Genero: Yaoi
Personagem principal: Dante De Sparda
Autores: Jade Toreador/ Scarlet Toreador
Status: Incompleto
Sumário: Em sua busca por vingança, Dharr se envolve com Dante de Sparda, um demônio metade humano que detém não somente uma força imensa, mas também as rédeas de seu destino. Vingança, ódio, desejo e amor se misturam nessa história.
O Despertar Do Sol
Capítulo 4
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Tal qual uma reação química instável, o equilíbrio cósmico das esferas infernais agitou-se, e começaram a soltar uma energia nefasta, como se entrasse em ebulição!
Centenas de anjos, diante dos olhos espantados de Dharr, rodopiavam no ar. As asas tornavam as nuvens daquele céu atípico ainda mais negras.
Pasmo de espanto, o sacerdote de Aton percebeu que os guerreiros de Anúbis criavam uma sintonia energética, como se multiplicassem as forças que Anúbis mandava de maneira onisciente para todos os cantos das dimensões infernais. Eram como se fossem estações de radares da terra, fazendo a energia do grande Deus elevar-se a um nível que, ao que tudo indicava, era infinito.
Onisciência. Deus.
Seria Anúbis tão forte quanto Aton? Não. Aton era o todo, o princípio de tudo... Era dele que vinha a fonte de energia de todos os Panteões de Deuses, fossem cristão, gregos ou egípcios.
E Aton iria proteger Dante... Seu amado Dante. Quem agora ele sabia, já era seu desde o início de sua roda kármica, na sua primeira encarnação como Akenaton, o faraó que desafiou os deuses e os sacerdotes para implantar a adoração de um único deus... O Deus da Luz...
Subitamente, Anúbis ficou com os olhos vidrados, em transe. Dharr conseguiu vislumbrar que o Deus conseguia ver Dante mentalmente agora... E o que ele estava sofrendo...
"Maldito Virgil, que ele morra mil mortes. Eu vou fazer com que ele deixe de ser uma unidade cósmica, ou não me chamo mais Anúbis!".
Anúbis foi se tornando infinitamente grande, enquanto suas moléculas se dissipavam no ambiente, como se fossem elas mesmas feitas de pura enérgica condensada.
Dharr gritou de raiva e frustração...
"Não ouse me largar para trás, seu cara de chacal!".
A risada do Deus pareceu ecoar dentro de sua mente, e Dharr ouviu a voz possante por telepatia.
"Pequeno inseto de Aton, entenda que eu e você amamos o mesmo ser. Nefretiri, a bela, por escolha própria se tornou Dante, o guerreiro. Paciência! Tive que suportar que ela encarnasse na roda karmica por designios do livre arbítrio das almas... Mas eu não pretendo entregar essa alma a você. DANTE É MEU. E agora que você o traiu vilmente, como é bem da natureza humana, lhe garanto que você não tem a menor chance com ele...".
Dharr gritou furioso:
"Volte aqui, seu calhorda! Você disse que nós dois iríamos unir nossas forças! E eu tenho o medalhão para recuperar as forças de Dante!".
"Mudei de idéia. Posso muito bem cuidar de Dante sem esse brinquedinho aí. Além disso, ah, sim, como dizem os humanos de hoje? No amor e na guerra vale tudo. E estamos em guerra, inseto. Guerra pelo amor do guardião do grande portal. E você vai perder. Se quiser achar Dante, encontre-o você mesmo".
Dharr gritou e praguejou contra o outro, como se os dois fossem mesmo apenas garotos rivais, mas Anúbis ignorou-o e deixou suas risadas ecoando, enquanto desaparecia por completo.
Os anjos guerreiros se perfilaram no céu em um V perfeito, como faziam as aves, e partiram em alta velocidade para a linha do horizonte sombrio.
Logo abaixo, Dharr ficou perdido nas profundezas infernais.
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O poder destrutivos dos anjos guerreiros de Anúbis era medonho. Não havia sangue derramado, mas a energia que eles emanavam de seu corpo eram como grandes campos magnéticos que destruíam qualquer outra energia que se colocasse diante deles. Naquela dimensão, onde a matéria era transmutada, quase energia pura, eram as forças mentais e telepáticas as reais armas. Livres da matéria corpórea de um humano comum, aqueles anjos tinham mesmo poderes quase iguais a de deuses.
