Título:
O Despertar
Do Sol
Gênero: Yaoi, Lemon, U.A,
Sobrenatural
Personagem principal: Dante De Sparda
Autores:
Jade Toreador/ Scarlet Toreador
Status: Incompleto
Sumário: Em sua busca por vingança, Dharr se envolve com Dante de Sparda, um demônio metade humano que detém não somente uma força imensa, mas também as rédeas de seu destino. Vingança, ódio, desejo e amor se misturam nessa história.
O Despertar Do Sol
Capítulo 3
De todos os pesadelos que ele poderia ter, o pior era aquele! Sempre tivera medo daquilo, medo que de fato aquilo acontecesse... Debateu-se. Estava em frente ao portal... O portal do Inferno! Podia sentir o bafo quente o calor insuportável, o ar ácido... O cheiro de enxofre queimava suas narinas... Tinha que ser um pesadelo!
Virou para um lado e para outro. Sentia arrepios. Estava ali na sua forma demoníaca, mas as suas asas pareciam se encolher...E enfraquecer lentamente...
Como havia dito o poeta, cujo nome era o mesmo do seu, Dante, o Portal do Inferno não tinha portas e nem cadeados, mas somente um aviso sobre a entrada que advertia: uma vez dentro, dever-se-ia abandonar toda a esperança de rever o céu, pois de lá não se poderia voltar!
As almas entravam ali porque desejavam fazê-lo... Assim era dito... Mas ele, Dante de Sparda, sabia muito bem que nem todos entravam lá porque queriam...
Fez força para acordar!
Talvez estivesse ali por ter falado sobre Virgil com Dharr... Ele, Dante, tinha que despertar de vez, sair daquele pesadelo para proteger Dharr...Dharr corria perigo!
Nossa! O cheiro de enxofre parecia cada vez mais real...
Tentou se mexer outra vez... Estava imobilizado.
Tinha que sair do sono, chamar por Dharr e procurar o Xamã... Mas não conseguia se libertar do seu pesadelo! Tudo parecia cada vez mais palpável... Igual ao poema, onde o inferno está repleto das almas daqueles que morreram com a determinação de entrar naquele portal, porque acreditavam que ali a vida eterna seria glorificada...
Nunca iriam os humanos entender que a alma só tinha de escolha enquanto estava viva! Apenas espíritos nobres tinham o poder de raciocinar depois de desencarnados... Os espíritos fracos e pobres perdiam a capacidade de pensar claramente e tomar decisões...
Mas o que estava acontecendo com ele? Esforçou-se mais uma vez. Abriu os olhos e, estranhamente, seu coração batia descompassado... A primeira coisa que viu foi o rosto de Dharr sobre o seu. Os lindos olhos dourados brilhavam como estrelas... Mas pareciam tristes...
- Dharr... Que bom que está aqui... Estou me sentindo tão estranho...
Sem conseguir conter o impulso repentino, Dante puxou Dharr para si e o abraçou com força... Um sentimento horrível de perda pesava em seu coração... Era algo pior do que um presságio ruim, era como se realmente algo nefasto e irreversível estivesse para acontecer...
Um pesadelo... Ou um aviso?
A boca de Dante buscou a de Dharr num beijo carinhoso e protetor...Dharr retribuiu o carinho, mas sua voz soou estranhamente vazia quando o beijo acabou...
- Não deve ser nada... Um pesadelo tolo, por causa do calor...
Dante sorriu, um sorriso de menino:
- Um demônio, mesmo mestiço, está acostumado com o calor... Mas você deve ter razão... Eu... Não dormiu ainda, porquê?
- Fui até o deserto ver as estrelas...
- Não deveria, não sem que eu o acompanhasse!
- Então... Venha comigo, quero continuar a ver o céu, agora, ao seu lado...
- Você deve descansar...
O coração de Dharr doía... Dante... Estava tão carinhoso... Não. Não podia se esquecer que aquele monstro matara Virgil. E que deveria pagar o preço disso.
- Descanso depois... Vamos, venha comigo... Por favor... Quero...Namorar a luz das estrelas!
- Namorar? - Dante riu, um riso que não tinha nada do seu sarcasmo habitual... - Tudo bem... Pelo menos, eu esqueço o maldito pesadelo... Vamos para o deserto ver as estrelas...
Dante vestiu-se, pegou sua inseparável espada sempre sob o olhar impenetrável de Dharr Dhu Figar que parecia feito de pedra, tão inexpressivo estava seu rosto...
- Vamos!
Dharr sentia seu estomago se apertar. Afastavam-se vagarosamente do motel sujo e mal cheiroso onde ele Dharr tinha vivido horas de um prazer inconfessável...
- O que está acontecendo, Dharr? Está calado demais...
Dharr estremeceu com a voz quente de Dante! Uma voz... Terna!
- Talvez você tenha razão e eu esteja cansado demais... É só isso...
Dante o tomou nos braços...
- Então vamos voltar... Posso cobrir você de beijos até...
- Não!
Dharr espalmou as suas mãos delgadas no peito de Dante.
- Já que estamos aqui, porque não vamos até o Xamã, o seu protetor? Queria tanto acabar com isso logo e poder voltar para casa...
Dante abraçou Dharr e este, sem se conter, deixou que sua cabeça descansasse naquele peito forte.
- Dante...
- Tudo bem! Vamos ver o Xamã! Também quero voltar, para colocar você em um lugar seguro o mais rápido possível. Para isso, preciso saber o que está acontecendo desse lado e do lado de lá!
Puxando Dharr pelas mãos, aquele que ele pensava ser apenas um ser humano com alguns poderes sobrenaturais, Dante seguiu em direção a moto. Antes de subir na garupa dela, no entanto, Dharr perguntou:
- Dante... Por que disse aquilo?
- O quê?
- Que eu era apaixonante e que se rendia aos meus encantos? Você estava brincando, não estava?
Dharr percebeu que prendia a respiração, tamanha a sua tensão a espera daquela resposta. Ouviu um suspiro de Dante antes deste responder:
- Não, sacerdote. Eu não brinco com meus sentimentos... Eu os oculto, finjo não dar importância, mas não brinco com eles...
As mãos de Dharr crisparam-se com força. Ele respirou fundo, tentando controlar a louca emoção que batia em seu peito... Excitação e revolta, ternura e raiva, tudo ao mesmo tempo...
"Mentira. Um assassino do próprio irmão não tem sentimentos... E eu não vou voltar atrás...".
Mas aqueles pensamentos, Dante não teve capacidade para captá-los!O bloqueio mental de Dharr era mesmo poderoso.
Subiram na moto. O sacerdote de Aton abraçou a cintura de Dante e este partiu em velocidade para o noroeste, rumo ao local onde vivia o velho feiticeiro...
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Pararam num planalto onde havia areia e pedras... Mais nada. O próprio Dharr, acostumado ao deserto, surpreendeu-se ao imaginar que um humano comum pudesse viver ali. Fazia frio no deserto àquela hora e a penumbra era total. Dante desceu da moto, mas deixou a lanterna da mesma acesa, para iluminar um pouco o lugar. Dharr desceu atrás dele. Percebeu que as pedras, como um dólmen celta, formavam um círculo de ressonância cósmica, usado pelos magos para duplicar poderes mágicos... Um altar natural, próprio para encantamentos. Notou também que, pelas pedras, ressonava uma energia imensamente maligna. A negritude daquela aura era tamanha, que chegou a assustá-lo.
