Sombra
& Luz
Age of Empires
Personagens Principais: Surion x
Helkersim; Outros.
Gênero: Yaoi/ Lemon
Capítulo: 02
Status: Incompleto
Sumário: A paz entre os Drow s e os elfos "dourados" era frágil como uma folha de outono preste a cair de uma árvore. Para protegê-la é celebrado um casamento entre o rei Drow e uma elfa do norte. Dessa união, nascera o atual soberano Drow , um mestiço cujo sangue carregava a etnia das duas raças inimigas. Mas os príncipes da corte, elfos "azuis" de raça "pura", almejando o poder absoluto do soberano de olhos claros, querem derrubá-lo do Trono a qualquer custo e recomeçar a guerra. Nesse conturbado ambiente de traições palacianas, um amor proibido nasce sob a égide de bênçãos e maldições divinas.
( Uma fanfiction baseada no Rolling Playing Game Age of War)
Sombra
& Luz
Capítulo 02
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Quando a luz do dia rompeu a barreira das pesadas cortinas que protegiam o quarto, Helkersim abriu os olhos. Estava sentindo seu corpo ainda dolorido da longa viagem e a fraqueza se fazia presente... Ficou calado na presença da tal Lisandra, na noite anterior, enquanto ela providenciava uma tina cheia de água enquanto algumas criadas deixavam ali no quarto uma grande travessa com vários tipos de pães, carnes frias e manteigas que tinham um odor delicioso.
O mestiço elfo sentiu suas entranhas se contorcerem de fome, mas não iria quebrar seu juramento...
- Vamos, temos ordens de lavá-lo e alimentá-lo...
Embora a voz de Lisandra soasse neutra, aparentemente gentil, seus olhos o encaravam com um misto de rancor e medo...
- Não quero nada! Pode deixar que eu me arranjo sozinho...
Ela saiu sem nada dizer. Ele tirou a capa que Surion lhe emprestara e tirou suas roupas rasgadas. Mergulhou com prazer na tina cheia de água quente e sentiu seus músculos relaxarem...
A visão da comida era por demais tentadora. Disse a si mesmo:
- Um pouco de leite e pão não vão me deixar nem mais nem menos interessantes aos olhos de ninguém...
Saiu da água que já começara a esfriar, se enrolando nas toalhas macias que encontrou sobre a cama, próxima a tina. Depois, aproximou-se da mesa onde estavam as iguarias culinárias, tomou um pouco de leite morno, que parecia adoçado com mel... Ah, que delícia! Talvez o leite estivesse temperado com canela e cravo devido àquele sabor picante...
Tomou nas mãos um pedaço de pão, mas, nesse momento, a porta se abriu e Surion entrou, ainda mais altivo e majestoso do que tinha se aparentado ser na floresta:
- Que bom que resolveu comer...
A voz de Surion, mesmo que isso não fosse possível, parecia ter todo o encanto das vozes dos elfos mais nobres e puros que pudessem existir...
Estremeceu. O meio elfo colocou de volta o pão na mesa e abraçou seu próprio corpo como se assim pudesse estar protegido...
- Comerei apenas o suficiente para não morrer de fome...
Surion riu...
- Veremos...
Bateu palmas. Logo atrás dele, entraram no quarto, várias orcs fêmeas que num instante carregaram a tina de água e as travessas de comida para fora... Elas colocaram então sobre a cama várias roupas que, de longe, se percebia ser da mais pura lã... Roupas que Helkersim, na vida simples que tivera até então, jamais vira antes!
- Aqui o frio é intenso, mesmo para quem já está acostumado com ele... Amanhã conversaremos ou, então, quando sua fome bater de verdade...
Surion saiu e Helkersim ouviu a porta ser trancada. Sim, era de fato um prisioneiro...
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Amanhecia...
Agora, com os ruídos da rotina do castelo chegando até seu quarto, ele estava a pensar no que poderia fazer para fugir. Tinha mesmo que pensar num jeito de sair dali, mesmo que fosse para morrer na floresta ao falhar no seu intento...
O barulho da porta sendo subitamente aberta o fez sentar-se rápido na cama e puxar as cobertas até o pescoço... Fosse quem fosse não queria ser pego seminu, ainda deitado. Dali para frente tinha que ser um guerreiro... Fez rapidamente uma prece a Deusa pedindo que não fosse Surion, enquanto seus olhos arregalados se mantinham fixos na porta que abria lentamente...
- Ora, ora, é mesmo uma mercadoria de primeira... Bem que meu amo disse... Você merece ser bem tratado!
Era um feio, Humano, de cara nada amistosa. Helkersim arrepiou-se, tenso. Depois da experiência horrível que tivera na floresta com os humanos, povo de sua mãe e padrasto, já não tinha certeza de que poderia confiar num deles novamente...
O modo como o estranho falava dele como se fosse uma mula ou um jegue, o encheu de revolta:
- Sou um cidadão livre!
- Oras, não me faça rir! Não percebeu ainda onde está? Nos domínios do Drow s e, em nossos domínios, quem não é Drow , é escravo!
- Então você também é tão escravo quanto eu! Não é?
A pergunta pegou o homem desagradável desprevenido, mas ele riu, como se gostasse do raciocínio rápido do outro...
- Sou um servo. Tenho bem mais regalias do que você, acredite.
Helkersim já estava quase em pânico. Mas era orgulhoso demais para admitir isso. Ergueu o nariz afilado e tentou mostrar uma segurança que estava longe de sentir:
- E isso lhe dá o direito de entrar nos meus aposentos?
- "Meus" aposentos? Hum, vejo que já está se sentindo a vontade... Melhor assim.
- Quem é você, afinal?
O humano fez uma reverência zombeteira, inclinando-se exageradamente para frente.
- Sou Herk, capataz de Surion. Controlo o harém do príncipe Harish e o tráfico de mercados. Você deve aprender a se comportar, vestir, falar a língua Drow e élfica como se fosse a sua... Sabe ler e escrever a linguagem dos humanos?