Ao chegarem no reduto onde as legiões demoníacas de Virgil se encontravam, os anjos provocaram um mar de destruição. Os demônios gritavam, urravam de dor, e se desmaterializavam de vez. Transformavam e pura energia que se dissipava nas dimensões infernais, ou então eram convertidos pelos anjos em orbes mágicas, que eles mesmos consumiriam, mais tarde, para manter sua própria energia num nível saudavelmente forte.
Eram como se fossem vampiros energéticos, consumindo as almas condensadas em forma de orbes. Dante, quando estava na sua força plena, também costumava manter seus poderes dessa maneira: ingerindo as reluzentes esferas de luz.
Anúbis adentrou o castelo como se fosse uma neblina nefasta. Por onde ela passava, aniquilava qualquer alma vivente. Apenas para Damian, o grande demônio que havia sodomizado o seu amor, Anúbis deixou uma morte bem mais próxima à humana. O demônio, ao ser tocado pela neblina, gritou e urrou, se contorcendo em espasmos agonizantes antes de, finalmente, se desmaterializar de vez. Foram minutos intermináveis de uma hedionda tortura...
Dante, mesmo machucado e humilhado, e preso pelas correntes, colocou-se em posição de ataque. Mas relaxou seus músculos quando sentiu em seu rosto um toque gentil de afeto, ao mesmo tempo em que percebeu um manto ser jogado em seu corpo para cobrir sua nudez alva.
Suas correntes se partiram...
"Meu querido...".
Ele conhecia aquela voz... Era o Senhor do Portal, Deus da passagem entre a vida e a morte.
"Anúbis!".
"Sim, eu mesmo... A última vez que nos encontramos disse a você que aquela estória de bancar o mercenário nas esferas terrestres como um detetivezinho qualquer era ridícula. Você deveria ter SIM honrado o posto de Guardião do Portal que seu pai lhe deixou, mas aqui, do meu lado".
Dante falou com sua ironia habitual:
"Acha mesmo que eu estou a fim de discutir meus relacionamentos agora, desse jeito?".
Anúbis sorriu. Estava novamente na sua forma antropoformótica, e seu olhar para Dante era todo ternura. Mas foi então que Anúbis sentiu a presença de mais alguém ali...
Rosnou como se fosse uma fera furiosa...
"Virgil, vai me pagar o que fez a Dante, maldito!".
Rapidamente, Anúbis canalizou a energia, fazendo o espectro se tornar visível, e o enlaçou com uma energia poderosa, como se esta fosse um laço capturando um bezerro agitado.
Virgil gritou e esperneou. Sentiu que estava morrendo. Agora morrendo mesmo, pra valer. Deixaria de ser um espectro para se tornar um nada para todo o sempre. Não teria consciência cósmica.Nada.Nada absoluto seria o seu destino!
Gritou apavorado. Anúbis ria, feliz com sua vingança...
"Vou fazer você desaparecer lentamente, como o verme que você é...".
Dante suspirou. Era seu irmão, não era...?
"Anúbis, não. Apenas prenda-o numa dimensão inferior, de onde ele não poderá sair para aliciar demônios e formar exércitos como andou fazendo".
O olhar de espanto do Deus foi total...
"Você deve estar brincando, ele...".
Os olhos sem luz, translúcidos, lacrimejaram de tristeza...
Sim, um demônio podia chorar...
"Sei bem o que ele fez comigo, não precisa me dizer. Mesmo assim... Não quero ser o responsável pela morte dele uma segunda vez. Núbis... Por favor...".
Anúbis praguejou como se fosse um torcedor que vê seu time perder.
"Você não pode falar a sério...".
Enquanto os dois se distraíram discutindo o destino de Virgil, um poder sobrenatural e imenso apareceu de repente, atingindo Anúbis e Dante com força total. O spectro de Virgil escapou por pouco da morte absoluta, onde as almas também deixavam de existir...
Dante ainda não conseguia ver, mas gritou...
"Quem ousou?".
Anúbis, que estava totalmente imobilizado e sem forças, preso pela descomunal energia, estava assombrado de espanto. Diante de sua frente uma belíssima mulher começou a se delinear no espaço, mulher essa cujos cabelos ruivos resplancedicam como fogo. Ria, como uma garotinha que fazia uma travessura.
Sua risada era cristalina como as águas resplandecentes de um lago da Terra.
Era uma mulher imaterial, etérea, pura energia que aos poucos foi se materializando.