Sabia que aquilo que sentia era o demônio que esperava por Dante. Usando seu poder, bloqueou a mente do mestiço demônio-humano para que este não percebesse a presença daquela energia nefasta...
Dante foi caminhando para dentro do círculo de pedras...
- Juan, sou eu... Dante! Pai... Você está ai?
- Pai?
- Já disse, ele criou a mim e ao mano por muitos anos... Pai, apareça e traga tequila, vamos beber e conversar um pouco... Preciso de sua ajuda!
Dharr incomodou-se com o modo carinhoso como Dharr falava de Virgil. E como chamava o velho feiticeiro com afeto...
O Xamã impostor apareceu... Um sorriso amistoso, mas Dharr, o sacerdote, podia ver a aura negra e os olhos do demônio, ocultos sob a imagem do olhar falsamente humano. Dante, com seus poderes bloqueados pela força mental do sacerdote de Aton, nada percebeu... Abraçou o velho calorosamente:
- Pai, que bom ver você...
O falso Xamã aproveitou o abraço e atacou Dante ferozmente. Este, pego de surpresa, caiu soltando um grito de dor, mas ergueu-se imediatamente, com sua espada em punho. Diante dos olhos dele, o velho tornou-se não num demônio como Virgil dissera, mas para o espanto do próprio Dharr, uma legião deles!
Dante gritou:
- Dharr, depressa, venha para perto de mim! Vou proteger você!
Dharr correu para ele, mas, ao invés de se colocar atrás de Dante para se proteger, aproveitou que o mestiço demo-humano estava de costas para ele e o atacou com seu imenso poder. Uma bola energética de impressionante capacidade destrutiva atingiu Dante em cheio. Este, aturdido, foi jogado longe, espatifando suas costas numa das pedras do dólmen. O som da clavícula de Dante se partindo foi horrível. Dharr sentiu que, dentro dele, sua alma parecia se quebrar também! A vingança tinha um sabor amargo como ele, Dharr, jamais ousara supor...
O sacerdote fez com que uma luz vibrante acendesse a clareira como se fosse a luz do dia... O Sol de Aton! Os demônios urraram de dor, não gostavam da luz, mas sentiram que aquela luz era para enfraquecer o filho de Sparda, o maior de todos os demônios que um dia existiu... E eles exultaram alegria!
A luz sufocava Dante. Com ela, ele não conseguia se mexer e a clavícula quebrada doía horrivelmente.
Todavia, naquele mar de agonia e dor, os olhos dos dois se cruzaram... Havia surpresa e mágoa nos olhos de Dante, determinação nos olhos de Dharr...
Diante do sacerdote, ao entender a extensão do que acontecia, o olhar de Dante foi se tornando frio como gelo. Sua voz fez soar uma palavra só, em tom baixo, contido, mas surtiu no sacerdote um efeito arrasador:
- Traidor.
Ignorando a dor imensa que sentia em seu coração por entregar Dante aos demônios, numa tentativa louca e derradeira de defender seus princípios de vingança, a resposta de Dharr foi a de aumentar a intensidade da luz e a de arrancar de Dante o medalhão que o fazia protetor do portal!
Com seus poderes sendo sugados pela luz que emanava do sacerdote, Dante estava indefeso.
Enfraquecido, não conseguia atingir sua forma demoníaca. Pelo contrário, sua forma humana estava mais materializada do que jamais estivera, e os ferimentos não se curavam com a rapidez sobrenatural de antes! Estava agora, como um simples humano, a mercê das limitações da carne e do sangue...
Ao sentir o colar com seu medalhão ser arrancado do pescoço com um tranco, Dante gemeu de ódio e frustração. Ouviu a voz fria do sacerdote de Aton dizer a horda demoníaca:
- Ele é de vocês...
Os demônios atacaram. Dante, mesmo sem forças, tentou lutar. Mas já não tinha a espada, ou suas pistolas automáticas para ajudá-lo. Nem os orbes mágicos que recuperavam suas energias cósmicas havia ali. Nada.Tudo estava desfavorável...
Dharr ficou ali, estático, vendo aquela cena de luta covarde e desigual como se fosse um pesadelo hediondo. A mente de Dante e a dele, Dharr, naquele instante, haviam finalmente se tornado única, por causa da luz mágica que ele, o sacerdote, havia jogado sobre o mercenário.
Dharr somente percebeu que gritava de desespero quando sua garganta começou a doer horrivelmente.
- Chega! Párem!
Os demônios se afastaram de Dante e ele caiu no chão. O rosto e o corpo horrivelmente machucado.
Dharr, agoniado, percebeu que, mesmo assim, tão ferido, o orgulhoso demo-humano tentava se erguer...
O chefe da legião de demônios, majestoso com suas asas negras como a asa da graúna, abertas como um imenso manto de penas, se aproximou do prisioneiro e lhe deu um chute nos rins, para que o odiado filho de Sparda caísse de novo. Dante urrou de raiva e tentou atacar, mas não o fez na direção certa. Atacou o ar, na direção defasada da trajetória correta onde encontraria o adversário... Um novo ataque fez Dante cair, os cabelos louríssimos ensopados de sangue.
Dharr gritou de novo. De pavor. Sua luz, a luz de Aton, cegara Dante de Sparda!
Os demônios agarraram Dante e, diante de um Dharr totalmente perplexo, desapareceram com o mestiço demo-humano em um grande tufão negro, que fez a areia do deserto subir violentamente e machucar o rosto do sacerdote. Mas ele não ligou para isso. A dor que sentia na alma era maior do que qualquer outra. Caiu de joelhos, no chão, totalmente sem forças... Aos poucos, a realidade ia preenchendo seu coração com luto, agonia e dor...
A luz de Aton, a que jogara sobre Dante, tinha o poder de desnudar a alma do inimigo antes de vencê-lo! E o que vira na mente de Dante... Céus... Não havia maldade alguma em Dante, nem em relação ao irmão dele, Virgil, e nem a ninguém! Dante nunca quisera matar o irmão, este sim, provocara seu destino de morte ao tentar dominar o portal e a terra! Agora ele, Dharr, sabia da verdade!
O que foi que fizera?
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Dharr, ainda ajoelhado no solo árido e inóspito daquele deserto, tão longe de suas origens, não conseguiu conter o grito de dor que brotou de seu coração. Seu grito se espalhou por todos os cantos!
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Quem ouviu aquele grito naquela noite, até hoje, acredita que alguma coisa muito estranha aconteceu no deserto onde tinha vivido o velho Xamã! Nem mesmo os mais corajosos param mais do que alguns instantes para ver o lugar, agora todo coberto com negra fuligem, como se um grande incêndio tivesse acontecido por ali!
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Depois do grito Dharr sentiu-se vazio e fraco como se jamais pudesse se erguer outra vez daquele chão.
Suas mãos tremiam, seu corpo pesava e ele sabia que nunca mais esqueceria a dor e a desilusão que vira nos olhos de Dante de Sparda. O demônio que tinha lhe entregue o coração... Era ele a sua alma gêmea, não Virgil!
Queria poder chorar, mas sentia-se seco e sabia que seco estaria para resto de seus eternos dias se não conseguisse remediar o que tinha feito a Dante...
