O Despertar Do Sol
Genero: Yaoi
Personagem principal: Dante De Sparda
Autores: Jade Toreador/ Scarlet Toreador
Status: Incompleto
Sumário: Em sua busca por vingança, Dharr se envolve com Dante de Sparda, um demônio metade humano que detém não somente uma força imensa, mas também as rédeas de seu destino. Vingança, ódio, desejo e amor se misturam nessa história.
ATENÇÃO:
Capítulo Reeditado 27.06.2006.
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O Despertar Do Sol
Capítulo 5
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Anúbis, o deus Chacal, acordou de repente e não fazia a menor idéia de onde estava.
Um frio hediondo. Ele sentia aquele frio como jamais antes pudera sentir...
Estava assustando com aquelas novas sensações... Era como estar enjaulado numa caixa apertada e dolorosamente...VIVA!
Um corpo! ESTAVA NAS DIMENSÕES TERRESTRES!
Subitamente, Anúbis sentiu o peso dos braços e das pernas. Não conseguia ainda a coordenação necessária para se mover. O ar entrou nos seus pulmões e ele tossiu. Uma dor desconfortável uniu-se ao frio que o atormentava. Sentia o latejar forte das suas têmporas... O cansaço extremo de carregar músculos e ossos...
Como era horrível ser aprisionado ali!
Estava com medo de abrir os olhos. Abriu as pálpebras devagar e mesmo a luz tênue do lugar o machucou. Onde estava? Atônico, percebeu que havia vários outros corpos ali.
Pelos deuses, estava numa câmara frigorífica para cadáveres!
Sentou-se devagar e somente então se percebeu nu. Olhou para as mãos e pernas. Estava muito pálido, pois há pouco o coração daquele corpo hospedeiro voltara a bombear o sangue.
Encarnara no corpo de um recém falecido!
Fora abruptamente jogado ali, como castigo pela ofensa imaginária que fizera àquela megera chamada Lilith! Desgraçada! Aquela mulher demônio fizera isso apenas para que ele, Anúbis, tivesse seu poder anulado, enquanto habitava aquele corpo medíocre!
Anúbis, Lilith... O que era todos aqueles pensamentos que lhe vinham à mente?
Seria mesmo um deus, e haveria mesmo uma mulher que era demônio chamada Lilith?
Tentou erguer-se e essa primeira tentativa foi um desastre. As pernas falharam e ele tornou a cair. Respirou fundo. Até respirar era-lhe algo doloroso. Tentou novamente a façanha de mover-se. E o fez de modo titubeante, como os bebês que treinam os primeiros passos. Apoiou-se agora na mesa de azulejos do necrotério. Ah, como era temerosa aquela prisão de carne!
Então isso era ser um humano...
Um ser desgarrado que era condenado a expiar os pecados na roda kármica das dimensões terrestres... Sua querida Nefretiri, desiludida com a distância que a separava de Dharr, o sacerdote supremo de Aton, resolvera encarnar ali como um ser masculino, filho de Sparda, o demônio, e uma humana... Aceitara carregar aquela prisão de carne...
Mas mesmo assim, Dante tinha poderes demoníacos, podia manipular a matéria com sua força energética e espiritual... Mas ele próprio fora reduzido a um humano comum, um ser miserável preso numa carne mortal, sem a menor capacidade de manipular a energia cósmica!
Mais nomes... Dharr, Sparda... Nefretiri... Dante... Anjos, deuses, demônios... Meu deus, o que eram aquelas lembranças caóticas na sua mente confusa?
Essas coisas não existiam... Existiam?
Por que se achava um Deus?
O grito de raiva surgiu agoniado, e machucou as cordas vocais, pois Anúbis ainda não sabia usar bem aqueles órgãos e sistemas complexos. A angústia fazia o coração mortal bater aceleradamente e a descarga de adrenalina o assustava... Medo, terror, frio, fome... Uma pontada desconfortável no órgão masculino... A bexiga cheia de urina! Diabos, então era essa merda que era ser homem carnal?
Tudo se misturava naquele corpo que o deus acabara de assumir, enchendo-o de angústia.