- Minha mãe me ensinou alguma coisa...
- Ótimo, não temos muito tempo...
- Não vou aprender nada com você!
- Oras, vamos ver se toda essa teimosia vale a pena!
O homem riu e puxou a coberta que protegia o corpo de Helkersim. Soltou um assobio de pura admiração:
- Ora, é dourado como um elfo puro! Muito bem, mestiço, somente não trituro seus ossos, porque prometi ao meu amo que seria cordato. Mas compreenda, detesto escravos teimosos e não bom com as palavras, por isso, não abuse da minha paciência, ou vai se dar mal... Mesmo que eu tenha que marcar esse corpo com chibatadas...
- EU NÃO VOU FAZER NADA QUE ME MANDAR.
O humano suspirou. E essa agora? Jogou o cobertor de volta para o menino, que tornou a se cobrir, rapidamente. O humano apanhou uma maça da fruteira de prata, que havia na grande mesa de mogno, e sentou-se na cadeira de espaldar alto que ficava de frente a cama...
- Escute, menino. Eu preferiria mil vezes mais convencer você a colaborar açoitando-o no tronco, mas prometi ao meu amo ter a paciência de uma elfa velha. Então, vamos ver se chegamos num acordo... Minhas ordens são a de lhe ensinar a falar, dançar e comer com a etiqueta da corte, antes do término do inverno, o que nos dá alguns meses. Que tal... Sermos amigos?
- Amigos? Um amigo não prende nem tortura...
- Mas amigos nos mantêm vivos. Compreenda, você não tem outra saída. Se quiser mesmo fugir, pelo menos, finja que está aprendendo alguma coisa... É o único jeito de ficar fora dessa prisão, não percebe?
O coração de Helkersim se apertou... Era uma armadilha. Mas o homem tinha razão. Como poderia sair dali se ficasse trancado no quarto, esquálido e fraco por falta de comida? Tinha que se alimentar, e depois, sair daquele quarto. Numa terceira etapa, mais difícil, mas não impossível, fugir... Sim, tinha que ser mais esperto do que todos ali dentro!
Como se adivinhasse os pensamentos do menino, o humano, ele mesmo, colocou a fruteira na frente do garoto.
- Coma. Morto não reage em benefício próprio.
Helkersim, finalmente, cedeu. Estava mesmo faminto! Comeu quase todas as frutas que estavam na tigela de prata. O homem sorria, satisfeito, um ar quase paternal agora.
- Ótimo, meu mestre ficará muito contente. Já planejou para você aulas de literatura élfica e humana, dança, esgrima e hipismo.
Sentindo um calor agradável por causa do estômago cheio, o menino começou a deixar sua curiosidade falar mais alto do que o medo:
- Seu mestre... Surion, é o dono do castelo?
- Deveria ser.
- Ele não é?
Surpreendentemente, o capataz de Surion gostava de falar. Além disso, queria distrair o menino, ganhar a confiança dele, fazendo-o aos poucos, se sentir mais a vontade.
- Meu mestre é o protetor do castelo e comandante das tropas Drow... É o dono de fato, mas não por direito de posses ou herança...
- Ele me disse que era somente um mercenário...
- Bem, ele ganha a vida assim... Nas horas vagas.
- Mas se e tão influente, deve ser muito rico, para que fazer esse tipo de coisa!
- Meu mestre Surion não recebeu títulos de nobreza ou terras. Na verdade, as terras Drow e os títulos de nobreza, pertencem somente aos descendentes diretos do líder élfico Leshdas, o que começou a guerra com os elfos e fugiu para a montanha maldita, Mon Dor...
- E o líder dos Drow, hoje, então, comanda tudo por aqui? O tal rei?
- Isso mesmo. O irmão de Surion é o senhor absoluto...
Helkersim abriu a boca de pura surpresa...
- Irmão, mas, mas... Se eles dois são irmãos, então Surion também deveria ter direito a ser chamado de líder... De Príncipe... Ou mesmo de ser dono verdadeiro do castelo...
Uma voz máscula e familiar chegou aos ouvidos do meio-elfo, fazendo sentir um frio no estômago, uma emoção que ele não sabia bem definir bem o que era...
- Não, mestiço. Um bastardo nunca tem direitos, muito menos, na terra dos Drows... Somos quase tão odiados quanto os elfos... Herk, sua boca é maior do que das mulheres, você já falou demais!
Herk nada respondeu. Abaixou a cabeça. Jamais ousaria responder àquele que tanto o ajudará... Num gesto de obediência suprema, saiu andando de costas e disse, fechando a porta:
- Me perdoe meu mestre!
Helkersim sem nem lembrar que perigos poderia estar correndo com a sua curiosidade desmedida, perguntou:
- Um bastardo? Você é um bastardo ou é um mestiço como eu?
Surion ficou por alguns instantes apenas a observar Helkersim deitado naquela cama enorme... Sim, ele tinha sido feito para aquilo... Para um leite grande e macio, para o luxo e para a riqueza. Seus sentidos se aguçaram em uma direção a pensamentos que ele, Surion, não queria de fato. Helkersim fazia parte de seus planos estratégicos, financeiros, mas não dos planos pessoais! Ele, o Drow, estava mesmo torcendo para que seu irmão o visse na hora certa e que gostasse dele, aí sim negociaria... Por direito, o escravo capturado era sua propriedade... Surion conhecia bem os gostos excêntricos do irmão... Conseguiria uma boa negociação...
- Sim, sou um bastardo, mas isso nada tem haver com você! Vim para saber se vai colaborar conosco eu se teremos que fazer algum tipo de "terapia" um pouco mais... Intensa para que você concorde...