Ergueu-se com muito custo, e respirou fundo... Ergueu a cabeça às estrelas que brilhavam esplendorosas no manto negro do céu do Novo México... Elas brilhavam como os olhos de Dante! Dharr fez então um outro juramento: "Traria Dante de volta ou morreria tentando!".
Ele sabia que isto poderia durar por toda sua eternidade...
Andou então em direção ao norte! Agora tinha que voltar ao templo e se preparar para aquela longa viagem... Não queria nem pensar no que Dante poderia estar sofrendo... Por Aton! Como pudera se deixar levar por Virgil daquele jeito? Como não conseguira ver antes a maldade e a mentira? A ignóbil fome de poder dele... E agora? Agora ele mesmo, Dharr, tinha dado a Virgil a chance se tornar único a governar o umbral, mesmo sendo um mísero espectro e... Não... Não deixaria que aquilo acabasse daquela forma...
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Dharr acordou porque sentiu o rosto molhado... Nem percebeu que eram suas próprias lágrimas que escorriam por seu rosto ressequido pelo sol. Talvez tivesse pego no sono sem perceber, a última coisa que se recordava era de ter sentado um pouco para descansar a mente... Desde que descobrira que viveria várias encarnações pelos séculos que viriam, ele Dharr não se recordava de ter sentindo uma dor tão grande como a que sentia naquele momento. Agora tinha que descobrir como entrar no portal com consciência para reparar o que tinha feito!
Passou as mãos pelo rosto e secou as lágrimas. Já tinha perdido tempo demais e não queria nem imaginar os horrores que Dante poderia estar passando no Portal! Na verdade, tinha medo de tentar descobrir até mesmo se ele, Dante, ainda tinha forças, se ele tinha vida, pois duvidava que Virgil o deixaria viver. Mesmo morto, vivendo na dimensão espectral, Virgil ainda controlava algumas legiões do portal do inferno! E seu ódio por não estar mais ali, com o seu corpo, o fazia um inimigo mortal para Dante, oh, Aton, como não percebera antes? Como se deixara...
De repente, Dharr se lembrou do medalhão... Tateou o bolso da calça... Estava ali... Não tinha desaparecido como ele tinha imaginado, será que Virgil viria buscá-lo? Se assim fosse, como seria? Será que aquele medalhão poderia ajudá-lo de alguma forma?
Foi então que as lágrimas tomaram conta da face de Dharr Dhul Figar e ele disse:
- Aton! Eu que tenho vivido por tantos anos em seu nome e para assim mantê-lo vivo, me ajude, me ajude a reparar o mal que fiz. Sei que foi castigo por eu pensar em vingança... E, se assim for, castigue a mim... Mas me mostre agora como entrar no Portal e salvar Dante de Sparda!
- Aton não vai ajudá-lo, garoto... Eu vou.
Dharr virou-se pronto para mandar um ataque energético, mas parou a mão no ar quando percebeu quem era...
O Xamã!
O velho se materializava na sua frente, condensando suas células como a água fazia na forma da chuva quando esfriava...
- Eu pensei que o senhor estivesse... Morto.
O velho sorria, um sorriso triste...
- Morri um pouco quando meu próprio filho adotivo me traiu, e traiu ao irmão...
Os lábios de Dharr tremeram de dor. O jovem sacerdote sabia que ele, o velho mago, falava de Virgil... Ah, mas soubera somente agora, e o preço da sua cegueira fora muito alto! Seus olhos amarelados como os de um gato lacrimejaram...
- Senhor... Como conseguiu sobreviver ao ataque dos demônios?
- Desde que Virgil enfrentou Dante para se apossar do portal, eu sabia que um novo mal estava por vir... E me preparei. A magia branca pode ser tão eficiente quanto a negra, menino, quando a astúcia está do lado do feiticeiro... Os demônios me atacaram, não a mim, mas a uma projeção astral que preparei com todo o cuidado, para que eles pensassem que era eu, de carne e osso, quem estava ali, a mercê deles...
- Por que não avisou Dante?
- Eu não tinha idéia que seria um ataque tão fulminante. Mesmo tendo enganado os demônios enviados por Virgil, fiquei muito enfraquecido, e, por isso, preso em um limbo dimensional, sem poder voltar a terra. Mas agora, uma luz forte e poderosa, imensa, subitamente me carregou de volta para cá, para esta dimensão terrestre... Você... Tem a aura dessa luz... A luz do disco solar...
Dharr estremeceu de emoção. Ergueu os braços em sinal de gratidão! Aton! O Deus mandara o velho de volta para terra, para ajudar a ele, Dharr! Então isso... Era sinal de que podiam, unidos, tentar salvar Dante!
- Senhor...
- Não sei se temos o que conversar... Percebi, preso no limbo, que você ajudou os demônios a levar o meu menino Dante... Eu deveria matar você...
O velho, para a surpresa de Dharr, armou um poderoso golpe com a mente e o lançou contra o jovem sacerdote. Dharr foi jogado longe, pela mente do velho, como se houvesse levado um murro físico poderosíssimo, mas não revidou. Pelo contrário, ajoelhou-se no chão, e ergueu as mãos, como se pedisse clemência...
- Mereço sim morrer, Xamã, porque traí Dante por causa das mentiras de Virgil! Sei que o preço disso é a morte. Infelizmente, desgraçado que sou, não vou morrer, a não ser que Aton diga que chegou há minha hora... Sou um eterno servo de Aton, o Deus solar... Um imortal. Encarno a cada geração num corpo, lembrando do que fui na primeira encarnação, com os poderes que Aton me dá... E por isso, apenas ele tem o poder de me tirar a vida. Peço que me escute, e me deixe reparar o mal que fiz... Me ajude.
O velho se aproximou do jovem sacerdote com um ar sinistro e depois... Riu... Um riso malicioso e divertido...
- Ah, então é você o rapaz que andava na garupa da moto de Virgil... E pelo jeito, agora, trocou de garupa, se apaixonou pelo outro irmão... Digo a você, menino, que três é sempre um mau número para o amor...
- Por favor, me ajude! Preciso achar um modo de entrar no portal!
- Um sacerdote de aton sabe como entrar no portal!
- Sim, mas o inferno é enorme, com várias dimensões paralelas, como vou encontrar Dante?
O velho olhou sério para o jovem...
- O medalhão...
O medalhão de Dante, claro! Dharr puxou a pedra preciosa...
- Está aqui...- Seu coração se apertou ao lembrar do grito de frustração de Dante quando seu medalhão foi arrancado do pescoço dele. - Eu... Olhe.
Dharr puxou o medalhão. O Xamã o segurou...
- Virgil tinha a outra metade. Juntos, eles, os irmãos, tinham a chave do portal... Sei que você, o sacerdote, pode entrar lá sem o medalhão, por causa dos poderes de Aton...
- Mas como vou achar Dante?
O velho riu...
- Leve o medalhão e seus poderes serão aumentados lá no inferno. Só tome cuidado, porque se os demônios descobrirem que você o possui, irão querer comer o seu fígado para roubá-lo. A outra metade se perdeu no inferno, mesmo assim, esta metade aí dá muitos poderes a quem a tem...
- Eu vou atrás de Dante.
O velho sorria condescendente. Via nos olhos de Dharr os olhos de um garoto apaixonado.
