forma... Demorasse o tempo que fosse...
- Porque estamos cada vez mais enfurnados no deserto do México?
- Não é tão bonito quanto o do Egito, mas ele tem também os seus mistérios...
- Não vai me contar nada? Vou ter que ficar aqui esperando explicações como se fossem esmolas?
- Você foi mimado demais pela turminha daquela seita...
Dharr corou de raiva e teve que morder a língua para não dizer um desaforo. Quem aquele mercenário se achava para dizer o que ele era ou deixava de ser?
- Você não sabe nada da minha vida... Ou do meu passado... Não pode me julgar.
Sem querer, pensamentos muito antigos, do tempo da primeira encarnação, vieram a tona à mente de Dharr...
Vislumbrou nas lembranças Nefretiri, sua querida mulher, uma adorável companhia... Muito linda na sala do trono... Era pouco mais do que uma menina... Ele mesmo, o Faraó, era um pirralho, alguém que subira ao trono com apenas onze anos... Na noite das núpcias, ficaram os dois conversando sobre as estrelas, porque ele e ela, crianças, estavam mais interessados na astrologia dos magos do que no sexo... Depois, aos poucos, houve uma forte amizade, mais forte do que tudo... Compartilhavam segredos, esperanças e sonhos... Não se amavam como amantes, mas como irmãos... como almas queridas.E ele, confiara-lhe o segredo da grande visão que tivera... O grande Deus Aton... O único e inominável, o senhor dos tempos e das formas... E ela...Não rira dele! Acreditara que ele tinha a missão sagrada de levar Aton ao conhecimento dos homens... E ela tomou para si a missão de ser sua amiga, sua cúmplice naquela sagrada missão, espinhosa, onde fariam muitos inimigos... Nefretiri acreditara, através das palavras dele, Amenófis, que havia o Deus Único, que existia em toda parte, em todas as coisas, mas que não era coisa alguma da terra... E que o sol seria a única coisa que palidamente, poderia simbolizar um deus que era tudo, que era luz! No quinto ano do reinado, ele, o faraó, decidiu mudar seu nome para Akenaton, aquele que serve Aton, e construiu uma nova cidade, Tebas. Nessa cidade, com sua adorável Nefretiri, todas as manhãs, ele celebrava o nascer do sol sobre a humanidade...
Aton os abençoava... Mas eles dois, inocentes, não percebiam o cerco de hipocrisia e falsidade dos sacerdotes inconformados com a ascensão do único deus, o sol, em detrimento dos falsos deuses patrocinados pelas ambições dos homens...
De repente, Dharr percebeu que Dante parava a moto em um motelzinho de estrada horrível, daqueles de filme de quinta categoria... Emergiu do seu mar de lembranças... Rezou para que Dante não houvesse percebido seus pensamentos secretos:
- Não brinque que vamos ter que ficar por aqui!
- Você pode preferir a companhia dos escorpiões do deserto...
- Não vai mesmo me dizer onde vamos?
Dante sorria, um sorriso benevolente agora... Passou um cantil que trazia consigo para o garoto de longos cabelos que fez uma careta de nojo antes de beber no gargalo...
- Vamos descansar um pouco, depois, vamos ver um xamã, um homem santo... Um índio.
- Um... Xamã?
- Exato. Ele tem o dom da visão. Como os antigos oráculos.
Dharr ocultou seus pensamentos e seu olhar abaixando os longos cílios... Aquilo era muito arriscado... Hoje em dia sabia bem que a maioria das pessoas que se diziam videntes como chamavam, na atualidade, não passavam de grandes ou pequenos charlatões... Mas não podia se arriscar, podia? Dante não viria até o meio do nada vê-lo se o mortal não fosse um oráculo verdadeiro! E se esse xamã tivesse mesmo o dom da profecia, e se fosse uma reencarnação de algum oráculo antigo, ele, Dharr, estaria enrascado... Por um instante fraquejou, talvez devesse contar a Dante quem era de verdade... Mas aí, seria impossível levar seus planos adiante...
- Vai entrar ou não está mesmo a sua altura as acomodações que arrumei?
O tom habitualmente sarcástico de Dante o trouxe a realidade... Suspirou e deu as costas a Dante olhando para o horizonte onde o Sol se punha... Fez uma prece, pediu perdão pelo sentimento de vingança que carregava consigo e clamou por forças para continuar sua jornada. Depois, voltou-se para Dante e sorriu:
- Claro que vou entrar. Talvez consigamos nos refrescar um pouco...