O cheiro dos cadáveres e do clorofórmio o incomodava. Como seria sua aparência agora?
Tocou os cabelos e, para seu alivio, sentiu cabelos macios e longos, tal qual ele gostava de fazer surgir quando assumia uma forma humana.
Mas o que é isso! Não era hora de pensar em beleza, era? Tinha que sair dali...
A porta se abriu e o vigilante do necrotério assustou-se quando viu ali um jovem de longos cabelos, completamente nu, no meio dos cadáveres.
"Maníaco, nojento... Necrófilo do caralho!".
Anúbis intuiu que precisava desesperadamente se defender.
Quando o homem sacou o revólver, ele conseguiu agir com rapidez e fez com que um certeiro pontapé derrubasse a arma. Um soco violento fez o guarda infeliz cair desfalecido no chão.
Anúbis tremia de cima abaixo. Ainda não compreendia bem o que era, onde estava e o que estava acontecendo. As lembranças de sua vida pregressa como deus iam e vinham naquele cérebro emprestado, e ele não sabia já o que era real e o que era imaginário.
Deus... Como um homem nu e assustado podia achar que havia sido deus um dia? Era um louco, isso sim! E o que ele estaria fazendo ali, num necrotério, se fosse mesmo um deus? Esse Dante que ele tinha vagamente nas lembranças, seria real? Demônio e anjos eram reais?
Bem, por enquanto, ele ficaria sem respostas...
Apanhou as calças do guarda inconsciente e colocou-as o mais rapidamente que conseguiu. Sapatos... Sapatos... O maldito sapato não servia direito...
Jogou os sapatos do guarda na parede, num gesto de frustração e raiva.
Pegou a arma do funcionário desfalecido e a colocou nas costas, presa no cinto da calça que acabara de roubar e saiu correndo dali, como um coelho assustado quando era perseguido por um bando de lobos...
Conseguiu passar por duas atendentes sem ser visto e pulou os muros do necrotério do hospital municipal...
Não tinha mesmo a menor idéia onde estava ou para onde ir...
o0o
Virgil estava exausto. Assim que fora transportado para a terra pelos poderes de Lilith, havia se instalado na sua cobertura, um apartamento de luxo que ocupava todo um andar de uma altíssima torre cuja localização em Nova York era privilegiadíssima. Ali, daquela alta torre, ele podia exercitar seus poderes demoníacos e telepáticos como se ela fosse um radar de recepção de forças cósmicas.
Mesmo naquele instante, ele podia sentir as vibrações de Lilith, a esposa de Satan, mandando para ele energias revigorantes.
Ele e Dante eram os únicos que poderiam passar do inferno novamente para as dimensões terrestre e ainda assim permanecerem vivos...
VIVO, sim, estava vivo novamente!
Virgil riu, satisfeito, tocando o próprio corpo com volúpia. Um arrepio involuntário o acometeu quando se lembrou que usara o corpo emprestado de um demônio para possuir seu próprio irmão!
Tocou-se novamente, cheio de uma excitação voluntariosa e selvagem.
Mesmo sabendo que precisava recuperar forças devido a passagem penosa pelas dimensões infernais até as terrestres, se deitou no tapete da sala e rolou seu corpo ali, sentindo o toque dos pelos macios eriçar ainda mais o seu desejo. Livrou das vestes que usava.
Logo o corpo suado, de musculatura perfeita, saciava-se numa masturbação solitária, mas intensa.
Os minutos transcorreram. Minutos onde o suor e o atrito da carne o fazia arfar ritmicamente. Um gemido rouco e sensual que acelerou quando Virgil chegou perto do clímax.
Seu sêmen espirrou longe, melando o tapete e chão da sala. Seu grito de prazer ecoou rouco e intenso.
Aos poucos, seu corpo voltava ao normal, mas ele ainda respirava descompassado.
Sorriu. O suor escorria em gotículas pela sua testa e passava pelo queixo sensual... Sim, eram boas as delícias da Terra!
Virgil, como corpo na forma humana, bronzeado e forte, cansado pelo sexo solitário, era uma visão de tirar o fôlego...