"Minha senhora! Por que?".
No começo dos Tempos, quando ainda não haviam sido criados nem a Terra nem o Céu, nem os deuses nem os homens, o Deus Sol existia só na massa aquosa de Nun, que cobria o universo.
Da união sexual consigo mesmo, o Deus Sol, Aton, concebeu dois outros deuses, cuspindo-os de sua boca: o Deus Shu, personificação do Ar, e a Deusa Tefnut, personificação do orvalho. Estes dois geraram Geb, o Deus Terra, e Nuth, Deusa do Céu. Esses dois deuses deram à luz Osíris, Ísis, Seth e Néftis.
Era a Deusa Néftis quem estava ali, em pessoa. Era também chamada de Lilith, a grande mãe dos demônios. Era uma deusa do alto escalão da demonologia, uma mulher temível, sem a menor sombra de dúvida.
Superiores aos poderes dele, somente eram os próprios Satan e Hades.
Era a esposa do grande senhor Set, ou Satan para os Cristãos. Nunca interferia nas questões políticas e bélicas daquele reino infernal...
Bem, nunca... Até agora.
A resposta da mulher-demônio à pergunta de Dante foi atingi-lo novamente, fazendo-o desaparecer...
Fez Dante sumir bem diante dos olhos de Anúbis.
O Deus gritou furioso, e a atacou. Nem pensou no que fazia. Atacou a mulher por puro desespero.
Mandou uma poderosa bola energética que a apanhou em cheio, fazendo-a cair!
E era exatamente isso que a poderosa Deusa demônio queria. Ergueu-se sem dificuldade, já que agora estava totalmente materializada com as moléculas daquela dimensão, e ecoou um riso maldoso, quase feliz.
"Você sempre foi impulsivo, Núbis. Venho que continua o mesmo por séculos afora... Agora, vai pagar por sua imprudência... Não deveria ter me atacado assim...".
Para Anúbis, naquela situação inesperada, mas as coisas começavam a se encaixar, num grande quebra cabeças...
Virgil era um megalomaníaco, tinha sede de poder, mas como espectro, não tinha forças para reunir legiões de demônios sozinho... Ele estava sendo ajudado por Lilith, a grande Mãe. Mas então... Sim, só havia uma explicação para isso... Ela, a mulher demônio, queria tomar o poder do Grande Osíris, que reina ali sobre os espíritos, também conhecido como Deus Hades.
"Onde está Dante, megera?".
"Se não se calar, e aceitar o seu destino, juro que vou matá-lo. Lentamente, como se mata um porco para um banquete. Cale-se. Eu preciso de Virgil vivo, e você vai dar a ele a forma normal de um demônio, não mais a de um mísero spectro. AGORA MESMO".
"Não vou fazer isso".
"Vai, porque se eu matar Dante, nem o próprio Aton vai conseguir trazê-lo de volta à vida, eu juro!".
Os olhos do Deus fuzilavam a Deusa com puro ódio. Mas não tinha escolha, tinha?
Muito contrariado, Anúbis fez o que a megera pediu. Fechou os olhos e começou uma prece antiga, que os sacerdotes do Antigo Egito cultuavam no 'Livro dos Mortos'.
Com sacerdotes, o efeito da poderosa prece era irrisório. Um humano podia vibrar energias se esforçando muito, mas nada acontecia na matéria densa e carnal da terra. Mas com um Deus, as palavras da prece antiga tinham um efeito bem diferente...
Imediatamente, uma poderosa quantidade de energia se formou no ar, rodopiou e atingiu o spectro de Virgil. Foi como se uma pequena bomba atômica eclodisse, e bilhares de esferas azuis de energia rodopiaram o ambiente.
Virgil se tornou novamente o semi-demônio na sua condição cósmica e carnal de sempre. Estava vivo!
Ele tocou a própria pele e riu de pura satisfação... VIVO!
Lilith sorria. Não gostava realmente de Virgil, mas ele lhe seria sempre uma marionete disponível... O problema era sua eterna arrogância...
"O que faremos agora, Deusa? Anúbis vai pedir ajuda a Hades e contar que você está do meu lado para dominarmos esse muquifo chamado inferno".
"Não vai não. Temos Dante, além disso, NINGUÉM vai acreditar nele".
"E porque ninguém iria acreditar no Deus mais importante do Panteão?".
Anúbis se irritou. Como os dois ousavam discutir como se ele nem estivesse presente?