- Muito bem, fique no centro do Dólmen. Eu e o seu Senhor, Aton, vamos transportar você para a dimensão infernal...
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Dharr ergueu os olhos amarelos para o céu onde o sol brilhava já alto! Retirou suas roupas livrando–se dos vestígios humanos e segurando apenas o medalhão de Dante bem firme na mão direita ele foi até o centro do Dólmen como tinha pedido o Xamã e não se espantou quando sentiu seu corpo ser revestido por uma túnica branca de tecido diáfano e mangas largas como as de um mago...
- Agora, filho de Aton, preste bem atenção no que vou dizer! O medalhão será seu guia e eu só o ajudarei a voltar se encontrar Dante... Vamos ficar ligados mentalmente por um linha muito fraca e não sei quando tempo poderá durar, mas uma vez os dois juntos poderão tentar sair do portal... Dharr Dhul Figar, é esse o seu nome?
Dharr estremeceu.
- É.
- Mesmo sabendo que poderá jamais voltar, que corre o risco de ficar eternamente nos limbos dimensionais do inferno, enfrentando os piores suplícios, ainda assim, irá?
- Irei, pai!
- Use toda a pureza da qual seu coração é capaz... Você vai precisar de muita sorte...
- Se não achar Dante, não voltarei!
O Xamã ergueu as mãos e tudo em volta ficou estático, como se fosse uma redoma mágica fora do mundo natural. O dia esmaeceu e um vento forte começou a soprar. Firme no centro do Dólmen, Dharr não sentia medo, apenas pressa. Tinha pressa e seu coração chorava o mal que havia feito, talvez fosse o único ser vivente a ter pressa de chegar ao Inferno...
Dharr sentiu a mente do Xamã penetrando na sua e a deixou livre para ele. Sentiu também quando as mãos cósmicas de Aton, quentes e paternas, o ergueram... E então tudo desapareceu...
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Não existe pior pesadelo no mundo do que aquele que mais evitamos! Enfrente seu medo, nunca o deixe adormecido dissera o Xamã e era isso o que ele Dante de Sparda agora tentava fazer ali, naquele lugar horrível e escuro. Enfrentar o medo... Ah, seu medo era aquela eterna escuridão! Todos os seus ossos doíam. Ele se sentia sujo e estava ali amarrado por correntes medievais numa espécie de cratera onde uma água fria pingava eternamente. Nada tinha do calor esperado do inferno. No entanto, de guarda haviam vários demônios de falanges diferentes... Não conseguia vê-los, mas podia sentir os odores, e ouvir os diferentes dialetos, ora em palavras, ora em pensamentos...
Estava cego!
Enfrentar o medo... Sentia-se capaz de enfrentar o medo, no entanto jamais esqueceria a dor sofrida ao ser atacado por ele... Ele... Aquele a quem tinha oferecido muito mais do que proteção...
Sim enfrentaria todos os seus inimigos, fossem eles quais fossem, pois não se entregaria, não deixaria sua vida ir embora antes que tivesse acertado as contas com Dharr...
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Uivos, um frio aterrorizante, sombras, almas penadas gemendo, e uma desolação absoluta! Não havia fogo, caldeirões ou diabinhos com tridentes! A imaginação humana nem chegava perto do que era a realidade das diferentes dimensões infernais!
Dharr havia chegado na primeira dimensão. Sabia que eram sete, ao todo, até que conseguisse chegar até o chamado "coração das trevas", o lugar, onde, segundo lendas de tempos imemoriais, havia um portal que era o centro de todo o universo, o lado da escuridão! Pelo que sabia, as formas demoníacas existiam até a quinta dimensão. Depois... O que havia além... Era um mistério absoluto! Dante... Onde estaria ele? Fora, como ele, o próprio Dharr, materializado ali com a natureza da sua carne transmutada... Seu corpo agora, era feito da mesma matéria que compunha tudo ali, naquela dimensão...
Dante não deveria estar longe... Talvez estivesse ali mesmo, mas poderia estar até a terceira dimensão... Apenas espectros conseguiam passar da terceira dimensão em diante... Onde não havia mais vestígio de matéria alguma, transmutada ou não...
Frio. Era um frio de cortar a alma!
E havia sede, fome. Um corpo transmutado não tinha necessidade de comer ou defecar, ou beber, mas... Aquelas necessidades atormentavam como nunca, algo que nunca sentira, nem na forma humana... Um desconforto eterno... Frio, fome, vontade de se aquecer contra o corpo de alguém...Volúpia... Agonia...
Dharr ia caminhando por entre um lamaçal frio, ruínas que não entendia bem se eram reais ou fruto das mentes doentias que perambulavam por ali como zumbis... Via imagens, cenas horríveis, que entendia ser projeção daquelas mentes perturbadas... Céus... Iria perder o juízo se ficasse ali...
Caminhou mais um pouco, esfregando as mãos para se aquecer... Percebeu então que estava dando voltas. Havia um grande rio ali, o rio Stinx, o lendário rio do barqueiro, mas, o próprio rio parecia nascer em círculos e ele não conseguia imaginar um modo de encontrar Dante...
Lembrou-se então do medalhão...
Puxou-o e, na mesma hora, o medalhão reverberou, mostrando uma faixa de luz que parecia indicar um caminho, como uma bússola... O rio. De algum modo, ele tinha que atravessar o rio, ou morrer tentando.
Mas... Seria mesmo um rio? Não era água aquilo... Aton...
Horrorizado, Dharr percebeu que era o rio a soma dos pensamentos sombrios que criavam todas aquelas imagens medonhas... Se não tivesse a mente firme, lúcida, iria mesmo mergulhar naquele rio de trevas e nunca mais voltar à superfície...
Num esforço sobre humano, fechou seus olhos e apertou nas mãos o medalhão de Dante para ter forças. Então tentando apagar de sua mente os horrores que o cercava ele mentalizou um céu muito lindo, azul salpicado de nuvens brancas pequeninas, assim como era o céu de sua infância no Egito quando o pai o ensinara a adorar a Aton, e então ali bem no meio de tudo viu o Sol, quente, brilhante seu eterno senhor... Aos poucos sentiu seu coração se acalmar e as forças retornarem, mas sabia que dali para frente tinha que ter muita coragem e perseverança... Ainda mentalizando aquele dia lindo que tinha criado, ele imaginou uma montanha muito verde que nada tinha haver com os desertos e lá no topo ele colocou Dante de Sparda, a salvo de tudo e de todos e Dante estava lindo em todo o seu esplendor, e ele Dharr não descansaria enquanto não o visse assim em um lugar seguro... Estava então sentindo-se repleto de suas energias e pronto para guardar aquela criação em algum lugar seguro de sua mente quando de repente sem que ele intervisse em seu quadro, dentro de sua imaginação surgiu Nefretiri, sua adorada esposa, a amiga que jamais tivera...
Ela ergueu os braços sobre Dante que se ajoelhou e então olhando diretamente nos olhos Nefretiri disse:
- Eu sou ele... E ele, sou eu! Somos sua alma gêmea, demorou tanto para nos reencontrarmos e você quase estragou tudo! Salve-o, senão morreremos os dois!