Então...Seu querido irmão estava agora de volta com ele à terra... E a eterna disputa entre eles dois continuaria...
Onde estaria o maldito Dante? Hum... de certo, no muquifo que ele chamara de 'Devil May Cry', aquele escritoriozinho decadente onde ele bancava o detetive particular. Dante era ousado o suficiente para não fugir, não pensar em se esconder... Não tinha medo dele, Virgil, mas deveria ter... E iria ter!
O louro levantou-se como um felino perigoso e sem se preocupar se seria visto, caminhou para a varanda, onde havia uma enorme piscina. O calor do sol na pele foi como uma carícia. Arrepiou-se de novo, ainda estava com o corpo físico cheio de sensações deliciosamente libidinosas...
Mergulhou na água de eu algumas braçadas vigorosas. Depois, saiu e foi para o closet do seu quarto.
Enxugou-se devagar, pensativo.
Logo depois, vestiu calça de couro justa, botas de cano alto e um sobre tudo longo, azul, que fazia seus cabelos parecerem pura prata.
Para vencer Dante, tinha que primeiro derrotar todos os aliados do seu 'bro'...
E Anúbis, o deus chacal que encarnara na terra como um castigo kármico, mesmo na forma humana, poderia ser uma grande ameaça aos seus planos... Mesmo sem os poderes de um deus, Anúbis deveria estar sob controle! Deveria ser vigiado de perto, e bem de perto!
Quanto a Dharr, ah, sim, esse seu ex-amante era carta fora do baralho... O próprio Deus Anúbis o deixara preso nas profundezas do inferno. O melhor que ele, Virgil, tinha a fazer no momento era descobrir onde Anúbis fora encarnar... Depois cuidaria de Dante como se cuida de um pernilongo chato!
Não seria fácil descobrir um deus encarnado no meio de bilhões de humanos... Mas isso não era uma tarefa impossível para ele, o filho do grande Sparda!
Virgil subiu na parte mais alta do prédio e foi para o telhado.
Espero o sol se por como se fosse uma estátua recebendo os primeiros raios da lua. Quando finalmente sentiu que as forças maléficas e as da natureza se uniam numa simbiose mística, ele ergueu os braços e fez com que um enorme pentagrama de fogo surgisse no telhado, um fogo mágico, que não o queimava, mas que era aterrorizantemente real. E se posicionando no centro desse pentagrama, ele começou a fazer projeções telepáticas a procura dos pensamentos de Anúbis. No início, ouvia um turbilhão de vozes. Era como se pudesse captar todos os pensamentos do mundo e tinha certeza de qualquer outro, se fosse um simples mortal, enlouqueceria ao ouvir todo aquele burburinho mental...
Como se fosse um receptor de alta potência, Virgil começou a canalizar sua mente para uma alma em particular, a alma encarnada do poderoso Anúbis... E as outras vozes foram ficando lentamente mais fracas.
Virgil deu um riso maligno.
Com buscas telepáticas como aquela que fazia agora, logo, ele iria localizar onde estava o deus que era agora um simples humano...
E iria dominá-lo completamente.
+O+O+O+O+O+O+
HELL' S GATE.
'Portão do Inferno'.
Nada mais apropriado do que aquele nome para a banda de rock que Dante costumava tocar nas noites de quinta feira. Quando não estava na sua toca, o escritório 'Devil May Cry', ele costumava dar espetáculos arrasadores com sua guitarra eletrônica ou com sua bateria, era algo literalmente infernal.
Unira-se a uma banda amadora, por farra, simplesmente porque sempre gostara de tocar, desde a adolescência. Ele na guitarra, Freddie, no baixo e Hanna como vocal. As vezes, Dante e o gordão, e bonachudo, Paul trocavam de lugar na guitarra e bateria.
Dante de Sparda era tão bom guitarrista quanto baterista, era essa a verdade.
Hanna, uma bela garota que ele conhecera na noite, num daqueles pubs decrépitos da cidade, não duvidava que, caso ele quisesse, também conseguiria substituí-la sem esforço algum como vocalista. Quando brincavam em algum karaokê, Dante tinha uma voz grave, suavemente deliciosa, que arrancava suspiro das mulheres e inveja dos homens.
