- Oi, Gina! – disse a voz.

Gelei na mesma hora. Não queria virar para ver quem era pois já conhecia muito bem o dono daquela voz.

- Sai daqui, Malfoy! – gritei sem nem ao menos olhar para trás.

- Calma. Sou só eu. – disse Hermione ficando de frente para mim.

- Que susto! Pensei que você ele! – falei.

- Confundir a minha voz com a do Malfoy não é normal! O quê está acontecendo com você, Gina? Fale para mim. Você já se encontrou com ele, não foi?

- Eu não quis te falar antes pois sabia que você ia ficar me torrando a paciência com aquele papo de eu te avisei. – retruquei.

- Eu não vou te dar nenhum sermão. – disse minha amiga se sentando ao meu lado na grama – Mas foi tão ruim assim?

- Foi péssimo! O Malfoy está muito esquisito. Ele falou um monte de coisas sem sentido.

Acabei contando para Hermione detalhe por detalhe de tudo o que aconteceu entre eu e Malfoy naquele fatídico encontro.

- Ele é louco! E uma pessoa doida é ainda mais perigosa que uma sã. Você fez muito bem em ir embora correndo dali.

- Só que agora eu estou com medo dele. Do que ele possa fazer comigo. – falei.

- Não se preocupe... É só manter distância dele. – disse Hermione me acalmando.

Eu fiz que sim com a cabeça, porém ainda estava bastante assustada.

- Acho melhor você ficar um pouco sozinha para acalmar os ânimos. Eu vou embora agora...

Hermione se foi e eu fiquei sozinha novamente. Olhei para o lago, para o céu, tudo parecia estar perfeito, menos a minha vida. Mas também Mione tinha razão. Era só eu manter distância do Malfoy, ignora-lo e esquecer o que aconteceu. Talvez fosse até mais simples do que eu imaginava.

Quando eu já estava começando a me acalmar, sinto novamente alguém cutucando meu ombro e chamando meu nome. Me virei instantaneamente achando que era Hermione, que queria falar algo a mais comigo, só que tive uma surpresa. Desta vez quem estava ali era realmente o Malfoy.

- Tudo bem, Gina? – cumprimentou ele com aquela voz arrogante de sempre.

Eu estava espantada. Hermione me disse para manter distância de Malfoy, mas como poderia se foi ele quem me procurou?

- O que você quer? Não basta o soco que eu te dei agora à pouco? – perguntei desafiadora.

- Eu vim me desculpar com você... Me comportei muito mal naquela hora. – disse ele se mostrando arrependido.

Malfoy demonstrava novamente toda a sua insanidade. Agora ele estava me pedindo desculpas? Estava arrependido do que tinha feito? Como era possível ele mudar tanto o seu comportamento?

- Estou perdoado? – perguntou ele exibindo um sorriso bobo no rosto.

Eu fiquei sem palavras, não sabia o que responder. Mas como ele me pareceu, ao menos nesse momento, mais calmo, resolvi tentar não provoca-lo.

- Está sim... – falei calmamente tentando manter o controle para não soca-lo novamente.

- Que bom! – disse ele sorrindo – Então podemos ser amigos? – perguntou Malfoy estendendo sua mão para mim.

Olhei meio que desconfiada para ele. Mas também não podia simplesmente disser "Não, Malfoy, não quero!". O melhor que eu podia fazer era entrar no jogo dele para saber aonde aquilo tudo ia dar.

Estendi minha mão até a dele e o cumprimentei. Era tudo muito estranho, mas eu não tinha outra alternativa.

- Tive uma idéia, Gina! Que tal se nós fossemos até aquele píer em que eu encontrei o seu diário? Poderíamos conversar mais a vontade lá! – sugeriu ele.

- Para que? – perguntei – Aquele lugar não me traz boas recordações.

- Ah, que isso! Graças a aquele episódio você veio falar comigo e isso é muito bom.