A primeira tentação de Helkersim foi resistir, responder mal, mas então lembrou do que dissera o humano Herk... Tinha que estar forte para resistir. Abaixou os olhos com medo que Surion visse neles a sua rebeldia e então disse:
- Sim... Percebi que não tenho outra chance... Vou colaborar com Herk e com você!
Surion encarou o mestiço elfo por um bom tempo e Helkersim manteve firme seu olhar, o queixo erguido os cabelos louros brilhando nas cobertas escuras da cama. Surion engoliu em seco. Foi até a travessa de frutas e pegou uma das que sobrara...
- Lisandra e as outras servas trarão roupas e arrumarão você para as aulas do dia... E se você se comportar bem, receberemos você para o jantar na ala principal...
Um medo ilógico dominou Helkersim, ele saiu rápido da cama, enrolou-se de qualquer jeito nas cobertas e aproximou de Surion, os lábios sensuais, rosados e úmidos, os olhos translúcidos brilhando de medo. As mãos que tocaram os ombros fortes do Drow eram frias...
- Não quero essa mulher aqui! Ela não gosta de mim... E... Não quero encontrar ninguém... Por Galana, Surion, não me obrigue a encontrar pessoas que me odeiam sem que eu saiba o porquê! Tenho medo, por favor, não me obrigue a isso...
oOo
Muito longe das montanhas de Mon-Dor um mensageiro elfo se ajoelhou aos pés do seu senhor, ofegante. Havia viajado dias e dias sem descanso...
- Cheguei muito tarde, senhor. A humana já tinha morrido quando cheguei... O filho mestiço dela havia desaparecido... Ninguém na aldeia soube dar o paradeiro dele. E agora? O que devo fazer? Devo procurá-lo?
Linarkim, um elfo puro, belíssimo no esplendor dos seus duzentos e oitenta anos, não aparentava mais do que trinta anos dos humanos. Via-se, pelo seu porte altivo, que era um líder na comunidade élfica. Seu semblante, naquele momento, era de pura apreensão...
Seus sonhos de mau agouro haviam se concretizado. Neles, previra a morte da mulher humana que amara por toda a vida, mas agora... Ela já se fôra... Para sempre... E seu filho? O que fôra feito dele?
- Sim, procure-o. E não descanse até encontrá-lo...
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Surion sorriu, complacente...
- Não precisa ficar preocupado com as mulheres, pelo contrário, deve gostar das companhias delas... Não gosta? Nunca esteve com uma mulher?
Helkersim corou... Sexualmente com uma mulher?
- Eu... Claro que já!
Surion riu, um riso gostoso, de pura malícia...
- Definitivamente, você não sabe mentir! Muito bem, se não gosta de Lisandra, não precisamos jantar na companhia dela... Mas... Diante de sua virgindade enervante, creio que devo iniciar suas aulas pelo conhecimento do sexo. Você só vai saber seduzir se entender todas as implicações da sedução, e se for seduzido também...
- Não quero seduzir ninguém! Não compreende? EU ME NEGO!
Surion ainda tinha um sorriso divertido nos lábios, e parecia não ligar muito para os protestos do menino...
- O que eu entendo é que ser atacado por um humano escroto não deve ter causado boa impressão do que seu corpo pode despertar...
O coração de Helkersim batia descontrolado...
- Eu me nego a falar nisso...
- Sei que foi ultrajante e vergonhoso, mas agora... Ah, escute, vou levar você para escolher uma garota no meu harém... E vamos trazê-la para cá...
- Não quero ficar sozinho com ela!
Os olhos de Surion brilhavam como fogo agora, mas sua voz soou cordial e serena, como se falasse a um bebê, ou a uma presa que poderia escapar caso ele gritasse...
- Não vai estar sozinho... Vou estar junto com você.
oOo
Helkersim tinha uma vaga idéia do que poderia encontrar em um castelo, mas perto do que viu quando começou a percorrer os corredores que levavam ao harém particular de Surion, ele teve certeza de que sua idéia era muito vaga mesmo. Para começar jamais havia visto tanta riqueza e bom gosto... Se do lado de fora o castelo era assustador, erguendo sobre a montanha como um gigante horrendo, por dentro, pelo menos naquela área em que estava, tudo era repleto de riqueza e bom gosto. Cada detalhe parecia ter sido colocado ali por mãos cuidadosas e dedicadas.
Logo ao saírem do quarto onde estava preso, Surion com a mão sob seu cotovelo o fez andar para a direita. Helkersim não deixou de perceber que assim que começaram a andar dois orcs mestiços se puseram a andar atrás de Surion... Perguntou curioso, começava a se sentir à vontade ao lado de Surion... Seguro!
- Essa parte do castelo é sua?
- Digamos que sim!
- Mas se é um bastardo não deveria ter direito há nada não é? Meu pai... Quero dizer. Meu padrasto me colocou para fora quando minha mãe morreu e disse que eu não tinha direito há nada porque era um bastardo...
-...
- Fiquei na rua e então resolvi sair para procurar meu pai...
- Você resolveu colaborar e falar pelo jeito! Primeira lição... Aqui não se deve ser tão curioso. Nunca deve perguntar muito e nem falar muito, ainda mais de si mesmo...
Helkersim deu um suspiro profundo e abaixou a cabeça! Estava se sentindo sozinho e perdido no meio de gente estranha, seria vendido com escravo e mal tinha absorvido a morte da mãe, passou a ponta do manto que usava nos olhos para disfarçar um princípio de lágrimas... Surion não era um amigo, não estava interessado em suas desventuras, era tão somente seu dono... Por enquanto!