Mas agora o louro havia desaparecido há quase três semanas e o Hell's Gate já perdera três apresentações na boate. Mais uma e o dono os mandaria mesmo para o inferno! Teriam que arrumar um outro canto para se apresentarem...
Onde Cante havia se metido, porra?
Hanna estranho aquele silêncio todo no escritório de Dante. Achou a chave extra que ele escondia atrás de uma gárgula de pedra para emergências e entrou. A porta rangeu devagar, como se fosse a protagonista de um filme de terror barato, mas, por enquanto, Hanna não viu nenhum sinal de Dante. Apenas encontrou a moto dele num canto, uma caixa de papelão de transportar pizza jogada entre os papeis, sobre a mesa do escritório: a bagunça de sempre!
Pelo jeito, Dante viajara de novo, sem avisar ninguém! Era mesmo um irresponsável...
"Hanna...".
Ela deu um gritinho de susto quando percebeu o corpo bonito de Dante, nu, caído atrás da mesinha.
De cara, pensou em assalto, mas ele não parecia ferido... Apenas assustadoramente pálido... Tocou a pele forte e assustou-se ainda mais... Pálido e frio como um defunto!
"Que diabos, Dante, você o primeiro a nos dar a maior bronca se a gente fala em drogas, e que diabos é isso agora? Cheirou por acaso?".
Apesar de estar lhe dando o maior sermão, Hanna correu para pegar cobertores e agasalho o corpo atlético do amigo com ele. Suspirou. Achava Dante lindo, quase irresistível, mas a verdade é que era apaixonada pelo 'gordão da bateria', Paul, com quem se casara já há quase dois anos, tendo aquele irreverente louro lindo como padrinho.
Dante era tão esquisito que se recusara a entrar numa igreja, e, por causa disso, ela e Paul tiveram que fazer um casamento ecumênico. Gárgulas, espadas na parede, motos suicidas... Ele era mesmo o rival odiado dos homens e o encanto das mulheres... Mas pelo jeito, passara dos limites dessa vez...
"Porque não atendia ao telefone? O que é isso, você foi assaltado? Ninguém entraria aqui e deixaria você nu e caído no chão, porque eu sei que você mataria qualquer um que entrasse... Que diabos, Dante, eu preciso arrumar uma babá pra você? O que aconteceu? Fala de uma vez! Bebeu até cair bêbado como um gambá, foi isso? Mas você não ta cheirando... Então resolveu viajar sem sair de casa e...".
"Hanna, pelo amor de deus, cale a boca ou vou querer voltar para o inferno... Uma mulher falando é pior do que uma legião de demônios enfurecidos...".
Ela botou uma chaleira para ferver. Mas não se conformava...
"Então o que... Você está doente!".
A afirmação foi terrível para ela, porque jamais havia visto Dante pegar sequer um resfriado...
"Hanna, eu... Estou apenas cansado, só isso. Assim que eu tomar o seu chá, vou melhorar...".
Mentira. Ele sabia por ter sido enviado por Perséfone para a dimensão da terra, estava muito debilitado e apenas comida e água não seriam suficientes. Estremeceu. Seus colegas vampiros bebiam sangue. Mas ele não podia agir como um demônio inferior...
Precisava desesperadamente se recuperar... Virgil deveria estar sugando almas recém desencarnadas, como costumava fazer para reunir forças...
E ele... Precisava fazer o mesmo... Orbes Mágicas... Almas presas para serem devoradas... Mas havia Orbes ali naquele momento... E agora?
Respirou fundo...
Hanna, me ajude, preciso me vestir e ir urgente pra boate.
"O dono de lá está mesmo louco pra falar com você, está querendo nos matar por termos perdido duas apresentações, Dante, mas agora, você não está em condições de ir a lugar nenhum".
"Fique quieta e me ajude. Ande. Prometo não ficar excitado quando você me enfiar as calças e aproveitar para me bulinar".
Ela deu um beliscão nele. Tinha uma carinha linda de menininha de mangá, olhos grandes e expressivos, mas os cabelos repicados e a maquiagem carregada a faziam ficar parecendo uma sócia feminina do Yoshiki, um dos integrantes do X-Japan, um grupo de j-rock muito conhecido, mas que se encerrou há alguns anos.