"Escutem, seus...".
O Deus chacal se calou. Horrorizado, viu a mulher fazer em si mesmas marcas de mordidas e hematomas horrendos... Com sua magia, ela fez aparecer machucados perversos...
Aquilo só poderia ser um grande pesadelo... Uma brincadeira de mau gosto, ou as duas coisas somadas.
"O que você pensa que está fazendo?".
A mulher-demônio sorria, agora...
"Você estava tentando dominar os meus exércitos com o seu e me atacou covardemente. Inclusive, tentou copular comigo como se eu fosse uma humana rampeira... Virgil me salvou, pois graças aos poderes dele somados com os meus, conseguimos brecar você".
O Deus gargalhou:
"Isso é a coisa mais ridícula que eu já ouvi".
"Seu ataque deixou sua energia impregnada em mim. Ninguém vai duvidar do que eu estou falando... Ainda mais com o testemunho de Virgil".
Anúbis só não empalideceu porque não era humano. MALDITA!
E para piorar tudo ainda mais, surgiu o grande Anjo Caído, o senhor do exército de todos os demônios... Satan ou Set, em pessoa. Ele sobrevoou o céu escuro como uma grande águia e pousou. As asas negras eram reluzentes como se fossem feitas de ébano puro, mas a pele era alva e perfeita como uma porcelana. Os longos cabelos pareciam reluzir como ouro sob o sol da manhã.
"Mas pelo grande Osíris, o que está acontecendo? Porque meus demônios foram destruídos como formigas, Anúbis, espero que você tenha uma boa explicação para isso...".
Satan parou de falar, estupefato de surpresa, quando viu sua esposa em um estado deplorável...
Antes que Anúbis pudesse abrir a boca, foi Lilith quem falou...
"Meu senhor, ele me atacou, ousou colocar as mãos na sua rainha!".
Anúbis estremeceu. Infâmia... Olhou diretamente para os olhos de cristal do belíssimo Satan.
"Meu senhor, isso é mentira...".
Ela interrompeu o que o Deus dizia...
"Não é, ele convocou essa legião porque planeja atacar o grande imperador Hades. E ousou me profanar como se eu fosse um pedaço de carne qualquer...".
"Isso é blasfêmia, bruxa!".
Subitamente, Anúbis ouviu dentro de sua mente a voz telepática de Lilith:
"Se me desmentir, chacal, juro que seu Dante vai morrer. Lentamente...".
Diante dessa ameaça, Anúbis cedeu. Calou-se, abaixou a cabeça e não disse mais nada. Preferia mil mortes do que perder Dante.
Aquela maldita era amante de Virgil.
E os dois juntos estavam planejando contra Satan e o senhor Hades, os grandes governantes do mundo infernal... Agora tudo estava claro como água.
Satan olhou para Virgil. Este se ajoelhou diante do anjo-caído. Era a personificação da hipocrisia!
"É verdade, meu senhor, eu mesmo presenciei essa ousadia, e lutei contra Anúbis para salvar sua esposa...".
Satan era a calma em pessoa, mas seus olhos eram frios como um iceberg eterno.
"Vou levar isso ao conhecimento do grande Hades, Anúbis. Dessa vez, você passou dos limites...".
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O JULGAMENTO...
O saguão octogonal do grande castelo de Hades era de uma imponência indescritível. Era construído de pura energia, que assumia uma cor, ora negra, ora cinza, e raramente, um azul escuro de esplendorosa beleza.
Nesse saguão, sob o pedido de Satan, começou um conselho rápido entres os juizes infernais e como estava em jogo o destino de um Deus, o próprio Hades apareceu, ao lado de sua amada esposa: Prosérpina para os gregos, ou Ísis, para os egípcios...
Os dois adentraram o salão de mãos dadas, ele segurando o cetro espectral como mandava o protocolo, ela usando um diadema coberto de diamantes energéticos que eram resplandecentes como estrelas. Porém era Hades, e não sua esposa, quem chamava mais atenção.
Ele não usava nenhuma jóia energética ou material. Trajava apenas uma longa toga preta, e os cabelos da cor da esmeralda lhe caiam pelos ombros longos, e mais nada. Ele não precisava. Era tão belo, que sua impressionante beleza bastava para causar grande impacto nas raras vezes em que ele se fazia visível.