Assustado Dharr balançou a cabeça com força... Dante e Nefretiri... Uma única alma... Teve outra vez vontade de chorar... Porque não tinha percebido? Como não tinha entendido que a paz e o prazer que Dante lhe proporcionava era maior do que normal? Por um instante relembrou o ápice do ato amoroso, as asas de Dante o cobrindo, protegendo... Abriu os braços e em seu desespero gritou:
- EU TENHO FÉ, FORÇA E PODER! PELO MEU DEUS LUTAREI E NADA SERÁ CAPAZ DE DETER! UM ÚNICO DEUS, UMA ÚNICA FORÇA É NISSO QUE ACREDITO! MEU SENHOR ME BASTA E POR ELE E COM ELE SOBREVIVEREI O MAL, DETEREI O MAL, E ACABAREI COM OS MEUS INIMIGOS!
Uma luz intensa pairou sobre Dharr e então ele abriu os olhos. Percebeu que por um instante os gritos, as lamentações e os lamúrios tinham cessado como se a força de sua prece os tivesse feito calar. Olhou em volta, sentia os spectros o olhando de maneira assustada...
Respirou fundo e olhou o rio... Esquecer todo o resto q atravessar o rio... Chamar o barqueiro... Será que o levaria? Será que teria que arrumar um outro modo de atravessar o rio?
- Chamou-me?
Dharr teve que se conter para não gritar diante da figura grotesca de Carontes, o barqueiro. Sussurrou:
- Sim, cha... chamei!
- Trouxe a moeda?
- Não...
- Então, não vai poder ir até a presença de Anúbis. Na verdade... - A boca horrenda do barqueiro sorria - Nem um morto você é de verdade... Está longe de sua dimensão, humano. Deve retornar, daqui. Não vai poder ver o grande Juiz Thot.
Dharr estremeceu. Thot! O grande juiz dos mortos!
Dharr estava surpreso, quase confuso.
Nunca imaginou encontrar naquela dimensão o legendário rio Stinx, tão proclamado na crença dos gregos... Lembrava-se que, segundo essas crenças, o submundo infernal era composto por duas grandes partes: o Érebo e o Tártaro. O Érebo era todo o inferno, com suas sete dimensões infernais. Já Tártaro era a prisão onde os mortos eram julgados e condenados... O rio Stinx, juntamente com o rio Lethe e Phlegethon, cruzavam as dimensões infernais e protegiam o castelo do grande senhor Infernal... Hades! O grande Juiz! Céus... O barqueiro chamara o juiz de... Thot!
Ele, Dharr, como adorador de Aton, só acreditava num único Deus. Todavia, lembrava-se bem da sua infância como sucessor ao trono do Egito, e também nas crenças que aprendera com os sacerdotes do templo... Crenças essas ainda mais antigas do que as Gregas... Havia, segundo esses sacerdotes, o grande julgamento após a morte, que era feito por Thot, um Deus representado por eles com cabeça de pássaro e um papiro na mão, o grande Juiz. Céus... Hades e Thot eram um só! O grande Juiz dos mortos!
O barqueiro dissera Thot, não Hades... Como seria normal Carontes chamar seu senhor...
Dharr lembrou-se, atônico, do que os sacerdotes politeístas diziam: no dia do julgamento, o morto era levado por Anúbis, o Deus com cabeça de chacal, até a presença de Thot para ter seus atos pesados na balança da verdade. No julgamento, além de Thot, estava Maat, a Deusa da Justiça e da Verdade. Ela pesava os feitos do morto, enquanto o coração deste e seus atos pendiam na balança da justiça. O demônio Ammut também estava ali, na forma de um cão faminto, pronto para devorar o coração da vida, por ordem do grande Thot, caso a balança pesasse desfavoravelmente ao julgado e o morto fosse considerado indigno de entrar na vida eterna...
Dharr respirou fundo, controlando o seu medo. Medo era uma coisa que há muito ele não sentia, mas agora, não mais estava entre humanos... Havia entrado em dimensões totalmente novas... Era difícil não temer o desconhecido!
A imagem de Dante veio em sua mente. Não. Não iria fraquejar agora!
- Não. Não sou um humano qualquer. Renasço constantemente sob as ordens de Aton. E vou passar.
O barqueiro sorriu...
- Más notícias para você... Mesmo quem acredita num único Deus, fica sujeito às regras divinas da evolução... E ao mundo infernal... Seus julgamentos serão pesados, acreditando você nos juízes ou não!
- Não aceito juízes além do meu Deus Aton! E não há de ser uma moeda que vai me impedir a passagem pelo rio, barqueiro. Deixe-me passar. Não me importo se o julgador se chama Thot, Hades ou Satanás. O nome evolui com os tempos, com as crenças, mas eu creio apenas na luz de Aton, nada mais!
- Se colocar contra os Deuses é pedir a destruição plena da alma... Não seja imprudente.
- Pois eu vou passar, com ou sem a sua ajuda!
O barqueiro, com um único gesto, fez Dharr voar para trás e cair ao solo, a beira do rio... Dharr tentou se defender, mas de nada adiantou. O barqueiro, no seu domínio, tinha plena força para decidir quem passaria pelo rio ou não...
Dharr gritava e se debatia, porque a dor a ele imposta pelo barqueiro era insuportável. Além da dor corporal, via imagens apavorantes, tiradas do seu inconsciente. Imagens de terror e pesadelo, que vinham desde sua primeira encarnação. Ficaria insano em poucos minutos, se não conseguisse bloquear a sua mente, mas o fato é que não conseguia!
No seu desespero, Dharr puxou o medalhão para si, como se fosse um amuleto para protegê-lo, ou pelo menos, a última lembrança que teria de Dante antes de perder a sanidade de vez... Aquele gesto foi a sua salvação. Ouviu uma voz grave e possante como a de um trovão, ecoar...
- Pare, barqueiro. Ele tem a pedra do grande Sparda.
O barqueiro parou sua tortura algoz. Porém, mergulhado que estava em sua dor e agonia, Dharr não abriu os olhos ainda. Temia encontrar o rosto horrível do barqueiro sobre ele. Ainda tinha a mente perturbada pelas visões dantescas que tivera... Sim, estava com medo. Se achava forte, mas tinha medo. O que estaria então passando o seu Dante, Aton!
A voz de trovão se vez ouvir novamente...
- Abra os olhos. Não vou lhe fazer mal.
Dharr obedeceu. Surpreso, viu uma figura ainda mais impressionante sobre si do que o barqueiro, fitando-o com interesse. Uma imagem que impunha temor até num sobre-humano, como ele!
Era o próprio Anúbis!
Dharr teve que conter um grito de susto. Chegou a abrir a boca de espanto!
Sim, era Anúbis, o temido condutor dos mortos! Vira aquela imagem representada nos templos do antigo Egito quando era faraó: o tórax largo, bronzeado, o saiote egípcio curto evitando a nudez total, a cabeça negra de chacal!
O poderoso Anúbis ergueu as mãos e as levou até cabeça, puxando-a para trás... Uma máscara! Diante do olhar espantado de Dharr, surgiu agora um rosto na forma humana, belíssimo, olhos negros como a ônix lapidada. Uma beleza que impressionaria o mais exigente apreciador da perfeição estética!
- O que faz com a pedra do poderoso Sparda, fedelho de Aton?
- Eu...
- Fiz uma pergunta e exijo uma resposta! O que faz com a pedra de Sparda! Aonde conseguiu isso?
A voz de Anúbis poderosa e sonora parecia repercutir em ecos por toda aquela dimensão. Carontes ainda tentou intervir...