Ele fez uma careta de dor, mas riu. Eram amigos desde a infância. Gostava dela como a irmã que nunca tivera. Aí de Paul se a maltratasse. Iria fazer a banha dele sair pelos ouvidos...
"Mas você está gelado como um vampiro... Não é hora de sair numa noite fria dessas...".
Ele riu de novo. Ela quase acertara na definição. Não era vampiro, mas era um mestiço: metade humano, metade demo. Seu corpo era diferente de um humano comum. Fazia sexo, comia, bebia, fazia suas necessidades e carregava aquele invólucro de carne quando estava na terra, mas essa carne não era mortal como as outras. E precisava de energia pura quando ele estava fraco. Uma energia psíquica, que deveria ser sugada dos humanos como faziam os vampiros com sangue. Um vampiro psíquico... Nunca havia pensado nisso, mas, pensando bem agora, era isso o que ele era...
Um sugador de almas. Se tirasse a energia vital de um humano ou dois, eles morriam... Tinha que dissipar sua necessidade de energia de auras, tirando apenas um pouco de várias pessoas. Elas iriam ter náuseas, ficariam fracas e debilitadas, talvez um pouco deprimidas... Mas viveriam.
"Depressa, Hanna, ou vai mesmo ter que me colocar num caixão... Eu explico tudo outra hora. Agora eu preciso ir para um lugar cheio de gente!".
"Mentira. Você nunca me explica nada!".
"Se já sabe disso, então, não precisa mais ficar perguntando bobagens. Vamos".
Ela o vestiu, o ajudou a subir na moto e abriu as grandes portas do escritório. Subiu na garupa dele e os dois saíram rapidamente dali.
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Assim que adentraram a boate, Paul e Freddie os viram. E alguns admiradores de Dante também. Ele estava quase caindo, de tão abatido que estava. Paul e Fred o seguraram e ele foi meio que arrastado entre os dois. Por sorte, pensou, pensariam que estava bêbado, e nada mais...
"Cara, o dono do muquifo quer matar a gente".
"Mato ele primeiro. Agora, me deixem quieto um pouco...".
Dante fechou os olhos e viu as auras das pessoas que dançavam na pista. Imediatamente, começou a suga-las. As auras multicoloridas começaram a emanar em direção a Dante e a entrar no corpo dele.
Era um espetáculo assustador, mas apenas um médium de alto desenvolvimento conseguiria ver aquilo.
Em poucos instantes, Dante estava revigorado. Umas duas pessoas desmaiaram na pista de dança. Uma terceira vomitou em jatos... Mas ninguém sequer imaginou que o belo mestiço humano-demônio pudesse ter algo a ver com aquilo.
Logo, ele estava rindo e brincando como sempre.
O dono do local veio esbravejar por causa do bolo que a banda lhe dera. Dante deu de ombros...
"Estou de volta e não vamos cobrar esse mês. Não encha o saco, cara, e se aquieta".
O outro fez uma careta de desagrado, mas desistiu de discutir com aquele louro. O cara só fazia mesmo o que lhe deva na veneta.
"Então pelo menos façam uma apresentação...".
Dante suspirou. Sem querer, a imagem linda de Dharr lhe veio a mente. Na sua alma, tinha amor é magoa. Uma mágoa profunda, que não fazia ele ter vontade de tocar ou cantar. Mas não iria deixar que ninguém percebesse isso...
Virgil deveria estar ali na terra também, aquela víbora... E ele tinha que achar Anúbis... E Dharr...Ah, o que havia acontecido com aquele traidor?
Sem responder, caminhou e subiu no palco com seus movimentos felinos. Os presentes gritaram de prazer. Os colegas dele, Paul, Hannah e Freddie, começaram a ajeitar os equipamentos e ajustar o som...
Ele falou com sua voz sedutora...
"Logo vamos agitar pra valer... Esqueçam qualquer droga porque NÓS somos a sua viagem...".
Os que estavam ali gritaram, entusiasmados...