Manteve-se então calado, escondendo o rosto ainda mais com o capuz do manto que escondia seus cabelos claros e seu rosto! Agora queria que escondesse também a sua tristeza. Então uma porta se abriu ao final do corredor e Helkersim pensou se tratar do paraíso... Camas e sofás maravilhosos eram dispostos por todo ambiente todos forrados de brocados de cores vibrantes entremeados de fios de ouro e prata. Taças também de metais nobres incrustadas de pedras preciosas eram dispostas sobre as mesas de ébano e opalina... Plantas silvestres pareciam despencar do teto abobadado e até um pequeno riacho de águas cristalinas corria dentro do ambiente próximo de uma mesa de pedra esculpida no chão cheia de frutas e travessas... Helkersim esqueceu sua tristeza, aproximou-se do riacho e retirando o capuz da cabeça para melhor poder observar toda a grandeza daquele lugar...
- Que lugar lindo...
Seus olhos brilhavam como estrelas no céu ao anoitecer, e seu sorriso era puro. Mas então um grito se fez ouvir por todo o ambiente maravilhoso. Um grito de estremecer a alma... Um grito de medo e ódio!
- UM ELFO... SOCORRO! CHAMEM OS ARQUEIROS!... UM ELFO DOURADO NÃO TEM DIREITO DE PROFANAR ESTE LUGAR!
Era Lisandra, e ela estava furiosa por Surion ter levado o servo dourado até ali. As outras, que a temiam, não diziam nada, mas estavam bailando emoções nos olhos como curiosidade e temor, ao mesmo tempo.
Surion gargalhou...
- Ora, Lisandra, não seja ridícula! Um convidado meu é o que ele é! E você vai calar a boca agora, antes que eu perca a minha paciência...
- Mas ele é um impuro, um...
- Não me venha com os velhos preconceitos entre raças. Aqui mesmo está cheio de mulheres das mais diversas origens!
A mulher se calou, mas os olhos dela brilhavam um ódio perigoso. Instintivamente, Helkersim deu um passo para trás, na direção de Surion, mas chegou mentalmente a uma conclusão: também não gostava daquela mulher, o ódio era recíproco! O senhor do harém não se deu ao trabalho de comentar mais nada com ela. Fez um sinal para que ela se retirasse. Ela estremeceu de ódio, mas não retrucou nada. Inclinou-se para frente numa reverência muda e depois se afastou, sem tirar os olhos de Helkersim. E seus olhos diziam: "Eu te odeio". O menino sustentou o olhar dela, mas logo foi puxado pelo braço por Surion.
- Venha, não percamos mais tempo.
Surion o levou para outra sala, um lugar ainda mais amplo e luxuoso, onde belíssimas mulheres das mais diversas raças estavam ali, inclusive a élfica. Para o espanto total de Helkersim, ele viu alguns garotos, também. Humanos lindos, alongados como sílfides, andrógenos e sedutores, maquiados como garotas!
Surion riu diante do olhar aparvalhado do menino para os outros...
- Nunca viu eunucos antes? Eles precisam de uma cirurgia para ficarem alongados e lindos como os elfos, coisa que você não precisa. Sorte a sua.
Helkersim não entendeu o comentário, mas, por orgulho, não ousou perguntar nada. Seguiu Surion, que continuava caminhando...
Observador e astuto, Surion escolheu para uma bela humana, alguém que era do tipo físico com o qual o menino estava familiarizado, por ter vivido na aldeia dos humanos por toda a infância...
A garota era jovem, bela, mas não inexperiente, em absoluto. Ele, Surion, já a conhecia muito bem. Era maliciosa e sensual, e brigava com Lisandra pelas atenções dele, Surion, com a disposição de uma loba faminta! Ela os olhava com um atrevimento estimulante...
Surion fez sinal para que ela os acompanhassem, e empurrou Helkersim para o quarto que usava quando estava, ali, com as mulheres. O mestiço não conseguiu conter uma exclamação de puro espanto, tamanha a beleza do local. As paredes eram de ouro puro! Tudo ali era de um luxo impressionante. A varanda, envidraçada com o famoso cristal da terra élficas, mostrava um jardim fabuloso, com rosas e tulipas brancas como a neve que cobria as montanhas no inverno...
- Como é lindo...
Tão absorto Helkersim estava que não percebeu a garota deitar na cama com um olhar sedutor. Foi Surion, com uma piscadinha travessa, quem chamou a atenção do menino...
- Hei, você não vai deixar uma bela dama esperando para ficar admirando as flores, vai?
Imediatamente o rosto de Helkersim se tingiu de vermelho! E agora? O que dizer? O que fazer? Confessar toda a sua inexperiência diante daquele elfo negro que o olhava cheio de ironia? Suas faces queimavam e sem perceber torcia as mãos de puro nervosismo!
- Eu... Lógico que não!
Surion riu alto:
- Então venha pequeno! Hoje começará sua primeira aula!
- Eu já disse que...
- Não é hora de discutir comigo, Helkersim! É hora de aprender a única coisa que é capaz de fazer calar ou fazer falar os mais poderosos. Sexo... É com ele, mais do que com armas, que você se torna poderoso... Nunca esqueça disso...
Surion então foi até Helkersim e num misto de rudeza e sensualidade o jogou sobre a cama onde estava a garota. Esta por sua vez não perdeu tempo e com experiência tirou o manto que envolvia o semi-elfo. Helkersim tentou se livrar, mas ela parecia ter mil mãos que o afagavam por todos os lados. Então sentiu-se paralisado quando a boca da mulher tomou a sua num beijo que era uma invasão. A língua dela alcançava todos os cantos de sua boca, a saliva dela se misturava com a dele e o cheiro dela era bom, e o corpo macio que se moldava ao seu parecia apetitoso.
Seu coração bombeava sangue e ele perdia sua vontade própria. Ficou outra vez sem jeito quando sentiu que seu sexo endurecia... E não conteve o grito de surpresa e prazer quando a moça despiu suas calças e tomou na boca quente e macia o sexo dele que pulsava...
Gemeu, contorceu-se. Já não sabia o que fazia ali. Nunca sentira nada tão bom... Tão absoluto... Aquelas sensações não pareciam ser do bem, pois eram capazes de fazê-lo esquecer qualquer coisa... Ela continuava a chupar seu sexo e ele se agarrava aos lençóis como quem procura algo para sobreviver num naufrágio. O ar lhe faltava, as mãos tremiam e então ele sentiu que conseguia segurar alguma coisa sólida.