- Duvido muito!
Dante adentrou o motel. Contrariado, Dharr o seguiu e ficou ainda mais irritado quando ouviu a conversa entre o recepcionista mau encarado e o semi-humano que, a cada minuto, tentava convencer-se que odiava.
- O quê? Tem apenas um quarto vago! E sem banheiro? Isso não é um motel, é uma espelunca!
Dharr quase teve mesmo uma crise histérica. Sentia-se imundo e... Não queria ficar tão próximo assim de Dante!
Antes que o garoto continuasse seus protestos, Dante cortou o que ele dizia:
- Vamos ficar com o quarto!
Dante jogou sobre o balcão uma nota de cinqüenta dólares e pegou a chave que o recepcionista e também dono do motel segurava. Sem cerimônias, segurou Dharr pelo braço e saiu arrastando-o até o número do quarto que a chave indicava:
- Me solta seu grosseiro! Assim me machuca...
Dante o largou sobre a cama, como se fosse uma trouxa de roupas velhas...
- O meu braço ainda não sarou da luta que tivemos com os monstrengos!
- Aquele cara lá atrás pode machucar muito mais, se preferir pode voltar! Agora, se vai ficar comigo, pare com essas frescuras e se acostume a não despertar a atenção dos outros!
- Eu não...
- O cara tava comendo você com os olhos...
Dharr sorriu, convencido...
- Não tenho culpa de ser bonito...
- Não venha com esse papo de viado. Ei, aonde você vai?
- Preciso de água potável, água limpa! Umas três caixas...
- Três caixas?
- Você não acha que eu vou tomar banho num decrépito banheiro comum, acha? Eu vou arrumar uma tina de água e vou tomar banho aqui mesmo...
Dante caiu na risada...
- O que? Vai tomar banho de água mineral?
- Oras, qual o problema! Eu nem pedi pétalas de flores e o sândalo...
Dante riu, ainda mais. Ficou imaginando a cara do brutamontes que estava lá na recepção se ele lhe pedisse pétalas de rosas e sândalos... Sais perfumados...
- Oras, Dharr, de que mundo vem você? Estamos na terra!
- Isso não nos transforma em porcos, Dante, eu quero a água mineral! Quero a água, a tina e um sabonete decente, pelo amor do inominado!
- E quem você acha que vai trazer tudo isso até você, "alteza"?
Os olhos lindos de Dante se arregalaram. Em todas as suas encarnações, nunca tinha tomado banho sem, pelo menos, três ou quatro criados servindo-o em tudo.
- Oras, eu... Eu...
Aí sim, Dante riu, riu a valer, depois seu sorrindo foi morrendo, quando percebeu a carinha desolada e linda do outro.
- Você não está achando que eu vou buscar essa lista absurda de exigências, está?
Um silêncio seguiu-se, enquanto Dante ficava hipnotizado pelo ar sem jeito e constrangido do menino de olhos dourados. Sim, o cara achava!
- Oras, era só o que me faltava! Espere aqui, eu já volto! Mas se reclamar de qualquer outra coisa mais ainda hoje, juro que deixo você para dormir lá no meio do nada!
o0o
Enquanto ia para a recepção do motel, Dante chegou a parar por três vezes sem acreditar que estava mesmo indo atrás de uma tina, água mineral e... Chegou a dar meia volta. Iria ao quarto dizer umas boas verdades aquele viado e... Ah, deixa pra lá! Iria buscar a porra da água! Mas seria a última vez que fazia algo tão... tão... Serviçal!
Cansado de tentar decifrar porque estava fazendo o que Dharr queria, Dante começou a dialogar com o dono da "espelunca"...
o0o
Dharr piscou várias vezes ao ver Dante entrando quarto adentro carregado, atrás dele vinha mais um rapaz trazendo o que parecia ser...
- Água quente! – Dharr exclamou maravilhado – Ah! Dante eu nunca imaginei que você...
- Cale a boca!
Dante falou ríspido diante do olhar caçoísta do rapaz que trazia o caldeirão de água quente.
- Pode colocar a água ai e sumir daqui...
O rapaz saiu com um sorriso irônico nos lábios. Dante bateu a porta com força.