Era mesmo um privilégio, de poucos, vê-lo em pessoa. Somente deuses, anjos e demônios do alto escalão tinham essa honra. Ele aparecia apenas para dar bênçãos preciosas, ou sentenças em casos graves, como era agora o inquérito que se abria contra Anúbis, um dos seus auxiliares mais queridos.
Um anjo declamou em voz alta a saudação habitual do protocolo, enquanto centenas de outros tocavam as trombetas anunciando a presença do imperador.
"Grande Deus Osíris, Senhor dos Mortos, Hades protetor, pai da harmonia... Nós os saudamos...".
Ele ouviu as saudações, mas fez um gesto impaciente para que logo fossem lidas as acusações de Lilith, acusações essa que Anúbis, para pesar de Hades, o acusado não contestou...
Anúbis estava quieto, no banco dos réus e algemado com uma forte energia em seus pulsos, como se fosse um prisioneiro comum. Não falaria nada até que tivesse certeza de que Dante estava seguro... Conhecia Lilith. Ela não vacilaria em cumprir sua chantagem nojenta! Mataria Dante como se mata um inseto...
De repente, o anjo louríssimo apareceu, impressionando os presentes com seu olhar vítreo que parecia feito de puro gelo. Satan!
O anjo pousou graciosamente e fechou as asas como se fosse um grande cisne. Caminhou altivo, até ficar diante do prisioneiro, que não desviou o olhar dele.
Os dois mediam forças.
"Como a parte ofendida nesse caso, exijo exercer meus direitos como marido ofendido... Quero a cabeça do Deus Chacal!".
Um burburinho de inquietação correu pelo grande salão imperial.
Satan estava irredutível: Queria a morte definitiva do Deus Chacal. Sua frieza excessiva que aparentava indiferença a tudo era na verdade um invólucro para uma determinação férrea. Ele estava inflexível no seu pedido de morte!
Ouviram-se as acusações, e Satan exigira a sentença, e agora, quem falaria a favor do réu divino?
Um grande momento de tensão pairou no ar, mas, inesperadamente, a própria esposa de Hades falou em defesa do acusado...
Ela se ergueu do seu trono, muito linda com sua túnica diáfana e sua coroa de estrelas e caminhou para o centro do salão, ficando próxima aos juízes.
Todo seu corpo resplandecia uma tênue luz azul, que a deixava etérea como uma elfa:
"Um Deus pode às vezes errar como os humanos, Satan, você já fez isso uma vez perante o grande pai Aton, por isso, deveria pensar duas vezes antes de ser tão impiedoso... Foi banido dos céus, mas nem por isso perdeu sua vida, pelo contrário, tem a honra de um Deus aqui entre nós...".
"Deixo a piedade para as esferas superiores, minha senhora. Aqui, delitos devem ser punidos exemplarmente".
Hades interrompeu a discussão que se iniciava:
"Concordo com minha mulher, Set. Não. Anúbis não vai ser morto, mas vai sofrer um merecido castigo...".
Lilith estava ansiosa... Entrou na conversa, mesmo sem ser chamada!
"E quanto aos gêmeos? Peço clemência para Virgil. Ele tentou me defender quando Anúbis me atacou, e por isso quase sofreu a morte final".
Hades estava pensativo...
"Esse garoto Virgil é um encrenqueiro...".
"Mas também é filho do Grande Sparda, meu senhor. E me salvou das investidas de Anúbis!".
Hades deu de ombros... Se era assim...
"Muito bem, devolva-lhe o poder de ir para a terra, se ele desejar. E quanto a Dante, faça com que volte também são e salvo para a dimensão humana. Dante é o meu grande Guardião, quem mantêm a ordem nos limites dimensionais deste mundo e da terra...".
Lilith sorria, vitoriosa. Seu amor Virgil voltaria a ter os poderes de se materializar, como um demônio de nível superior, e não seria somente um spectro que perdera a vida pelas mãos do irmão... Um dia, juntos, eles destruiriam Hades e Satan, e tomariam o poder definitivamente...
Lilith ajoelhou-se. Era, como Virgil, a personificação da hipocrisia.
"Obrigada, meu senhor... O senhor é mesmo nobre".
"Chega de bajulações Lilith... Eu já passei a minha sentença para o grande juiz... E a justiça de Maat é o que me norteia".
De repente, as trombetas dos anjos soaram novamente.
Thot, o juiz, adentrou o salão. E quando as trombetas pararam, houve um silêncio de pura expectativa no ar...