Arfou, erguia sua cintura ainda mais de encontro à boca da humana já sem controle de seus atos. Foi então que percebeu que eram os braços de Surion que tinha agarrado quando sentiu no ouvido o hálito quente e perfumado de Surion e sua vos rouca...
- Está bom pequeno dourado?
O rosto de Helkersim queimava como se ele tivesse febre, e ele só conseguiu dar um gemido abafado como resposta e entreabrir os lábios, numa tentativa inútil de normalizar sua respiração ofegante.
A visão dos lábios rubros e lânguidos, trêmulos, fez Surion estremecer de prazer. Ele estava adorando ver aquele virgem desabrochar sua libido como um raio de sol quando desperta para a vida.
Num gesto de pura volúpia, um gesto impensado, Surion tomou a boca do menino para si, vagarosa e absolutamente. O mestiço elfo gemeu de espanto, pavor e êxtase, tudo ao mesmo tempo. Ao contrário da boca feminina, que havia lhe tomado os lábios com um certo atrevimento, os lábios de Surion tomavam os dele de um jeito suave, sem pressa, como se os dois tivessem agora todo o tempo do mundo. Mas aquele beijo calmo fez seu corpo inexperiente fremir, porque ia se prolongando no tempo, enchendo de sensações indescritíveis! Um gosto delicioso de hortelã impregnava a sua boca, e o dominava, ao mesmo tempo em que o cheiro da pele de Surion atiçava suas narinas. O menino se sentiu caindo num abismo de prazer, ao mesmo tempo em que se elevava as alturas, como se o seu corpo pudesse cair e voar, ao mesmo tempo. Gemia, desesperado, porque não entendia aquelas reações loucas no seu corpo. O corpo de Surion e o da menina se aproximavam dele sufocando-o, extasiando-o. O toque dela era macio, o dele, forte. O corpo dela tinha perfume de rosas, o dele, de um almíscar que tinha o cheiro das florestas...
Surion parecia tirar sua alma pelos lábios, seu coração batia num ritmo tão acelerado que fazia suas têmporas latejarem, Ele precisava de ar para respirar, mas tinha a impressão de que se soltasse seus lábios dos de Surion cairia sem sentidos. Todas as células de seu corpo pareciam estar carregadas eletricamente.
Ele então experimentou um êxtase jamais imaginado. Ainda com os lábios grudados em Surion espirrou um gozo abundante na boca da humana que o sugava. Seu corpo tremia, o prazer era inenarrável. Gemeu dentro da boca de Surion e agarrou-se em seus braços enterrando as unhas em suas carnes musculosas... Surion sugou sua língua e ele achou que tinha desfalecido.
De algum lugar muito longe ele pareceu ouvir a voz da moça, mas não entendeu nada do que ela dizia. O mundo estava reduzido ao seu sexo que latejava. Aquilo é que era fazer sexo? Aquilo é que era estar com uma mulher? Era muito bom... Mas o que fazia Surion ali? E aquele beijo? Sua boca jamais esqueceria a pressão forte de Surion... Abriu os olhos e estremeceu. Lá estava ele, o rosto ainda muito próximo, os olhos brilhantes grudados nos seus.
- A-aca-acabou?
Perguntou trêmulo Helkersim. Não deixou de encarar Surion nem quando a moça veio deitar-se ao seu lado voltando a acariciar seu corpo levemente...
- Não! Ainda mal começou pequeno! Mal começou! Você acha que sentiu prazer? Ainda não viu nada... Não vamos ter pressa, podemos ficar aqui uma noite, um dia, dois dias... Aqui podemos dormir e acordar, comer, se banhar e enquanto isso você aprenderá muito... Muito mais...
A voz de Surion parecia mais grossa, mas aveludada, e Helkersim ficou olhando fascinando enquanto viu o elfo negro se livrar das vestes expondo o corpo forte e perfeito.
- Eu não...
- Psiu... Deixe que o seu corpo fale por você...
Surion deslizou sobre o corpo dourado, cobrindo-o como se fosse um manto de sedução. O garoto soltou um gemido abafado de espanto e prazer. Na verdade, o que estava acontecendo ali, para ele, era muito diferente do que acontecera na floresta... O corpo de Surion colado no dele dava medo, mas também o fazia tremer com algo muito mais forte...
- Mas...
O débil protesto foi silenciado com mais um beijo...
o0o
- Surion! Surion! Veja, as revoada das flores!
Surion riu, feliz, quando Helkersim fez o cavalo dele disparar em direção a revoada de flores Maynan, nome que, na língua élfica, queria dizer "pássaro da felicidade". A reprodução das flores era algo de rara beleza, pois suas pétalas, semelhantes a asas, na chegada da primavera, se depreendiam do caule e voavam como graciosas asas deltas no espaço, parecendo mesmo ser uma linda revoada de pássaros.
O mestiço elfo se jogou do cavalo como se pudesse pegar as flores do ar, e depois rolou pelo gramado. Surion fez seu cavalo ir na mesma direção, e também se precipitou naquela relva que, com a chegada da primavera, ganhara cores fortes e iluminadas. Mas não era as flores que ele queria, eram os lábios do menino, mais uma vez... Os dois rolaram pelo gramado, rindo, como duas crianças peraltas. Surion segurou os cabelos dourados nas suas mãos, admirando, mais uma vez, a beleza dos olhos translúcidos, o frescor dos lábios que, ofegantes agora, pareciam eternamente apropriados ao beijo.
- Você é um feiticeiro de Galana...
O menino riu mais uma vez, um riso que parecia música aos ouvidos do Drow...
Abraçaram-se e ficaram olhando os cirros que bailavam pelo céu...