Dharr colocou as mãos na cintura:
- Você não pretende ficar ai enquanto eu me banho não é mesmo?
Dante literalmente não acreditou no que ouvia:
- Mas é claro que vou! E se demorar muito quem vai tomar banho ai sou eu!
- Mas... Eu... Não custa nada me dar um pouco de privacidade!
- Foda-se a sua privacidade... Estou cansado e quero esticar as minhas pernas!
Dizendo isso, Dante jogou-se na cama que havia ali. Virou-se para o lado da janela, deixando claro que não tinha a menor intenção de espiar um banho de outro cara.
Constrangido, um pouco com a vaidade ferida, Dharr se despiu devagar e entrou na tina, mergulhando o máximo que conseguiu para esconder a sua nudez. Começou a cantarolar baixinho. Nada de cânticos sacros dessa vez, uma música atual, do Pearl Jam, que Dante, aliás, gostava muito. Sem perceber o efeito que a voz de Dharr tinha sobre seus nervos, Dante de Sparda foi relaxando. A voz do garoto era máscula, mas suave, deliciosamente calorosa, algo que realmente acalmava as tensões de um dia estressante como o que haviam tido...
Dharr Dhul Figar fechou os olhos enquanto cantava e sentia a água relaxando seus músculos. Por mais incrível que pudesse parecer a muito tempo não sentia a paz que conseguia sentir naquele momento, justamente ali, perdido no meio do nada ao lado dele, Dante, o homem a quem, diante de Aton, jurara odiar para todo o sempre...
Prosseguiu seu canto, lavou os cabelos como pode, ensaboou-se... Para se enxaguar, pensou em usar o resto da água que tinha ali... Mas talvez Dante também quisesse um banho! Não resistiu à tentação e deu uma olhada para o lado onde estava a cama. Sorriu, Dante tinha adormecido, seu rosto agora tinha uma expressão quase suave à boca ligeiramente entreaberta era... extremamente convidativa a um beijo...
Seu corpo reagiu imediatamente aquele pensamento e Dharr sentiu que corava... Ainda bem que Dante estava dormindo...
Por alguns minutos, Dharr resistiu aos indecentes pensamentos que passavam pela sua cabeça. Não estava ali para fazer sexo com o semi-demônio! Pelo contrário, tinha que entrar em viagem astral e descobrir, por ali, onde estaria o tal xamã, descobrir se era realmente poderoso... Era um dilema.
Se ele, Dharr, bloqueasse a mente do oráculo que Dante dizia conhecer, perderia a chance de resolver aquele mistério sobre a morte da sacerdotisa...
O celular de Dharr tocou, mas antes que ele se levantasse para atender, Dante foi mais rápido. Pegou o celular que estava sobre o criado mudo e o desligou, sem atender.
- Não faça isso! São meus discípulos, eles...
- Escute, moleque, não me interessa as suas funções sacerdotais no Templo de Aton. Entenda de uma vez por todas, estão matando gente, sua gente, e quanto menos pistas dermos do seu paradeiro enquanto resolvemos esse mistério, melhor. Se a minha função é proteger você, devo fazer isso do meu modo, não do seu.
Dharr suspirou. Enrolou-se na toalha e caminhou para perto da cama. Dante não pode deixar de notar como a pele morena exalava perfume, mesmo não tendo "sândalo" ou qualquer outra especiaria...
- Vamos mesmo brigar sempre, Dante de Sparda? Porque não declara uma trégua e me conta quem é esse xamã...
- O velho curandeiro... Criou a mim e a Virgil, quando minha mãe foi morta... Meu pai, que enfrentava os demônios que tentavam invadir a terra, nos deixou com o feiticeiro...
A menção do nome de Virgil Dharr estremeceu. Era a primeira vez que Dante falava nele assim como uma recordação... Se o velho os tinha criado, se o pai os tinha colocado sob a guarda dele era porque era sim muito poderoso e podia complicar e muito a sua posição ali ao lado de Dante. Se esse descobrisse que não precisava tanto assim de proteção tudo ficaria muito mais difícil...
Em pensamento, Dharr formulou a pergunta: "Por que você matou seu irmão, Dante! Tudo poderia ter sido tão diferente se...". Bloqueou o pensamento e sentou-se ao lado de Dante na cama... Encarou-o com seu olhar dourado e oblíquo:
- Então você deve confiar muito nele não é? Ele deve ser muito poderoso... E deve gostar muito de você e... do seu irmão! – enquanto falava Dharr espreguiçou-se com natural sensualidade. A água quente tinha relaxado seus músculos e estava lhe dando sono...
