O Despertar Do Sol
Genero: Yaoi
Personagem principal: Dante De Sparda
Autores: Jade Toreador/ Scarlet Toreador
Status: Incompleto

Sumário: Em sua busca por vingança, Dharr se envolve com Dante de Sparda, um demônio metade humano que detém não somente uma força imensa, mas também as rédeas de seu destino. Vingança, ódio, desejo e amor se misturam nessa história.

ATENÇÃO:
O capítulo 5 foi reeditado em trechos necessários para o melhor entendimento da história a partir deste capítulo. Aconselho a você leitor, reler o capítulo anterior para não acabar se questionando sobre alguns detalhes.

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O Despertar Do Sol

Capítulo 6


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Foi o seu olfato apurado que o acordou! Os cheiros se misturavam. Almíscar... Benjoim talvez... Alfazema... Não! Esses eram os odores do sonho, o ar real fedia ao seu redor, respirou fundo e uma dor aguda acometeu seu peito... Outra vez aqueles sonhos estranhos. Será que estava outra vez no necrotério, por isso o cheiro ruim? Abriu os olhos e só então percebeu o que cheira mal, e que ao seu lado estava agachado um velho barbado e suas roupas fediam a urina e fezes. Instintivamente chutou o velho para longe que gritou imprecações...

"Além de deitar no meu lugar ainda me bate!".

Anúbis percebeu que tinha que fazer força para entender a língua do velho, mas que captava facilmente suas idéias... Então assim como um sonho àquela sensação foi diminuindo, o cheiro adocicado do sinhô também e ele sentiu um frio enorme e o peso de sua bexiga cheia. A confusão em sua mente aumentava a medida que aumentava seu frio e seu estomago começava a roncar, o velho continuava a resmungar Anúbis então levantou-se daquele chão imundo e pegou um pedaço de cobertor não muito sujo que estava ali por perto... Não se lembrava de como tinha ido parara naquele beco, recordava mal a hora que acordara naquele necrotério e mais nada...

"Ei seu filha da puta me devolve meu cobertor!".

O velho avançou para cima dele, mas Anúbis o jogou para longe num empurrão, o velho bateu a cabeça na parede e desmaiou, o Deus Chacal não esperou para ver se ele estava bem ou não, cobriu-se com cobertor... Fedia, teve vontade de vomitar, mas ainda assim era melhor do que o frio que lhe corroia a alma. Urinou junto ao muro e por instante teve a impressão de que nunca fizera aquilo... Verificou se a arma que roubara do segurança ainda estava com ele, sim, estava... Forçou a mente em busca de algo... Nada! Saiu andando...

Os brilhos das luzes pareciam fortes demais para seus olhos. Luminosos e outdoors eram coloridos demais. De repente a multidão apressada que saiu de uma escadaria que vinha do fundo da terra o assustou, ele gritou, mas ninguém prestou atenção nele, era apenas mais um louco perdido na cidade grande. Um pânico súbito o atacou e ele encostou a parede mais próxima, seu coração batia acelerado...

"Uma escada que brotava do chão... E uma multidão saindo de dentro dele!".

"Isso é o inferno...".

Definitivamente, agora sabia: o inferno era aquele lugar chamado Terra...

Uma risada suave o afastou de seus pensamentos... Virou em direção ao som e seus olhos se fixaram na moça ao seu lado. Seus lábios excessivamente vermelhos pareciam morangos silvestres... Ela riu...

"Nunca vi uma definição tão boa para o metrô nesse horário... Parece mesmo um inferno não é!".

Ela chegou mais perto dele...

"Hum seus olhos são lindos sabia, por cinqüenta prata faço você visitar o céu e o inferno ao mesmo tempo".

Ela cheirava bem, tinha longos cabelos negros que batiam em seus quadris, o rosto era pequeno, olhos grandes a boca perfeita... Com o rosto excessivamente maquiado parecia uma boneca. De repente ele se pegou pensando se ela não sentia frio com aquela roupa curtíssima que usava e a blusa decotada...

"Quer meu cobertor! Está frio...?".

Ela riu...

"Cara isso fede! Mas você é um cavalheiro! Um cavalheiro cuja capa é um cobertor fedido!".

"O que são cinqüenta pratas?".

"Você veio de Marte?".

"Você disse que me levava ao Céu e ao Inferno por cinqüenta pratas!".

Ela riu, e seu riso foi cristalino...

"Era só o que me faltava, um maluco numa noite fodida e sem cliente como essa! Qual seu nome?".

"Eu... não sei!".

"De onde está vindo!".