De repente, uma trombeta se fez soar. Surion ergueu-se e viu, mais abaixo do morro onde estavam, alguns soldados do castelo. Seu capataz, Herk, estava entre eles...
Afastou-se do menino e esperou que seu servo, capataz e amigo, se aproximasse...
- Espero que seja mesmo uma notícia muito importante, para você vir atrapalhar o meu descanso...
- Você tem mesmo se dedicado a ensinar ao menino as delícias de se viver na corte... E na sua cama. Espero que de vez em quando, se lembre de ensinar a ele que nem sempre os que vão tomar o corpo dele vão ser gentis e cordatos como você. Na verdade, eu penso que você deveria ter deixado ele ser currado lá no meio da floresta... Os nobres, geralmente, se comportam exatamente como um bando de soltados violentos.
Surion ficou realmente furioso. Não gostava que ninguém se metesse em sua vida, amigo ou não.
- Se veio aqui só para me dar sermões, é o cúmulo do atrevimento! Você deveria ser açoitado!
- Eu vou falar e se você achar que eu devo merecer o castigo, vá em frente! Esse seu... Inesperado "favoritismo" pelos favores do menino criou um clima de rivalidade e raiva entre as suas favoritas e os eunucos... Você deve voltar a dividir seu tempo entre as...
- Isso é o fim! Não estou tendo favoritismos por ninguém! Você sabe que eu não me prendo a nada e a ninguém!
O velho Herk deu um sorriso irônico...
- Ótimo, então eu posso preparar o menino para ser vendido na caravana da próxima semana, a caravana que vai para Vynn, não é mesmo?
Surion respirou fundo... Por Galana, não havia percebido o tempo passar...
- A caravana já chega na semana que vem?
- Sim, mas é claro, podemos deixar o garoto aqui, para servir de capacho ao seu "nobre" irmão... Você havia me dito que talvez desse o menino a ele de presente, lembra-se?
Surion estremeceu. O irmão!
- Ele não vem ao castelo antes do final da primavera!
- Aí que está, engano seu! Ele está chegando com a guarda imperial hoje mesmo. Um soldado batedor chegou com a mensagem...
Surion, que era de um azul cobalto, chegou a empalidecer. Herk continuou:
- Algo ou alguém fez ele mudar de idéia e vir para este castelo, ao invés da mansão de veraneio do rio Aixan. Aposto minhas duas bolas, e olha que eu não quero virar eunuco, que tem o dedinho de Lisandra nessa estória... Ela, com certeza, deve ter escrito a ele, pedindo para vir e deve ter lhe contando essa situação... Bizarra... Entre você e o menino. Eu tento vigiar a correspondência da megera, mas você sabe, eu ainda não virei um deus... O soldado trouxe ordens claras... Que ninguém, nem você, deve sair do castelo antes do Príncipe chegar... Mesmo que você quisesse sumir com Helkersim daqui, não daria mais tempo...
Surion nada disse. Permaneceu em silêncio, enquanto via Herk se afastar com os guardas. Um ar pesado pareceu inundar a colina e um vento gelado soprou de repente. Só depois de algum tempo, foi que ele, Surion, percebeu que mantinha suas mãos cerradas ao longo do corpo, a ponto das unhas fincarem na carne da palma da mão!
Seu irmão estava chegando! Se Lisandra havia mesmo avisado da presença de Helkersim, nem mesmo ele teria como evitar aquilo! Respirou fundo e estremeceu ao ouvir a voz suave do elfo mestiço atrás dele:
- Alguma notícia ruim, meu senhor?
A mão carinhosa de Helkersim desceu pelos ombros fortes de Surion e então o mestiço o abraçou pela cintura, encostando a cabeça nas costas largas que lhe inspiravam tanta segurança... Suspirou enquanto esperava pela resposta de Surion... Olhava os céus e agradecia, em preces, a Deusa. Tinha sido por intervenção dela que Surion aparecera em sua vida, que o salvara dos humanos e que o levara para aquele castelo de conto de... riu para si mesmo sim... Castelo de conto de fadas! Nunca na vida imaginara por se sentir tão seguro e... querido como sentia ser por Surion. Herk era bom e agradável. Algumas da garotas eram sensuais e amigas, mas era Surion seu porto seguro. Era por Surion que seu coração batia mais forte! Era nos braços de Surion que dormia todas as noites... Seu senhor Drow nunca dissera palavras de amor, mas o tratava com tanta ternura, carinho e sensualidade que ele, Helkersim, tinha certeza de ser querido! Jamais imaginara que dois homens podiam... Amar assim! Aquele tipo de amor, entre os humanos, era considerado... Abominação...
Diante do silêncio prolongado de Surion, tornou a perguntar:
- Surion?...
Helkersim deu a volta em torno de seu amor parando a sua frente. Ergueu os pés de beijou de leve a boca tensa do elfo negro...
- Está me assustando Surion! Aconteceu alguma coisa?
O Drow baixou os olhos até enxergar o olhar agora aflito e ansioso de Helkersim... A boca trêmula, as mãos que agora agarravam seus braços...
- Nada que deva afligi-lo, meu menino!
- Então porque ficou assim? O que Herk disse que o fez mudar tanto?
Surion permaneceu calado! Como Helkersim já tinha o poder de perceber suas mudanças de humor? E ele porque estava tão aflito? Porquê temia agora a chegada do irmão e a saída da caravana para Vynn? Abraçou o mestiço muito apertado contra seu peito largo e deixou para pensar naquele assunto depois. Não gostaria de ver o medo brilhar outra vez nos olhos de Helkersim...
- Não se aflija, volto a dizer! São problemas meus apenas! Venha, vamos voltar ao castelo...
Helkersim riu gostosamente...
- Então vou dar banho em meu senhor e preparar seu jantar conforme me ensinou... Depois, será que o meu senhor me fará viajar até as estrelas outra vez?