Dante virou-se para encarar Dharr. A pergunta mental ressoava em sua mente, e ele, sem saber que era uma poderosíssima sugestão telepática, sentiu uma súbita vontade de falar de Virgil...
- Eu e meu irmão... Éramos como um só. E o feiticeiro foi como um pai para nós... Um pai humano...
- Porque matou Virgil, então?
A pergunta foi proferida em palavras agora, os lábios bonitos tremiam quando fez a pergunta. Mas Dante, ao invés de macular a memória do irmão, contando a Dharr todo o mau caratísmo que acompanha Virgil e também todos os seus planos loucos de dominar o reino infernal e a terra, disse apenas, querendo enterrar o passado e respeitar a memória do irmão...
- Matei-o porque era o destino.
Dharr estremeceu de angústia e ódio.
"Também vai ser o seu destino, Dante, ser morto por mim."
Houve um silêncio pesado no ar. Um silêncio de mau presságio, para ambos. Dante sentia aquela angústia súbita, não entendia o motivo. E estava hipnotizado pelo olhar amarelo, que se tornara chamas vítreas...
Puxou Dharr para si tocando-o num beijo que era indecente como a profanação de um templo. Dharr tentou protestar...
- Não vou me entregar a você como fiz no ritual dos mistérios!
Dante sorriu...
- Claro que vai...
E tornou a colar sua boca na de Dharr...
Resistir... Resistir... Resistir! Mas era impossível! A língua de Dante invadiu sua boca com fúria. Seu gosto era delicioso e o peso de seu corpo era uma coisa irresistível! A cama rangeu quando Dante se colocou sobre ele e arrancou a toalha que cobria seu corpo nu...
Dharr tentou respirar:
- DANTE!
Este não respondeu, outra vez tomou sua boca enquanto as mãos percorriam seu corpo com um atrevimento inesperado.
Dharr não conseguiu conter um gemido rouco. Seu corpo parecia ter nascido para as mãos de Dante. Antes tinha a desculpa do ritual... Mas agora... Agora...
- Humm... – seu corpo relaxando de encontro à cama. As sensações empurrando para longe tudo que não fosse aquele prazer absoluto. Ergueu a cintura esfregando-se em Dante, queria senti-lo por inteiro, deixaria para pensar no resto depois... Agora... Gemeu outra vez e enroscou sua língua na de Dante...
Pecado! Oh, isso não existia, mas existia a própria consciência, e isso sim, era o pior algoz da alma! A certeza de que estava errando, que estava sendo fraco e miseravelmente humano!
- Oh... Ahhhh!
O grito soou alto e inesperado quando Dante, sem pudor algum, tomou o sexo dele, Dharr, nos lábios másculos. Ah, JAMAIS Dharr imaginara que um machão como o semi-demônio pudesse lhe dar prazer daquele jeito tão... tão... Os seus próprios gritos o assustavam. Eram gritos de um bicho no auge de uma excitação selvagem... Não havia nada de civilizado naquilo!
Dante o sugava como um sorvete saboroso, enquanto as mãos fortes percorriam o corpo dele, Dharr, em lugares inconfessáveis! O garoto jogou os cabelos para trás e gritou de novo, quando sentiu que os dedos de Dante brincavam deliciosamente na entrada do seu ânus... Dante parou o sexo oral e sorriu, seus olhos brilhavam malicia pura:
- Se continuar gritando assim, o motel inteiro vai saber o que estamos fazendo...
A voz de Dharr soou agoniada, sem fôlego...
- Não pare! Ou mato você!
Dante riu...
- Parar não é a minha intenção...
Dante livrou-se então de suas próprias roupas com urgência, seu corpo também pedia por satisfação. Um tipo de satisfação que ele sabia que apenas Dharr podia lhe proporcionar. Uma sensação que havia ficado em suspense durante o ritual e que ele, Dante, queria conferir...