A esposa de Hades olhou preocupada para Thot...
O juiz, numa voz cavernosa como se fosse um estrondoso trovão, proferiu a sentença do castigo de Anúbis, escolhido por Hades...
"Reencarnará como um humano. Não como um bebê, mas no corpo de um recém falecido, e ali, habitará consciente dos seus erros e do que perdeu aqui em nossas dimensões até que a morte um dia o traga de volta... Isso o fará entender os erros que cometeu".
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Dante, subitamente, sentiu suas dores melhorar magicamente. E a visão começou a voltar. A primeira imagem que viu foi o rosto lindo de uma mulher... Era a grande mãe, Proserpina, esposa de Hades, em pessoa ali, também chamada de a grande Ísis pelos antigos egípcios...
"Estou enxergando!".
A mulher riu.
"Que graça há em ser uma Deusa, se não se pode fazer milagres? Sim, querido amigo, você está novamente com sua visão normalizada".
Dante, emocionado, ajoelhou-se, em sinal de respeito:
"Minha senhora!".
"Agora não há tempo para formalidades. Vá, volte para a terra. Mas prometa que vai tomar todo o cuidado, porque Virgil, aquela serpente, conseguiu o perdão do meu marido graças às mentiras de Lilith, minha venenosa irmã. Mais do que isso. Ele vive novamente, é humano e demônio, como você".
Foi um choque. Seu irmão agora vivia novamente! Mas só um Deus poderia trazer Virgil de volta a vida... Anúbis!
"Anúbis?".
"Oh, ele se deu muito mal por amá-lo, Dante, você deveria ter dado uma chance a ele quando podia. Agora, graças também as intrigas daquela serpente, ele foi condenado a encarnar como um mísero humano".
Dante estava triste com tudo aquilo. Amor, raiva, revolta, preocupação... Tudo se misturava em seu coração mestiço. Anúbis se calara para proteger a ele, Dante! E havia sofrido um penoso castigo...
"Eu lamento... Eu vou até lá e...".
"Não, isso só iria fazer Satan e Hades brigarem entre si. Temos que agir na surdina, como Virgil e Lilith, e atacá-los no momento certo, com o apoio dos deuses. Mas prometa que vai tentar encontrar Anúbis na terra, encarnado, e o proteja...".
"Mas como vou achar ele no meio de milhões de humanos?".
"Você dará um jeito. Sempre dá. O Portal foi selado por Hades novamente, exatamente como fez o Grande Sparda um dia. Depois que você e Virgil retornarem, o selo se completará. Tome cuidado".
"Muito bem...".
Dante vestiu seu inseparável casaco vermelho e recebeu de volta suas armas.
"Grande Mãe, se encontrar Virgil ou Lillith, diga a eles que não serei piedoso com nenhum dos dois. Eles são ardilosos, escorreguentos como enguias, mas eu não vou deixar nenhum dos dois escapar. Eu juro. Diga a eles que não se metam a tentar invadir a terra, ou abrir o portal, que eu mesmo vou acabar com esse dois!".
Ela sorriu.
"Você é o nosso campeão, o Senhor do Portal, não espero outra coisa de você. Agora vá. Vou pensar um jeito de desmascarar Virgil e minha irmã diante de Satan. Ele, oh, ele está fazendo um papel de corno manso nisso, e nem percebeu, justo o poderoso Satan, general dos generais!".
Dante deu alguns passos e parou. Queria perguntar por Dharr, ter notícias dele, mas... Não. Ele o havia traído de uma forma nojenta. Nem Virgil agiria daquela forma covarde.
"Vá Dante de meu querido Sparda. Minhas bênçãos o acompanharão".
Sem perguntar nada a grande Deusa Isis, Dante fez a ela uma reverência profunda. E ela, com seu imenso poder, o fez voltar para Terra.
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Dharr sentia que estava mesmo prestes a enlouquecer. Andava em círculos por um lugar hediondo, cheio de almas penadas chorando. Um lugar frio, sem vida, desolador até para um ser forte como ele. Tinha fome, frio, sede, e imagens horríveis lhe vinham a mente, como se ele fosse um esquizofrênico tento alucinações. Não iria agüentar mais por muito tempo...
Ajoelhou-se e segurou o medalhão de Dante.
"Aton, projeta o meu amor... E me dê uma morte digna, por favor... Acolha o seu humilde servo...".