Surion, riu esquecendo-se, momentaneamente, das preocupações que o afligiam...
- Fala como uma concubina!
Helkersim, fingindo-se de ofendido, mostrou a língua e deu alguns tapas sem força no Drow, que se defendeu prontamente, dando outros tapas carinhosos também e desgrenhando os cabelos dourados com as mãos... Riram, um pouco. E tornaram-se a se abraçar. O coração do Drow se apertou de novo...
Somente agora, tinha consciência do que havia acontecido! Tratava o menino como jamais fizera com garota alguma: era-lhe Helkersim um confidente, amante e servo, de uma maneira única, como jamais nenhum ser vivo, homem ou mulher, fôra para ele, um dia. E agora? O que isso significava? Antes, quando via os elfos e Drows levarem para as campanhas de guerra seus arqueiros "yahman" que na língua élfica queria dizer "união", achava estranho. Mas era a praxe. Nos longos períodos de peregrinações e guerras que haviam entre as etnias, os yahman, servos e escudeiros garotos, eram os parceiros de seus amos, por anos, durante todo o tempo que durassem as disputas pela terra. Não era desonroso ter um yahman lutando ao seu lado, enquanto a esposa e concubina esperavam protegidas nos castelos... Era isso o que Helkersim se tornara para ele? Galana... Não sabia mais o que pensar... Um yahman dava a mente e o corpo para seu amo... Como Helkersim fazia agora...
Subitamente, uma resolução tomou conta de seu coração. Não podia vender o menino no mercado de escravos, muito menos entregá-lo ao irmão!
- Depressa, monte no cavalo. Vamos.
- Mas o quê...
- Ande, não pergunte nada, apenas faça o que digo, depressa. Siga-me. Temos que alcançar Herk antes que ele chegue ao castelo.
Surion subiu no seu alazão com um salto espetacular e Helkersim, preocupado, imitou-o conseguindo montar com a mesma perfeição. Os dois saíram em disparada com seus animais, a galope rápido, em direção a pequena tropa que ia se distanciando rumo ao castelo.
Alcançaram Herk em poucos minutos, um pouco antes do rio, mas os animais estavam cansados... Surion ordenou:
- Vá dar água aos animais.
- Mas...
- Apenas obedeça.
O garoto assentiu. Alguns assuntos de negócios e guerra, nada para ele se meter mesmo... Sua curiosidade teria que esperar...
Herk esperou que o menino saísse puxando os animais e somente então perguntou ao amo:
- O que pretende fazer?
- Leve-o para longe daqui.
- Você está louco! Sua majestade foi claro quanto às ordens de ninguém sair do castelo, e ele deve estar chegando no mais tardar daqui a algumas horas... Um batedor dele já chegou ao castelo, eu já lhe disse isso!
Herk estava preocupado agora. Quando seu senhor tinha aquele ar determinado, nada o detinha.
- Dane-se! Isso eu resolvo com ele. Invento uma desculpa qualquer, agora, minha ordem é para que você tire o menino daqui. Leve-o para a minha cabana de caça, próxima ao monte Sarukon.
- Seu eu mesmo for, vamos chamar muito a atenção...
Surion soltou uma imprecação. Era verdade.
- Muito bem, mande os meus servos orcs cuidarem do menino com a própria vida, mas mande-os sair o quanto antes. Eles devem ficar na cabana até eu ter certeza de meu irmão já seguiu para sua mansão de veraneio...
- Sim, meu senhor!
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Helkersim estava realmente assustado agora. Surion o estava mandando embora, por quê?
Herk jogou para o menino uma capa imensa, com capuz, negra, que iria cobri-lo por completo como uma grande noite escura...
- Ponha isso, depressa, os orcs estão lá no estábulo esperando você com os cavalos...
O mestiço elfo segurava lágrimas de aflição...
- Eu não vou a lugar nenhum sem falar com Surion...
- Eu deveria açoitá-lo, depressa, ninguém pode ver você e os orcs saírem, não temos tempo...
- Não sem falar com ele!
- Estou aqui, pequeno...
- Surion!
O menino correu para abraçá-lo. O amo não recusou o abraço. Apertou-o com força...
- Ker, apenas faça o que Herk está lhe pedindo, confie nele, eu lhe dou minha palavra que em breve irei vê-lo.
- Você jura? O que está acontecendo, porque...
- Depois eu explico... Prometo.
- Não está me vendendo para alguém? Não está se cansando de mim?
- Não, meu pequeno gênio de Galana, juro que não. Agora confie, eu jamais lhe faria mal...
Helkersim sorriu entre as lágrimas... Sim, confiava no seu amor...
- Está bem. Iremos caçar juntos depois, me promete?
Antes que Surion pudesse responder, as trombetas reais soaram, anunciando a chegada do Rei. Surion chegou a empalidecer... Ele tinha que estar na comitiva de boas vindas, ou iria levantar suspeitas em seu irmão!
- Depressa, eu preciso ir agora!
Surion saiu, apressado. Herk gritou, impaciente...
- Ande, se tem amor à pele, corra, menino! Você deve chegar rápido até a cabana de caça do meu amo, e são dias de viagem!
Agoniado, Helkersim obedeceu. Os dois, ele e Herk, saíram correndo rumo aos estábulos onde os orcs os esperavam.
Mas o dinheiro sempre compra os corruptíveis.
Nenhum deles percebeu que dois servos de Surion estavam ali, atrás de uma coluna, presenciando todo o desenrolar daquela fuga. Um servo seguiu Herk e o menino, enquanto o outro saiu correndo pelos corredores do castelo, até chegar na área nobre palaciana, e se atirou aos pés de Lisandra...
- O menino escapou, realmente, exatamente como a senhora previu!
Lisandra tinha o olhar vidrado de ódio. Surion queria mesmo aquele pirralho para si!
- Mandou segui-los?