Ainda acariciando Dharr, colocou as pernas do outro para cima, expondo-o de maneira despudorada. Seus dedos ainda brincavam ao redor do ânus do sacerdote de Aton. Sem se conter, Dharr abriu os olhos pensando em ver algum tipo de sarcasmo nos olhos de Dante, viu apenas desejo, e o desejo que viu duplicou o seu. Rolou seu corpo longilíneo sobre Dante, ficando por cima dele, e esfregou suas nádegas no sexo duro do semi-demônio. Posicionando-se sobre ele, gemeu, e começou a descer lentamente suas nádegas, abrindo-a, querendo sentir toda dor e prazer que aquela invasão do sexo de Dante dentro dele, rasgando sua carne... Era um ato mundano, mas delicioso!
Dante sentiu-se deliciosamente atacado. Era estranho possuir, mas se sentir possuído. E era assim que estava se sentindo. Aquele garoto tinha mesmo fogo nas ventas! Era de novo aquela sensação louca, de desvairio, que sentira durante o ritual, que estava se repetindo agora. Bem, já que estava na chuva, o negócio era se molhar de uma vez...
Dante abraçou Dharr, e se desencaixou; fez os corpos rolarem pela cama. O egípcio protestou, queria ele dar o ritmo da cavalgada louca que faziam um no outro, mas o protesto dele só atiçou Dante ainda mais... Caíram no chão imundo do hotel, mas nenhum deles se importou com isso, nem Dharr, que havia se esquecido de vez da sujeira do local. Rolaram pelo chão, num misto de luta e desvairio. Dante penetrou de novo o corpo moreno, de uma só vez, com uma estocada violenta, adorando sentir o corpo do egípcio estremecer sob o seu:
- Agora, vamos ver até onde você é capaz de agüentar...
- Ah! - O egípcio gritou ao sentir seus cabelos longos serem agarrados por Dante como rédeas e o homem sobre ele como se ele, Dharr, fosse mesmo um cavalo!
Dharr Dhu Figar continuava a gritar e se contorcia sob as mãos de Dante que friccionavam o sexo dele enquanto as estocadas enérgicas rasgavam sua carne, o enchendo de prazer!
Não era capaz de se calar! O tempo escoava naquela tortura deliciosa, e ele gemia mesmo como uma gata no cio, empinando seu traseiro pequeno e arredondado como se assim pudesse sentir Dante ainda mais! Aquele falo teso e grosso dentro dele era uma loucura deliciosa! Queria mais... Dizia coisas incompreensíveis em sua língua de origem.
Dharr já não tinha controle sobre suas emoções! Seus olhos brilhavam demais para ser os olhos de um humano, mostrando toda a sua sensualidade oculta, sensualidade essa capaz de levar até mesmo deuses ao delírio! Exultante, Dharr sentia Dante se render á sua sedução... Mas o que ele queria mesmo era ver outra vez as asas de Dante se abrindo sobre ele... E foi o que, para seu êxtase absoluto, aconteceu!
Subitamente, no auge do seu gozo, o corpo de Dante se transmutou, suas enormes asas, semelhantes a de um morcego, porém de um azul etéreo como a noite iluminada pela lua, abriram-se soberanas sobre o corpo magro de Dharr. Agora, não havia mais dominador ou dominado. Mesmo a sensação de tempo e espaço havia mudado. Dharr não conseguia mais perceber as paredes do decrépito motel. O cheiro de mofo e desolação havia desaparecido por completo. Pareciam agora, os dois, estar numa dimensão indefinida, um lugar onde os corpos deles explodiam um prazer tão intenso, que Dante, o grande filho de Sparda, podia aparecer em sua forma não humana, que era grandiosa e surpreendente, até mesmo para ele, Akenaton, reencarnado como Dharr, servo e filho predileto do grande Aton!
Até mesmo ele, que fora um dia faraó e depois se tornara um imortal semi-deus a serviço de Aton, se rendia à majestade daquele corpo azulado e perfeito. Encantava-se com os cabelos fulgurantemente prateados e com os olhos vermelhos e iluminados que eram os de Dante quando estava na sua forma demoníaca... Maravilhado ainda, viu os olhos de Dante, de vermelhos, lentamente, passarem de novo para aquele azul translúcido como o mar. Sem conseguir evitar um suspiro, Dharr, dolorido e satisfeito, espreguiçou-se enquanto as enormes asas o cobriam como um enorme manto de noite...
- Dante...
Dante tapou a boca de Dharr com um beijo fugaz. Agora, o beijo era surpreendentemente cálido. Algo que aqueceu a alma de Dharr como se fosse o esplendoroso sol de Aton brilhando dentro dele...