- Isso pode ser mais uma armadilha como temos tido tantas por aqui senhor! Ele é forte e eu...
- Cale sua boca e saia daqui! – disse Anúbis para o barqueiro sem, no entanto, desviar seus olhos negros dos olhos amarelos de Dharr, que agora já tinha se recomposto e mostravam uma reserva fria – Siga seu caminho e continue seu serviço. Se o rapaz aqui tiver realmente motivos para atravessar o rio, eu mesmo cuidarei da travessia...
- Sim, meu senhor!
Carontes se foi e uma escuridão estranha se apoderou do lugar. Dharr sentiu seu sangue esfriar, continuava encarando Anúbis e não gostava muito do que via...
- Vamos, rapaz, diga de uma vez o que esta fazendo com o medalhão de Dante de Sparda!
- Como sabe que este medalhão é de Dante!
- É atrevido mesmo, moleque...
- Não sou moleque! Sou Akenaton, Faraó do Egito, Supremo Sacerdote de Aton e exijo respeito!
- DEIXE DE BALELAS... Aqui, é um intruso, nada mais!
Anúbis gritou e sua figura pareceu se tornar maior por alguns instantes. Continuou:
- Para mim, não passa de um estorvo... Se não for convincente quanto ao motivo de ter esta pedra, não só a arrancarei de você, como trancarei seu corpo transmutado nesta dimensão infernal pela eternidade...
No instante seguinte, sem que ele se pudesse evitar, a mente de Dharr se encheu dos momentos de amor e prazer que tinha vivido com Dante... Reviveu o gozo supremo e inesquecível, do momento, do olhar de amor que recebera de Dante. Céus... Por Aton... Lembrava-se do olhar dele, Dante, cheio de dor e mágoa, quando fora covardemente atacado... Apertou a pedra contra si mais uma vez e, dando alguns passos para trás, disse:
- Vim em busca dele! Aton é meu Senhor Supremo, mas Dante, é o Senhor do meu coração! Por isso vim até aqui! Dante... Dante de Sparda foi covardemente atacado e trazido para cá! Se for mesmo que diz ser, deve saber disso e também deve saber onde ele está! Por Aton, espero que ele esteja vivo... Se Hades, Satanás ou Thot seja qual for o demônio da crença atual, se tem de fato algum poder por aqui deve saber que existe um conluio, uma ameaça de que o Portal tenha um novo imperador... Você é um general das falanges de Thot, não é? Então sabe que não estou mentindo! E é por isso que Dante está aqui! Ele foi...
- AQUI! DANTE ESTÁ AQUI! COMO ISSO É POSSIVEL, ELE JAMAIS ENTRARIA AQUI SEM QUE EU SOUBESSE OU SEM QUE...
- Com todo respeito Anúbis... sem que o senhor também tivesse sido traído por alguém...!
- Dante não deixaria esse medalhão com você. Dê-me esse medalhão...
- Só entregarei esse medalhão ao meu senhor, Dante de Sparda, ou morrerei tentando!
Dizendo isso Dharr fez uma ousadia: colocou o medalhão no pescoço. Qualquer pessoa que soubesse como agiam as pedras de Sparda teria hesitado em vesti-las, mas não Dharr. Ele sabia que aquele medalhão era a sua única chance de conseguir chegar até Dante. Imediatamente, a pedra vermelha resplandeceu e deu a Dharr uma aura espectral forte, como se fosse um escudo invisível de proteção.
Anúbis, irritado, soltou uma imprecação. Estava impaciente, quase furioso. Como ousavam atacar Dante e trazê-lo para as hordas infernais sem o seu consentimento?
Pior de tudo, como aparecia ali, aquele insignificante falando de Dante com ares de dono?
Dante... Era dele, Anúbis! Seria dele para todo o sempre! Ele, Anúbis, cuidava da alma de Dante desde tempos imemoriais... Antes que fosse Dante, ou mesmo quando era Nefretiri, a Senhora do Egito, ao lado daquele faraózinho ordinário que era agora sacerdote imortal de Aton!
Por causa daquele cretino, que estava ali na sua frente, a alma de Nefretiri chegara ás dimensões infernais perturbada, cheias de revolta, porque seu amado ficara na terra para todo sempre, enquanto ela, brutalmente separada dele por um assassinato infame, chegava ao portal infernal sedenta de justiça... Linda, andrógena, mas de alma guerreira e indômita, fora, assim que chegara ao Stinx, a causadora de uma paixão fulminante nele, Anúbis. Mas nada fizera aquela alma rebelde amansar... Nefretiri, chamada por ele próprio, Anúbis, de Dante, que na língua demoníaca queria dizer "guerreiro", pedira vezes sem conta para reencarnar em busca dele, Akenaton, na terra...
Nefretiri rebelara-se contra Aton por ele imortalizar o marido dela, Akenaton, agora chamado de Dharr, em reencarnações sucessivas, e por isso, fora castigada por Aton a viver nas dimensões infernais, longe das dimensões paradisíacas... E fora assim que ele, Anúbis, conhecera e se apaixonara por aquela alma guerreira, que se revoltara contra Aton e que fizera do Inferno a sua morada! Nefretiri queria renascer como homem, para ser senhora absoluta de si. E assim fora... Depois de jamais ouvir as confissões de amor e as súplicas dele, Anúbis, Nefretiri fora escolhida, muitos séculos depois, por Sparda para reencarnar com um dos filhos homens dele na terra! Reencarnara com a sua natureza rebelde, demoníaca, carregando o corpo de um homem, meio demônio, meio humano... Dante de Sparda. Ninguém mais do que ele, Anúbis, lamentara aquela separação... Porque sabia que Sparda exigiria do filho encarnado uma missão penosa e eterna, tal qual a de Dharr, que era a de zelar pelo portal infernal... Mas nada detivera Nefretiri, agora Dante de Sparda!
E agora, sem mais nem menos, séculos depois, aparecia o motivo de todo aquele sofrimento bem ali, na sua frente!
Anúbis se aproximou de Dharr. Irritado, os olhos brilhando desejo de morte... Sabia que com um único gesto poderia aniquilar Dharr, mas, sabia também que destruir Dharr agora e aprisionar sua alma ali seria arriscado. Não por causa de Aton, o Deus, mas por causa de Dante... Dante, embora não se lembrasse de sua encarnação anterior como Nefetiri, e nem do tempo enorme que fora a alma companheira dele, Anúbis, nas dimensões infernais, poderia se revoltar contra a destruição daquele escroto bonitinho que estava ali, esbanjando arrogância... Teria que engolir o sapo de conviver com aquele cretino até achar Dante e resolver tudo de uma vez...
Desta vez, a voz de Anúbis não soou como trovão, soou tão somente como a de um homem apaixonado:
- Muito bem, caro filhote de Aton. Escute-me: Não é apenas o amuleto que o protege, mas o desejo que tenho que encontrar logo Dante e salvá-lo. Não temos tempo a perder! Todavia, preste atenção no que vou lhe dizer... Depois que conseguirmos tirar ele daqui, vai jurar por Aton que vai desprezar Dante e jamais voltar a se aproximar dele.
- Não vou fazer isso!
Anúbis sorriu...
- Eu poderia matá-lo agora, aqui mesmo... Deixar seu éter desaparecer no rio...