Ele deu de ombros, ia dizer o quê, que tinha acordado ao lado de um bando de mortos?

"Não sei... Acho que... Acordei há pouco num beco, e...".

"Deve ter sido pego por algum gaiato por ai! Nessa redondeza só tem gente da pesada, não devia dar mole... Você tem aparência de gente fina, alguém aprontou com você... Hum... você até que é bem bonito, sabia?".

"Bonito...".

A imagem de alguém com cabelos claros, quase brancos invadiu a mente de Anúbis...

"Venha, Wolf, vou fazer minha boa ação de hoje!".

"Do que me chamou?".

"Wolf, por causa de seus olhos, eles me lembram os olhos de um lobo que tinha na fazenda de meu pai quando eu era muito pequena... Mas isso é outra historia, venha comigo pro meu cantinho, ai você pode tomar um banho e comer alguma coisa... Que não seja eu é claro já que não tem dinheiro...".

"Cantinho...".

"Cara vamos embora logo se quiser, já está me irritando repetindo sempre o que eu falo, vai querer vir comigo ou não?".

"Vou!".

"Ótimo, então venha, depois de descansar e comer, você vai conseguir achar um jeito de me pagar até bem mais do que cinqüenta pratas... Você é mesmo muito bonito...".

A prostituta começou a caminha em direção as escadas do metrô. Anúbis, ou Wolf, como ela o chamava, ficou tenso...

"Você quer que eu entre num buraco para dentro da terra?".

Ela riu de novo...

"Cara, você deve ter feito uma viagem e tanto, seu miolo ta mais cozido do que aquele roqueiro Ozzy. Venha logo!".

Ele obedeceu. Não tinha mesmo outra alternativa. Mas sua tensão aumentava a medida em que via aquele formigueiro humano se deslocar desordenadamente no subsolo. A sua situação emocional piorou ainda mais quando ele viu um imenso 'lagarto de metal' passar furiosamente pelo buraco, com luzes sinistras e som aterradores... As pessoas entravam e saiam das entranhas do monstro!

"Por Aton, o que é isso?".

Suava frio. Encostou-se na parede do metro pensando um jeito de se defender ou atacar aquela imensa estrutura metálica. Mas subitamente o horrendo monstro fechou os poros da sua pele metálica e partiu, carregando as pessoas consigo! A moça olhou para ele impaciente...

"Me fez perder o trem! Oras, venha, vamos andando, então! Você é mesmo muito doido... Mas se eu estragar os meus saltos, da minha bota, por sua causa, você vai ter que me dar outra! Você vai me dar um par novinho! E é de griffe!".

Ela o empurrou de novo para fora da estação de metrô e novamente no frio da madrugada os atingiu em cheio. Eles foram caminhando...

Anúbis estava se sentindo um garotinho perdido em um pesadelo que não iria passar nunca mais...

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No dia seguinte à sua apresentação na boate, Dante acordou melancólico. Sentia-se fisicamente revigorado, mas tinha um gosto amargo na boca. E sabia que não era por causa da bílis provocada pelo excesso de bebida, mas sim, por causa de seu amor por Dharr. Isso tinha que passar... E o pior de tudo... É que ele, Dante, jurara ser o protetor do sacerdote, durante o ritual sagrado.

Sabia que não teria como se furtar de ver Dharr novamente... Desonrar sua jura seria algo vergonhoso para um filho de Sparda!

O seu celular tocou. Ele atendeu. Ficou lívido quando reconheceu a voz grave e macia.

"Dante, sou eu".

"Já não lhe disse tudo ontem, egípcio? Não quero falar com você mais...".

"Mais sacerdotes meus foram assassinado por demônios...".

Dante estremeceu. Sabia o que isso significava. Tinha que ir proteger Dharr. Era seu dever e sua função. Pelo jeito, Lilith, Virgil e a corja que os seguiam não iriam desistir de fazer da Terra um quintal particular das dimensões infernais...

"Tudo bem... Eu estou indo para ai".

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Dante examinou a cena do crime atentamente. Os corpos haviam sido mutilados num ritual cabalístico, que o pai dele, Sparda, havia lhe ensinado como sendo uma perigosa evocação apocalíptica.

Pelos deuses! Então...

Se fosse humano de todo, Dante teria ficado pálido pela revelação que seus pensamentos lhe trouxeram.

O APOCALIPSE! Seria isso então, o Fim dos Tempos? Seria o fim dos tempos humanos e o início de uma era demoníaca da Terra?

Olhou sério para Dharr que, sem suas roupas cerimoniais, apenas de jeans camiseta, parecia tão somente um lindo universitário.