- Sim, milady, mas eu ouvi perfeitamente para onde o amo iria mandar o menino... Para a cabana de caça do meu amo.
Agora, o olhar dela cintilava vitória e satisfação... Seu sorriso seria o de uma cobra, se cobras sorrissem...
- Ah, perfeito. O rei vai gostar muito de saber o paradeiro do moleque...
Jogou para o traidor uma sacola cheia de moedas de ouro...
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A comitiva real era mesmo espetaculosa. Seis batedores e vinte guerreiros Drows, considerados a elite, em suas armaduras negras, abriam alas para o alazão branco que, em sua sela adornada com ouro e prata, trazia a figura altiva do rei. Mas nada, nem a comitiva, nem os guerreiros, causavam mais impacto do que o semblante do soberano, em si.
Era jovem, tão jovem como Surion. Era alongado e alto como os elfos dourados, mas tinha uma compleição física forte, o lhe dava um toque agressivo ao corpo andrógeno e o rosto... Era lindo!
Eternamente imberbe, como o de um elfo dourado, exibia um nariz aristocrático e olhos absurdamente claros, como as águas translúcidas de um lago. Os cabelos, ao invés de exibir a cor prata comum entre a raça Drow, ostentavam a cor do fogo, exatamente como o cobre quando recebia diretamente a luz solar.
O filho primogênito do falecido rei, que assumira o trono, era também um mestiço!
Essa particularidade lhe dava uma aparência etérea, mas também intimidadora, porque os olhos claros pareciam ser duas pedras de gelo puro.
Sem esperar pelas mulheres que jogavam flores no chão para que ele passasse, tirou o elmo de sua armadura e desceu do cavalo a passos largos e decididos. Parou diante do irmão, que, durante a sua ausência, era o comandante supremo das tropas do castelo. Surion ajoelhou-se diante dele, sendo seguindo no gesto de submissão por toda a corte que ali estava.
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Exceto pela respiração ofegante dos cavalos e os barulhos enervantes que suas patas faziam ao riscar o chão sobre folhas secas e pedras, nenhum barulho se ouvia! Era totalmente proibido falar qualquer coisa, mesmo que fosse uma mensagem de boas vindas antes que o Rei se fizesse ouvir! A ninguém era permitido erguer a cabeça antes que sua majestade desse a ordem para que se levantassem.
A Surion parecia uma eternidade que estava ali ajoelhado. Seu coração batia tão alto que achava que todos podiam ouvir. E Helkersim! Será que tinha dado tempo dele escapar? Queria erguer a cabeça e procurar por Herk, mas... Respirou fundo. O que precisava era manter sua serenidade e calma...
Um toque suave em seus ombros foi o sinal de que poderia se erguer, o quê fez lentamente só encarando seu irmão quando já estava em pé:
- Bem vindo Majestade! Não o aguardávamos tão cedo!
- Não gostou da minha chegada, comandante?
Surion manteve o rosto impassível!
- Em absoluto, meu irmão! Aqui é o seu lar e ele estará sempre a sua espera!
- Então vamos entrar logo porque aqui fora o ar não me agrada!
O Rei passou por entre os seus súditos, que se abaixavam a sua passagem, sem lhes dar muita atenção. Surion o seguiu e, por um instante, quando seu olhar cruzou com o de Lisandra, que fazia parte da comitiva real, teve uma sensação ruim. Ah! Mas aquela víbora não lhe escapava... Iria explicar-lhe direitinho essa história de carta ao Rei e...
- Distraído, Surion...
- Perdão Majestade! Estava apenas mentalizando se tudo estava ao seu gosto...
Havia no olhar do irmão algo que Surion não gostava. Era sempre assim quando ele estava brincando de ser poderoso...
- Adoro o seu cuidado que sempre tem comigo, meu querido e fiel irmão bastardo!
- Esta me parecendo irônico, Lúhien!
- Será mesmo, Surion!
Surion abriu os braços, teria que ser muito cauteloso...
- Realmente não entendo! Será que aconteceu aqui alguma coisa que o desagrada? Os pastos estão cheios. O gado multiplicou... Passamos um inverno não muito rigoroso e então já temos tudo arrumado para as primeiras caravanas partirem para comerciar! Assim que passar o solstício de inverno, sairei para conquistar mais terras e mais povos para meu senhor...
Um riso cristalino, embora um tanto estridente, ecoou por todo o amplo ambiente!
- Não me diga! Isso me faz mesmo muito feliz e gratificado com sua generosidade... Generosidade esta que me fez vir ate aqui, pois chegou aos meus ouvidos que você tinha trazido para cá um presente para mim! Que cuidou desse presente pessoalmente... Como jamais fez com presente algum...
Os olhos de Lúhien brilhavam perigosos...
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Helkersim estava com medo. O pequeno grupo que o acompanhava era silencioso e rápido, mas ele não sabia para onde estava indo e, embora confiasse em Surion, seu coração estava apertado. A custo evitava que as lágrimas caíssem. Surion haveria de querê-lo corajoso e forte e não se lamentando...
- Chegamos!
Foi a única palavra que o mestiço tinha ouvido desde que saíra dos arredores do Castelo... Viu diante de si uma cabana rústica e forte, cuja arquitetura era típica das construções feitas pelos caçadores Drows que habitavam a floresta de Vigar, isolada pelas montanhas que precediam Mon-Dor.
- Onde estamos...
Ninguém respondeu, mas a porta foi aberta e uma sala pequena, porém aconchegante, apareceu para o elfo. Ele entrou, passou as mãos pelos objetos e sorriu... Ali tinha o cheiro de Surion, tinha a presença forte de seu amo e senhor, do seu amor... A porta foi fechada e seus acompanhantes começaram a montar um acampamento na área em frente à cabana... Era um lugar aconchegante e ali esperaria seu amor voltar...
CONTINUA...
Agradecimentos a Blanxe eOphiuchus no Shaina pelos comentários.
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