- Mas não vai fazer isso. Sabe que Aton me protege, e que você precisa de mim para salvar Dante. Sinto... - Sim, era uma intuição fortíssima. - Sinto que deseja salvá-lo... Como eu desejo!
- Aton que se foda! Não tenho medo dele ou de você! Mas está certo quando percebe que quero salvar Dante. Por isso, não vamos perder tempo duelando agora. Precisamos descobrir onde ele está. E quem está por trás desse ato infame.
- Por que, Anúbis? Por que quer ajudar Dante. Eu sei os meus motivos, mas... Quais são os seus?
O belo Anúbis estremeceu. Não queria dar satisfações àquele cretino. Mas sabia que haviam aprisionado Dante não apenas para abrir o portal, mas para fazer dele, Anúbis, um guerreiro vulnerável por causa do amor louco que sentia por ele, Dante...
- Não lhe devo explicações, fedelho, mas, se não se afastar de Dante, vai me ter como um inimigo. Mesmo sendo sacerdote de Aton, vai lamentar o dia em que desafiou um Deus...
Sem esperar por mais nada e sem dar a Dharr qualquer explicação Anúbis ergueu as mãos sobre a cabeça do faraó e mesmo sem toca-lo começaram a levitar os dois... Dharr estremeceu, o ar ficava cada vez mais gelado e olhou para baixo e uma vertigem enorme com os horrores que via lá de cima dentro do leito caudaloso do Stinx...
- Por Aton...
- Não olhe para baixo! Mantenha seu olhar no meu, porque se desviar os olhos por muito tempo poderá cair e não sei se irei atrás de você...
- O que é aquilo que aparece dentro do rio...
Anúbis apenas sorriu:
- Um dia quem sabe... eu te conto! Agora se concentre senão pode descobrir sozinho se cair lá dentro...
o0o
Somente a força de sua mente o mantinha realmente vivo. A força de sua mente e o ódio em seu coração... Ódio! Sim ele fazia questão de lembrar a cada segundo da traição de Dharr, era aquilo que o mantinha respirando... Apenas não conseguiu mesmo ergueu a cabeça ao ouvir a voz do irmão... Uma voz mental, que ecoava dentro de sua mente...
- Estão dando a você uma hospedagem confortável?
-...
Mais uma vez, escutou, com seus pensamentos, o irmão, agora um riso alto...
- Agora estou muito perto de conseguir o que eu sempre quis, Dante! Achou mesmo que me deteria, Dante, seu cretino? Pois bem... Vou mantê-lo vivo para que veja a minha vitória. Depois, será a primeira oferenda feita para mim, o novo senhor do portal! Meus demônios se encarregaram de torna-lo dócil...
Com muito esforço, Dante ergueu a cabeça, mas não tinha forças para falar, no entanto como o irmão, conversavam mentalmente e ele disse:
- Foda-se, Virgil. Você não passa de um perdedor...
Virgil outra vez gargalhou...
- Veremos! Vou agora mesmo atrás daquele tolo faraó! Ele me ama e faz qualquer coisa por mim... Vou absorver a força dele que é imensa e pegar "nosso" medalhão. Manterei Dharr no limbo e nem o maldito Deus Aton dele o livrará, e Eu irei me alimentando do poder dele que é incrível, não achou? Serei assim, muito forte e poderoso... E poderei, graças a esse poder do sacerdote de Aton, sair da maldita forma espectral e voltar a materializar na dimensão infernal, sem a ajuda de médiuns...Ou das mentalizações dos meus demônios nos rituais de evocação...
Dante, cego como estava, não podia ver com a retina dos olhos, mas conseguia ver claramente o irmão na sua mente. Lá estava Virgil, lindo e perverso como sempre! Tão parecido consigo mesmo e, ao mesmo tempo, sua antítese completa! O yin e o yan, o bem e o mal, os gêmeos perfeitos que viviam a insanidade do amor e do ódio...
Na verdade ele, Dante, se sentia quase feliz por ter a presença do irmão de novo, mesmo sob a forma dos completos desencarnados, como espectro. Mas, como sempre, estavam em lado opostos... Tinha que, mais uma vez, lutar contra ele!
A vontade de Sparda, pai deles dois, era a de que o portal permanecesse eternamente lacrado, para que as dimensões demoníacas não chegassem na terra. Se Virgil pretendia conseguir se materializar, sair do corpo astral para um físico, com a força cósmica de Dharr, pra conseguir derrubar Hades, e abrir o portal que ligava a terra ao inferno, era mais do que um ambicioso, era um lunático!
Mesmo muito ferido ainda, Dante fez florir nos lábios inchados um sorriso que era puro desdém...
- Você não passa de um maluco frustrado... Não vai conseguir nada, além de despertar a fúria dos Deuses...
Antes que Virgil retrucasse, Damien o grande demônio de Asas negras, entrou na gruta e sussurrou algo para a forma espectral de Virgil, algo que o fez urrar de raiva...
- Oras, não me importo com isso! Anúbis ao lado de Dharr apenas mostra que devemos ser mais cautelosos! Mas, mesmo ele, o condutor de almas, não vai conseguir nos encontrar aqui! Temos tempo para formar nossos exércitos e atacar os demônios de Anúbis...
Virgil sorria agora... Via que o grande demônio de asas negras não tirava seus olhos de cima do corpo de Dante... Riu, um riso cheio de maldade...
- Sim, meu irmão é mesmo lindo, não é? Uma cópia exata minha... Meu espelho amado...
Virgil tentou fazer um carinho no rosto de Dante, mas, gritou de novo de raiva, quando sentiu sua mão espectral passar pelo rosto de Dante como se ela fosse uma fumaça etérea e sem consistência. Odiava ser um espectro completo! Tinha fome, sede, desejo de sexo e NADA podia ser aproveitado assim, daquela maldita forma! Quando caíra no abismo, perdera seus poderes, caíra no rio dos mortos e perdera a capacidade de materializar sua forma humana... Deuses e anjos podiam ser espectrais ou se materializar... Mas não almas desencarnadas comuns! Por isso, ele, Virgil, queria logo se tornar um Deus... Dominar a terra e as dimensões espectrais... Materializar-se de novo a hora em que bem entendesse!
- Damien, venha cá, preciso de você. Do seu corpo, para ser mais exato.
O demônio de asas negras era de uma altura impressionante, quase tão alto quanto Anúbis. Ele aproximou-se de Dante e da imagem translúcida de Virgil e fez suas enormes asas se fecharem como um manto negro de poder e majestade...
- Meu corpo?
- Isso mesmo. Vejo que você deseja Dante... Eu também o quero. Sempre quis... Podemos resolver esse impasse... Agora.
Dante enrijeceu o corpo de raiva. Tentou desvencilhar-se dos grilhões que o prendiam, mas não conseguiu. Praguejou, cheio de ódio! Maldito Virgil!
Virgil foi se aproximando de Damien, até que sua aura espectral foi se fundindo ao corpo dele. Mesmo sem enxergar, Dante vislumbrou com a mente o momento em que o espectro de Virgil incorporou no demônio... Escutou agora a voz do irmão materializada nas cordas vocais do anjo caído...
- Agora, estamos aqui, eu e meu servo... Sinto o desejo dele... E ele sente o meu...
Virgil tomou os lábios de Dante num beijo possessivo.