Resisti a idéia no começo, porém Malfoy insistiu tanto que tive que ir. Não porque eu queria ser amiga dele, mas sim pelo fato de que eu queria tirar essa história a limpo de uma vez por todas. Queria entender porque Malfoy me tratava daquela maneira.

- Linda vista, não é? – perguntou ele assim que chegamos ao píer.

- Claro... – respondi automaticamente.

Ele então se levantou.

- Eu acho que vou dar um mergulho. – falou Malfoy olhando para o lago.

- Mas você não está propriamente vestido! – retruquei.

- E por acaso precisa de roupa para tomar banho no lago. E só eu ficar nu e cair na água.

- Está louco? – Malfoy agora parecia mais maluco do que nunca – Isso é proibido no acampamento e eu não quero ver você pelado.

- Pule na água também! – sugeriu – Está muito calor e um banho seria muito refrescante. – frisou ele enquanto tirava a sua camisa.

Me levantei e impedi que ele continuasse com essa insanidade.

- Malfoy, chega disso! – esbravejei.

Mas depois dessa minha frase não tive tempo para mais nada. Malfoy me empurrou do píer e me derrubou em direção ao lago. Tentei ainda me manter em pé, mas cambaleei. Segurei todo o ar que pude nos pulmões e no segundo seguinte cai no lago espirrando água para todos os lados.

- Por que você fez isso? – perguntei revoltada enquanto tentava me segurar na borda do píer para sair do lago.

- A água deve estar maravilhosa! Duvido que não! – brincou ele.

Por um momento olhei para a cara do idiota do Malfoy. Estava rindo de mim! Tive uma vontade louca de estrangula-lo naquele momento. Mas não o fiz, porque sabia um jeito muito melhor de atingi-lo. Eu o faria provar do seu próprio remédio.

- Você acha isso tudo muito engraçado, não é? – perguntei em deboche.

Ele tentou se controlar para rir, mas não conseguiu.

- Talvez você também precise de um banho! – falei sarcástica. No segundo seguinte usei toda a minha força para puxa-lo pelo tornozelo o fazendo cair no lago.

Ele mergulhou fundo na água e depois não voltou mais. Fiquei preocupada com Malfoy, pois poderia ter se afogado. Eu não queria tê-lo matado. Se passou um minuto nada do Malfoy aparecer. "O que será que aconteceu com ele?" me perguntei.

Mergulhei até o fundo do lago e o achei, como se estivesse desmaiado. Fui até ele e o trouxe até a superfície. Para meu desespero, ele estava com os olhos fechados e parecia ter se afogado de verdade.

- Malfoy... – o chamei inutilmente, pois ele não respondia – Fala comigo, Malfoy! – tentei sacudi-lo mas nada surtia efeito.

Subitamente ele abriu os olhos e riu.

- Achou mesmo que eu tinha me afogado? – perguntou ele rindo – "Fala comigo, Malfoy!". – caçoou ele, imitando a minha voz.

- Você é muito estúpido, garoto! – gritei revoltada enquanto saia do lago e ficava de pé no píer.

- Eu não sabia que você gostava tanto de mim a ponto de me salvar da morte... – continuou ele me avacalhando.

- Não foi preocupação! – gritei – Foi culpa, pois eu é que te joguei na água. – expliquei.

Malfoy também saiu do lago e ficou de frente comigo.

- Você não teria força para me jogar no lago. Eu é que me joguei exatamente com o intuito de caçoar de você.

- Para que tudo isso, hein? – perguntei enraivecida com a atitude dele – Está fazendo palhaçada para quem? Aqui não tem platéia para te aplaudir! – gritei.

- É muito mais do que querer aparecer. – garantiu – Eu não sei como explicar, mas eu sinto prazer em fazer isso com as pessoas. – debochou ele.

- Então vai fazer isso com a sua mãezinha para ver se ela ri... – retruquei. Não iria levar desaforo para casa de jeito nenhum. – E agora, se me dá licença, eu vou me embora pois não agüento sua companhia. Passar bem! – vociferei enquanto ia embora dali. Só Malfoy mesmo para me tirar do sério daquele jeito.