"DANTE... DANTE...".
Pediam para que ele cantasse enquanto o conjunto se preparava.
Ele não gostava de nada meloso. Gostava de rock, e rock pauleira.
Mas a lembrança de Dharr o havia deixado subitamente melancólico... Teria que transformar todo seu amor em ódio e desprezo...
Teria que ser assim com Virgil... Teria que ser assim com Dharr. Ódio na alma... E um imenso vazio no coração.
Sem perceber exatamente o que fazia, começou a cantar uma música leve, que falava de decepções e tristeza...
Sua voz suave e deliciosa envolveu a platéia de tal forma, que logo, não se ouvia ali nenhum som que não fosse a daquela melodia deliciosa e melancólica...
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O Templo de Akenaton era o mesmo, as pessoas que ali estavam eram as mesmas, mas para Dharr Dhul Figar, muita coisa havia mudado, na verdade tudo havia mudado. Seu coração já não estava em paz. Já não conseguia mais controlar seus pensamentos como queria e em seus ombros pareciam estar todos os problemas do mundo... Era como se a cruz do tal Jesus estivesse grudada em suas entranhas... Naquele mesmo instante, envolto na fumaça purificante do incenso de mirra, hortelã e alecrim e mergulhado sob o banho das pétalas de rosas brancas, amarelas e vermelhas, ele não encontrava mais a paz... Já não era mais tão somente a reencarnação do Deus Aton... Agora era um homem apaixonado e desesperado... Atormentado.
Buscava mentalmente pela presença de Dante na Terra desde que deixara o Xamã no deserto sem sucesso.
Quando conseguia alguma sintonia com o espírito de Dante ela era muito fraca e tão distante que enchia o seu coração de medo! Era uma aura quase sem luz! Porém o que o assustava demais era que a aura de Virgil surgia a sua frente com uma força poderosa...
Mais uma vez fixou sua mente em busca de algum sinal do semidemônio... Levava seus fluidos magnéticos diretamente para o Devil My Cry, pois tinha quase certeza de que era ali que ele iria aparecer! Dante não fugiria de seus princípios... E muito menos de suas tarefas... Respirou fundo e então se sentou rápido na larga banheira de madeira de carvalho onde as flores e as especiarias mergulhadas na água fervendo tinham também o poder de elevar seus pensamentos para longe... Sim sentia a vibração de Dante, leve, fraca... Triste... Ah! Tão triste... A força de seu amor estava quase nula... Não... Firmou suas ondas de luz e um halo brilhante se formou em volta dele... Mandou fluídos para seu amor como um ser sem nome... Com menos força do que ele poderia ter mandado, mas ainda assim o ajudou como pode...
Dante o estava odiando... Sentia isso impregnando sua pele, seus ossos, seus órgãos vitais humanos... A luz morreu em volta de Dharr e uma lágrima escorreu de seus olhos translúcidos e se misturou a água do ofurô. De repente, uma luz muito mais forte, muito mais brilhante do que a sua, invadiu todo o ambiente, Dharr ergueu-se nu, a água escorrendo por seu corpo perfeito... Sobre sua cabeça a luz corria em círculos, o Sol brilhava ali dentro cegando-o... Os servos que o ajudavam no banho correram apavorados, os olhos ardendo pela Luz enquanto ele saia da banheira e vestia a longa túnica branca sobre o corpo ainda úmido...
"Você está fazendo uma escolha perigosa... Extremamente perigosa. Provavelmente sem volta!".
Dharr abaixou os olhos frente à Luz em sinal de respeito, porém sua voz soou firme quando respondeu:
"Sim... Já fiz minha escolha! Não me importa se ela seja perigosa e sem volta! Deixarei um sacerdote em meu lugar se for necessário, mas vou ajudar Dante! E vou implorar o seu perdão...".
"Você tem uma missão... Mais grandiosa do que um amor".
"O amor é a coisa mais grandiosa de todo o Universo".
"Você vai enfrentar uma batalha entre deuses. Mas primeiro deve vencer sua batalha interior".
"Eu estou preparado, mas não vou desistir de Dante, não como fiz, quando ocultei de Nefretiri a minha imortalidade".