Amarrado, preso Dante apenas conseguia fazer com que sua raiva vibrasse a ponto de arder e sua aura demoníaca parecer gigantesca. O beijo do irmão o enchia de uma fúria cega. Tentou desviar o rosto para o lado, mas foi segurado com força. Dante não podia ver, mas os olhos de Virgil brilhavam intensos através do olhar negro do demônio Damien...
- Não faça isso Virgil...
- Por que não? Vamos me diga? Porque não?
Virgil segurava o rosto de Dante para que ele não se movesse. Sua língua passeava agora pelos lábios inchados de Dante, seu pescoço forte até chegar ao ouvido... Mesmo sem querer o corpo de Dante se arrepiou com aquela carícia íntima. Tentou se livrar mais uma vez...
- Porque vou matar você outra vez, e de novo e quantas vezes forem necessárias se você...
Virgil riu, encostou seu corpo no corpo de Dante! Sempre quisera aquele corpo perfeito, sempre quisera a beleza de Dante para si... Disse rouco a boca encostada na boca de Dante:
- Faça isso depois, mas agora vou tomar o que é meu! Você deveria ter se unido a mim e hoje seriamos invencíveis! Já que não foi por bem será por mal...
Virgil deu um puxão nos cabelos brancos de Dante que o fez gritar e então arrancou os resto das roupas que ele ainda vestia deixando-o nu na gruta gelada. Gemeu e como ele Virgil sentia que o demônio Damien se excitava ao máximo também com a visão de Dante ali... Braços e pernas amarrados a mercê do desejo deles... Passou suas mãos pelo corpo de Dante com ousadia... Dante se contorceu, mas Virgil se posicionou atrás dele rindo dos esforços do irmão... Acariciou-lhe as nádegas redondas e gemeu, todo o corpo do demônio negro tomado pelo desejo de ambos...
- Meu...
Para Dante de Sparda pareciam que mil mãos passeavam pelo seu corpo entrando e saindo de todos os seus poros. Sem enxergar e preso... Mais uma vez amaldiçoou Dharr por estar naquela situação e gritou com ódio quando sentiu as mãos do demônio abrindo suas nádegas, expondo-o para melhor saciar seu desejo... No instante seguinte já sentia o sexo gigantesco do demônio forçando a entrada de seu ânus.
Ultraje. Foi o que sentiu. Acalentados pela dor e pela humilhação, o ultraje e a revolta faziam seu corpo fremir como se tivesse febre!
Virgil estava alucinado de prazer. Por instantes, usando o corpo físico de Damien, conseguia sentir se vivo novamente! E saciando o seu mais secreto desejo! DANTE!
Os gemidos do demônio alado soavam perto dos ouvidos de Dante. A criatura arfava de prazer, resfolegava, gemia, mas Dante sabia, era o próprio irmão quem estava ali usando seu corpo, e aquilo o enchia de uma fúria sem precedentes! Ao mesmo tempo, horrorizado, percebia que seu corpo, mesmo machucado, reagia aos carinhos indecentes de Virgil, excitando-se loucamente! Como era possível? Como... Ouviu a voz do irmão, sim, não era o demônio quem estava li, era a sua antítese absoluta... O seu pecado! O seu gêmeo!
A voz de Virgil espelhada no médium alado soava resfolegante de prazer, mas admiravelmente surpresa:
- Você me quer também! Agora que sei disso, NADA MAIS VAI MUDAR O NOSSO DESTINO! Somos... Demônios. Dois e um. Senhores do Portal!
Vergonha. Desejo. Ódio e paixão. Ultraje e êxtase. Virgil conseguia despertar nele receios e desejos inconfessáveis. Não podia aceitar aquilo, não podia!
NÃO COM SEU PRÓPRIO IRMÃO!
Sua ira e raiva eram tamanhos, que Dante, apesar de exaurido e sem forças, conseguiu assumir sua forma demoníaca. Uma energia estrondosa emergiu dele e fez com que o corpo do demônio que servia para Virgil expressar-se naquela dimensão recuou, queimado pela força daquela energia! O baque cósmico fez com que Virgil se desincorporasse de Damien, o demônio de asas negras. O irmão de Dante gritou de raiva e frustração, odiava sua forma espectral, mas disse, mentalmente, fazendo suas palavras etéreas ecoarem na mente de Dante:
- Não pense que vai se livrar de mim, irmão... A noite é eterna nesse mundo, como é agora nos seus olhos, e eu sou um amante das trevas... Sua angústia é o meu prazer... Admita, você também me deseja... A única vez em que você chorou... Foi quando eu caí naquele abismo...
Dante encolheu-se. A cegueira, a dor da violação... Nada era pior do que sentir as coisas que sentia agora, diante daquele incesto... Humilhação, vergonha... Desejo. Prazer... Preferia morrer mil mortes a admitir que também queria Virgil!
o0o
Anúbis parou em um elevado. Tudo ali era árido, escuro e úmido. Dharr, que amava o deserto, o sol da Terra, sabia que não conseguiria viver numa dimensão sombria como aquela. Estava ainda tentando entender o que vira no rio Stinx, aquelas lembranças o atormentavam, mas a voz de Anúbis soou apreensiva.
- Você não sentiu?
- O quê?
- Dante... Na sua forma demoníaca. Ele conseguiu assumi-la por alguns instantes... Perto daqui...
De repente, Anúbis foi crescendo, tornando-se energia pura... Seu corpo material quase desaparecendo, dando lugar ao corpo astral...
Mesmo um sobrenatural como Dharr, um imortal a serviço de Aton, sentiu-se estarrecido diante daquela descomunal demonstração de poder divino... O vulto de Anúbis assumiu todo o céu horrendo daquele lugar, era como se pudesse ver e ouvir tudo e todos ali, ao mesmo tempo... Então... Era isso que era onisciência divina?
- Sim, ele está aqui! E precisa de mim.
- De nós!
Anúbis não se deu ao trabalho de responder ao comentário. Ergueu os braços como se fizesse uma evocação e, de repente, diante dos olhos espantado de Dharr, na linha do horizonte estéril daquela dimensão, se formou uma revoada de asas. No começo, Dharr achou que eram aves, mas depois, a medida em que as asas negras foram avançando e formando um redemoinho num bailado macabro de impressionante beleza, o egípcio ficou perplexo quando se deu conta do que era... Por Aton! Centenas de anjos, fortes, lindos em sua beleza perfeita e fria, os longos cabelos revoando pelos céus... Tinham uma aura selvagem e bélica, e em nada lembravam os pueris anjos pintados nas igrejas! As asas eram negras... Os corpos atléticos na sua nudez helênica! Eram guerreiros!
O exército de Anúbis!
O príncipe dos mortos, Anúbis, gritou para eles, projetando a imagem de Dante na mente de cada criatura que ali estava sob o seu comando:
- Localizem Dante de Sparda agora! Matem tudo que se puser entre vocês e ele!
Um deles, um anjo de asas escuríssimas, mas cujos olhos e cabelos eram claros como os de um albino, ousou falar ao Deus:
- Senhor, não podemos matar nessa dimensão sem o aval do Grande Juiz dos Mortos!
- Eu me acerto com Hades depois! Vão!
Os anjos revoaram e tomaram todo o céu que assumia agora um tom avermelhado como o sangue...
CONTINUA...
Jade Toreador