"Você está me escondendo algo. E algo tremendamente perigoso".

"Eu não...".

"Se não me contar exatamente as funções desses sacerdotes, eu simplesmente vou me embora e esqueço esse assunto".

Dharr passou as mãos pelo cabelo, aflito...

"Os selos apocalípticos...".

Agora sim, o sangue humano de Dante fez ele empalidecer de verdade. ENTÃO ELE ESTAVA CERTO!

Dharr continuou:

Eu, o sacerdote de Aton, cuido da evocação cabalística dos selos do Juízo Final.. Esses selos são poderes de elementais que, unidos, podem abrir totalmente as dimensões entre a Terra e o mundo dos demônios...

Dante estava mesmo assombrado. O Armagedon! Então era isso que Lilith e Virgil planejavam atingir!

"Você sabe, as escrituras sagradas do Apocalipse retratam uma linguagem metafórica. Cada cavaleiro, cada selo, representam um conjunto de fatos que vão culminar com a abertura irrestrita do portal dos infernos... Demônios e anjos travarão NA TERRA uma luta final e milhões de humanos perecerão nessa jihad para surgir uma nova realidade cósmica. Esse novo sacerdote assassinado... Era um dos guardiões da energia elemental... Um dos selos... O selo de Sparda não é o único. E a abertura de todos os portais unidos podem desencadear a vinda dos demônios e anjos para a terra definitivamente".

Dante empalideceu... Por isso estavam acontecendo tantas guerras, fome, peste, terremotos, tsunamis... Um dos selos havia sido rompidos... Os elementos energéticos que seguram as dimensões infernais e terrestres separadas estavam começando a mudar...

"Precisamos encontrar Anúbis, Dharr, e alertar Hades".

"Oras, Dante, será que Hades não está pactuando com tudo isso? Ele seria um dos que mais ganhariam se a espécie da carne, como chamamos os homens, fosse eternamente dizimada e ordem dos demônios ganhasse definitivamente a Terra".

"Não creio, não é apenas a Terra, o planeta, que está em jogo, mas se o Armagedon ocorrer, a ordem binária do bem e do mal ficará abalada. O ciclo de encarnações pararia e as almas condenadas fariam um grande exército, que poderia inclusive, destruir não somente os anjos, mas os demônios também. Você sabe, os demônios são uma ordem karmática superior aos danados sem salvação. Esses sim, são os reais vilões que no Armagedon podem sublevar a ordem cósmica. Anjos e demônios são facetas da mesma moeda, são capazes de evoluir e de aprender o valor do bem. Agora, os que juraram mal eterno, esses sim são o perigo real, os que vão herdar a Terra se o Armagedon acontecer".

Dharr suspirou. Era verdade! Esse era o destino que ele, como sacerdote do Deus Aton, tinha que evitar a qualquer custo.

"E o que vamos fazer agora?".

"Você é o catalisador de todos os selos, o representante de Aton na Terra, não é? O que pode abrir todos, de uma só vez, se assim o desejar".

Dharr suspirou, agoniado. Nefretiri, sua amada, havia sido assassinada sem saber a verdade, mas agora, séculos depois, encarnada como Dante, o guerreiro, ela finalmente descobrira tudo que se referia ao destino dele, Dharr.

"Sim, eu sou a união dos selos, o ultimo portal. A minha morte acontecerá no dia do Armagedon, nem um segundo antes. Por isso... - Havia lágrimas nos olhos lindos de Dharr agora. - Não posso morrer como um mortal, não posso ter paz... A minha morte somente poderá acontecer no dia do Juízo Final...".

Os lábios de Dante estremeceram.Oh, deuses, que peso para uma única alma, aquela responsabilidade toda! Por isso Dharr vagava eternamente, como uma luz solitária na escuridão...

Esquecendo se um pouco as mágoas, Dante acariciou o rosto de Dharr suavemente.

"Eu vou proteger você...".

Dharr beijou a mão amada. As lágrimas escorriam pelo rosto moreno.

"Oh, eu preciso do seu perdão mais do que minha vida...".

Subitamente, lembranças de antigos ensinamentos que seu pai, o demônio Sparda, lhe dera, quando ainda habitava entre os homens, atingiu-o como um raio terrível...

Dante estava arrasado. Não podia amar Dharr! Ele era inatingível!

Sim, agora, percebia a verdade...

O último selo apocalíptico, o que traria o Armagedon, era a morte DO DEUS ENTRE DEUSES. Seu pai Sparda havia lhe contado isso.

