N/a: Esse capítulo foi divertido de escrever, e há várias novas informações lançadas. Espero que gostem :) Maria Teresa C e IASBr, obrigada por compartilharem suas impressões. Adoro histórias que exploram o relacionamento entre a Georgiana e Elizabeth, vai ser ainda mais interessante adicionar Lucy à mistura.


Capítulo 8 - O baile dos Davies

-Se você não gostar da companhia, pise nos pés dele durante a dança. Alguns homens são extremamente sensíveis quanto a isso. - disse Charlotte, ajeitando o vestido, vendo a expressão de desânimo da amiga no espelho.

-Com a minha sorte, é ele quem vai pisar em meus pés.

-Ora, vamos, Lizzy! Pode ser que você goste do rapaz!

-Por que você está tão alegre? - perguntou Elizabeth, agitando uma pena que havia se soltado de seu cabelo, distraidamente.

-Nós vamos a uma festa sem nossas famílias, Lizzy. Sem ter os olhos de nossos pais o tempo todo em cima de nós. É sempre uma sensação maravilhosa.

A isso ela sorriu. Se lembrava de se sentir da mesma forma nos primeiros bailes e eventos que foi depois de casada. Mas essa empolgação havia se dissipado com o tempo, ainda mais depois dela entender que havia um padrão no comportamento de James depois de encontrar os amigos e consumir bebidas alcoólicas.

-Talvez você é quem deva entreter o Capitão Horton, querida Charlotte.

Charlotte caiu na risada.

-De forma alguma, você precisa valorizar o esforço que Mrs. Davies está fazendo por você.

~X~

Ao chegarem ao baile Elizabeth nutriu a esperança, por alguns segundos, que Emma havia se esquecido da conversa delas. Ela pareceu surpresa em ver a antiga amiga, acompanhada dos tios e de Charlotte. Mas, antes que se afastassem, ela disse de forma que só Elizabeth ouvisse:

-O Capitão Horton está ansioso por conhecê-la.

Elizabeth entrou no salão bem-decorado puxada por Charlotte, com a certeza de que não iria se divertir. Alguns minutos depois ela conversava com os tios e a amiga, quando ouviu alguém chamar seu nome. Se virou a tempo de ver não um capitão, mas um coronel.

-Coronel Fitzwilliam, fico tão feliz em vê-lo. - ela disse com sinceridade, pois era sempre um prazer conversar com ele. - Permita-me apresentar meus tios, Mr. e Mrs. Gardiner, e minha querida amiga, Miss Lucas.

O grupo logo se entreteve em uma conversa agradável e Elizabeth se esqueceu de suas preocupações. Isto é, até que ela viu Emma conversar com um homem alto, olhando em sua direção.

-Coronel Fitzwilliam, você por acaso conhece um cavalheiro pelo nome de Capitão Horton? - perguntou Elizabeth, pensando que, já que teria que aceitar seu destino, pelo menos poderia investigar primeiro.

-Capitão Henry Horton? Ouvi que ele fez um trabalho formidável nas Índias, acabou de retornar. Por que pergunta?

Elizabeth não pôde responder pois Emma se juntou ao grupo, trazendo o homem alto pelo braço.

-Elizabeth querida, aqui está o primo de quem lhe falei. Henry, essa é Mrs. Sheffield, sua amiga, seus tios, e... o Coronel? Não sabia que conhecia minha querida amiga.

-Tive o prazer de conhecê-la em minha última viagem para visitar minha tia. - disse ele com um sorriso.

-Que ótimo. - disse Emma, também sorrindo. Elizabeth pôde ver, mais uma vez, ideias se formando em sua cabeça. - E seu irmão, não pôde vir?

-Ele está em uma viagem a negócios. - disse o coronel. - Meu primo veio comigo, Fitzwilliam Darcy, tenho certeza que seu marido se lembra dele da época de faculdade.

Emma respondeu à pergunta, mas seus olhos estavam em Horton, que havia iniciado uma conversa com Charlotte e Elizabeth.

-Sim, sim. Aquele que teve uma tragédia terrível na família? Ele tem uma propriedade no norte, não?

Elizabeth teve que pedir para que o Capitão repetisse a pergunta que acabara de fazer, sua atenção totalmente focada no que Emma acabara de dizer.

-Como ele está? - ela ouviu Emma dizer em voz baixa, se dirigindo apenas ao Coronel. - Faz muitos anos que tudo aconteceu, mas ainda assim, é difícil se recuperar de algo assim. Por sorte a história não se espalhou muito, não é? John me contou do ocorrido na época, mas obviamente nunca falamos de tal assunto com ninguém.

Elizabeth teve que fazer um comentário qualquer, sabendo que estivera em silêncio por tempo demais, e não conseguiu entender o que Fitzwilliam respondeu. Logo Emma se afastou, indo conversar com outros convidados, e ela lançou um olhar rápido para o Coronel. Ele parecia pensativo, analisando a bebida em seu copo.

-Você gosta de poesia, Mrs. Sheffield? - Elizabeth olhou assustada para o Capitão Horton, a ironia da situação toda lhe atingindo em cheio. Conseguiu se controlar e responder de forma educada que apreciava, mas não tanto quanto quando era mais jovem. Ela lançou um olhar a Charlotte, mas essa conversava com o Coronel Fitzwilliam, e seus tios haviam simplesmente desaparecido. Ótimo.