"Com quem você acha que está falando, com um outro espírito, ou consigo mesmo?".
"Com meu Deus e Senhor ATON".
"Muito bem, agora perceba então a face do seu Senhor e Deus".
Uma imagem se formou diante da luz.
Dharr gritou de susto. A imagem translúcida no meio da luz...
ERA A IMAGEM DELE PRÓPRIA.
Ficou em tamanha desarmonia interior, que a luz e a imagem desapareceram.. Dharr saiu do ofurô e se enrolou na toalha, trêmulo.
Por todos os deuses... O QUE FORA AQUILO?
Um espírito superior ou projeções mentais de seu próprio espírito? Ou seria ainda demônios poderosos brincando com ele, querendo confundi-lo e enfraquece-lo...?
Só podia ser algo assim... Aquela luz não podia ser de Aton...
E Aton, lógico, não podia ser ele próprio. Sua encarnação na terra fora como o faraó que amava Aton. Não podia ser... Ridículo. Lógico que ele não podia ser o Deus Aton.
Essa visão... Fora tramóia das más energias... Apenas um grande pesadelo. Mesmo que ele estivesse acordado no ofurô!
A luz havia mesmo partido e em sua mente só sobrou o silêncio opressivo... Ouvia apenas algumas almas perdidas vagando ali por perto! Tinha inclusive perdido o breve contato que tinha estabelecido com Dante de Sparda!
Murmurou, apertando a toalha contra o tórax com mãos agoniadas.
Dante... Dante... Dante... Venha me salvar... Acho que estou ficando louco...
oOo
Vida e morte...
Céu e inferno...
Legião de anjos... Legião de demônios...
Dharr ultrapassaria tudo, enfrentaria qualquer coisa para cumprir a missão que Sparda o tinha encarregado...
Entrou na boate ainda a tempo de ouvir as notas finais do lamento profundo da música de Dante, sua voz rouca penetrou em seus ouvidos e encheu seu coração de amor e angustia...
As notas se perderam no silêncio que se seguiu a apresentação... Até mesmo os mais incautos pareciam sentir a pressão das forças ali dentro... A música... A dor... O karma... As sombras e a Luz!
O emissário de Akenaton abriu caminho entre as pessoas que se aglomeravam junto ao palco, num barulho insuportável que só agora ele conseguia ouvir. Todos queriam tocar Dante, falar com Dante, estar com Dante, mas os olhos dos dois estavam ligados um no outro, presos na linha do tempo. A ira e o desgosto do seu amor queimava seu coração... Parou em frente ao palco, ajoelhou-se e sua voz se fez ouvir acima da multidão:
"Eu que me deleito na companhia dos reis não dou atenção às outras criaturas. Cubro meus olhos com um capuz para poder repousar meus pés nas mãos do rei. Fui educado para ter a melhor conduta e pratico a abstinência como os penitentes a fim de que, quando levado à presença do rei, possa fazer exatamente o que o serviço exige de mim. Eu sou o filho de Aton... Mas não sou nada, sem o amor que descobri em você, Dante de Sparda. Não pode haver penitencia maior do que eu ser privado desse sentimento. Eu imploro, me perdoe. Aceite minhas lágrimas de sangue e a dor do meu arrependimento. Sem isso, eu não sou nada. Pior do que Deus ou Demônio, eu serei apenas uma alma desgarrada e sem sentido. Mas não descansarei em um único dia da eternidade sem ser pela esperança de ter o seu amor de volta um dia...".
Dante estava visivelmente surpreso. Havia sentido sim a presença do sacerdote ali, mas jamais achou que o outro iria se declarar daquela maneira.
Estava dividido entre a dor da traição e o alívio de perceber que Dharr havia conseguido passar pelo portão infernal são e salvo. Como ele conseguira aquela façanha? Era um ser notável. Sem dúvida, poderoso. Já o subestimara uma vez, e lhe entregara algo que lhe era mais precioso do que tudo: sua confiança. Mas agora, por mais que doesse seu coração, não iria cometer o mesmo erro duas vezes.