Dharr não sabia disso, mas ele não era um simples sacerdote de Aton.

ERA O PRÓPRIO ATON ENCARNADO. Quando Dharr evocava o deus, na verdade, projetava uma parte do seu próprio ego e poderes, sem ter consciência disso!

O DEUS ATON ENCARNARA COMO O FARAÓ AKENATON, para contar aos homens a sua verdade. Foi por isso que Akenaton não desencarnou, quando os sacerdotes politeístas o assassinaram. Ele era mais do que um imortal.

ELE ERA O PRÓPRIO DEUS DA LUZ.

O GERADOR DA VIDA.

O Deus Supremo Aton, ao encarnar como o faraó Akenaton, que perpetuara sua vida mortal com o nome de DHARR, deixara as almas livres para escolher entre bem e o mal! E permitira que o ciclo de encarnações continuasse sob a lei do Livre Arbítrio. Por causa disso, não havia uma ordem clara no universo entre luz e trevas, porque o deus deixara as almas livres para escolher seu próprio destino, se aprisionando voluntariamente nas dimensões terrestres.

O DIA DO JUÍZO FINAL ACONTECERIA NO INSTANTE EM QUE DARH MORRESSE!

Oh, céus, que desgraça a sua! A encarnação de Aton como o faraó que se imortalizara com o nome de DHARR era um disfarce da GRANDE VERDADE.

DHARR... O DEUS SUPREMO.

Céus... AMAVA O DEUS DOS DEUSES...

"Dante, você está chorando!".

"Você não se lembra de nada, não é? Realmente não sabe quem você era antes da sua encarnação como Akenaton...".

"Do que você está falando? Do que eu devo me lembrar?".

Abraçaram-se, com força. Porque entre todas as criaturas do universo, tivera que se apaixonar justo pelo DEUS SUPREMO?

"Dante... Você está me assustando!".

Dharr estava mesmo assustado. Porque as lágrimas escorriam livres pelo rosto amado?

Implorou:

"Por favor, diga que me perdoa...".

Dante riu. Um riso que era pura amargura. Quem era ele para não perdoar O PRÓPRIO DEUS?

"Eu o perdôo, meu amor...".

Dharr soltou um grito de alegria, mas a dor que viu nos olhos de Dante fez o seu sorriso morrer...

"Nós... Nós dois...".

"Não, Dharr, eu não posso ficar com você e tocar você... Nunca mais".

Os olhos de Dharr eram pura desolação.

"Do que você está falando?".

Dante suspirou. Não podia falar a verdade e contar ao seu amado que ele era a encarnação de ATON, e não apenas de um antigo faraó. O deus supremo mergulhara voluntariamente na inconsciência do seu ego. Ele, Dante, um demônio, não podia mudar a vontade de deus, podia? Pior ainda... Quem era ele para usar o corpo do deus vivo?

"Não vamos mais nos tocar como fizemos no ritual sagrado. Não podemos".

Dharr estava quase histérico agora.

"Ficou louco? EU PRECISO DE VOCÊ".

"Não, Dharr, a humanidade é que precisa de você. E eu... Eu não sou digno de tocá-lo".

Dharr estava aturdido.

"Mas que estória absurda é essa? Qualquer vagabundo de bar pode me tocar! Você é que não me quer mais!".

Dante suspirou. Era melhor assim...

"Isso mesmo, não o quero".

"Mas você disse que me perdoava!".

Oh, ele era mesmo um desgraçado.

"Eu menti".

"Não me ama mais?".

"Não amo".

"Agora sim, você mente".

Dante suspirou.

"Venha, vamos...".

"Eu não vou a lugar algum enquanto você não me beijar".

"Já disse, meu senhor, isso não deve acontecer mais. Não há lugar no seu mundo para mim. Nunca houve, agora eu compreendo. Eu devo ser apenas o seu protetor. E mais nada".

Dharr estava quase em pânico. Por que Dante falava assim?

Nesse instante, chegaram ao local outros sacerdotes e Dharr foi obrigado a dar atenção a eles.

Dharr estava agoniado, sussurrou para o gigante de cabelos brancos:

"Não vou desistir de você".

"Temos que pensar no Universo agora, não em nós".

"Estou farto de pensar no universo, quero pensar um pouco em mim!".

Dante não sabia se ria ou se chorava. O que diria Dharr se soubesse que ele era o criador de todo o universo?

"Estou lá fora, de vigília. Converse com seus homens".