Subitamente, surgiu no céu uma luz tão forte, que quase cegou Dharr. Ele se ajoelhou e tentou proteger os olhos com as mãos.
Uma imagem imensa e resplandecente surgiu entre a luz... Um anjo louríssimo. Os cabelos pareciam fios de prata e sua beleza era tamanha que deixou Dharr sem palavras...
O anjo sorria, divertido... Adivinhando os pensamentos dele, o anjo disse...
"Não, não sou o grande Aton, rapaz. Seria monótono ser senhor supremo do universo... Mas vou lhe mostrar a imagem que eu possuía quando perambulava por essas dimensões...".
Diante dos olhos surpresos de Dharr, o anjo se transformou num grande demônio, e, pelos seus traços demoníacos, Dharr reconheceu quem o recém chegado era: Sparda, o pai de Virgil e Dante.
"Senhor!".
"Meu filho Virgil está fazendo muita confusão por aqui... E Anúbis encarnado é uma lastimável perda por aqui... Meu filho vai precisar da sua ajuda, garoto. Vou fazer você retornar a terra. Entregue o medalhão a Dante".
Os olhos lindos de Dharr lacrimejaram...
"Ele NUNCA vai me receber, senhor, porque eu o trai...".
Sparda contou a Dharr tudo o que acontecera: as tramóias de Lilith, esposa de Satan, a volta de Virgil a vida e a armadilha em que o Deus Anúbis caíra...
Dharr estava aturdido... Virgil voltara a vida e agora ele só conseguia pensar em Dante, oh, que ironia do seu destino! E ele traíra o seu amor...
Disse de novo, arrasado...
"Ele não vai me perdoar...".
Sparda respondeu:
"Fazemos grandes besteiras em nome do amor... Mas se ama mesmo o meu filho, deve antes de tudo lutar contra as forças que armam contra ele. Vá. Você vai dar um jeito de conseguir o perdão de Dante. Ele é um cabeçudo, mas esconde um coração de ouro".
E, ao dizer isso, o grande demônio fez o corpo de Dharr desaparecer lentamente, para depois rumar as dimensões terrestres.
Dharr apareceu novamente no dólmen de pedra, próximo ao local onde o velho Xamã vivia...
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Uma náusea fortíssima invadiu seu corpo, sensação de tempo e espaço era completamente diferente de um lugar para o outro. Ali a claridade ofuscava e o calor do sol era quase insuportável. Dharr sabia que tinha voltado, mas não conseguia se mover. As têmporas latejavam e sua cabeça parecia que iria explodir.
Tentou respirar mais profundamente, mas isso também causou dor... Um estremecimento tomou conta dele... Será que não tinha sobrevivido? Será que sua ida até as profundezas do inferno tinha sido fatal? Tentou respirar mais devagar e, no entanto, o ar entrando e percorrendo seu corpo lhe causava dor...
Emitiu um gemido de pura frustração...
Não tinha tempo para ficar ali debilitado... Tinha que se levantar e encontrar Dante antes que fosse tarde demais, antes que ele encontrasse Anúbis ou se confrontasse com o próprio Virgil! Na verdade, tinha que protegê-lo e contar que falara com seu pai...
Seria perdoado?
Não importava, importava apenas encontrar Dante e lhe devolver o medalhão... O medalhão! Será que ainda estava com ele! Tentou se mover mais uma vez e, subitamente, uma mão reconfortante pousou em sua testa...
"Tenha calma meu filho, sua viagem foi muito intensa! Precisa se recuperar. Vou ajudá-lo a se erguer... Beba isso...".
Dharr reconheceu a voz do Xamã. Mais uma vez, tentou abrir os olhos apenas para ter certeza de que não estava sendo iludido mais uma vez. Enquanto isso, sua cabeça foi erguida e um líquido fresco e doce molhou seus lábios ressequidos, só então ele percebeu que estava morrendo de sede...
"Dante... Viu Dante?".
"Não, apenas senti quando ultrapassou o portal! E ele também deve estar se restabelecendo recuperando suas energias... Agora que conseguiram tirar Anúbis da jogada, anulando sua imensa força, as forças do mal estão reunidas esperando, estudando, isso eu sinto. Você tem que ser rápido... E eficaz!".
-
Continua...
Agradeço pelos comentários.
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Beijos
Jade Toreador. (13.04.2006)