Dante pulou do palco e fez menção de passar sem dizer sequer uma única palavra para o outro. O egípcio se desesperou... Segurou-o pelo braço, agoniado:
"Por favor, ao menos converse comigo!".
Dante puxou o braço com visível desprezo.
"Seu recital é vazio e não me comove".
"Não sente a minha aura cheia de amor?".
Dante deu um sorriso lindo e cheio de sarcasmo.
"Você é capaz de mentir até através de auras. Enganou-me assim uma vez, não enganará duas".
"Oh, por Aton, Dante, eu só quero que...".
"Poupe suas palavras, eu agora entendi que você foi mais um dos lacaios do meu irmão. Você já fez a sua escolha. Fique com ele, divida-o com aquela megera chamada Lilith e bom proveito. Vocês são todos da mesma laia".
Os olhos de Dharr lacrimejaram. Estava merecendo todo aquele desprezo, não estava? Não fora ele que entregara Dante aos demônios sem medir as conseqüências por causa de uma vingança tola? Oh, agora sentia na própria pele como era amargo o sabor de ser vingativo...
"Dante... Você é a minha querida Nefretiri! Não percebe que...".
Os olhos de Dante ficaram subitamente rubros, como se fossem feitos de fogo. Era a ira do demônio falando mais alto.
"Cale a sua maldita boca ou não respondo por mim, seu calhorda! Eu não quero saber o que eu fui nas minhas encarnações anteriores. Me nego a me imaginar uma fêmea tola e fraca, a mercê dos caprichos dos homens. Agora eu sou um de vocês. Um homem! E nunca mais vou entregar o meu coração a nada, ou a ninguém... Se um dia fui Nefretiri, você deve ter virado as costas para ela, como virou para mim".
Aquilo doeu demais... Ouvir aquilo de Dante era mesmo uma dor pungente...
Dharr estremeceu. Não esperava que Dante o carregasse no colo e lhe desse boas vindas, não é? Oh, sim, sim, era isso mesmo que desejava, de todo o seu coração...
"Dante...".
Dharr puxou o medalhão que fora da mãe de Dante...
"O próprio Sparda me tirou das dimensões infernais, e me disse que era para lhe entregar isso. Pediu que eu fosse paciente, e que cuidasse de você".
Dante fazia o humanamente possível para conter sua ira e não assumir sua forma demoníaca ali mesmo. Que atrevido! Arrancou o medalhão com força da mão do sacerdote de Aton:
"Usar meu pai para suas novas mentiras, Dharr, mostre mesmo do que você é capaz!".
Freddye e Hanna e Paul se colocaram ao lado de Dante...
"O boiolinha esquisito ta te incomodando, é?". Paul se aproximou mais.
"Quer que a gente o coloque pra fora?". Questionou Freddye
Dante balançou a cabeça... Como eram ingênuos, os seus amigos... Dharr poderia acabar com todo o quarteirão com um único piscar de olhos...
"Não, galera, o cara é... Um repórter amigo meu. Mas já está de saída".
Dharr suspirou... Paciência. Quem semeia vento, colhe tempestade. Não seria agora que conseguiria o perdão de Dharr, mas, ah, não iria desistir disso, de jeito nenhum...
"Tudo bem... Mas a gente volta a se encontrar outro dia...".
Dante apanhou um copo de cerveja e abotoou um sorriso cínico. Por dentro, porém, sentia-se arrasado.
"Não duvido. Mas acredite. Para mim, vai ser um total desprazer... Me encontrar com as cobras de Cleópatra seria algo mais agradável".
O coração de Dharr se apertou. Merecia tudo que estava ouvindo...
"Até outra hora, Dante...".
Com o mesmo estado de espírito melancólico de Dante, Dharr saiu da boate.
Precisava achar um jeito de ficar próximo de seu amor. Sabia que ele, sem a proteção de Anúbis e com Virgil novamente na terra como um demo-humano, estava em desvantagem... O problema era...
Como fazer Dante confiar nele novamente?
Continua...
ATENÇÃO: Capítulo Reeditado 27.06.2006.
Agradeço aos comentários...
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Responderei a todos
Beijos
Jade Toreador