E sem esperar pela resposta, Dante assumiu sua forma demoníaca e voou para o telhado da casa, de onde poderia sentir qualquer ameaça que pudesse aparecer, enquanto os sacerdotes conversavam.

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Estavam agora numa kitinette decrépita, num dos bairros mais decadentes e perigosos da cidade...

"Wolf, não é possível! Você não sabia sequer usar a descarga e o chuveiro! Agora fica olhando para latinha de cerveja como um alucinado. Nem no filme onde o Tarzan chegava em Nova York eu vi um cara tão alienado. De que mundo é você?".

Suzi era o nome de guerra da garota, o que ela usava com os clientes, seu nome verdadeiro, Suzette. Ela não parava de falar e falar, mas apenas algumas palavras haviam tocado o coração de Anúbis... 'De que mundo é você?'.

Inferno. Umbral. Passagem entre vivos e mortos.

Claro. Só podia ser mesmo um louco. Suzi tinha razão. Prestou atenção no jeito que a moça fazia para abrir a latinha de cerveja e fez igual. O que tinha de fazer, era disfarçar para a prostituta amigável não perceber que ele tinha surtos psicóticos ou iria de novo parar na rua, no meio da sujeira e mendigos...

"Desculpe, eu... Estou apenas cansado".

Anúbis era, como deus, a sedução em pessoa. Como homem, não poderia ser diferente. Seu sorriso foi tão envolvente e singelo que a garota abrandou sua ira. Ela sorriu-lhe de volta:

"Oh, você deve curtir as pedrinhas de Ice, aquela nova droga que rola no Hawai e também por aqui. Cara, cuidado, eu li numa revista, no salão da minha cabeleireira, que ela dá perda de memória e surtos psicóticos, além de foder a gente inteirinho. Tem o efeito de cocaína com êxtase porque é uma porcaria de mistura de acetona anfetamina e outros lixos. Pode durar até dez horas. Você deve estar com a bicha no corpo".

Anúbis não entendeu. Perguntou com a inocência de uma criança:

"E por que eu iria colocar no meu corpo algo que o destrói?".

Susi riu...

"Se todos tivessem o bom senso de fazer essa sua pergunta, os traficantes do pedaço morreriam de fome. Agora escuta, eu não quero nóia aqui dentro, sacou, se for mesmo um viciado, cai fora".

Anúbis negou. Fosse o que fosse ser viciado, não soava uma boa coisa nos ouvidos da humana. Era melhor fazer um exagerado não com a cabeça.

"Ótimo, agora, tome, pegue esse trocado aqui e vá até lá na esquina, na loja de conveniências, comprar uns pãezinhos pra gente comer enquanto eu tomo um banho decente. Se me roubar e fugir com o dinheiro, azar o seu. Porque vai perder o rango mais pra frente. Não sou experte em culinária, mas curto fazer a minha comidinha. Meus irmãos dizem que eu faço muito bem. Isso mesmo, tenho irmãos, um deles toma conta de todo o quarteirão pras meninas que ficam por aqui. Por isso, já sabe, se fugir com a grana, ele vai atrás de você... E te capa. Aiiiii, não, um homem lindo desses sem arma... Volta,viu, desmiolado, surtando como você está vai acabar debaixo de algum carro. E só pra comprar os pães e voltar, até meu gato, que tem o cérebro do tamanho de um caroço de azeitona, sabe fazer isso".

Anúbis olhou para ela como se ela falasse mesmo uma grande bobagem. E para onde ele iria, se fugisse? Não sabia quem era, não tinha lembranças de nada, e, bem, não tinha ainda idéia de como sobreviver num mundo daquele.

Perguntou, de repente:

"Por que está me ajudando?".

"Não estou te ajudando. Estou aplicando um capital, você vai faturar hoje à noite e repartir a grana comigo. Vai fazer sucesso aqui no pedaço".

Os olhos claros de Anúbis pareciam dois lagos profundos e confusos.

"Oras, e o que é que eu posso fazer para conseguir dinheiro?".

Ela gargalhou.

"Ok, vou fazer o seu joguinho e explicar para você, como se você não soubesse. É ISSO que você vai fazer hoje a noite, com os clientes que eu vou te arrumar, para me pagar um aluguel e a comida que te dou, meu adorável debilzinho...".

Ela fez uma das suas mãos ficar num formato de um 'ó' e com a outra, fez o indicador entrar e sair ritmicamente do buraco que seus dedos formavam.

Anúbis corou até a raiz dos cabelos. Até deuses banidos e desmemoriados sabiam EXATAMENTE o que aquilo queria dizer.

CONTINUA...


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JADE, Toreador Vampire