Aos poucos, as paredes do quarto e a dimensão terrestre foram retornando, ao mesmo tempo em que o corpo de Dante se fazia humano outra vez. Bem diante dos olhos de um Dharr atônico, Dante se tornou novamente um rapaz.
Os olhos dos dois encontraram-se mais uma vez e o que Dharr viu nas íris de Dante o fez ficar lívido de surpresa... Não, não era possível! Mas as palavras que Dante disse logo depois confirmaram a intuição do sacerdote...
- Você é apaixonante, pequeno atrevido... E eu me rendo aos seus encantos...
Sim, havia AMOR nos olhos do demônio!
Dharr não sabia o que dizer, ou como reagir, mas não teve mesmo tempo de esboçar qualquer reação porque, diante dos seus olhos surpresos, Dante lhe lançou um sorriso inocente de menino e adormeceu nos seus braços...
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Pânico! Um pânico imenso e absoluto invadiu o coração de Dharr. Não, não agora, que conseguira o demônio sob seus pés, como tantos outros amantes, não tinha o direito de se apaixonar também!
Levantou-se da cama, irritado, louco de raiva de si mesmo. Enfiou-se no jeans e ficou andando pelo quarto, lembrando-se de suas promessas de vingança.
Dharr era um vidente assombroso. Um dos poucos que conseguia ir e vir pelo portal dos infernos, fazer viagens astrais e se comunicar com os spectros... E justamente, foi o spectro de Virgil que pareceu vir em sua mente. Ele, assustado, saiu correndo do quarto. Não, não podia ser verdade. Virgil!
Correu para longe, sem se importar com os pedregulhos que machucavam os seus pés... Mas a imagem de Virgil, um ar vingativo e cheio de ódio, o perseguia para onde ele corria. Parou diante de rochas imensas, a areia da noite ainda queimava os seus pés...
- Virgil...
"Cumpra o que me prometeu. Jogue-o no portal dos infernos...".
- Quem matou a minha sacerdotisa? Virgil... Você tem algo a ver com o que está acontecendo nessa dimensão?
Dharr ouviu a risada sinistra do ex-amante, vislumbrou os cabelos tão brancos como os de Dante, e o olhar duro de reprovação... Tudo acontecia a nível mental, a comunicação, a visão, mas para Dharr era algo tão real como conversar com um humano num ônibus ou metrô...
"Você e eu não mudamos o destino dos deuses, mas fazemos os nossos próprios. Você se apaixonou por esse assassino".
- NÃOOOO!
Dharr jogou-se de joelhos no cão e cobriu o rosto com as mãos. O grito dele foi o de um animal ferido, o de um ser apaixonado cuja verdade do amor queimava como fogo...
"Então mostre-me que não e faça a minha vingança... Ainda, mesmo como um maldito spectro, tenho legiões ao meu lado no portal. Você vai atacá-lo, quando ele chegar perto do xamã...".
- O xamã...
"O velho está morto. Quem está lá é um dos meus seguidores, sob a forma do velho feiticeiro. Mas o demônio, sozinho, não vai conseguir aprisionar Dante. VOCÊ vai atacar Dante para que meus servos o levem... E tomar dele o medalhão que ele carrega no colar...".
Dharr abriu a boca para retrucar algo, mas, não teve coragem. Havia prometido, diante de Aton, que vingaria a morte de Virgil... Não tinha o direito de fraquejar agora...
- Virgil... Porque Dante matou você?
"Porque ele queria ser o senhor do Portal... Agora, vá, não me desaponte... outra vez. Eu quero Dante de Sparda mergulhado no portal antes do dia clarear...".
Dharr respirou fundo. Era o destino. Prometera a Aton. Prometera a Virgil. E ele agora, era um spectro errante por causa do irmão...
Dharr ergueu-se e levantou o rosto, em sinal de altivez. Havia lágrimas em seus olhos lindos, mas sua voz soou determinada.
- Muito bem, Virgil, se isso o fará descansar em paz, na dimensão que vive, juro que jogarei Dante de Sparda no portal dos demônios e farei o que havia prometido...
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Continua...
Agradeço os comentários do último capítulo.
Espero que tenham gostado deste, e se for possível, deixem um comentário, assim me animo a continuar e quem sabe logo logo estarei postando mais um para quem se interessar.
Beijos
Jade Toreador