Ela não conseguiu negar a dança requisitada pelo Capitão e, enquanto os dois se movimentavam pelo salão, trocando impressões a respeito do salão e do número de casais, uma figura chamou sua atenção. Ela viu Mr. Darcy, parado perto da mesa de bebidas, a encarando. O que Emma havia dito voltou à sua cabeça. Uma tragédia na família. O que havia acontecido? Seria esse o motivo para o cavalheiro ser tão taciturno?

-Você está gostando do baile? Os Davies são ótimos nesse tipo de entretenimento, fico feliz que tenha voltado a tempo para este.

-Sim, tudo está magnífico. - disse Elizabeth, sem no entanto tirar os olhos de Mr. Darcy que, depois de alguns segundos, desviou o olhar.

Mais tarde, torcendo para que o Capitão não a chamasse para uma segunda dança, Elizabeth se viu frente a um pedido ainda mais desafiador.

-Você me daria o prazer da próxima dança, Mrs. Sheffield?

Foi preciso uma discreta cutucada nas costelas, por parte de Charlotte, para que Elizabeth respondesse com um fraco sim.

-Por que você acha que Mr. Darcy me chamou para dançar, Charlotte?

-Porque ele vai ficar sem companhia, já que o primo dele me convidou para a próxima dança, e eu só o vi conversar com o Coronel a noite toda. - disse Charlotte rindo.

-O coronel lhe chamou para dançar?

-Sim, e disse que também lhe convidaria, depois do jantar. Ele nos apresentou impressões muito positivas a seu respeito e de Jane e Mary, afirmando várias vezes que a visita anual à casa da tia só foi suportável por vocês estarem lá.

Elizabeth suspirou, se perguntando como ele e Mr. Darcy poderiam ser parentes tão próximos.

Quando a dança iniciou e ela se viu frente ao senhor de Pemberley, sua mente se dividia entre as diferentes informações que tinha a seu respeito. A forma como ele intervira no relacionamento de Jane e Mr. Bingley. O cuidado protetor que ele parecia ter com a irmã, e como esta o admirava. A forma como ele sempre a mirava em silêncio, parecendo julgá-la, principalmente quando estava com Lucy. A informação de que ele havia perdido a esposa há anos e de que havia tido uma tragédia na família.

Ela se viu desejosa de descobrir como juntar todas as partes e formar uma figura completa, que fizesse sentido. Ela se viu querendo descobrir mais a seu respeito, desvendar o mistério que era Mr. Darcy.

-Mrs. Sheffield? A senhora está bem? - ele perguntou, depois que ambos haviam executado alguns movimentos da dança.

-Sim, estou bem. Por que pergunta?

-É a primeira vez que a vejo em silêncio por tanto tempo.

-Imagino que isso lhe agrade, senhor. Sinto que prefere o silêncio à tagarelice.

Ele franziu o cenho, parecendo pensar. Quando a dança os aproximou novamente, ele disse:

-Com certeza prefiro o silêncio à tagarelice. Mas não definiria suas falas como tagarelice.

Aquilo a fez pisar em falso por um segundo, mas logo se recuperou.

-Sinto que está surpresa.

A dança os afastou mais uma vez, o que deu à Elizabeth a chance de pensar em sua resposta. Ela estava, de fato, surpresa. Nunca esperou receber o que parecia ser um elogio da parte dele. E aquele era mais um fato a ser adicionado ao incompreensível quebra-cabeça que era o homem.

-Sim, estou surpresa. Muito do que o senhor faz me desconcerta.

-Por que diz isso?

-As impressões e informações que recebo a seu respeito parecem muitas vezes… contraditórias.

-Entendo.

Alguns segundos de silêncio antes que ela conseguisse perguntar.

-Não vai contestar o que eu disse? Tentar se defender?

-Mrs. Sheffield, eu tenho noção de que muito é falado a meu respeito na sociedade. Mas não tenho vontade alguma de me posicionar ou me defender, como a senhora coloca. Quem eu sou e o que faço ou penso só diz respeito àqueles mais próximos, que realmente importam para mim.

-Sim, tem razão. Você não teria por que se justificar para mim.

Ele pareceu a ponto de responder, mas então silenciou. A dança os distanciou por algum tempo, fazendo com que passassem por diferentes parceiros. Quando se uniram mais uma vez, ela viu a expressão dele mais leve.

-Gostaria de agradecer o que tem feito pela minha irmã. Ela tem você e Miss Lucas em alta conta. Georgiana tem dificuldade em fazer amigos, e fico feliz em vê-la empolgada com o prospecto de vê-las.

-É um prazer ter a chance de conhecê-la, ela é uma garota doce. - disse Elizabeth com sinceridade, vendo, com surpresa, ele sorrir e concordar.

-Espero que Miss Lucy esteja bem? - ele disse, continuando a conversa, o que também a surpreendeu.

-Ela está, agradeço.

-Tive a impressão de que ela apresentou certa resistência à minha presença. Espero não ter feito nada para chateá-la.

Elizabeth se lembrou da forte oposição da menina à ele, e da forma como aquilo fazia a raiva borbulhar em seu peito. Naquele momento, no entanto, ela parecia estar menos intensa, mesmo desvanecendo.

-Você não causou uma primeira impressão favorável, e temo que nada que eu falei mudou a opinião dela a seu respeito.

-Oh, é claro. Aquele dia no jardim eu fui extremamente rude. Me desculpei com a senhora, mas temo que não tenha me desculpado com a criança. Prometo fazê-lo quando tivermos a oportunidade de nos reencontrar.

Com essa última frase a música terminou e Elizabeth ficou a mirá-lo, enquanto os convidados aplaudiam os músicos. A confusão que sentira no início da dança, quanto ao caráter de Mr. Darcy, só se tornara mais intrincada.